A fralda do meu cunhado

Dizem que cunhado, se fosse bom, não começava com c*. Taí a famosa sabedoria popular aprontando das suas. Dizem também que parente a gente não escolhe. E a sabedoria popular mandou bem de novo. Agora, como relacionar "sabedoria" e "cunhado" numa mesma situação? 

Cunhado é aquele troço tão bizarro, que nem a sabedoria popular consegue explicar. Porque o cunhado não é família, mas um dia acaba virando. Cunhado é parente compulsório. A única chance de não ter cunhado é não ter irmã, e ainda casar com uma mulher que não tem irmãos. Caso contrário, é questão de tempo até aparecer um ser desses na sua vida.

Mas eu não posso me queixar, não. Fui sorteado com os dois únicos cunhados bacanas da face da Terra. Um deles, irmão da minha esposa, papai do céu levou pra morar com ele mais cedo. O outro é o Arthur, e é dele que vamos falar nas próximas linhas. Te cuida, compana, que essa orelha vai arder!!!

Arthur é um cara legal, mas tão legal, que eu costumo dizer que ele é mais legal que a minha irmã. Brincadeira, Monicão!! Chora não que você também é batuta!


Mais legal que eeeeuuu? Duvido!
Aposto que ele não tem uma roupa bacanuda dessa!

Pois neste final de semana teve a festa junina da escola do meu filho menor. É, a paternidade tem dessas: te prepara pra acordar cedo em vááááários sábados da tua vida pra assistir performances artísticas da tua prole. E quer saber? É legal demais!

Convidei a família toda, mas sabia que a Monica tinha que estudar, e provavelmente não iria. Ok, zero problema, sei que as coisas são assim: a gente trabalha até cair o couro, e o final de semana é curto. Se tem que estudar, engole o choro e estuda. 

Mas na festa, qual não foi a minha surpresa ao ver, adentrando os portões da Cirandinha da Tia Ofélia, o meu cunhado Arthur. E o cara é tão batuta que foi... mesmo sem a minha irmã. Ela tava estudando, ele queria falar umas merdas e tomar umas brejas, e achou que seria uma boa fazer isso na festa junina do maternal do meu filho. Gênio! Não vejo lugar mais apropriado!

Assim procedemos. Enquanto meu pequeno estourava biribas no nosso pé, nós compensávamos com vigorosos goles de cerveja. Até que Arthur, o astuto, soltou a pérola: "Tem uma fraldeta na minha geladeira, mas a Monica tá estudando". Não precisei nem responder o "faz na churraca de casa", e o cunhado já tava indo na casa dele buscar a peça. Uma bela peça de fralda, aliás.

Pouco antes do jogo do Brasil começar, chega ele em casa com a fraldinha e uma garrafa de vinho. Antes que eu desse uma golada naquela garrafa, fui advertido: 
- Cara, não bebe isso aí, não. É vinho velho, passou.
- Cunhadão, mas pra que diabos tu traz uma garrafa de vinho véio pra casa?
- Pra fazer uma vinha d'alhos!
- Vinha de quê?
- Vinha d'alhos, uma receita dos caralhos!
Sim, nem Arthur, nem eu somos conhecidos pela nossa educação britânica. Mas ambos somos conhecidos por mandar bem pilotando churracas. Cada um tem as suas receitas, cada um faz as carnes do seu jeito, mas a gente nunca entra nessas babaquices de disputa. Nós formamos uma parceria, e não uma concorrência. E foi o que se sucedeu, e conto aqui a receita do molho de alhos (rime com o que bem entender, ok?) do meu cunhado.

E a receita é tão simples, mas tão simples, que eu vou inovar e escrever inteirinha num só parágrafo, sem vírgula, de trás pra frente e em miguxes. Tá, miguxês não dá. Tadinho do português... de trás pra frente, pior ainda. Mas em um parágrafo dá! Respira fundo e vamo comigo!
Arthur pegou um copinho pequeno, daqueles de tomar cerveja em boteco vagabundo. Jogou o vinho velho até pouco menos da metade do copo. Depois deu uma boa borrifada de mostarda. Como em casa só tem mostarda preta, lá foi ela conversar com o vinho velho. Enquanto isso, eu picotava 4 dentes de alho, e taquei lá dentro. Na sequencia, joguei um punhado de sal grosso, enquanto ele picotava um teco de salsinha e cebolinha. Misturamos tudo, jogamos duas boas goladas de azeite e a meleca dentro do copo ficou parecendo caldinho de feijão, mas o Arthur disse que tava tudo certo, então passamos na fraldinha. Deitamos na grelha, e de vez em quando, um de nós tacava uma colherada de molho na fralda. Quando ela ficou pronta, cortamos e comemos.
Tá vendo como é simples? A fraldinha, que já é uma carne mega saborosa, ficou ainda melhor com isso. Recomendo seriamente.

E é pra isso que serve o cunhado. Pra fazer comida pra mim! Há! Quem mandou pegar a minha irmã? Achou que ia sair de graça?

Preço: Custo Zero, Fome Zero. Foi de graça. Cunhado bão é assim.
Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, 3 brejas na churraca. Um gole no vinho velho pode acarretar em algum tempo no banheiro.
Rendimento: Enchemos 4 buchos, a peça era generosa.

E este post é dedicado à memória do Claudinho, o outro cunhado, falecido irmão da minha esposa. Um parceiro muito querido que nos faz muita falta.

Comentários

  1. Fantástica receita..hehehe Obrigado pelos elogios, mas eu também não posso reclamar dos meus cunhas. Aliás, queria saber quem é o corno que não consegue se dar bem com os irmãos da "escolhida", geralmente foram criados na mesma casa.
    Enfim, tais aí um resultado gostoso de saborear vindo de uma soma. Muito bom, tentem em casa!!!!
    Quem pensava que fralda não poderia ter um toque bacana, pode testar esse molho aê, não tira o sabor da carne e "vareia" legal!

    Valeu Daniel! Continue com esse blog que o bicho já dá agua na boca por conta!

    Abs

    Arthur - o cunhado. rsrs

    ResponderExcluir
  2. Hehehe

    Valeu ae cunhadão!! Vou parar aqui pq já te puxei o saco demais!

    Abração
    Daniel Rodrigues

    ResponderExcluir
  3. cumpadi, pergunta pro cunhado, que nesse caso é ele que sabe das coisas...
    será que essa viadagem d`alhos (hehe) cai bem numas bistecas?
    é que tenho umas belezinha prá fazer amanhã...
    e pensei em dar um trato nelas com essa marinada...
    abraço

    adriano martins

    ResponderExcluir
  4. Fala Adriano, beleza?

    Cara, antes do cunhado responder, eu dou a minha opinião (se é que vale, já que o dono da fralda é o cunhado)

    A vinha dalhos fica legal com carne de boi, porque tem vinho tinto e eles combinam bem. Com a de porco, pode ser que não fique tão show.
    Na bisteca, recomendo seriamente o chimichurri. Fiz umas costelinhas com ele ontem, ficou de lascar!!!

    Abração
    Daniel Rodrigues

    ResponderExcluir
  5. bisteca de boi, mermão....
    de porco é bistequinha....
    risos...

    adriano

    ResponderExcluir
  6. Hahahahahahaha
    Tá bom, engoli essa.

    Putz, nunca fiz bisteca de boi. Boa idéia!!

    Abração
    Daniel Rodrigues

    ResponderExcluir
  7. outra coisa...
    não deixou marinando?
    só regando de vez em quando/
    tinha pensado em colocar num saco daqueles ZIP com as bistecas e a vinha e deixar um tempo....
    será que rola??

    adriano

    ResponderExcluir
  8. Fala Adriano!

    Não deixei não... só a meia horinha entre preparar o molho e acender o fogo já é suficiente pra deixar a carne no esquema. E depois vai dando uma colheradinha de vez em quando e boa.

    Essa fraldinha é bem absorvente. Ops, isso ficou nojento. hahaha

    Abração
    Daniel Rodrigues

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Torrou a picanha? Fez a receita e não deu certo? Dúvidas, sugestões, vai encarar? Escreve aí o que quer, mas não coloca propaganda que isso aqui não é a casa da sogra.