Receitas de panela: Arroz de coco quebra tudo

Sempre disse por aí que arroz não é comida. Arroz é acompanhamento e olhe lá. E ainda digo mais: nunca fui um adepto dessa companhia aí.

Arroz é como o miolo do pão: não serve pra nada, mas se você tirar o miolo de dentro do pão, vai ficar aquela sensação de que tá faltando alguma coisa. Imagina uma feijoada sem arroz, por exemplo. Não temos como discordar que fica meio perneta, não acha?

Diante disso, admitamos que o arroz é sim necessário. Vietcongues, eu me rendo: tragam todo o arroz que conseguirem carregar, porque este blog volta às panelas pra preparar um arroz de coco que vai chutar bundas, romper as barreiras do imaginável e fazer o palhaço chorar.

Um adendo importante: companheiro, escuta o que eu vou te dizer: mulheres gostam de caras que cozinham. Elas se derretem com aqueles que superam os limites da preguiça e baitolagem e metem a cara no fogão, preparam aquele jantar à luz de velas e mandam um Johnny Rivers na vitrola. Tá, nem precisa de luz de velas e vitrola, mas que elas curtem homem que cozinha, isso eu tenho certeza. E olha que eu sou casado há mais de 10 anos e não tenho a menor pretensão de sair por aí cozinhando e conquistando corações. Mas se funciona com a minha esposa - repito: somos casados há 10 anos, e a cada ano que passa, menos coisas que os maridos fazem arrancam suspiros das respectivas esposas - funciona com as garotas em geral. Anota isso, você pode fazer esse arroz pra sua vó ou pra sua mãe, mas também pode fazer pra uma garota, se dar bem e poder colocar no curriculo: "peguei uma garota na conta de um arroz". Repete comigo: ARROZ É COMIDA DE MULHERZINHA E É POR ISSO MESMO QUE A GENTE VAI FAZER. Beleza, escreve isso mil vezes e leia os parágrafos abaixo.

Sem mais delongas, vamos à receita. Vou começar bem do comecinho, porque acho bastante provável que muitos dos leitores daqui saibam fazer milagres com uma churraca e um pedaço de boi, mas nunca fizeram um arroz.

O primeiro passo é lavar umas duas xícaras de arroz. Sinceramente, não sei muito bem como fazer isso, então nas duas vezes que fiz, joguei o famoso migué na mulherada mais próxima e consegui que fizessem isso por mim. Pra falar a verdade, esse negócio de lavar tudo o que vem da horta é um saco, não acham? Um dia ainda vou me mudar pra um sítio no interior do nada, plantar eu mesmo os meus alimentos, só pra poder meter um brócoli na panela sem lavar, com a certeza de que não entupiram ele de agrotóxico, e que ninguém fez xixi no pé (do brócoli, não o seu próprio) durante a noite.

Beleza, arroz lavado, deixa ele guardadinho aí. De preferência num escorredor apropriado, pra deixar o arroz bem seco. Vai te poupar umas queimaduras lá na frente, vai por mim.

Agora você deve preparar uma cebola e meia. Ou uma bem grande. Ou duas pequenas. Você entendeu. Mas como assim, "preparar"? Eu não deveria picar a cebola e pronto? - Pergunta o curioso leitor. Olha, eu tenho feito arroz sem picotar a cebola e adorei a minha própria idéia. Pensa comigo: Você corta a cebola em rodelas, bem fininhas. Depois simplesmente separa as rodelas em sub-rodelas. Aí vai ficar com uma cebola transformada num monte de argolas. Pode pegar uma garrafa de cerveja, beber e depois brincar de arremessar as argolas nela.

Pode, mas não deve. Porque isso não é brinquedo, é comida. Porque vai sujar a sua cebola. Porque vai fazer a casa inteira cheirar a cebola. Vai fazer você pagar o maior mico, jogando argola e chorando. Além de ser uma idéia absolutamente idiota (exceto a parte de beber a cerveja que é, na verdade, uma ótima idéia). Além do que, tá na hora de cuidar do alho, e se você ficar brincando com os ingredientes, não vai terminar a receita nunca.

Então, larga mão de ser criança e picota bem pequeno uns 2 ou 3 dentes de alho. Deixa o alho separado num pires, não misture com a cebola. Ainda não.

Próximo passo, tenha em mãos uma folha de louro. Se você imaginou tirar uma lasquinha do brad pitt, do paulo nunes ou do roberto leal, recomendo que saia daqui imediatamente e dirija-se ao www.globo.com/maisvoce, ou procure pelo programa do ronnie von. Se você pensou em mutilar o papagaio de pelúcia que conta piadas no programa matinal, chegou bem perto, mas ainda não é isso. Folha de louro é uma folha mesmo, um tempero deveras agradável, que vende em qualquer lugar que vende tempero. Na verdade, abre a gaveta dos temperos da patroa (ou da sua mãe, se você ainda não pulou na água fria) que você vai encontrar umas folhas lá dentro. Pega uma e guarda no bolso.

Agora já estamos na hora de esquentar a barriga no fogão. Numa panela qualquer, jogue um litro de água, dois tabletes de caldo de galinha e tira o pé do chão, bota a mãozinha pra cima e bota pra ferver. Ok, quando ferver, você desliga o fogo e deixa ali quietinho.

Hora do famoso refogado. Acenda o fogo e cubra com azeite extra-virgem o fundo de uma panela razoável (imagina que aquele arroz vai crescer, e você ainda vai jogar um monte de ingredientes na panela. Tem que caber). Quando eu falo de azeite extra-virgem, eu falo de azeite extra-virgem, compadre. Não é pra encher de óleo, nem pra botar aquele azeite fedido que você roubou na pizzaria rodízio. Tou te falando pra correr no mercado mais próximo, gastar R$10,00 e comprar um azeite decente. Ele, mais do que qualquer outro ingrediente, faz a diferença nas coisas que você cozinha. Ingrediente de qualidade = comida gostosa, já dizia o matemático oswald de souza. Não faça economia porca, dizia meu avô. Eu tenho aquilo roxo, dizia o ex-presidente fernando collor.

Espere uns segundos e jogue uma rodela de cebola. Se fizer barulhinho, manda a cebola toda lá pra dentro, tire a folha de louro do bolso e mande lá pra fazer companhia à cebola. Munido de uma colher de pau, de um olho de vidro e de uma cara de mau, comece a mexer aquela coisa toda. Você vai notar que a cebola começa a ficar meio molenga e amarela. Tá fritando, camarada. Continua mexendo.

Só pra sacanear, você pode jogar ali umas 2 pitadas de pimenta do reino preta. Ela vai misturar com a cebola e com a folha de louro, e faz o capeta na sua panela.

A folha de louro, aparentemente, não serve pra nada. Mas é nessa hora de fritura que você começa a entender porque ela tá lá. Ela solta um cheiro agradável junto da cebola, e entenda que, em culinária, se cheira bem, o gosto é bom.

Olha, pensando aqui com meus botões: umas duas folhinhas de manjericão também fariam um belo agrado nessa mistura, não acha? Vai por mim e manda duas folhas de manjericão pra dentro.

Hora que estiver molenga pra mais, você pode jogar o alho. Abra uma pequena clareira na cebola, de maneira que você possa deixar o alho em contato com o fundo da panela. Deixe assim alguns instantes e pode misturar todo mundo. Na minha opinião, esse cheirinho é uma das coisas mais legais que tem na culinária de panela.

A sua missão agora é fritar o arroz. Parece meio esquisito fritar aquele negócio cru, mas vai por mim que o caminho é esse. Joga o arroz todo lá dentro, e começa a mexer. Isso vai fazer com que o gosto do azeite, com cebola, alho, pimenta do reino e louro penetre no arroz. Assim, quando ele cozinhar, vai pegar esse gosto.

Acabo de lembrar que ainda não abrimos uma cerveja. Faça um favor pra nós dois: vai na geladeira e abra uma cerveja. Dê um gole. Respire fundo. Agradeça a Deus pela inspiração dada ao ser superior que inventou a cerveja, reflita sobre a produção intelectual dos chimpanzés da Birmânia, tome outro gole e volte à receita antes que o seu arroz queime na panela.

Agora vamos a um momento que parece uma insanidade, mas é o ponto máximo dessa receita: abra um vidro de leite de coco, e mande pra cima do arroz. Quando fiz essa receita, confesso que fiquei bastante ressabiado com esse lance, porque até então, eu só tinha usado leite de coco pra fazer batida, e sempre achei que aquilo era ingrediente de sobremesa. Mas logo me convenci de que nunca na história desse país, um leite de coco deitou tão bem numa panela de arroz.

Com o leite de coco na panela, você deve mexer bem, enquanto termina aquela cerveja. Assim como a cebola, o azeite, o alho, a pimenta e o louro, o leite de coco vai ser absorvido pelo arroz, e isso tudo vai se transformar em benefício quando a garota colocar o garfo entre os dentes.

Ok, misturou, tomou a cerveja? Agora vire toda aquela água que você ferveu com caldo de galinha. Misture um pouquinho e deixe acalmar. O nível de água precisa ficar uns dois dedos acima do arroz. Se não estiver, pode completar com água da torneira que funciona do mesmo jeito. Tampa a panela, abaixa um pouco o fogo.

Tudo o que você tem que fazer é esperar. Abra mais uma cerveja e seja feliz. Abra outra e seja mais feliz ainda. Abra a panela pra ver o que tá acontecendo, abra sua mente e abracadabra: O arroz vai beber toda aquela água, enquanto você bebe algumas cervejas. É assim que funciona, quem mandou nascer arroz?

Ao contrário da briga de marido e mulher, dessa vez você deve meter a colher. Faça isso, meta a colher de pau no meio do arroz, e verifique as condições do fundo da panela. Se não houver mais água, deve estar pronto. Experimente uma garfada. Se o arroz ainda parecer meio durango, pode jogar mais um pouco de água e voltar pra sua cerveja, se estiver macio, tá pronto.

E, estando pronto, é só comer. O arroz.

Dica: Você pode preparar uma farofa pra acompanhar, certamente fica bom. Veja a receita da leitora Angela, bem legal.

Rendimento: duas xícaras de arroz rendem muuuuito. Dá pra chamar umas 5 pessoas pra comer, ainda mais porque sempre tem algum outro acompanhamento com o arroz.
Custo: O arroz custa uns 3 reais, o pacote de 1kg, e você usa meio dele. Ingredientes diversos tem custo irrisório, e o leite de coco custou uns 2,50. Um prato barato demais.
Tempo de preparo: Uma cerveja pra preparar os ingredientes, uma pra misturar todo mundo e duas esperando cozinhar. Tome rápido e faça a receita com 6 latas. Sirva feliz.

Comentários

  1. Impressionante como as coisas acontecem..
    Minha querida patroa me perguntou hoje se eu não queria fazer uns camarões que a gente comprou no alho e óleo (alho e azeite extra-virgem, claro!) que a gente comprou e aproveitar e mandar umas cervejas pra dentro.
    Niki eu olho pro site e vejo essa receita de arroz muito bacana. Pensei: isso vai combinar e muito com o tal do camarão!!!
    Hoje é o dia, amanhã eu te falo se deu certo e o que o pessoal achou. Se não der certo, eu boto a culpa nessa porcaria de site que eu achei a receita! brincadeira...
    Abraços e parabéns!
    Paulo Victor Caparelli, de Uberlândia, MG

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  2. Fiz como manda o figurino, só aboli a pimenta porque......., esqueci, ficou bom e ao contrario do que eu pensava o arroz ficou bem solto e não empapou, aprovadissimo, deixei o feijão de lado neste dia..
    Abraços e continue inventando
    Zeno, interiorrr de São Paulo

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  3. Paulo Victor

    Hahaha

    É isso aí, cara, se der errado, mete a culpa no site e sai de fininho! hehe

    mas não tem o que dar errado, não. Ainda mais acompanhado de frutos do mar. No dia que eu fiz o arroz, minha prima e companheira de panela fritou uns files de pescada, combinou pra caramba. Vai na fé que fica bom sim

    Valeu!!
    Abs
    Daniel Rodrigues

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  4. Fala Zeno!!!

    Que legal que deu certo. No dia que eu fiz, nem misturei com nada, o arroz fica animal pra comer sozinho mesmo. Acho que ele combina legal com frutos do mar. Mas com feijão, imagino que ficaria pesadão, será que não?

    Valeu pela força ae

    Abs
    Daniel Rodrigues

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  5. Grande Daniel!
    Tenho que concordar que arroz é uma coisa sem graça quando não vem acompanhado de nada. Mas coincidentemente, ontem, a patroa fez um arroz para comer só, sem feijão nem nada, até que uma saladinha cairia bem, mas como já tinhámos tomado umas brejas, ninguém quis lavar alface. A mistura dela é arroz com carne de sol e depois de quase pronto, ainda com um restinho de água, jogamos uma mussarela por cima. Fica um pouco empapadinho mesmo, mas não tanto aquele "unidos venceremos". Quanto ao seu comentário de feijoada sem arroz, vou discordar, aqui em BH sexta e sábado é o dia da feijoada (ouvi dizer que em SP é nas quartas), então como são os dias mais belos para "chupar uma cana" e não queremos ficar empazinados comendo uma feijoada completa, pedimos o famoso "trupico", que é um tira-gosto da feijoada, somente com os pertences e pouquíssimo feijão e aí vai sem arroz mesmo.

    E deixa eu correr, que peguei um trampo amanhã às 14:00 horas. Acredita?

    Abraço!

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  6. Falae Raphael

    Olha que coincidência, fiz uma feijoada ONTEM aqui em casa. Ficou mega-master-fodona. Depois coloco a receita aqui.

    Caramba, pegou um churras pra fazer HOJE? Segunda-feira mesmo? Uau!! hehe

    Boa sorte aí, pelo jeito as coisas estão indo bem como churrasqueiro profissional, hein!!

    Abração
    Daniel

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  7. Muito legal o blog, me deu água na boca.
    Parabéns pelos posts.
    Seguirei sempre.
    Abraços

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  8. Leonardo

    Valeu a força, cara. Fiz uma visita lá no Marido Sanduba, bem legal as tuas receitas.

    Pessoas, conheçam mais um macho blogueiro paneleiro: maridosanduiche.blogspot.com

    Abração
    Daniel Rodrigues

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  9. Olá cara, adorei seu blog, adorei mesmo, de verdade, tudo! Outro dia, tempo curto e paciência zero, resolvi bater a cebola, o alho e os sachês (tipo 'tempero meu arroz') no liquidificador com metade da água que usaria na receita do arroz. Coloquei tudo na panela e quando o arroz estava seco, desliguei. Esperei os famosos 10 minutinhos para o arroz ficar no ponto... e degustei junto com uma carne de panela que só tive o trabalho de esquentar. Mas o que quero te falar é o seguinte: o arroz feito deste jeito dicou uma delícia, com o mesmo gostinho delicioso do arroz feito de forma tradicional. Será que senti este sabor somente porque estava 'morrendo de fome'? rs.
    Estarei sempre por aqui, me deliciando não só com as receitas, mas com o seu jeitinho especial de transmiti-las. Beijos no coração!
    Ana Carolina

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  10. Ana Carolina, tudo bem?

    Obrigado pelo carinho, agradeço de verdade.

    Olha, achei a receita do teu arroz sensacional!!! Sinceramente, é o tipo de procedimento que tem tudo pra dar errado, mas parece que alguma divindade das panelas aí resolveu olhar pro seu arroz.

    Não sou muito de fazer arroz, mas vou tentar o teu jeito. Pareceu um jeito muito louco, mas pode ser que fique bom mesmo.

    Ah, consideremos sim a questão "fome" Isso muda o sabor de qualquer receita hehehehe

    Abs
    Daniel

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