Existem sim. Se não existissem, ninguém passaria na porta da minha casa com o som do carro no último volume, no qual uma garota esganiçada grita A PORRADA COME, entre outras pérolas e impropérios. Quem mora na periferia, assim como este que vos escreve, sabe do que eu tou falando. Para aqueles que tiveram a sorte de estabelecer residência longe do funk, o nome da música por si só é auto-explicativo.
A cabeça da gente é uma coisa louca. Isso porque a gente existe, porque pensa, e segundo o maluco-beleza, quem pensa, pensa melhor parado. E, embora eu não concorde com esse lance de parar pra pensar, tem que concordar. Ou não. E a cabeça que não pensa? A que não pensa faz funk. Ou tempera a comida, e é dessa segunda que vamos discorrer. A cabeça do alho.
Pensando nisso...
Prezado escriba do Gato na Grelha.
Vimos por meio desta informar-lhe que isto que vem fazendo não se trata de pensamento, mas sim de embromação. E das bem safadas. De modo que solicitamos ao setor responsável que dê fim à enrolação e adentre imediatamente ao assunto.
Att.
A4LBDGG - Associação dos 4 leitores do blog Deitando o Gato na Grelha
Assim sendo, vamos ao assunto.
Qualquer cabeça-oca sabe que o melhor lugar pra armazenar o alho é dentro do freezer. Congelado. Isso porque ele fica, por óbvio, sólido, tornando mais fácil o trabalho de picotar bem pequeno o dentinho dele. Além disso, no estado sólido, ele fica mais seco, a casquinha do dente solta muito mais fácil, e faz muito menos meleca na sua mão. Confia na dica: alho e chicabon, lado a lado, numa geladeira próxima de você.
Ainda no quesito meleca na mão, ouvi falar de um cabeça de bagre que manipulou um alho daqueles bem caprichados e depois foi fazer carinho no rostinho de uma bela garota numa noite de luar. Nem preciso dizer que a bela garota meteu-lhe um chapéu de touro pra decorar a cabeça, sapecou-lhe um pé na bunda e um tremendo safanão. E nós não queremos que isso aconteça, certo? Eu não quero. E imagino que você também não queira. Então, após manipular o alho, basta ligar a torneira e esfregar as pontas dos dedos nas costas da faca cuidando, claro, para não decepar os dedos. Alguns poucos segundos nesse esfrega-esfrega de dedo nas costas da faca e pronto:
Aí tem a dica da cabeça de alho na cerveja no canto da churrasqueira. Receita esta já anteriormente abordada aqui neste blog, mas se você prefere, pula comigo de cabeça nesse flash-back, que eu te conto o segredo da longevidade: Basicamente, você toma alegre e supimpamente uma lata de cerveja, depois pega a faca e tira fora a tampa da cerveja. Como? Simples: cortando em qualquer lugar o alumínio desde que fique do meio pra cima da lata. Corta de qualquer jeito mesmo, sem carinho e sem delicadeza. Aí você joga lá dentro uma cabeça inteira de alho, cobre com aquela cerveja vagabunda que o cunhado levou, e bota no cantinho da churraca. De vez em quando, dá uma completada na cerveja, pro alho ficar sempre hidratado. Funciona assim: 10 goles pra você, um gole pro alho. Mais 10 goles pra você, mais um gole pro alho. Repita o procedimento por, mais ou menos, uma hora. Aí você usa essa cabeça pra tirar a lata lá de dentro sem queimar a mão, tira o cabeção do alho lá de dentro, e, com as costas da faca, sempre ela, espreme sobre a tábua. O alho vira uma pasta super saborosa, sem aquela nhaca que costuma deixar aquele bafo sem-vergonha. Aí você pode comer com pão, com qualquer coisa. Eu, sinceramente, recomendo passar na barriguinha de uma bela peça de picanha e mandar de volta pra churraca. É uma coisa de outro mundo, por mais que pareça um loucura jogar alho na lata de cerveja e mandar ambos pra churrasqueira esperando um patê como produto final. Mas acredite, é bom.
E, pra completar, eu falei tanto de alho, que no final das contas eu vou contar uma coisa que vai te deixar de cabeça quente. Eu aboli o alho da minha culinária. Sério. Não confunda com abolir o alho da minha alimentação, que isso já é demais. Acontece que eu me casei com uma garota que, apesar de linda, não gosta de alho. Ninguém é perfeito, já dizia o piloto Peter [/corrida maluca]. Aí comecei a reduzir o alho da minha comida, e quando dei por mim: cadê? tinha desencanado de colocar tal condimento na maioria das coisas que faço. E sabe o que eu acho disso tudo? Nada. A comida continua gostosa, a mocinha gosta e eu não sinto falta do alho, não.
O que não significa que eu não goste mais, ou que tenha entrado em alguma dieta pós-moderna da desconstrução da alimentação enquanto chaga da sociedade, porque não tem nada disso. Apenas experimentei algo diferente.
Coisa de gente cabeça :-)