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Churrasquinho com queijo

Quando eu era moleque, eu simijava com os Mamonas cantando o Vira. Aliás, sempre achei o humor daqueles caras muito foda. Tem certas sutilezas em robocop gay, por exemplo, que são impagáveis. Prestenção nos backing vocals, na próxima vez que ouvir. Aliás, na próxima vez não, prestenção AGORA:




Então, mas onde a gente quer chegar com essa conversa mole? Ah, então, os caras mandavam muito bem no Vira, que me lembra do seu Manuel da padaria, que me lembra que ontem eu almocei lá (na padoca) e que a patroa pediu um churrasquinho com queijo, que me lembra que eu fiquei morrendo de vontade de comer aquilo, e que tudo isso me lembra que sim, eu me lembro do que eu almocei ontem! E que foi uma coxa-creme e tava terrível, ao contrário do churrasquinho com queijo da patroa, que parecia delicioso. Só não me lembro se eu assumi a minha porção neanderthal e tomei o quitute da mão dela ou se apenas fiquei olhando e babando, mas isso não tem a menor importância. Fato é que aquele churrasquinho com queijo ficou me atormentando o resto da tarde.

Se você não sabe o que é um churrasquinho com queijo, eu ajudo a ventilar essa sua mente. Pegue uma cerveja (o ativador cerebral do homem moderno. ou nem tão moderno assim) e escuta o que eu vou te falar: Churrasquinho com queijo é um lanche. Composto por um pão francês, que os gaúchos (ou cariocas, não lembro bem), virilmente chamam de "cacetinho", recheado com um bifão de contra-filé coberto com queijo derretido. Sacou? Simples assim.

Então, ao adentrar o conforto do lar, depois de um dia de trabalho cascudão, com esse sanduíche me perseguindo o subconsciente, eis que abro a geladeira e encontro uma Itaipava. Não, não era isso (acho que tá na hora de ir pra casa, a mente já tá engasopando), eis que eu abro a geladeira e encontro um belíssimo pedaço de contra-filé. Uma peça mesmo, que eu havia comprado no dia anterior. Tava resolvido o caso do sanduíche que me dominava: faria eu mesmo o meu churrasquinho com queijo. Little Barbecue with Cheese, como dizem os ianques, entre um hamburger e outro.

Tratei de convencer a minha doce esposa a comparecer à padaria, em busca de pães e queijo mussarela. Fui bem-sucedido nessa investida, apesar da má vontade com que ela executou a tarefa. Mas o que importa é que ela saiu tarde e no frio pra comprar pães e eu fiquei no quentinho preparando os bifes (querida, te amo, vc sabe que isso aqui é brincadeira, né?).

E como preparei os bifes pro churrasquinho com queijo? Na verdade, pra fazer churrasquinho você não precisa nem temperar, basta por sal. Mas, como eu cheguei do trabalho depois das 9 da noite e minha alma só se salvaria se eu comesse algo REALMENTE gostoso naquele momento, decidi fazer um agrado no contra-filé.

Cortei 4 fatias de contra-filé, com um pouco menos do que uma salsicha de espessura (wow, acabei de inventar uma medida excelente pra espessura! Todo mundo sabe o quanto tem uma salsicha, não tem como errar). Joguei um pouco de orégano nos bifinhos. Adicionei sal fino e uma pitada de nada de pimenta do reino. Só pra dar o agrado, mandei uma pimenta biquinha picotada lá dentro. Um gole de azeite e tá feita a arte. O cheiro da carne, somado à quantidade de horas decorrentes desde a minha última refeição já seriam o suficiente pra abocanhar aqueles bifes crus mesmo, mas preferi o auto-controle e deitá-los na frigideira.

Ok, isso é um blog de churrasco e esse negócio de frigideira é coisa de fritador de batata, e isso a gente não é, pensa o nobre leitor nesse momento. Mas explico: se você mora em São Paulo e, como eu, está sofrendo com a massa de ar polar que os argentinos mandaram pra gente, creio que consegue entender que usar o quintal (e a churrasqueira, por consequencia) nesses dias pode causar o congelamento de certas partes do corpo que eu prefiro manter quentinhas. Portanto, mandei-os pra frigideira. Mas, se você quer arriscar, recomendo acender a churraca e usar uma chapa de ferro pra fritar o bife.

Na hora de fritar os bifes, é bom lembrar de não colocar óleo, manteiga, azeite, nada na frigideira. Afinal, você já deu uma golada de azeite nos bifes, lembra-se? Além disso, o contra-filé tem bastante gordura, que derrete e lubrifica a frigideira.

Daqui pra frente não tem segredo. Deixa o bifinho ali deitando fazendo barulhinho por um tempinho, vira ele, joga o queijo em cima, e quando derreter, corta o pão, põe tudo no meio, fecha e come.

E, finalmente, o churrasquinho com queijo da patroa parou de me atormentar, e fomos felizes para sempre.

Tempo de preparo: Muito rápido, só 2 brejas. Tome umas 5 antes e sirva bêbado.
Rendimento: Cada bife vale um pão, uai.
Custo: Uns R$5,00 de carne e mais uns R$4,00 de queijo e pão renderam 4 sandubas. Beeem barato.

Pìcanha no rechaud

Rechaud é um nome meio esquisito. Isso é um fato, e se você não concorda comigo, nem precisa continuar a ler isso aqui. Rechaud me lembra gourmet, que me lembra coiffeur, que me lembra champignon, que me lembra abajour, que me lembra charles aznavour, que me lembra michel platini. O francês pode ser um cara legal, mas essa coisa de falar de biquinho a gente desconfia. Então começo esse post chamando o rechaud de rechô. Ponto, macho e viril: rechô.


Esse é o rechô. E, já que eu roubei a foto, retribuo com o link.
 Se for comprar, 
clique aqui.


Aqui em são paulo tá cheio de botequinhos iguais: eles têm cara de antiguinhos, têm mesa de madeira, televisão pra passar futebas, boas porções, garçons gente fina, cerveja Original e... picanha no rechô. Eles acendem o fogareiro embaixo do rechô, esquentam a chapa e queimam o teu bolso: te vendem a picanha inteira a R$60,00. Embora as picanhas de boteco sejam excelentes, esse lance de picanha inteira e meia picanha é uma sacanagem. A picanha inteira nunca passa de 500g, e a meia nunca passa de 300g. Ou seja: seu Manoel do boteco, seja honesto e venda meia 1/2 picanha e 1/4 de picanha, respectivamente, óquei?

Pois é, eu tinha um rechô. Um bom rechô. E o perdi da maneira mais ridícula possível; eu esqueci o rechô em casa. Aí você me pergunta: como assim, escriba? E eu te respondo, fiel escudeiro. Eu esqueci o rechô em casa... e mudei de casa! Ele ficou lá, desamparado no fundo do armário da lavanderia, vendo a mudança toda esvaziar o apartamento, esquecido.  Espero que o novo dono esteja honrando o nome do meu ex-rechô, assim como eu o fazia (Essa me comoveu. Se eu não fosse macho pacas eu tinha até chorado).

Em todos esses meses na casa nova, eu queria muito fazer uma picanha no rechô. Mas não queria comprar outro rechô, em respeito ao antigo. Então encontrei a solução para o meu dilema: comprei uma chapa de ferro!

É isso mesmo, rechô tem que ser de ferro. Nada de inox, nem teflon e nenhum metalzinho anti-aderente. Ferrão, parceiro, chapa pesada, é disso que eu tou falando.


Definitivamente, preciso de uma máquina fotográfica melhor.
Na última foto que o fogo apareceu, tava azul. Esse, tá rosa. Fogo rosa é complicado...

Funciona assim, basta acender o carvão, colocar a chapa de ferro logo acima e fazer a picanha. Se você já comeu uma picanha assim no barzinho, deve ter percebido que o rechô faz um furdúncio de tanto que espirra. Afinal, carne + gordura + chapa quente = lambança. O legal de fazer dentro da churraca é que a lambança ocorre lá dentro, e não te transforma num balde de sebo. 

Pra preparar não tem muito erro, não. Escolha uma picanha pequena. Se for preparar pra muita gente,  pense em comprar duas picanhas pequenas, no lugar de uma grande. Isso porque a picanha fica ali, coladinha no coxão duro, na alcatra e no filé mignon. Em picanhas grandes, você pode ter sido premiado com um pedacinho de outras dessas carnes, que endurecem no rechô (duplo sentido?). Corte a picanha em fatias finas, de pouco mais de um dedo de largura. Lembre-se: nem dedo de moça, nem cacho de banana. Estamos falando de dedos normais.

Tem gente que tira a gordura antes dela ir pra chapa, mas eu prefiro deixar. A gordura endurece no rechô (opa!) e não fica legal de comer, mas ainda assim ela derrete e deixa um gostinho bom. Então eu preparo a carne com a gordura e depois tiro na hora de servir. 

Pra assar, passe uma colherada de manteiga de qualidade sobre a chapa. Nada de margarina e outras merdas light. Se é pra ser light, prepara uma saladinha e dá o fora daqui.  Quando você jogar a manteiga, ela deve derreter fazendo aquele barulhinho legal de chapa quente. Se não fizer, deixe esquentar um pouco mais. Quanto mais quente a chapa estiver, melhor fica a sua picanha. 

Deitou a manteiga? Fez barulhinho? Hora da picanha, rapá!!!! Faça bife por bife, sem essa de tacar um monte de carne. Cada bife que você joga na chapa troca calor com ela, e a faz esfriar. Tenha paciência. Carne deitada, é hora de jogar o sal. Utilize sal fino, a carne vai ficar pronta muito antes de derreter o sal grosso. Deixa ela ali alguns segundos e vire, passe sal. Salgue com moderação, já diria a propaganda.

Agora faça a sacanagem, dê um pouquinho mais de manteiga pra ela beber. Um pouco, nem precisa caprichar, sob o risco de entupir as coronárias dos seus convidados. Fique atento à picanha até ela parecer marronzinha do lado de baixo, com umas marquinhas de queimado onde tem mais contato com a chapa. Vire e aguarde até ficar igual.

Pronto, é só cortar em fatias bem fininhas que vc ganha a galera. Não deixe esfriar, mande o pessoal comer rápido. O que não é difícil, diga-se de passagem.

Preço: preço de picanha, uai. Uns 20 cruzeiros uma picanha de 700g.
Tempo de preparo: rapidinho, meia lata pra cada fatia de carne.
Rendimento: o da picanha. 700 gramas forram 3 panças.