Receitas de panela: Salmão com batatas

Rapaziada, vou contar uma coisa... esse carnaval foi punk. Ou eu estou ficando velho. Ou as duas coisas: um carnaval punk demais pra um velho como eu.

Resumindo, minha preguiça de pegar trânsito me impediu de viajar neste carnaval, então reunimos os amigos que compartilharam desta preguiça, e uma vez reunidos, chafurdamos na cerveja para não mais sair de dentro dela. Posso dizer que passei o meu carnaval, literalmente submerso no universo cerveja / churrasco.

Tanto que, na quarta-feira de cinzas, eu era apenas um corpo sem alma perambulando pelos cantos, pedindo aos seres das catacumbas que clamassem pela sua vida oferendo a esta alma pútrida uma travessa de salada. Opa, SALADA?????? Ma che??

Tenho que admitir que eu perdi a batalha da quarta-feira de cinzas. Como antes nunca perdera. Acordei, tomei um copo de água, outro, mais outro e mais outro, e não consegui chegar perto da geladeira de cerveja, e muito menos da churrasqueira.

Claro que eu não poderia me entregar à saladinha, mas precisava me alimentar, e carne não ia dar pra comer de novo, não. Precisava de alguma coisa consistente, saudável, gostosa... Mas, que alimento poderia preencher tais requisitos?

Aqui: consistente, saudável, gostosa...

Tá. Levei um ralo da patroa. Fora a Luma, o que poderia ser?

Neste momento, me lembrei do urso marrom. O urso marrom é um cara batuta, malaco lá das ilhas Kodiak (e viva a wikipedia). O bicho passa o dia inteiro com a cara chafurdada no rio à espera do salmão que, mesmo sabendo que o urso vai estar lá, nada rio acima na maior pirambeira, tudo pra sapecar a sardinha na salmoa, encher a água de pequenos filhotes de salmão, e depois morrer. Ou, no caso do encontro com o urso, morrer sem sapecar a sardinha na salmoa. Vida dura, essa de salmão.

Enfim, lembrei do nosso amigo urso, e pensei em chafurdar a cara no rio também. Mas, como moro em São Paulo e os rios por aqui costumam não ser muito bacanas pra se chafurdar a cara, corri até o compre-bem mais próximo da minha casa e voltei com um salmão inteiro e umas batatas.

Adoro comprar peixe inteiro. Só pra assustar o meu filho de 4 anos. Só que dessa vez ele foi esperto, não se assustou, pegou o peixe da minha mão e saiu correndo atrás do cachorro gritando "Buuuu... o peixe vai te pegar!!". Enfim, melhor parar com essa brincadeira, porque deu o maior trabalho recuperar o salmão e a piada não assusta mais ninguém.

Bom, vamos à receita, que dessa vez eu já tou enrolando demais.

O lance é o seguinte, essa receita tá na categoria "Receitas de panela", mas ela não é feita, exatamente, na panela. É feita no forno. Espero que o compreensivo leitor entenda a questão.

O primeiro passo é cuidar das batatas, que depois vão fazer companhia ao salmão dentro do forno. Pra que ela fique bastante macia e gostosa, você deve cozinhá-las. Simples como tirar o peixe de uma criança: Descasque umas 4 batatas, corte cada uma delas em 4 pedaços e bote numa panela com água, e uma quantidade comedida de sal. Enquanto ferve, vamos dar uma atenção ao salmão.

Comprei o peixe inteiro, mas como não sou sushi-man, e não tenho a menor técnica para cortá-lo, peguei uma faca afiada e picotei, de maneira que eu fiquei com 4 grandes pedaços de salmão. Se você for ao mercado e encontrar aquela bandeja com um tecão de salmão, é aquilo. Compre somente a bandeja, ou compre o peixe todo e desmonte ele da maneira que bem entender. Não tire fora a pele do peixe, você vai agradecer pela presença dela mais tarde.

Mexer em peixe cru é meio nojento mesmo, então lave as mãos e abra uma cerveja. Isso vai te fazer bem.

Numa bandeja (ou pirex) grande, jogue uma camadinha de azeite, de maneira que o fundo da bandeja fique coberto com uma fina camada de azeite. Sem ensopar a parada, companheiro. Você está fazendo um prato fino, e não uma sopa oleosa.

Com a pele pra baixo, deposite os pedaços de salmão na bandeja.

O tempero é bem fácil, também. Roube do jardim da sua mãe (ou esposa, ou irmã, ou vizinha) algumas folhas de alecrim. Umas 15 folhinhas já dão um bom agrado. Taque todas num potinho e adicione uma boa golada de azeite. Mais ou menos meia xícara.

Agora jogue lá um pouco de pimenta do reino preta, e sal. Imagine que você vai depositar aquele molho sobre os pedaços de peixe. Então faça as contas para o sal e não deixe o seu salmão ficar parecendo um bacalhau.

Tenho em casa uma pimenta que se chama Pimenta Bode. O nome é terrível e parece uma insanidade jogar algo de bode dentro de uma receita de salmão, mas vai por mim: A pimenta bode não tem nada a ver com o barbicha, e você não vai ficar com uma buchada de salmão no forno. Mas jogue no molho uma bolinha da pimenta, e não picote ela, nem amasse, nada disso. Apenas deixe a pimenta lá que ela faz o trabalho dela.

Voltemos às batatas, que a esta hora, devem estar macias dentro da panela. Espete com um garfo pra conferir. Se estiver macia, desligue o fogo e jogue a água fora. Coloque as batatas na bandeja, viradas pra baixo, de maneira que elas fiquem com a maior superfície possível em contato com o fundo da bandeja.

Agora só falta depositar o molho sobre o peixe. Faça isso. Mas não deixe a pimenta ir junto, você pode jogá-la fora antes. Pimenta é assim mesmo, a gente usa e joga fora mesmo. Sem canalhice, sem remorso, sem coração.

Não precisa espalhar o molho sobre as batatas, apenas sobre o peixe. Quando você colocar no forno, o azeite vai ferver, o tempero vai penetrar no peixe, que vai perder líquidos pra bandeja, que serão absorvidos pela batata. Entendeu?  Sobre as batatas, pode passar uma camada fina de azeite, só pra ter a certeza de que elas ficarão crocantes por fora e macias por dentro (chupa essa manga, mcdonalds!).

Cubra tudo com um papel alumínio e deixe no forno médio por, mais ou menos, umas 4 cervejas. Abra o forno e dê uma olhada no peixe. A carne dele deve estar meio branquela, é um sinal de que ele está ficando assado. Hora de abrir o papel alumínio e deixá-los (os peixes e as batatas) queimarem um pouco por cima. Tome mais umas 3 brejas e retire do forno.

Na hora de servir é fácil, você tira as batatas e põe no prato, tira o peixe e põe no prato. A diferença estará na pele do peixe, que ficou colada na bandeja e vai dar o maior trabalho pra mãe lavar depois. Mas em compensação, o salmão desgruda facinho da pele, e vai inteirinho pro seu prato, sem trabalho e sem desperdício.
UPDATE: A leitora Viviany me alertou, de forma delicadamente ríspida, que eu deveria forrar a bandeja com papel alumínio, assim não deixaria aquela pele de peixe grudada que poderia deixar a sua mãe com muque. Então, faça como ela: forre embaixo da pele do peixe com papel alumínio. Valeu Vivi!
Receita boa pra fazer amigos e influenciar pessoas. Se eu não fosse casado, daria outras dicas a respeito da boa utilização desta iguaria, mas como a patroa lê este blog, prefiro deixar a dica no ar. Pesca quem é bom. Ou quem é urso :-)

Em tempo: Depois de alguma pressão pública, minha prima devolveu a minha máquina, e eu bem que tentei montar um prato bacana pra fotografar. Mas a fome tava grande eu não tenho o menor talento pra decorador de prato. De qualquer maneira, veja com seus próprios olhos.



Rendimento: 1,5kg de salmão deu pra encher 2 buchos, duas vezes e ainda sobrou. Ou seja: rende pacas.
Custo: Acredite, um salmão congelado de 1,5kg custou R$13,90 no compre bem. E nem foi preciso chafurdar a carona na água gelada.
Tempo de preparo: 1 breja na preparação, 6 ou 7 brejas na espera do forno. Sirva feliz.

Receitas de CANA: Como preparar uma caipirinha

Mais uma vez, encontro-me exatamente tal e qual a sexta-feira pré-carnaval de 2009: sentado na cadeira do trabalho, dando a parecer que estaria trabalhando, mas contando malemolemente os últimos 106 minutos que ainda restam até que o verdadeiro grito de carnaval saia da minha alma e adentre a geladeira de cerveja mais próxima.

Geladeira esta que, por infortúnio, encontra-se sem cerveja. Paciência, mas eu encho ela logo, logo...

Dizia eu, que no ano passado, na malemolência pré-carnaval, nada conseguia escrever, e dei uma enrolada básica com algumas dicas pra churrasco de galera, o que mais ocorre no carnaval. Lê lá. Enfim, este ano, pretendo fazer a mesma coisa, já que conto os minutos pra ouvir o barulhinho da primeira cerveja. Barulho este que deve se tornar a verdadeira trilha sonora do meu carnaval.

Aliás, a grande dica deste carnaval é exatamente esta, sobre o álcool e seus excessos, atividades estas às quais devemos nos empenhar e aprofundar com propriedade durante os próximos dias. Vamos falar da cana mais preparada, querida e consumida destes quentes dias de fevereiro: A Caipirinha.

O Jo Soares tem uma teoria sobre o aparecimento da caipirinha muito interessante. Mas, como tudo o que ele faz, foi tão repetida (por ele mesmo) que perdeu a graça. A melhor representação da sua própria piada foi feita no filme "O Xangô de Baker Street", filme bem bacana do gordo. Na tela:
Droga, eu não queria escrever tanto assim, mas não tem no youtube, nem na internet inteira. Malditos direitos autorais. O lance é o seguinte: o sherlock holmes entra com o watson num boteco, e pede uma cachaça. Como tá calor, pede um limão, açucar e gelo pra refrescar. Aí o tiozinho do boteco olha pros dois e comenta com o amigo: "Qual dos dois caipiras inventou essa batida? Foi o caipirão?". O outro responde: "Não, foi o caipirinha", se referindo à baixa estatura do watson. Assim, piada boinha, mas se repetir muito, estraga. Foi o que o Jo fez. Estragou a própria piada.
Continuemos.

Existem dez milhões de receitas de caipirinha, todas elas envolvendo limão, açúcar, gelo e cana. Mas sempre se inventa uma boiolage pra se poder dizer: "A minha caipirinha é a mais foda do mundo". E sempre é, porque a caipirinha é um goró muito bom e fica boa de qualquer jeito. Vou, portanto, lhes contar como faço a minha própria dose de alegria.

Pra um copo razoável, daquele que cabe uma lata de cerveja inteira, use um limão e meio. Pense que o fato de deixar meio limão inutilizado servirá como estímulo para que prepare outra caipirinha posteriormente. Vai por mim.

Corte o limão na metade. Sem descascar nem nada. No máximo, lave o limão. Mas só quando houver alguma mulher por perto, elas detestam quando a gente não lava os vegetais. Ok, corte cada metade do limão novamente na metade. Pensando comigo, você tem 4 pedaços de limão. Bacana, não perca a concentração, corte cada pedaço na metade. Juntando com a outra metade de limão, você deve ter 12 pedacinhos de limão no seu copo. Foda-se a matemática, vai cortando e mete tudo no copo, porque essa batida é feita pra ajudar a gente a PERDER as contas.

Sugiro que não descasque o limão, por dois motivos: o primeiro, é a considerável economia de tempo e recursos que seriam dispensados descascando. E o outro, o mais legal: Pegue um pedaço de casca de limão, e esprema, como se fosse uma espinha. CUIDADO COM O OLHO. Caso contrário, não poderá mais ler este blog, nem ler mais nada. E eu perderei um leitor, coisa que muito me dói na alma e no coração. Bom, espremendo a casca, você notará que ela espirra um líquido, muito cheiroso e meio amargo. É ele que faz uma caipirinha batuta.

O segundo passo é jogar açúcar. Ponha açúcar de monte. Muito, até cobrir todo o limão. Vai por mim, não fica doce demais por conta do suquinho amargo da casca.

Antes de encher de cachaça, pegue o socador e amasse. Faça uma maçaroca daquilo lá. O atrito do açúcar com a casca do limão faz o mesmo efeito que a sua espremida. Com a diferença que o suco amargo e cheiroso se mistura com o caldo do limão e com o açúcar (pelo teclado brasileiro, dá um puta trabalho escrever açúcar, já percebeu? Tou quase escrevendo assucar).

Tá bem amassado, a parada toda virou um caldo? Então encha de cachaça. Ou vodka, embora eu prefira a caipirinha de pinga. Sem a viadage de tirar os pedaços de limão de dentro do copo. Deixa todo mundo lá. A vantagem é que você pode ir completando só com pinga e misturando depois. Pensa pelo lado prático, companheiro.

Agora mexe bem, muito bem. Sem aquela frescurada de meter um copo em cima do outro e bla bla bla. Isso é coisa de barman, e a gente aqui faz goró, e não drinkezinho. Mete uma colher lá dentro, mexe, dá uma lambida na colher e manda pra pia (a colher, não a caipirinha). Lambeu, tá gostoso?

Só jogar ali umas pedras de gelo e correr pro abraço.

PS1: De novo, este post não tem fotos porque a minha prima não devolveu a minha máquina. Vanessa, terceira semana e nada???

PS2: Estou escrevendo num novo blog, sobre futebol. Com o mesmo carinho e preocupação com a moral e os bons costumes que este aqui. É um blog coletivo, então existem outros autores. Meus mal-escritos caracteres estão sempre assinados como "Parmera". Pra quem se interessar, visite o Foot Loser.

Bom carnaval, crianças! Vão pela sombra, bebam toda a cerveja que conseguirem carregar e lembrem-se daquele ditado sobre o cu de bêbado.

Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

- Mentiroso, safado, vagandundo!

O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

cabou o post.
...
...
...
cabou, não.

Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.