Quando você chega num churrasco e vê ali aquela fumaceira, ossos e outros lixos na mesa, gente alegremente bêbada caída pelos cantos e toda aquela atmosfera tipo "o capeta passou por aqui" que fica depois de um churrasco, você, o curioso leitor, se pergunta: Meldels, mas como é que isso foi começar?
Eu te respondo: o churrasco começa, oficialmente, quando mete-se fogo no carvão. É como o tiro pro alto nos 100 metros rasos, o "atenção emissoras da rede globo para o top de 5 segundos", ou a luz verde na fórmula 1 que, tirando o rubinho, bota os pilotos pra correr, o willian bonner pra falar e as nossas queridas e saborosas carninhas pra assar. Risca o fósforo, 1 2 3.. Valendo!
E essa hora de acender a churraca é especialmente peculiar. Cada churrasqueiro tem uma técnica milenar. Algumas interessantes, outras bizarras. Vou comentar aqui algumas, que já vi pessoalmente:
- O famoso túnel de jornal: Funciona assim: o camarada pega uma garrafa de cerveja, faz um rolinho com o jornal, enrola na garrafa. Depois tira a garrafa, e coloca aquele negócio na churraca. Joga uma golada de álcool, e despeja o carvão em volta, deixando o meio oco. A técnica é interessante porque utiliza bem a passagem do ar no túnel, mas tem seus pontos fracos. O primeiro é que dá trabalho enrolar a parada, apoiar os carvões e o escambau. O segundo é que usa papel. Acho uma grande bobagem acender o fogo com jornal. Pensa comigo: a fumaça é expelida pra cima, certo? Aí, o caderno de TV queima os resumos de novela, a ana maria braga e o louro josé de uma só vez, e vira uma espécie de fuligem, certo? E o que tem logo acima do fogo, geralmente é a sua carne, certo? E aí essa fuligem gruda na sua carne e você pode aproveitar pra ler as notícias encrustradas na sua picanha. Show!
- Uma certa vez, um animal que não me recordo quem era, usou uma técnica qualquer, e na hora de acender, jogou no carvão a bituca do cigarro que ele tava fumando. Não interessa a técnica, se você for porco assim, quem merece ser queimado é você, e não o churrasco. Não se esqueça de que a sua churrasqueira é um local pra fazer COMIDA, e não uma lata de lixo.
- A terceira técnica é bastante interessante, o rodapé de latinha. Funciona assim: você pega uma faca e destrói a latinha, de maneira que você consiga retirar apenas o fundinho dela. Aí você joga um pouco de óleo de cozinha no fundinho, acende e monta um predinho de carvão em cima. Olha, essa é uma técnica muito legal, porque o fogo do óleo é muito mais duradouro, vai pegar no carvão de qualquer jeito, mesmo que ele não esteja muito seco. O único probleminha é a perícia metalúrgica necessária à execução. Primeiro você tem que destroir a latinha com uma faca. O que pode, além da latinha, destruir o fio da sua faca. Se você fizer isso com a minha faca, perdeu a amizade, isso é um fato. O segundo problema é que, além de destruir a latinha e, eventualmente, o fio da sua faca, você ainda corre um sério risco de destruir a sua mão. Principalmente se foi você o folião que entornou aquela latinha. Mais ainda se você enxugou aquela latinha e mais algumas iguais a ela. Ou seja: com aquele alumínio fininho e a sua delicadeza de parafuso de trator, corre o risco de se cortar feio antes do churrasco começar, e passar o churras todo na base do band-aid. Mico na certa. Essa técnica é só pros bons. Se tu é tosco, esquece essa.
- O incinerador maluco: Essa é pra você descontar aquela raiva extra. Funciona assim: Joga todo o carvão que conseguir carregar dentro da churraca. Depois, empunhe o vidro de álcool (por favor, nada de álcool gel ou outras franguelices. Estou falando de álcool 96 graus, coisa de gente grande). Ok, encharque o carvão. Assim mesmo, sem critério, sem carinho e sem perdão. Agora é só encarnar o Nero e acender o fósforo. Recomendo tomar uma certa distância, pois essa costuma mandar Roma pelos ares. É a técnica preferida dos mais sem-noção, mas admitamos que funciona. Se o objetivo é pegar fogo, essa pega.
- A minha preferida: Pão velho. Eu sempre guardo pão velho aqui em casa. Tem uma gavetinha na fruteira onde eu vou guardando os restos de pão. Sempre que preciso acender a churraca, pego um tequinho, jogo um pouco de álcool, coloco no fundo da churraca, cubro com carvão e mando um fósforo, tomando o cuidado necessário pra acender o pão. Cabou-se. O pão demora um tempinho pra terminar de queimar, isso é o suficiente pra pegar no carvão. Além disso, o cheiro do pão queimando é bem mais legal do que jornal ou óleo, né?
Técnica muito utilizada pelos exércitos pretos em Omsk, no Aral e no sul da Dudinka.
Compreende segurar cartaz do bigodudo, jogar álcool sobre o próprio corpo,
acender o fósforo e pular na churrasqueira.
No final das contas, o que interessa mesmo é conseguir acender. Uma vez acendida a churraca, tá dado o start no seu churras e daí pra frente é só alegria.
E você? Qual a sua técnica milenar pra botar fogo na parada?