Especial Churrasqueiras: A incrível churrasqueira elétrica

Estamos de volta com mais um capítulo da série Especial Churrasqueiras, que vai te ajudar a escolher o melhor lugar pra deitar o seu bife. Isso é um oferecimento das Organizações Gato na Grelha. 

No último capítulo, experimentamos a tal churraquinha de papel, que tinha tudo pra dar errado... e deu. O acendedor atômico de urânio enriquecido que veio maliciosamente camuflado no meio do carvão chamuscou a minha sombrancelha, torrou a carne e até a própria churrasqueira, acabando com o churrasco e quase causando um incêndio. Ou seja: siga o óbvio, churrasqueira de papel não funciona e não faça isso em casa. Nem fora dela.

Desta vez, vamos experimentar mais uma que tem tudo pra dar errado. Onde já se viu um cara que acha que entende de churrasco confiar numa churrasqueira que tem que enfiar na tomada pra funcionar? Pois é, mas nós torcemos o nariz, demos de ombro, fizemos beicinho (menos a ana maria braga, que fez beição mas ninguém notou porque o botox tava duro), mas acabamos por morder a língua e levar uma bica. E esta anatômica oração só serviu para que morfológica ou sintaticamente admitamos que a churraquinha elétrica surpreendeu os nossos enegrecidos corações e provou que funciona sim senhor. E funciona bem merrrrrmo.

Como já disse num post sobre churrasco de apartamento, o que vai determinar se você vai ter uma churrasqueira elétrica ou a carvão na sua casa é uma razão entre o andar em que você mora e a dureza da sua convenção de condomínio. Se você optou pela elétrica, este post é pra você, iluminado leitor.

O esquema da churraquinha elétrica é bem simples. Tem uma resistência que fica logo abaixo da grelha esquentando a carne. Abaixo dela, uma bandeja armazena a gordura que escorre. E é aí que mora a genialidade deste invento que orgulharia mr. Thomas Alva Edison.


- Oh, my God!! Eles estão deitando o gatinho no grelha!!

Sente a estratégia: a gordura escorre e cai na água. Esta, por sua vez, está próxima da resistência, que encontra-se a meio caminho da água e da grelha. E como pau que bate em Chico bate também em Francisco, se a resistência esquenta a carne, esquenta também a água. Que evapora.. na carne! É, salvo as proporções gastronômicas e astronômicas de ambas, o mesmo princípio que faz a gordura cair no carvão, queimar e subir de volta à carne em forma de fumaça. Essa é a mágica do churrasco. E a churraquinha elétrica cumpre honestamente o seu papel nesse sentido. Mas como a gordura não é queimada, não faz tanta fumaça. Quase nada, pra falar a verdade.

Churracas elétricas consomem uma energia lascada. E um churrasco nunca é um evento rápido. Portanto, se você tem costume de fazer churrasco com frequencia, recomendo procurar outra alternativa. A menos que faça parte dos seus planos sobrecarregar Itaipu e apagar o Paraguay, o que não deixa de ser uma boa idéia. Mas pense na sua conta de luz e evite o greenpeace na porta da sua casa. Essa churrasqueira quebra o galho com propriedade, mas não é pra ser usada com frequencia. 

Como ela é bem pequena, deve ser acomodada em cima de uma mesinha. Nessa hora, recomendo atenção ao tipo da mesa. No apartamento da praia, temos uma dessas, e no primeiro churrasco, apoiei a churrasqueira na mesa da sacada. A mesa era de ferro, e eu tava descalço. Não preciso nem contar o que aconteceu, né? Foi um choque atrás do outro. Como nós gostamos de tomar cerveja durante os churrascos, e não tomamos pouca, o risco de levar um choque e pegar fogo é grande. E eu não acho que seja uma visão agradável pros seus convidados verem um churrasqueiro em chamas num churrasco onde, teoricamente, nem deveria haver fogo. Portanto, mesa de madeira e um chinelão podem ajudar a salvar a tua vida.

Se pegar fogo, não dirija.

Quanto às carnes, dá pra fazer uma porção delas. Picanha em bifes fica perfeita. Costelinha de porco também já fiz, e fica legal. Linguiças em geral, frango, fraldinha, maminha. Até peixe eu já fiz e ficou muito bom. Apenas evite carnes que precisam de um longo tempo de churraca, como costela bovina e cupim. Primeiro porque elas tendem a queimar por fora e não assar direito por dentro, e outra porque uma churraquinha dessas ligada durante muito tempo pode causar um blecaute na sua cidade.

Veredito: tá aprovada. Descobrimos que as resistências servem, além de fazer chuveiro, aquecedor e chocadeira, pra fazer churrasco. Essa sim foi uma experiência bacana.

Comparando, é como o Palmeiras contratar o Obina: você tem certeza de que não vai dar certo, mas no fim.... Bom, no fim eu não quero nem ver. E esse papo de obina me fez perder a fome.

Hamburger de fraldinha: O X-salada

Nas novelas no tempo de criança, no primeiro bloco tinha um retrospecto dos últimos capítulos, e no último, uma prévia dos próximos.  Vou começar este post com o retrospecto, ok? Voz de cid moreira aí, DJ!!

Os capítulos anteriores, nosso intrépido churrasqueiro demonstrava todo o seu apreço à sua amada, a fraldinha. Carinhosamente, ele moeu seu corpo e temperou com cebola, ovos e pimenta. Invejoso, o churrasqueiro declarou seu ódio ao Sr. Hellmans, e decidiu fazer a sua própria maionese. Cruelmente, ainda convidou seus comparsas para partilhar da sua carne amada...

De maionese e hamburger em mãos, bastava preparar o famoso e saboroso x-salada, o nosso objetivo final. E, como esse blog fala de churrasco e você deve estar de perguntando máqueporraééssadexissalada, preparei os hamburgeres na churraca. Há! 

Acendi a churraca e, no lugar da grelha, utilizei uma chapa de ferro, a mesma que uso pra fazer picanha no rechaud. Fazer direto na grelha não ia rolar, pois o queijo fatalmente escorreria ali promovendo a lambança completa e irrestrita. Com a diferença que preparar na churraca evitaria um furdúncio na minha cozinha, porque hamburger espirra e muuuito.

Além do fator social. Preparar comida na cozinha e levar até a sala é meio chato, vc fica sozinho trabalhando. Na churrasqueira é outro papo, você fica cercado de gente, as pessoas comem ali mesmo. É a inclusão social do churrasqueiro :-)

Bom, compramos muitos pães de hamburger, alface, tomate fatiado e... bacon. Ah, o bacon.. Diferentemente do McDonalds que tem aquele bacão redondo, esquisito e com um gosto bizarro que só o mcdonalds é capaz de proporcionar, decidi comprar bacon cru fatiadinho pra fazer junto com os x-saladas. 

Passei um pouquinho de manteiga na chapa e deitei o primeiro hamburger. Coidiloco aquele barulhinho de sshhhhhshshshshshhsshs dele fritando, não é? 

O que se sucedeu foi uma sequencia de 18 hamburgeres pra 8 adultos, 2 duas crianças e nenhum monstro do pântano, de maneira que cada pessoa comeu 2 sandubas, e as crianças comeram apenas um. 

Confesso que estava com medo de ter errado o tempero, ou ficar ruim ou sei lá o que. Sempre que eu vou inventar uma carne nova, ou algo que nunca tinha feito, geralmente eu faço para um público pequeno, e se ficar bom faço depois pra geral. Dessa vez, não. Então tava meio tenso. Mas o resultado foi mega positivo, os convidados adoraram! Ah, como eu trato bem essa gente, viu! 

Os x-saladas foram montados com pão, maionese, hamburger, queijo pratou ou mussarela, alface americana, bacon e tomate, nada de milho ou outras merdas que vemos por aí. Foi o xissa, simples como tem que ser.

A maionese: ficou maaaaaster, a receita da dona vó foi tudo de bom. Os amigos voaram que nem mosca na merda e acabou num minuto. Se você fizer um kg de hamburger de fraldinha, recomendo que dobre a receita.

O pão: foi usado pão de hamburger normal, comprado no supermercado. Recomendo deixar dentro da churraca, num lugar bem reservado, pois ele vai esquentando com o calor, e fica mais gostoso mesmo.

O hamburger: ficou muito, muito gostoso. Dá pra fazer num churrasco normal. O foda é você encher a churrasqueira de hamburger porque vai ficar parecendo americano, que chama os amigos pra um churrasco, acende uma churrasqueira feita pela nasa e enche a máquina de hamburger, salsicha e nugget. Vai entender esse povo, né?

Uma boa dica em relação ao hamburger veio de um dos convidados. Sinceramente, senti falta de uma ervinha no hamburger. E antes que você dê o meu telefone pro Gabeira, eu estou falando da salsinha. Acho que vale a pena colocar um pouco de salsinha na massa do hamburger.

O bacon: foi da patroa a idéia de ouro. Bastava deixar ele ali, deitadinho na chapa que a coisa acontecia sozinha. Quando tinha um hamburger pronto, outro bacon saía na mesma hora. Acho que eles combinaram. O melhor de tudo foi que eu não precisei pedir um Bacon sem bacon pra mim mesmo (se você não entendeu a piada, leia o post com a receita do hamburger). 

A salada: ah, fala sério, compana.. você não quer que eu fique aqui falando de salada, não é? Ah, manda uma mulher lavar a salada, enfia no sanduba e come, porra.

Hamburger de fraldinha: Preparando a maionese

Como disse no post anterior, os hamburgeres não seriam comidos ontem, mas sim hoje. Calma, eu não mudei os planos. Quer dizer, mudei um pouquinho. Decidi chamar a galera pra experimentar o hamburger de fraldinha, e ainda preparei o resto da fralda moída (leia o post anterior, você vai entender). Agora temos 1kg de hamburger que eu fiz, mas não comi. E ainda chamei os amigos pra experimentar. Putz, tomara que esse treco tenha ficado bom. 

Passei o dia decidindo se fazia a maionese ou comprava na lanchonete do seu Osnir, aqui na região. Aliás, se você passar por perto da Praça da Árvore, em são paulo, pare tudo o que está fazendo e mande um sanduba no Osnir, na esquina da jabaquara com a rua das rosas. Voltando ao assunto, deixe-me explicar o motivo da indecisão.

Assistiu "60 segundos"? É assim, os caras tem que roubar uns carros bacanas, mas tem um carro que o ladrãozão do filme nunca consegue roubar, porque acontecem coisas estranhas com a relação entre ele e o carro. Se você levar em consideração que ele pega a Angelina Jolie no filme, eu ia estar me lascando pra relação com o carro e ia me preocupar muito mais com a relação que envolve tão formosa garota. Mas como eu não roubo carros e não pego a Angelina Jolie, o meu drama é mais simplório, digamos assim: eu não consigo acertar uma maldita maionese. Sempre vira uma pia de porco, desanda, fica feia e mal-cheirosa. Mas dessa vez eu decidi encarar o desafio e pedi ajuda à cozinheira master desse mundo, capaz de preparar comidas que até Deus duvida, e como ela não cozinha pra Ele, e sim pra gente, continuará duvidando. Estou falando da nonna desta família, dona Ivette em pessoa.

Telefone em punho, enchi o pulmão e liguei pra ela. Em cinco minutos de conversa, nos atualizamos sobre as notícias da família, me convidei pra um almoço amanhã e anotei a receita da maionese que, na verdade, parecia ridiculamente simples. Aliás, simples pra ela que é capaz de cozinhar qualquer coisa. Mas tá valendo, se tudo der errado, já descolei um almoção pra amanhã.. 

Seguindo os ensinamentos de tão nobre senhora, botei 3 ovos pra cozinhar. O primeiro ovo já estourou logo de cara. Tirei da água e resolvi usar só dois. Ok, cozinhados os ovinhos, bora preparar seguindo a cartilha. 

Abri os ovos e retirei apenas as gemas cozidas. Assim disse Dona Ivette: 

- Use apenas as gemas dos ovos cozidos.
- Mas, vó.. O que eu faço com as claras que sobram?
- Ah, dá pras crianças, ué.

Simples, ela. Porém, das duas crianças da casa, uma dormia e outra estava fora. Achei uma alternativa razoável comê-las eu mesmo. Assim o fiz. 

O próximo passo, adicionar duas gemas cruas, desta vez dispensando completamente as claras. Olha, destacar a gema da clara de um ovo cru é uma atividade para poucos. Nojento que só. Despejei o conteúdo do ovo na palma da mão, com os dedos levementes entreabertos, de maneira que a clara nojentamente escorreu entre eles, ficando apenas ali a gema. Repeti o processo e joguei as duas gemas cruas às duas gemas cozidas. 

Pra dar um agrado, piquei um dente de alho bem pequeno, mas bem pequeno mesmo. Adicionei sal e misturei. Ah, começou a ficar com uma cara de maionese. Mas ainda faltava o azeite. Aí começaram os meus problemas.

Quando disse que usaria a batedeira pra mexer a maionese, dona Ivette caçoou de mim. "Bate na mão, dani" foram as palavras dela. Como ela tem 79 anos e eu 32, acho que ficaria difícil conviver com a minha consciência se eu não batesse aquele troço na mão. Comecei. 

Seguindo as recomendações da nonna, fui adicionando o azeite aos poucos. Ou seja, bate um pouco, adiciona azeite. Bate até pegar textura, depois põe mais um pouquinho. E assim por diante.

O resultado foi bom, e ruim ao mesmo tempo. Bom porque eu não peguei a Angelina Jolie, mas acertei a maionese. E ficou gostosa, até. A parte ruim ficou por conta do meu aspecto físico. Depois de bater a maiô no garfo, seguindo as recomendações de vovó, meu braço está pegando fogo. Não tenho forças pra levantar a minha cerveja. Parece que eu acabei de jogar uma partida de boliche. De 3 horas de duração.

Agora é esperar o pessoal chegar e começar a preparar os x-saladas. Torçam por mim, porque eu posso ter acertado a mão, mas posso ter errado o hamburger, a maoinese ou os dois :-(

Amanhã, a terceira e última parte deste especial: o x-salada e o resultado dessa baderna.

UPDATE: Não costumo fazer updates aqui, mas esse é importante: No domingo, quando almocei na casa de vovó, ela me disse que esquecera de um detalhe importante: na hora que misturar os ovos, sal e o alho, pingue algumas gotas de limão. Isso ajuda a maionese a não desandar. Embora esta não tenha desandado.

Hamburger de fraldinha: Te cuida, Ronald McDonald!

Uma das primeiras histórias bizarras que a internet ajudou a difundir foi aquela maluquice do hamburger de minhoca do McDonalds. Na época, eu trabalhava numa empresa que era a assessoria de imprensa da lanchonete do palhaço Ronald. E eu vi o trabalho que eles tinham em desmentir aquela bobagem mundo afora. Se você não sabe, a assessoria de imprensa é a empresa responsável por pautar a imprensa sobre o que será falado sobre determinada empresa. Ou seja, se aparece em algum lugar que a empresa XYZ é bacana e tá doando a renda do ano inteiro pra comunidade dos anões de Vladivostok, quem contou isso pra imprensa foi a assessoria. E se você ouvir alguém espalhar que o dono da empresa ABC congelou a vó no freezer da empresa, é a assessoria de imprensa que vai ter que desmentir isso aí, sendo mentira ou não. No caso da minhoca do Ronald, era claro que era mentira. Mas admitamos que era engraçado, vai...

E hoje, na hora do almoço, me dirigi a uma de suas lanchonetes pronto pra degustar uma refeição com nome de número. Gosto muito do número 1, mas gosto também do número do McBacon, e era esse em quem eu queria enfiar a dentadura. Eu não lembrava o número dele e chamei de Número do McBacon. Isso é bastante esquisito, pois é uma refeição com nome de número, e se eu não lembro o número, vira refeição com nome de número... de nome. Mas bastante esquisito mesmo é a fatia de bacon grande e redonda que vem no McBacon, que encaixa direitinho no sanduba. Sabemos que não vende bacon assim no mercado, e que no porco, o bacon não tem esse formato. Então me vem à idéia que os caras fazem esse bacon aí no photoshop, o que me leva ao inevitável: "Moça, me vê um número do McBacon sem bacon?". Ridículo, mas é isso que eu faço. Aí ela finge que não achou isso esquisito, dá um gritinho lá pra dentro "Bacon sem bacon!!" e a coisa acontece. Milagrosamente, aparece na minha bandeja um McBacon, sem o tal bacon. 

Em algum momento do almoço, me voltou à mente aquela história da minhoca. Acho que foi na hora que eu dei a primeira mordida e não senti o gosto da carne. Ou talvez na hora que eu dei a última mordida e ainda não tinha sentido o gosto da carne. Não importa, o que vale é que a gente gosta de ir no mc pelo evento que é, e se gostar do lanche, é pelo pão / molho / batata, etc, mas sabe que a carne é meio esquisita. Porque se for pra comer carne, lá não é o lugar não. Desculpa aí, palhaço Ronald, mas essa sua carne é uma fanfarrice.

E tive a idéia de fazer hamburger. Isso, comprar carne, temperar e fazer eu mesmo as minhas pequenas bolachinhas do prazer.  

Atenção: este é um post de receita em andamento. Explico: eu fiz os hamburgeres, mas só vou comer amanhã. Explico de novo: com a textura que eles ficaram, eu acho que seria uma boa idéia congelar antes de fritar, pra não fazer meleca na frigideira. Além disso, queria fazê-los na chapa de ferro lá na churrasqueira, mas hoje tá chovendo. E mais além disso do que isso, eu ainda não decidi se faço a maionese caseira ou meto uma hellmans mesmo. Portanto, preparei os hamburgeres que, neste exato momento, estão no freezer, ficando geladinhos pra ir pra churraca amanhã. 
Resumindo: Eu nunca fiz hamburger, não tenho a menor idéia se isso vai ficar bom, e só saberei amanhã. Preparar esta receita é por sua própria conta e risco. Mas garanto que posto amanhã mesmo o resultado, bom ou ruim. E, olha... eu acho que vai ficar bããão...

Voltando, vamos à receita. Nunca fiz hamburger, mas admito que recorri a Deus Google pra, no mínimo ter idéia de como fazer. E não me olha feio porque você tá aqui fazendo justamente o mesmo :-)

E, diante de Deus, Ele me falou que se usa fraldinha, patinho ou picanha pra fazer hamburger. Cliquei num link patrocinado e Deus se foi. Fiquei meio cabreiro com Ele, porque eu não gosto nem de dar cerveja pra carne, imagina se eu ia deixar MOER uma picanha. De jeito nenhum, isso seria um sacrilégio. Patinho eu não conheço, pois não é carne de churrasco. Mas sei que não tem uma fama das melhores, não. Mas a fraldeta é legal. Barata, gostosa e não vai me matar vê-la entrar formosa e sair uma paçaroca da máquina de moer carne. Assim procedi. 

Saí do trabalho tarde e com o saco na lua, mas ainda reuni forças para empurrar o esqueleto até o supermercado mais próximo. Pedi ao compana do açougue que moesse, duas vezes, uma peça de 1kg de fraldinha. Levei-a bora cá comigo. 

Como meu sogro faz um kibe cru nervosíssimo, imaginei que seria fácil preparar um nervoso eu também: bastava ligar pra ele e perguntar e ae parceiro como é que faz a parada. Sendo assim, separei a carne em duas partes: 0,5kg do kibe cru e 0,5kg pros hamburgeres, o personagem desta saga.

Chegando em casa, acalentei-me. Se eu me sentia moído, bastava olhar pra carne e avaliar quem é que tava na pior. Então, coberto do mais nobre sentimento de piedade pelo boi que acabara de pedir que moessem, decidi que faria uma caminha bem temperada para que a carne passasse a noite. Mas e aí, como fazer esse treco?

Uma amiga havia comentado sobre uma receita com ovos e sopinha de cebola, daquelas de pacote. Dispensei a sopinha, mas achei que o ovo seria útil, pra dar a tal liga. Assim, taquei um ovão lá dentro. 

Se eu dispensei a sopinha, continuei acreditando na presença da cebola no hamburger. Piquei meia cebola. Mas é legal picar a cebola bem pequeninha, com paciência. Assim ela pega um gosto na carne, e frita bem junto do hamburger. Deve ser meio broxante morder uma carne e sentir um tecão de cebola, não? Então, deixa a cebola na tábua e vai picando ela com a faca até virar quase uma pasta.

Tá ficando legal, mas ainda falta tempero. Ah, antes que eu esqueça: dois punhados de sal e seja o que Deus quiser (nesse caso Deus mesmo, e não o Google). Pra temperar, uma espirrada de pimenta do reino preta. Mesmo sem misturar, o cheiro começou a ficar bom.

Foi então que eu abri a geladeira e quebrei um paradigma. Uma verdade: não sou fã de pimenta, não gosto de pimenta. Mas antes que você questione a minha coerência, pimenta do reino não é pimenta, é tempero. É que nem o cachorro-quente, que não é cachorro, é comida. Coisas do português, ora pois. 

Pois voltemos ao ponto do paradigma. Abri a geladeira e encontrei um vidro de uma pimenta que tava bonitinha, brilhando ante a luz fria da geladeira. Abri o pote e senti o cheiro, meio com aquela cara de nojo de quem tá cheirando a bunda do coisa-ruim. Mas o cheiro era coisa boa. O nome? Pimenta baianinha. Olha, desde a carla perez, a Bahia sempre nos mandou saborosas pimentinhas, então pensei que seria uma boa lançar mão desse artifício. Tirei do vidro uma única bolinha, picotei bem picotadinha e joguei no meio da carne, ovo, sal e pimenta do reino. Pra dar um gosto que toda carne temperada merece ter, mandei uma golada sarada de azeite. Pra engrossar, farinha de trigo, uma pequena mãozada, tímida.

Comecei a misturar com uma colher de pau, e logo notei que aquela pasta não ia pegar formato de hamburger de jeito nenhum. Tava muito mole. Pra dar uma liga naquilo? A solução foi uma mãozada nervosa de farinha, umas 4 vezes mais potente do que a última. Isso significa que eu devo ter colocado uma xícara inteira de farinha de trigo.

Funcionou, porque a textura começou a ficar legal, virou um bolo de carne. E com um cheiro animal. Confesso que dei uma pequena garfada e, mesmo cru, o sabor tava demais!

Aí eu percebi que não ia ter aquela boiolice de não querer sujar a mão, porque a colher de pau não tava dando conta do recado. Apertei o botão foda-se e enfiei a mão na tijela, mexendo pra valer. Aí sim, misturei tudo e virou uma massa homogênea, consistente. Hora de fazer as bolachinhas.

Peguei uma mãozada da massa, deitei na tábua. Tal qual fazemos no jardim da infância, enrolei a massinha pela tábua até virar uma bolinha. Uma vez bolinha, bastou apertar com a palma da mão pra fazer o primeiro hamburguinho. Repeti o processo até o fim da carne. 

A receita deu 9 hamburguinhos altos, mas pequenos. Isso porque os pães de hamburger que a gente acha nos mercados por aí são pequenos, e não adianta você ter um hamburger de 8759352352 gramas e não caber no pão. Separei numa bandejinha, cobri com papel filme e foi todo mundo pro freezer. 

Aqui acaba a nossa epopéia, porque eu não experimentei. Apenas congelei e eles estão lá, tremendo na sibéria do meu freezer. Skavurska, Ronald McDonald!!! E até amanhã.

UPDATE: No terceiro post da série sobre o x-salada, eu comentei o resultado final dessa hamburgada. Uma das coisas de que senti falta foi um pouco de salsinha no hamburger. Portanto, se você pensa em preparar essa receita, mete um pouco de salsinha picada no meio que fica animal.

Custo: o kg da fralda custou 12 cruzeiros. mas como usei meio kg, pense em R$6,00. O resto (cebola, pimentas e afins tem custo irrisório).
Tempo de preparo: dá pra tomar umas 4 brejas, mas o tempo não é tão aproveitado, porque você suja a mão e não dá pra segurar a latinha durante grande parte do processo :-(
Rendimento: 9 hamburgeres altos, mas pequenos. Quer que eu desenhe?

Como escolher uma picanha

A picanha é a rainha do churrasco. Embora eu discorde fortemente dessa teoria, tenho que engolir o choro: Em 99,9999% dos churrascos que rolam neste país tropical abençoado por Deus, tem a picanha de alguma vaquinha deitada na grelha. E, como já disse em outras oportunidades, isso tem uma explicação lógica.

Picanha é carne for dummies. Você não precisa manjar absolutamente nada de carne pra fazer uma picanha legal. A picanha é uma carne saborosa demais, macia e além de tudo é resistente às suas cagadas. Você, desastrado leitor, precisa ser muito ruim de cozinha pra errar uma picanha. Não tem segredo: salga moderadamente, taca na grelha e tira quando estiver marrom. Picanha fica legal cortada em bifinhos, assada inteira, na churracona, na churraca elétrica, na panela, no forno, até cozinhada na água do miojo. Nem a ana maria braga, a senhora mais doce da televisão brasileira consegue estragar uma carne assim com as suas receitas de misturas mirabolantes e ingredientes duvidosos.

Talvez seja por isso que eu não fale muito de picanha por aqui. Aliás, sinceramente, eu faço pouca picanha nos meus churrascos. Podem me apedrejar por isso, mas eu acho a costela bovina, também chamada de minga ou ponta de agulha, muito mais gostosa do que a picanha. Uma fraldinha bem feita custa 1/3 do preço de uma picanha e fica tão boa quanto. Ou seja, existem alternativas, mas não é todo mundo que sabe como fazer umas carnes assim, e acabam caindo na picanha. Ah, e isso não significa que eu não goste de picanha, eu adoro!! Só que eu sofro da síndrome da churrascaria: Gosto de fazer várias carnes diferentes no mesmo churrasco, e não ficar repetindo sempre a mesma.

Mas o objetivo deste post é evitar que você compre gato por lebre, que te passem a perna, que você vista o nariz de palhaço. E pode anotar aí: isso já aconteceu com você. Certamente já te venderam um coxão duro com um cheiro de picanha, ou aquela picanha linda que você comprou tava dura que nem pedra. Vamos, então, aos X pontos que você precisa verificar antes de adquirir parte da bunda da vaquinha. Comecemos pelo simpático desenho da vaquinha recortada:


Ainda vou tatuar essa vaquinha no braço, vai anotando

Compana, preste atenção ao número 6. Se um dia o seu avião cair nos andes, na índia, na selva amazônica ou na ilha de lost e você der a sorte de encontrar uma vaquinha lá, é bem aí, no número 6 que você deve enfiar os dentes. Recomendo que seja discreto no caso da Índia, pois eles não entendem muito bem essa questão de morder vaca por lá.

Presta atenção também ao número 8. Ele é o coxão duro que, como  o nome diz, é duro.

Ponto 1: o tamanho da picanha.
Você chega no açougue e encontra 300 embalagens de picanha à vácuo. Todas parecem iguais, umas mais mirradinhas, outras mais gordinhas, e de repente você vislumbra a carla peres da bunda bovina: uma picanha grande, bonita, corada... dá uma olhada no peso dela, e, orgulhoso, lê: UM QUILO E NOVECENTOS GRAMAS. Grande achado, pensa o astuto leitor. Mas não. Essa, provavelmente é a pior picanha da prateleira. Dizem que os melhores perfumes estão nos menores frascos. Mas vamos mudar o rumo dessa prosa, porque se você fica passando perfuminho pra fazer churrasco, eu desconfio de você e recomendo que vá procurar a receita da picanha de sol no site da ana maria braga. A picanha dela é de sol, mas fica marinando no leite um dia todo. No leite, meus queridos... no leite.... ai jiusis.

Uma picanha não deve, de jeito nenhum, passar de 1,3kg. Eu sou tão chato com isso que não compro picanha com mais de 1,1kg. Se precisa de muita carne, compra duas, mas não leva a grandona. A picanha vem "grudada" no coxão duro, e separar uma peça da outra requer, além de um olho vivo, honestidade. E como a picanha custa 5x o preço do coxão duro, já dá pra imaginar o que acontece, né? Você compra uma picanha e leva uma picanha e meio coxão duro. Com o detalhe que você pagou tudo pelo preço de picanha. Ou seja: Não tenha o olho maior do que a barriga, e nesse caso, o olho maior do que a bunda. Compre as pequenas e seja feliz.

Ponto 2: A capa de gordura.
A capa de gordura é o que vai ajudar a sua picanha a ficar gostosa pra valer. Isso porque a carne dela é bem macia, e a gordura fica por cima, derretendo. Parte dela derrete e penetra (ui) na carne, fazendo da picanha o pesadelo das garotas de regime no seu churrasco. A capa deve ser uniforme, com menos de um dedo de espessura (lembre-se, nem dedo de mocinha, nem dedão de ogro), e igual dos dois lados. Como você não pode cortar a picanha no meio dentro do açougue pra ver se tá boa, imagine que uma capa que vai bem do começo à ponta da picanha, e uniforme de um lado a outro da mesma, deve estar legal.

Algumas picanhas tem a capa de gordura meio amarelada. Isso não é, necessariamente, um mau sinal. Apenas significa que o boizinho que ostentava aquele pedaço de bunda quando vivo já era um boi mais velhinho. Sua capa de gordura vai ter uma textura meio mole e amarela. A aparência é meio esquisita, mas não altera muito o sabor da carne. Se você der um azar dos infernos, pegou a picanha do boi de matusalém e aí vai ficar tudo duro mesmo, mas na maioria das vezes, o boi que comemos nem chega a ficar velho.

Ponto 3: A limpeza.
Dizem que roupa suja se lava em casa. No caso da picanha, prefiro deixar essa parte pro açougueiro ou pro frigorífico. Mas peraí, uma picanha tem que ser limpa? Sim, parceiro. Tem que ser limpa. Quando estiver com a piqueta em mãos, veja a parte de trás dela. Se você enxergar ali umas membraninhas, saiba que trata-se de uma picanha suja. Essa membrana do mal vai esquentar, assim como toda a carne. Como a membrana não tem água, ela vai diminuir de tamanho, e vai bagunçar toda a sua carne. E vai ficar dura pra dedéu. Você tem dois caminhos: Ou compra ela assim e limpa, retirando tudo como se fosse uma etiqueta usando uma faca afiada, ou procura uma picanha limpa. Eu prefiro comprar limpa por um motivo simples: quando limpa, vc joga carne fora, e você pagou por essa carne, e não pagou barato. Então os açougues e frigoríficos desse Brasil que se virem e vendam a picanha limpa.

Ponto 4: a maciez.
Embora, no geral, a picanha seja uma carne super macia, você pode dar o azar de pegar uma peça cheia de nervos, ou que endureceu por qualquer motivo. Nesse caso, recomendamos o teste da dedada, uma grande invenção do meu amigo Pão. Funciona assim: você pega a picanha na mão, vira ela com a gordura pra baixo e enfia o dedão na parte da carne. Recomendamos também que o faça discretamente, pois o gerente pode não gostar muito da realização do teste na sua presença. Feito o teste, fica fácil imaginar se a carne tá boa ou não.

Ponto 5: a cor.
Olha, depois que inventaram o photoshop, eu desconfio de tudo o que eu vejo por aí. Taí a Suzana Vieira que não me deixa mentir.



- Sou uma picanha novinha e macia. E sem coxão duro! Pode acreditar.

Mas em alguma coisa a gente tem que acreditar nessa vida. Então tenha em mente que quanto mais vermelha for a carne, mais novo o boi era, ou mais tinta levou pra ficar assim. Se o boi era novo, é certeza de carne macia. se tinha tinta, lamentamos. Mas pode comer assim mesmo, tem tanta tinta na comida da gente hoje em dia que já tá quase virando tempero.

Bom, são essas as dicas pra compra de uma boa picanha. Pequena, macia, limpa e vermelha. Se você conhece algum outro teste, mais alguma dica infalível pra escolha da picanha, comenta aqui!

Bom churrasco. Me convida #prontofalei.

[update] O leitor Raphael Neiva, se São Bernardo do Campo, me deu uma bronca e ele tem razão. Além disso, é dono de açougue e neste blog a gente enche a bola desses caras mesmo. A questão é que neste post estou falando das picanhas que encontramos em supermercados e açougues comuns. No caso de uma carne classe A, tipo exportação, a picanha pode ser muito maior do que 1,2kg. Portanto, se você tiver a sorte de experimentar uma dessas pra comprar, pode ser mais flexível quanto ao tamanho.
Essa foi a minha bronca. E eu retribuo: O Raphael escreveu isso como comentário lá no post do queijo coalho. Queridão, errou por pouco, hein!
Aliás, manda pra gente o endereço do açougue, faço questão de divulgar quem vende carne boa.
Valeu!

[update 2] Mais um leitor conhecedor das picanhas e maravilhas do mundo das mimosas e sua saborosa lataria me procurou para avisar que, respeitosamente, utilizou um pedaço deste parco pergaminho num post para o seu blog. Colocou os créditos e tudo mais. Mas, ao conferir, pude notar que ele escreveu muito bem sobre as grandes peças de picanha, as quais reneguei neste post. Recomendo a todos que o visitem e conheçam mais este lado tão palpitante desta peça de carne que tanto amamos: a picanha. Conheçam o blog do Alexandre Mitre

Especial Churrasqueiras: a churraquinha de papel

Sabe quando você tá fazendo alguma coisa com a certeza de que não tem chance nenhuma daquilo dar certo, mas ainda assim continua? Vai vendo...

Este post é a prova concreta de que Deus errou ao nos dar o livre arbítrio, porque com ele, cometemos este tipo de cagada. Se fôssemos todos condicionados como as crianças no The Wall (Pink Floyd, fantástico, tá tocando agora) a gente fazia tudo do jeito pré-programado e o livre arbítrio não nos levaria a inventar moda. Se você já leu o título desse post, e eu gosto de acreditar que leu, certamente pensou "esse aí fez merda". E você, astuto leitor, encontra-se coberto da mais pura e cremosa razão. Fiz merda. 

Conhece o que é uma situação FAIL? É quando as coisas dão errado por pura e simples cagada. O vídeo abaixo é um ótimo exemplo:


Estava eu caminhando e cantando e seguindo a canção pelos supermercados da vida quando me deparo com esta maravilha da preguiça moderna: a churrasqueira descartável. É, isso mesmo, uma churrasqueirinha pequena, de papelão. Li rapidamente a embalagem, e já pensei na fanfarrice que seria fazer um churrasco com isso. O preço, menos de 5 reais, não me deixava outra opção, eu TINHA que levar esse brinquedo pra casa. E assim procedi.

Chegando em casa, bora fazer uma análise mais detalhada na invenção. A embalagem é bonitinha, fotos bem feitas.. mas o redator que escreveu os textos da embalagem é um pândego. "Perfeita para camping", "prática", "ecológica", coisas normais que publicitário adora escrever. Mas um dizer me chamou a atenção: "Cuidado, pois o calor é imenso". Assim mesmo, imenso. Chegou a dar um frio na espinha. Então me dei conta de que ali não tinha apenas a churraca, mas também carvão, acendedor, fósforos, 4 pratos, 4 facas, 4 garfos, 4 guardanapos, espetos, sal e pimenta. Calcula, Ivette, como diria o meu avô. Uma embalagenzinha pequena, R$4,95 e tinha um churrasco inteiro lá dentro. Faltava só a carne. 

Os acessórios. Vê se dá pra comer com esse grafo.
Mil e uma utilidades: Churrasqueirinha pra sequestro-relâmpago.
Basta deixar uma dessas sempre no porta-malas do seu carro. Quando o bandido te abordar, basta entregar o seu cartão do banco com a senha pra ele e se recolher ao porta-malas, local destinado à vítima em tal situação. Tudo o que você precisa fazer é pedir ao ladrão que passe num açougue pra comprar um bifinho, já que ele tá com o seu cartão mesmo. Tem sequestros-relâmpago que duram horas, você arruma alguma coisa pra fazer no porta-malas enquanto o safado dilacera a sua conta bancária, e um churrasquinho ainda ajuda a relaxar a tensão um pouco. Taí a dica, fabricante. 

Bom, abri a embalagem e não parava de sair coisa de lá de dentro. Tava tudo quaaase certinho. Não encontrei o tal acendedor. Ok, sem problemas. Tinha um tubo branco, aberto e vazio lá dentro, parecido com um tubo de acetona. Não constava no manual, joguei fora. 

A montagem foi mamão com açúcar. Não precisa nem ler o manual. Junta as duas laterais, mete o araminho no meio e ela tá de pé. O carvão vem numa bandeja daquelas de alumínio, de marmita, e você posiciona sobre o araminho com marmita e tudo. E no alto você encaixa a grelha. Po, bico, né?

Ela é pequeninha, compara com o tamanho da lata.

Como gato escaldado tem medo de água benta, eu imaginei que a chance disso ser sem-vergonha era imensa, e preparei alguns espetinhos que saem bem rápido e não tem risco de torrar, já que o calor seria imeeeeensoooo.

Beleza, sem acendedor, taquei um pouquinho de álcool gel e usei a primeira parte do produto: o fósforo. Funcionou, sem sustos, acendeu direitinho. Taquei a grelha em cima e bora esperar um tiquinho pra ver se pegou. Pegou rápido. 

Pó falá: puta espeto bunitu, nénão?

Começo a achar que o redator tinha razão, o calor é considerável mesmo no começo do churrasco. As paredes de papelão são forradas por dentro com papel alumínio, e a bandeja do carvão tb é de alumínio. Ou seja, qualquer calor gerado ali não tem pra onde dispersar, e sobe pra grelha e esquenta pra dedéu. Inteligente, não?

Deitei os espetos. De repente subiu uma chaminha na carne, e eu tirei ela dali, como se faz quando sobe chama. Provavelmente pingou uma gordurinha e acendeu, pensei eu. Ledo engano. A chama subiu, subiu e virou uma labareda. Senti que o churrasco tinha grandes chances de acabar mais cedo.

Rescaldo de incêndio

Aí eu matei a charada: o acendedor tava lá sim. mas olha que idéia genial!! O acendedor tava no meio do carvão, por isso eu não vi, embora tenha mexido bastante no meio dele à procura do mesmo. Deixa eu dar uma dica, seu fabricante: Eu não preciso de um tubo de acetona vazio, mas se o senhor puder mandar o acendedor separado da próxima vez, vai ser bem legal. Se fosse um acendedor normal, tava valendo. Mas não, era um acendedor grande. Aí não tem jeito: era matar formiga com tiro de canhão.  Mesmo se eu tivesse posicionado ele direitinho e não tivesse usado álcool ia levantar labareda.

Mil e uma utilidades: Churrasqueira de primeiros socorros pra Lost.
Quando o pessoal do Lost caiu de avião na ilha, eles se lascaram pra conseguir fazer fogo. Fez bolha na mão, o véio gordinho teve que esfregar pauzinho durante um tempão.. Imagina se tivesse uma dessas embaixo de cada poltrona? O Sawyer ia roubar todas pra ele, enterrar, esconder e depois trocar tudo por favores sexuais da garota sardenta gatinha. Além disso, eles poderiam chamar o pessoal da Iniciativa Dharma pra um churras de confraternização e evitar a maior treta com Os Outros. Ah, e ela também faz uma fumaça sinistra.

Então veio o pior. Um horrível cheiro de coisa química queimando. O acendedor, além de estar genialmente posicionado no meio do carvão devia ter uma embalagem, que derreteu e ficou fedendo a plástico. Comer carne assada assim te leva pro hospital na hora. E vai explicar pro doutor que você tá passando mal porque comeu carne de churrasqueira de papel. Tá na lama.

Olha a proporção descomunal do tamanho do acendedor em razão da
quantidade de carvão e o tamanho da churraca. É acender e correr!

Foi o fim do churrasco. Mandei um copo d'água lá dentro e acabei com a brincadeira. Como não sou bobo nem nada, tinha um saco de carvão na manga, acendi a churraca de verdade e terminei os espetinhos. Que estavam uma delícia, por sinal.

Assim que esfriou, desmontei a grelha, joguei fora as partes queimadas e dei a estrutura de papelão pro meu filhinho brincar de churrasco no quarto dele. O moleque ficou feliz, valeu os R$4,95.

Obs1: Não tive coragem de usar a pimenta, temperei os espetos normalmente. Eu já não gosto muito de pimenta, e achei que aquela ali poderia ser xumbrega demais.

Obs2: Achei o site do fabricante, os caras têm também um forno de pizza de papel, que deve ser outra fanfarrice da criatividade humana. Maldito departamento de marketing.

Obs3: Tem um cara no mercado livre vendendo a churraquinha por R$19,95. Picareeeeta... Po, cumpadi. Onde que você acha que isso aí vale vinte mangos?

Obs4: Visite o FailBlog e comprometa os músculos da sua cara de tanto rir. Ana maria braga, recomendo cuidado com o botox. Ah, o vídeo da comemoração do gol saiu de lá.

Avaliação final: Olha, não deu pra fazer um churras, não. Então, enquanto churrasqueira, ela é inútil. Mas custou muito barato e virou brinquedo do meu filho. Valeu o investimento. Claro que eu não vou mais gastar dinheiro com esse treco, mas eu acho que se comprasse outra, descartaria o acendedor nuclear que veio nela, e aí eu acho que daria pra fazer um churrasco sim. Mas eu chamusquei a sombrancelha e magoei: não arrisco mais.

Especial Churrasqueiras


Uma das coisas que vai determinar como vai funcionar o seu churrasco é o tipo de churrasqueira que você tem em mãos. Churraca de tijolo, pré-fabricada, montada na gambiarra, elétrica, de metal, a bafo, de roda de caminhão, carcaça de computador, George Foreman, e se deixar essa conversa vai longe. A criatividade do povo voa quando o assunto é assar uma mimosa.

Pretendo, nessa série de posts que começa agora, experimentar todos os tipos de churrasqueiras que conseguir. E, claro, fotografar, registrar, rotular, carimbar e reconhecer firma de cada carvão queimado neste pergaminho.

Eu já falei aqui de churrasqueiras pra apartamentos. Um leitor brasileiro morando na Suíça me contou sobre a churraca a gás que ele tava usando lá na terra onde as vacas são loiras e têm tetões. Eu já contei como improvisava churracas com tijolo roubado lá em Bertioga... Tem bastante assunto pra explorar aí, não acha?

Aliás, dicas são sempre bem-vindas. Se você tem alguma churraca diferente, inventou algum novo modelo revolucionário, fez uma gambiarra que funcionou tão bem que nunca mais desfez... Conta a história aqui que a gente publica e ainda dá os créditos.

Venham, caras! A linguiça de plástico está quase no ponto, hã!

Coraçãozinho temperado

O coraçãozinho de frango é uma carne ingrata. Primeiro porque você tem que limpar, e isso dá um trabalhão. Já mostrei num post anterior como é que faz isso, e é nojento e eu não vou falar nisso de novo. E você compra 1kg e quando limpa, fica com 650g. Isso porque depois de tantos anos nessa indústria vital, os fabricantes de coração (sic!) ainda não entenderam que é uma delícia assar coraçãozinho de frango, mas as artérias e outros presentes do mal que sempre vem junto ficam um lixo. Colocar os coraçõezinhos com artérias na churrasqueira é como se você estivesse assando um pedaço da perna cheia de varizes da bruxa do 71.


- Num vô!


E não é só por isso que o coraçãozinho é uma carne ingrata. Conhece a história do garçom da churrascaria que tem como tarefa servir o coraçãozinho, que ninguém quer e depois o cara é zuado pelos colegas? É bem por aí. Todo mundo olha feio pro coraçõzinho, mas no fundo, no fundo, não tem quem não goste de cerrar os dentes no órgão vital do doce e cacarejante frangote.

A idéia dessa receita é fazer um coraçãozinho diferente, que vai dar uma trabalheira e quase nada de carne (já vou avisando), mas fica uma delícia e vai manter a auto-estima do seu garçom em dia.

Bom, partamos do princípio que você é um churrasqueiro cuidadoso e tomou as precauções necessárias em relação às artérias e demais órgãos encontrados, ok? Estou acreditando que você tem aí uns 600g de coração limpo, parceiro. Não vem com churumela pro meu lado, que depois a receita fica ruim e você vem botar a culpa no blog.

O primeiro passo é cortar em pedaços bem pequenos um dente de alho. Pra isso tem uma dica sensacional, direto da patroa lá de casa: deixa o alho sempre no freezer. Quando vc destaca o dente, a casca sai facinho e fica uma moleza cortar ele. Descobri isso sem querer, porque em casa sempre tem alho no freezer e eu nunca tinha me ligado porque. Neste final de semana, uma prima foi fazer um macarrão pras crianças e deixou o alho fora. Quando eu fui cortar, foi uma meleca só. Portanto, deixa o cabeção do alho no freezer que é mais fácil manuseá-lo. Beleza, feito isso, mande pro coração um dente de alho picadinho. 

Agora é a hora da combinação perfeita. A hora do Romário e Bebeto, do Roberto e Erasmo Carlos, do Pica-Pau e Pé de Pano, do William Bonner e Fátima Bernardes do churrasco: a dupla perfeita Azeite e Orégano. Incrível como esses dois ingredientes nasceram um pro outro. Qualquer coisa que receber azeite e orégano fica bom. Portanto, jogue lá uma golada de azeite, e uma tacada de orégano. 

Um bom agrado pra essa receita é um teco de molho shoyu, o melhor trava-linguas da cozinha moderna. Fale mil vezes "moio shoio" que você enlouquece. Mas antes, deixe uma meia golada dele na nossa receita.

Pra finalizar, despeje uma colherada de mostarda, de preferência a preta. Acho que a mostarda preta fica melhor depois de misturada e assada do que a amarela. Mas fica a seu critério. 

Pra finalizar de novo: não faça como eu acabei de fazer, não esqueça de colocar sal. Uma mãozada de leve já tempera todo mundo. Não seja o monstro da salina mal-assombrada, salgue com parcimônia. E pode usar sal fino mesmo, já que tá cheio de molho não faz sentido deixar o sal derreter.

Agora é só misturar tudo e usar da malandragem. Feita a receita, você tem duas opções: Ou espeta os corações e se suja todo, ou usa do bom e velho jeito malaco de ser. Em todas as vezes que fiz essa receita, dei um migué pra cima de alguma mulher (a maior parte das vezes, a minha própria) e disse que ia acendendo o fogo e bla bla bla e deixava ela com a tarefa de espetar, o que, além de sujar as patas, demora pacaramba. 

A partir daí é fácil, basta tomar uma cerveja na frente da churrasqueira enquanto espera a mulher espetar os corações. Quando eles chegarem, deixa na grelha de qualquer jeito e boa. quando o coração tem tempero assim, não tem muita técnica na frente da churraca. Você pode colocar o coração direto no mais quente, deixa lá e vira de vez em quando. Só tira quando estiver bem passado, porque ele vai ter bastante molho dentro dele, que precisa estar seco. Caso contrário, o gosto pode ficar um pouco forte, acentuado pro lado da mostarda.

Aí você vai descobrir que o coraçãozinho é mesmo uma carne ingrata: os 650g que você preparou secam e diminuem drasticamente de tamanho, resultando em uns 400g de carne. Assim que você tira do espeto, as pessoas devoram e ele some em segundos. 

Mas vale a pena tanta ingratidão, já diria a mulher do bandido. Isso porque fica gostoso mesmo e todo mundo elogia depois. 

Custo: R$7,00 a bandeja de coração, balato.
Tempo de preparo: 4 brejas na cozinha, 2 na churraca: sirva feliz.
Rendimento: quase nada, faça outras carnes junto.