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Gnocchi: Uma comida com nome de barulho. Hein??

É naquele momento em que o mais malaco dos leitores já anda pensando que você tá comendo capim pela raíz, dormindo de pé junto e cabelo deitado, que você, tal qual um zumbi, ressurge dos cafundós do fundo do plâncton do pântano, quebrando tudo com uma larga insônia e uma vontade louca de tirar a poeira dos dedos, do blog e dessa mente capta (SIC - agora aguenta que voltamos com trocadilho ruim e tudo. Se quiser parar de ler, rabugento leitor, a  hora é essa).

Trocando em miúdos: Levando este blog como tenho feito, me sinto como aquele velho safado cachaceiro de 114 anos, que pra morrer é só deitar com força, mas se recusa a dar o último suspiro. Então, provando que vaso ruim não quebra, que ri melhor quem ri por último e que a última gota é sempre da cueca, profetizo que a espelunca está novamente aberta!!!! Chega junto e traz cerveja porque hoje é dia de lavar o bigode por aqui.

E sem mais delongas, vamos logo meter os dentes nessa enigmática receita de hoje, o Nhoc! E durma-se com um barulho desses (há! mais um trocadilho tão afável quanto inoportuno).

Como já escrito certo pelas linhas tortas aqui neste pergaminho, eu venho de família italiana. Logo, tão certo quanto dois e dois [=SOMA(2+2) e viva o excel] são 4, eu tenho um curriculo invejável na arte e ofício de comer gnocchi. Experiência esta adquirida através da inacreditável habilidade da minha nonna, a Dona Ivette (pensa no nível de fanfarrice da família: uma italiana com nome francês), que sempre preparou o mais suculento, opulento e calorento gnocchi do mundo.

Aliás, esse nome por si só é uma fanfarrice. Não, não vou discorrer sobre o nome francês da minha avó italiana. Embora essa seja uma história à parte, no momento vamos mesmo decifrar o porque essa comida tem nome de barulho.

Antes de mais nada, tem uma coisa que me incomoda nesta madrugada, além dos pernilongos no meu quarto. Gnocchi é uma maneira muito chique e elegante de escrever o nome que, falado, fica fuleiro pra caramba. Então podemos chamar o nosso nobre companheiro de Nhoque?

Pode?
Pode.
Brigadú, fabio junior. Pau no gato, rapaziada!

Nhoque não é crocante. Logo, não deveria ter nome de barulho. Não é como um hotdog, que você morde e fica ali a dentadura marcada no pão, dando a clara noção de que ali rolou um NHOC!. Nhoque não é como as torradas, que fazem uma barulheira dentro da boca e você tem que aumentar o som da TV enquanto mastiga. E por fim, nhoque também não é sucrilhos, que você mastiga de boca fechada, e mesmo assim todos ao redor ouvem. É nessa hora que hora que o sucrilhos nos prova que boca fechada não entra mosca, e nem o mais sábio dos homens saberia porque diabos uma comida tem nome de barulho.

E quando o mais sábio não sabe (olha o trocadilho-lho-lho), é um sinal de que a jiripoca vai piar. E compartilhando com vocês um pensamento que usei mil vezes na minha vida profissional....

Tão importante quanto saber, é saber quem sabe.
Daniel Rodrigues - 1977 /...
Então lhes digo: Eu sei quem sabe. E quem sabe aquilo que o sábio não sabe? Só pode ser aquele bom mafagafinhador, capaz de mafagafar não menos que 7 mafagafinhos: O Google!!

Acho que deve ser por conta da hora, mas quando perguntei pra ele, o Google me pareceu meio confuso. Tirando a baba do canto da boca e com um bafo de leão, ele me falou um monte de coisas. E como esse blog não tem nenhum compromisso com a verdade, muito pelo contrário, vamos com a explicação que achei mais bacaninha.


A história do prato é bastante antiga. Foi certamente o primeiro tipo de massa caseira - apesar do renomado gastrônomo Pellegrino Artusi, autor do clássico italiano A Ciência na Cozinha e a Arte de Comer Bem, publicado em 1891, não o enquadrar nessa categoria. O espaguete, o ravióli e companhia são posteriores. Supõe-se que o nhoque exista desde os antigos gregos e romanos.Na Itália, chamaram-no primeiramente de macarrão. Na Idade Média, porém, já era conhecido com o nome atual. Em português, escreve-se nhoque. Fica parecendo vocábulo de ascendência tupi-guarani. Em italiano, grafa-se "gnocchi". O sociólogo paulista Gabriel Bolaffi, no livro A Saga da Comida, lançado em 2000, diz significar "algo como pelota, isto é, uma pelotinha de farinha amassada com água".
O link é esse aqui.

Enfim, ninguém sabe nada. Então eu, você ou o barak obama podemos simplesmente inventar uma história e boa. Embora todo mundo tenda a acreditar mais no obama do que na gente, eu prefiro acreditar que um ET perneta, fedido e dentuço desceu de um cavalo marinho feito de cheetos tubinho, encontrou uma jibóia loira e perguntou a ela quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Após uma rápida consulta ao oráculo [/matrix], a jibóia respondeu que pato que come pedra sabe o cu que tem. Nesse momento começou a chover nhoque sobre a face da Terra e foram felizes para sempre.

Enquanto se pergunta qual barbitúrico o escriba desta porcaria anda consumindo, o mais impaciente dos leitores, entre um gardenal e outro quer saber por que estamos há tantos parágrafos nesta enrolação sa-fa-da e não vamos logo para a receita?

Traz o chá de folha de maracujá pro menino e avisa ele que tudo isso é porque esta é uma receita muito, muito fácil. Avisa também que o humilde autodidata que vos escreve aprendeu na novela das 8 que a enrolação faz a graça da trama e que se pode criar um par romântico entre a mariana ximenes e o toni ramos, e no final ninguém vai achar que isso não faz o menor sentido.

Então, pára de achar que as coisas aqui não fazem sentido e cola esse seu globo ocular aqui na telinha [/plim-plim] porque chegou a hora de botar tudo o que conhecemos acima, em prática.

A primeira coisa que você vai precisar é de batatas. A segunda é de farinha. E acabou. Tem gente que floreia a receita com um bilhão de especiarias, óleo de fígado de bacalhau ou purpurina de dendê. Mas não precisa de nada disso. Só batatas e farinha de trigo. Vai na minha que você não passa fome, amigo.

Primeiro temos que ter em mente qual batata usar. Eu prefiro a batata baroa, que é meio rosada. Pensa na cara de pau da cristina kirschner, pergunta mentalmente a cor da casa dela e pega a batata mais parecida. Essa batata fica meio farinhenta, e fica mais fácil chegar no ponto da massa.

Mas a batata comum também serve. Se você quiser tentar, eu já fiz até com mandioca, e ficou bem legal. So recomendo tirar aquele fiapo esquisito que tem no meio da mandioca. A sensação de encontrar aquilo no meio da mordida não é legal não.

Bom, aquiridas as batatas queridas, vamos descascá-las e botar pra ferver [UHU BOTA PRA FERVER DJ]. Pra facilitar este processo, você pode cortá-las em cubinhos pequenos, do tamanho de uma rapadura, porque aí o processo vai mais rápido.

Neste momento, você pode tentar dar uma temperada na batata. Pode colocar um pouco de sal, ou talvez um caldo de legumes. Fica como mandar o seu livre-arbítrio, democrático leitor.

Para saber se as batatas estão no ponto, e este ponto é quando você espetá-las com um garfo e os pedaços se quebrarem, espete-as com um garfo e veja se quebram. Quebrou, tá no ponto. Não quebrou, não tá no ponto. Simples como a soma dos catetos é o quadrado da hipotenusa (eu acho que errei essa de novo).

É importante as batatas estarem bem sequinhas antes de vc começar a massa. Então deixe-as numa peneira ou algo do tipo, e você aproveita pra matar dois coelhos com uma cajadada só: A batata escorre a água, e esfria evitando o posterior e vexaminoso uso de hipoglós pela sua pessoa.

É o tempo de abrir uma cerveja gelada e beber pensando no quanto tudo pode valer a pena se a alma não for pequena. Então, faça valer a pena mergulhando a alma numa cerveja, mas não a pequena.

Bebeu? Valeu a pena? Então vem comigo pra labuta.

Com as batatas que já estão um pouco mais frias (não deixe ficar gelada, elas precisam de um pouco do calor), faça um purê. Purê, como diz o sábio, é o ato ou efeito de amassar as batatas até que se transformem num creme homogênio, sem pedaços. Como você vai fazer isso é uma decisão sua para com a sua criatividade, juízo ou inteligência. Pode ser com o garfo, com a makita do vizinho ou com algum aplicativo maroto do seu iphone. O importante é que não fiquem pedaços.

Isto feito, despeje o purê num recipiente grande e manda pra dentro uma mãozada de farinha. Aí começa a festa do estica e puxa e viva a festa da xuxa. Tem que mexer com as mãos mesmo. Sem nojinho, sem frescura. Mexeu, misturou tudo? Tá colando muito na sua mão? Então mete mais farinha. Agora você tem que descer a cinderela que tem em você e usar de sensibilidade. Vai colocando farinha aos poucos até que o xico xavier te diga que tá no ponto. Vais ter que descobrir sozinho. Mas é fácil. Massa com uma textura agradável, grudando levemente nas mãos, desceu o santo e é isso aí.

Pra montar os nhoques, é bem fácil. Você vai precisar de uma superfície limpa e grande. Exemplo: o campo de futebol de botão do seu filho. Me desculpe, Rodrigo Rodrigues, mas eu fiz isso e você nem percebeu.

Para a massa não colar na superfície, espalhe uma mão de farinha pelo campo e bora lá que é hora do gol.

Você deve ir retirando pedaços da massa grande, mais ou menos do tamanho de um limão. Passa um pouco de farinha em volta, taca no campinho e começa a rolar pela farinha, fazendo uma cobrinha. Se você não se chama benjamin button e ao contrário dele, teve infância, já fez cobrinha de massinha no jardim 2 com a tia Rose. O princípio é o mesmo.

Com a cobra na mesa (ui), pegue uma faca e com ela faça cortes. Estes cortes serão bem próximos do tamanho das bolinhas do seu nhoque. Mais ou menos porque elas crescem um pouco com a água. Não precisa enrolar nem nada. A cobrinha cortada fica como uns travesseirinhos de playmobil.

O pulo do gato aqui é uma coisa que eu achava que era pura gourmetice, mas não é. Sabe aqueles risquinhos que tem no nhoque? Então, eles tem um sentido de ser. Serve para o molho agarrar nas ranhuras e quando vc pegar o nhoque no prato, ele vir mais gostoso. Pra fazer as ranhuras, dê uma apertadinha com um garfo na bolinha.

É, amigo. Com nhoque ou sem nhoque...
nós temos bolinhas

Tá pronto o nosso nhoque. O preparo é tão simples quanto roubar um doce de criança. Coloca água pra ferver com um pouco de sal e uma golada pequena de azeite, e deixa o bicho pegar. Nhoque precisa de água fervente. Assim que estiver rolando o vesúvio na sua panela, jogue os nhoques pra dentro.

As bolinhas vão, inicialmente, para o fundo da panela. À medida que elas vão subindo, você conta até 5 e tira para o próprio recipiente onde vai serví-los. A decisão sobre o instrumento mais adequando para retirá-las de lá, eu deixo para a equação que já citamos anteriormente.

Agora é só jogar o molho com surpresa, muito queijo ralado e ser feliz.


É disso que eu tou falando, amigo.

E por que o molho seria uma surpresa, questiona o curioso leitor. Então sem contarem com a vossa astúcia, o sagaz narrador desta epopéia, contrariando gregos e troianos, categoricamente afirma que, SIM, este pirilampo pedaço de papel ressurgiu não apenas para se alimentar das vossas retinas e hibernar o sono dos justos, mas que haverão mais posts, e o próximo deles falará justamente sobre o mais tradicional e glorioso MOLHO DE MACARRÃO.

Por hora, use o molho de sua preferência que eles também funcionam. Até mais, amiguinhos!
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Strogonoff, uma pérola da culinária soviética

Sou um cara das antigas. No meu tempo, a Rússia era apenas uma província da URSS, que respondia pelo pomposo, vistoso e lustroso nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Aliás, não respondia não, porque tinha uma tal guerra fria pegando, todo mundo com medo da bomba atômica, do MIG 29 (quem nunca assistiu Top Gun que atire o primeiro F-16), da estação MIR e da cadela Laika. E eles não respondiam nem pros Ianques, pra quem todo mundo respondia, então quem sou eu de falar que eles respondiam por alguma coisa..

Naquele tempo, os nossos camaradas, além de beber vodka, mandar foguete com cachorro pra lua e infernizar os americanos, se alimentavam alegremente com um delicioso prato que responde pelo nome de строганов.

Entendeu? O prato se chama строгановстроганов é uma coisa que se come. Não se fala, mas se come. A menos que você tenha feito parte da KGB num passado remoto (e se fez eu tenho medo de você), imagino que não consiga pronunciar o nome do prato. Cтроганов não é como feijão, arroz... Ou até mesmo Feijoada, que qualquer gringo sabe falar. Eles vão no boteco, falam "Feixoara" e o prato vem. Se eu ou você, ou nós dois juntos, formos à Rússia (prefiro chamar de União Soviética, mais charmoso) e pedirmos um строганов, ou ficamos com fome; ou levamos um cacete.

Imaginemos um tal de Sr. Dimitri Vladivostok (joguei muito War na adolescência).  Camarada Dimitri estava a largar a URSS querida e lançar-se ao mar rumo ao Brasil, como tantos fizeram nos tempos pós-segunda-guerra. Munido de toda a vodka que conseguia carregar, o Camarada Dimitri aportou nesta terra onde se plantando tudo dá, e começou sua pacata vidinha numa igualmente pacata cidadela deste nosso Brasil varonil. Solícito com os amigos e vizinhos, o simpático Camarada sempre convidava a todos a saborearem sua deliciosa строганов, receita cuidadosamente passada de mamuska em mamuska pela sua família, há séculos. E ninguém comparecia.

Rápido como uma Perestroika, Dimitri logo percebeu que as pessoas não iriam querer saborear um alimento do qual não entendiam uma única letra do nome. Ok, todos sabemos que строганов começa com C, mas essas línguas são muito loucas e de repente o C tem som de Y, ou de 9. Então ele colocou o wladimir e o mikhail tico e o teco pra funcionarem e numa bela tarde ao som de raul seixas... ele, que já passou pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho, que ele lhe falou: STROGONOFF é a alcunha da sua oferenda, meu caro Dimitri.

Não seria nada incompreensível como строганов, não abandonaria as suas raízes bolcheviques, não lhe faria um traidor de stalin, mas ao mesmo tempo era uma palavra que todo mundo  conseguiria pronunciar. Pois foi assim que o nosso destemido filho da Mãe Rússia saiu pelas ruas da pacata cidadela do nosso Brasil varonil gritando aos quatro ventos "Venham comer o meu Strogonoff!!!!". E foi um sucesso. Alguns estavam curiosos com o alimento, outros com pensamentos impuros em relação ao nosso camarada, mas como este estava com os cornos cheios de vodka, o resultado final é que todo mundo saiu feliz.

Agora vamos parar com essa enrolação e mãos à obra preparar essa verdadeira delícia da culinária Moskovita.

Por falar em Moskovita (R$6,90 aqui no Super Vizinho, mercadinho perto de casa), abra logo uma dose de vodka e façamos um brinde ao som das trombetas. Cantando comigo:

С помощью транслитератор из букв латинского алфавита получаются буквы кириллицы, иврита, белорусского, греческого, или украинского алфавитов. Этот транслитератор задумывался как сервис для русскоязычных жителей стран , находящихся за границей и желающих переписываться на родном языке. Если кто-нибудь говорит "Я пользуюсь транслитом", то всем понятно - речь идет. Еще его называют просто

«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!

Cantou? Então bebe logo essa vodka e comecemos a nos embriagar com mais uma receita com o padrão de falta de qualidade Gato na Grelha:

A primeira coisa que você vai precisar é de um bom pedaço de carne e uma faca afiada. Mas que carne? Você pode preparar um strogonoff maneiro com vários tipos de carne (patinho, acém, alcatra...) Fuja das carnes muito gordurosas, que vão fazer do seu strogonoff um poço de banha, e fuja daquelas carnes que têm muita fibra, como o contra-filé. Na verdade, quem vai definir que tipo de carne você vai usar é o seu bolso. Patinho é barato, alcatra já nem tanto mas também não é uma fortuna, enfim. E como estamos falando do SEU bolso e não do meu, vou logo chutar o balde e te deixar cheio de carnê do açougue pra pagar: Hoje vamos de filé-mignom, parceiro.

Sou muito fã desse corte. Eu e a torcida do curintia, do framengo e do parmera, né? É uma carne muito macia, muito saborosa, e que mantém o sabor e maciez mesmo sob condições extremas. E vamos colocar nossa carne sob condições marromeno extremas. Então é bom ela aguentar o tranco.

Nada disso de chegar no açougue e pedir aquele picadinho pronto pra strogonoff. Ali eles cortam do jeito que querem, pedações grandes, e você nunca vai saber se tem um filé de gato ali no meio. Então larga mão de preguiça e bora lá picotar nosso filé mignom. Pra nossa receita, uma peça de meio quilo já é o suficiente. Principalmente porque o FM (dá muito trabalho ficar digitando o tempo todo. Vamos chamá-lo de FM) é uma peça muito limpa, praticamente sem nervos ou gorduras, então você vai aproveitar praticamente 100% desse meio quilo.

Aí, merrmão.. o processo é o seguinte: afia a tua faca, concentra no que tá fazendo e picota a carninha até obter meio quilo de pequenos pedaços do tamanho de meio polenguinho. Teve infância, compana? Então você sabe do que eu tou falando. Picota mesmo, sem técnica, sem critério. Se você já esquartejou uma pessoa, saberá como fazê-lo. Se não esquartejou uma pessoa, também saberá. Foca na miopia e polengo na mente que você consegue.

Agora é hora de temperar o FM picado. Você ainda tem uma trabalheira pela frente, e aí a tua carne vai pegando gostinho do tempero, o que fatalmente vai se transformar em mais amor no teu prato

ATENÇÃO: Isso foi uma PIADA. JAMAIS coloque sazon num filé-mignon!! Nem fora dele. Não gosto desses temperos de gultomato monossódico, não. Enfim, gosto pessoal. Se você quiser colocar sazon, coloca. Mas não me conta que a gente perde a amizade.

Você pode temperar o seu FM como quiser. Pelas experiências que eu já tive, recomendo apenas um pouquinho de uma pimenta tipo tabasco, pimenta do reino e sal.

Não recomendo usar temperos liquidos em abundância
, porque você vai ter que fritar essa carne depois. Muito liquido pode miar a sua fritura e você acabar cozinhando a carne. Também não recomendo temperos com folhas.. Uma vez eu usei orégano. O sabor até ficou legal, mas o orégano soltou da carne, obviamente, e ficou boiando pelo strogonoff, dando um aspecto meio esquisito. Nem pimentas em fruta, pelo mesmo motivo. Uma biquinha, por exemplo, vai ficar boiando no molho depois... Estranho.
Vai de sal, pimenta do reino e tabasco que é sucesso.

Agora vai mexendo até o chão na boquinha da garrafa tudo aí e deixa o FM quietinho. Vamos à próxima:

Aproveita que a faca tá afiada, que você ainda tá sóbrio (eu acho) e que a animação tá te contagiando e tome mais uma dose de vodka picote uma cebola. Picota pequeno, compadre. Lembra sempre com essa sua cabeça de vento que você está fazendo um strogonoff de FILÉ MIGNON, e não um strogonoff de cebola. Pega duas panelas, e divide essa cebola picada em duas partes. Uma pra cada panela.

Aí o mais fino, elegante e sincero leitor desse blog me pergunta: "Mas por que duas panelas, meu caro escriba?"

E eu respondo: "Научиться пользоваться еще проще с помощью, наглядной!", o que significa: "Para fazermos um belo e saboroso arroz branco, camarada!". Mas aí surge um problema daqueles capazes de ruborizar o mais sem-vergonha dos leitores: Sim, eu sei fazer arroz. Sim, eu sei cozinhar coisas saborosas, elaboradas e elas costumam ficar deliciosas.... Menos o meu arroz. Meu arroz é péssimo. Em todos esses anos nessa indústria vital, eu nunca consegui fazer um arroz que não ficasse uma papa. Daqueles que você puxa um grão e vem a panela toda, sabe? Então. Por este motivo não tem nenhuma receita de arroz aqui no blog (tem algumas, mas tem migué. Lê que você vai entender). E por isso eu sempre pulo a confecção deste alimento nas minhas receitas. Assim como o farei novamente. Agora. Faça o arroz como quiser, ok?

Por favor, aceito dicas inbox.

Voltemos à panela do strogonoff, que é a única que nos interessa hoje. Aproveitando essa picotagem toda, picota bem pequeno E CUIDADO COM ESSE DEDO AÍ um dentinho de alho, daqueles que não são nem minúsculos, nem imensos. Nem o dente de leite do seu filho, nem o sabre do mamute. Você entendeu.

Vodka. Tome vodka. Se for balalaika, tome um pouco menos.

Tomate, chegou tua hora. Pode te preparar pra sofrer a mais desumana das torturas. Embora o tomate não seja humano. Mas ele é um vegetal que na verdade é uma fruta, e como tem muito humano que também é fruta, considero sim o tomate um humano e bora pra tortura.

Sabe tirar a pele do tomate? Não, você não vai descascá-lo como a uma laranja. Isso aí não tem a menor graça e  gente tá aqui pra ver tomate sofrer. Então pega uma panela, enche de água e bota pra ferver. Quando estiver a pino, jogue, sarcasticamente, o tomate lá dentro. Delicie-se com os seus gritos e súplicas de dor. Mas fica de olho, esses tomates são muito espertinhos e derretem rápido. E ainda vamos judiar um pouco mais. Tá de olho? A pele do tomate já fez algum rasgo? Isso mesmo, a pele do nosso prisioneiro vai abrir em algum ponto. Quando isso acontecer, tira ele da água quente. Agora olha que cruel: deita ele na sua tábua e vai arrancando cuidadosamente a pele, enquanto ele te conta toda a verdade. A pele se solta rapidinho e neste momento você terá um tomate sem pele. E sem vida.

Então pára de maldade, picota o tomatinho e guarda em cima da tábua mesmo.

Recapitulando:
1 - Picotamos uma linda peça de FM e temperamos. Ela tá em algum lugar da sua cozinha esperando por você. Pode ser em qualquer lugar, menos dentro da panela, ok?
2 - Picotamos meia cebola, esta sim está dentro da panela.
3 - Deixamos um alho banguela e o resultado está picotado dentro da panela.
4 - Temos um tomate sem pele, sem vida e sem dignidade picotado em cima da tábua.

Perfeito. Agora a coisa vai começar a cheirar bem...

Regue a cebola e o alho com azeite até cobrir o fundo da panela (tou acreditando que você pegou uma panela compatível com meio quilo de carne, certo?), e acenda, finalmente, o fogo debaixo dela.

O refogado é um dos momentos mais sublimes da culinária. Por isso, enquanto a cebola chia dentro da sua panela, tome mais uma vodkinha. Não sei você, mas eu já estou começando a ficar meio bebum. Bola pra frente.

Quando a cebolinha começar a ficar amarelinha, parecendo meio transparente, é a hora do FM entrar no jogo. Taca lá pra dentro todo o FM que você picotou. Dá uma mexidinha pra ele fritar legal.. Com o tempo, a carne vai começar a soltar um líquido e fazer daquilo um caldo com um cheiro delicioso. Pra saber se a carne tá no ponto... Tira uma e come, ué. A carne não pode estar mal-passada de jeito nenhum, porque a partir de agora, não vai mais ter fritura. Quando estiver no ponto, joga lá dentro o tomate. Dá uma mexidinha e deixa.. O tomate tende a se dissolver, ou a ficar bem molinho.

Ah, esqueci de um cara importante: O Champignon. Sabe aqueles vidrinhos pequenos que vende no mercado, com campignon já picado? Então, taca um dele pra dentro. Se não estiver picado, pique. É importante ele ser pequeno. Só toma cuidado e não deixa aquela água da conserva cair dentro da sua carne.. Ela é salgada e cheia de conservantes, vai estragar a receita. Cuidadaê!

Agora um toque que eu, particularmente, gosto muito: Vai na geladeira, pega aquele catchup que você tem lá e manda uma golada responsa pra dentro. É  mais ou menos a quantidade de catchup que você colocaria num X-Salada inteiro. Você vai saber o quanto.


Se você tem um catchup de qualidade na sua geladeira, tanto melhor. Se não tem, dá uma busca aqui no blog que tem uma receita maneiríssima de catchup da melhor qualidade.


Mexe. Tá ficando com um molho vermelhinho? É disso que eu tou falando, meu compana. Se você achar que o teu molho não tá lá muito vermelho, tá meio esquisito, pode jogar um pouco de molho de tomate pra ajudar.. Imagina que você vai jogar uma lata inteira de um treco branco lá dentro, e o resultado final do strogonoff é uma cor meio laranja.. Então bota essa palheta de cores pra funcionar e corrige o quanto julgar no molho.

Se você for daltônico, pensa que teu molho tem que estar com um azul bem maneiro, e o resultado final do estrogonoff é um negócio meio amarelo-limão. Aí você pega aquele molho de tomate bem lilás que tem na sua geladeira e boa sorte aí pra ir corrigindo as cores. Enfim.

Mas que treco é esse que vamos colocar? É Creme de Leite, meu caro amigo.. Aquele que sai do peitinho da vaca, que passou por um processo show de bola que eu não sei qual é, mas no final o qu era pra ser comida de bezerro vira um treco bem cremosinho...

Só que você não pode simplesmente sair jogando creme de leite pelo mundo assim.. Tem que tomar alguns cidados antes.. O creme de leite pode talhar com a temperatura, o fogo aceso, etc... Então desliga o fogo, joga o creme de leite lá dentro, mexe e pronto.

Tá feito o seu Strogonoff!

Receitas de panela - Batatas Rústicas

Ao mais bronco dos leitores desta maltratada espelunca, eu pergunto: tu és um cara rústico? Se tu és uma mina e não um cara, pergunto mesmo assim: tu és uma mina rústica?

Manja rústico? Na concepção mais asséptica da palavra, seja lá o que isso signifique? Não? Então vamos ao conceito da coisa.

Rústico é aquele indivíduo que não chega no sapatinho, que não tem voz de veludo e não sai bonito na foto.  Rústico não pede licença, não lava as mãos antes das refeições e não recolhe o cocô do cachorro. Rústico dirige sem direção hidráulica, não usa desodorante roll-on e não beija a mocinha no final. A vida é dura pra quem é rústico, amigo.

Pra esclarecer essa misteriosa celeuma, vamos, hipoteticamente, a um exemplo prático: A mocinha está em perigo no estacionamento do shopping com 5 mal-feitores, mal-encarados e mal-intencionados.
  1. O super-homem chega, manda os cinco pra cadeia e ainda leva a mocinha pra um vôo panorâmico. Aquele cabelinho não nega: o super-homem pode ser super, mas não é rústico.
  2. O batman chega, enfia a porrada em todo mundo e ainda dá uma bitoca na mocinha. Não sei como ele consegue ouvir se as orelhas estão dentro da touca, mas o batman ainda não compreende totalmente o nosso conceito de rústico. 
  3. O chuck norris termina de quebrar uns dez vietcongues, pega bazuca, mira no shopping e explode a porra toda. Manda mocinha, bandido, cinema 3D e casa do pão de queijo pelos ares. É disso que estamos falando. Definitivamente, chuck norris é um cara rústico. 
Eu tenho um amigo rústico. O nome dele é Brunão, mas pode chamar de Brutão que ele atende. Mas chama devagar, vai no sapatinho você, porque ele não vai, ok? Bom, Brutão machucou a unha do dedão do pé. Chutando um busão. A unha, por óbvio, necrosou. Ele arrancou a unha à forceps, usando um abridor de vinhos. Sangrou, limpou com papel higiênico. Naquele dia, tínhamos um jogo importante. Brunão não se fez de rogado: tomou um yakult, cortou a boca do potinho, enfiou o dedão dentro, meião, chuteira, e bora pro jogo. E correu como se não houvesse amanhã. Isso é coisa de gente rústica.

Assim é a nossa receita. Rústica, feita nas coxas, do jeito mais bronco, sem muito carinho e nenhum traquejo.

Batata rústica é, na essência uma batata frita. Mas a batata frita é aquela coisa delicada, palitinho, french fries, como diriam os americanos. Nossa batata não tem essa de cortar em palitinho, não tem frigideirinha, nada disso.. Ops, não tem frigideirinha? Como assim? Vai vendo.

O lance é o seguinte, você vai precisar óleo, batata e mais um ou outro instrumento rústico, claro.

Quando for comprar as batatas, recomendo escolher aquelas que são grandes e lisas. Isso porque pode facilitar na hora de descascar as batatas. Isso para o caso de você querer descascar, porque se a batata é rústica, você pode se eximir da terrível e desagradável missão de lavar as mesmas.

Na verdade, você pode valer da mesma desculpa que eu, e concluir que já que o óleo vai ferver, vai fritar tudo que é bactéria, fungo e toda sorte de malfeitores que porventura habitarem a casca da nossa linda e saborosa batatinha.

Fica aqui um adendo: se você fritar as batatas com casca, elas tendem a ficar um pouco mais amargas. Eu estou acreditando que o nobre leitor é um cara rústico, mas pensando no caso de você receber aquela tia mais frutinha na sua casa, então neste caso, e somente neste caso, eu recomendo que descasque as batatas. Brunão não descascaria, tenho certeza. Nem chuck norris. Bola pra frente.

Não vou, e nem sei como te ensinar a descascar batatas, no caso da visita supracitada. Você pode pegar uma faca e decepar os membros superiores do seu corpo acidentalmente e se virar pra retirar a casca. Pode pedir pra algum outro vívere da sua residência fazer isso pra você. Pode obrigar algum desses víveres, o que é um pouco mais rústico. Pode também sair na rua vestido de taliban e obrigar alguém a descascar pra você. Isso seria tão rústico quanto perigoso. Mas creio que você é bem grandinho e sabe o que pode e o que não pode te mandar pra cadeia. Enfim, se tu quer descascar batatas, te vira e não me aparece aqui com essas batatas cascudonas.

O próximo passo é cortar as batatas. Aí entra o lado bronco da coisa. Você pode usar uma faca, uma machadinha, uma serra elétrica ou uma locomotiva a vapor. Cortar batata rústica é igual a futebol de várzea: não tem regra. Mete e faca, corta do jeito que quiser, do tamanho que quiser. Fecha o olho e mete a marretada desgovernadamente aí. O que importa é que as batatas, que antes eram redondinhas e bonitinhas, agora encontram-se desfiguradas, decepadas, dilaceradas. Nessa hora, violência pouca é bobagem. Chora, Kill Bill.

Picotadas as nossas personagens, mete todo mundo na panela de pressão. Falei que a receita era bruta? Aqui não tem batatinha cortadinha em palitinho, fritinha no olinho (isso foi licença poética, você entendeu), gostosinha colocadinha na caixinha. Aqui o sistema é bruto, parceiro.

Depositadas as nossas vítimas na panela de pressão, cubra todas com óleo limpo. Se você se preocupa com a sua coronária, mete ali um óleo de canola. Caso se manter vivo não esteja entre as suas prioridades, pode mandar ali um óleo de milho, de girassol, de soja, de câmbio ou de caminhão. A decisão é sua, o que interessa é que tem que cobrir as batatas com o óleo.

Agora, preste muita atenção a essa parte. Eu não quero, e creio que você também não queira, explodir a sua cozinha, sua casa e todo o quarteirão, certo? Lembra do chuck norris? Então, nós não queremos que a sua panela se transforme na bazuca do vietcongue, não queremos que a sua cozinha seja mais perigosa que o afeganistão, certo? Então, presta atenção:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Vou explicar de novo, pra ter certeza que não te bateu aquela preguiça safada e vc tá lendo só os parágrafos ímpares:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Mais uma vez:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Bom, se a tua cozinha explodir agora, não me vem reclamando na caixa de comentários do além, estamos entendidos?

Agora que todo o procedimento de segurança foi compreendido, fecha a tampa, e fogo na bomba [/bob marley].

A batata frita rapidinho, e como tá na pressão, fica macia por dentro. Fica esperto, abre uma cerveja e aproveite o tempo livre pra refletir sobre a cabeça ruim da carminha, o pernil da nina e a bunda mole do tufão. Mas não gasta muito tempo pensando, porque essa batata fica pronta em 10 minutos.

Passados os dez minutos, que deve ser o tempo suficiente pra você tomar, ao menos, uma cerveja, desliga o fogo, espera o terror acabar dentro da panela e abre. Saca de lá uma batata e experimenta. Se achar necessário, deixe mais um tempinho na fritura, com a panela aberta mesmo.

Depois, é só retirar as batatas de lá utilizando um instrumento adequado (recomendo abandonar a ogrice e virilidade nessa hora, larga mão de ser machão e use instrumentos), e coloca lá naquele papel de gordura, salga e pronto.

Como elas fritam rapidamente, a batata rústica assim tende a ficar sequinha, costuma fazer sucesso. Confia :-)

Rendimento: depende quantas batatas você fritar, espertão.
Tempo de preparo: umas 2 brejas no preparo, e uma pra fritura. Beba comendo e seja feliz.
Custo: batatas e óleo. isso é barato, vai por mim.

Camarão na moranga

O calendário gregoriano é mesmo uma coisa de louco. Caso o nobre leitor não saiba, gregoriano é o calendário que nós utilizamos, onde cada semana tem 7 dias, cada ano tem 12 meses, cada dia tem quase 24 horas e quase todo ano temos 365 dias.

O papa Gregório XIII inventou tal aparato para corrigir o falho calendário Juliano, desenvolvido anteriormente pelo incauto romano Júlio Cesar, que já deu nome a um monte de gente, mas perdeu a autoria do calendário e teve de aceitar essa pro papa. 

A loucura começa pelo fato de termos um calendário feito por um papa. É como se tivéssemos uma estrada construída por um criador de javalis, ou uma cidade arquitetada por um garçom. Não que o garçom não tenha seus talentos, mas eu aaaaacho que construir cidade é uma coisa meio complexa. Enfim.. A segunda loucura é que o seu Gregório inventou um calendário falho pra substituir um calendário falho. Taí o ano bissexto que não nos deixa mentir. Ou seja: deu um chega pra lá no imperador e até hoje temos que trabalhar um dia a mais de 4 em 4 anos.

E, já que o assunto aqui é gente que faz caca, venho eu admitir que sim, malacamente fiz uso da incompetência gregoriana pra assumir que tive, nos últimos meses, uma semana tão longa que faria corar Maias e Astecas, com seus calendários assombrosamente finalizados neste malfadado ano de 2012. Se o leitor vislumbrou o post passado, pode notar que, dizia eu, que "semana que vem" redigiria a doce história de um camarão que penetrara (ui) na moranga para produzir uma quente e cremosa gororoba, porém jamais imaginava que passaria por uma semana que começaria em janeiro, e terminaria quase em abril. Culpa do seu Gregório, o XIII.

Pois bem, já que começamos com as pataquadas astronômicas do bondoso papa, vamos nós nessa aventura que o querido leitor vai ver com seus próprios olhos como se vai do céu ao inferno numa única receita.

O camarão na moranga é uma comida típica brasileira, e basicamente compreende uma das mais improváveis combinações gastronômicas já imaginada: Trata-se de uma gororoba de camarão com catupiry enfurnada dentro de uma doce e assombrosa abóbora. 

E vem comigo que a coisa por aqui vai ficar feia.

Primeiro, vamos à gororoba de camarão.

Tudo começa, como quase tudo em culinária, no bom e velho refogado. Se o leitor não sabe do que se trata, é uma fritura de cebola, tomate e alho picados. Mas vamos fazer esse treco direito.

Picota bem pequenina uma cebola média. Tira a casca, faz a coisa direito. Sem chorar, cowboy. Reserva esse trem aí num pote. 

Agora picota uns 2 ou 3 dentes de alho. Reserva em outro pote. Vais sujar um monte de louça mesmo, depois vc se vira com ela.

Picota uns 2 tomates grandes também. Tendo em mente aquela coisa chata dos coliformes fecais, recomendo seriamente que dê uma lavada nos tomates antes da lavagem picotagem*.

* adendo: eu havia escrito que deviamos lavar o tomate antes da lavagem. Os sábios leitores me avisaram do grande erro lógico que me acometera. Agradecido!

Aí você pega uma panela grande (não esquece que vais jogar catupiry, camarão e mais um monte de coisa lá dentro), joga azeite até cobrir o fundo e deixa dar uma esquentadinha. Quando achar que tá meio quentinho, taca a cebola lá dentro. Uma folha de louro ajuda. 

Quando a cebola começar a ficar amarelinha e meio transparente, joga o alho e mistura bem. O alho frita rapidinho, então fica esperto nos pontos pretinhos na panela. Quando o primeiro pontinho preto aparecer, fica esperto e taca lá dentro todo o tomate que já tenha picado. Se não deu tempo de lavar, manda com coliforme e tudo, o que não mata, engorda.

Dá uma mexida aí nessa coisa, vc vai notar que os tomates começam a se desfazer. Vai mexendo gostosinho gostosinho rebolando até o chão [/leandro e leonardo].

Tenha em mãos um belo e glamouroso kilograma de camarão limpo. Pode ser qualquer camarão, e a razão diretamente proporcional entre o prejuízo no seu bolso e o tamanho do camarão impacta diretamente no sucesso da sua receita. Desde que esteja limpo, sem pele, sem rabo, sem cabeça e sem pezinhos. Tirou tudo isso, pesou 1kg, é disso que a gente tá falando.

Manda esses caras pra dentro da panela. Mexe mexe que é bom de novo.

O camarão começa a perder um monte de água, e eles vão diminuindo de tamanho, enquanto você acompanha, literalmente, o seu dinheiro evaporar. 

Primeiro, faz um monte de líquido na panela. Depois, esse líquido vai evaporando e o caldo começa a ficar mais grosso. Tamos chegando no caminho.

Se você tiver um cubinho de caldo de camarão, taca dentro. Se não tiver, taca um de legumes. Se não tem de legumes, nem pensa em mandar aquele tempero de feijoada, sazon ou caldo de carne. Aquele lance da propaganda que todo mundo acha gostoso e sai gritando que É O AMOOOOOOOR só acontece no comercial. Se você mandar um caldo de carne no camarão, estragou o camarão. Se não tem caldo nenhum, ao final da receita vc acerta o sal e pronto. 

Entornando o caldo, o que temos aqui é uma panela fervilhando de camarão, tomate, cebola, alho, tempero e água. Joga lá dentro um vidrinho de leite de coco, isso aí dá um agrado ímpar a essa receita.

Quando der uma boa evaporada no seu rico dinheirinho na água do camarão e o caldo estiver ficando grosso mesmo, joga lá dentro metade de uma daquelas bandejas de catupiry. Pode ser uma bisnaga, enfim. O ideal mesmo é aquele catupiry que vem no potinho (que parece uma bandeja, que antes era de madeira), mas pode ser o de bisnaga.

Mais uma vez, a razão entre o quanto pagou no queijo e o quanto sua receita vai ficar gostosa é diretamente proporcional. Resumindo: não manda aquele "requeijão biriba" pra uma receita cheia de camarões. Manda catupiry de verdade, ou alguma coisa BOA lá pra dentro.

Ok, feito isso, mistura um pouco e deixa. Vamos pra abóbora.

Eu, sinceramente, nunca entendi os americanos. O fato deles acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, eu até aceito. O fato deles comerem pasta de amendoim e omelete de manhã, até dá pra entender. O fato deles não gostarem de futebol e acharem o máximo jogar taco no estádio, passa. Mas esse lance muito louco de ter medo de abobora eu não entendo MESMO. Tá certo que é helloween, aquela coisa toda, mas poxa.. uma abóbora, sempre vai ser uma abóbora. Um vegetal, como cenoura, pepino e acelga. Embora acelga seja meio esquisita mesmo.

Pra provar que esse lance de medinho é coisa de maricas, cá vamos nós bancar o sacripantas e retirar o cérebro da fruta lá de dentro.

Você pega uma faca afiada, e arranca a tampinha do alto da cabeçona dela. Imagina uma tampinha redonda, começa a cortar. Tá feito. 

Mete o mãozão lá dentro (dá uma lavada, né fanfarrão), retira todo o conteúdo e pronto. Você vai ter uma abóbora oca, inofensiva, incapaz de assustar o mais frágil dos barak obamas. 

E antes que você possa falar "Shake Your Ass, mr. Pumpkin-head", passe a mão no óleo da sua cozinha e esfregue nas paredes internas da cabeçona de abóbora ali. Pouco óleo, é só pra dar uma molhadinha.

Pra que? Pra passar batom, de que cor? de cor de violeta. Na boca e na buchecha Pra abobora em si começar a ficar molinha.

E por falar em molinha, saca que moleza: mete a aboborona dentro do seu microondas e deixe lá uns 2 minutos. Abre, cuidado pra não queimar esse dedão duro. Se ela tá ficando um pouco mole, tira de lá. Se ainda tá muito durenga, vai deixando mais um minuto, conferindo o estado da fruta com frequencia.

Aqui vem o grande momento da sua abóbora. Pensa comigo:

At the blue corner, você tem uma abóbora acéfala, meio molenga. E at the red corner você tem um líquido muito louco de camarão e mais um monte de coisa. A missão aqui é colocar um dentro do outro, preferencialmente o camarão dentro da moranga, sem nocautear a sua receita e sem golpe abaixo da linha de cintura.

Se você não tomar cuidado, sua abobora vai quebrar e todo o seu dinheiro camarão vai pelos ares pelo chão.

Portanto, não faça como eu fiz, e coloque uma bandeja debaixo da abóbora. Feito isso, deposite no fundo da abóbora o outro meio pote de requeijão. Feito isso também, jogue aquele líquido todo de camarão e coisas. Isso tudo vai, agora, pro forno. Não se esqueça da lambança que acontecerá caso esqueça da bandeja debaixo da abóbora.

Veja com seus próprios olhos:


sim, leitores. isso aconteceu comigo.
aí aprendi a forrar a abóbora, como podem ver na de cima.

Recolhido do chão, a família nem percebeu o gostinho de ODD. 
malandragem também faz parte da culinária, vai aprendendo com o tio.

Agora, deixe no forno o tempo de você tomar umas duas cervejas, retire com todo o cuidado do mundo e seja feliz.

Casquinha de siri

Isso que eu vou contar aqui vai me denunciar a idade. mas eu preciso dizer que dia desses, lembrei sem querer de uma das bandas que mais tocavam nas rádios antes das rugas habitarem a cútis facial deste que vos fala.

No distante tempo no calendário gregoriano, no qual este ainda ostentava espinha, kichute, transcaloi e lição de casa, as rádios vigentes eram sempre povoadas pelas letras sórdidas de um gaúcho dos pampas chamado humberto gessinger. 

Gessinger era o cara que dizia que o papa era pop, que infinita mesmo era a highway e que a juventude era apenas uma banda numa propaganda de refrigerantessssss. Havia um garoto que, como ele, gostava dos beatles e dos rolling stones. E ainda tinha uma garota chamada Ana, cujos lábios eram labirintos, Ana, que lhe atraíam os instintos mais sacanas.

Tal e qual o poeta-safado com pinta de capoeirista djavan, humberto gessinger desenvolveu a teoria da composição artística baseada no aleatório, uma verdadeira genialidade do descompromisso. Artistas como gessinger e djavan conseguem reunir numa única frase coisas como um açaí, zum de besouro e um íma. E fazer as pessoas gostarem de ouvir essa coisa. Ou então, desfilar que existem sim paralelas que se cruzam, mas lá em Belém do Pará, confundindo gente culta e aumentando involuntariamente o contingente turístico da região.

A isso se dá o nome de fanfarrice. Safadeza, gatunice, malacagem. Ato ou efeito de camuflar outrém sob a flâmula da malandragem.

Se você estava tentando entender o que isso tudo teria a ver com uma simples e honesta casquinha de siri, encontramos, aqui, um paralelo. E olha que nem precisamos viajar ate Belém. Primeiramente, porque se tem um cara que entende de paralelo, esse cara é o siri. Ou o nobre leitor acha que um cidadão que anda de lado não entende de paralelo? E outra que o siri é mesmo um cara safo. 

Cidadão olha pro siri, e de repente.. cadê? Dois passos pro lado e já era o crustáceo. Ou então, cava um buraco na areia e pronto, tchau siri. E vacila com esse dedão pra você ver se não toma um beliscão. 

Definitivamente, o siri é casca grossa. Literalmente. E essa receita aqui é tão malaca quando o siri, porque começa te levando a crer que vais comer a casca do siri quando, na verdade, vais comer só a carne. O que julgo ser uma vantagem, não fosse o infortúneo de comer isso tudo montado numa conchinha. 

É, caro leitor. O siri é um cara cheio de traquitanas, que te faz pensar que vai comer a casca, mas vai comer a carne. E mesmo não sendo na casca, é na concha. Foi logrado e nem notou, amigo.

A casquinha de siri em si todo mundo já comeu. E se alguma vez você já se perguntou que diabos vai lá naquele treco, pode dispensar o indiana jones aí do seu lado, porque eu ajudo a esclarecer o enigma. Na casquinha de siri vai um mooooonte de coisas. A primeira delas é carne de siri. Vem comigo.

Vamos partir do princípio que você tem as conchinhas em mãos, ou pelo menos tem algum invólucro pra montar as casquinhas. Se não tem nada, compre uma caixa de cerveja, tome todas as cervejas, corte cada latinha na metade e utilize a meia-lata como concha. Não vai te ajudar a abalar os corações das garotas, mas que funciona, funciona.

Pasmem, mas o ingrediente que predomina na casquinha de siri é mesmo... o pão. Parceiro, como vai pão naquele negócio. 

E já que estamos falando de pão, pegue 3 fatias de pão de forma e coloque pra dormir num pratinho repleto com uma garrafinha de leite de coco. 

Tá vendo como essa receita é uma fanfarrice? Aposto que nunca imaginou que lá dentro tinha pão e leite de coco, não é? Lembra do açaí e do íma? Mesmo princípio.

Ok, deixamos o pão no leite, tira o gato de perto e continuamos com a receita. 

A carne do siri, em si, vende no supermercado. Se você prefere cavar a areia, tomar belisco e limpar o bicho, beleza. Mas eu achei mais simples comprar uma embalagem de 100g de carne de siri limpa. Aí o trabalho é jogar tudo num saquinho daqueles de freezer e mandar pra dentro o caldo de um limão. É importante deixar no saquinho, depois você vai entender. Põe tudo no mesmo saco, limão e siri. Chacoalha e deixa quieto. 

Agora vem o básico do refogado, né? Corta meia cebola em pedaços beeeeem pequenos, guarda num pote. Picota uns 2 dentes de alho beeeeeeeem pequenos e vê se não corta esse dedo, você ainda vai precisar dele. E picota um tomate inteiro, em pedaços moderadamente pequenos.

Aí vem mais uma surpresa. Picota beeeeeem pequeno, tomando cuidado pra não furar o bandaid, meio pimentão verde. Só meio.

A maneira mais maneira, com o perdão do trocadilho, de lidar com o pimentão é retirando aqueles veios brancos que tem dentro dele. Abre o bicho, que não é bicho e sim legume, e sai retirando aqueles sulcos brancos. Corta só a carne, por mais que ele não tenha carne. Você entendeu.

Agora mete fogo na boca 1 e mete uma panela ali. Dá aquela boa e velha golada de azeite, tomando toda a atenção do mundo pra somente depositar o óleo sobre a panela, e não necessariamente, degustar a iguaria. Joga azeite lá e boa.

Quando parecer que tá quente, joga a cebola. Mexe mexe que é bom [/ leonardo]. E se no mexe-mexe todo mundo apronta, aproveita a deixa e joga o alho lá dentro quando a cebola ficar amarelinha. Mexe e remexe de novo, mexendo gostosinho sem parar [/ gerasamba]. Quando tudo ficar amarelo e você começar a achar que tudo vai queimar e o que era pra ser uma receita vai virar um incêndio, jogue lá o tomate e o pimentão. Mexe mais uma vez. O tomate começa a perder água e a coisa toda acalma dentro da panela.

Lembra do siri no saco? Pois é, capitão nascimento sabe do que tá falando. O lance é fazer um buraquinho pequeno no saco e ir espremendo a carne, de maneira que todo o limão e todo o liquido possível escapem pelo buraco. Isso mesmo. Primeiro, nós jogamos limão no siri, agora vamos tirar tudo. A vida é assim, amigo. Um dia é da casca, outro do descascador. 

Quando o siri estiver sequinho, manda pra panela do refogado. Mexe mexe que é bom mais uma vez. É o beija-beija. Alguém tira esse leonardo daqui, pelo amor de Deus!! Ou seria o zezé de camargo?

Bom, o lance é deixar esse trem fervendo, mexendo sempre até que o tomate e o pimentão desapareçam. ou pelo menos fiquem bem detonados, você entendeu onde eu quero chegar.

O único e derradeiro tempero que vai nessa receita é o cominho. Mas recomendo cuidado, porque o palhaço é ladrão de mulher o cominho é ladrão de sabor. Coloque coisa como uma colherzinha de chá, apenas. Muito cominho vai te fazer preparar uma casquinha de cominho. E o bicho é indigeeeesto. Não é bicho, é tempero, mas você entendeu.

Ah, em algum momento dessa ferveção de tomate e pimentão, você pode jogar um tablete de caldo de camarão. Ou caldo de peixe. Ou caldo de legumes. Não adianta especular, não existe caldo de siri, ok?

Quando achar que tá na hora, e, acredite, você vai saber, jogue lá dentro o pão e o leite de coco. Vai mexendo, a coisa toda agora começa a virar uma pasta mesmo. Tá nojento? Estamos no caminho certo.

Sabe aquela embalagem de queijo ralado que não muda há mais de 500 anos? Pois veja só, pode jogar o conteúdo de uma dessas pra dentro da sua panela. Vai derreter, vai ficar legal. Vem comigo.

Agora a única missão é engrossar o caldo da coisa toda aí. Pra engrossar, deixe em fogo baixo e vai mandando pra dentro colheradas e mais colheradas de farinha de rosca. O que nos leva a uma reflexão...

Tu já apertou uma rosca? Tinha farinha? Então. Na minha rosca não tem farinha, então nem imagino porque diabos alguém deu esse nome a tão nobre elemento da nossa culinária, mas o fato é que devemos usar a tal farinha de rosca pra fazer a nossa maçaroca de ingredientes ficar uma pasta grossa.

Aí é só colocar essa pasta nas conchas (mas eu confesso que gostei mesmo do lance da meia latinha), e polvilhar com um pouquinho mais de queijo ralado.

Feito isso, manda pro forno, e deixa lá enquanto saboreia uma maravilhosa dose de felicidade enlatada. Quando a cerveja acabar, tira do forno e come.

Se você não perdeu nenhum capítulo da nova novela das nove detalhe desse post, vai ficar bom. Não tem onde errar, essa receita é boa e pronto.

eu não tenho mais uma máquina fotográfica, então não me restou outra opção a não ser roubar essa foto desse site.
Mas tudo indica que eles também roubaram de outro. Vida que segue.

Rendimento: Essa receita toda dá um monte de cascas. Pensando no tamanho tradicional das casquinhas, dá umas 15 ou mais.
Custo: A carne de siri custou uns 10, mais os outros ingredientes, deve ter custado uns 25 reais. Uma receita bem barata.
Tempo de preparo: 4 latinhas na cozinha, 1 no forno. Sirva feliz.

Tainha recheada com farofa de ovas

Tu conhece a tainha, parceiro? Não? Vem comigo que eu vou te mostrar quem é.

Ela mora lá na lagoa não lava o pé porque não qué A tainha mora no litoral brasileiro, perto de costões rochosos, maguezais e praias de areia. Alguém me contou isso, não sei se o google, a wikipedia ou o chico xavier. O que importa é que a tainha mora na praia, porque praia ou tem rocha, ou tem areia ou tem mangue. Eu já morei na praia, tropiquei na rocha, peguei micose na areia e me afoguei na água. Mas morar na praia é bem legal. Com a diferença que eu morava do lado de fora da água, e a tainha mora do lado de dentro. Questão de afinidade.

Nós, os pobres mortais, chamamos a tainha de tainha mesmo. Mas os cientistas, essa gente louca do óculos de aro grosso, chama a tainha de Mugil Cephalus, o que nos coloca numa situação bastante peculiar. Isso porque você nem precisa ser cientista pra descobrir que por aqui, parceiro.. mugil, a gente come. Não interessa se é planta, peixe ou vaca. Abriu a boca, fez mú, vai pra pança.

E é por isso que estamos aqui: pra comer uma deliciosa tainha.

Caro leitor, pode ir preparando a penitência, espalhando o milho pelo chão e contando ave-marias, porque nós vamos, juntos, pisar sobre todos os preceitos de moralidade e complacência que se pode imaginar: nós vamos comer criancinhas. Não como o michael jackson, necessariamente. Mas vamos comer a tainha e toda a família dela, principalmente a filharada.

Então, vamos lá. Já sabemos que a tainha é um peixe que muge (pelo menos na certidão de nascimento), e sabemos que ele mora na praia. E agora vamos descobrir como preparar esse peixoto aí.

Você começa, claro, adquirindo a tainha. Se o pescador tem dois amor [/dorival caymmi], ele é, além de ser um HERÓI que enfrenta duas tpms no mês, é um cara que entre uma DR e outra acha um tempo pra pescar. E quando ele faz isso, ele volta com a tainha na mão. Afinal, a tainha tá lá na praia, do lado de dentro do mar, pescador joga a rede e volta com a sereia, mulherada fica louca, duas TPMs, DR, tainha, aquela história toda.. Você entendeu: malandro sobe no barco e rema pro horizonte, manda a rede pra água e volta com a tainha. Pescador é gente que faz. Por isso que tem o Ministério da Pesca. Tem o do churrasco? Não. Mas tem o da pesca. Enfim, tudo isso por causa de uma tainha.

Então a nossa missão começa tentando encontrar o pescador, preferencialmente quando ele não está na água, e nem com nenhum dos dois amores dele, sob o risco de enfrentarmos uma situação constrangedora. O pescador é, realmente, um cara que entende dessas coisas de amor. Um cara que pega duas mulheres com a mão fedendo a peixe é, definitivamente, um cara bom. Respeitemos isso.

Bom, antes que você também vire mulher do pescador ou vice-versa, o que seria uma roubada, saque logo alguns reais e peça a ele que te venda uma tainha. De preferência limpa. E, se o pescador vai limpar a tua tainha, peça a ele que abra a tainha pelas costas, e não pela barriga. Nem tem muito o que entender aí, pede pra ele "me dá uma tainha limpa, aberta pelas costas" que o cara entende.

Assim como a minha mãe, a sua e todas as leitoras desse blog, a tainha também tem o dom de ficar grávida. Com a diferença que as leitoras desse blog se divertem muito mais no ato ou efeito de adquirir a gravidez. Enfim, a tainha fica com uma penca de filhotinhos crecendo dentro da barriga, assim como as leitoras, a mamãe e a vovó.

A essa peixarada toda dentro da pança da tainha, dá-se o nome de "ovas". É isso mesmo, diferente da galinha que fica com a pança cheia de OVO, a tainha fica com a pança cheia de OVA. Pra mamãe, vovó e pras leitoras, dá-se o nome de bebê, mesmo. Vai entender essa língua portuguesa, né?

Professores pasquales à parte, recomendo que peça ao pescador uma tainha que tenha ovas. Recomendo seriamente que considere a hipótese de comprar as ovas na época em que a sua pesca é permitida, sob o risco de enfrentar problemas legais bastante severos junto ao ibama e adjacências.

De posse da tainha limpa aberta pelas costas e das ovas, corra pra casa pra preparar nossa amiga. A tainha, para de pensar besteira.

O procedimento é muito simples. Muito mesmo. Basicamente, abra uma breja e seja feliz. Não, peraí, voltando à receita.. basicamente, a gente faz uma farofa e sapeca dentro do peixe.

Começando os procedimentos, de mãozinha lavada e cerveja na alma, um, dois, três e VAI!

Corte uma cebola em rodelas bem fininhas. Depois que você terminar de cortar, desmonte as rodelas, de maneira que você só vai ficar com um monte de anéis de cebolas. Acho que você entendeu, né?

Beleza, agora picote uns 3 dentes de alho. Pode picotar em pedaços bem pequenos.
Aqui faço um adendo: essa receita pode ser feita na churraca, ou no forno mesmo. Se você vai fazer no forno, eu recomendo que descasque umas batatas e bote pra ferver em outra panela, ok?
Legal. Agora, pega uma panela e coloca ali uma bela golada de azeite. Pode por uma golada sarada, de cobrir o fundo da panela. Isso aí deve dar, sei lá, uma meia xícara de azeite. Mas como aqui nesse blog o sistema é bruto e jacaré anda de lado (qual o sentido disso??), a gente manda golada pra panela. Não é pra fazer uma sopa de azeite, mas é bom colocar uma quantidade legal, pra nossa farofa ficar bem molhadinha (ui!).

Ok, deixa aí uns segundos que o azeite começa a ferver no fundo da panela. Claro, desde que você tenha se lembrado do brilhante e chamuscoso procedimento de acender o fogo debaixo da mesma.

Na sequencia, joga lá dentro uma folha de louro. Louro, isso mesmo. Aquele, que conta piada com a tiazinha do programa matinal. É, aquela, que tem idéias gastronômicas brilhantes, como o brigadeiro de gengibre, saboroso quitute que espanta todas as crianças da festa.

Beleza, joga o louro no óleo quente a folha de louro no azeite. Na sequencia, jogue os anéis de cebola. Te cuida, frodo bolsero, que anel por anel....     ...      ...      ....... putz, não tem como fazer um trocadilho com anel que não fique com duplo sentido. Esquece o frodo bolsero e bola pra frente. Ops, bola pra onde? Ah, esquece o duplo sentido, mente suja!

O cheiro da cebola fritando no azeite é uma das coisas mais gostosas da culinária, não acha? Pois eu acho. Quando a cebola começa a ficar amarelinha e molenga, é hora de jogar ali o alho. Pois faça isso, jogue o alho pra ferver junto com a cebola.

Mais alguns segundos, e o alho começa a pegar uma corzinha maneira, enfim. Tá fritando, né?

Falando nisso, quem tá frita mesmo é a prole da tainha. Na real, ainda não fritamos, mas eu digo que elas estão fritas só pra não dizer coisa pior. Pode ter criança lendo.

E se tem criança, a gente manda pra panela. Pegue as ovas e mande pra dentro daquele azeite fervendo com cebola e alho. Misture bem, sem medo de ser feliz. O cheirinho de peixe frito, ou melhor, de filhote de peixe frito que começa a subir é realmente agradável.

Até o mais desligado dos leitores já entendeu que farofa que se preza, tem que ter farinha, não é mesmo? Pois sapeque dentro da panela umas duas xícaras de farinha de milho.

A farinha de milho é legal pra você usar, porque ela é meio macia, tem um gostinho maneiro, enfim. Vai na minha que é sucesso, sapeca farinha de milho lá e mistura bem.

Alguns segundos depois que começar a misturar, recomendo desligar o fogo. A farinha queima rapidinho, e pode transformar todo esse trabalho que você fez até agora num lixo queimado. Lembre-se do frodo bolsero e não queime os anéis. Enfim.

Tua farofa tá pronta, parceiro. Recomendo que experimente e dê aquela rebocada no sal, com todo o comedimento que o cardiologista recomenda.

A missão agora é rechear a tainha com a farofa. Lembra que o peixeiro, entre uma mulher e outra, abriu a sua tainha pelas costas? Pois então, é pelas costas que nós vamos encher a bicha de farofa. Pega uma colher, mete a mão no peixe e enche de farofa.

E pra fechar, caro blogueiro? Pergunta o nobre leitor. Com barbante, respondo eu.

Amigão, eu aqui escrevendo esse negócio todo, tou aqui imaginando que você já tem idade suficiente pra amarrar o próprio sapato, não tem não? Pois então, o princípio é o mesmo, e eu estou aqui acreditando veementemente que você vai saber como amarrar esse peixe e manter a farofa dentro dele. Te vira e amarra esse trem aí.

Tamos quase lá. Agora, embrulhamos o peixe (que por sua vez tá embrulhando a farofa) no papel alumínio e vamos pro calor.

Se você vai colocar na churraca, embrulha o peixe no papel alumínio e manda pra lá, tomando cuidado pra labareda não pegar no pacote.

Se vai colocar no forno, pode deitar o peixe sobre uma bandeja grande, espalhar as batatas pela bandeja, jogar um azeitinho por cima de tudo e cobrir tudo com papel alumínio.

A tainha, se antes era mugil, agora é só uma comida esperando alegremente o momento de sentir a força dos nossos molares. E espera quanto? Espera quase uma hora, dependendo do tamanho da tainha, da força do seu forno ou da chama que acendeu na sua churraca. Estou imaginando que você vai saber acompanhar.

Pronto. Agora é só abrir e comer. Cuidado que tem espinha [/mãe]. Mas é um peixe absolutamente delicioso, e a farofa fica molhadinha dentro do peixe. Sucesso, vai por mim.

Taí a mamãe recheada com os filhotinhos.

Custo: A tainha que compramos tinha mais de 2kg e custou uns R$30,00.
Rendimento: Serve bem a umas 6 pessoas. Sem ogros e sem princesas: gente normal.
Tempo de preparo: Umas 2 latinhas na pia, umas 3 latinhas no forno (ou churraca). Sirva feliz.

Como preparar uma FEIJOADA de mestre

Segunda feira chata como sempre, final de expediente, você aí dando aquela enrolada no trabalho, dia das mães já passou, bin laden bateu as barbas, e cá estamos nós, eu e você, já pensando na lambança gastronômica do final de semana. E, se o assunto aqui é esse, lambança rima com lembrança e vem comigo nessa rima pobre relembrar os primórdios da nossa culinária, chafurdando no caldeirão [/luciano hulk] de um dos mais tradicionais instrumentos da nossa cultura.

Assim como o futebol, o samba e a bunda, esse belo país em formato de bisteca também é conhecido no mapa-mundi pela Feijoada.

A história da feijoada todo mundo conhece, mas não custa dar a nossa versão relembrar: No século dezenove - eu odeio números romanos. odeio romanos [/asterix], a rapaziada mais abastada, assim como hoje em dia, não tinha lá muito apreço por pegar no batente, não. Assim como muito político que a gente conhece, nesse mundão sem fronteiras, quem tem dinheiro não faz, manda fazer. No século 19 as coisas eram ainda mais cruéis, vai vendo.

O coronel Coriolano, que aliás tem um belo nome, não tinha muito apreço pela fadiga. Gostava mesmo era de contar os seus contos de réis, devidamente ornamentado pela sua bombacha sobre a carroagem que o levava pela pradaria. Coronel Coriolano era um cara de vocabulário arcaico, por isso profiro aqui palavras tão prolixas.

Porém, para multiplicar os seus contos de réis, alguém naquela fazenda tinha que trabalhar, e nós aqui já sabemos que não seria o coronel Coriolano. Mas se o distinto senhor possuía providências, logo poderia comprar alguém para fazer isso no lugar dele, não? Pois foi assim que o coronel Coriolano procedeu, e logo aportou em algum local desse Brasil varonil um navio cheio de negros, feitos escravos.

Coronel Coriolano, um grandecíssimo calhorda, gordo como um porco, ficava ali, deitado eternamente em berço esplêndido, enquanto os negros trabalhavam no lugar dele.

Aí, o coronel mandava um negro abater aquele porco gordo (o bicho, não o coronel), retirava as partes nobres e mandava pros negros o que sobrava. Pés, orelhas, rabo.... E, gordo como um porco (o coronel, não o bicho), ria-se das desgraças daqueles pobres negros que, sem a menor culpa no cartório, sofriam as mazelas da escravidão no seu lugar.

Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada, já dizia o velho ditado. Se a vida lhe der um feijão, faça uma feijoada, diz o velho blogueiro. Se a vida lhe der um violão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um irmão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um sermão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um caminhão, faça uma feij... Você entendeu, aconteça o que acontecer, faça uma feijoada. E foi o que os escravos fizeram: juntaram todo aquele resto de porco, meteram dentro de um feijão e assim tava criado um dos pratos mais incríveis da nossa gastronomia.

E se for pra fazer uma feijoada, siga o procedimento abaixo. E, caros leitores.. o procedimento é longo e a labuta é árdua.

Portanto, agradeçamos à Princesa Isabel que, ao contrário de todas as outras princesas da história, fez alguma coisa realmente relevante e aboliu a escravidão. Escravidão esta que nem deveria ter existido, mas como algum idiota achou que seria legal dar um pulinho na África e cometer um dos maiores erros da história da humanidade, ainda bem que nós tínhamos a dona Isabel, que azedou com a graça do coronel e de mais um monte de aproveitadores, safados e vagabundos e botou todo mundo pra trabalhar.

Agora vamos ao procedimento. Estamos levando com consideração que você vai fazer uma feijuca pra um monte de gente, portanto a quantidade de ingredientes vai ser colossal. Prepara que você vai, literalmente, suar sangue.

Pela primeira vez na história desse blog, vamos abrir mão da sacanagem de simplesmente ir jogando ingredientes a esmo no meio do texto, e vamos fazer uma listinha com tudo o que você precisa ter em mãos pra preparar uma boa feijoada.


Hora do prejuízo. Prepara o pelego, monta no pangaré e dirige agora essa carcaça surrada até o supermercado mais próximo. Pegue um carrinho grande e senta que lá vem a história.


  1. Esquece o bacon defumado. Compre uns 400g de barriga de porco, aquela crua mesmo;
  2. Se não tiver arroz na sua casa, compre. Feijuca sem arroz é como mulher na TPM: não adianta o quão você se esforçar, você não vai conseguir comer;
  3. 1kg de feijão preto;
  4. Salsa;
  5. Alho;
  6. Umas 4 cebolas grandes;
  7. Um maço de couve-manteiga, que não tem nada de manteiga, mas assim foi denominada;
  8. Uma peça de costela de porco de uns 2kg;
  9. 1/2kg de carne de charque, um tipo de carne seca;
  10. Duas orelhas de porco, daquelas salgadas;
  11. Um rabo de porco, igualmente salgado;
  12. Um pé de porco, salgadinho, salgadinho, só no sapatinho [/só pra contrariar];
  13. Uma linguiça portuguesa defumada;
  14. Uma linguiça calabresa também defumada;
  15. Dois paios, defumadinhos defumadinhos, só na fumacinha [/bob marley];
  16. Um codeguim, seja lá o que isso signifique, mas já chegamos lá;
  17. 1kg de bisteca de porco em fatias;
  18. 1/2kg de farinha de mandioca;
  19. 6 limões;
  20. Pimentas diversas, se vira;
  21. Colorau;
  22. Umas folhas de louro;
  23. Azeitonas.

Já deu pra perceber que isso aqui vai dar trabalho, não é? Assim como já deu pra perceber que o preju aqui vai ser grande, não é? Pois é, mas isso aí serve pra alimentar um pelotão. Portanto, se você pretende alimentar um pelotão, siga os procedimentos e leve o prejuízo.

O primeiro passo é lavar 1/2kg de feijão preto. E como lava? Mete num pote, abre a torneira e deixa passar água. Parceiro, meu lado ogro me diz que esse negócio vai ferver tanto, mas tanto, que você nem precisa se preocupar com bichos ou agrotóxicos. Chora, Doutor Bactéria, que dessa vez a gente vai levar os anticorpos da galera ao limite!

Lavado ou não, pegue o 1/2kg de feijão e mergulhe na água. Pega um pote bem grande, joga o feijão e manda água pra dentro. Sabe aquele lance que a gente chafurda na cerveja e fica todo inchado? Então, acontece o mesmo com o feijão. Então, pensa num pote grande, porque os grãos vão crescer bem. E enche bem de água. Deixa isso quietinho e vai acender a churrasqueira.

Churrasqueira??? O mais sensato dos leitores certamente vai pensar que este blogueiro está viajando na maionese, na mostarda e no catchup, mas não: eu não estou viajando.

Vamos por partes, já diria o jack estripador, embora eu prefira muito mais o jack daniels.

Pé, orelhas charque e rabo do porco
Como lidar com essa verdadeira carnificina suína salgada e depilada que tá aí na sua frente? É, essas partes são meio bizarras quando cruas, mas não tem jeito: você tem que meter a mão nesse trem aí. Abre a torneira, lava bem pra tirar o sal e chafurda numa bacia grande, cheia de água. Você tem que fazer isso pra tirar o sal dessas peças.. Se deixar do jeito que tá, a sua feijoada vai ficar mais salgada que o mar morto. Se não entendeu a piada, vai pro goooooogle. É importante deixar de molho umas 5 ou 6 horas, trocando a água de hora em hora. Fica atento no silvio santos, passou o resultado da tele-sena, troca a água.

Costela e barriga
Você acendeu a churrasqueira, certo? Então joga um salzinho em cima da costela e coloca na churraca, de maneira que as labaredas não encostem na costela. Nem na sua e nem na do porco. Se você sabe o que fazer com a barriga, empurra com ela fatia ela em pedaços da espessura de uma caneta e coloca ela na grelha. Mas coloca beeem longe da labareda, porque a barriga perde muita gordura, que faz as labaredas ficarem encapetadas. Pra evitar um incêndio, deixa a barriga longe, de maneira que ela asse, mas demoradamente. De vez em quando, dá uma passada na churraca e tira as peças quando elas estiverem bem assadas, com cara de bem passadas. Quando a costela estiver OK, use uma faca e separe as costelas no osso, como se fosse servir. E tira esse olho gordo e essa mão boba daí, senão vai faltar costela na sua feijoada. Deixa isso tudo bem guardado num buraco na periferia de jalalabad.

Pensa no timing da coisa: você colocou as coisas na churraca, e não vai ficar ali de bobo do lado dela esperando ficar pronto enquanto tem uma trabalheira te esperando lá na cozinha, vai? Sim, vai Não, não vai, né? Então pensa que o procedimento abaixo pode ser feito durante o procedimento anterior. Uma verdadeira confusão, mas vai por mim que no fim dá certo.

O couve, parte 1
O couve é meio esquisito, mas é assim que a couve se chama. O couve. Nos tempos modernos, quando rapaziada muda de roupa, muda de time e valdemar vira valdirene, relaxa e chama a couve de o couve.  O que importa realmente é que você precisa lavar esse treco aí. Abre bem, separa as folhas, mete numa bacia cheia de água e com um gole de vinagre. Deixa lá por uma meia hora e vai fazer outra coisa. E não é playstation, é trabalho, merrrmão!

Por falar me trabalho, vamos inaugurar os trabalhos? Corra o mais rápido que puder até a sua geladeira, abra uma latinha de cerveja e fique mais feliz.

A farofa
Você deve cortar meia cebola em rodelas, o que é bem fácil. Nem vou te contar como fazer isso, você vai saber. Aproveita essa levada toda de picotar as coisas em rodela, e picota umas 5 azeitonas em rodela, se lembrando de retirar os caroços antes, sob pena de causar sérios danos à lâmina da sua faca. Picota também uns 3 dentes de alho, de qualquer jeito. Não precisa ficar muito bonitinho não, desde que esteja pequeno.Corra na churrasqueira e retire umas 2 fatias de barriga, mesmo que elas não estejam prontas. Picota a fatia em pedaços do tamanho de uma ervilha.
Pronto, agora vamos pra panela. Jogue uma golada de azeite na panela, bote pra esquentar. Na sequencia, jogue lá dentro os pedaços de barriga, e uma folha de louro. Mexa com uma colher de pau, senão as barrigas grudam no fundo da panela, e nós não queremos isso. Quando achar que tá ficando bacana, jogue também as cebolas e azeitonas em rodelas. O cheiro já começa a ficar complicado de segurar.. Mexe até que as cebolas comecem a ficar amarelinhas. Na sequencia, jogue o alho e mexa, até que o alho comece a escurecer um pouco. Agora, jogue a farinha, e mexa muito, sem parar. Por uns 20 segundos, depois você deve desligar o fogo. A farofa queima muito rápido, portanto é bom desligar. Experimente um pouquinho, e se achar que deve colocar mais sal, adivinhe: coloque mais sal. Feito isso, pode guardar a farofa num esconderijo numa mansão no paquistão.

O feijão, parte 1
Bom, vamos começar a cuidar do feijão, afinal de contas, isso aqui é uma feijoada e nós não estamos aqui pra enganar ninguém com uma feijoada sem feijão. Jogue o feijão todo numa panela de pressão, com o pé de porco, a orelha, o charque e o rabo, que já devem ter passado por todo aquele procedimento de lavagem. Ponha água até o limite de segurança da sua panela, feche e mande pro fogo por uma meia hora.

O couve, parte 2
Enquanto o feijão tá levando muita pressão [/bonde do tigrão], enxágue as folhas do couvão, junte todas, enrole e comece a cortar fininho. Entendeu como faz? Você tem umas folhas grandes e precisa fazer aquilo ficar como um macarrão, que é o jeito que o couve fica quando vai pra mesa. Usa a cabeça que você vai entender. Feito isso, picote uns 2 dentes de alho. Numa panela, jogue mais uma golada de azeite, e comece a fritar o alho. quando ele começar a mudar de cor, manda lá pra dentro todo o couve feito em tirinhas. Mexa bastante, e frite até ficar escuro e molenga. se precisar, manda mais azeite pra dentro. Quando escurecer e amolecer, jogue um pouco de sal e guarde nas cavernas do afeganistão.

A bisteca, parte 1
Num pote, esprema (JAMAIS inverta o P e o R de lugar, sob sério risco de acabar com a receita. Se fizer isso, nem me chama pra comer essa bomba) um limão, picote um dente de alho e dê uma colherada pequena de colorau, com umas pitadas de sal. Misture todo esse treco e mergulhe as bistecas.. feche o pote e chacoalhe como se não houvesse amanhã. Pensando bem, uma pitada de pimenta do reino deve ajudar essa mistura aí. Deixe descansar, por mais que o porco já esteja morto sem a menor necessidade de descanso. Enfim, você entendeu.

Nesse tempo, se a meia hora do feijão já passou, tudo bem. Deixa todo mundo fechado dentro da panela e segue os procedimentos.

O feijão, parte 2
O procedimento é abrir a panela tomando todo o cuidado do mundo com a pressão que tá rolando lá dentro. O ideal agora é você transferir tudo pra uma panela realmente grande, que caiba o dobro do feijão que você tem, ao menos. Feito isso, deixe a panela aberta no fogo médio até o final da receita toda. O lance da pressão é que ela ajuda a amolecer um pouco o feijão, mas todo o resto fica melhor em panela aberta. Põe bastante água nesse feijão e mexe de vez em quando, pro feijão não colar no fundo da panela.
O tempero do feijão é simples. Tenha em mãos, mas não necessariamente NAS mãos, uma cebola picotada, 4 dentes de alho picados, duas folhas de louro e o resto todo da barriga de porco cortada em pedaços pequenos. Numa outra panela, jogue uma golada de azeite e deposite ali as barrigas todas com as folhas de louro. Siga a sequencia das cebolas, alho e pronto. Quando todo mundo estiver bem fritinho, jogue na panela do feijão, com azeite e tudo.

Pescaria
Pode largar a varinha e a minhoca (ui), o lance agora é dar uma olhada no meio do feijão, e tentar resgatar o pé do porco. Isso porque ele tem muito osso, e nós não queremos que aquela tia bacanuda que gastou vinte mil reais na sua prótese detone a lustrosa dentadura com um pedaço de osso, certo? Portanto, é legal pescar o porco pelo pé, retirar toda a carne possível e jogar o osso fora.

O arroz
Ah, esse post já tá muito longo e eu não vou ensinar ninguém a fazer arroz. Pelo menos não agora. Dá seus pulos aí, parceiro, e prepara um arroz

Feijão, linguiças e costela
Com a panela aberta, você mexendo toda hora e aquele caldo começando a engrossar, hora de descobrir onde enfiar toda aquela linguiça. E antes que o leitor utilize o lado negro dessa mente putrefacta, as linguiças todas devem ser depositadas na panela do feijão, sem furar, sem abrir, sem fatiar. Linguiça inteira, compana. Manda pra panela, elas devem ficar pelo menos uma hora lá dentro. O mesmo pras costelas. Aliás, a costela tem uma tendência a desmanchar, e você pode deixar desamanchar mesmo, ou separar metade das costelas pra colocar só na hora de ir pra mesa.

O molhinho de pimenta
Essa parte fica em aberto. Muita gente põe a pimenta sozinha na mesa, muita gente faz um molho usando o caldo do feijão, mas eu vou ensinar um molhinho que eu acho porreta, receita da vovó (claro, né). Bom, picota meio maço de salsinha, espreme uns 6 ou 7 limões, e adiciona um pouco de pimenta vermelha. Só isso. Esse molhinho, quando jogado em cima do prato de feijoada, faz o palhaço chorar.

A bisteca, parte 2
Tamos quase lá, rapazeada. Tá acabando a trabalheira e tá chegando a hora da comilança. Aqui não tem segredo, é só fritar as bistecas até ficar bem passada. Na hroa de servir, joga em cima dela um pouco de salsinha e põe limão cortado na mesa.

Pronto, pessoal Acabou a saga. Agora é tirar tudo o que estava escondido por aí, colocar todo mundo na mesa e lavar a alma. O resultado é esse aqui:




Custo: Ah, é caro. Dependendo de onde você vai comprar, dá pra gastar mais de R$60,00 com esses ingredientes.
Tempo de preparo: Demora muuuuito. Só o feijão, fica no fogo umas 5 horas, fora o tempo pra tirar o sal do porco, churraca, enfim. Se você ficar bebendo cerveja o tempo todo, vai servir a feijuca em coma alcoólico. Toma cuidado com esse pé de cana aí, parceiro.
Rendimento: Dá pra uma galera. Já fiz feijoada pra 16 pessoas com esse volume de ingredientes.

    Receitas de panela: Filé ao molho chateaubriandt

    Começo este post num lindo dia de verão perguntando ao nobre leitor porque diabos essa receita tem um nome tão emboiolado?

    Respondo: Porque o nome emboiolado no caso não pertence, necessariamente, à receita. Mas sim ao nada pacato cidadão que a inventou. Peçamos ajuda à wikipedia, que nos fará as devidas apresentações.
    "Figura polêmica e controversa, odiado e temido, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por supostamente chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada porém rentosa com o Presidente Getúlio Vargas."
    Na verdade, a wikipedia conta muito mais coisas a respeito, mas vamos combinar: essa é a parte que a gente mais gosta da história.

    Resumindo: nosso herói aqui era um verdadeiro canalha. Cachorro, safado, vagabundo, já diria a cantora de axé. E se é isso que temos pra hoje, bora comigo nessa receita que, embora tenha origens inescrupulosas, pode lhe trazer inúmeras vantagens.

    Imaginemos uma situação absolutamente hipotética. Imaginemos que você é não é um vagabundo. Não é um cachorro, safado, sem vergonha. Você não gasta, e nem gostaria de gastar, 100% dos seus rendimentos em cerveja, sinuca, pay-per-view e mulher da vida. Nada disso. Você, na nossa imaginação, é um cara centrado, tem uma garota que faz esse seu coraçãozinho de frango palpitar, e tudo o que você precisa nessa vida é convencer essa garota imaginária a juntar as cuecas com você e (mudando irresponsavelmente o tempo verbal só pra caber) foram felizes para sempre. Ou seja, vamos usar a canalhice do nosso herói a nosso favor.

    Oka. Temos uma garota e um cara querendo pegar essa garota. Tudo o que precisamos é de uma estratégia para fazer a nossa caça entrar na arapuca e CRÉU linda e doce garota encontrar o amor da sua vida diretamente na sua pessoa.

    A estratégia consiste em convidar a garota para um jantarzinho sem compromisso, e mandar a receita que nosso canalha inventou. Na tela:

    Bota 1litro dagua pra ferver, com um bloquinho de caldo de costela dentro. Pode ser caldo de picanha, caldo de carne, enfim. Particularmente, o caldo de costela foi o que melhor se adaptou a essa receita até hoje. E olha que eu já fiz esse prato muitas vezes. Todas para a minha esposa, antes que o mais mente suja dos leitores pense mal a respeito deste que vos escreve.

    Quando ferver, joga lá dentro meia garrafa de vinho tinto seco. O ideal é comprar um vinho barato, porque ele vai pra receita. Mas não, necessariamente, um vinho vagabundo. Porque pode ser que você não jogue todo o vinho na panela, e nesse caso, aposto um rim como você vai beber o tal vinho. E se ele for muito vagabundo, quem compromete o rim é você.

    Na sua geladeira deve ter um pote escrito "manteiga". Vai por mim, é isso que tá escrito lá e tem uma pasta amarela dentro. Dá uma olherada generosa naquele negócio e joga dentro da panela. E não me venha com aquela doriana que isso aí é coisa de gente doente. Manteiga, feita de leite de vaca, cheia de colesterol, é disso que eu tou falando. Se não tem manteiga, desliga o fogo e vai comprar. NÃO JOGUE MARGARINA EM COMIDA BOA, isso tá entendido?

    Enquanto ferve, dê uma golada no vinho e picote uns 100gr de champignon. Picote, não. Fatie. O cogumelo fica bonitinho fatiadinho na receita. Recomendo veementemente que compre o cogumelo correto no mercado, e não vá pro mato buscar o seu, sob sério risco de pegar um cogumelo alucinógeno e mandar pras cucuias toda e qualquer possibilidade de se dar bem com a garota. Pensa no lance dos hippies. Não queremos ver você assim, ok?

    Aproveita, descasca e corta umas 4 batatas, joga um caldo de carne dentro, cobre com água e bota pra ferver. Deixa lá e continua com a receita. O único trabalho é se certificar de que a água não secou. Se precisar, completa o tanque de vez em quando. O seu com cerveja, o das batatas com água.

    Quando ferver, prepara ae que tá chegando: Pega um copo, coloca umas 5 colheradas desse molho fervente que tu ta fazendo. Coloca mais uma golada sarada de vinho. Caldo quente + vinho frio = conteúdo morno no copo. Disso que você precisa, de conteúdo morno.

    Beleza, agora pega farinha de trigo e manda umas 3 colheradas dentro do copo, e mexe rapidão pra não empelotar. Na real, vai empelotar um pouco sim, mas o que importa é fazer o melhor que você puder. E aqui, nós acreditamos no potencial dos nossos leitores. O lance do morno é importante pra mexer farinha. Se estiver fervendo, cozinha a farinha e empelota geral. Se estiver frio, não mistura.

    Mexeu? Agora manda pra panela, mexendo rapidão de novo pra não empelotar de novo. Mete o fogo no máximo, ajuda a não empelotar pela terceira vez. Mexe a cadeira. Vai mexendo bonitinho, gostosinho, rebolando até o chão [/banda de axé].

    Beleza, quando não tiver mais nenhuma pelota, manda lá pra dentro o pote inteiro de champigon. Com água e tudo, vai na fé.

    Baixa esse fogo aí. Vai pras carne, parceiro. Ir pras carne é sempre uma coisa legal, entenda como quiser. Mas eu sei que você gosta.

    O trabalho agora é fritar alguns filés. Pode ser filé mignon, ou um contra-filé, alcatra, desde que bem limpinhos, ou seja, sem nervos. Encarna o zezé de camargo e luciano e manda nele o seu tempero favorito [/é o amooooooooooor].

    Enquanto a panela fica engrossando aquele caldo que você fez com o vinho, vai fritando os bifotos e mandando um por um pra dentro da panela. Mexe e deixa lá no fogo baixo. Vai notar que o seu molho começa a ficar marrom, quando antes ele era vermelho. É a carne começando a perder o seu suco pro molho. No frigir dos ovos, embora nesta receita não vá ovos, é que carne perde suco pro molho, que perde molho pra carne e vira tudo uma grande suruba. Mas, se o teu objetivo era derrubar a garotinha, vai nessa linha que o caminho é esse mesmo.

    Bacana, tá quase pronto. Lembra daquelas batatas que ficaram na panela? Pois é, aquilo deve estar uma verdadeira moleza. Espeta uma com um garfo, se ela desmanchar, tá no ponto. Desliga a panela, joga a água fora e amassa bem. Use instrumentos, você vai saber qual o mais adequado pra amassar batatas. Uma colherada de MANTEIGA dentro ajuda a ficar mais legal. Tá pronto.

    Ponha a mesa com toda a elegância que eu sei que você não tem, come de boca fechada, não arrota e não fala com comida na boca. Faz teu prato e janta tudo junto: vinho, purê, bife, molho e garota. A garota pode ficar pra depois.

    Um rango que pode mudar o seu estado civil, te ajudar a pegar a mulher dos teus sonhos e deixar o zé mayer no chinelo.

    PS: eu sempre fotografo os pratos que eu faço. Este, eu já fiz mil vezes. E acabei de descobrir que não tenho uma foto sequer dessa iguaria. Mas assim que fizer, posto aqui.

    Custo: É caro, vai vinho e carne boa. Mas pensa nisso como um investimento. Só faça se a garota valer a pena.
    Tempo de preparo: Umas 4 latinhas. Ou o tempo de você matar a meia garrafa de vinho que sobrou. Não seja estúpido de estar embriagado na hora de... enfim, você entendeu.
    Rendimento: Controverso. Se você casar com a garota, seus rendimentos estarão comprometidos pro resto da vida. Definitivamente, uma receita que pode te levar à falência :-)

    Receitas de boteco: Frango à passarinho

    É natal! Época de celebrar, época de felicidade, de alegria, não é mesmo, caro leitor? Época de encher a cara de rabanada e champanhe vagabunda. A gente gosta muito disso, mas aqui na suntuosa redação do DGG, o motivo da comemoração é outro. Aqui não tem vez pra presentinho, não tem bom velhinho barbudo com roupa vermelha de frio no calor e muito menos jingle bells.

    O real motivo da comemoração aqui é a vitória intelectual imposta aos nobres leitores, através da última charada, que NENHUM, absolutamente NENHUM leitor conseguiu acertar. Conforme a tradição, nós mandamos 3 dicas, e aguardamos os sabichões, que sabiamente costumavam desvendar os mistérios da produção alimentícia em frações de segundos. Mas desta vez foi diferente, e seja pela inebriável malemolência da proximidade das férias de fim de ano, ou seja pela igualmente inebriável lactência do álcool advindo da festa da firma, do happy hour ou do amigo secreto, a verdade é que nossa charada foi simplesmente indecifrável. Te cuida, Dan Brown, que de enigma aqui a gente entende.

    A receita de hoje é, além de figura do indecirável, um verdadeiro teste de lógica. Frango à passarinho, frango à passarinho... Não cabe, não cola, não combina. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, já diria o lógico leitor. Como que eu vou fazer um frango virar um passarinho? É como passar um camelo pelo buraco de uma agulha, como passar o elefante pelo buraco da fechadura, como passar uma girafa pelo desfibrilador. Ok, desfibrilador não tem nada a ver, mas eu gosto da palavra e acho que poderia ser legal dar uns trancos na girafa. Melhor, faz o seguinte: esquece que eu escrevi isso aí e foco no frango e no passarinho.

    Vamos tratar de passarinho. De passarinho você entende, certo? Na hora de bater aquela foto, sempre tem um que manda um "olha o passarinhô!". Quando o zíper da calça escorregava, a mãe sempre mandava um "o passarinho tá querendo fugir", enfim. O fato é que o passarinho faz parte da vida da gente. Agora pensa no frango.

    Ao contrário do passarinho, que faceiro e feliz sempre ilustrou nosso imaginário, o frango nunca teve papel relevante em nossa existência. Frango, pra gente, sempre foi comida. Acorda, come milho, engorda, morre e vai pra panela. Vida dura, essa do frango. Salvo a possibilidade de você morar numa granja, aposto um rim como você já viu umas cem vezes mais frangos mortos do que vivos, certo? Isto posto, façamos um dois em um e mandemos esqueleto adentro um frango, à moda do passarinho. O grande do jeito do pequeno, já diria a charada (que ninguém acertou DURMAM COM ESSA, SABICHÕES).

    Comecemos pela parte violenta da brincadeira. Como fazer um frango ficar todo picado, parecendo uma carnificina de passarinhos? Simples, temos duas opções. A primeira é comprar um frango e picotar desgovernadamente. A segunda é pedir ao açougueiro (ou granjeiro, ou jason, ou o chuck norris) que o faça. A menos que tenha problemas sérios, muito sérios em relação à sua taxa de colesterol, recomendo veementemente que não retire a pele do frango. É lá que mora a maior parte da alegria de consumir tal iguaria.

    O tempero do frango é a primeira parte da nossa aventura. Para 1/2kg de frango, você deve picotar uns 3 dentes de alho, e jogar todo mundo no mesmo balaio numa bacia ou pote, onde você possa operar uma verdadeira lambança posteriormente.

    Jogue ao frango e ao alho, uma mãozada moderada de colorau. O colorau é um pó vermelho, feito à base de semente de urucum, levemente apimentado. Vai na fé e manda uma mãozada moderada lá. A mãozada moderada é aquela medida de dosagem, onde você mete e mão e manda pra dentro, mas sem, necessariamente, encher a mão. Afinal, você está fazendo um frango a passarinho, e não um colorau a passarinho.

    Pra completar a festa, jogue junto uma golada de azeite. Lembrando que não é necessário encher a boca de azeite para depois cuspí-lo no frango, sob pena de graves consequencias intestinais no caso de ingestão acidental. Apenas tenha em mente o quanto seria uma golada, e despeje diretamente da garrafa para o frango.

    Adicione uma porção de sal. Você é um cara sabido, já temperou a própria salada naquele restaurante por quilo, e sabe quanto de sal é necessário pra fazer o seu frango ficar temperado. Não deixe sem sal, não salgue demais. Tenha comedimento nessa sua alma de ogro, eu sei que você consegue.

    Agora, feche a tampa do pote, misture bem. Pra misturar, mande uma macarena naquele rádio velho e comece a chacoalhar o esqueleto segurando um pote cheio de frango. Direto da série "coisas que provam o quanto você é doidão". Misturado, deixe ele de lado. Não, necessariamente de lado, poderia derramar o tempero sobre a pia. Apenas deixe ele ao lado de algum outro objeto à sua escolha. Você entendeu.

    Próximo passo: alho frito. Precisamos de alho frito, muito alho frito. Você pode comprar o alho já em tais condições, ou fritar o seu próprio alho, o que sempre garante um toque de qualidade a mais na sua vida [/propaganda de margarina]. Vamos pelo caminho mais longo e tortuoso, fritemos nosso alho.

    Picote uns 5 dentes de alho. Sabe quando tem uma pedra no seu sapato? Então, cada tequinho de alho tem que ficar mais ou menos daquele tamanho. Do tamanho de uma pedra de sapato.

    Isto posto, pegue a menor frigideira que você tiver. Eu tenho uma pequeninha pra fazer hamburger que é perfeita pra isso. Dê uma pequena golada de azeite nela, e coloque no fogo baixo. O alho queima muito rápido, então você tem que ser ligeiro no gatilho. Jogue os alhos no seu sapato e saia pelo mundo com o pior chulé do mundo na frigideira, e mexa um pouco com uma colher. Um minuto depois, tá todo mundo pronto. Quando eles começarem a ficar marronzinhos, tá no ponto. Você precisa tirá-los dali e colocar todo mundo sobre um guardanapo, ou algum papel que ajude a secar a gordura. Assim, o azeite escorre, e o alho fritinho fica bem seco e crocante. Só isso aí já é um quitute. Um quitute que dá bafo, que dá azia e que te faz transpirar alho por horas. Conforme a charada, destrói relações (CHOREM). Depois de comer alho frito, não beije a sua mãe, não beije o seu pai, não beije a sua namorada... Por favor, não beije ninguém. Nós sabemos que nessa época de natal até o mais viril dos leitores fica cheio de amor pra dar, mas... Amor e alho não se combinam, entenda isso.

    amor aos pedaços

    Abra uma cerveja. Isso é absolutamente necessário para o bom funcionamento do resto dos procedimentos. Beba e seja feliz. Continuemos com a receita.

    O trabalho agora é fritar o frango, que a essa altura, já absorveu bem o tempero. Cuidado, isso faz barulho, faz furdúncio na frigideira, espirra, explode, uma lambança. Na charada, fazia bolha (essa foi fácil. Francamente, viu...). Tenha em mãos uma frigideira funda, com uma boa quantidade de óleo bem quente. Existem umas tampas pra frigideira que te ajudam a fazer muito menos lambança. Se tiver, use. Se não tiver, prepara o pinho sol que a limpeza amanhã vai ser pesada.

    Bom, o trabalho de fritar, creio eu, não precisa ser lá muito explicado, não é? Quero acreditar que você já imaginou que basta jogar os pedaços de frango no óleo quente, e deixar lá até que pareçam com um frango à passarinho. Quero acreditar que você já comeu um frango à passarinho. Ou que pelo menos viu um. Uma boa dica é observar a pele, que deve ficar bem crocante. Não a sua, a do frango, parceiro.

    Quando chegar nesse ponto, tá pronto. O frango fica bem douradão, com a cor da Juliana Paes. Isso, quando estiver da cor da juliana paes, tá no ponto. Basta arrumar um prato coberto com papel gordura que, ao contrário do nome, não vem cheio de gordura. Jogue lá todo o frango, jogue o alho sobre o frango e seja feliz.

     - tô no ponto!

    Se a juliana paes tá no ponto, o nosso frango não faz por menos. Na tela:

    eu vô.

    Custo: 1/2kg de frango picotado e com pele custa uns R$5,00
    Rendimento: Uns 10 pedaços. Dá pra umas duas pessoas.
    Tempo de preparo: duas brejas na preparação, uma na fritura. Sirva contente.