A fralda do meu cunhado

Dizem que cunhado, se fosse bom, não começava com c*. Taí a famosa sabedoria popular aprontando das suas. Dizem também que parente a gente não escolhe. E a sabedoria popular mandou bem de novo. Agora, como relacionar "sabedoria" e "cunhado" numa mesma situação? 

Cunhado é aquele troço tão bizarro, que nem a sabedoria popular consegue explicar. Porque o cunhado não é família, mas um dia acaba virando. Cunhado é parente compulsório. A única chance de não ter cunhado é não ter irmã, e ainda casar com uma mulher que não tem irmãos. Caso contrário, é questão de tempo até aparecer um ser desses na sua vida.

Mas eu não posso me queixar, não. Fui sorteado com os dois únicos cunhados bacanas da face da Terra. Um deles, irmão da minha esposa, papai do céu levou pra morar com ele mais cedo. O outro é o Arthur, e é dele que vamos falar nas próximas linhas. Te cuida, compana, que essa orelha vai arder!!!

Arthur é um cara legal, mas tão legal, que eu costumo dizer que ele é mais legal que a minha irmã. Brincadeira, Monicão!! Chora não que você também é batuta!


Mais legal que eeeeuuu? Duvido!
Aposto que ele não tem uma roupa bacanuda dessa!

Pois neste final de semana teve a festa junina da escola do meu filho menor. É, a paternidade tem dessas: te prepara pra acordar cedo em vááááários sábados da tua vida pra assistir performances artísticas da tua prole. E quer saber? É legal demais!

Convidei a família toda, mas sabia que a Monica tinha que estudar, e provavelmente não iria. Ok, zero problema, sei que as coisas são assim: a gente trabalha até cair o couro, e o final de semana é curto. Se tem que estudar, engole o choro e estuda. 

Mas na festa, qual não foi a minha surpresa ao ver, adentrando os portões da Cirandinha da Tia Ofélia, o meu cunhado Arthur. E o cara é tão batuta que foi... mesmo sem a minha irmã. Ela tava estudando, ele queria falar umas merdas e tomar umas brejas, e achou que seria uma boa fazer isso na festa junina do maternal do meu filho. Gênio! Não vejo lugar mais apropriado!

Assim procedemos. Enquanto meu pequeno estourava biribas no nosso pé, nós compensávamos com vigorosos goles de cerveja. Até que Arthur, o astuto, soltou a pérola: "Tem uma fraldeta na minha geladeira, mas a Monica tá estudando". Não precisei nem responder o "faz na churraca de casa", e o cunhado já tava indo na casa dele buscar a peça. Uma bela peça de fralda, aliás.

Pouco antes do jogo do Brasil começar, chega ele em casa com a fraldinha e uma garrafa de vinho. Antes que eu desse uma golada naquela garrafa, fui advertido: 
- Cara, não bebe isso aí, não. É vinho velho, passou.
- Cunhadão, mas pra que diabos tu traz uma garrafa de vinho véio pra casa?
- Pra fazer uma vinha d'alhos!
- Vinha de quê?
- Vinha d'alhos, uma receita dos caralhos!
Sim, nem Arthur, nem eu somos conhecidos pela nossa educação britânica. Mas ambos somos conhecidos por mandar bem pilotando churracas. Cada um tem as suas receitas, cada um faz as carnes do seu jeito, mas a gente nunca entra nessas babaquices de disputa. Nós formamos uma parceria, e não uma concorrência. E foi o que se sucedeu, e conto aqui a receita do molho de alhos (rime com o que bem entender, ok?) do meu cunhado.

E a receita é tão simples, mas tão simples, que eu vou inovar e escrever inteirinha num só parágrafo, sem vírgula, de trás pra frente e em miguxes. Tá, miguxês não dá. Tadinho do português... de trás pra frente, pior ainda. Mas em um parágrafo dá! Respira fundo e vamo comigo!
Arthur pegou um copinho pequeno, daqueles de tomar cerveja em boteco vagabundo. Jogou o vinho velho até pouco menos da metade do copo. Depois deu uma boa borrifada de mostarda. Como em casa só tem mostarda preta, lá foi ela conversar com o vinho velho. Enquanto isso, eu picotava 4 dentes de alho, e taquei lá dentro. Na sequencia, joguei um punhado de sal grosso, enquanto ele picotava um teco de salsinha e cebolinha. Misturamos tudo, jogamos duas boas goladas de azeite e a meleca dentro do copo ficou parecendo caldinho de feijão, mas o Arthur disse que tava tudo certo, então passamos na fraldinha. Deitamos na grelha, e de vez em quando, um de nós tacava uma colherada de molho na fralda. Quando ela ficou pronta, cortamos e comemos.
Tá vendo como é simples? A fraldinha, que já é uma carne mega saborosa, ficou ainda melhor com isso. Recomendo seriamente.

E é pra isso que serve o cunhado. Pra fazer comida pra mim! Há! Quem mandou pegar a minha irmã? Achou que ia sair de graça?

Preço: Custo Zero, Fome Zero. Foi de graça. Cunhado bão é assim.
Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, 3 brejas na churraca. Um gole no vinho velho pode acarretar em algum tempo no banheiro.
Rendimento: Enchemos 4 buchos, a peça era generosa.

E este post é dedicado à memória do Claudinho, o outro cunhado, falecido irmão da minha esposa. Um parceiro muito querido que nos faz muita falta.

Uma linda mulher

Já fazia um tempo que eu vinha me segurando pra não destilar nosso carinho na direção da nossa musa insipadora, a titia ana maria braga, a garota do botox de ouro. Eu tento, mas essa mulher é tão brilhante, tão magnética, tão frenética, tão cibernética... Que quando mais eu fujo dela, mais ela me aparece pela frente.

Acabei de voltar de um cliente, que disse que conhecia a ana maria braga pessoalmente. Meu coração palpitou de alegria, felicidade, medo de ser processado e medo do cliente ler isso aqui e deixar de ser cliente.

Cheguei no escritório e, num momento de morcegada, decidi dar uma passada de olho nos blogs que mais gosto. Eis que me deparo com Ela:



Pra quem não conhece o Dr.Pepper, dispa-se de todos os seus preceitos morais, de toda e qualquer relação com a boa educação, moral e bons costumes e rache o seu bico. Dr.Pepper é o humor politicamente incorreto personificado em forma de quadrinho. 

Porque esse mundo anda muito quadrado e de vez em quando precisa aparecer alguém pra chutar umas bundas. Mesmo que seja a da nossa amada anfitriã.

Vale a visita: www.drpepper.com.br

Receitas de panela: Como preparar uma rabada de mestre

Putz, esse título aí ficou meio sessão-da-tarde. Depois de "Um golpe de mestre", "Jogada de mestre" e outros títulos previsíveis, vem aí: "Uma rabada de mestre: Uma vaquinha muito louca aprontando várias confusões numa panela do barulho!".

Mas como aqui a gente gosta de título mal-feito, vamos mantê-lo assim. Aliás, aproveito o momento pra sugerir que substitua momentaneamente o título deste blog por algo como "Enfiando o Gato na Panela". Afinal, como dissemos no post que abre esta série, está um frio sibérico lá fora e eu não quero congelar meu crânio na churrasqueira que está lá fora. Portanto... Patroa, te prepara que hoje eu vou fazer dessa cozinha um infeeeeernooooo!!!!!

E a primeira coisa que a gente vai fazer é meter o rabo da vaca no fogo. Desculpa aí dona Mimosa, mas hoje nós vamos ver o que é um rabo quente.. Pedimos encarecidamente ao ponderado leitor que feche a playboy da Sheila Carvalho e mantenha a sua atenção dirigida ao rabo que nos interessa no momento: o bovino.

"Esse rabo aí já abanou muita mosca..."

Ao contrário dos nomes das outras carnes, que são quase todos esdrúxulos, o rabo é bem fácil de unir o nome à pessoa. Estamos falando do rabão mesmo, aquele que abana mosca, aquele que a vaquinha levanta antes do cocô, aquele que o peão puxa no rodeio. Aliás, só encontrei essas 3 utilidades pro rabinho da vaca. Além de ir pra panela, claro. Se ela ao menos abanasse o rabo que nem cachorro, mas nem isso. Sendo assim: panela no rabo dela!

Bom, começando os trabalhos.. Dirija-se ao açougue mais próximo, peça 1,5kg de rabo o mais limpo possível. Olha, dá um certo constragimento pedir assim pro camarada do açougue, tipo "Ow, parceiro! Me dá esse rabão bonito aí". Se você já tiver alguma intimidade com ele, pode facilitar as coisas, desde que você não se empolgue. Eu recomendo seriamente que você não o veja cortando o rabo. Isso porque o rabão inteiro se parece MUITO com o rabinho da vaquinha ali, balançando, e vai ser inevitável lembrar daquela levantada de rabo pré-cagada. Pra não perder o apetite, nem veja. 

É importante pedir o rabo limpo, porque é uma peça que tem muita gordura. E, ao contrário da churraca, que derrete a gordura e faz cair no carvão, na panela a gordura fica por lá. E pode deixar a sua comida um sebo só. 

O primeiro passo é dar uma cozida de leve pra tirar o excesso de gordura. Coloque o rabo numa panela grande (procure não pensar besteira, ok?) e cubra com água. Esprema ali um limão, jogue um copo de pinga (isso mesmo, pinga. Ajuda a amaciar a carne) e bote pra ferver. Deixe lá, fervendo, uma meia hora. Você pode aproveitar esse tempo pra tomar umas brejas porque o trabalho a partir de agora é cascudo, e todos nós entendemos o álcool como um facilitador de coisas cascudas. Aquele que nunca pegou uma baranga breaco que atire o primeiro pinóquio.

Ok, enquanto ferve, você pode picotar uma cebola inteira. Não precisa ser tão minucioso e picotar pequeno, porque ela vai virar um refogado e praticamente derreter, mas também não adianta ser animal e cortar a cebola em 4. Ah, entendeu, né? Picote um cebola e pronto. Guarde ela num pote. 

Caro leitor, a partir e agora você vai sujar muuuuita louça. Recomendo manter a sua mãe (ou a patroa, ou seja quem for a dona da louça e da cozinha) bem longe de você, e consequentemente, da cozinha.

Picote, seguindo a mesma recomendação da cebola, uns 4 dentes de alho. Guarde tudo num outro pote. É importante não misturar, compana.

Picote 2 tomates pequenos (ou um grande dããã..) e guarde num terceiro pote. Tá vendo como isso faz um furdúncio na cozinha da patroa?

Legal, você tem 3 potes cheios dos ingredientes da alegria, e uma rabada fervendo na panela. Desligue o fogo e jogue aquela água fora. A rabada deve ter, nesse momento, um aspecto nojento. Se não tiver, tá errado. Mas fica tranquilo que o caminho é esse mesmo. Tem um monte de coisa que a gente come e acha uma delícia, mas em algum momento foi nojento. Deixe a rabada quietinha na panela, já voltamos a ela.

Aliás, não: voltemos agora. Se a rabada for muito gordurosa, essa é uma boa hora pra pegar uma faquinha e rancar, na mão, o excesso de gordura. É um puta trampo chato, mas pode ser a diferença entre uma rabada legal e uma rabada tipo chiclete. Agora sim, guarde esse rabo aí e voltemos à programação normal.

Agora o refogado. Guarda esse nome porque quase tudo o que se faz na cozinha é refogado. Pelo menos quase tudo o que eu sei, o que significa quase nada. 

Numa panela de pressão (sem a tampa, não é pra meter pressão AINDA), coloque um pouco de azeite. Mais ou menos 2 goladas. Recomendo usar a cabeça, e não a boca pra medir 2 goladas. Deixe esquentar por uns instantes e jogue a cebola picada. Ah, companheiro... o cheiro disso é bão dimais. Você deve mexer com uma colher de pau durante uns 5 minutinhos, até a cebola começar a ficar meio transparente. Isso significa que ela tá fritinha, e aí começa a mágica. 

Misture, agora, o alho. Eu costumo empurrar a cebola pros cantos da panela abrindo uma clareira, e tacar o alho lá dentro. Porque, em contato com o fundo da panela, o alho frita rapidinho, e fica com aquele crocante legal. quando ele começar a ficar queimadinho, e fica esperto porque isso acontece bem rápido, mistura tudo. Putz, o cheiro da cebola e do alho fritando juntos é indescritível.

Agora o tomate. Manda ele todo lá no meio e fica mexendo, durante um tempo. O tomate começa a se desmanchar, fazendo daquilo tudo uma pasta. Taca lá dentro uma folha de louro (ah, ana maria braga... que saudades da senhora), inteira mesmo, nem precisa picar. Agora, um lance importante pra rabada: açafrão. Pode ser daqueles saquinhos de tempero que vende no mercado, mesmo. O açafrão é um tempero meio vermelho. Dá uma sapecada lá dentro, que deve dar, mais ou menos, uma tampinha de garrafa de breja. Se não sabe o quanto, compre uma breja, beba, lave a tampinha, seque, encha de açafrão e enfie no rabo (no bom sentido, claro). Pode ser, no mínimo, uma boa desculpa pra enxugar mais uma. Misture tudo, jogue sal com comedimento e voilá: Nesse momento, parabéns, compana: você acabou de fazer um refogado! 

Se você é do tipo que curte dar uma caprichada, recomendo picotar umas folhinhas de manjericão e orégano frescos (ui!). Guarda isso, orégano e manjericão funcionam bem em qualquer coisa que se possa mastigar. De pão com manteiga a cavalo no rolete, vai na fé que sempre ajuda.

Pegue a leiteira da mãe (ou da patroa), encha de água e bote pra ferver. Depois te explico pra quê você vai precisar disso.

Agora, voltemos à vaca fria. Fria mesmo, porque o rabinho ficou guardado e deve ter esfriado. Jogue todo o rabo dentro da panela de pressão com o refogado. Mistura direitinho, dá um certo trabalho, mas eu sei que você consegue. 

Com muita parcimônia, vai tacando aquela água que ferveu. É importante ela estar quente. A vaca faz a maior frescura com esse rabo, e se vc meter água fria, o rabicó da mimosa endurece e aí ferrou com a tua receita.

Isso, jogou a água toda? Misturou? Então continua a misturar até a água ficar cremosa. A essa hora o cheiro começa a ficar bem legal. Essa misturada aí deve levar uns 30 minutos. Aproveite pra tomar mais umas brejas. Só fica atento pra não deixar o nível da água descer demais. Tem que ficar na altura dos rabinhos. Ou seja, nenhum rabinho fora d'água, entendeu?

Quando a água estiver cremosa, e o nível estiver legal, feche a panela de pressão. Conte, a partir de agora, meia hora no relógio. Se você pensa que vai aproveitar essa meia hora pra tomar mais brejas, acertou. Tome mais meia hora de breja.

Mas, se você pensa que vai ficar ali, de perna pro alto tomando breja, errou. Enquanto a panela faz o capeta com a sua rabada, você deve picar meio maço de salsinha e cebolinha. Fica esperto na hora de comprar porque a salsinha se parece muito com o coentro, e são duas coisas completamente diferentes. Digo isso porque eu mesmo já fiz essa cagada algumas vezes.

Passada a meia hora, brejas na cara e salsa picada, hora de abrir a panela. A rabeta deve estar molinha, e você pode até tirar um tequinho pra experimentar. Se ainda estiver meio dura, cheque o nível da água, feche a panela e manda mais 10 minutos. 

Se ela estiver bem macia, pode jogar lá dentro a salsa picada e a cebolinha e se plepalar pla mistular a labada dulante tleze minutos. Com a panela aberta, não é mais pra mandar pra pressão.

Agora é só jogar tudo, com água e o escambau, numa boa travessa e chamar a mãe, a patroa, o pai e os vizinhos pra comer. 

Uma informação importante: a cozinha ficou um inferno. Tome todas as providências para que a dona da cozinha não tenha que ir buscar nada lá até o final do almoço. E não coma demais, pode ser que você precise correr quando virem a bagunça.

Custo da rabada: R$15,00 por 1,5kg. Honesto, vai. Ainda tem a cebola, tomate, alho, tempero e água, mas nem vou colocar isso na conta.
Rendimento: Umas 4 pessoas, se não forem vikings nem ogros.
Tempo de preparo: Umas 3 horas. Sirva bêbado. Bem bêbado.

Receitas de panela: o início de uma série

Comecei este blog em janeiro. Mais precisamente, no dia 2 de janeiro. Naquele momento estava eu, embriagado pela alegria e cerveja dos primeiros dias do ano, devidamente refogado na piscina da casa de um amigo, sentindo os trinta e tantos graus celsius torrarem os meus parcos e desfigurados neurônios, conversando preguiçosamente com os fiéis companas de sempre sobre qual especiaria jogaríamos na churrasqueira nos momentos posteriores e palpitando irresponsavelmente sobre temperos e maneiras de preparar cada carne, quando alguém sugeriu que eu compilasse tudo isso num livro. Rimos, fizemos a carne e fomos cada qual pra sua casa descansar o esqueleto pra jornada de cerveja e churrasco que viria no dia posterior.

Foi quando eu comecei a pensar na história do livro. Na verdade, livro me pareceu demais, mas um blog cairia como uma luva. Liguei o micro e bora pro Blogger.com (nerd é assim: vai pra praia, mas leva o micro). Em alguns minutos, tava criado o "Deitando o gato na grelha". Nem o nome deu trabalho, porque eu costumo mesmo usar essa expressão. Meus amigos tem dezenas de sms nos seus celulares escrito "bora lá queimar um bichano", "vamos deitar um gato hoje?". 

Despretensiosamente, escrevi o primeiro post: "Lugar de boi é deitado na grelha", sem ter a menor idéia de onde isso ia terminar, e sem pensar se eu ia ter repertório pra escrever mais do que um mês de blog.

Aí o blog foi ganhando audiência, os leitores deram dicas fantásticas, eu comecei a experimentar e o bonde andou. Hoje esse blog anda fácil, tenho bastante pauta guardada na manga, a linha editorial tá bem definida e quando falta idéia, a ana maria braga faz alguma merda e alegra os nossos corações. Mas eu não contava com um detalhezinho...

Há cerca de um mês, eu simplesmente pensava na receita, ia no mercado, comprava a carne e deitava na grelha. Depois escrevia aqui e Gol do Brasil. Até que chegou um dia em que eu abri a porta do quintal e fui tomado por uma massa de ar frio que me queimou as sombrancelhas. O inverno tava aí, com um frio de cair o rabo do cachorro. E eu tremi. Não de frio, mas de medo de tentar fazer um churrasco no quintal e terminar como nas propagandas da NET: na Sibéria falando skavurska. E antes que aparecesse um Lada e uma garrafa de vodka na minha garagem, resolvi tomar uma atitude.

Essa vida de churrasqueiro, aos poucos, me apresentou a um grande prazer que eu não conhecia. Antes que você comece a pensar bobagem sobre a minha pessoa, estou falando do prazer de cozinhar. E com isso, além de mandar todas essas carnes na churraca, tenho também me dado bem com as panelas. Já foi o tempo em que eu pensava em comer alguma coisa bacana e tinha que pedir pra vó fazer. Ainda prefiro a comida dela, mas admito que não passo mais vontade. Com a diferença que aqui em casa não tem folhinha pra decorar a comida, não. É panelinha e fogãozinho, mas o sistema continua bruto!

E, a partir de agora, vou postar algumas receitas de carnes e afins.. feitas na panela. Nos próximos dias, inauguraremos com a rabada que eu fiz domingo que tava maaaaaster.

Costelinha de porco ao chimichurri

No início de tudo, Deus tirou uma costela de Adão e fez a Eva. Adão, espertalhão, comeu a maçã da Eva e a merda tava feita: tomaram um rapa do paraíso, o bicho pegou e assim vamos até hoje. E não me pergunte como Adão e Eva, seres humanos, viraram macaco, depois neanderthal e depois gente de novo, porque eu faltei nesse dia e fui mal nessa prova, ok? Mas voltando ao assunto, se Deus tivesse poupado a costela do pelAdão e tivesse usado uma costela de.. de.. sei lá, de porco, a história teria sido bem diferente: Deus tiraria a costela do porco, olharia pra ela... olharia pra ela.... olharia pra ela... assaria e comeria. E a essa hora Adão tava todo feliz lá, no paraíso, jogando bola, tomando cerveja e comendo churrasco. Ele e a serpente. Xiii.....

Deixemos Adão de lado (não no sentido de mudar a posição em que se encontra, no sentido de desencanar dele, ok?), e vamos nos preocupar com que realmente importa neste post, porque isso é uma receita e eu já inventei tanta merda que tou quase perdendo o rumo do post. A parada que interessa é que Deus tirou a costela do porco, assou e comeu. E se Ele fez isso e achou gostoso, a gente também é filhinho dEle e tem o mesmo direito. Como Ele escreve certo por linhas tortas, se esqueceu de contar como é que a costela do porquinho ficou tão divina (olha o trocadilho-lho-lho). E, como de linha torta entendo eu (minha letra é feia que é o cão), transcrevo em arial tamanho 12 as palavras do senhor:

"E, no sétimo dia, deitarás a costela do porco cortada em ripas na bandeja, depositarás o chimichurri sobre ela e descansarás sobre o altar durante sete dias e sete noites*. Então o fogo da churrasqueira queimará todo o alimento, e aquele que experimentar tal oferenda será expluso do paraíso para as trevas sem fim"


* Tá 7 dias e 7 noites tem um puta apelo dramático, mas se vc deixar marinando durante esse tempo todo, será expluso da cozinha pro banheiro e lá sim, permanecerá sentado durante 7 dias e 7 noites. Portanto, deixe a costelinha no molho chimichurri durante mais ou menos uma hora. É o suficiente.

E pode esquecer a conspiração Código DaVinci: molho chimichurri não é uma senha pra abrir artefatos mirabolantes nem nada do tipo: no post anterior, eu e você vimos a diferença entre nossos vizinhos argentinos e o homem de neanderthal. Vimos também que se o homem de neanderthal tivesse sido argentino, a humanidade teria hoje sérios problemas em relação a cortes de cabelo masculinos, mas a subsistência desde a idade da pedra até hoje teria sido mais suave, o neanderthal teria sido um primata mais sorridente e a carne de mamute teria sido muito mais gostosa em função de uma maravilha da culinária portenha: o Molho Chimichurri.

Pois, agora que você sabe FAZER o molho, vamos achar uma maneira de USÁ-LO. A receita, em si, é simples assim. Deixa a costela no chimichurri durante uma hora num recipiente, depois deita o porquinho na grelha, espera ficar pronto e come. Essa costela fica boa de neanderthal nenhum botar defeito.

Uma dica legal: Se você quiser molhar a carne depois de pronta no molhinho, o que fica animal, não ponha sal no molho chimichurri, deixando pra salpicar sobre a costela já no fogo. Faça um pouquinho mais de molho, de maneira que vc consiga guardar um pouco. Assim, quando a costelinha ficar pronta, vc pode molhar os pedacinhos no chimichurri e lavar a alma. Eu tou contando que você não vai fazer a porcaria de molhar a carne assada na bandeja onde a costela ficou descansando, ok? Infelizmente, carne crua não faz bem, principalmente a de porco. E se a costela ficou descansando naquele molho, não se esqueça de que já tem um porco na receita e você não precisa ser como ele: larga mão de nojeira e joga fora esse molho. Ah, você entendeu a moral da história: se quiser molhar a carne, guarde um pouco de molho antes.

Dica 2: Fica mais legal se você deixar assar bem, como tá cheio de azeite ela dificilmente vai ficar seca. E quanto mais bem passada, melhor você sente o sabor do "tche meu molho". Não entendeu a piada? Leia o post anterior!

Coisa de argentino: Molho Chimichurri

Tem gente que diz que o churrasco foi inventado pelos argentinos. Não foi. Tem gente que diz que foram os uruguaios. Também não foram eles. Os paraguaios venderam cópias falsas, mas também não inventaram. E nem os brasileiros e nem nenhum povo que existe aqui hoje. Antes mesmo do conquistador Francisco Pizarro colocar seus pés do lado de lá da américa latina, os Incas e Maias já deitavam suas lhamas na grelha. Os egípcios também já deviam dar suas dentadas numa corcova de camelo mal-passada. Fora os Godos,Visigodos, Hunos, Vikings e outros trogloditas que comiam a carne de qualquer coisa que se movesse. Até de gente. 

Quem inventou o churrasco foi o primeiro Neanderthal que matou o primeiro mamute e tacou o bicho no espeto pra impressionar a primeira garota. E como as garotas da era do gelo tinham muito menos frescuras que as nossas, ele não precisava nem preparar a abobrinha: deitava o mamute na grelha, cantava uma canção do Roberto e CRÉU: lá tava a garota de neanderthal na caverna dele. E assim se perpetuou a espécie até chegar onde chegamos. 

Se você tá pensando que o personagem deste post é o Homem de Neanderthal, está muito enganado. Não confunda, o personagem de hoje é o Argentino. Sim, aqueles que moram ali logo ao lado do paraguay, fãs de Evita, Maradona e Carlos Gardel. 

Responda rápido: qual dos dois homens acima NÃO  é o de neanderthal?

Brasileiro falando de argentino é piada pronta. Fica fácil sacanear, primeiro porque existem mil diferenças entre nós que já foram exploradas até a chatice pelos casseta e planeta da vida. E outra que eles não estão aqui pra se defender mesmo. Mas neste post não vamos sacaneá-los só porque eles acham que entendem mais de futebol do que a gente. Neste post, abraçaremos nossos hermanos, e abrimos mão de toda e qualquer sacanagem que possamos falar a respeito dos seus hábitos, manias e cortes de cabelo (hehehe). 

E, ao contrário do futebol, se tem uma coisa que esses caras entendem, é de churrasco. Parrilla, como eles dizem por lá. O nome não importa, o que vale mesmo é que tanto do lado de cá, quanto do lado de lá da fronteira, deita-se o gato na grelha com uma propriedade vista em poucos lugares do mundo. E, ultimamente, tenho me aventurado na culinária de lá pra saber o que é que essa parrilla tem. Ainda estou me acostumando com o fato de comer churrasco de miúdos, testículos ou linguiça de sangue de boi, mas tem coisa muito boa nas receitas de lá. 

Como, por exemplo, o convidado de hoje: o molho chimichurri. Bora lá no gooogle dar uma olhada qualéquié:

De etimologia controversa, alguns indicam sua origem em imigrantes ingleses que habitavam nas pampas e que acostumavam acompanhar as carnes com molhos a base de curry. Quando solicitavam o molho, o faziam utilizando a expressão inglesa give me the curry (me dá o molho) ou misturando o idioma local che mi curry (tche meu molho). E há quem diga que um comerciante britânico conhecido como Jimmy Curry, inventou o molho, e de seu nome surgiu a palavra.
Parece mais provável, a versão que dá sua origem na palavra basca tximitxurri , que significa mistura no seu idioma original, e definiria bem o que é realmente um chimichurri.

Tche meu molho é a melhor. É a versão portenha do uai, meu moio mineiro, ou do oxente... me dá meu molho? bahiano ou do urra, meu.. meu molho! do paulistanês que só o faustão fala. Gostei, vou usar essa.

Os argentinos usam o Tche Meu Molho pra preparar a carne antes de assá-la, ou pra dar um agrado depois de pronta. No caso desta receita, utilizei o molho pra temperar antes de assar, e há uma diferença entre as duas versões: no caso do tempero pré-churraca, você pode utilizar ingredientes frescos (ui!), e no caso do pós-carvão, pode fazer um molho com ingredientes desidratados e deixar pegando gosto por dias.. Trabalharemos com a primeira opção.

O chimichurri (tche meu molho) é um condimento à base de vinagre, azeite, alho, cebola e salsinha. Na verdade, pesquisando porcamente pela internet você vai encontrar 300 receitas diferentes de chimichurri. Se for no site da ana maria braga, deve achar uma receita de chimichurri de abricó com sabão de coco e uva passa ou qualquer outro ingrediente sem sentido que só ela sabe fazer. Na nossa receita, procurei seguir uma receita argentina, mas acabei, como sempre, botando algumas coisas a mais. Ficou bom demais, então tá valendo. Vamos aos trabalhos.

Arrume um pote pra preparar o molho. Algo que caiba o conteúdo de uma lata de breja e meia funciona bem. Beba as cervejas, encha de água, experimente os potes da patroa e jogue a água fora. Assim que faz.

O primeiro passo é jogar um tanto de vinagre. Mais ou menos meia xícara, pouquinho mais. O vinagre tem que ser de vinho, e não de maçã. Se você não sabe a diferença entre um e outro, o de vinho é vermelho e o de maçã é verde. Embora exista vinho verde e maçã vermelha, mas isso é só pra te confundir.

Vinagre cheira mal, não é? O milagre dessa receita é que você vai tacando os ingredientes, e o molho começa a cheirar cada vez melhor, até você sentir vontade de dar um gole naquilo. É quando você percebe que tá pronto e você acertou a mão. Um passo por vez, já diria o saci. Vamos, então ao próximo.

Pode preparar o espírito pra picotar uma cebola inteira. Descasca a bichinha, corta em 4 e começa a picotar. Um adendo importantíssimo: por mais que possa arder o seu olho, não chore. Prefiro deixar a cebola queimar a minha retina do que chorar pra uma receita argentina. Lembra do "Não chores por mim Argentina"? Então, não faça isso. Engole o choro e mete a faca na cebola. Como sempre digo: picote a cebola com carinho, até ficar bem pequeninha. O cuidado que você tem com os ingredientes sempre se transforma em benefício pra qualidade da sua comida (puta frase de efeito, hein? Vou colocar no meu orkut).

Tacada a cebola lá dentro, agora vamos ao alho. Pegue dois ou três dentes de alho e picote bem pequeno. O alho bom é aquele que vc picota até virar uma pasta. Não sou fã desses alhos prontos que já vem moídos. Dá uma puta vontade de vomitar mexer naquele treco, enquanto o cheirinho do alho sendo picotado é bom. Sendo assim, mande a sua preguiça pro paraguay e picota essa coisa. 

O sal. Taí uma coisa controversa. Vai ter gente que vai me dar bronca por estar colocando sal no chimichiurri. Mas não nos esqueçamos de que este chimichurri vai temperar a carne que ainda vai pro fogo, logo, ele deve ter sal. Coloque um punhado de sal grosso (uma mãozada, sem ignorância) no meio do vinagre, da cebola e do alho. Enquanto você prepara o resto, o sal grosso vai derreter com o liquido e misturar legal. E eu acho o sal grosso mais gostoso que o sal normal, por mais que isso possa parecer maluquice.

Hora das ervas. Prepare o seu personal Bob Marley e mande ver. Se você não esquecer, continue lendo este post porque o chimichurri ainda não acabou. E para com essa risada porque essa é uma receita séria, ok?

A primeira erva que eu coloquei foi o orégano fresco. Isso porque ele tem mais sabor, e já vai misturando com o molho enquanto vc prepara o resto. Picote pequeno apenas 3 ou 4 folhas do fresco. Ah, e ele é fresco no sentido de ter sido retirado do pé há pouco. Não no sentido de gostar de gloria gaynor ou freddie mercury. Se não tiver do fresco, coloca um punhado do orégano de pacote que funciona também.

Manjericão fresco também é legal. Na última vez, pedi à patroa que me aparecesse com umas folhas de majericão, e ela me veio com um tal de manjericão roxo que, pasmem, era roxo mesmo! Bom, picote umas 5 folhas e manda brasa.

Uma única folha de louro picotada só pra dar trabalho. No caso da ana maria braga, recomendamos decapitar o louro mais próximo, pisar 10 vezes na sua cabeça, moer o seu corpo no liquidificador e jogar tudo no lixo. Voltemos às ervas.

A salsinha é a base verde do chimichurri. Portanto, pode jogar um meio maço aí. Lava bonitinho, tira o excesso de talo, deita na tábua e começa a meter a faca. A sensação de destruir a salsinha com a faca é indescritível. Procure moer a salsinha até ficar pequena. Joga tudo no pote.

A cereja do bolo é, como sempre, o azeite (ai, a luma de oliveira...). Jogue na gororoba uma xícara de azeite, ou mais. Em alguns casos, recomenda-se utilizar óleo de girassol, porque o azeite tem um sabor mais forte. Como estamos usando essa receita pra temperar carne que ainda vai ao fogo, pode ficar forte que o calor sauviza isso. 

Só pra dizer que caprichou, você ainda pode dar uma pitada de pimenta do reino, ou picotar uma ou duas bolinhas de pimenta baianinha. Ou colocar a pimenta de sua preferência. Lembrando que o chimichurri é um molho que tem por objetivo ser suave, e se você encher tudo de pimenta vai poder temperar a carne, o miojo ou um paralelepípedo que todo mundo vai ficar com o mesmo gosto: o de pimenta.

Agora vc deve misturar tudo. Note que o cheiro começa a ficar delicioso. Dá mesmo vontade de dar uma golada nesse negócio. Mas não faça isso, ok? Certas coisas tem cheiro bom e gosto forte.

Basta deixar descansar por algum tempo, o quanto a sua ansiedade permitir, e temperar a carne. Acho que uma alcatra em cubinhos no espeto ficaria muito legal. O mesmo do contra-filé. Os argentinos utilizam este molho no bife de ancho, que é um bife alto, macio e bastante saboroso. 

No meu caso, fiz pra temperar uma costelinha de porco que ficou de fazer a ana maria braga passar por baixo da mesa. Mas isso é assunto pra outro post.

Observação: Conheci, ao longo dos 32 anos que tenho, vários argentinos. E posso garantir: todos, sem uma única exceção foram extremamente simpáticos, educados, gente boa mesmo. Por mais que os dois povos adorem se sacanear, fica registrado aqui o meu carinho pelos nossos vizinhos ruins de bola :-)

John Locke e a máquina

Quem já assistiu Lost alguma vez na vida, sabe que tem uma fumaçona preta que quebra geral, sabe que teve a iniciativa Dharma que inventou um monte de fanfarrices e sabe também que o John Locke é o cérebro da turma. Um cara capaz de fazer de tudo pelo bem-estar da rapaziada, praticamente o pai de todos, o fura-bolo e o mata-piolho numa pessoa só. Mas olha o que ele descbriu dessa vez.

Há! Manual de primeiros socorros!

Este post é uma homenagem a um dia tão cheio, mas tão cheio de trabalho, que tudo o que me resta nesse momento é rir pra não chorar :-)