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Camarão na moranga

O calendário gregoriano é mesmo uma coisa de louco. Caso o nobre leitor não saiba, gregoriano é o calendário que nós utilizamos, onde cada semana tem 7 dias, cada ano tem 12 meses, cada dia tem quase 24 horas e quase todo ano temos 365 dias.

O papa Gregório XIII inventou tal aparato para corrigir o falho calendário Juliano, desenvolvido anteriormente pelo incauto romano Júlio Cesar, que já deu nome a um monte de gente, mas perdeu a autoria do calendário e teve de aceitar essa pro papa. 

A loucura começa pelo fato de termos um calendário feito por um papa. É como se tivéssemos uma estrada construída por um criador de javalis, ou uma cidade arquitetada por um garçom. Não que o garçom não tenha seus talentos, mas eu aaaaacho que construir cidade é uma coisa meio complexa. Enfim.. A segunda loucura é que o seu Gregório inventou um calendário falho pra substituir um calendário falho. Taí o ano bissexto que não nos deixa mentir. Ou seja: deu um chega pra lá no imperador e até hoje temos que trabalhar um dia a mais de 4 em 4 anos.

E, já que o assunto aqui é gente que faz caca, venho eu admitir que sim, malacamente fiz uso da incompetência gregoriana pra assumir que tive, nos últimos meses, uma semana tão longa que faria corar Maias e Astecas, com seus calendários assombrosamente finalizados neste malfadado ano de 2012. Se o leitor vislumbrou o post passado, pode notar que, dizia eu, que "semana que vem" redigiria a doce história de um camarão que penetrara (ui) na moranga para produzir uma quente e cremosa gororoba, porém jamais imaginava que passaria por uma semana que começaria em janeiro, e terminaria quase em abril. Culpa do seu Gregório, o XIII.

Pois bem, já que começamos com as pataquadas astronômicas do bondoso papa, vamos nós nessa aventura que o querido leitor vai ver com seus próprios olhos como se vai do céu ao inferno numa única receita.

O camarão na moranga é uma comida típica brasileira, e basicamente compreende uma das mais improváveis combinações gastronômicas já imaginada: Trata-se de uma gororoba de camarão com catupiry enfurnada dentro de uma doce e assombrosa abóbora. 

E vem comigo que a coisa por aqui vai ficar feia.

Primeiro, vamos à gororoba de camarão.

Tudo começa, como quase tudo em culinária, no bom e velho refogado. Se o leitor não sabe do que se trata, é uma fritura de cebola, tomate e alho picados. Mas vamos fazer esse treco direito.

Picota bem pequenina uma cebola média. Tira a casca, faz a coisa direito. Sem chorar, cowboy. Reserva esse trem aí num pote. 

Agora picota uns 2 ou 3 dentes de alho. Reserva em outro pote. Vais sujar um monte de louça mesmo, depois vc se vira com ela.

Picota uns 2 tomates grandes também. Tendo em mente aquela coisa chata dos coliformes fecais, recomendo seriamente que dê uma lavada nos tomates antes da lavagem picotagem*.

* adendo: eu havia escrito que deviamos lavar o tomate antes da lavagem. Os sábios leitores me avisaram do grande erro lógico que me acometera. Agradecido!

Aí você pega uma panela grande (não esquece que vais jogar catupiry, camarão e mais um monte de coisa lá dentro), joga azeite até cobrir o fundo e deixa dar uma esquentadinha. Quando achar que tá meio quentinho, taca a cebola lá dentro. Uma folha de louro ajuda. 

Quando a cebola começar a ficar amarelinha e meio transparente, joga o alho e mistura bem. O alho frita rapidinho, então fica esperto nos pontos pretinhos na panela. Quando o primeiro pontinho preto aparecer, fica esperto e taca lá dentro todo o tomate que já tenha picado. Se não deu tempo de lavar, manda com coliforme e tudo, o que não mata, engorda.

Dá uma mexida aí nessa coisa, vc vai notar que os tomates começam a se desfazer. Vai mexendo gostosinho gostosinho rebolando até o chão [/leandro e leonardo].

Tenha em mãos um belo e glamouroso kilograma de camarão limpo. Pode ser qualquer camarão, e a razão diretamente proporcional entre o prejuízo no seu bolso e o tamanho do camarão impacta diretamente no sucesso da sua receita. Desde que esteja limpo, sem pele, sem rabo, sem cabeça e sem pezinhos. Tirou tudo isso, pesou 1kg, é disso que a gente tá falando.

Manda esses caras pra dentro da panela. Mexe mexe que é bom de novo.

O camarão começa a perder um monte de água, e eles vão diminuindo de tamanho, enquanto você acompanha, literalmente, o seu dinheiro evaporar. 

Primeiro, faz um monte de líquido na panela. Depois, esse líquido vai evaporando e o caldo começa a ficar mais grosso. Tamos chegando no caminho.

Se você tiver um cubinho de caldo de camarão, taca dentro. Se não tiver, taca um de legumes. Se não tem de legumes, nem pensa em mandar aquele tempero de feijoada, sazon ou caldo de carne. Aquele lance da propaganda que todo mundo acha gostoso e sai gritando que É O AMOOOOOOOR só acontece no comercial. Se você mandar um caldo de carne no camarão, estragou o camarão. Se não tem caldo nenhum, ao final da receita vc acerta o sal e pronto. 

Entornando o caldo, o que temos aqui é uma panela fervilhando de camarão, tomate, cebola, alho, tempero e água. Joga lá dentro um vidrinho de leite de coco, isso aí dá um agrado ímpar a essa receita.

Quando der uma boa evaporada no seu rico dinheirinho na água do camarão e o caldo estiver ficando grosso mesmo, joga lá dentro metade de uma daquelas bandejas de catupiry. Pode ser uma bisnaga, enfim. O ideal mesmo é aquele catupiry que vem no potinho (que parece uma bandeja, que antes era de madeira), mas pode ser o de bisnaga.

Mais uma vez, a razão entre o quanto pagou no queijo e o quanto sua receita vai ficar gostosa é diretamente proporcional. Resumindo: não manda aquele "requeijão biriba" pra uma receita cheia de camarões. Manda catupiry de verdade, ou alguma coisa BOA lá pra dentro.

Ok, feito isso, mistura um pouco e deixa. Vamos pra abóbora.

Eu, sinceramente, nunca entendi os americanos. O fato deles acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, eu até aceito. O fato deles comerem pasta de amendoim e omelete de manhã, até dá pra entender. O fato deles não gostarem de futebol e acharem o máximo jogar taco no estádio, passa. Mas esse lance muito louco de ter medo de abobora eu não entendo MESMO. Tá certo que é helloween, aquela coisa toda, mas poxa.. uma abóbora, sempre vai ser uma abóbora. Um vegetal, como cenoura, pepino e acelga. Embora acelga seja meio esquisita mesmo.

Pra provar que esse lance de medinho é coisa de maricas, cá vamos nós bancar o sacripantas e retirar o cérebro da fruta lá de dentro.

Você pega uma faca afiada, e arranca a tampinha do alto da cabeçona dela. Imagina uma tampinha redonda, começa a cortar. Tá feito. 

Mete o mãozão lá dentro (dá uma lavada, né fanfarrão), retira todo o conteúdo e pronto. Você vai ter uma abóbora oca, inofensiva, incapaz de assustar o mais frágil dos barak obamas. 

E antes que você possa falar "Shake Your Ass, mr. Pumpkin-head", passe a mão no óleo da sua cozinha e esfregue nas paredes internas da cabeçona de abóbora ali. Pouco óleo, é só pra dar uma molhadinha.

Pra que? Pra passar batom, de que cor? de cor de violeta. Na boca e na buchecha Pra abobora em si começar a ficar molinha.

E por falar em molinha, saca que moleza: mete a aboborona dentro do seu microondas e deixe lá uns 2 minutos. Abre, cuidado pra não queimar esse dedão duro. Se ela tá ficando um pouco mole, tira de lá. Se ainda tá muito durenga, vai deixando mais um minuto, conferindo o estado da fruta com frequencia.

Aqui vem o grande momento da sua abóbora. Pensa comigo:

At the blue corner, você tem uma abóbora acéfala, meio molenga. E at the red corner você tem um líquido muito louco de camarão e mais um monte de coisa. A missão aqui é colocar um dentro do outro, preferencialmente o camarão dentro da moranga, sem nocautear a sua receita e sem golpe abaixo da linha de cintura.

Se você não tomar cuidado, sua abobora vai quebrar e todo o seu dinheiro camarão vai pelos ares pelo chão.

Portanto, não faça como eu fiz, e coloque uma bandeja debaixo da abóbora. Feito isso, deposite no fundo da abóbora o outro meio pote de requeijão. Feito isso também, jogue aquele líquido todo de camarão e coisas. Isso tudo vai, agora, pro forno. Não se esqueça da lambança que acontecerá caso esqueça da bandeja debaixo da abóbora.

Veja com seus próprios olhos:


sim, leitores. isso aconteceu comigo.
aí aprendi a forrar a abóbora, como podem ver na de cima.

Recolhido do chão, a família nem percebeu o gostinho de ODD. 
malandragem também faz parte da culinária, vai aprendendo com o tio.

Agora, deixe no forno o tempo de você tomar umas duas cervejas, retire com todo o cuidado do mundo e seja feliz.

Casquinha de siri

Isso que eu vou contar aqui vai me denunciar a idade. mas eu preciso dizer que dia desses, lembrei sem querer de uma das bandas que mais tocavam nas rádios antes das rugas habitarem a cútis facial deste que vos fala.

No distante tempo no calendário gregoriano, no qual este ainda ostentava espinha, kichute, transcaloi e lição de casa, as rádios vigentes eram sempre povoadas pelas letras sórdidas de um gaúcho dos pampas chamado humberto gessinger. 

Gessinger era o cara que dizia que o papa era pop, que infinita mesmo era a highway e que a juventude era apenas uma banda numa propaganda de refrigerantessssss. Havia um garoto que, como ele, gostava dos beatles e dos rolling stones. E ainda tinha uma garota chamada Ana, cujos lábios eram labirintos, Ana, que lhe atraíam os instintos mais sacanas.

Tal e qual o poeta-safado com pinta de capoeirista djavan, humberto gessinger desenvolveu a teoria da composição artística baseada no aleatório, uma verdadeira genialidade do descompromisso. Artistas como gessinger e djavan conseguem reunir numa única frase coisas como um açaí, zum de besouro e um íma. E fazer as pessoas gostarem de ouvir essa coisa. Ou então, desfilar que existem sim paralelas que se cruzam, mas lá em Belém do Pará, confundindo gente culta e aumentando involuntariamente o contingente turístico da região.

A isso se dá o nome de fanfarrice. Safadeza, gatunice, malacagem. Ato ou efeito de camuflar outrém sob a flâmula da malandragem.

Se você estava tentando entender o que isso tudo teria a ver com uma simples e honesta casquinha de siri, encontramos, aqui, um paralelo. E olha que nem precisamos viajar ate Belém. Primeiramente, porque se tem um cara que entende de paralelo, esse cara é o siri. Ou o nobre leitor acha que um cidadão que anda de lado não entende de paralelo? E outra que o siri é mesmo um cara safo. 

Cidadão olha pro siri, e de repente.. cadê? Dois passos pro lado e já era o crustáceo. Ou então, cava um buraco na areia e pronto, tchau siri. E vacila com esse dedão pra você ver se não toma um beliscão. 

Definitivamente, o siri é casca grossa. Literalmente. E essa receita aqui é tão malaca quando o siri, porque começa te levando a crer que vais comer a casca do siri quando, na verdade, vais comer só a carne. O que julgo ser uma vantagem, não fosse o infortúneo de comer isso tudo montado numa conchinha. 

É, caro leitor. O siri é um cara cheio de traquitanas, que te faz pensar que vai comer a casca, mas vai comer a carne. E mesmo não sendo na casca, é na concha. Foi logrado e nem notou, amigo.

A casquinha de siri em si todo mundo já comeu. E se alguma vez você já se perguntou que diabos vai lá naquele treco, pode dispensar o indiana jones aí do seu lado, porque eu ajudo a esclarecer o enigma. Na casquinha de siri vai um mooooonte de coisas. A primeira delas é carne de siri. Vem comigo.

Vamos partir do princípio que você tem as conchinhas em mãos, ou pelo menos tem algum invólucro pra montar as casquinhas. Se não tem nada, compre uma caixa de cerveja, tome todas as cervejas, corte cada latinha na metade e utilize a meia-lata como concha. Não vai te ajudar a abalar os corações das garotas, mas que funciona, funciona.

Pasmem, mas o ingrediente que predomina na casquinha de siri é mesmo... o pão. Parceiro, como vai pão naquele negócio. 

E já que estamos falando de pão, pegue 3 fatias de pão de forma e coloque pra dormir num pratinho repleto com uma garrafinha de leite de coco. 

Tá vendo como essa receita é uma fanfarrice? Aposto que nunca imaginou que lá dentro tinha pão e leite de coco, não é? Lembra do açaí e do íma? Mesmo princípio.

Ok, deixamos o pão no leite, tira o gato de perto e continuamos com a receita. 

A carne do siri, em si, vende no supermercado. Se você prefere cavar a areia, tomar belisco e limpar o bicho, beleza. Mas eu achei mais simples comprar uma embalagem de 100g de carne de siri limpa. Aí o trabalho é jogar tudo num saquinho daqueles de freezer e mandar pra dentro o caldo de um limão. É importante deixar no saquinho, depois você vai entender. Põe tudo no mesmo saco, limão e siri. Chacoalha e deixa quieto. 

Agora vem o básico do refogado, né? Corta meia cebola em pedaços beeeeem pequenos, guarda num pote. Picota uns 2 dentes de alho beeeeeeeem pequenos e vê se não corta esse dedo, você ainda vai precisar dele. E picota um tomate inteiro, em pedaços moderadamente pequenos.

Aí vem mais uma surpresa. Picota beeeeeem pequeno, tomando cuidado pra não furar o bandaid, meio pimentão verde. Só meio.

A maneira mais maneira, com o perdão do trocadilho, de lidar com o pimentão é retirando aqueles veios brancos que tem dentro dele. Abre o bicho, que não é bicho e sim legume, e sai retirando aqueles sulcos brancos. Corta só a carne, por mais que ele não tenha carne. Você entendeu.

Agora mete fogo na boca 1 e mete uma panela ali. Dá aquela boa e velha golada de azeite, tomando toda a atenção do mundo pra somente depositar o óleo sobre a panela, e não necessariamente, degustar a iguaria. Joga azeite lá e boa.

Quando parecer que tá quente, joga a cebola. Mexe mexe que é bom [/ leonardo]. E se no mexe-mexe todo mundo apronta, aproveita a deixa e joga o alho lá dentro quando a cebola ficar amarelinha. Mexe e remexe de novo, mexendo gostosinho sem parar [/ gerasamba]. Quando tudo ficar amarelo e você começar a achar que tudo vai queimar e o que era pra ser uma receita vai virar um incêndio, jogue lá o tomate e o pimentão. Mexe mais uma vez. O tomate começa a perder água e a coisa toda acalma dentro da panela.

Lembra do siri no saco? Pois é, capitão nascimento sabe do que tá falando. O lance é fazer um buraquinho pequeno no saco e ir espremendo a carne, de maneira que todo o limão e todo o liquido possível escapem pelo buraco. Isso mesmo. Primeiro, nós jogamos limão no siri, agora vamos tirar tudo. A vida é assim, amigo. Um dia é da casca, outro do descascador. 

Quando o siri estiver sequinho, manda pra panela do refogado. Mexe mexe que é bom mais uma vez. É o beija-beija. Alguém tira esse leonardo daqui, pelo amor de Deus!! Ou seria o zezé de camargo?

Bom, o lance é deixar esse trem fervendo, mexendo sempre até que o tomate e o pimentão desapareçam. ou pelo menos fiquem bem detonados, você entendeu onde eu quero chegar.

O único e derradeiro tempero que vai nessa receita é o cominho. Mas recomendo cuidado, porque o palhaço é ladrão de mulher o cominho é ladrão de sabor. Coloque coisa como uma colherzinha de chá, apenas. Muito cominho vai te fazer preparar uma casquinha de cominho. E o bicho é indigeeeesto. Não é bicho, é tempero, mas você entendeu.

Ah, em algum momento dessa ferveção de tomate e pimentão, você pode jogar um tablete de caldo de camarão. Ou caldo de peixe. Ou caldo de legumes. Não adianta especular, não existe caldo de siri, ok?

Quando achar que tá na hora, e, acredite, você vai saber, jogue lá dentro o pão e o leite de coco. Vai mexendo, a coisa toda agora começa a virar uma pasta mesmo. Tá nojento? Estamos no caminho certo.

Sabe aquela embalagem de queijo ralado que não muda há mais de 500 anos? Pois veja só, pode jogar o conteúdo de uma dessas pra dentro da sua panela. Vai derreter, vai ficar legal. Vem comigo.

Agora a única missão é engrossar o caldo da coisa toda aí. Pra engrossar, deixe em fogo baixo e vai mandando pra dentro colheradas e mais colheradas de farinha de rosca. O que nos leva a uma reflexão...

Tu já apertou uma rosca? Tinha farinha? Então. Na minha rosca não tem farinha, então nem imagino porque diabos alguém deu esse nome a tão nobre elemento da nossa culinária, mas o fato é que devemos usar a tal farinha de rosca pra fazer a nossa maçaroca de ingredientes ficar uma pasta grossa.

Aí é só colocar essa pasta nas conchas (mas eu confesso que gostei mesmo do lance da meia latinha), e polvilhar com um pouquinho mais de queijo ralado.

Feito isso, manda pro forno, e deixa lá enquanto saboreia uma maravilhosa dose de felicidade enlatada. Quando a cerveja acabar, tira do forno e come.

Se você não perdeu nenhum capítulo da nova novela das nove detalhe desse post, vai ficar bom. Não tem onde errar, essa receita é boa e pronto.

eu não tenho mais uma máquina fotográfica, então não me restou outra opção a não ser roubar essa foto desse site.
Mas tudo indica que eles também roubaram de outro. Vida que segue.

Rendimento: Essa receita toda dá um monte de cascas. Pensando no tamanho tradicional das casquinhas, dá umas 15 ou mais.
Custo: A carne de siri custou uns 10, mais os outros ingredientes, deve ter custado uns 25 reais. Uma receita bem barata.
Tempo de preparo: 4 latinhas na cozinha, 1 no forno. Sirva feliz.

Como preparar uma Kafta mutante

No último post, falamos sobre as receitas recicláveis, aquela comida que tem a malemolência e sagacidade do batuta, capaz de ser bolo de banana num dia, e macarrão ao sugo no outro. Coisa de bamba.

Pois hoje vamos falar da comida mutante. Convoque o seu x-men predileto e vem comigo nessa aventura que começa de um jeito e termina de outro, tal e qual o mutante, que tem a perna de pau, o olho de vidro e a cara de mau. Aliás, esse não era bem o mutante, né? Mas enfim, sigamos com a nossa experiência genética que hoje eu quero ver o homem virar mosca.

Eu tenho um amigo chamado Zé. Até aí, morreu Neves, porque todo mundo tem um amigo chamado Zé. Mas segura o Neves aí, porque todo mundo tem um amigo chamado Zé, mas eu tenho um amigo chamado Zé Neves! É o amigo que já vem com trocadilho! E olha que, ao contrário do trocadilho, ele nem morreu, hein!

Zé Neves, mineirim de Cristais (abraço pra MG aí, gente!), certa vez me telefona, comunicando que estaria acompanhado de uma mineirada toda, gente que eu muito prezo, a caminho do famoso bar Mercedez aqui em são paulo. Mas não vou fazer propaganda, até porque eu nem me lembro se era no mercedez ou no mercearia. O fato é que o Zé, como mineirim, sorrateiramente movimentou todos em direção a tal boteco, determinado a fazer todo mundo experimentar um tal de bolinho de carne com canela.

Canelas. Carne. É disso que estamos falando.

Não, não é disso que estamos falando. Estamos falando de um bolinho de carne com canela. E eu, que sempre fui um defensor da comida-roots, da culinária rampeira, não conseguia entender porque não pedir uma porção de bolinho de carne e só carne e pronto. Mas mineirim é aquela coisa, né? Sorrateiramente, o Zé Neves me convenceu de que aquilo ali seria uma boa idéia, e "Ok, você venceu, batatas fritas bolinho de carne com canela" e lá vamos nós.

Quando o bolinho chegou, uma surpresa. E não é que aquele trem era bão mesmo? Bão dimais da conta, sô!

Por fim, tomamos chopp a noite toda, comemos todo o estoque de bolinhos e pagamos uma conta de um bilhão de reais na saída. Mas valeu a pena, porque o Zé Neves é um daqueles caras que sempre valem. Mas eu tive que engolir toda a minha robusteza e assumir que o bolinho temperado com canela era muito bom, ainda que parecesse receita da ana maria braga.

A questão é que não é sempre que a gente tem um bilhão de reais pra gastar numa conta de barzinho, ainda mais quando a gente nem lembra direito se o barzinho é o mercedez ou o mercearia, e decidi tomar coragem e preparar tal iguaria lá na minha cozinha, reduto da mais absoluta macheza e virilidade, que desta vez sucumbira à carne com temperinho doce.

Eis que o mais batuta dos leitores me pergunta mas-porque-diabos-tu-tá-falando-de-bolinho e ainda retruca onde-diabos-está-a-kafta?

onde está wally? onde está a kafta?

Pois é, aí que a porção mutante deste post se revela, porque se fritar vira bolinho de carne, e se enrolar no pau vira kafta. E, ruborizados, temos que admitir que preferimos a porção enrolada no palito.

Sem mais delongas, vamos à receita porque já fomos muito devagar com o andor e o santo é de barro, mas paciência tem limite.

Começamos com meio quilo de patinho moído. O ideal é pedir ao açougueiro que moa na hora, e moa duas vezes. Com isso, todos os nervinhos e afins da carne acabam sendo destruídos também, e carne não fica dura. Não se esqueça de que o patinho não é, exatamente, o orgulho da dona vaca, certo?

De posse do patinho moído, picote muito bem uma cebola pequena e mande pra dentro. Picotar muito bem significa exatamente isso que você leu: larga mão de ser preguiçoso e picota esse trem aí direito. Pensa comigo: você já tá fazendo uma comida meio afrescalhada que mistura doce com salgado, então vê se faz direito, pra ficar bom e te evitar vexame, ao menos.

Assunto compreendido, cebola picotada, aproveite esse surto de boas intenções e picote uns 3 dentes de alho. De novo, picota pequeno, sem preguiça, enfim. Não tou aqui pra te ensinar boas maneiras, e sim pra ensinar a fazer uma comida maneira. Obedece quem tem juízo (me senti o chuck norris agora).

Agora você vai precisar de um maço de marlboro sem filtro e um plano de saúde robusto hortelã, picada bem pequeninha também. Pro serviço ficar direito, lave o maço de hortelã e separe as folhas dos talos. Pro serviço ficar porco, não lava e não separa nada. Picota tudo de qualquer jeito: lesma, coliforme, talo, folha, tudo pra dentro da carne.

Hoje de manhã, não vi o criado-mudo posicionado ao lado da cama e dei uma bela tropicada seguida do mais temível dos palavrões. Então, faça como eu: meta a canela e mande tudo às favas!

Mete a canela na carne, parceiro. Isso não significa aplicar um round-house-kick no cachorro, e sim depositar o tempero no patinho moído. Não tenha dó, é pra ficar com gosto de canela mesmo. Pra 1/2kg de carne, pode depositar uma colher de sopa cheia, sem medo de ser feliz. Ah, canela em pó, ok? De pau aqui já basta o espetinho.

Sempre que usamos carne moída nessas coisas, a carne tende a ficar densa, e a comida fica pesada. A dica pra deixar mais leve, e render mais, é jogar um pouco de farinha de rosca. Se você é um cara cuidadoso e quer que a sua receita fique realmente gostosa, pode ralar um pão velho, que ele vira uma farinha de rosca bem gostosa. Se não é cuidadoso, mas ainda assim quer que a receita fique boa, veja no mercado mais próximo, geralmente eles vendem pão moído.

Uma boa golada de farinha de rosca, provavelmente uma colher se sopa cheia. Pra ajudar a misturar a farinha com a carne, você pode jogar um ovo la dentro. Mas esta parte pode ser dispensada. Se você acha que esse negócio de botar ovo é coisa de galinha, não bote ovo, a cloaca é sua.

Ponha sal com a parciônia que Deus lhe deu e misture. Tá pronto.

Pronto em partes, claro. Agora a parte mutante da receita entra em ação.

Se quiser fazer pequenas bolinhas e fritar, faça isso. Frite bem, a farinha de rosca fica crocante, bem gostoso.

Se quiser enrolar no palitinho e mandar pra churraca, faça isso. Sirva no ponto, nada de bem passado, e não deixe vermelho, pois o espeto desmonta.

A receita é fácil e gostosa. O amargo mesmo é admitir que o mineirim te levou no bico, te fez comer uma coisa que você não queria e você ainda gostou.

Custo: Aproximadamente R$10,00 no PDA. O maço de salsinha sai a R$1,30 e o resto é irrisório.
Rendimento: Se fritar, rende fácil uns 20 bolinhos. Se enrolar como kafta, rende uns 10 espetos.
Tempo de preparo: 3 latinhas na cozinha, duas latinhas na churraca. Rápido e fácil.

Receitas de panela: Arroz de coco quebra tudo

Sempre disse por aí que arroz não é comida. Arroz é acompanhamento e olhe lá. E ainda digo mais: nunca fui um adepto dessa companhia aí.

Arroz é como o miolo do pão: não serve pra nada, mas se você tirar o miolo de dentro do pão, vai ficar aquela sensação de que tá faltando alguma coisa. Imagina uma feijoada sem arroz, por exemplo. Não temos como discordar que fica meio perneta, não acha?

Diante disso, admitamos que o arroz é sim necessário. Vietcongues, eu me rendo: tragam todo o arroz que conseguirem carregar, porque este blog volta às panelas pra preparar um arroz de coco que vai chutar bundas, romper as barreiras do imaginável e fazer o palhaço chorar.

Um adendo importante: companheiro, escuta o que eu vou te dizer: mulheres gostam de caras que cozinham. Elas se derretem com aqueles que superam os limites da preguiça e baitolagem e metem a cara no fogão, preparam aquele jantar à luz de velas e mandam um Johnny Rivers na vitrola. Tá, nem precisa de luz de velas e vitrola, mas que elas curtem homem que cozinha, isso eu tenho certeza. E olha que eu sou casado há mais de 10 anos e não tenho a menor pretensão de sair por aí cozinhando e conquistando corações. Mas se funciona com a minha esposa - repito: somos casados há 10 anos, e a cada ano que passa, menos coisas que os maridos fazem arrancam suspiros das respectivas esposas - funciona com as garotas em geral. Anota isso, você pode fazer esse arroz pra sua vó ou pra sua mãe, mas também pode fazer pra uma garota, se dar bem e poder colocar no curriculo: "peguei uma garota na conta de um arroz". Repete comigo: ARROZ É COMIDA DE MULHERZINHA E É POR ISSO MESMO QUE A GENTE VAI FAZER. Beleza, escreve isso mil vezes e leia os parágrafos abaixo.

Sem mais delongas, vamos à receita. Vou começar bem do comecinho, porque acho bastante provável que muitos dos leitores daqui saibam fazer milagres com uma churraca e um pedaço de boi, mas nunca fizeram um arroz.

O primeiro passo é lavar umas duas xícaras de arroz. Sinceramente, não sei muito bem como fazer isso, então nas duas vezes que fiz, joguei o famoso migué na mulherada mais próxima e consegui que fizessem isso por mim. Pra falar a verdade, esse negócio de lavar tudo o que vem da horta é um saco, não acham? Um dia ainda vou me mudar pra um sítio no interior do nada, plantar eu mesmo os meus alimentos, só pra poder meter um brócoli na panela sem lavar, com a certeza de que não entupiram ele de agrotóxico, e que ninguém fez xixi no pé (do brócoli, não o seu próprio) durante a noite.

Beleza, arroz lavado, deixa ele guardadinho aí. De preferência num escorredor apropriado, pra deixar o arroz bem seco. Vai te poupar umas queimaduras lá na frente, vai por mim.

Agora você deve preparar uma cebola e meia. Ou uma bem grande. Ou duas pequenas. Você entendeu. Mas como assim, "preparar"? Eu não deveria picar a cebola e pronto? - Pergunta o curioso leitor. Olha, eu tenho feito arroz sem picotar a cebola e adorei a minha própria idéia. Pensa comigo: Você corta a cebola em rodelas, bem fininhas. Depois simplesmente separa as rodelas em sub-rodelas. Aí vai ficar com uma cebola transformada num monte de argolas. Pode pegar uma garrafa de cerveja, beber e depois brincar de arremessar as argolas nela.

Pode, mas não deve. Porque isso não é brinquedo, é comida. Porque vai sujar a sua cebola. Porque vai fazer a casa inteira cheirar a cebola. Vai fazer você pagar o maior mico, jogando argola e chorando. Além de ser uma idéia absolutamente idiota (exceto a parte de beber a cerveja que é, na verdade, uma ótima idéia). Além do que, tá na hora de cuidar do alho, e se você ficar brincando com os ingredientes, não vai terminar a receita nunca.

Então, larga mão de ser criança e picota bem pequeno uns 2 ou 3 dentes de alho. Deixa o alho separado num pires, não misture com a cebola. Ainda não.

Próximo passo, tenha em mãos uma folha de louro. Se você imaginou tirar uma lasquinha do brad pitt, do paulo nunes ou do roberto leal, recomendo que saia daqui imediatamente e dirija-se ao www.globo.com/maisvoce, ou procure pelo programa do ronnie von. Se você pensou em mutilar o papagaio de pelúcia que conta piadas no programa matinal, chegou bem perto, mas ainda não é isso. Folha de louro é uma folha mesmo, um tempero deveras agradável, que vende em qualquer lugar que vende tempero. Na verdade, abre a gaveta dos temperos da patroa (ou da sua mãe, se você ainda não pulou na água fria) que você vai encontrar umas folhas lá dentro. Pega uma e guarda no bolso.

Agora já estamos na hora de esquentar a barriga no fogão. Numa panela qualquer, jogue um litro de água, dois tabletes de caldo de galinha e tira o pé do chão, bota a mãozinha pra cima e bota pra ferver. Ok, quando ferver, você desliga o fogo e deixa ali quietinho.

Hora do famoso refogado. Acenda o fogo e cubra com azeite extra-virgem o fundo de uma panela razoável (imagina que aquele arroz vai crescer, e você ainda vai jogar um monte de ingredientes na panela. Tem que caber). Quando eu falo de azeite extra-virgem, eu falo de azeite extra-virgem, compadre. Não é pra encher de óleo, nem pra botar aquele azeite fedido que você roubou na pizzaria rodízio. Tou te falando pra correr no mercado mais próximo, gastar R$10,00 e comprar um azeite decente. Ele, mais do que qualquer outro ingrediente, faz a diferença nas coisas que você cozinha. Ingrediente de qualidade = comida gostosa, já dizia o matemático oswald de souza. Não faça economia porca, dizia meu avô. Eu tenho aquilo roxo, dizia o ex-presidente fernando collor.

Espere uns segundos e jogue uma rodela de cebola. Se fizer barulhinho, manda a cebola toda lá pra dentro, tire a folha de louro do bolso e mande lá pra fazer companhia à cebola. Munido de uma colher de pau, de um olho de vidro e de uma cara de mau, comece a mexer aquela coisa toda. Você vai notar que a cebola começa a ficar meio molenga e amarela. Tá fritando, camarada. Continua mexendo.

Só pra sacanear, você pode jogar ali umas 2 pitadas de pimenta do reino preta. Ela vai misturar com a cebola e com a folha de louro, e faz o capeta na sua panela.

A folha de louro, aparentemente, não serve pra nada. Mas é nessa hora de fritura que você começa a entender porque ela tá lá. Ela solta um cheiro agradável junto da cebola, e entenda que, em culinária, se cheira bem, o gosto é bom.

Olha, pensando aqui com meus botões: umas duas folhinhas de manjericão também fariam um belo agrado nessa mistura, não acha? Vai por mim e manda duas folhas de manjericão pra dentro.

Hora que estiver molenga pra mais, você pode jogar o alho. Abra uma pequena clareira na cebola, de maneira que você possa deixar o alho em contato com o fundo da panela. Deixe assim alguns instantes e pode misturar todo mundo. Na minha opinião, esse cheirinho é uma das coisas mais legais que tem na culinária de panela.

A sua missão agora é fritar o arroz. Parece meio esquisito fritar aquele negócio cru, mas vai por mim que o caminho é esse. Joga o arroz todo lá dentro, e começa a mexer. Isso vai fazer com que o gosto do azeite, com cebola, alho, pimenta do reino e louro penetre no arroz. Assim, quando ele cozinhar, vai pegar esse gosto.

Acabo de lembrar que ainda não abrimos uma cerveja. Faça um favor pra nós dois: vai na geladeira e abra uma cerveja. Dê um gole. Respire fundo. Agradeça a Deus pela inspiração dada ao ser superior que inventou a cerveja, reflita sobre a produção intelectual dos chimpanzés da Birmânia, tome outro gole e volte à receita antes que o seu arroz queime na panela.

Agora vamos a um momento que parece uma insanidade, mas é o ponto máximo dessa receita: abra um vidro de leite de coco, e mande pra cima do arroz. Quando fiz essa receita, confesso que fiquei bastante ressabiado com esse lance, porque até então, eu só tinha usado leite de coco pra fazer batida, e sempre achei que aquilo era ingrediente de sobremesa. Mas logo me convenci de que nunca na história desse país, um leite de coco deitou tão bem numa panela de arroz.

Com o leite de coco na panela, você deve mexer bem, enquanto termina aquela cerveja. Assim como a cebola, o azeite, o alho, a pimenta e o louro, o leite de coco vai ser absorvido pelo arroz, e isso tudo vai se transformar em benefício quando a garota colocar o garfo entre os dentes.

Ok, misturou, tomou a cerveja? Agora vire toda aquela água que você ferveu com caldo de galinha. Misture um pouquinho e deixe acalmar. O nível de água precisa ficar uns dois dedos acima do arroz. Se não estiver, pode completar com água da torneira que funciona do mesmo jeito. Tampa a panela, abaixa um pouco o fogo.

Tudo o que você tem que fazer é esperar. Abra mais uma cerveja e seja feliz. Abra outra e seja mais feliz ainda. Abra a panela pra ver o que tá acontecendo, abra sua mente e abracadabra: O arroz vai beber toda aquela água, enquanto você bebe algumas cervejas. É assim que funciona, quem mandou nascer arroz?

Ao contrário da briga de marido e mulher, dessa vez você deve meter a colher. Faça isso, meta a colher de pau no meio do arroz, e verifique as condições do fundo da panela. Se não houver mais água, deve estar pronto. Experimente uma garfada. Se o arroz ainda parecer meio durango, pode jogar mais um pouco de água e voltar pra sua cerveja, se estiver macio, tá pronto.

E, estando pronto, é só comer. O arroz.

Dica: Você pode preparar uma farofa pra acompanhar, certamente fica bom. Veja a receita da leitora Angela, bem legal.

Rendimento: duas xícaras de arroz rendem muuuuito. Dá pra chamar umas 5 pessoas pra comer, ainda mais porque sempre tem algum outro acompanhamento com o arroz.
Custo: O arroz custa uns 3 reais, o pacote de 1kg, e você usa meio dele. Ingredientes diversos tem custo irrisório, e o leite de coco custou uns 2,50. Um prato barato demais.
Tempo de preparo: Uma cerveja pra preparar os ingredientes, uma pra misturar todo mundo e duas esperando cozinhar. Tome rápido e faça a receita com 6 latas. Sirva feliz.

Receitas dos leitores: Farofa de cebola, por Angela Priscila

Eu já ia começando este post com uma errada. Ia escrevendo assim: "A farofa da Angela Priscila". Até aí tá ok, porque você tem que ter uma mente muuuuuito, mas muuuuuito suja pra achar que eu tou sendo malicioso. E como eu sei que essa tua mente é mesmo um poço de podridão, preferi mudar a sintaxe e me safar dos trocadilhos. Imagina o quanto isso não poderia me complicar no futuro? "A costela do Adão", por exemplo. Essa aí até vai, mas eu poderia cair numa pegadinha tipo "A linguiça do Bernardão", ou "A maminha da Julieta", e aí, fio... até explicar que focinho de porco não é tomada, lá se vai um blogueiro pro olho da rua... Portanto, ficaremos por isso mesmo. O nome da receita, mais o nome do autor. Sem mais delongas, vamos à iguaria porque essa é bem legal.

Angela Priscila nos escreveu diretamente de São José do Rio Preto, e nos iluminou com seu conhecimento no post da Linguiça Cuiabana. Ela não apenas escreveu sua receita, como também apontou um açougue em Rio Preto que vende a tal Cuiabana. E, não contente, ainda deu o endereço do local. Vai lá pra conferir e volta que a gente te espera.

Do alto do seu conhecimento, a garota em questão ajeitou o cabelo, deu uma última conferida na vestimenta e bradou:
Tou de TPM, porra!!
Não, esquece, não é nada disso. É que a minha esposa tá de tpm e o medo de voltar pra casa tá me tirando a concentração. Peço desculpas aos leitores, e peço apenas que rezem por minha alma, pois quando eu chegar em casa eu tou frito :-P

Voltando ao que nos interessa, Angela Priscila nos disse:
Lá vai a receita da farofa:
Ingredientes:
- Óleo;
- Cebola (pelo menos duas);
- Farofa de mandioca pronta para churrasco picante (Eu uso a SIAMAR, mas pode ser qq marca).
Vc corta a cebola em fatias, depois vc corta as rodelas em quatro partes iguais. Numa panela vc coloca o óleo para esquentar. Qdo o óleo estiver no ponto (quente o bastante para que ao jogar a cebola ela já comece a soltar bolhinhas, digo fritar, vc vai mexendo a cebola até que ela pegue uma cor dourada. Então, vc joga a farinha temperada e ainda mexe um pouquinho no fogo baixo. Ela deve ficar meio molhadinha. O gosto é uma delícia!! Experimente e depois me conta tá?
Boa sorte!
Abraços!!
Bom, na semana passada resolvi experimentar o quitute, e abaixo detalho a epopéia.

Começando pela farofa: não tinha em casa dessas farofas prontas, no momento da preparação. Mas havia um pacote de Farinha de Mandioca queimada. E, claro, não estou sugerindo ao nobre leitor que queime a mandioca, pois acredito se tratar de um processo deveras perigoso e um pouco desconfortável. Recomendo que compre a farinha pronta no mercado, deixando para outrém as consequências da sua fabricação. Fato compreendido: você pode usar a farofa pronta, como bem sugeriu a dona da receita, ou usar a farinha de mandioca queimada. No caso desta receita, a segunda opção.

É interessante você preparar todos os ingredientes antes, pois a farinha vai ao fogo e vira farofa como num passe de mágica. Antes que o cid moreira possa dizer que o mr. m é o senhor de todos os sortilégios, a sua farinha terá virado farofa. Mais fácil do que tirar coelho da cartola e mais simples do que a baranga que vira monga, por mais que o padre quevedo insista que mulher macaco não ecxsiste. Portanto, mãos à obra, rapazeada.

Resolvemos, eu e a minha doce esposa (tomara que ela leia isso antes de eu chegar em casa), adicionar alguns badulaques, pois a nossa farinha não tem, literalmente, gosto de nada. O primeiro ingrediente já é velho conhecido, capaz de fazer um rombo na sua coronária e infartar o seu cardiologista. Estamos falando do pequeno pedaço de alegria que responde pelo nome de bacon. Cortei duas fatias de bacon do tamanho de um polenguinho cada uma, e picotei em pedaços menores. Cada tequinho ficou do tamanho de um exército do War (magina que legal jogar war assim? O seu objetivo é eliminar todos os exércitos Bacon). Isto feito, guarda tudo num pires e vamos pra próxima etapa.


- Bacon, eu?

A cebola. Não esqueçamos assim de quem, tantas vezes, nos fez chorar. E, chorando se foi quem um dia só me fez chorar, corta a cebola em rodelas fininhas. Separa os aros da rodela (putz, será que deu pra entender o que isso significa?), de maneira que você vai ter uma cebola em argolas. Use uma cebola inteira, nesta receita, toda cebola do mundo é pouca.

Pode picotar alguns dentes de alho. Uns 3, pelo menos. Aliás, picotar não, fatie cada dente, tirando uns filezinhos de alho. Isso vai fazer o capeta na hora de fritar.

Outra que faz o capeta nessa receita é a azeitona. Separe umas 4 azeitonas, e picote com cuidado pra não se cortar (puta frase de mãe). É mega chato tentar tirar a carne da azeitona do caroço, e você pode fazer como eu fiz: de qualquer jeito. Os pedaços de azeitona ficaram cada um de um tamanho, coisa feia mesmo. Mas fica tranquilo, porque depois que misturar tudo, ninguém mais sabe o que é o que dentro daquela farofa e tá valendo.

Se você gosta de farofa apimentada, pode sapecar a pimenta de sua preferência. Eu sou fã da pimenta biquinha, também conhecida como baianinha. Ela é cheirosa e super leve. E como não sou daqueles que come sorrindo e descome chorando, prefiro pegar leve na pimenta. Mas essa fica a seu critério, picote o quanto quiser da pimenta de sua preferência.

Agora vamos botar fogo nesse negócio todo. Antes, me esqueci de que ainda não falamos de cerveja neste post. Portanto, abra uma breja agora. Quero ouvir o barulhinho, vamos lá.

Ok, com a breja aberta, o bigode molhado e a alma lavada, continuemos com a farofa.

Numa panela, jogue uma golada de azeite, o suficiente pra cobrir o fundo da panela. Angela Priscila sugeriu que colocássemos óleo, mas eu sempre prefiro o azeite. Dá uma golada na cerveja, e reflita sobre a situação política do azerbaijão meridional. Isso deve durar uns 15 segundos, e é esse o tempo que deve deixar o azeite esquentar. Pra testar, joga uma rodela de cebola. Se começar a fazer barulhinho, o azeite tá quente e a mágica pode começar.

Faça a alegria do porco em cubos: jogue o bacon lá dentro e fique admirando aqueles cubinhos de felicidade e colesterol fritando alegremente. Deixe os porquinhos fritarem um pouco, e depois mande as cebolas pra fazer companhia a eles. Você tem que mexer de vez em quando, pra elas fritarem por igual. Aí é só ir mexendo e sentindo o cheiro maravilhoso que vem da panela, até que as cebolas fiquem amarelinhas, e com um aspecto meio molenga. A impressão que dá é que a cebola ficou transparente.

Hora de jogar o alho. Abra uma cratera no meio da cebola e bacon, e jogue os alhos, de maneira que eles fiquem em contato com o fundo da panela. Deixe assim alguns segundos. Isso vai fritar os filezinhos do alho, e isso é bom demais. Sente o cheiro, dá vontade de meter uma colherada na panela. Um pouquinho depois do alho, você pode jogar as azeitonas. Agora tem que misturar o tempo todo, senão a cebola e o alho queimam e aí tá feita a lambança.

Pronto, tá tudo pronto pra entrada da farinha de mandioca queimada. Sendo assim, tá esperando o que? Joga lá dentro umas 2 ou 3 xícaras de farinha de mandioca queimada.

Mexa bem, pra fazer os ingredientes se entenderem. Aproveita enquanto deixa torrar um pouco e dá umas pitadas de sal (se você tá usando farofa pronta, não ponha sal), e jogue a pimenta.

Deixe lá no fogo por algum tempo até que a farofa comece a pegar cor, e tire quando o seu juízo mandar. Vai pelo instinto, você vai saber a hora.

Pronto, agora é só comer. Faça isso como bem entender: pode meter num pão, pode dar colherada, pode fazer o que quiser, porque essa receita é da boa.

Agradecemos profundamente a participação da Angela Priscila, que me fez ver que mulher entende sim de churrasco. Enquanto isso, no site da ana maria braga tem uma receita de farofa gelada pra churrasco com maçã, uva passa e mais um monte de coisas que eu não colocaria nem na comida do cachorro.

Coisa de argentino: Molho Chimichurri

Tem gente que diz que o churrasco foi inventado pelos argentinos. Não foi. Tem gente que diz que foram os uruguaios. Também não foram eles. Os paraguaios venderam cópias falsas, mas também não inventaram. E nem os brasileiros e nem nenhum povo que existe aqui hoje. Antes mesmo do conquistador Francisco Pizarro colocar seus pés do lado de lá da américa latina, os Incas e Maias já deitavam suas lhamas na grelha. Os egípcios também já deviam dar suas dentadas numa corcova de camelo mal-passada. Fora os Godos,Visigodos, Hunos, Vikings e outros trogloditas que comiam a carne de qualquer coisa que se movesse. Até de gente. 

Quem inventou o churrasco foi o primeiro Neanderthal que matou o primeiro mamute e tacou o bicho no espeto pra impressionar a primeira garota. E como as garotas da era do gelo tinham muito menos frescuras que as nossas, ele não precisava nem preparar a abobrinha: deitava o mamute na grelha, cantava uma canção do Roberto e CRÉU: lá tava a garota de neanderthal na caverna dele. E assim se perpetuou a espécie até chegar onde chegamos. 

Se você tá pensando que o personagem deste post é o Homem de Neanderthal, está muito enganado. Não confunda, o personagem de hoje é o Argentino. Sim, aqueles que moram ali logo ao lado do paraguay, fãs de Evita, Maradona e Carlos Gardel. 

Responda rápido: qual dos dois homens acima NÃO  é o de neanderthal?

Brasileiro falando de argentino é piada pronta. Fica fácil sacanear, primeiro porque existem mil diferenças entre nós que já foram exploradas até a chatice pelos casseta e planeta da vida. E outra que eles não estão aqui pra se defender mesmo. Mas neste post não vamos sacaneá-los só porque eles acham que entendem mais de futebol do que a gente. Neste post, abraçaremos nossos hermanos, e abrimos mão de toda e qualquer sacanagem que possamos falar a respeito dos seus hábitos, manias e cortes de cabelo (hehehe). 

E, ao contrário do futebol, se tem uma coisa que esses caras entendem, é de churrasco. Parrilla, como eles dizem por lá. O nome não importa, o que vale mesmo é que tanto do lado de cá, quanto do lado de lá da fronteira, deita-se o gato na grelha com uma propriedade vista em poucos lugares do mundo. E, ultimamente, tenho me aventurado na culinária de lá pra saber o que é que essa parrilla tem. Ainda estou me acostumando com o fato de comer churrasco de miúdos, testículos ou linguiça de sangue de boi, mas tem coisa muito boa nas receitas de lá. 

Como, por exemplo, o convidado de hoje: o molho chimichurri. Bora lá no gooogle dar uma olhada qualéquié:

De etimologia controversa, alguns indicam sua origem em imigrantes ingleses que habitavam nas pampas e que acostumavam acompanhar as carnes com molhos a base de curry. Quando solicitavam o molho, o faziam utilizando a expressão inglesa give me the curry (me dá o molho) ou misturando o idioma local che mi curry (tche meu molho). E há quem diga que um comerciante britânico conhecido como Jimmy Curry, inventou o molho, e de seu nome surgiu a palavra.
Parece mais provável, a versão que dá sua origem na palavra basca tximitxurri , que significa mistura no seu idioma original, e definiria bem o que é realmente um chimichurri.

Tche meu molho é a melhor. É a versão portenha do uai, meu moio mineiro, ou do oxente... me dá meu molho? bahiano ou do urra, meu.. meu molho! do paulistanês que só o faustão fala. Gostei, vou usar essa.

Os argentinos usam o Tche Meu Molho pra preparar a carne antes de assá-la, ou pra dar um agrado depois de pronta. No caso desta receita, utilizei o molho pra temperar antes de assar, e há uma diferença entre as duas versões: no caso do tempero pré-churraca, você pode utilizar ingredientes frescos (ui!), e no caso do pós-carvão, pode fazer um molho com ingredientes desidratados e deixar pegando gosto por dias.. Trabalharemos com a primeira opção.

O chimichurri (tche meu molho) é um condimento à base de vinagre, azeite, alho, cebola e salsinha. Na verdade, pesquisando porcamente pela internet você vai encontrar 300 receitas diferentes de chimichurri. Se for no site da ana maria braga, deve achar uma receita de chimichurri de abricó com sabão de coco e uva passa ou qualquer outro ingrediente sem sentido que só ela sabe fazer. Na nossa receita, procurei seguir uma receita argentina, mas acabei, como sempre, botando algumas coisas a mais. Ficou bom demais, então tá valendo. Vamos aos trabalhos.

Arrume um pote pra preparar o molho. Algo que caiba o conteúdo de uma lata de breja e meia funciona bem. Beba as cervejas, encha de água, experimente os potes da patroa e jogue a água fora. Assim que faz.

O primeiro passo é jogar um tanto de vinagre. Mais ou menos meia xícara, pouquinho mais. O vinagre tem que ser de vinho, e não de maçã. Se você não sabe a diferença entre um e outro, o de vinho é vermelho e o de maçã é verde. Embora exista vinho verde e maçã vermelha, mas isso é só pra te confundir.

Vinagre cheira mal, não é? O milagre dessa receita é que você vai tacando os ingredientes, e o molho começa a cheirar cada vez melhor, até você sentir vontade de dar um gole naquilo. É quando você percebe que tá pronto e você acertou a mão. Um passo por vez, já diria o saci. Vamos, então ao próximo.

Pode preparar o espírito pra picotar uma cebola inteira. Descasca a bichinha, corta em 4 e começa a picotar. Um adendo importantíssimo: por mais que possa arder o seu olho, não chore. Prefiro deixar a cebola queimar a minha retina do que chorar pra uma receita argentina. Lembra do "Não chores por mim Argentina"? Então, não faça isso. Engole o choro e mete a faca na cebola. Como sempre digo: picote a cebola com carinho, até ficar bem pequeninha. O cuidado que você tem com os ingredientes sempre se transforma em benefício pra qualidade da sua comida (puta frase de efeito, hein? Vou colocar no meu orkut).

Tacada a cebola lá dentro, agora vamos ao alho. Pegue dois ou três dentes de alho e picote bem pequeno. O alho bom é aquele que vc picota até virar uma pasta. Não sou fã desses alhos prontos que já vem moídos. Dá uma puta vontade de vomitar mexer naquele treco, enquanto o cheirinho do alho sendo picotado é bom. Sendo assim, mande a sua preguiça pro paraguay e picota essa coisa. 

O sal. Taí uma coisa controversa. Vai ter gente que vai me dar bronca por estar colocando sal no chimichiurri. Mas não nos esqueçamos de que este chimichurri vai temperar a carne que ainda vai pro fogo, logo, ele deve ter sal. Coloque um punhado de sal grosso (uma mãozada, sem ignorância) no meio do vinagre, da cebola e do alho. Enquanto você prepara o resto, o sal grosso vai derreter com o liquido e misturar legal. E eu acho o sal grosso mais gostoso que o sal normal, por mais que isso possa parecer maluquice.

Hora das ervas. Prepare o seu personal Bob Marley e mande ver. Se você não esquecer, continue lendo este post porque o chimichurri ainda não acabou. E para com essa risada porque essa é uma receita séria, ok?

A primeira erva que eu coloquei foi o orégano fresco. Isso porque ele tem mais sabor, e já vai misturando com o molho enquanto vc prepara o resto. Picote pequeno apenas 3 ou 4 folhas do fresco. Ah, e ele é fresco no sentido de ter sido retirado do pé há pouco. Não no sentido de gostar de gloria gaynor ou freddie mercury. Se não tiver do fresco, coloca um punhado do orégano de pacote que funciona também.

Manjericão fresco também é legal. Na última vez, pedi à patroa que me aparecesse com umas folhas de majericão, e ela me veio com um tal de manjericão roxo que, pasmem, era roxo mesmo! Bom, picote umas 5 folhas e manda brasa.

Uma única folha de louro picotada só pra dar trabalho. No caso da ana maria braga, recomendamos decapitar o louro mais próximo, pisar 10 vezes na sua cabeça, moer o seu corpo no liquidificador e jogar tudo no lixo. Voltemos às ervas.

A salsinha é a base verde do chimichurri. Portanto, pode jogar um meio maço aí. Lava bonitinho, tira o excesso de talo, deita na tábua e começa a meter a faca. A sensação de destruir a salsinha com a faca é indescritível. Procure moer a salsinha até ficar pequena. Joga tudo no pote.

A cereja do bolo é, como sempre, o azeite (ai, a luma de oliveira...). Jogue na gororoba uma xícara de azeite, ou mais. Em alguns casos, recomenda-se utilizar óleo de girassol, porque o azeite tem um sabor mais forte. Como estamos usando essa receita pra temperar carne que ainda vai ao fogo, pode ficar forte que o calor sauviza isso. 

Só pra dizer que caprichou, você ainda pode dar uma pitada de pimenta do reino, ou picotar uma ou duas bolinhas de pimenta baianinha. Ou colocar a pimenta de sua preferência. Lembrando que o chimichurri é um molho que tem por objetivo ser suave, e se você encher tudo de pimenta vai poder temperar a carne, o miojo ou um paralelepípedo que todo mundo vai ficar com o mesmo gosto: o de pimenta.

Agora vc deve misturar tudo. Note que o cheiro começa a ficar delicioso. Dá mesmo vontade de dar uma golada nesse negócio. Mas não faça isso, ok? Certas coisas tem cheiro bom e gosto forte.

Basta deixar descansar por algum tempo, o quanto a sua ansiedade permitir, e temperar a carne. Acho que uma alcatra em cubinhos no espeto ficaria muito legal. O mesmo do contra-filé. Os argentinos utilizam este molho no bife de ancho, que é um bife alto, macio e bastante saboroso. 

No meu caso, fiz pra temperar uma costelinha de porco que ficou de fazer a ana maria braga passar por baixo da mesa. Mas isso é assunto pra outro post.

Observação: Conheci, ao longo dos 32 anos que tenho, vários argentinos. E posso garantir: todos, sem uma única exceção foram extremamente simpáticos, educados, gente boa mesmo. Por mais que os dois povos adorem se sacanear, fica registrado aqui o meu carinho pelos nossos vizinhos ruins de bola :-)

Espetinho de contra filé

Eu sou paulista. E tenho uma constatação a fazer: paulista é mesmo um povo sacaneado Brasil afora. No país todo, as mulheres andam no banco de trás do carro, mas quando isso acontece, sempre tem um pra chamar de "carro de paulista". Fogo, viu. O brasileiro, esse fanfarrão, sacaneia do nosso sotaque, diz que a gente fala "orra, meu". Mentira, a gente não fala assim, não. Aí vem o Faustão, aquele babacaço mega-chato de todo domingo e fala na TV: "Oooooorra meu, ô loco!". Pãtz, aí não tem jeito.. A gente acaba virando personagem do Caceta & Planeta, do Hermes e Renato, da revista Mad e, se vacilar, até da Turma do Didi.

Pois hoje este blog mergulha de cabeça na paulicéia pra falar de um tipo de churrasco tipicamente nosso: O espetinho. 

É, além dos carros, do maldito apresentador dominical e do sotaque, dizem por aí que churrasco de espetinho também é coisa de paulista. E nós vamos provar pra esse país inteiro que a gente pode fazer um simples espetinho surpreender gaúcho, mineiro, grego e troiano. 

Observação de cunho pessoal e instransferível: Pensando pelo lado churrasquístico da coisa, eu queria mesmo era morar no pantanal, que nem na novela. O cara acorda, abre a porta do quintal e encontra 3 mil cabeças de gado. Arreia o cavalo, escolhe uma, mata e corta. Faz um tapete com a pele, um berrante com o chifre, uma garrafa de pinga com a pata, um espanador com o rabo, separa cuidadosamente o contra-filé e ainda sobram 800 kg de carne. 

Seria legal, mas eu não sou de lá. Carne, aqui, só no açougue. E se você também não tá no pantanal, seu pai não tem um avião, seu quintal não vai até o horizonte e o tudo o que você sabe de lá é que a Juma Marruá vira onça e dá um puta trabalho quando isso acontece , dirija-se até o açougue mais próximo e peça 1kg de contra-filé cortado em bifes bem grossos, de 2 dedos de espesura. 

Vamos à receita. Como espeto, utilizei aqueles de bambu que vende no supermercado. Mas você pode arrepiar na criatividade e espetar no palito de dente, vareta de pipa, antena de carro, qualquer coisa. 

Corte o contra-filé em cubinhos, pouco maiores do que um dado do Banco Imobiliário. Se você teve infância, sabe do que eu tou falando. A carne já está em bife mesmo, fica fácil cortar em cubinhos. Se der, limpe a gordura, que às vezes vem cheia de nervos, que endurecem com o calor. Na hora de comprar o bifão, escolha uma peça mais limpinha que não dá erro.

Arruma uma cebola grande. Descasca ela. Corta em 4 pedaços e vai desmontando ela. Esses pedaços que ficam você vai utilizar pra montar o espeto.

Tenha em mãos um punhado de um tal tomate-cereja, que chamaremos, pois, de tomate-cer(v)eja. Acho que fica mais bacana, faz parte do nosso estilo. O tomate-cer(v)eja é um tomatinho do playmobil, bem pequeno, do tamanho de uma bola de gude. Putz, a ana maria braga vai lavar a égua se souber que fiz churrasco com uma fruta.  Bom, corte os tomates-cer(v)eja no meio. Isso vai fazer todo o sentido na hora de montar o espeto, e você vai entender porque o escriba deste pergaminho lançou mão de tão controverso ingrediente.

Jogue todo mundo: a carne em cubos, a cebola desmontada e os tomates pela metade dentro de um pote grande. Não esqueça que você tem 1kg de carne e você vai ter que mexer, então o pote tem que ser grande. Joga lá dentro aproximadamente uma xícara de café de um bom azeite. Já falamos que o azeite vem da oliva, que vem da oliveira, que deu a Luma de Oliveira, e não precisamos mais falar disso, ok?


Taí todo mundo querendo ir pra grelha. Mistura tudo e espeta. simples assim.

Uma vez o azeite lá, é a vez do orégano. Jogue-o no pote, juntoda carne, da cebola, do tomate-cer(v)eja e do azeite. Não precisa por muito, é como se você estivesse temperando um sanduíche. 

Ponha sal com a cautela que Deus lhe deu. Utilizei sal fino, mas acho que com sal grosso deve funcionar bem.

Agora vem o pulo do gato: Jogue, sobre tudo o que já tá lá dentro, mostarda escura. Pra se certificar, gaste um real a mais e compre uma mostarda de qualidade. Quanto melhores os seus ingredientes, melhor fica a comida, naturalmente. Jogue com parcimônia, já que a mostarda preta tem um sabor forte.

Com uma colher de pau, misture tudo. O cheiro que vai subir vai te enlouquecer, mas não se esqueça: ainda não é a hora de comer a carne, convém assá-la primeiro.

Bom, passado isto, chegou a hora de montar os espetos. É como brincar de Lego, só que suja a mão e você come depois. Espete na sequencia: cebola, carne, tomate, cebola. O tomate, cortado ao meio, deve ficar com o lado aberto diretamente encostado na carne. Isso tem um  porquê: o tomate pegou o tempeiro no meio dele. O tomate perde água quando aquecido. Essa água vai direto pra carne. Já imaginou o que acontece, né?




O espeto ainda fica estiloso, as gatas piram!

Fiz 1kg de espetos aqui e consegui fazer 2 churrascos. Uma das coisas que notei, é que o legal é colocar os espetinhos perto do fogo forte, e virar sempre pra assar por igual. Quando a carne ficar branca e nitidamente molhada, já tá legal pra comer. Não deixe passar, porque a carne seca e não fica tão batuta. 


Um quilo de contra-filé deu tudo isso de espeto.

Na hora de servir, faça como quiser. Tire dos espetos e sirva tudo separado, um espeto pra cada um, pouco importa. O que vale mesmo é que essa carne fica saborosíssima, e muito cheirosa. E fica pronta rapidão, no caso de receber um monte de gente em casa, você pode perder um tempo preparando antes, mas sai rápido e todo mundo adora.

Experimenta, faz esse espeto. Depois quero ver quem é que vai sacanear o nosso sotaque. Orra, meu!!

Custo: 13 cruzeiros o quilo de contra-filé, 2,50 os tomates e o resto é irrisório.
Rendimento: Uns 10 espetinhos, que alimentam 5 cabras da peste.
Tempo de preparo: 3 latinhas na cozinha, uma na churraca.

Rocambole de fraldinha

Com o preço descaralhado da picanha nos dias atuais, é bom você abrir o olho e aprender a fazer outras carnes, parceiro. Salva a tua pele e o teu bolso.
Uma carne supimpa é a fraldinha. Por mais que o nome sempre dê aquela sensação de que vc tá fazendo merda, é uma carne baratinha e pra lá de legal. 
A fraldinha é uma peça meio compridinha, que tem uma capa de gordura parecida com a da picanha, mas que só cobre metade da peça. Daí o nome "fraldinha". É como se a gordura fosse a merda, mas vamos deixar esse papo pra lá.
Um dos problemas de preparar a fraldinha, é justamente essa capa de gordura. A parte que não tem a gordura tende a ficar pronta mais rápido e a ficar mais molinha. Isso acontece pq aquilo não é só gordura, como na picanha. Tem alguma nervura junto, e aí tende a ficar meio duro. Funciona bem, mas a carne pode ficar dura. 
Recentemente, descobri uma maneira legal de fazer a fraldeta, e ontem resolvi incrementar umas traquitanas pra postar aqui. É o rocambole de fraldinha.
Faz assim, mete a fraldinha na tábua e corta em 3 fatias, de comprido, com mais ou menos dois dedos de espessura. Lembre-se de não cortar os dedos, utilize-os apenas pra medir. Ok, você vai ficar com 3 grandes tiras de fraldinha.
Uma maneira de fazer é simplesmente enrolar as fatias, mandar sal e bora pra brasa. Mas ainda dá pra melhorar.
Arruma uma cebola. Tira fora as extremidades da cebola, e corta a bicha no meio (descasca antes, animal).  Beleza, com a mão vc pode desmontar a cebola e ficar só com os aneizinhos. Corte os aneizinhos no meio. 
Agora sim, você enrola as fatias da fralda com a cebola no meio. É uma merda montar os rocamboles. Se você é um cara bruto vai ser uma foda montar, mas vai lá que vc consegue. Pense que as garotas vão se impressionar com a sua imaginação e habilidade. Elas gostam de caras que cozinham, hã!
Beleza, enrolou cada fatia com uns pedacinhos de cebola? Pra não desmontar tudo, recomendo espetar uns palitos de dente (por que será que na caixa, há cem anos tem a foto daquela loira?) que ajudam a ficar firme.
Sapeca sal grosso e manda pra brasa. Recomendo ficar esperto pra virar uma vez só, senão desmonta tudo. 
Quando ficar pronto, tira, pica a cebola, corta a carne em pedaços pequenos e mete os dentes. Fica bom pra caray!!
O bacana é comer um pedacinho de carne junto com um pedacinho de cebola. Fica esperto com o tempo na brasa. Fraldinha mal-passada é ruim, e se deixar passar demais a cebola bebe a água da carne e fica tudo duro. 
IPDA: marromeno 10 real. baratim, baratim.
Rendimento: se você não for um animal, uma fralda pequeninha serve bem você e uma garota.
Tempo de preparo: 2 latas de breja. Uma na cozinha, e uma na churraca.
Cuidado com esse dedo gordo aí hein queridão!
é assim que a cebola tem que ficar. Você vai enfiar esses tequinhos no meio da carne.
dá um trabalho fodido montar isso assim. não esquece dos palitinhos.
Na hora de virar, faz um furdúncio. Fica esperto e vira uma vez só.  Depois eu explico a presença dessas abobrinhas na grelha. Não me julgue.
A carne é fraldinha e o rocambole parece uma merdinha. Mas fica bom pra cacete.  O autor deste bolg recomenda tirar os palitinhos antes de servir.