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Teoria da conspiração: minha alma por uma fraldinha

Sabe que o Abílio Diniz é um cara bacanão, né? Ele é ziliardário, tem um mercadinho massa, escreveu um livro que ninguém leu e ele não tá nem aí, e tem dinheiro pra comprar tudo o que ele quiser, de político honesto (há) a jogador de futebol.

E já foi falado por aqui que eu costumo comprar as carnes que faço e as brejas que bebo num Pão de Açúcar mais perto da minha casa, e faço questão de dizer que não ganho nada do seu Abilhão, porque não ganho mesmo. 

Mas eu ando desconfiando de uma coisa séria. O Abílio anda me seguindo. Ele tá lendo isso aqui, sei lá, alguma esse cara tá me aprontando. Já assistiu o "Show de Truman"? Então assiste. No final, o Jim Carrey começa a sacar que tá sendo observado e tal. E é assim que eu tou me sentindo. Acho que o Abílio tá pagando uns arapongas pra ficar na minha cola. No maior estilo sai-da-minha-aba-sai-pra-lá, eu vou explicar, senta que lá vem a história:

- passa o sal, garotão!

Eu escrevo nesse blog porque eu gosto, única e exclusivamente por isso. Tou me cagando se alguém vai achar ruim porque eu escrevo palavrão. Tou me cagando se a ana maria braga vai me processar e, principalmente, tou me cagando pra qualquer estratégia que envolva dinheiro nesse blog. Isso aqui é uma diversão, e eu me cago de rir com os "blogueiros" estrelinhas mundo afora que ficam enchendo seus blogs de propaganda do google, torrando seus neurônios em estratégias e traquitanas pra "monetizar" seus blogs. Tô tocando um foda-se grandão pra isso. Quer dinheiro? Arruma um emprego, sabichão!

E o Abilhão é um cara sabido, tem visão além do alcance, sentidos aguçados, fica invisível, respira debaixo d'água e só não sabe voar, mas tem um helicóptero maneiro que resolve a parada. E antes que eu pudesse dizer o preço, ele sacou que esse blog aqui não se vende, mas o cara sabia que tinha uma dívida de gratidão para comigo. Afinal, eu falo do mercadinho dele aqui, e a gente sabe que ele tá estourando de venda na nossa conta :-)

E o Abílio não é do tipo de pessoa que gosta de ficar devendo, por mais que eu faça isso numa boa. Recentemente, tenho notado um comportamento estranhíssimo por parte do pessoal que trabalha pra ele. Acho que esse pessoal tá querendo me comprar. Medo, muito medo. Sente o drama.. 

PRIMEIRO SINAL: 
Já falei que fiz um churras pra 40 pessoas, certo? Nesse dia, fui no PDA e comprei quase todas as carnes lá. Como tinha um trampo de cozinha considerável, meti na conta uma caixa de breja, pois eu sou um filhinho de Deus, e se ele inventou a cerveja, eu quero um gole. Pois na hora de conferir a filipeta pra escrever o post, notei que a caixinha não havia sido cobrada. Lucky day, pensei eu. Mal sabia que este era apenas o primeiro passo de uma conspiração.

SEGUNDO SINAL:
Olha, se tem uma coisa que esse cara manja é de marketing. Ele conhece o seu público como ninguém. E ele sabe que eu gosto de cerveja, e decidiu que é assim que ele vai me comprar. Semana passada foi o aniversário de 79 primaveras da Dona Vovó, uma senhora de fina gala que me ensinou, entre outras coisas, a apreciar a boa alimentação, a comida saborosa que só a culinária de uma legítima mamma italiana é capaz de proporcionar. Nessa festa, a família se reuniu para uma feijoada, e a minha parte na realização de tal evento ficaria, claro, a cargo da compra das cervejas que a horda, digo, família, consumiria. Já no caixa, pude perceber que a garota do caixa contabilizou 5 caixas de latas, em detrimento às 6 que levava. Resumindo: mais uma caixa de graça.

[PÁRA TUDO AGORA] desculpe, mas é impossível continuar a escrever qualquer coisa sem registrar que eu acabei de ver foo fighters e JIMMY FUCKIN PAGE AND JOHN PAUL MOTHERFUCKER JONES tocando juntos no multishow. Quando eu secar as lágrimas do meu rosto, continuo.
[/PÁRA TUDO AGORA]

Bom, voltemos, pois, à programação normal.

TERCEIRO SINAL:
Agora ele começou a dar muito na cara. Saí tarde e faminto do trabalho. Tal qual o guepardo na savana correndo atrás da indefesa zebrinha, adentrei as portas do PDA mais próximo da minha casa. O objetivo era simples e direto: comprar um pedaço honesto de queijo gorgonzola e pão francês, pra amassar com azeite e degustar enquanto meu bravo Palmeiras se desdobraria em campo contra o Colo-colo (isso lá é nome de time?). Porém, meu já condicionado subconsciente me levou à prateleira de carnes do mercado, onde encontrei a prova de que esse senhor anda grampeando meu telefone, ouvindo o meu ronco e seguindo meus passos. Como ele sabia que hoje não faria churrasco, partiu pra uma estratégia mais agressiva. Bati os olhos na prateleira das carnes e dei de cara com uma linda peça de fraldinha, limpa e tudo. O preço? R$1,81. Exatamente, um pequeno real e oitenta e um pequenos centavos. Na etiqueta, estava escrito "coração bovino". E não era a única peça. Havia umas 5 bandejas com lindas fraldas, batizadas de coração de boi e a preços ridículos. Fiz uma ligeira conferência, só pra ter certeza de que aquilo não era mesmo uma porcaria de coração de boi, e meti no carrinho, ainda decidindo se contava tudo ao caixa e pagava os + - R$15,00 que a peça deveria custar. 

- num olha pra mim, comprei na promoção

Lembrando-me dos inúmeros centavinhos de troco que ele nunca me deu (porque raios os produtos tem que custar R$x,99?? Cade meu troco de um centavo?), decidi usar dos meus direitos de consumidor e passar pelo caixa. Pois tenho em minha geladeira hoje um belíssimo pedaço de fraldinha que me custou R$1,81. Menos do que uma embalagem de Halls. Menos do que uma coca-cola 2L, menos do que um pastel na feira.

MORAL DA HISTÓRIA: ele conseguiu. Comprou a minha alma por uma peça de fraldinha.

- manda um lá menor aí, Danny boy, senão eu tou na lama.

O mal disso é que eu me sinto o Daniel San no filme "Crossroads", quando ele percebe que o parceiro dele, Willie Brown, vendera a alma ao diabo. Naquele pedaço de carne está selado o destino da minha alma. Serei condenado a perguntar "O senhor é cliente mais? Nota fiscal paulista?" pra toda a eternidade. Fudeu. 

Abobrinha na churrasqueira

Se o teu carnaval foi como o meu, aposto um rim (o que sobrou, porque o outro derreteu) como essa quinta feira está sendo o dia mais comprido da história da humanidade, certo? A sensação é que durante os quatro dias de carnaval, quem foi assado foi o meu fígado, o meu baço, o meu estômago e o meu cérebro, e não as carnes deliciosas que fizemos na churraca. Mesmo tendo sido dilacerado pela cerveja e afins, posso garantir que foi um feriado daqueles que valem a pena.

E, pra um estômago desfigurado, nada melhor do que uma comida leve, não? E como aqui a gente fala de churrasco e saladinha é coisa de coiffeur e a gente desconfia desse pessoal, vou mandar aqui uma receita saudável, que fica uma delícia e as gatas piram: Abobrinha na churraca.

Faz assim, pega uma abobrinha grande, lava e corta ela em rodelas. Essas rodelas precisam ser meio largas, mais ou menos dois dedos de espessura, e eu estou contando que você não tem dedinhos de moça, nem um cacho de bananas. Estou falando de dedos normais. É importante que ela não seja fininha por dois motivos: o primeiro, porque a cereja do bolo tá dentro da abobrinha; segundo, porque ela diminui drasticamente de tamanho, e não queremos que ela caia pela grelha e torre no carvão, certo? Já que você vai preparar comida de mulherzinha, faz direito.

Bom, uma vez cortada a abobrinha, coloque numa bacia grande, pra você poder mexer sem fazer sujeira. Põe aí um pouco de azeite, de preferência um azeite bom, porque faz diferença. Não se esqueça de que a abobrinha não tem gosto de nada, e são os temperos que você coloca que fazem ela funcionar.

Agora, o segredo tá no alho frito. Coloque um pouco de alho frito, aqueles que vêm torradinhos, sabe? Não confunde com o alho assado, é o frito mesmo, aquele do frango à passarinho. Pra uma abobrinha grande, uma colher de sobremesa cheia já é o suficiente. Põe também um pouco de orégano, uma chacoalhada de pacote só. Costuma funcionar bem com alecrim e manjericão fresco também. Ou seja, assalta o armário dos temperos e sapeca na abobrinha, com moderação. O principal está no azeite, alho frito e orégano. O resto, você adiciona de acordo com o seu gosto. Só não vai me encher a abobrinha de frescurada, senão fica com gosto de armário dos temperos.

Mistura tudo, coloca um pouco de sal fino (o sal grosso não fica legal) e manda pra brasa. Pode colocar no meio da brasa, no mais quente da churraca. A abobrinha demora pacas pra ficar pronta, porque primeiro ela perde bastante água, pra depois começar a amolecer.

Como ela fica mais perto do fogo, a chance de ter alguma carne assando nos andares superiores da churraca é imensa, né? Então vou te mostrar o pulo do gato: posicione a abobrinha embaixo de alguma carne suculenta, daquelas que ficam perdendo líquido o tempo todo. Com isso, você faz a abobrinha com todos os temperos, além de um caldo natural de carne que dá o tchan na brincadeira.

Quando estiver ficando escura de um lado, vire pro outro utilizando um pegador. Garfo não ajuda muito, porque a abobrinha fica lisa como um bagre ensaboado, e porque ela diminui e passa no meio dos vãos da grelha. Bom, vira pro outro lado e monitora. Quando estiver escurecendo, tira, corta em pedaços pequenos e come. O melhor ponto pra ela é deixar ela tostar levemente por fora, e deixar molhada por dentro. 


essa abobrinha da esquerda tá querendo ficar pronta.
Se deixar tostar um pouco mais desse lado e virar, fica ótima.
Essa foto veio da receita de rocambole de fraldinha.

Fica muito, muito bom, por mais que doa a um amante da carne dizer isso de um maldito vegetal.
  • Dica 1: a melhor grelha pra fazer isso é aquela que tem um monte de buracos em forma de bolinha, mas em compensação é a mais chata de limpar. Mas é certeza de que a abobrinha não cai lá pra baixo.
  • Dica 2: Se você tem apenas daquelas grelhas de arames paralelos, pode colocar uma em cima da outra, em sentido invertido, fazendo uma grelha em X. 
  • Dica 3: Se a abobrinha cair lá no fogo, engole o choro e finge que não viu, torcendo pra ela queimar antes que alguém note a sua falta. Todas as tentativas de salvamento só vão aumentar a sua vergonha. Abobrinha no carvão é abobrinha morta.
  • Dica 4: Funciona bem em churraca responsa, em churraquinha pequena, em churraca elétrica, qualquer coisa.
  • Dica 5: decore essa receita (no sentido de gravar, não vai meter galhinho de planta em cima do prato), principalmente se você costuma fazer churrasco para mulheres. Elas adoram, dão gritinhos, pulinhos e batem palminhas quando você faz isso. Coisa de mulher, você sabe como é.
IPDA: Baratíssimo, uma abobrinha custa uns R$2,00, se você pagar caro.
Tempo de cozimento: umas 4 latinhas.
Rendimento: nunca faça só um churrasco de abobrinha. Além de dar um trabalho dos infernos, pega mal fazer churrasco sem carne. Então, como acompanhamento, uma abobrinha grande serve umas 2 pessoas.

Lembrando que este post é uma homenagem à mulherada que frequenta os churrascos lá de casa, e homenagear garotas sempre rende bom ibope. A idéia de preparar a abobrinha assim é totalmente delas, eu apenas deito na grelha e espero ficar pronto. Agradecimentos mais do que especiais à patroa Dani, Déa, Vandrope, Dani do Pão e Carlinha.

UPDATE: As garotas acima leram este post e me puxaram a orelha. Portanto, neste momento o escriba deste manuscrito encontra-se funcionando em mono. Se você é um leitor solidário, feche seu olho direito e leia-me assim como escrevo-o: em função mono.
O problema estava no alecrim, que, com 78% dos votos, foi eliminado nesse paredão. Aí, como a gente manda nessa casa mais do que o Boninho, botamos o Tomilho na receita. Conhece o tomilho? 
Se você pensou que é uma mistura de tomate com milho, errou. O tomate está para o milho como a Alessandra Negrini está para o Tiririca. Tá certo que ela é sem noção e casou com o Oto, mas é uma mistura que não funciona. O Tomilho é um farbusto aromático da família das labiadas. Grandes merdas, goooogle nos disse e agora sabemos. 

O que importa é que é um temperinho maneiro que vc pode achar em supermercados, ou plantar na sua casa e usar fresco, que é fresco mas é legal. Ou seja: tire o alecrim e bota o tomilho que ele é mais legal. 

Picanha ao alho sem nhaca

No post anterior, falamos sobre como preparar a picanha em bifes, a coisa mais simples do mundo depois da pipoca de microondas. Então vamos dificultar essa receita um pouco, pra fazer uma delícia de lavar a alma.

Alho é bom pra caralho, mas te deixa com o estômago em frangalho e te faz virar um espantalho? Espante a rima ruim da sua vida, leia essa receita e seja feliz!

A Lu Monte, do Dia de Folga, já tinha me falado sobre um alho assado que ela certa vez experimentou. Segundo palavras dela, perfeito pra passar na torrada. Como esse negócio de torrada é coisa de mulherzinha e aqui o sistema é bruto, fiquei de inventar alguma coisa pra fazer com esse alho assado. E tinha que ser carne, senão podia pegar mal.

Pensei comigo mesmo: bora lá tacar esse alho na picanha, porque picanha com alho a gente sabe que funciona. E o resultado ficou animal, diferente da picanha com alho que a gente come na churrascaria, porque o alho é assado antes de grudar na picanha. Então ele fica levinho, dá um sabor muito bom à carne e você não fica com aquela sensação de que comeu um javali. vivo.

Prepara a picanha como indicado no post anterior. Só não põe ela no fogo, criatura. Vamos preparar o alho primeiro.

A idéia é assar o alho na churraca com casca, talo, tudo o que tem direito.  Aproveitei pra dar uns toques demoníacos ao cabeção do alho. Sigam-me os bons!

Pegue uma cabeça inteira de alho. Não desmonte ela, nem tire a casca, nem lave, nada. Só pra fazer uma maldade, passe uma colher de manteiga Aviação no exterior da cabeça (do alho, mente suja). Use manteiga Aviação, vale a pena gastar 2 reais a mais numa manteiga de qualidade. Se passou pela sua cabeça passar margarina ou qualquer merda light, pode parar de ler este blog agora mesmo e vai pro site da ana maria braga. Certamente você vai achar alguma receita de alho com mel e temperos indianos e outras merdas.


Assim que se faz a maldade. Põe uma manteiga boa e deixa todo mundo assar juntinho. 

Ok, passada a manteiga na cabeça, e embrulha com papel alumínio e joga na churraca pra assar. Pra funcionar mais rápido, você pode colocá-lo lá dentro da churraca mesmo, junto do carvão, numa beiradinha onde o fogo não vai torrá-lo. 

Deixa lá por aproximadamente 4 cervejas. Quando começar a ficar pronto, vai dar pra sentir o cheirinho de alho com manteiga.. bão demais!!

Quando você não agentar mais a tortura, retire do calor e abra o papel alumínio. Retire um dente do alho e abra pra ver a textura. O dente tem que sair facinho, e o alho em si tem que estar uma pasta, parecendo um patê. Se ainda estiver durinho, fecha e manda de novo pra brasa.


Essa foto nojenta é pra você saber a textura certa pro alho.
Se não estiver com essa aparência feiosa, ainda não tá bom.

Se estiver pastoso, basta passar no filé de picanha, dos dois lados. Não deixe o excesso de alho lá, não precisamos dele. Só o fato da pasta de alho passar sobre a carne já faz o milagre. E como o alho, uma vez assado, perde aquele ardido e fica até docinho (sério, experimenta um pouquinho), a carne fica com o sabor do bicho, mas sem aquela maldita nhaca que dá quando a gente come muito alho.

Espalha a pasta na carne e tira esses excessos.

Daqui pra frente o processo é normal: mete a carne na grelha, põe sal, vira, tira, corta e come. 

Depois vc me diz o resultado. É outro tipo de carne for dummies, porque a picanha não tem como errar, e nem o alho.  Só demora um pouquinho pra ficar pronto, porque tem que assar o alho antes. 

Mas vale a pena a espera, vai te fazer arrancar elogios das donzelas, vai por mim.

IPDA: quase o mesmo da picanha, o custo do alho é irrisório.
Tempo de cozimento: o alho leva umas 4 ou 5 brejas. A picanha, tá no post anterior.
Rendimento: depende do tamanho da picanha. Mas se prepara que fica bom e a galera avança!

Como preparar uma picanha simples

Se você ainda está iniciando a sua vida de churrasqueiro e não tem lá tantas habilidades, tá aqui uma carne que, além de ser uma delícia, não tem como errar: Com vocês, a picanha!! (barulho de tambores e cornetas nessa hora, ok?) 
Esses dias eu ouvi uma sensacional de um amigo não-churrasqueiro (aquele que come, mas não prepara o churras). O cara disse assim: "eu só sei que tem que por a carne no fogo e tirar quando ficar marrom". A picanha é assim: simples e rápida de preparar e, a menos que você seja um orangotango, fica sempre gostosa. 
Podemos dizer que a picanha é a Paula Burlamaqui das carnes: você pode vê-la de qualquer jeito, que sempre vai estar uma delícia.
Claro que existem receitas mais complexas envolvendo a picanha. Inclusive, se procurar algum site de culinária mais chique e elegante, vai certamente encontrar tosqueiras como "picanha ao molho de maracujá com begônias" ou merdas no estilo-ana-maria-braga de cozinhar. Mas aqui não tem essa frescurada e a gente faz carne pra ficar gostosa, e não pro prato ficar bem decorado.
Tá com a picanha na mão? Então vamos começar a preparar a Picanha for Dummies mais simples do mercado: Picanha em bifes.
Estou presumindo que você adquiriu uma peça decente de carne. Vamos imaginar que a picanha tá vermelhinha, pequena e limpa. Não vou discorrer muito sobre a compra de uma boa picanha, porque isso aí é assunto pra outro post. No caso das fotos deste post, estou fazendo uso de uma picanha-bebê de 450g e pouca gordura, perfeita pra ser colocada alegremente na grelha na forma de bifes.
Bom, deita a piqueta numa tábua, com a capa de gordura pra cima. Fica mais fácil cortar, porque a faca tende a escorregar na gordura, e se estiver por baixo, vc não vai conseguir separar os bifes direito. Tenha em mãos uma faca afiada. A-F-I-A-D-A, tá entendido? Faca ruim mastiga a carne dá 10x mais trabalho e sujeira.
Apóie a mão esquerda sobre a capa de gordura (sim, churrasqueiro tem que sujar a mão, mesmo), e corte a picanha em bifes largos, de aproximadamente 2 dedos de largura. Se você for canhoto, pode apoiar com a direita e realizar os cortes com a esqueda, ok? Ah, e vê se lava essa mão antes de encher a carne que seus amigos vão comer com os coliformes fecais daquela mijada da décima cerveja.
A picanha deve ficar assim: dividida em pequenos pedaços de felicidade.
Agora você deve, carinhosamente, levar cada bifinho à grelha, perto do fogo, mas sem deixar que as chamas a peguem. Faça assim: com a grelha quente, deite o bife e ponha sal grosso do lado virado pra cima. Conte até 5, vire o bifinho e ponha sal do outro lado. Você vai notar que a picanha muda um pouco de cor no lado que estava pra baixo. Isso serve pra "selar" a carne. Ou seja, fazendo isso dos dois lados, você fez com que a camada de carne superficial seque levemente. Com isso, o líquido saborosíssimo que tem dentro da picanha não escorre facilmente, e a bichinha vai ficar molhadinha quando ficar pronta.
Quanto ao sal, reitero a teoria de que QUALQUER UM que já temperou a própria salada uma vez na vida sabe quanto sal colocar na carne. E o sal grosso vai derreter com o calor, e penetrar na carne. Então imagine que cada pedrinha de sal que jogar vai derreter e temperar a carne ao seu redor. Vai sem medo, na hora você vai saber como fazer.
Não fique virando o filezim. Quando você vira, ela perde líquido, e é o líquido que deixa ela macia. Deixa o filezim lá, e de vez em quando dá uma levantadinha pra ver a cor dele. Realmente, a picanha fica marrom, o sal derrete e as bordinhas do filé ficam mais escurinhas. Se estiver assim, pode virar e repetir o processo. 
O legal da picanha é que ela fica gostosa até muito mal passada. Então, se você tá na dúvida sobre o ponto dela, tira uma pontinha dela e experimenta. Se estiver mal-passada demais, volta ela pra caminha e deixa nanar mais um pouquinho. Mais ou menos como o botão "soneca" do despertador: não tá bom, dorme mais 5 minutinhos e acorda legal.
Na hora de servir, corte cada filé em fatias fininhas. Gosto muito de cortar fininho porque não dá aquela sensação de que vc tá se enchendo de carne, dá a impressão de que a carne fica mais leve. 
Eu, particularmente gosto da picanha mal-passada-quase-ao-ponto. É assim, se você cortar o primeiro pedacinho dela, e a carne estiver branquinha meio rosada por dentro, mas ao mesmo tempo escorrer  aquele sanguinho tudo-de-bom, tá no ponto perfeito.
Recomendo fazer de 2 em 2 bifes, a menos que você esteja fazendo churrasco pra muita gente. Esses bifinhos ficam prontos rapidinho, e se você fizer muito de uma vez, corre o risco de empanturrar o pessoal e alguns pedaços esfriarem sobre a mesa, o que é, no mínimo, um sacrilégio.
Se você tem carinho pela coronária dos seus amigos e familiares, pode tirar o excesso de gordura antes de servir. Convém consultar os convidados antes, tem gente que não gosta que tirem. 

Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, cortando a picanha. E uma breja a cada 2 bifes na churraca. 
Rendimento: Uma picanha de 450g, como a que foi usada como exemplo, alimentou 2 pessoas. mas eu comia sozinho uma peça dessas, fácil.

Preparando um bom cupim

O cupim é uma carne extremamente saborosa e macia, mas a diferença entre um bom cupim e um cupim cagado (gostei do trocadilho, junta com a fraldinha e.. xapralá) é muito tênue. É uma carne demorada de preparar e muito fácil de errar. Portanto, se você for convidado a algum churrasco e tiver cupim, tenha certeza de que o churrasqueiro sabe o que tá fazendo.

Já expliquei que o cupim fica em cima das costas do boi, o Nelore, e é cheia de gordura, certo? Na verdade, uma das mais gordurosas do boi. Pois é, mas o cupim não é como a picanha, por exemplo, que tem a gordura bem definida sobre a peça. A gordura do cupim fica entrenhada no meio da carne, junto com uns nervinhos, e se você vacilar, fica tudo uma pedra. Portanto, a palavra que me vem à cabeça é: paciência. O cupim é o primeiro que vai à churrasqueira e o último que sai. Ou seja, se você faz o tipo ansioso, ou tem hiperatividade, tome um chá de passiflora antes de começar o churrasco. 

Pra assar um cupim, você precisa de uma churraca responsa, daquelas de vários andares. Isso porque você tem que preparar a peça em duas etapas, e ambas precisam de uma certa distância do fogo. 

O primeiro passo é espetar o cupim, e enrolar naqueles celofanes de churrasco. Não sabe o que é isso? Gooooogle, parceiro. Só não mete um celofane qualquer, você não tá encapando um caderno, tá preparando uma carne e é melhor que tenha um mínimo de noção nessa cabeça. Recomendo utilizar um espeto único, como o das fotos abaixo e não daqueles duplos. 

Quando você enrola a peça de carne no celofane, é por um bom motivo, então não o faça com preguiça nem de qualquer jeito. A carne vai aquecer, a gordura do meio da carne vai derreter, e vai ficar presa no celofane. Vai aquecer junto da carne e vai ajudar a cozinhá-la. Ou seja, você vai cozinhar a carne na própria gordura dela. Sacou o espírito da coisa? Então segue os passos aí:

Taí uma peça de cupim. Na verdade, aí tem meia peça. A outra meia eu congelei.

Depois de espetada a peça, abra um bom pedaço de celofane sobre uma mesa, jogue um pouco de sal e enrole, sem deixar muita folga.

Uma vez enrolado, arrume um pedacinho de celofane ou qualquer outra coisa pra amarrar as extremidades.
Não se esqueça de que a gordura tem que ficar aí dentro, cozinhando a carne.
Não ficou lindo? Parece uma balinha 7Belo!

Agora bote o espeto no andar mais alto da churraca e deixa lá. Vai ficar ali umas 3 horas. A cada nova cerveja que você abrir, vire a carne com todo o cuidado pra não deixar o líquido escorrer. Você vai adorar quando a gordurinha começar a fazer borbulhinhas dentro do pacote. É o sinal que as coisas vão indo bem.

Não tenha pressa. Sirva toda a linguiça e contra-filé para os convidados mais afoitos, e deixe essa maravilha da natureza ficar boa por sí só. O segredo do cupim (nome de filme da tela quente, com Keanu Reeves) é justamente esse cozimento. Portanto, não tire ele daí. Não deixe esfriar. Não deixe o fogo apagar. Não economize carvão. Não deixe ele mais baixo, perto da grelha, achando que vai ficar pronto mais rápido. Não fure o celofane. Enfim, não seja besta que a carne fica boa sozinha.

Depois que se passarem pelo menos 3 horas, e dentro do celofane estiver um furdúncio já há algum tempo, é hora de abrir. Chame os bombeiros que essa parte é cruel.

Você não tem outro jeito: precisa abrir a embalagem com aquele caldo gosmento dentro. Quando fizer isso, vai cair aquela gordura toda na churraca. Se você tiver uma pia por perto, leve a peça até a pia, faça um rasguinho com a faca e abra a porra toda. Se não tiver, vai ter que ser na marra mesmo. Nesse caso, certifique-se de que não tem nenhuma outra carne nos andares de baixo do cupim. Vai cair uma avalanche de gordura e vai lavar a carne em questão, fica uma merda. Se você aguentar o calor, recomendo posicionar uma latinha de cerveja (VAZIA, HEIN) embaixo pra tentar recolher o máximo possível do caldo que vai cair. Depois você dá a latinha pro cara das batidas beber e tudo ok.

Agora você pode descer o cupim "pelado" pro andar de baixo, mas ainda a uma distância média do fogo. Tire uma lasquinha e veja se há a necessidade de sal. Se sim, pode espalhar um pouco na peça. Não preciso te falar quanto, qualquer um que já temperou uma salada sabe quanto sal colocar na comida, vá.

A melhor maneira de servir o cupim, é ir virando ele, e à medida que vira, você vai tirando as lasquinhas que ficaram mais queimadinhas. Este processo se chama "casqueirar", ou seja, você vai casqueirando a carne. Se você não errou nada nesse processo todo, fica de comer falando palavrões. Eu mesmo já soltei vários puta-que-paris pra essa carne.

Da primeira vez, recomendo fazer sozinho ou num churrasco com menos gente. Você não vai querer errar numa festa pra 30 pessoas, vai?

IPDA: marromeno 14 reais uma peça de 3kg. Mega barato.
Rendimento: não tenha como a única carne no churrasco. Imaginando que fica pronta no final, alimenta uns 6 ou 7 caboclos.
Tempo de preparo: umas 8 latinhas. Adoro essa parte!

Rocambole de fraldinha

Com o preço descaralhado da picanha nos dias atuais, é bom você abrir o olho e aprender a fazer outras carnes, parceiro. Salva a tua pele e o teu bolso.
Uma carne supimpa é a fraldinha. Por mais que o nome sempre dê aquela sensação de que vc tá fazendo merda, é uma carne baratinha e pra lá de legal. 
A fraldinha é uma peça meio compridinha, que tem uma capa de gordura parecida com a da picanha, mas que só cobre metade da peça. Daí o nome "fraldinha". É como se a gordura fosse a merda, mas vamos deixar esse papo pra lá.
Um dos problemas de preparar a fraldinha, é justamente essa capa de gordura. A parte que não tem a gordura tende a ficar pronta mais rápido e a ficar mais molinha. Isso acontece pq aquilo não é só gordura, como na picanha. Tem alguma nervura junto, e aí tende a ficar meio duro. Funciona bem, mas a carne pode ficar dura. 
Recentemente, descobri uma maneira legal de fazer a fraldeta, e ontem resolvi incrementar umas traquitanas pra postar aqui. É o rocambole de fraldinha.
Faz assim, mete a fraldinha na tábua e corta em 3 fatias, de comprido, com mais ou menos dois dedos de espessura. Lembre-se de não cortar os dedos, utilize-os apenas pra medir. Ok, você vai ficar com 3 grandes tiras de fraldinha.
Uma maneira de fazer é simplesmente enrolar as fatias, mandar sal e bora pra brasa. Mas ainda dá pra melhorar.
Arruma uma cebola. Tira fora as extremidades da cebola, e corta a bicha no meio (descasca antes, animal).  Beleza, com a mão vc pode desmontar a cebola e ficar só com os aneizinhos. Corte os aneizinhos no meio. 
Agora sim, você enrola as fatias da fralda com a cebola no meio. É uma merda montar os rocamboles. Se você é um cara bruto vai ser uma foda montar, mas vai lá que vc consegue. Pense que as garotas vão se impressionar com a sua imaginação e habilidade. Elas gostam de caras que cozinham, hã!
Beleza, enrolou cada fatia com uns pedacinhos de cebola? Pra não desmontar tudo, recomendo espetar uns palitos de dente (por que será que na caixa, há cem anos tem a foto daquela loira?) que ajudam a ficar firme.
Sapeca sal grosso e manda pra brasa. Recomendo ficar esperto pra virar uma vez só, senão desmonta tudo. 
Quando ficar pronto, tira, pica a cebola, corta a carne em pedaços pequenos e mete os dentes. Fica bom pra caray!!
O bacana é comer um pedacinho de carne junto com um pedacinho de cebola. Fica esperto com o tempo na brasa. Fraldinha mal-passada é ruim, e se deixar passar demais a cebola bebe a água da carne e fica tudo duro. 
IPDA: marromeno 10 real. baratim, baratim.
Rendimento: se você não for um animal, uma fralda pequeninha serve bem você e uma garota.
Tempo de preparo: 2 latas de breja. Uma na cozinha, e uma na churraca.
Cuidado com esse dedo gordo aí hein queridão!
é assim que a cebola tem que ficar. Você vai enfiar esses tequinhos no meio da carne.
dá um trabalho fodido montar isso assim. não esquece dos palitinhos.
Na hora de virar, faz um furdúncio. Fica esperto e vira uma vez só.  Depois eu explico a presença dessas abobrinhas na grelha. Não me julgue.
A carne é fraldinha e o rocambole parece uma merdinha. Mas fica bom pra cacete.  O autor deste bolg recomenda tirar os palitinhos antes de servir.

Queijo coalho não é carne, mas é bom

 INFORMAÇÃO: Conteúdo readequado às novas diretrizes editoriais do nosso gerente em outubro de 2022 

Churrasco sem carne não existe. Mas isso não significa que você não possa ajudar a compor o seu churrasco com outras coisas. E uma que faz bastante sucesso é o queijo coalho.
Trata-se de um queijinho pasteurizado, meio durinho, espetado num palito. Comer cru deve ser meio esquisito por conta da textura, mas se vc esquentar um pouquinho fica de lavar a alma.
Uma embalagem de queijo coalho costuma ter 7 ou 8 espetinhos. Recomendo que se faça de 2 em 2 espetinhos. A explicação disso é muito simples: quando ele ficar pronto, retire o cabinho de madeira, e corte em pedacinhos. Um espetinho dá uns 5 ou 6 pedaços do tamanho de uma borracha escolar. Se você fizer um espetinho por vez, corre o risco de ver seus convidados se degladiarem. Se fizer mais de 2, corre o risco de empanturrar o pessoal, deixando alguns pedaços sobrarem na mesa. Aí tá feita a merda, pois o queijo coalho, depois de frio, fica uma borracha, terrível de comer. E mandar de volta pra grelha pra requentar é serviço porco.
Pra preparar é muito simples: retire o espetinho do pacote e coloque inicialmente numa parte mais fria da grelha. Perto das extremidades, por exemplo. O segredo é deixar o queijo aquecer gradativamente, pois direto no fogo, você corre o risco de tostá-lo por fora, e não derreter totalmente por dentro.
Você vai perceber que ele tá ficando bom, pois ele dá umas derretidinhas nas bordas. O chato do queijo coalho é que tem que virar o tempo todo, pra derreter por igual. Ou seja: dá trabalho. Mais um motivo pra não meter mais de 2 na churraca, pq você vai ter que ficar tomando conta.
Ok, então você conseguiu deixar os 4 lados deles meio derretidinhos. Hora de meter ele mais perto do fogo. Assim, ele vai torrar de leve por fora, formando uma casquinha. Não deixe queimar, é só uma casquinha.  O segredo tá no palitinho, que deixa de ficar firme quando o miolo dele estiver mais derretido.
Deu a torradinha nos 4 lados? Então ele tá derretido por dentro e com uma casquinha por fora, pronto pra servir. É só colocar na tábua, tirar o palitinho e cortar pequeno.
Dica 1: por ser mais leve, faz sucesso com a criançada, que não tem estômago de ogro como a gente. Portanto, se no seu churrasco aparecer o filho da vizinha, aquele sobrinho mala ou até mesmo os seus próprios filhos, mande um queijo coalho e faça a moral com a molecada.
Dica 2: se você é como eu, que detesta ver suja a tábua onde você corta a carne, utilize o queijo coalho pra limpar. Quando você corta uma picanha no ponto, por exemplo, ela perde bastante líquido sobre a tábua. Esse líquido é caldo de picanha, já temperado. Uma iguaria pra ser desperdiçada assim, não acha? Então experimente passar o queijo coalho, ajuda a dar um temperinho no queijo e mantem o seu chiqueiro em ordem. 
Não tempere com nada. Nem sal. Mete o queijão lá e tá redondo.
Tempo na churraca: 1 lata de cerveja.
Rendimento: é acompanhamento, porra.