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Receitas de panela: Filé ao molho chateaubriandt

Começo este post num lindo dia de verão perguntando ao nobre leitor porque diabos essa receita tem um nome tão emboiolado?

Respondo: Porque o nome emboiolado no caso não pertence, necessariamente, à receita. Mas sim ao nada pacato cidadão que a inventou. Peçamos ajuda à wikipedia, que nos fará as devidas apresentações.
"Figura polêmica e controversa, odiado e temido, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por supostamente chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada porém rentosa com o Presidente Getúlio Vargas."
Na verdade, a wikipedia conta muito mais coisas a respeito, mas vamos combinar: essa é a parte que a gente mais gosta da história.

Resumindo: nosso herói aqui era um verdadeiro canalha. Cachorro, safado, vagabundo, já diria a cantora de axé. E se é isso que temos pra hoje, bora comigo nessa receita que, embora tenha origens inescrupulosas, pode lhe trazer inúmeras vantagens.

Imaginemos uma situação absolutamente hipotética. Imaginemos que você é não é um vagabundo. Não é um cachorro, safado, sem vergonha. Você não gasta, e nem gostaria de gastar, 100% dos seus rendimentos em cerveja, sinuca, pay-per-view e mulher da vida. Nada disso. Você, na nossa imaginação, é um cara centrado, tem uma garota que faz esse seu coraçãozinho de frango palpitar, e tudo o que você precisa nessa vida é convencer essa garota imaginária a juntar as cuecas com você e (mudando irresponsavelmente o tempo verbal só pra caber) foram felizes para sempre. Ou seja, vamos usar a canalhice do nosso herói a nosso favor.

Oka. Temos uma garota e um cara querendo pegar essa garota. Tudo o que precisamos é de uma estratégia para fazer a nossa caça entrar na arapuca e CRÉU linda e doce garota encontrar o amor da sua vida diretamente na sua pessoa.

A estratégia consiste em convidar a garota para um jantarzinho sem compromisso, e mandar a receita que nosso canalha inventou. Na tela:

Bota 1litro dagua pra ferver, com um bloquinho de caldo de costela dentro. Pode ser caldo de picanha, caldo de carne, enfim. Particularmente, o caldo de costela foi o que melhor se adaptou a essa receita até hoje. E olha que eu já fiz esse prato muitas vezes. Todas para a minha esposa, antes que o mais mente suja dos leitores pense mal a respeito deste que vos escreve.

Quando ferver, joga lá dentro meia garrafa de vinho tinto seco. O ideal é comprar um vinho barato, porque ele vai pra receita. Mas não, necessariamente, um vinho vagabundo. Porque pode ser que você não jogue todo o vinho na panela, e nesse caso, aposto um rim como você vai beber o tal vinho. E se ele for muito vagabundo, quem compromete o rim é você.

Na sua geladeira deve ter um pote escrito "manteiga". Vai por mim, é isso que tá escrito lá e tem uma pasta amarela dentro. Dá uma olherada generosa naquele negócio e joga dentro da panela. E não me venha com aquela doriana que isso aí é coisa de gente doente. Manteiga, feita de leite de vaca, cheia de colesterol, é disso que eu tou falando. Se não tem manteiga, desliga o fogo e vai comprar. NÃO JOGUE MARGARINA EM COMIDA BOA, isso tá entendido?

Enquanto ferve, dê uma golada no vinho e picote uns 100gr de champignon. Picote, não. Fatie. O cogumelo fica bonitinho fatiadinho na receita. Recomendo veementemente que compre o cogumelo correto no mercado, e não vá pro mato buscar o seu, sob sério risco de pegar um cogumelo alucinógeno e mandar pras cucuias toda e qualquer possibilidade de se dar bem com a garota. Pensa no lance dos hippies. Não queremos ver você assim, ok?

Aproveita, descasca e corta umas 4 batatas, joga um caldo de carne dentro, cobre com água e bota pra ferver. Deixa lá e continua com a receita. O único trabalho é se certificar de que a água não secou. Se precisar, completa o tanque de vez em quando. O seu com cerveja, o das batatas com água.

Quando ferver, prepara ae que tá chegando: Pega um copo, coloca umas 5 colheradas desse molho fervente que tu ta fazendo. Coloca mais uma golada sarada de vinho. Caldo quente + vinho frio = conteúdo morno no copo. Disso que você precisa, de conteúdo morno.

Beleza, agora pega farinha de trigo e manda umas 3 colheradas dentro do copo, e mexe rapidão pra não empelotar. Na real, vai empelotar um pouco sim, mas o que importa é fazer o melhor que você puder. E aqui, nós acreditamos no potencial dos nossos leitores. O lance do morno é importante pra mexer farinha. Se estiver fervendo, cozinha a farinha e empelota geral. Se estiver frio, não mistura.

Mexeu? Agora manda pra panela, mexendo rapidão de novo pra não empelotar de novo. Mete o fogo no máximo, ajuda a não empelotar pela terceira vez. Mexe a cadeira. Vai mexendo bonitinho, gostosinho, rebolando até o chão [/banda de axé].

Beleza, quando não tiver mais nenhuma pelota, manda lá pra dentro o pote inteiro de champigon. Com água e tudo, vai na fé.

Baixa esse fogo aí. Vai pras carne, parceiro. Ir pras carne é sempre uma coisa legal, entenda como quiser. Mas eu sei que você gosta.

O trabalho agora é fritar alguns filés. Pode ser filé mignon, ou um contra-filé, alcatra, desde que bem limpinhos, ou seja, sem nervos. Encarna o zezé de camargo e luciano e manda nele o seu tempero favorito [/é o amooooooooooor].

Enquanto a panela fica engrossando aquele caldo que você fez com o vinho, vai fritando os bifotos e mandando um por um pra dentro da panela. Mexe e deixa lá no fogo baixo. Vai notar que o seu molho começa a ficar marrom, quando antes ele era vermelho. É a carne começando a perder o seu suco pro molho. No frigir dos ovos, embora nesta receita não vá ovos, é que carne perde suco pro molho, que perde molho pra carne e vira tudo uma grande suruba. Mas, se o teu objetivo era derrubar a garotinha, vai nessa linha que o caminho é esse mesmo.

Bacana, tá quase pronto. Lembra daquelas batatas que ficaram na panela? Pois é, aquilo deve estar uma verdadeira moleza. Espeta uma com um garfo, se ela desmanchar, tá no ponto. Desliga a panela, joga a água fora e amassa bem. Use instrumentos, você vai saber qual o mais adequado pra amassar batatas. Uma colherada de MANTEIGA dentro ajuda a ficar mais legal. Tá pronto.

Ponha a mesa com toda a elegância que eu sei que você não tem, come de boca fechada, não arrota e não fala com comida na boca. Faz teu prato e janta tudo junto: vinho, purê, bife, molho e garota. A garota pode ficar pra depois.

Um rango que pode mudar o seu estado civil, te ajudar a pegar a mulher dos teus sonhos e deixar o zé mayer no chinelo.

PS: eu sempre fotografo os pratos que eu faço. Este, eu já fiz mil vezes. E acabei de descobrir que não tenho uma foto sequer dessa iguaria. Mas assim que fizer, posto aqui.

Custo: É caro, vai vinho e carne boa. Mas pensa nisso como um investimento. Só faça se a garota valer a pena.
Tempo de preparo: Umas 4 latinhas. Ou o tempo de você matar a meia garrafa de vinho que sobrou. Não seja estúpido de estar embriagado na hora de... enfim, você entendeu.
Rendimento: Controverso. Se você casar com a garota, seus rendimentos estarão comprometidos pro resto da vida. Definitivamente, uma receita que pode te levar à falência :-)

Receitas dos leitores: Churrasquinho turbinado, por André Gebaile

Olha, se tem uma coisa que a gente curte muito é pagodeiro dando entrevista. A cada 4 palavras, rapaziada manda umas de humildade. Beleza que o cara tá coberto de ouro, numa limusine bmw laranja conversível e coloca na letra da música que tem um casaco de bisón (kkk), mas a humildade é o que pega, certo mano? E eu simijo com essas paradas aí. Jogador de futebol, charlie brown junior, pleno ou senior é tudamemamerda. O cara ficou rico e metido, mas continua com o mesmo discursinho besta de humildade.

A verdadeira humildade, segundo Deus, está transcrita nas linhas abaixo:
Humildade vem do Latim humus que significa "filhos da terra". Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é a virtude que dá o sentimento exato da nossa fraqueza, modéstia, respeito, pobreza, reverência e submissão.
Sacou? Pois então sejamos fracos, modestos, pobres, reverentes e nos curvemos ao cara que nos mostrou que Yes, We Can e um churrasquinho com queijo pode se tornar muito mais do que um simples churrasquinho com queijo.

André Henrique Pacheco Gebaile é um cara que quebra as regras, é um cara que chuta bundas, um cara que sabe das coisas e, pasmem: André Gebaile sabe onde está o Belchior!!!

E, do alto da sua sapiência, André Gebaile leu o post sobre o churrasquinho com queijo e mandou a dica do século. Leia as sábias palavras com seus próprios olhos:

E conforme havia falado, o how-to do churrasquinho com queijo plus advanced ;)

1) Pegar um pão francês, abri-lo ao meio, e passar um pouco de requeijão em ambas as fatias.
2) Fritar o bife de Contra-Filé ou Patinho, ao ponto. Quando estiver quase pronto, colocar 3 fatias de queijo prato sobre o bife e jogar um pouquinho de água (uso 2/3 duma tampinha de garrafa d'agua como medida) na frigideira para facilitar o derretimento do queijo.
3) Na fatia da parte de cima do pão, acomodar algumas folhas de alface (cerca de 3 ou 4) e algumas rodelas finas de cebola e duas de tomate. Temperar com orégano, pimenta do reino, um tiquinho de azeite.
4) Após o queijo estar derretido, acomodar o bife no pão, fechar o sanduíche e correr para o abraço.

O requeijão desempenha um papel fundamental nesse sanduíche e convido vcs a saborear a receita. É assaz =D

abraços,
André
E foi assim que procedi, com minúsculas diferenças no procedimento, em relação à receita original. Tão minúsculas que sequer vou postar aqui, deixando ao nobre leitor a oportunidade de experimentar, como bem disse o autor, assaz iguaria.

Se você não entendeu que pica é essa de botar alface e requeijão no churrasco é porque não entendeu o espírito da coisa. Churrasquinho com queijo é um sanduíche, composto de pão, contra-filé na chapa, queijo e outro pão. O link pra receita original está aqui.

E, como nada nessa vida é de graça, deixo o parágrafo abaixo com a responsabilidade de ilustrar o nobre homem que elevou o churrasquinho com queijo a uma categoria intergaláctica dos lanches tradicionais. Com vocês, André Henrique Pacheco Gebaile, por ele mesmo:

André Gebaile, 22 anos, webdesigner da Spinelli Corretora de Valores e do investBolsa Home Broker, e freelancer nas horas vagas, fala sobre o ponto de vista pseudo-abstrático da metafísica quântica das coisas no seu twitter ( @pachecogebaile ), e também pode ser achado no email pachecogebaile@gmail.com

Mas.. e o Belchior, hein?

Churrasquinho com queijo

Quando eu era moleque, eu simijava com os Mamonas cantando o Vira. Aliás, sempre achei o humor daqueles caras muito foda. Tem certas sutilezas em robocop gay, por exemplo, que são impagáveis. Prestenção nos backing vocals, na próxima vez que ouvir. Aliás, na próxima vez não, prestenção AGORA:




Então, mas onde a gente quer chegar com essa conversa mole? Ah, então, os caras mandavam muito bem no Vira, que me lembra do seu Manuel da padaria, que me lembra que ontem eu almocei lá (na padoca) e que a patroa pediu um churrasquinho com queijo, que me lembra que eu fiquei morrendo de vontade de comer aquilo, e que tudo isso me lembra que sim, eu me lembro do que eu almocei ontem! E que foi uma coxa-creme e tava terrível, ao contrário do churrasquinho com queijo da patroa, que parecia delicioso. Só não me lembro se eu assumi a minha porção neanderthal e tomei o quitute da mão dela ou se apenas fiquei olhando e babando, mas isso não tem a menor importância. Fato é que aquele churrasquinho com queijo ficou me atormentando o resto da tarde.

Se você não sabe o que é um churrasquinho com queijo, eu ajudo a ventilar essa sua mente. Pegue uma cerveja (o ativador cerebral do homem moderno. ou nem tão moderno assim) e escuta o que eu vou te falar: Churrasquinho com queijo é um lanche. Composto por um pão francês, que os gaúchos (ou cariocas, não lembro bem), virilmente chamam de "cacetinho", recheado com um bifão de contra-filé coberto com queijo derretido. Sacou? Simples assim.

Então, ao adentrar o conforto do lar, depois de um dia de trabalho cascudão, com esse sanduíche me perseguindo o subconsciente, eis que abro a geladeira e encontro uma Itaipava. Não, não era isso (acho que tá na hora de ir pra casa, a mente já tá engasopando), eis que eu abro a geladeira e encontro um belíssimo pedaço de contra-filé. Uma peça mesmo, que eu havia comprado no dia anterior. Tava resolvido o caso do sanduíche que me dominava: faria eu mesmo o meu churrasquinho com queijo. Little Barbecue with Cheese, como dizem os ianques, entre um hamburger e outro.

Tratei de convencer a minha doce esposa a comparecer à padaria, em busca de pães e queijo mussarela. Fui bem-sucedido nessa investida, apesar da má vontade com que ela executou a tarefa. Mas o que importa é que ela saiu tarde e no frio pra comprar pães e eu fiquei no quentinho preparando os bifes (querida, te amo, vc sabe que isso aqui é brincadeira, né?).

E como preparei os bifes pro churrasquinho com queijo? Na verdade, pra fazer churrasquinho você não precisa nem temperar, basta por sal. Mas, como eu cheguei do trabalho depois das 9 da noite e minha alma só se salvaria se eu comesse algo REALMENTE gostoso naquele momento, decidi fazer um agrado no contra-filé.

Cortei 4 fatias de contra-filé, com um pouco menos do que uma salsicha de espessura (wow, acabei de inventar uma medida excelente pra espessura! Todo mundo sabe o quanto tem uma salsicha, não tem como errar). Joguei um pouco de orégano nos bifinhos. Adicionei sal fino e uma pitada de nada de pimenta do reino. Só pra dar o agrado, mandei uma pimenta biquinha picotada lá dentro. Um gole de azeite e tá feita a arte. O cheiro da carne, somado à quantidade de horas decorrentes desde a minha última refeição já seriam o suficiente pra abocanhar aqueles bifes crus mesmo, mas preferi o auto-controle e deitá-los na frigideira.

Ok, isso é um blog de churrasco e esse negócio de frigideira é coisa de fritador de batata, e isso a gente não é, pensa o nobre leitor nesse momento. Mas explico: se você mora em São Paulo e, como eu, está sofrendo com a massa de ar polar que os argentinos mandaram pra gente, creio que consegue entender que usar o quintal (e a churrasqueira, por consequencia) nesses dias pode causar o congelamento de certas partes do corpo que eu prefiro manter quentinhas. Portanto, mandei-os pra frigideira. Mas, se você quer arriscar, recomendo acender a churraca e usar uma chapa de ferro pra fritar o bife.

Na hora de fritar os bifes, é bom lembrar de não colocar óleo, manteiga, azeite, nada na frigideira. Afinal, você já deu uma golada de azeite nos bifes, lembra-se? Além disso, o contra-filé tem bastante gordura, que derrete e lubrifica a frigideira.

Daqui pra frente não tem segredo. Deixa o bifinho ali deitando fazendo barulhinho por um tempinho, vira ele, joga o queijo em cima, e quando derreter, corta o pão, põe tudo no meio, fecha e come.

E, finalmente, o churrasquinho com queijo da patroa parou de me atormentar, e fomos felizes para sempre.

Tempo de preparo: Muito rápido, só 2 brejas. Tome umas 5 antes e sirva bêbado.
Rendimento: Cada bife vale um pão, uai.
Custo: Uns R$5,00 de carne e mais uns R$4,00 de queijo e pão renderam 4 sandubas. Beeem barato.

Como eu fiz um churrasco pra 40 pessoas com R$175,00

Antes de iniciar, vou avisar: este post é longo, e pra caraio. Trata-se de uma epopéia, e eu tou dando a dica pra você mandar um churrasco responsa pra 40 esfomeados com menos de 200 mangos, ou seja, menos de 5 cruzeiros por pança. Se você não tá afim de ler, leva a sua galera na churrascaria de sua preferência e hipoteque a sua casa quando chegar a conta. Esclarecidos os fatos, vamos aos assuntos que nos interessam.

Eu não sou churrasqueiro profissional. E eu não quero ser churrasqueiro profissional. Me incomoda a idéia de fazer comida pra pessoas que não conheço. Incomoda também a idéia de fazer carne sem nenhum amigo pra bater um papo. Além disso, fazer carne sem enxugar umas boas brejas não faz o menor sentido. Eu, como churrasqueiro profissional ia passar vergonha. Ia encher a cara em todo churrasco, queimar o meu filme, e no final sairia breaco demais e nem ia lembrar de cobrar o meu dinheiro. Por isso que eu faço carne pras pessoas que eu gosto e tá bão por aí. Claro que existem excelentes profissionais por aí e eu acho super bacana. Pra eles. Pra mim, carne e trampo não se misturam.

Só que nesse final de semana eu fui churrasqueiro profissa por um dia. Foi o aniversário da minha queridíssima sobrinha Nicole. Vã, a mãe dela e minha prima-irmã, queria fazer um churras pra chamar a tiarada, primaiada, molecada, padrinhada, vizinhada, hunos, godos e visigodos. E me pediu pra cuidar da parte da carne. Eu não tinha como dizer não. É pra Nick, pô!! E aceitei o desafio de cuidar de um churras pra 40 pessoas. Peguei 200 cruzeiros com a Vã e  bora pro jogo. 

Vem comigo fazer uma continha. Aproveita que a minha filha teve prova de matemática ontem e eu estudei com ela, e a conta tá quentinha na cabeça: 200 fuckin mangos é um dinheirão, né não? Éééééé... opa, então sente o problema chegando:

Pedrinho foi ao açougue comprar carne pra 40 pessoas. Se o preço da picanha anda valendo R$30,00 em média, qual dos dois rins o Pedrinho vai ter que vender pra pagar esse banquete: o direito ou o esquerdo? Sem rim, como ele vai processar a cerveja do churrasco? Tem chance disso dar certo?

Pois então, foi assim que eu me senti. E ao contrário do Pedro Bial, encarei o paredão e dane-se os 300 milhões de votos (a globo acha que a gente tá na china. um paredão tem 50 milhões de votos num país de 200 milhões de habitantes. Um pra cada 4, Bial??). O primeiro passo foi pedir a grana ao vivo pra Vã, e isso teve um motivo. Seu eu faço o velho esquema de eu-pago-e-depois-vc-me-paga, eu ia acabar gastando mais, e absorvendo o preju. Claaaro que eu pagaria o quanto precisasse pela Nick, mas achei que valeria a pena abraçar o desafio. Meti as quatro onças-pintadas na mochila e era aquilo que eu tinha pra gastar. Pois eu fiz o milagre, e vou contar o santo.

Primeiro enfiei na minha cabeça que não ia ter picanha. A piqueta é uma delícia, mas é cara pra diabo e acaba em segundos num churrasco. Optei por fazer outras carnes mais baratas e igualmente saborosas. Minha estratégia se baseava em comprar pequenas peças de um monte de tipos de carnes diferentes. Depois pude ver que essa estratégia foi perfeita, mas foi puro chute. Vou destrinchar as peças compradas uma a uma daqui pra frente.

1 - A costela ponta de agulha: Foi minha primeira idéia. Primeiro porque eu tava com vontade (outra vantagem de não ser profissional, vc escolhe de acordo com a sua gula). Segundo porque é uma carne deliciosa e ridiculamente barata. Nos pão-de-açúcar da vida só vende pedaços pequenos, e eu precisava de um grande, ou seja: tinha que comprar em algum açougue, no horário comercial. Pois então, lá estava eu voltando de uma reunião na casa do chapéu, estressado com o trânsito, quando me surge um mercadinho de bairro que tinha belas peças de ponta de agulha penduradas. Parei o carro, peguei a peça que julguei mais bonita e comecei as compras. Moral da história: Uma belíssima peça de 2,5kg por R$12,50. Sacou?? 12 fuckin reais por 2 quilos e meio de carne fodona!! Na dinâmica de um churrasco de galera, já resolvi o problema do final do churrasco, quando ficam os mais chegados do seu lado. A ponta de agulha demora hoooooras pra ficar pronta e vale a pena tratar os que te acompanharam durante essa peleja com carinho. Ou seja: quando as tias esfomeadas forem embora, vais compartilhar com os amigos 2,5kg de pura felicidade.

Pronto, agora faltavam as outras carnes. A semana de trabalho acabou com meus glóbulos brancos, fez empretejar os meus glóbulos vermelhos e derreteu as minhas plaquetas, e com isso só consegui tempo pra comprar o resto das coisas no próprio sábado, lá pelas 13:00. O churras era às 16:00. Logo, fudeu. Decidi ir até o pão de açúcar da av. Ibirapuera com Rep. do Líbano (quem é de sp sabe, quem não é, trata-se de um dos poucos mercados grandes e com bons produtos do pda, e eu não ganho nada do abílio diniz pra falar isso). Lá, eu sabia que encontraria boas carnes.  Pega carrinho e empurra PDA adentro. Cheguei rapidamente a uma gôndola de congelados que tem brinquedos especialmente divertidos (perdiz, paleta de cordeiro, pernil do porquinho), mas principalmente peças de costela de porco congeladas. 

2 - Costela de porquito: Como o churras seria horas depois, comprei algumas congeladas, mesmo. Dei uma bela sorte de encontrar duas peças altas, com bastante carne, e da parte boa do osso, aquela em que se vê o vãozinho dos ossos direitinho. Em posts futuros, pretendo discorrer mais profundamente sobre a anatomia costelar suína. Por enquanto, entenda que acertei nas duas peças que comprei. Uma custou R$6,80 mangos e a outra R$4,90. Ou seja: mais 12 cruzeiros em carne boa. Costela de porco não tem segredo: hora que sair, geral come feliz e acaba num segundo. Foi o que aconteceu.

3 - A alcatra do porco fez a festa: Achei um belíssimo pedaço de alcatra de porco. Como disse no post sobre a alcatrinha, é uma peça barata, que ninguém sabe o que é, mas todo mundo come lambendo a cara. Comprei uma peça de 1kg e dividi em 3 partes. Servi com intervalos de mais de uma hora entre elas. Na boa, um monte de gente veio lambendo os dedos perguntando que carne era aquela. Disse que era carne de leprechaun e o pessoal desistiu de perguntar. Sabe quanto custou essa peça? R$14,50. Em três levas, fiz a festa com 3 tecos de carne de R$4,80.

4 - Linguiça de pernil ao alho: Neste blog eu nunca falei muito de linguiça. Primeiro porque eu sou espada, e pega mal ficar falando de linguiça. Segundo porque eu não sou um grande fã mesmo. Quando eu preparo linguiça, prefiro umas recheadas, mais caprichadas (e caras, infelizmente). Acho que, no meu tempo de moleque, fiz tanto churrasco de linguiça que enjoei. Bom, comprei uma embalagem de linguiça de pernil ao alho com quase 1Kg por honestíssimos R$6,30. Fui soltando aos poucos no churrasco, fazendo uma por vez. Ajuda a dar volume.

5 - Fraldinha: A fraldinha é uma carne perfeita pra churrascões. Fácil demais de preparar, e é uma carne saborosa, que agrada inclusive aos que acham que churrasco é significado de picanha e mais nada. A pecinha que fiz pesava 400g e custou R$6,10. Cheguei a cogitar a hipótese de preparar o rocambole de fraldinha, mas ia dar um trabalho monstruoso, e meu tempo tava curto. Optei por deitar a peça inteira mesmo, só com sal grosso. Funcionou lindamente.

6 - Drumet: Frango é bom em churrascão porque não dá trabalho e fica pronto logo. Se chegar um grupo de esfomeados, você lança uns drumets na grelha e serve rapidão. No PDA vende um drumet temperado honestíssimo. Nem pensei em preparar nada, comprei aquele mesmo e assim foi. Comprei duas bandejas que, juntas, pesaram 1,1kg e custaram R$9,50. 

Antes que você saque a calculadora, relaxa que eu faço as contas no fim do post. Mas vai vendo, só comprei coisa barata até agora.

7 - Coraçãozinho de frango: Esses dias vi uma reportagem sobre um inglês que mora no Brasil, e faz torta de rim de boi. O cara dizia assim: "Como vocês tem nojo do rim? Vocês comem coração de frango!!". Eu digo, companheiro: no coração do frango só passou colesterol e os mais puros sentimentos pela galinha sua mãe. No rim, passou mijo e eu tou fora disso. Pensando assim, comprei uma bandeja de coração que, incrivelmente, estava limpinho. Se eu tivesse que limpar não ia dar tempo. Foram 530g por R$5,80. 

8 - O famoso espetinho de contra-filé: esse já virou um clássico. Dá um mega trabalho preparar, mas vale a pena demais. E espetinho em churrascão é legal porque sai rápido. Chegou monstro faminto? Mete dois espetos, vira duas vezes e serve. Comprei 1,2kg de contra-filé por R$21,80, três embalagens de 150g de tomate-cer(v)eja por R$9,00. Tá, azeite e orégano eu não comprei, e ainda usei uma mostarda preta que eu tinha em casa. Dediquei todo o tempo que eu teria em casa a esta carne, porque eu sabia que ia fazer sucesso na festa. E, realmente, fez. A veiarada ficou doida hora que experimentou. 

Tanto para o coraçãozinho, quanto para o espetinho, eu comprei 3 embalagens de espetos de bambu (e pra que serve o bambu? haha). Custaram R$1,25 cada, totalizando R$3,75.

9 - O pão com alho do Daninho: Essa foi uma receita que veio em boa hora. O Daninho veio com essa idéia no meio da semana passada, e eu aproveitei pra arrebentar no churrasco. Fez um baita sucesso, o povo ficava louco com o pãozinho com alho e catupiry. Minha estratégia era ter pão saindo o tempo todo, intercalado com qualquer carne. Ajuda a encher as panças, e como é caprichado você não parece um picareta, que convidou a galera pra um churrasco mas tá enfiando pão goela abaixo. Usei um pote inteiro de maionese (R$2,80), um pote de 250g de catupiry (R$4,99), azeite e alho eu tinha em casa e comprei 20 pães (R$9,15). Como eu sabia que na casa da Vã só tem mulher e se tem coisa que mulher compra pra churrasco é pão, comprei só 20, mas na real acabei preparando uns 50. 

Parei o carrinho num corredor sossegado, e fiz rapidamente as contas. Fiquei surpreso ao perceber que ainda sobrava uma nota preta. Já tinha carne pra caramba no carrinho, os 200 mangos iam dar e sobrar. Diante disso, abri mão da minha estratégia de pão-durice. 

10 - Linguiça calabresa com provolone e orégano: Essa linguiça é legal mesmo. A marca é Rei da Linguiça, que apesar no nome infame, tem umas carnes bacanas. Depois vou escrever melhor sobre isso. A embalagem tinha 500g e custou R$12,50. 

11 - Aí sim, a picanha!! Bom, como tinha dinheiro sobrando, bora lá procurar se tem uma picanha pequeninha e barata. E olha só, não é que tinha uma sorrindo pra mim? A lindoca tinha 850g, uma capa de gordura perfeita e custava R$19,00. Não dá pra resistir, né? Bom, eu a preparei em bifes grossos, com o esquema do alho. Ficou sensacional.

12 - A breja, claro: Olha, eu também sou filhinho de Deus. Saindo do supermercado, teria uma trabalheira na cozinha pra preparar os espetinhos, e quando chegasse no churrasco eu tava verdadeiramente lascado. Já vou te avisando, num churrasco pra 40 pessoas, você não consegue parar um minuto, nem pra fazer xixi. Sabendo da labuta que me aguardava, comprei uma caixa de Itaipava pra tomar enquanto preparava tudo. Com o dinheiro da minha prima. Mas aí que vem o legal da coisa: verificando o ticket aqui, acabei de perceber que a garota do caixa passou apenas UMA cerveja. Ou seja: Abíliô, valeu pelas 11 de graça, parceiro!

Ainda corri num mercadinho próximo de casa e comprei 4 sacos de carvão por R$5,60 cada um, totalizando R$22,40.

Agora soma tudo isso ae que eu tou cansado de digitar. Vai dar marromeno R$175,00, porque eu ainda devolvi R$25,00 pra Vã, que acabaram se transformando em cerveja. E eu bebi.

Bom, o churras foi bem legal, trabalhei pra cacete, tive companhia o tempo todo (esse é o medidor: se tem muita gente em volta de você, é porque a carne tá boa, vai por mim). Tive uma grande ajuda do Hugo, que também manja de carne e matou a ponta de agulha comigo, e me ajudava quando eu precisava largar a churraca pra mandar um pipi.

Felizes leitores, taí a dica. Agora nós sabemos que você não precisa ir à falência pra mandar um churras densamente populado. Com R$200,00, você pode comprar 4 picanhas grandes, ou esse monte de coisa aí.

Esse post é especialmente dedicado à Ni, pelos seus 11 aninhos. Parabéns, lindinha. Você merece muito mais do que esse monte de carne aí, você merece o mundo!! Aliás, você descobre que tá sabendo fazer churrasco quando uma criança de 11 anos te pede um churrasco de aniversário :-)

Espetinho de contra filé

Eu sou paulista. E tenho uma constatação a fazer: paulista é mesmo um povo sacaneado Brasil afora. No país todo, as mulheres andam no banco de trás do carro, mas quando isso acontece, sempre tem um pra chamar de "carro de paulista". Fogo, viu. O brasileiro, esse fanfarrão, sacaneia do nosso sotaque, diz que a gente fala "orra, meu". Mentira, a gente não fala assim, não. Aí vem o Faustão, aquele babacaço mega-chato de todo domingo e fala na TV: "Oooooorra meu, ô loco!". Pãtz, aí não tem jeito.. A gente acaba virando personagem do Caceta & Planeta, do Hermes e Renato, da revista Mad e, se vacilar, até da Turma do Didi.

Pois hoje este blog mergulha de cabeça na paulicéia pra falar de um tipo de churrasco tipicamente nosso: O espetinho. 

É, além dos carros, do maldito apresentador dominical e do sotaque, dizem por aí que churrasco de espetinho também é coisa de paulista. E nós vamos provar pra esse país inteiro que a gente pode fazer um simples espetinho surpreender gaúcho, mineiro, grego e troiano. 

Observação de cunho pessoal e instransferível: Pensando pelo lado churrasquístico da coisa, eu queria mesmo era morar no pantanal, que nem na novela. O cara acorda, abre a porta do quintal e encontra 3 mil cabeças de gado. Arreia o cavalo, escolhe uma, mata e corta. Faz um tapete com a pele, um berrante com o chifre, uma garrafa de pinga com a pata, um espanador com o rabo, separa cuidadosamente o contra-filé e ainda sobram 800 kg de carne. 

Seria legal, mas eu não sou de lá. Carne, aqui, só no açougue. E se você também não tá no pantanal, seu pai não tem um avião, seu quintal não vai até o horizonte e o tudo o que você sabe de lá é que a Juma Marruá vira onça e dá um puta trabalho quando isso acontece , dirija-se até o açougue mais próximo e peça 1kg de contra-filé cortado em bifes bem grossos, de 2 dedos de espesura. 

Vamos à receita. Como espeto, utilizei aqueles de bambu que vende no supermercado. Mas você pode arrepiar na criatividade e espetar no palito de dente, vareta de pipa, antena de carro, qualquer coisa. 

Corte o contra-filé em cubinhos, pouco maiores do que um dado do Banco Imobiliário. Se você teve infância, sabe do que eu tou falando. A carne já está em bife mesmo, fica fácil cortar em cubinhos. Se der, limpe a gordura, que às vezes vem cheia de nervos, que endurecem com o calor. Na hora de comprar o bifão, escolha uma peça mais limpinha que não dá erro.

Arruma uma cebola grande. Descasca ela. Corta em 4 pedaços e vai desmontando ela. Esses pedaços que ficam você vai utilizar pra montar o espeto.

Tenha em mãos um punhado de um tal tomate-cereja, que chamaremos, pois, de tomate-cer(v)eja. Acho que fica mais bacana, faz parte do nosso estilo. O tomate-cer(v)eja é um tomatinho do playmobil, bem pequeno, do tamanho de uma bola de gude. Putz, a ana maria braga vai lavar a égua se souber que fiz churrasco com uma fruta.  Bom, corte os tomates-cer(v)eja no meio. Isso vai fazer todo o sentido na hora de montar o espeto, e você vai entender porque o escriba deste pergaminho lançou mão de tão controverso ingrediente.

Jogue todo mundo: a carne em cubos, a cebola desmontada e os tomates pela metade dentro de um pote grande. Não esqueça que você tem 1kg de carne e você vai ter que mexer, então o pote tem que ser grande. Joga lá dentro aproximadamente uma xícara de café de um bom azeite. Já falamos que o azeite vem da oliva, que vem da oliveira, que deu a Luma de Oliveira, e não precisamos mais falar disso, ok?


Taí todo mundo querendo ir pra grelha. Mistura tudo e espeta. simples assim.

Uma vez o azeite lá, é a vez do orégano. Jogue-o no pote, juntoda carne, da cebola, do tomate-cer(v)eja e do azeite. Não precisa por muito, é como se você estivesse temperando um sanduíche. 

Ponha sal com a cautela que Deus lhe deu. Utilizei sal fino, mas acho que com sal grosso deve funcionar bem.

Agora vem o pulo do gato: Jogue, sobre tudo o que já tá lá dentro, mostarda escura. Pra se certificar, gaste um real a mais e compre uma mostarda de qualidade. Quanto melhores os seus ingredientes, melhor fica a comida, naturalmente. Jogue com parcimônia, já que a mostarda preta tem um sabor forte.

Com uma colher de pau, misture tudo. O cheiro que vai subir vai te enlouquecer, mas não se esqueça: ainda não é a hora de comer a carne, convém assá-la primeiro.

Bom, passado isto, chegou a hora de montar os espetos. É como brincar de Lego, só que suja a mão e você come depois. Espete na sequencia: cebola, carne, tomate, cebola. O tomate, cortado ao meio, deve ficar com o lado aberto diretamente encostado na carne. Isso tem um  porquê: o tomate pegou o tempeiro no meio dele. O tomate perde água quando aquecido. Essa água vai direto pra carne. Já imaginou o que acontece, né?




O espeto ainda fica estiloso, as gatas piram!

Fiz 1kg de espetos aqui e consegui fazer 2 churrascos. Uma das coisas que notei, é que o legal é colocar os espetinhos perto do fogo forte, e virar sempre pra assar por igual. Quando a carne ficar branca e nitidamente molhada, já tá legal pra comer. Não deixe passar, porque a carne seca e não fica tão batuta. 


Um quilo de contra-filé deu tudo isso de espeto.

Na hora de servir, faça como quiser. Tire dos espetos e sirva tudo separado, um espeto pra cada um, pouco importa. O que vale mesmo é que essa carne fica saborosíssima, e muito cheirosa. E fica pronta rapidão, no caso de receber um monte de gente em casa, você pode perder um tempo preparando antes, mas sai rápido e todo mundo adora.

Experimenta, faz esse espeto. Depois quero ver quem é que vai sacanear o nosso sotaque. Orra, meu!!

Custo: 13 cruzeiros o quilo de contra-filé, 2,50 os tomates e o resto é irrisório.
Rendimento: Uns 10 espetinhos, que alimentam 5 cabras da peste.
Tempo de preparo: 3 latinhas na cozinha, uma na churraca.