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Camarão na moranga

O calendário gregoriano é mesmo uma coisa de louco. Caso o nobre leitor não saiba, gregoriano é o calendário que nós utilizamos, onde cada semana tem 7 dias, cada ano tem 12 meses, cada dia tem quase 24 horas e quase todo ano temos 365 dias.

O papa Gregório XIII inventou tal aparato para corrigir o falho calendário Juliano, desenvolvido anteriormente pelo incauto romano Júlio Cesar, que já deu nome a um monte de gente, mas perdeu a autoria do calendário e teve de aceitar essa pro papa. 

A loucura começa pelo fato de termos um calendário feito por um papa. É como se tivéssemos uma estrada construída por um criador de javalis, ou uma cidade arquitetada por um garçom. Não que o garçom não tenha seus talentos, mas eu aaaaacho que construir cidade é uma coisa meio complexa. Enfim.. A segunda loucura é que o seu Gregório inventou um calendário falho pra substituir um calendário falho. Taí o ano bissexto que não nos deixa mentir. Ou seja: deu um chega pra lá no imperador e até hoje temos que trabalhar um dia a mais de 4 em 4 anos.

E, já que o assunto aqui é gente que faz caca, venho eu admitir que sim, malacamente fiz uso da incompetência gregoriana pra assumir que tive, nos últimos meses, uma semana tão longa que faria corar Maias e Astecas, com seus calendários assombrosamente finalizados neste malfadado ano de 2012. Se o leitor vislumbrou o post passado, pode notar que, dizia eu, que "semana que vem" redigiria a doce história de um camarão que penetrara (ui) na moranga para produzir uma quente e cremosa gororoba, porém jamais imaginava que passaria por uma semana que começaria em janeiro, e terminaria quase em abril. Culpa do seu Gregório, o XIII.

Pois bem, já que começamos com as pataquadas astronômicas do bondoso papa, vamos nós nessa aventura que o querido leitor vai ver com seus próprios olhos como se vai do céu ao inferno numa única receita.

O camarão na moranga é uma comida típica brasileira, e basicamente compreende uma das mais improváveis combinações gastronômicas já imaginada: Trata-se de uma gororoba de camarão com catupiry enfurnada dentro de uma doce e assombrosa abóbora. 

E vem comigo que a coisa por aqui vai ficar feia.

Primeiro, vamos à gororoba de camarão.

Tudo começa, como quase tudo em culinária, no bom e velho refogado. Se o leitor não sabe do que se trata, é uma fritura de cebola, tomate e alho picados. Mas vamos fazer esse treco direito.

Picota bem pequenina uma cebola média. Tira a casca, faz a coisa direito. Sem chorar, cowboy. Reserva esse trem aí num pote. 

Agora picota uns 2 ou 3 dentes de alho. Reserva em outro pote. Vais sujar um monte de louça mesmo, depois vc se vira com ela.

Picota uns 2 tomates grandes também. Tendo em mente aquela coisa chata dos coliformes fecais, recomendo seriamente que dê uma lavada nos tomates antes da lavagem picotagem*.

* adendo: eu havia escrito que deviamos lavar o tomate antes da lavagem. Os sábios leitores me avisaram do grande erro lógico que me acometera. Agradecido!

Aí você pega uma panela grande (não esquece que vais jogar catupiry, camarão e mais um monte de coisa lá dentro), joga azeite até cobrir o fundo e deixa dar uma esquentadinha. Quando achar que tá meio quentinho, taca a cebola lá dentro. Uma folha de louro ajuda. 

Quando a cebola começar a ficar amarelinha e meio transparente, joga o alho e mistura bem. O alho frita rapidinho, então fica esperto nos pontos pretinhos na panela. Quando o primeiro pontinho preto aparecer, fica esperto e taca lá dentro todo o tomate que já tenha picado. Se não deu tempo de lavar, manda com coliforme e tudo, o que não mata, engorda.

Dá uma mexida aí nessa coisa, vc vai notar que os tomates começam a se desfazer. Vai mexendo gostosinho gostosinho rebolando até o chão [/leandro e leonardo].

Tenha em mãos um belo e glamouroso kilograma de camarão limpo. Pode ser qualquer camarão, e a razão diretamente proporcional entre o prejuízo no seu bolso e o tamanho do camarão impacta diretamente no sucesso da sua receita. Desde que esteja limpo, sem pele, sem rabo, sem cabeça e sem pezinhos. Tirou tudo isso, pesou 1kg, é disso que a gente tá falando.

Manda esses caras pra dentro da panela. Mexe mexe que é bom de novo.

O camarão começa a perder um monte de água, e eles vão diminuindo de tamanho, enquanto você acompanha, literalmente, o seu dinheiro evaporar. 

Primeiro, faz um monte de líquido na panela. Depois, esse líquido vai evaporando e o caldo começa a ficar mais grosso. Tamos chegando no caminho.

Se você tiver um cubinho de caldo de camarão, taca dentro. Se não tiver, taca um de legumes. Se não tem de legumes, nem pensa em mandar aquele tempero de feijoada, sazon ou caldo de carne. Aquele lance da propaganda que todo mundo acha gostoso e sai gritando que É O AMOOOOOOOR só acontece no comercial. Se você mandar um caldo de carne no camarão, estragou o camarão. Se não tem caldo nenhum, ao final da receita vc acerta o sal e pronto. 

Entornando o caldo, o que temos aqui é uma panela fervilhando de camarão, tomate, cebola, alho, tempero e água. Joga lá dentro um vidrinho de leite de coco, isso aí dá um agrado ímpar a essa receita.

Quando der uma boa evaporada no seu rico dinheirinho na água do camarão e o caldo estiver ficando grosso mesmo, joga lá dentro metade de uma daquelas bandejas de catupiry. Pode ser uma bisnaga, enfim. O ideal mesmo é aquele catupiry que vem no potinho (que parece uma bandeja, que antes era de madeira), mas pode ser o de bisnaga.

Mais uma vez, a razão entre o quanto pagou no queijo e o quanto sua receita vai ficar gostosa é diretamente proporcional. Resumindo: não manda aquele "requeijão biriba" pra uma receita cheia de camarões. Manda catupiry de verdade, ou alguma coisa BOA lá pra dentro.

Ok, feito isso, mistura um pouco e deixa. Vamos pra abóbora.

Eu, sinceramente, nunca entendi os americanos. O fato deles acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, eu até aceito. O fato deles comerem pasta de amendoim e omelete de manhã, até dá pra entender. O fato deles não gostarem de futebol e acharem o máximo jogar taco no estádio, passa. Mas esse lance muito louco de ter medo de abobora eu não entendo MESMO. Tá certo que é helloween, aquela coisa toda, mas poxa.. uma abóbora, sempre vai ser uma abóbora. Um vegetal, como cenoura, pepino e acelga. Embora acelga seja meio esquisita mesmo.

Pra provar que esse lance de medinho é coisa de maricas, cá vamos nós bancar o sacripantas e retirar o cérebro da fruta lá de dentro.

Você pega uma faca afiada, e arranca a tampinha do alto da cabeçona dela. Imagina uma tampinha redonda, começa a cortar. Tá feito. 

Mete o mãozão lá dentro (dá uma lavada, né fanfarrão), retira todo o conteúdo e pronto. Você vai ter uma abóbora oca, inofensiva, incapaz de assustar o mais frágil dos barak obamas. 

E antes que você possa falar "Shake Your Ass, mr. Pumpkin-head", passe a mão no óleo da sua cozinha e esfregue nas paredes internas da cabeçona de abóbora ali. Pouco óleo, é só pra dar uma molhadinha.

Pra que? Pra passar batom, de que cor? de cor de violeta. Na boca e na buchecha Pra abobora em si começar a ficar molinha.

E por falar em molinha, saca que moleza: mete a aboborona dentro do seu microondas e deixe lá uns 2 minutos. Abre, cuidado pra não queimar esse dedão duro. Se ela tá ficando um pouco mole, tira de lá. Se ainda tá muito durenga, vai deixando mais um minuto, conferindo o estado da fruta com frequencia.

Aqui vem o grande momento da sua abóbora. Pensa comigo:

At the blue corner, você tem uma abóbora acéfala, meio molenga. E at the red corner você tem um líquido muito louco de camarão e mais um monte de coisa. A missão aqui é colocar um dentro do outro, preferencialmente o camarão dentro da moranga, sem nocautear a sua receita e sem golpe abaixo da linha de cintura.

Se você não tomar cuidado, sua abobora vai quebrar e todo o seu dinheiro camarão vai pelos ares pelo chão.

Portanto, não faça como eu fiz, e coloque uma bandeja debaixo da abóbora. Feito isso, deposite no fundo da abóbora o outro meio pote de requeijão. Feito isso também, jogue aquele líquido todo de camarão e coisas. Isso tudo vai, agora, pro forno. Não se esqueça da lambança que acontecerá caso esqueça da bandeja debaixo da abóbora.

Veja com seus próprios olhos:


sim, leitores. isso aconteceu comigo.
aí aprendi a forrar a abóbora, como podem ver na de cima.

Recolhido do chão, a família nem percebeu o gostinho de ODD. 
malandragem também faz parte da culinária, vai aprendendo com o tio.

Agora, deixe no forno o tempo de você tomar umas duas cervejas, retire com todo o cuidado do mundo e seja feliz.

Casquinha de siri

Isso que eu vou contar aqui vai me denunciar a idade. mas eu preciso dizer que dia desses, lembrei sem querer de uma das bandas que mais tocavam nas rádios antes das rugas habitarem a cútis facial deste que vos fala.

No distante tempo no calendário gregoriano, no qual este ainda ostentava espinha, kichute, transcaloi e lição de casa, as rádios vigentes eram sempre povoadas pelas letras sórdidas de um gaúcho dos pampas chamado humberto gessinger. 

Gessinger era o cara que dizia que o papa era pop, que infinita mesmo era a highway e que a juventude era apenas uma banda numa propaganda de refrigerantessssss. Havia um garoto que, como ele, gostava dos beatles e dos rolling stones. E ainda tinha uma garota chamada Ana, cujos lábios eram labirintos, Ana, que lhe atraíam os instintos mais sacanas.

Tal e qual o poeta-safado com pinta de capoeirista djavan, humberto gessinger desenvolveu a teoria da composição artística baseada no aleatório, uma verdadeira genialidade do descompromisso. Artistas como gessinger e djavan conseguem reunir numa única frase coisas como um açaí, zum de besouro e um íma. E fazer as pessoas gostarem de ouvir essa coisa. Ou então, desfilar que existem sim paralelas que se cruzam, mas lá em Belém do Pará, confundindo gente culta e aumentando involuntariamente o contingente turístico da região.

A isso se dá o nome de fanfarrice. Safadeza, gatunice, malacagem. Ato ou efeito de camuflar outrém sob a flâmula da malandragem.

Se você estava tentando entender o que isso tudo teria a ver com uma simples e honesta casquinha de siri, encontramos, aqui, um paralelo. E olha que nem precisamos viajar ate Belém. Primeiramente, porque se tem um cara que entende de paralelo, esse cara é o siri. Ou o nobre leitor acha que um cidadão que anda de lado não entende de paralelo? E outra que o siri é mesmo um cara safo. 

Cidadão olha pro siri, e de repente.. cadê? Dois passos pro lado e já era o crustáceo. Ou então, cava um buraco na areia e pronto, tchau siri. E vacila com esse dedão pra você ver se não toma um beliscão. 

Definitivamente, o siri é casca grossa. Literalmente. E essa receita aqui é tão malaca quando o siri, porque começa te levando a crer que vais comer a casca do siri quando, na verdade, vais comer só a carne. O que julgo ser uma vantagem, não fosse o infortúneo de comer isso tudo montado numa conchinha. 

É, caro leitor. O siri é um cara cheio de traquitanas, que te faz pensar que vai comer a casca, mas vai comer a carne. E mesmo não sendo na casca, é na concha. Foi logrado e nem notou, amigo.

A casquinha de siri em si todo mundo já comeu. E se alguma vez você já se perguntou que diabos vai lá naquele treco, pode dispensar o indiana jones aí do seu lado, porque eu ajudo a esclarecer o enigma. Na casquinha de siri vai um mooooonte de coisas. A primeira delas é carne de siri. Vem comigo.

Vamos partir do princípio que você tem as conchinhas em mãos, ou pelo menos tem algum invólucro pra montar as casquinhas. Se não tem nada, compre uma caixa de cerveja, tome todas as cervejas, corte cada latinha na metade e utilize a meia-lata como concha. Não vai te ajudar a abalar os corações das garotas, mas que funciona, funciona.

Pasmem, mas o ingrediente que predomina na casquinha de siri é mesmo... o pão. Parceiro, como vai pão naquele negócio. 

E já que estamos falando de pão, pegue 3 fatias de pão de forma e coloque pra dormir num pratinho repleto com uma garrafinha de leite de coco. 

Tá vendo como essa receita é uma fanfarrice? Aposto que nunca imaginou que lá dentro tinha pão e leite de coco, não é? Lembra do açaí e do íma? Mesmo princípio.

Ok, deixamos o pão no leite, tira o gato de perto e continuamos com a receita. 

A carne do siri, em si, vende no supermercado. Se você prefere cavar a areia, tomar belisco e limpar o bicho, beleza. Mas eu achei mais simples comprar uma embalagem de 100g de carne de siri limpa. Aí o trabalho é jogar tudo num saquinho daqueles de freezer e mandar pra dentro o caldo de um limão. É importante deixar no saquinho, depois você vai entender. Põe tudo no mesmo saco, limão e siri. Chacoalha e deixa quieto. 

Agora vem o básico do refogado, né? Corta meia cebola em pedaços beeeeem pequenos, guarda num pote. Picota uns 2 dentes de alho beeeeeeeem pequenos e vê se não corta esse dedo, você ainda vai precisar dele. E picota um tomate inteiro, em pedaços moderadamente pequenos.

Aí vem mais uma surpresa. Picota beeeeeem pequeno, tomando cuidado pra não furar o bandaid, meio pimentão verde. Só meio.

A maneira mais maneira, com o perdão do trocadilho, de lidar com o pimentão é retirando aqueles veios brancos que tem dentro dele. Abre o bicho, que não é bicho e sim legume, e sai retirando aqueles sulcos brancos. Corta só a carne, por mais que ele não tenha carne. Você entendeu.

Agora mete fogo na boca 1 e mete uma panela ali. Dá aquela boa e velha golada de azeite, tomando toda a atenção do mundo pra somente depositar o óleo sobre a panela, e não necessariamente, degustar a iguaria. Joga azeite lá e boa.

Quando parecer que tá quente, joga a cebola. Mexe mexe que é bom [/ leonardo]. E se no mexe-mexe todo mundo apronta, aproveita a deixa e joga o alho lá dentro quando a cebola ficar amarelinha. Mexe e remexe de novo, mexendo gostosinho sem parar [/ gerasamba]. Quando tudo ficar amarelo e você começar a achar que tudo vai queimar e o que era pra ser uma receita vai virar um incêndio, jogue lá o tomate e o pimentão. Mexe mais uma vez. O tomate começa a perder água e a coisa toda acalma dentro da panela.

Lembra do siri no saco? Pois é, capitão nascimento sabe do que tá falando. O lance é fazer um buraquinho pequeno no saco e ir espremendo a carne, de maneira que todo o limão e todo o liquido possível escapem pelo buraco. Isso mesmo. Primeiro, nós jogamos limão no siri, agora vamos tirar tudo. A vida é assim, amigo. Um dia é da casca, outro do descascador. 

Quando o siri estiver sequinho, manda pra panela do refogado. Mexe mexe que é bom mais uma vez. É o beija-beija. Alguém tira esse leonardo daqui, pelo amor de Deus!! Ou seria o zezé de camargo?

Bom, o lance é deixar esse trem fervendo, mexendo sempre até que o tomate e o pimentão desapareçam. ou pelo menos fiquem bem detonados, você entendeu onde eu quero chegar.

O único e derradeiro tempero que vai nessa receita é o cominho. Mas recomendo cuidado, porque o palhaço é ladrão de mulher o cominho é ladrão de sabor. Coloque coisa como uma colherzinha de chá, apenas. Muito cominho vai te fazer preparar uma casquinha de cominho. E o bicho é indigeeeesto. Não é bicho, é tempero, mas você entendeu.

Ah, em algum momento dessa ferveção de tomate e pimentão, você pode jogar um tablete de caldo de camarão. Ou caldo de peixe. Ou caldo de legumes. Não adianta especular, não existe caldo de siri, ok?

Quando achar que tá na hora, e, acredite, você vai saber, jogue lá dentro o pão e o leite de coco. Vai mexendo, a coisa toda agora começa a virar uma pasta mesmo. Tá nojento? Estamos no caminho certo.

Sabe aquela embalagem de queijo ralado que não muda há mais de 500 anos? Pois veja só, pode jogar o conteúdo de uma dessas pra dentro da sua panela. Vai derreter, vai ficar legal. Vem comigo.

Agora a única missão é engrossar o caldo da coisa toda aí. Pra engrossar, deixe em fogo baixo e vai mandando pra dentro colheradas e mais colheradas de farinha de rosca. O que nos leva a uma reflexão...

Tu já apertou uma rosca? Tinha farinha? Então. Na minha rosca não tem farinha, então nem imagino porque diabos alguém deu esse nome a tão nobre elemento da nossa culinária, mas o fato é que devemos usar a tal farinha de rosca pra fazer a nossa maçaroca de ingredientes ficar uma pasta grossa.

Aí é só colocar essa pasta nas conchas (mas eu confesso que gostei mesmo do lance da meia latinha), e polvilhar com um pouquinho mais de queijo ralado.

Feito isso, manda pro forno, e deixa lá enquanto saboreia uma maravilhosa dose de felicidade enlatada. Quando a cerveja acabar, tira do forno e come.

Se você não perdeu nenhum capítulo da nova novela das nove detalhe desse post, vai ficar bom. Não tem onde errar, essa receita é boa e pronto.

eu não tenho mais uma máquina fotográfica, então não me restou outra opção a não ser roubar essa foto desse site.
Mas tudo indica que eles também roubaram de outro. Vida que segue.

Rendimento: Essa receita toda dá um monte de cascas. Pensando no tamanho tradicional das casquinhas, dá umas 15 ou mais.
Custo: A carne de siri custou uns 10, mais os outros ingredientes, deve ter custado uns 25 reais. Uma receita bem barata.
Tempo de preparo: 4 latinhas na cozinha, 1 no forno. Sirva feliz.

Tainha recheada com farofa de ovas

Tu conhece a tainha, parceiro? Não? Vem comigo que eu vou te mostrar quem é.

Ela mora lá na lagoa não lava o pé porque não qué A tainha mora no litoral brasileiro, perto de costões rochosos, maguezais e praias de areia. Alguém me contou isso, não sei se o google, a wikipedia ou o chico xavier. O que importa é que a tainha mora na praia, porque praia ou tem rocha, ou tem areia ou tem mangue. Eu já morei na praia, tropiquei na rocha, peguei micose na areia e me afoguei na água. Mas morar na praia é bem legal. Com a diferença que eu morava do lado de fora da água, e a tainha mora do lado de dentro. Questão de afinidade.

Nós, os pobres mortais, chamamos a tainha de tainha mesmo. Mas os cientistas, essa gente louca do óculos de aro grosso, chama a tainha de Mugil Cephalus, o que nos coloca numa situação bastante peculiar. Isso porque você nem precisa ser cientista pra descobrir que por aqui, parceiro.. mugil, a gente come. Não interessa se é planta, peixe ou vaca. Abriu a boca, fez mú, vai pra pança.

E é por isso que estamos aqui: pra comer uma deliciosa tainha.

Caro leitor, pode ir preparando a penitência, espalhando o milho pelo chão e contando ave-marias, porque nós vamos, juntos, pisar sobre todos os preceitos de moralidade e complacência que se pode imaginar: nós vamos comer criancinhas. Não como o michael jackson, necessariamente. Mas vamos comer a tainha e toda a família dela, principalmente a filharada.

Então, vamos lá. Já sabemos que a tainha é um peixe que muge (pelo menos na certidão de nascimento), e sabemos que ele mora na praia. E agora vamos descobrir como preparar esse peixoto aí.

Você começa, claro, adquirindo a tainha. Se o pescador tem dois amor [/dorival caymmi], ele é, além de ser um HERÓI que enfrenta duas tpms no mês, é um cara que entre uma DR e outra acha um tempo pra pescar. E quando ele faz isso, ele volta com a tainha na mão. Afinal, a tainha tá lá na praia, do lado de dentro do mar, pescador joga a rede e volta com a sereia, mulherada fica louca, duas TPMs, DR, tainha, aquela história toda.. Você entendeu: malandro sobe no barco e rema pro horizonte, manda a rede pra água e volta com a tainha. Pescador é gente que faz. Por isso que tem o Ministério da Pesca. Tem o do churrasco? Não. Mas tem o da pesca. Enfim, tudo isso por causa de uma tainha.

Então a nossa missão começa tentando encontrar o pescador, preferencialmente quando ele não está na água, e nem com nenhum dos dois amores dele, sob o risco de enfrentarmos uma situação constrangedora. O pescador é, realmente, um cara que entende dessas coisas de amor. Um cara que pega duas mulheres com a mão fedendo a peixe é, definitivamente, um cara bom. Respeitemos isso.

Bom, antes que você também vire mulher do pescador ou vice-versa, o que seria uma roubada, saque logo alguns reais e peça a ele que te venda uma tainha. De preferência limpa. E, se o pescador vai limpar a tua tainha, peça a ele que abra a tainha pelas costas, e não pela barriga. Nem tem muito o que entender aí, pede pra ele "me dá uma tainha limpa, aberta pelas costas" que o cara entende.

Assim como a minha mãe, a sua e todas as leitoras desse blog, a tainha também tem o dom de ficar grávida. Com a diferença que as leitoras desse blog se divertem muito mais no ato ou efeito de adquirir a gravidez. Enfim, a tainha fica com uma penca de filhotinhos crecendo dentro da barriga, assim como as leitoras, a mamãe e a vovó.

A essa peixarada toda dentro da pança da tainha, dá-se o nome de "ovas". É isso mesmo, diferente da galinha que fica com a pança cheia de OVO, a tainha fica com a pança cheia de OVA. Pra mamãe, vovó e pras leitoras, dá-se o nome de bebê, mesmo. Vai entender essa língua portuguesa, né?

Professores pasquales à parte, recomendo que peça ao pescador uma tainha que tenha ovas. Recomendo seriamente que considere a hipótese de comprar as ovas na época em que a sua pesca é permitida, sob o risco de enfrentar problemas legais bastante severos junto ao ibama e adjacências.

De posse da tainha limpa aberta pelas costas e das ovas, corra pra casa pra preparar nossa amiga. A tainha, para de pensar besteira.

O procedimento é muito simples. Muito mesmo. Basicamente, abra uma breja e seja feliz. Não, peraí, voltando à receita.. basicamente, a gente faz uma farofa e sapeca dentro do peixe.

Começando os procedimentos, de mãozinha lavada e cerveja na alma, um, dois, três e VAI!

Corte uma cebola em rodelas bem fininhas. Depois que você terminar de cortar, desmonte as rodelas, de maneira que você só vai ficar com um monte de anéis de cebolas. Acho que você entendeu, né?

Beleza, agora picote uns 3 dentes de alho. Pode picotar em pedaços bem pequenos.
Aqui faço um adendo: essa receita pode ser feita na churraca, ou no forno mesmo. Se você vai fazer no forno, eu recomendo que descasque umas batatas e bote pra ferver em outra panela, ok?
Legal. Agora, pega uma panela e coloca ali uma bela golada de azeite. Pode por uma golada sarada, de cobrir o fundo da panela. Isso aí deve dar, sei lá, uma meia xícara de azeite. Mas como aqui nesse blog o sistema é bruto e jacaré anda de lado (qual o sentido disso??), a gente manda golada pra panela. Não é pra fazer uma sopa de azeite, mas é bom colocar uma quantidade legal, pra nossa farofa ficar bem molhadinha (ui!).

Ok, deixa aí uns segundos que o azeite começa a ferver no fundo da panela. Claro, desde que você tenha se lembrado do brilhante e chamuscoso procedimento de acender o fogo debaixo da mesma.

Na sequencia, joga lá dentro uma folha de louro. Louro, isso mesmo. Aquele, que conta piada com a tiazinha do programa matinal. É, aquela, que tem idéias gastronômicas brilhantes, como o brigadeiro de gengibre, saboroso quitute que espanta todas as crianças da festa.

Beleza, joga o louro no óleo quente a folha de louro no azeite. Na sequencia, jogue os anéis de cebola. Te cuida, frodo bolsero, que anel por anel....     ...      ...      ....... putz, não tem como fazer um trocadilho com anel que não fique com duplo sentido. Esquece o frodo bolsero e bola pra frente. Ops, bola pra onde? Ah, esquece o duplo sentido, mente suja!

O cheiro da cebola fritando no azeite é uma das coisas mais gostosas da culinária, não acha? Pois eu acho. Quando a cebola começa a ficar amarelinha e molenga, é hora de jogar ali o alho. Pois faça isso, jogue o alho pra ferver junto com a cebola.

Mais alguns segundos, e o alho começa a pegar uma corzinha maneira, enfim. Tá fritando, né?

Falando nisso, quem tá frita mesmo é a prole da tainha. Na real, ainda não fritamos, mas eu digo que elas estão fritas só pra não dizer coisa pior. Pode ter criança lendo.

E se tem criança, a gente manda pra panela. Pegue as ovas e mande pra dentro daquele azeite fervendo com cebola e alho. Misture bem, sem medo de ser feliz. O cheirinho de peixe frito, ou melhor, de filhote de peixe frito que começa a subir é realmente agradável.

Até o mais desligado dos leitores já entendeu que farofa que se preza, tem que ter farinha, não é mesmo? Pois sapeque dentro da panela umas duas xícaras de farinha de milho.

A farinha de milho é legal pra você usar, porque ela é meio macia, tem um gostinho maneiro, enfim. Vai na minha que é sucesso, sapeca farinha de milho lá e mistura bem.

Alguns segundos depois que começar a misturar, recomendo desligar o fogo. A farinha queima rapidinho, e pode transformar todo esse trabalho que você fez até agora num lixo queimado. Lembre-se do frodo bolsero e não queime os anéis. Enfim.

Tua farofa tá pronta, parceiro. Recomendo que experimente e dê aquela rebocada no sal, com todo o comedimento que o cardiologista recomenda.

A missão agora é rechear a tainha com a farofa. Lembra que o peixeiro, entre uma mulher e outra, abriu a sua tainha pelas costas? Pois então, é pelas costas que nós vamos encher a bicha de farofa. Pega uma colher, mete a mão no peixe e enche de farofa.

E pra fechar, caro blogueiro? Pergunta o nobre leitor. Com barbante, respondo eu.

Amigão, eu aqui escrevendo esse negócio todo, tou aqui imaginando que você já tem idade suficiente pra amarrar o próprio sapato, não tem não? Pois então, o princípio é o mesmo, e eu estou aqui acreditando veementemente que você vai saber como amarrar esse peixe e manter a farofa dentro dele. Te vira e amarra esse trem aí.

Tamos quase lá. Agora, embrulhamos o peixe (que por sua vez tá embrulhando a farofa) no papel alumínio e vamos pro calor.

Se você vai colocar na churraca, embrulha o peixe no papel alumínio e manda pra lá, tomando cuidado pra labareda não pegar no pacote.

Se vai colocar no forno, pode deitar o peixe sobre uma bandeja grande, espalhar as batatas pela bandeja, jogar um azeitinho por cima de tudo e cobrir tudo com papel alumínio.

A tainha, se antes era mugil, agora é só uma comida esperando alegremente o momento de sentir a força dos nossos molares. E espera quanto? Espera quase uma hora, dependendo do tamanho da tainha, da força do seu forno ou da chama que acendeu na sua churraca. Estou imaginando que você vai saber acompanhar.

Pronto. Agora é só abrir e comer. Cuidado que tem espinha [/mãe]. Mas é um peixe absolutamente delicioso, e a farofa fica molhadinha dentro do peixe. Sucesso, vai por mim.

Taí a mamãe recheada com os filhotinhos.

Custo: A tainha que compramos tinha mais de 2kg e custou uns R$30,00.
Rendimento: Serve bem a umas 6 pessoas. Sem ogros e sem princesas: gente normal.
Tempo de preparo: Umas 2 latinhas na pia, umas 3 latinhas no forno (ou churraca). Sirva feliz.

Receitas de boteco: Frango à passarinho

É natal! Época de celebrar, época de felicidade, de alegria, não é mesmo, caro leitor? Época de encher a cara de rabanada e champanhe vagabunda. A gente gosta muito disso, mas aqui na suntuosa redação do DGG, o motivo da comemoração é outro. Aqui não tem vez pra presentinho, não tem bom velhinho barbudo com roupa vermelha de frio no calor e muito menos jingle bells.

O real motivo da comemoração aqui é a vitória intelectual imposta aos nobres leitores, através da última charada, que NENHUM, absolutamente NENHUM leitor conseguiu acertar. Conforme a tradição, nós mandamos 3 dicas, e aguardamos os sabichões, que sabiamente costumavam desvendar os mistérios da produção alimentícia em frações de segundos. Mas desta vez foi diferente, e seja pela inebriável malemolência da proximidade das férias de fim de ano, ou seja pela igualmente inebriável lactência do álcool advindo da festa da firma, do happy hour ou do amigo secreto, a verdade é que nossa charada foi simplesmente indecifrável. Te cuida, Dan Brown, que de enigma aqui a gente entende.

A receita de hoje é, além de figura do indecirável, um verdadeiro teste de lógica. Frango à passarinho, frango à passarinho... Não cabe, não cola, não combina. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, já diria o lógico leitor. Como que eu vou fazer um frango virar um passarinho? É como passar um camelo pelo buraco de uma agulha, como passar o elefante pelo buraco da fechadura, como passar uma girafa pelo desfibrilador. Ok, desfibrilador não tem nada a ver, mas eu gosto da palavra e acho que poderia ser legal dar uns trancos na girafa. Melhor, faz o seguinte: esquece que eu escrevi isso aí e foco no frango e no passarinho.

Vamos tratar de passarinho. De passarinho você entende, certo? Na hora de bater aquela foto, sempre tem um que manda um "olha o passarinhô!". Quando o zíper da calça escorregava, a mãe sempre mandava um "o passarinho tá querendo fugir", enfim. O fato é que o passarinho faz parte da vida da gente. Agora pensa no frango.

Ao contrário do passarinho, que faceiro e feliz sempre ilustrou nosso imaginário, o frango nunca teve papel relevante em nossa existência. Frango, pra gente, sempre foi comida. Acorda, come milho, engorda, morre e vai pra panela. Vida dura, essa do frango. Salvo a possibilidade de você morar numa granja, aposto um rim como você já viu umas cem vezes mais frangos mortos do que vivos, certo? Isto posto, façamos um dois em um e mandemos esqueleto adentro um frango, à moda do passarinho. O grande do jeito do pequeno, já diria a charada (que ninguém acertou DURMAM COM ESSA, SABICHÕES).

Comecemos pela parte violenta da brincadeira. Como fazer um frango ficar todo picado, parecendo uma carnificina de passarinhos? Simples, temos duas opções. A primeira é comprar um frango e picotar desgovernadamente. A segunda é pedir ao açougueiro (ou granjeiro, ou jason, ou o chuck norris) que o faça. A menos que tenha problemas sérios, muito sérios em relação à sua taxa de colesterol, recomendo veementemente que não retire a pele do frango. É lá que mora a maior parte da alegria de consumir tal iguaria.

O tempero do frango é a primeira parte da nossa aventura. Para 1/2kg de frango, você deve picotar uns 3 dentes de alho, e jogar todo mundo no mesmo balaio numa bacia ou pote, onde você possa operar uma verdadeira lambança posteriormente.

Jogue ao frango e ao alho, uma mãozada moderada de colorau. O colorau é um pó vermelho, feito à base de semente de urucum, levemente apimentado. Vai na fé e manda uma mãozada moderada lá. A mãozada moderada é aquela medida de dosagem, onde você mete e mão e manda pra dentro, mas sem, necessariamente, encher a mão. Afinal, você está fazendo um frango a passarinho, e não um colorau a passarinho.

Pra completar a festa, jogue junto uma golada de azeite. Lembrando que não é necessário encher a boca de azeite para depois cuspí-lo no frango, sob pena de graves consequencias intestinais no caso de ingestão acidental. Apenas tenha em mente o quanto seria uma golada, e despeje diretamente da garrafa para o frango.

Adicione uma porção de sal. Você é um cara sabido, já temperou a própria salada naquele restaurante por quilo, e sabe quanto de sal é necessário pra fazer o seu frango ficar temperado. Não deixe sem sal, não salgue demais. Tenha comedimento nessa sua alma de ogro, eu sei que você consegue.

Agora, feche a tampa do pote, misture bem. Pra misturar, mande uma macarena naquele rádio velho e comece a chacoalhar o esqueleto segurando um pote cheio de frango. Direto da série "coisas que provam o quanto você é doidão". Misturado, deixe ele de lado. Não, necessariamente de lado, poderia derramar o tempero sobre a pia. Apenas deixe ele ao lado de algum outro objeto à sua escolha. Você entendeu.

Próximo passo: alho frito. Precisamos de alho frito, muito alho frito. Você pode comprar o alho já em tais condições, ou fritar o seu próprio alho, o que sempre garante um toque de qualidade a mais na sua vida [/propaganda de margarina]. Vamos pelo caminho mais longo e tortuoso, fritemos nosso alho.

Picote uns 5 dentes de alho. Sabe quando tem uma pedra no seu sapato? Então, cada tequinho de alho tem que ficar mais ou menos daquele tamanho. Do tamanho de uma pedra de sapato.

Isto posto, pegue a menor frigideira que você tiver. Eu tenho uma pequeninha pra fazer hamburger que é perfeita pra isso. Dê uma pequena golada de azeite nela, e coloque no fogo baixo. O alho queima muito rápido, então você tem que ser ligeiro no gatilho. Jogue os alhos no seu sapato e saia pelo mundo com o pior chulé do mundo na frigideira, e mexa um pouco com uma colher. Um minuto depois, tá todo mundo pronto. Quando eles começarem a ficar marronzinhos, tá no ponto. Você precisa tirá-los dali e colocar todo mundo sobre um guardanapo, ou algum papel que ajude a secar a gordura. Assim, o azeite escorre, e o alho fritinho fica bem seco e crocante. Só isso aí já é um quitute. Um quitute que dá bafo, que dá azia e que te faz transpirar alho por horas. Conforme a charada, destrói relações (CHOREM). Depois de comer alho frito, não beije a sua mãe, não beije o seu pai, não beije a sua namorada... Por favor, não beije ninguém. Nós sabemos que nessa época de natal até o mais viril dos leitores fica cheio de amor pra dar, mas... Amor e alho não se combinam, entenda isso.

amor aos pedaços

Abra uma cerveja. Isso é absolutamente necessário para o bom funcionamento do resto dos procedimentos. Beba e seja feliz. Continuemos com a receita.

O trabalho agora é fritar o frango, que a essa altura, já absorveu bem o tempero. Cuidado, isso faz barulho, faz furdúncio na frigideira, espirra, explode, uma lambança. Na charada, fazia bolha (essa foi fácil. Francamente, viu...). Tenha em mãos uma frigideira funda, com uma boa quantidade de óleo bem quente. Existem umas tampas pra frigideira que te ajudam a fazer muito menos lambança. Se tiver, use. Se não tiver, prepara o pinho sol que a limpeza amanhã vai ser pesada.

Bom, o trabalho de fritar, creio eu, não precisa ser lá muito explicado, não é? Quero acreditar que você já imaginou que basta jogar os pedaços de frango no óleo quente, e deixar lá até que pareçam com um frango à passarinho. Quero acreditar que você já comeu um frango à passarinho. Ou que pelo menos viu um. Uma boa dica é observar a pele, que deve ficar bem crocante. Não a sua, a do frango, parceiro.

Quando chegar nesse ponto, tá pronto. O frango fica bem douradão, com a cor da Juliana Paes. Isso, quando estiver da cor da juliana paes, tá no ponto. Basta arrumar um prato coberto com papel gordura que, ao contrário do nome, não vem cheio de gordura. Jogue lá todo o frango, jogue o alho sobre o frango e seja feliz.

 - tô no ponto!

Se a juliana paes tá no ponto, o nosso frango não faz por menos. Na tela:

eu vô.

Custo: 1/2kg de frango picotado e com pele custa uns R$5,00
Rendimento: Uns 10 pedaços. Dá pra umas duas pessoas.
Tempo de preparo: duas brejas na preparação, uma na fritura. Sirva contente.

Bife à milanesa: o melhor presente que eu já ganhei

Eu tenho um amigo chamado Beto. Aposto que você também tem. Se não tem, conhece alguém que tem. Beto é o cara. Se o teu amigo Beto não é o cara, tudo bem. O meu amigo Beto, definitivamente, é o cara. E eu compartilho esse cara com você. Vem comigo conhecer o figurão, eu acho que você vai gostar.

Bom, o Beto nasceu Roberto, mas nasceu magro como um prego, e logo ganhou o apelido de Betinho. Assim ficou até os 16 anos dele, quando o destino fez com que nossos nomes aparecessem na mesma lista de chamada, num lugar incrível chamado OSEC. Postado no meio do mato da represa de guarapiranga em são paulo, esse lugar, teoricamente, deveria ser o nosso colégio. Mas no fundo acabou sendo o local mágico onde nós, inconscientemente, forjávamos as nossas personalidades, que precariamente, perduram até hoje.

Pois o magrelo moleque Betinho, aos 16, matriculou-se na OSEC e caiu na classe do multirepetente Daniel, que aos 18, ainda encontrava-se passando pelo penoso processo de alfabetização, do qual jamais conseguiu obter sucesso. Mas isso é assunto pra outro post. Ou nenhum, enfim.

O que importa é que eu e o Betinho logo tivemos aquela empatia mútua que acontece com os verdadeiros amigos. Aquela coisa que te faz olhar pra um cara qualquer como se fosse um irmão. Se você já teve um amigo assim, sabe do que eu tou falando. E é disso que eu tou falando.

Só que chamar um marmanjo magrelo de betinho depunha contra todos os planos que tínhamos em relação às gatinhas da escola (e eles eram abiciosos, acredite), e eu precisava dar um jeito de mudar esse nome de boiola. Mamãe te chamar de Betinho tá bom, parceiro. Mas aqui não rola, não. Aliás, eu nunca coloquei apelido em ninguém, e nem gosto disso, mas tenho uma mania idiota de ficar mudando o nome das pessoas para variantes esdrúxulas. Mas eu não faço isso pros outros, faço pra mim. Desde sempre, e nunca entendi porque. Mas eu faço isso. Sente o drama.

O Betinho logo virou Beto, que virou Betolúncio, que acabou virando Bob Lúcio (pra rimar com o lúncio, não porque ele seja lúcio), que depois virou Roberto Lúcio, que depois virou Betim, Betão, e, finalmente, achei que seria bom mesmo parar com essa loucura e chamar o cabra de Beto. Assim, eis o Beto. Um magrelo, ruim de bola, apaixonado por melancia, chato e transparente como a água.

No auge da adolescência, eu e o Beto descobrimos juntos as mais extremas consequencias do fato de desencanar da vida, não ter medo do amanhã e curtir desgovernadamente o fato de ser moleque. E nós fizemos isso de acordo, pode acreditar.

Nós saíamos de balada tendo apenas o dinheiro da ida do ônibus e da pinga com mel. Depois dormíamos num caixa eletrônico qualquer e voltávamos a pé de manhã. Independente da distância, o que importava era curtir a balada. No fim das contas, sempre chegávamos em casa.

O Beto aceitou ir pra praia comigo sem ter dinheiro pra chegar nem lugar pra ficar e nem nada pra comer, o que nos fez descer na beira da Rio-Santos à meia noite pedindo carona. Carona esta que foi concedida por um cara completamente louco, cheirado e embrigado que desafiou todas as leis da física durante o percurso. Inclusive aquela que diz que não conseguimos enxergar na estrada à noite sem ligar os faróis a 160km por hora.

O Beto foi o cara que me deu a mão pra segurar enquanto o médico costurava a minha testa sem anestesia porque eu levara uma pedrada bêbado numa briga. O Beto foi o primeiro cara pra quem eu contei que a minha namorada estava grávida e eu seria pai aos 22. O Beto foi o cara que não desistiu de mim quando eu mesmo queria desistir. Por essas e outras, muitas outras, que o Beto é o cara.

Esse climão de final de ano me lembra de uma história ótima. Num dia 24 de dezembro de mil, novecentos e noventa e algo, estava eu tentando dar um jeito de retibuir ao amigo Beto todas as risadas que a amizade dele havia me proporcionado naquele ano. Mas a gente era um bando de pé-rapado e o dinheiro que eu tinha mal dava pra comprar uma par de meias. E como meia é presente de vó, lá estava eu pensando em alguma surpresa pro meu bródi quando passa na frente de casa um caminhão vendendo melancias.

Não houve meio segundo pra decidir: O cara é meu amigo e merece um presente? Sim, é. O cara gosta muito de melancia, não gosta? Sim, gosta. Então, a melancia lhe será o presente que papai noel ofertará.

Comprei a mais bela das melancias, lustrei com cera de carro (ninguém conta isso pra ele, pelamordedeus), peguei um cetim velho de casa, fiz um laço e prendi com um prego na melancia e voilá! Tinha em mãos um presente que eu SABIA que seria um sucesso.

Peguei o 677-V Vila São José - Jabaquara e lá fui em em direção a Interlagos entregar o presente pro meu companheiro.

Juro que a idéia arrancou risadas do motorista, do cobrador, dos passageiros, do pessoal na rua, do pai, da mãe, das irmãs, dos vizinhos, dos parentes e até do Beto. Foi o presente de Natal mais idiota que eu já dei pra algúem.

O Beto, que não era menos idiota, posicionou o "presente" embaixo da árvore e deixou ali, à vista de todos os parentes que viriam para a festança prestes a rolar na sua casa momentos depois.

Alguns meses se passaram, até que o meu aniversário chegou. Meu amigo Beto, já conhecedor dos meus gostos, pediu à Dona Judith, sua mãe, que me preparasse um presente à altura. Pois veja qual não foi a minha surpresa quando, na minha festa de 19 anos, me aparece o Beto com uma caixa recheada com 1kg de bifes à milanesa de presente.

Como os leitores deste blog são os mais astutos e sagazes de toda a internet, posso imaginar que já sacaste que o tal bife à milanesa é o prato que eu mais aprecio neste Brasil varonil. E, claro, os leitores aqui não erram, e olha só: Bife à milanesa é mesmo o meu prato predileto. Vamos a ele.

A carne:
Bife à milanesa é genial porque pode ser feito com carne de primeira, carne de segunda, carne de terceira e até um filé do gato da sua vizinha serve pra preparar a iguaria. A carne só não pode ter uma coisa, nervos.

Particularmente, recomendo aquelas bandejinhas de alcatra que encontramos no mercado. Bifes finos, com pouca gordura e sem nervos. Tá perfeito pro bifão à milanesa.

Na tela:



O tempero:
Mesmo que essa iguaria tenha aquela casquinha deliciosa, não é lá que está o tempero. É no bife. O tempero, em si, não tem segredo. Separa um pote grande, onde você vai poder fazer lambança. Pra 1/2kg de carne, você deve picotar dois dentes de alho. Picota pequeno, compana.
Depois, você dá uma pitada de pimenta do reino, uma tacada de orégano, e eu tou confiando que você vai saber o quanto de orégano vai numa tacada. Depois uma golada de azeite, uma beiçada de sal e, entre pitadas, tacadas, goladas e beiçadas tá pronto o seu tempero. Basta sapecar a carne dentro do pote e mexer. Aí que mora a lambança. Você tem um monte de carne e tem que misturar aquele ex-boi todo no temperão que fez. Vai sujar, te garanto. Se você não se suja ao cozinhar, eu desconfio de você. Bola pra frente.

Na tela de novo:



A casquinha:
Aqui reside o diferencial desse maravilhoso prato. A casquinha do bife à milanesa é a cereja do bolo, é rainha da bateria, é o capitão nascimento do bife à milanesa. Ou seja, sem a casca, parceiro, teu bife é de moleque. Só um bifinho, não é um clássico, não é um bife à milanesa.

Pra fazer a casquinha, te prepara pra fazer mais lambança. Inicialmente, abra o armário da tua casa  e separa 3 pratos. Isso mesmo, 3 pratos.
  1. No primeiro, você enche de farinha de trigo. Se tu não sabe qual é, vai naquela branquinha que parece talco. Talco, brow. Não pensa besteira porque isso aí é roubada e além disso, o capitão nascimento tá de olho.
  2. No segundo, quebra um ovo e taca lá dentro. Com um garfo, faz o capeta comer solto até que gema e clara virem apenas uma coisa: uma gosma.
  3. No terceiro, encha de farinha de rosca. A dica do século é: pegue um pão velho e rale, parceiro. Já não ralaste o peito em situação oportuna? Pois use da sua experiência e rale o pão. 
Sabe quem foi Henry Ford? Foi o cara que inventou a linha de produção. Funciona assim: antes, um mesmo pião pegava todas as peças e montava o carro inteiro. Aí, o cara inventou uma esteira onde as peças iam andando, e cada pião apertava o seu parafuso. Aposto que conhece essa história. Se não conhece, devia repetir de ano várias vezes, como eu fiz :-)

Faça da sua cozinha uma linha de produção. Primeiro, você tira o bife do tempero, e passa ele na farinha de trigo. Tira ele branquinho e chafurda naquele ovo nojento. Do ovo, jogue ele na farinha de rosca e dê umas viradas nele. O resultado final é um teco de carne coberto com 3 camadas, sendo uma de farinha branca, uma de ovo e uma de pão ralado.

Na tela, mais uma vez, e mais outra vez:




A fritura:
Agora é só fritar o bifão. Pega uma frigideira, e enche de óleo. Não precisa, necessariamente, encher. Mas o suficiente pra cobrir os bifes tem que ter. Mete no fogo e deixa esquentar bem. O segredo do bom bife é esquentar bem o óleo.
Depois disso, faz o simples: deita cada bifão com o cuidado pra não encostar esse dedão de ogro no óleo, deixa encher de bolha e fazer o furdúncio, vira uma única vez e tira. Convém deixar o bifoto descansar alguns minutos no papel toalha. Depois coma e seja feliz.

A felicidade na tela:


Palhaço Ronald, entenda o real e profundo significado de "amo muito tudo isso".

Este post é uma homenagem a um grande e querido amigo. Mas, se você pensa que o Beto é o meu melhor amigo, errou. Eu não.tenho um melhor amigo. Papai do céu foi tão bacana comigo, que encheu de anjos ao meu redor, caras pelos quais eu posso ter a honra de chamar de amigos, com exatamente a mesma intensidade. Por isso, esse post é dedicado ao Beto, ao Cris, ao Batata, ao Gil, ao Pão, ao Delen, ao Daninho, ao Brunão, ao Rodriguinho e a mais um bando de calhordas que eu adoro. E, se você se identificou com essa história, esse post é dedicado a você, também.

Como preparar uma picanha invertida, um espetáculo em qualquer churrasco

Merda.

Não, caro leitor. Não estou lamentando a escalação do dunga, nem escolhendo meu candidato para as próximas eleições, e nem tampouco dei uma topada na quina da cama. Até porque, eu estou escrevendo aqui agora, e não creio que seja uma boa prática digitar andando pela casa.

Merda, segundo o gooooooogle, é uma expressão muito utilizada entre artistas de teatro. Fanfarrões, os atores costumam desejar "merda" uns aos outros antes de entrarem em cena, visivelmente camuflando uma vontade iminente de que o companheiro de cena perca um dente, peide em cena ou simplesmente esqueça o texto. Atores gostam disso, sempre faz sucesso depois, nas cenas dos bastidores. Taí o video show que não nos deixa mentir.

Mas que diabos tem a ver esse negócio de merda tem a ver com o nosso combalido Gato na Grelha?

Simples, caro leitor. Eu, o escriba desta merda deste surrado pergaminho, estou lhe desejando MERDA. Muita merda.

Desejo-lhe merda, porque daqui pra frente, o artista é você. Pode liberando esse seu lado toni ramos, pode encarnar a ana maria braga (piada pronta, isso), vista a sua roupa de Freddie Mercury, e tenha parcimônia pra não sair do armário, porque essa carne que vamos fazer aqui é capaz de te colocar nos mais altos patamares da moral que um churrasqueiro pode atingir com a sua platéia.

A picanha invertida é assim: algum afortunado virou uma picanha como uma meia, encheu de coisa dentro, costurou a boquinha dela e mandou pra grelha. Consegue visualizar?

Isso, faça aí o seu exercício de imaginação. Vá imaginando as coisas que eu vou te contando aqui, ok?

Feche os olhos e imagine a Luma de Oliveira pelada, esqueça a picanha e nunca mais abra os olhos.

Abre.
Aaaaaabre.
AAAAABREEEEEEEEE!!!!!
Amigo, sei que a Luma é uma delícia, muito mais gostosa do que qualquer picanha, mas se você não abrir os olhos, não vai conseguir ler o resto da receita, entendeu?

Tá enxergando? Posso continuar? Limpa a remela do canto do olho.

Então, começamos analisando a peça de picanha. Pra fazer essa receita, você não pode usar qualquer picanha não. Ao longo da receita, vou explicando porque. Por enquanto, entenda apenas que a picanha não pode ser muito pequena (menos de 1kg), nem ter muita gordura, e muito menos sujeira na contra-capa. Não sabe o que é sujeira na contra-capa? São aqueles nervos na parte de trás dela.

Ok, de picanha na mão, hora de meter a mão na massa.

O primeiro passo é limpar a picanha. Tire o máximo que puder da capa de gordura da picanha. Normalmente, as picanhas com uma boa capa são bem vindas, mas dessa vez, recomendo deixá-la mais magrinha. Pegue uma faca, cuidado com essa mão e vai retirando lascas da gordura. Ao contrário da Luma, você não deve deixar a picanha pelada, apenas retire o excesso. Um pouco de gordurinha vai fazer bem.

Se você é meio louco como eu, guarde essas lascas de gordura pra fazer linguiça posteriormente. Se você é louco inteiro, pode botar a gordura na grelha, esperar ficar douradinha e mandar a sua coronária pras cucuias. Se você é muito louco mesmo, misture chantilly, uva passa e maionese e saboreie na cozinha da ana maria braga.

- menina, sente o cheirinho dessa gororoba!

Isso mesmo, dona ana. Vai já pra baixo da mesa que a receita aqui é bruta.

Enfim, você tirou bem a gordura da picanha, certo? Ok, vire ela do outro lado, e certifique-se de que ela está limpa. Mas a picanha nem caiu no chão, pergunta-se o auspicioso leitor. Não, amigo, ela não precisa cair na lama e nem andar na boca do cachorro pra estar suja. Se ela tiver nervos, membranas e afins, tá suja. Larga de preguiça, afia a faca e começa a retirar essa caca toda. Isso tudo vai deixar a sua picanha dura. E você não quer servir uma picanha dura num churrasco, quer? Eu não quero, e não quero que você queira. Então engole esse choro e limpa logo esse negócio.

Beleza, de picanha limpa e magra, deite ela na tábua. A sua missão é fazer um corte nela, paralelo à gordura. Difícil explicar sem fotos, porque eu não tirei fotos, pra variar. Então vou ter que improvisar, sente o cheiro de photoshop chegando:

recomendo substituir a tesoura por uma faca.
no photoshop, foi o que deu pra fazer.

O lance é o seguinte, você mete a faca no bucho da picanha, e vai abrindo o corte por dentro. A picanha tem que fica como um envolope, mas tome muito, muito cuidado pra não rasgar as laterais e nem o bico. Use toda a sensibilidade que ouvir Love of My Life na adolescência lhe deu e chegue o mais próximo possível das extremidades, mas sem rasgar a picanha. Se rasgar, esquece que vai dar merda. Não no sentido da sorte, no sentido da merda mesmo.

A picanha vai ficar parecendo uma luva daquelas de cozinha. Aquela, que a gente usa pra tirar as coisas do forno.

E, já que ficou uma luva, meta a mão dentro dela. Isso mesmo, experimente e veja se serve na sua mão.

No meu caso, a mão de raquete do garotão aqui não deu, não. Tive que chamar a patroa e pedir a ela que emprestasse sua doce e delicada mãozinha pra enfiar dentro da picanha. Exatamente por isso que a picanha não pode ser pequena. Senão sua mão não cabe dentro dela. Ou você tem mãozinha do mickey, ou vai ter que comprar uma picanha de mais de 1kg. Vai no açougue, mede a picanha, compara com o tamanho da mão e compra uma decente.

Legal, uma vez que a picanha serviu, literalmente, como uma luva, começa a parte mais difícil: virar a bicha do avesso. O plano é o seguinte: um mete a mão dentro da picanha e tenta trazer o bico dela, enquanto outro empurra o bico pra dentro. Como virar uma meia, com a diferença que você não come a sua meia depois de virar. Pelo menos é o que eu espero.

Assim que o bico entrar, venha virando a picanha com cuidado, bem devagar. Não tenha pressa e não seja um ogro, pois a carne pode ter algum ponto mais frágil nas laterais, e rasgar. Aí, dá merda, conforme explicações anteriores.

na hora de virar, deixamos algum ponto mais frágil na lateral.
na hora abrir, rasgou e o queijo fugiu. Dane-se, ficou bom assim mesmo :-)

Agora tá fácil, você deve recheá-la. Você pode enfiar o que quiser dentro da picanha (não, necessariamente, o que quiser, mente suja do capeta). Recomendo seriamente queijo provolone cortado em cubinhos, com bacon e um pouco de orégano. Mas já vi gente que coloca pimentão, cebola, farofa, enfim, um monte de coisa. Minha próxima receita vai ser com catupiry e ervas. Ou seja: use a imaginação. Se você não tem imaginação, encha a picanha com provolone e bacon que funciona. Não precisa lotar a picanha, senão vai vazar e fazer lambança. Encha, mas seja comedido. No caso do provolone, nem precisei colocar sal, pois o queijo já é bastante salgado. Se usar coisas sem sal, salgue as coisas.

Chama a vó aí.

Hora da costura. Para que aquele recheio todo não vaze, você precisa dar um jeito de costurar a boca da picanha. Não me venha com essa história de que não sabe cozinhar. Eu sei. E sabe porque eu sei? Porque no meu tempo as camisas de futebol não vinham com os números impressos nas costas, como hoje. A gente tinha que comprar o número na papelaria, e costurar na marra. E como minha mãe não era, exatamente, uma serzideira, ela ignorava meus pedidos e se eu quisesse jogar com um número nas costas, tinha que me virar. Assim aprendi que espetar o dedão dói, descobri que tenho hipermetropia e, por fim, aprendi a fazer uns pontos porcos que prendiam o número na camisa, e agora prendem o recheio dentro da picanha.

Tal e qual o 10 nas costas do artilheiro, costure a boca da picanha. Uns 6 pontos já são suficientes, nem precisa ser muito bem feito. Como na famosa macumba, lembre-se daquele chefe chato, e pense que tá costurando o nome dele na boca do sapo.

A picanha tá quase pronta pra ir pra churraca. Na verdade, se você é ansioso e não acha ruim o velho ditado que diz que o apressado come cru (CRU, mente suja), manda ela pro fogo. Se você quer dar um agrado nela, esprema uns dentes de alho e passe por fora na gordinha (sim, ela fica gordinha, parece um bebezinho).

Ah, é interessante passar um pouco de sal grosso por fora dela.

Deixa na churraca, perto do calor, e sem deixar que as chamas encostem nela e abre uma breja. Mais outra. E mais outra. Pronto, se a tua churraca é quente e funciona direito, tá na hora de tirar.

Pra experimentar, retire um pedacinho do bico tomando cuidado pra não chegar no recheio, e veja a cor da carne. Se estiver muito vermelha, volte pra churraca. Essa carne não é legal malpassada, não.

Ok, se a cor estiver legal, retire, fatie e manda bala. Nesse momento, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo. A picanha invertida te faz artista.

tá duvidando? dá uma olhada nisso.
não dá vontade de bater palmas pra ela?

Duas histórias engraçadas sobre a picanha invertida:


  1. Tenho um filho de 4 anos, que adora me acompanhar nos churras, prepara as carnes comigo, maior barato. No dia da picanha invertida, ele foi comigo no açougue, ajudou a escolher a peça, queria saber como fazia, a coisa toda. Na volta do açougue, ele começa a rir sozinho no carro. Perguntei qual era a graça, ele falou: "Pai, legal esse negócio de picanha DIVERTIDA!" hehehe. Aqui em casa a receita mudou de nome, chama-se agora Picanha Divertida.
  2. Minha prima, e melhor cliente da churrascaria lá de casa, me decepcionou. Disse que a picanha invertida ficou com gosto de pano de chão. Fila da mãe, pode deixar que eu vou aprontar uma pra ela no próximo churrasco. Se alguém tiver uma boa idéia de vingança, agradeço.
  3. Semana passada, estive em Penápolis, cidade da saborosa Sabrina Sato, e da respeitável família de uma amiga nossa. Fizemos a picanha invertida juntos, a N mãos, maior barato. Ficou todo mundo tão pilhado com a picanha, que quando ela saiu, o amigo que estava cortando a carne teve que desviar dos dedos na tábua, de tanto que o pessoal voou pra cima da picanha. Foi a primeira vez que eu vi uma peça inteira de picanha sumir em menos de 4 minutos. Taí a foto pra provar:

sente o enxame pra cima da picanha


Tempo de preparo: 2 breja na cozinha, 3 na churraca. Sirva feliz.
Custo: meio carinho, $30 da picanha e mais $10 do queijo. Mas vale a pena.
Rendimento: complicado, porque o pessoal acaba comendo mais do que comeria normalmente. Serve bem umas 5 pessoas. Mas sempre pode aparecer aquela prima magrinha que se revela uma ogra e come tudo sozinha.

Peito na cerveja

Putz, o nome dessa receita dá margem pra tanta piada de duplo sentido, que eu confesso que meu coraçãozinho fraqueja, a perna tremelica e o olhinho embaça, e tenho que admitir que eu não sei nem por onde começar.

Bom, dizem por aí que uma imagem vale por mil palavras, certo? Pois então, vamos começar ilustrando esse post com uma foto. Segura ae, na tela!

amamos muito tudo isso.

Por mim, eu terminava o post aqui mesmo. Peito na cerveja, olhe pra foto e fique feliz. Simples assim.

Tá, mas temos um objetivo aqui, que é falar de uma tal receita de peito na cerveja. Vamos tentar manter o foco, mesmo diante de assunto tão, digamos, sugestivo.

tem peito, tem cerveja. tou dentro.

Ainda não é disso que eu tenho que falar. Concentra, menino. É peito de vaca, aquela que faz muu, que come capim e quando peida fura a camada de ozônio. VACA, meu filho, entendeu?

peito de vaca e cerveja.

Pois é, o astuto leitor já deve ter notado que chegamos perto, mas ainda não é, exatamente assim, a nossa receita.

E é melhor parar com a brincadeira, porque isso aqui é um blog sério (ô!),  escrito por um blogueiro sério, a patroa do blogueiro lê o blog e ainda por cima é uma fera. Então, amigo, respira fundo aí e vamos tentar recobrar a concentração pra voltar ao motivo que nos trouxe aqui: a receita.
-tô de olho em você, cidadão

Bom, falando sério agora, o peito do boi é uma carne extremamente macia, ridiculamente barata, e se você tiver um pouquinho de paciência e cuidado com ela, vai conseguir mandar um churras responsa com bem pouco dinheiro. Ideal pra você que, assim como eu, não ganhou a mega-sena acumulada e anda com as contas de casa meio apertadas. Então pode ir parando de pensar nos atributos da menina da segunda foto, ou na vaca que dá cerveja e escuta as dicas de economia que o titio aqui trouxe pra você.

Dirija-se até o mercado mais próximo, e uma vez lá, encaminhe esse esqueleto surrado até o balcão das carnes. Ok, feito isso, procure pelo peito e ponha as mãos numa peça de 1kg. A carne, queridão. Esquece a loirinha do seu lado e se concentra. Não vai errar de peito e arrumar confusão dentro do supermercado.

O peito, o da vaca, se parece muito com o cupim, na sua composição. Isso porque tem uma carne muito macia, porém cheia de nervos passando pelo meio dela. E o que faz do peito uma carne ridiculamente barata é o fato da maioria das pessoas não terem paciência, ou até mesmo técnica pra detonar esses nervos e saborear uma carne maravilhosa. Aí, é lei da oferta e da demanda: ninguém quer comprar o peito, o preço cai. Todo mundo quer comprar picanha, o preço sobe. E se você quer saber como subverter a regra, compre um belo pedaço de peito, faça uma carne barata ficar mais gostosa que uma picanha e dê plantão na porta do mercado chamando de otário todo mundo que sair de lá com uma carne de $46,00/kg a tiracolo. Vem comigo!

Basicamente, as técnicas milenares usadas pra detonar os nervos que tem dentro da carne são, somente, temperatura e paciência. Pra temperatura, carvão. Pra paciência, cerveja. Partindo desse princípio, a gente sabe que isso aí foi feito pra nós, não?

O primeiro passo é embrulhar a carne no papel celofane. Antes que você comece a desencapar os cadernos das crianças, entenda que existe um celofane especial pra churrasco, que aguenta a temperatura, e serve para que você possa fazer, na churraca, carnes que precisam de temperatura e uma certa pressão.

Antes de fechar, espero que imagine que você precisa colocar sal lá dentro, ok? Senão a carne vai cozinhar (sim, com esse processo ela cozinha, e não, necessariamente, assa) sem sal e ficar sem gosto. Um pouquinho de alho picado também pode ajudar, põe sem medo.

Recapitulando: você cortou um pedaço grande de papel celofane e esticou na pia. Estou contando que você largou de ser mão de vaca e cortou um pedaço grande o suficiente pra dar umas 4 voltas na carne. Feito isso, deitou a carne em cima, jogou um pouco de sal e um pouquinho de alho picado. Aí começa a parte da enrolação, e isso eu sei que você faz bem. Vai lá, enrolão. Levanta essa bunda daí e enrola a carne no celofane.

A carne está, agora, devidamente embrulhada, mas as laterais ainda estão abertas e você me pergunta: Meldels, o que eu faço agora? E eu te respondo: se vira e fecha uma lateral. Só uma.

Pra fechar, eu costumo cortar uma tirinha de papel celofane da largura de 2 salsichas, enrolar e utilizar pra amarrar as laterais. Amarra forte, sem medo de ser feliz.

Agora você tem em mãos um embrulho de celofane, fechado de um lado e com uma carne dentro. Olha só, parece um copo! Legal, e se é copo, desce uma breja que a gente adora isso.

ABRA UMA CERVEJA. agora.

DÊ UM VIGOROSO GOLE.

ME DÁ UM MINUTO QUE A MINHA ACABOU, VOU NA COZINHA E JÁ VOLTO.

VOLTEI.

Pronto, agora que deu um gole, despeje com todo o cuidado e parcimônia que Deus lhe deu, outro gole dentro do celofane. Você vai notar que a cerveja borbulha toda com o sal e a carne. Parabéns, você já está começando o processo de detonar os nervos da carne.

Um adendo: essa receita fica especialmente gostosa se feita com cerveja preta. Tomando todo o cuidado pra não mandar lá pra dentro uma malzebier ou coisa do tipo. Essas cervejas são doces, não me vá fazer um serviço desses, hein. Quando fiz, utilizei uma caracu mesmo. Não vale comprar aquela schin ou a cerveja mais barata do mercado por um motivo muito simples: você manda só um gole pra dentro da carne, o resto você toma. E uma economia de 20 centavos na hora de comprar a cerveja pode significar uma série de caretas e trejeitos na hora de beber o resto, que podem te comprometer moralmente e te fazer motivo de chacota. E a gente não tá aqui pra ver homem chorar, então manda logo uma breja responsa aí.

Se você for rápido, vai conseguir fechar a outra lateral do celofane enquanto a cerveja ainda borbulha, o que vai fazer com que o embrulho fique cheio de gás dentro, parecendo uma bombinha. Bacana, tá pronta pra ir pro fogo.

Ah, seria legal você acender a churraca antes de preparar o embrulho. Por dois motivos:

1 - Quase sempre que se acende a churraca, ela levanta labareda por conta do combustível, que depois abaixa. Então, o celofane é especial pra churrasco, mas você não pode deixar, de jeito nenhum labareda encostar nele. É incêndio na hora, cerveja derramada e plástico derretido na carne. Perda total, papelão, vexame. Não faça isso.
2 - Você enrolou, amarrou direitinho e tal, mas o embrulho não tá vedado. O ideal é mexer nele o menos possível. Fechar a embalagem, meter na churraca e não mexer mais, pra evitar que a breja saia de lá. Então, deixe o fogo aceso, a churraca quente, esperando o embrulhinho da alegria chegar.

Bacana, deixa lá, no local mais quente possível longe das chamas. Você vai notar que a breja vai ferver, a embalagem vai inchar, vai fazer o capeta lá dentro. Esse é o objetivo.

Esqueça que a carne tá lá. Não fique mexendo, não vire, não fale com estranhos e vai buscar uma cerveja porque isso aqui vai demorar. Umas 3 horas, pra ser mais exato. Sem ansiedade, saiba esperar que vai valer a pena.

Passado esse tempo todo, pode abrir a embalagem. Recomendo que faça um furinho com uma faca, e posicione uma lata vazia logo abaixo. O caldo que cai dela é uma mistura de cerveja com gordura, uma verdadeira nojeira, e recomendo que não deixe aquilo cair na sua churraca.

Retirada a peça, basta deixá-la alguns minutos bem perto do fogo. Assim ela ganha uma corzinha, um cheirinho de fumaça e ainda dá aquela torradinha por fora que faz a alegria de qualquer um que já tenha metido os dentes num animal que já mugiu.

Basta cortar e comer, não tem segredo.

Pela proximidade com a costela, particularmente acho que o peito fica com um sabor muito parecido com da ponta de agulha. Mas isso é só uma opinião minha. Pra saber mesmo, vais ter que preparar uma, parceiro.

Rendimento: quase toda a carne que você comprou. O peito não perde muita gordura, não tem osso, nada disso. Aproveitamento máximo.
Tempo de preparo: 1 breja na cozinha, 10 na churraca. Sirva embriagado e feliz.
Custo: 13 mangos. mas estou contando que você tem o tal celofane, ok?


E essa foto aqui é só pra alegrar a sua vida.

epa, mas peraí! isso não é peito na cerveja, é cerveja no peito!

Receitas de panela: Homus, um prato tipicamente árabe

Já comeu homus? Sabe do que se trata? Então aproveita que na páscoa tem aquele lance de não poder comer carne e bota uma receita maneira no cardápio.

O homus é um rango árabe, feito com grão de bico e mais uma meia dúzia de temperos maneiros que, inacreditavelmente, funcionam bem juntos. O homus é comida típica do mundo islâmico, que é uma região muito complexa socialmente e bacana, mas infelizmente tudo o que chega de notícias pra gente é o imenso e interminável quebra-pau que aquele bando de doido promove lá naquelas bandas. Às vezes nem tão lá.

"aqui tem um bando de locoooo
loco por ti mohammed"

Isso, não abandona nunca.

E entre um camelo aqui e uma tempestade de areia ali, quando a labuta se finda e nosso destemido mohammed pode adentrar o seu lar, doce, lar, sempre encontra um ranguinho preparado carinhosamente pela sua dedicada e carinhosa patroa que, debaixo da burca, o aguarda ansiosamente e cheia de amor pra dar. E, acredite: o rango desses caras é muito, muito gostoso.

Morar no oriente médio é isso, é amor no coração, é dizer eu sou afegão e não desisto nunca, é pegar um lance sem graça como o grão de bico, meter na panela e deixar lá um tempão e depois comer frio, é fazer um rango de fazer a ana maria braga passar por debaixo do rio nilo. Com todo o respeito ao crocodilo, que não come plástico nem silicone.

O lance é o seguinte, o homus é uma pasta de grão de bico que se come fria, com o pão sírio. E hoje, vamos chafurdar nas catacumbas da babilônia atrás das delícias e sabores da culinária lá de longe.

Bom, se você conhece o grão de bico sabe que ele é uma espécie de semente (ou ele É a semente?) dura pra dedéu, e se tentares meter os dentes nele sem o devido preparo, não mais meterá dentes em nada nessa vida. Portanto, atenção aos detalhes pode fazer toda a diferença a favor da sua arcada dentária.

O primeiro passo é adquirir um pacote de 1/2 kg de grão de bico. Isso você consegue no mercado mais próximo, ou no mais longe da sua residência.

Feito isso, abra o pacote e despeje o grão de bico numa tigela. Cubra com água e deixe lá.

Abra uma cerveja. Avalie ponderada e auspiciosamente a condição do nosso pobre amigo mohammed, que morre de calor mas não é chegado numa breja. Que chega na copa e tem que torcer pelo brasil, enfim. Vida dura, essa.

Acabou a cerveja? Abra outra.

Proceda assim, tomando uma cerveja atrás da outra por, aproximadamente, uma hora. Futebolzinho na TV é extremamente providencial nessa hora.

Legal, tomaste uma bela quantidade de cerveja, o mundo encontra-se, nesse momento, melhor. Pelo menos eu fico assim quando tomo mais de uma cerveja. Na verdade, o mundo melhora a cada cerveja que eu tomo. Dia desses, tomei tantas que eu achei que tava no céu. E quase que eu fui mesmo pro céu, se é que é pra lá.

Agora, dê uma lavada no grão de bico. Isso, jogue fora aquela água toda, e passe os grãos debaixo da torneira.

Essa é uma receita demorada, mas não difícil. A parte mais chata é essa que vem agora. Você vai notar que algumas casquinhas começam a se soltar dos grãos. Sim, esse grão tem uma casquinha, e quanto mais você conseguir retirá-las, melhor. Depois você vai moer tudo no liquidificador, então dane-se as cascas, pensa o mais preguiçoso dos leitores. Mas como sei que você é preguiçoso, mas não é o mais preguiçoso, e sim uma pessoa pró-ativa, bacana e trabalhadora, então seja brasileiro e não desista nunca: vá tirando, com as mãos, as cascas dos grãos, até onde a sua paciência permitir. Entenda que o homus vai ficar mais suave à medida que você vai tirando as cascas.

Uma vez cumprido o trabalho de hércules, mete todo mundo numa panela de pressão, com água o suficiente pra cobrir 2x os grãos.

Vixe, olha que difícil: abra outra cerveja. Mais outra, e depois mais outra. Até o relógio completar uma volta inteira de ponteiro grande. Não fique olhando pro relógio, olhe pra cerveja. Quando ela acabar, olhe pra outra. Cerveja é assim mesmo, elas não tem ciúmes.

A essa hora, você já deve estar pra lá de Bagdá, e vai por mim: esse é mesmo o local. E, estando em bagdá, o grão de bico já deve estar bombando na panela de pressão. Desligue, deixe sair a pressão e abra a panela. O que tem lá dentro? Grão de bico amolecido e uma água com cara de água de poça. Mas vai por mim, não jogue essa água fora, você vai precisar dela.

Prepare o liquidificador. O segredo, agora, é bater em várias levas. Ou seja, como é uma pasta consistente, você não pode ser apressadinho e jogar tudo no liquidificador. Assim você vai acabar travando o referido eletrodoméstico, o que só vai trazer alegria pro gerente das casas bahia.

Pense que você vai bater em 4 levas. Isso ajuda muito, porque você pode ir sentindo o tempero e corrigindo o gosto.

Jogue no LD (nome difícil do cão, vou chamar o liquidifoaakjdajk de LD) o primeiro 1/4 de grão de bico, junto com um quarto da água de poça que ficou na panela.

Nessa primeira leva, eu costumo carregar nos temperos, e ir só corrigindo nas outras. Isto posto, esprema (não digite errado, senão vira esperma e pelamordedeus, sua comida vira um lixo) um limão inteiro, jogue 3 dentes de alho, uma golada sarada de azeite, um bom punhado de sal e uma golada de um tempero chamado Tahine. Ligue o LD.

Se o seu LD é vagabundo como o meu, vai acontecer o seguinte: as lâminas vão moer o grão de bico que tá embaixo, vai começar a rodar sozinha e o resto do grão de bico não desce. Se tu meteres uma colher lá dentro, corre o risco de gerar um acidente compatível com a imbecilidade de meter uma colher dentro de um liquidificador em movimento. A dica do século é ficar chacoalhando o LD enquanto ele bate. Vai por mim, parece loucura, mas evita que se forme uma camada de ar entre o grão batido e o grão inteiro. Demorei alguns anos pra descobrir essa maravilha da força centrífuga.

Beleza, uma vez batida a primeira leva, deposite ela numa poupança da caixa num pote grande e meta uma dedada. Esse é o segredo, vai dando umas dedadas pra sentir o tempero. Recomendo seriamente desligar o LD antes de meter o dedo, ok?

Sinta, com esse paladar de ogro  que deus lhe deu, se está bom de sal, de limão, de alho e de tahine. O ideal é que o homus não seja forte demais em nenhum dos temperos. Equilíbrio é o nome que você tem que lembrar.

Na segunda leva o procedimento é igual, mas acho que você entendeu que só deve ir calibrando os temperos, e não acrescentando tudo de novo. O mesmo com a terceira e com a quarta leva. Tudo isso torcendo pro seu liquidufadssdfsdfsdsd não queimar.

O rango tá quase pronto.

Você pode esperar esfriar e servir. Na hora de comer, tenha na mesa um vidro de azeite. Azeite bom, parceiro. Gasta uns reais aí e compra um azeite decente, senão você deixa um prato maneiro com gosto da pizza da padaria. Tenha também um belo punhado de salsinha e cebolinha picadas. Tem gente que gosta de cebola picada pequeninha pra acompanhar, mas... olha os gases aí, amigo.

No prato, as pessoas devem adicionar azeite e salsinha, misturar e comer com o pão sírio.

Desta vez, me animei a fazer algumas fotos, acho que, diante do meu histórico de péssimo fotógrafo, até que tá enganando, não?

Comandante Amílton, põe na tela:

no prato, o homus, azeite e salsinha. 

salsinha, manda um OE aí pra rapaziada

mas não pense que você vai comer um prato todo decoradinho e boioladinho assim.
Mistura tudo e chafurda o pão sírio antes de comer.

Rendimento: Rende pacas. Vai por mim, desperdício zero. Pode chamar uns 5 monstros pra compartilhar.
Tempo de preparo: um monte, umas 10 brejas. sirva bêbado e feliz.

CustoR$5,00 o grão de bico, mais salsinha, alho, uns goles de azeite, limão. Fica barato, você não gasta nem 12 mangos.

UPDATE:

Fiz um update neste post graças ao questionamento feito pelo leitor Raphael, o nosso querido Personal Grill lá de BH. A brincadeira é a seguinte: a partir de agora, toda vez que eu falar de preço de qualquer coisa, abrirei um carrinho de compras num famoso supermercado online da cidade, pra que possamos ter a noção exata do custo de cada receita.

O legal disso é que eu trabalho com e-commerce e sei o quanto de trabalho dá abrir um carrinho de compras e não comprá-lo. Chora, Abílio Diniz!! kkkk.

Note que: 
  1. Compramos 100g de alho, mas só vamos usar dois ou três dentes;
  2. O mesmo ocorre com a salsinha;
  3. Só vamos usar um limão;
  4. Só vamos usar um golinho de tahine;
  5. Vai sobrar mais de meia lata de azeite.
Ou seja: esta conta dá 26 mangos, mas você ainda utilizará quase todos os ingredientes. Se tiver um mínimo de bom senso, vai entender que eu acertei a conta em botar o custo da receita numa média de R$12,00.

Agora a equipe do site já pode fechar o meu carrinho e devolver os produtos ao estoque, porque eu não vou fazer isso não. hehehe

Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

- Mentiroso, safado, vagandundo!

O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

cabou o post.
...
...
...
cabou, não.

Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.