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Receitas de panela: Filé ao molho chateaubriandt

Começo este post num lindo dia de verão perguntando ao nobre leitor porque diabos essa receita tem um nome tão emboiolado?

Respondo: Porque o nome emboiolado no caso não pertence, necessariamente, à receita. Mas sim ao nada pacato cidadão que a inventou. Peçamos ajuda à wikipedia, que nos fará as devidas apresentações.
"Figura polêmica e controversa, odiado e temido, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por supostamente chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada porém rentosa com o Presidente Getúlio Vargas."
Na verdade, a wikipedia conta muito mais coisas a respeito, mas vamos combinar: essa é a parte que a gente mais gosta da história.

Resumindo: nosso herói aqui era um verdadeiro canalha. Cachorro, safado, vagabundo, já diria a cantora de axé. E se é isso que temos pra hoje, bora comigo nessa receita que, embora tenha origens inescrupulosas, pode lhe trazer inúmeras vantagens.

Imaginemos uma situação absolutamente hipotética. Imaginemos que você é não é um vagabundo. Não é um cachorro, safado, sem vergonha. Você não gasta, e nem gostaria de gastar, 100% dos seus rendimentos em cerveja, sinuca, pay-per-view e mulher da vida. Nada disso. Você, na nossa imaginação, é um cara centrado, tem uma garota que faz esse seu coraçãozinho de frango palpitar, e tudo o que você precisa nessa vida é convencer essa garota imaginária a juntar as cuecas com você e (mudando irresponsavelmente o tempo verbal só pra caber) foram felizes para sempre. Ou seja, vamos usar a canalhice do nosso herói a nosso favor.

Oka. Temos uma garota e um cara querendo pegar essa garota. Tudo o que precisamos é de uma estratégia para fazer a nossa caça entrar na arapuca e CRÉU linda e doce garota encontrar o amor da sua vida diretamente na sua pessoa.

A estratégia consiste em convidar a garota para um jantarzinho sem compromisso, e mandar a receita que nosso canalha inventou. Na tela:

Bota 1litro dagua pra ferver, com um bloquinho de caldo de costela dentro. Pode ser caldo de picanha, caldo de carne, enfim. Particularmente, o caldo de costela foi o que melhor se adaptou a essa receita até hoje. E olha que eu já fiz esse prato muitas vezes. Todas para a minha esposa, antes que o mais mente suja dos leitores pense mal a respeito deste que vos escreve.

Quando ferver, joga lá dentro meia garrafa de vinho tinto seco. O ideal é comprar um vinho barato, porque ele vai pra receita. Mas não, necessariamente, um vinho vagabundo. Porque pode ser que você não jogue todo o vinho na panela, e nesse caso, aposto um rim como você vai beber o tal vinho. E se ele for muito vagabundo, quem compromete o rim é você.

Na sua geladeira deve ter um pote escrito "manteiga". Vai por mim, é isso que tá escrito lá e tem uma pasta amarela dentro. Dá uma olherada generosa naquele negócio e joga dentro da panela. E não me venha com aquela doriana que isso aí é coisa de gente doente. Manteiga, feita de leite de vaca, cheia de colesterol, é disso que eu tou falando. Se não tem manteiga, desliga o fogo e vai comprar. NÃO JOGUE MARGARINA EM COMIDA BOA, isso tá entendido?

Enquanto ferve, dê uma golada no vinho e picote uns 100gr de champignon. Picote, não. Fatie. O cogumelo fica bonitinho fatiadinho na receita. Recomendo veementemente que compre o cogumelo correto no mercado, e não vá pro mato buscar o seu, sob sério risco de pegar um cogumelo alucinógeno e mandar pras cucuias toda e qualquer possibilidade de se dar bem com a garota. Pensa no lance dos hippies. Não queremos ver você assim, ok?

Aproveita, descasca e corta umas 4 batatas, joga um caldo de carne dentro, cobre com água e bota pra ferver. Deixa lá e continua com a receita. O único trabalho é se certificar de que a água não secou. Se precisar, completa o tanque de vez em quando. O seu com cerveja, o das batatas com água.

Quando ferver, prepara ae que tá chegando: Pega um copo, coloca umas 5 colheradas desse molho fervente que tu ta fazendo. Coloca mais uma golada sarada de vinho. Caldo quente + vinho frio = conteúdo morno no copo. Disso que você precisa, de conteúdo morno.

Beleza, agora pega farinha de trigo e manda umas 3 colheradas dentro do copo, e mexe rapidão pra não empelotar. Na real, vai empelotar um pouco sim, mas o que importa é fazer o melhor que você puder. E aqui, nós acreditamos no potencial dos nossos leitores. O lance do morno é importante pra mexer farinha. Se estiver fervendo, cozinha a farinha e empelota geral. Se estiver frio, não mistura.

Mexeu? Agora manda pra panela, mexendo rapidão de novo pra não empelotar de novo. Mete o fogo no máximo, ajuda a não empelotar pela terceira vez. Mexe a cadeira. Vai mexendo bonitinho, gostosinho, rebolando até o chão [/banda de axé].

Beleza, quando não tiver mais nenhuma pelota, manda lá pra dentro o pote inteiro de champigon. Com água e tudo, vai na fé.

Baixa esse fogo aí. Vai pras carne, parceiro. Ir pras carne é sempre uma coisa legal, entenda como quiser. Mas eu sei que você gosta.

O trabalho agora é fritar alguns filés. Pode ser filé mignon, ou um contra-filé, alcatra, desde que bem limpinhos, ou seja, sem nervos. Encarna o zezé de camargo e luciano e manda nele o seu tempero favorito [/é o amooooooooooor].

Enquanto a panela fica engrossando aquele caldo que você fez com o vinho, vai fritando os bifotos e mandando um por um pra dentro da panela. Mexe e deixa lá no fogo baixo. Vai notar que o seu molho começa a ficar marrom, quando antes ele era vermelho. É a carne começando a perder o seu suco pro molho. No frigir dos ovos, embora nesta receita não vá ovos, é que carne perde suco pro molho, que perde molho pra carne e vira tudo uma grande suruba. Mas, se o teu objetivo era derrubar a garotinha, vai nessa linha que o caminho é esse mesmo.

Bacana, tá quase pronto. Lembra daquelas batatas que ficaram na panela? Pois é, aquilo deve estar uma verdadeira moleza. Espeta uma com um garfo, se ela desmanchar, tá no ponto. Desliga a panela, joga a água fora e amassa bem. Use instrumentos, você vai saber qual o mais adequado pra amassar batatas. Uma colherada de MANTEIGA dentro ajuda a ficar mais legal. Tá pronto.

Ponha a mesa com toda a elegância que eu sei que você não tem, come de boca fechada, não arrota e não fala com comida na boca. Faz teu prato e janta tudo junto: vinho, purê, bife, molho e garota. A garota pode ficar pra depois.

Um rango que pode mudar o seu estado civil, te ajudar a pegar a mulher dos teus sonhos e deixar o zé mayer no chinelo.

PS: eu sempre fotografo os pratos que eu faço. Este, eu já fiz mil vezes. E acabei de descobrir que não tenho uma foto sequer dessa iguaria. Mas assim que fizer, posto aqui.

Custo: É caro, vai vinho e carne boa. Mas pensa nisso como um investimento. Só faça se a garota valer a pena.
Tempo de preparo: Umas 4 latinhas. Ou o tempo de você matar a meia garrafa de vinho que sobrou. Não seja estúpido de estar embriagado na hora de... enfim, você entendeu.
Rendimento: Controverso. Se você casar com a garota, seus rendimentos estarão comprometidos pro resto da vida. Definitivamente, uma receita que pode te levar à falência :-)

Bife à milanesa: o melhor presente que eu já ganhei

Eu tenho um amigo chamado Beto. Aposto que você também tem. Se não tem, conhece alguém que tem. Beto é o cara. Se o teu amigo Beto não é o cara, tudo bem. O meu amigo Beto, definitivamente, é o cara. E eu compartilho esse cara com você. Vem comigo conhecer o figurão, eu acho que você vai gostar.

Bom, o Beto nasceu Roberto, mas nasceu magro como um prego, e logo ganhou o apelido de Betinho. Assim ficou até os 16 anos dele, quando o destino fez com que nossos nomes aparecessem na mesma lista de chamada, num lugar incrível chamado OSEC. Postado no meio do mato da represa de guarapiranga em são paulo, esse lugar, teoricamente, deveria ser o nosso colégio. Mas no fundo acabou sendo o local mágico onde nós, inconscientemente, forjávamos as nossas personalidades, que precariamente, perduram até hoje.

Pois o magrelo moleque Betinho, aos 16, matriculou-se na OSEC e caiu na classe do multirepetente Daniel, que aos 18, ainda encontrava-se passando pelo penoso processo de alfabetização, do qual jamais conseguiu obter sucesso. Mas isso é assunto pra outro post. Ou nenhum, enfim.

O que importa é que eu e o Betinho logo tivemos aquela empatia mútua que acontece com os verdadeiros amigos. Aquela coisa que te faz olhar pra um cara qualquer como se fosse um irmão. Se você já teve um amigo assim, sabe do que eu tou falando. E é disso que eu tou falando.

Só que chamar um marmanjo magrelo de betinho depunha contra todos os planos que tínhamos em relação às gatinhas da escola (e eles eram abiciosos, acredite), e eu precisava dar um jeito de mudar esse nome de boiola. Mamãe te chamar de Betinho tá bom, parceiro. Mas aqui não rola, não. Aliás, eu nunca coloquei apelido em ninguém, e nem gosto disso, mas tenho uma mania idiota de ficar mudando o nome das pessoas para variantes esdrúxulas. Mas eu não faço isso pros outros, faço pra mim. Desde sempre, e nunca entendi porque. Mas eu faço isso. Sente o drama.

O Betinho logo virou Beto, que virou Betolúncio, que acabou virando Bob Lúcio (pra rimar com o lúncio, não porque ele seja lúcio), que depois virou Roberto Lúcio, que depois virou Betim, Betão, e, finalmente, achei que seria bom mesmo parar com essa loucura e chamar o cabra de Beto. Assim, eis o Beto. Um magrelo, ruim de bola, apaixonado por melancia, chato e transparente como a água.

No auge da adolescência, eu e o Beto descobrimos juntos as mais extremas consequencias do fato de desencanar da vida, não ter medo do amanhã e curtir desgovernadamente o fato de ser moleque. E nós fizemos isso de acordo, pode acreditar.

Nós saíamos de balada tendo apenas o dinheiro da ida do ônibus e da pinga com mel. Depois dormíamos num caixa eletrônico qualquer e voltávamos a pé de manhã. Independente da distância, o que importava era curtir a balada. No fim das contas, sempre chegávamos em casa.

O Beto aceitou ir pra praia comigo sem ter dinheiro pra chegar nem lugar pra ficar e nem nada pra comer, o que nos fez descer na beira da Rio-Santos à meia noite pedindo carona. Carona esta que foi concedida por um cara completamente louco, cheirado e embrigado que desafiou todas as leis da física durante o percurso. Inclusive aquela que diz que não conseguimos enxergar na estrada à noite sem ligar os faróis a 160km por hora.

O Beto foi o cara que me deu a mão pra segurar enquanto o médico costurava a minha testa sem anestesia porque eu levara uma pedrada bêbado numa briga. O Beto foi o primeiro cara pra quem eu contei que a minha namorada estava grávida e eu seria pai aos 22. O Beto foi o cara que não desistiu de mim quando eu mesmo queria desistir. Por essas e outras, muitas outras, que o Beto é o cara.

Esse climão de final de ano me lembra de uma história ótima. Num dia 24 de dezembro de mil, novecentos e noventa e algo, estava eu tentando dar um jeito de retibuir ao amigo Beto todas as risadas que a amizade dele havia me proporcionado naquele ano. Mas a gente era um bando de pé-rapado e o dinheiro que eu tinha mal dava pra comprar uma par de meias. E como meia é presente de vó, lá estava eu pensando em alguma surpresa pro meu bródi quando passa na frente de casa um caminhão vendendo melancias.

Não houve meio segundo pra decidir: O cara é meu amigo e merece um presente? Sim, é. O cara gosta muito de melancia, não gosta? Sim, gosta. Então, a melancia lhe será o presente que papai noel ofertará.

Comprei a mais bela das melancias, lustrei com cera de carro (ninguém conta isso pra ele, pelamordedeus), peguei um cetim velho de casa, fiz um laço e prendi com um prego na melancia e voilá! Tinha em mãos um presente que eu SABIA que seria um sucesso.

Peguei o 677-V Vila São José - Jabaquara e lá fui em em direção a Interlagos entregar o presente pro meu companheiro.

Juro que a idéia arrancou risadas do motorista, do cobrador, dos passageiros, do pessoal na rua, do pai, da mãe, das irmãs, dos vizinhos, dos parentes e até do Beto. Foi o presente de Natal mais idiota que eu já dei pra algúem.

O Beto, que não era menos idiota, posicionou o "presente" embaixo da árvore e deixou ali, à vista de todos os parentes que viriam para a festança prestes a rolar na sua casa momentos depois.

Alguns meses se passaram, até que o meu aniversário chegou. Meu amigo Beto, já conhecedor dos meus gostos, pediu à Dona Judith, sua mãe, que me preparasse um presente à altura. Pois veja qual não foi a minha surpresa quando, na minha festa de 19 anos, me aparece o Beto com uma caixa recheada com 1kg de bifes à milanesa de presente.

Como os leitores deste blog são os mais astutos e sagazes de toda a internet, posso imaginar que já sacaste que o tal bife à milanesa é o prato que eu mais aprecio neste Brasil varonil. E, claro, os leitores aqui não erram, e olha só: Bife à milanesa é mesmo o meu prato predileto. Vamos a ele.

A carne:
Bife à milanesa é genial porque pode ser feito com carne de primeira, carne de segunda, carne de terceira e até um filé do gato da sua vizinha serve pra preparar a iguaria. A carne só não pode ter uma coisa, nervos.

Particularmente, recomendo aquelas bandejinhas de alcatra que encontramos no mercado. Bifes finos, com pouca gordura e sem nervos. Tá perfeito pro bifão à milanesa.

Na tela:



O tempero:
Mesmo que essa iguaria tenha aquela casquinha deliciosa, não é lá que está o tempero. É no bife. O tempero, em si, não tem segredo. Separa um pote grande, onde você vai poder fazer lambança. Pra 1/2kg de carne, você deve picotar dois dentes de alho. Picota pequeno, compana.
Depois, você dá uma pitada de pimenta do reino, uma tacada de orégano, e eu tou confiando que você vai saber o quanto de orégano vai numa tacada. Depois uma golada de azeite, uma beiçada de sal e, entre pitadas, tacadas, goladas e beiçadas tá pronto o seu tempero. Basta sapecar a carne dentro do pote e mexer. Aí que mora a lambança. Você tem um monte de carne e tem que misturar aquele ex-boi todo no temperão que fez. Vai sujar, te garanto. Se você não se suja ao cozinhar, eu desconfio de você. Bola pra frente.

Na tela de novo:



A casquinha:
Aqui reside o diferencial desse maravilhoso prato. A casquinha do bife à milanesa é a cereja do bolo, é rainha da bateria, é o capitão nascimento do bife à milanesa. Ou seja, sem a casca, parceiro, teu bife é de moleque. Só um bifinho, não é um clássico, não é um bife à milanesa.

Pra fazer a casquinha, te prepara pra fazer mais lambança. Inicialmente, abra o armário da tua casa  e separa 3 pratos. Isso mesmo, 3 pratos.
  1. No primeiro, você enche de farinha de trigo. Se tu não sabe qual é, vai naquela branquinha que parece talco. Talco, brow. Não pensa besteira porque isso aí é roubada e além disso, o capitão nascimento tá de olho.
  2. No segundo, quebra um ovo e taca lá dentro. Com um garfo, faz o capeta comer solto até que gema e clara virem apenas uma coisa: uma gosma.
  3. No terceiro, encha de farinha de rosca. A dica do século é: pegue um pão velho e rale, parceiro. Já não ralaste o peito em situação oportuna? Pois use da sua experiência e rale o pão. 
Sabe quem foi Henry Ford? Foi o cara que inventou a linha de produção. Funciona assim: antes, um mesmo pião pegava todas as peças e montava o carro inteiro. Aí, o cara inventou uma esteira onde as peças iam andando, e cada pião apertava o seu parafuso. Aposto que conhece essa história. Se não conhece, devia repetir de ano várias vezes, como eu fiz :-)

Faça da sua cozinha uma linha de produção. Primeiro, você tira o bife do tempero, e passa ele na farinha de trigo. Tira ele branquinho e chafurda naquele ovo nojento. Do ovo, jogue ele na farinha de rosca e dê umas viradas nele. O resultado final é um teco de carne coberto com 3 camadas, sendo uma de farinha branca, uma de ovo e uma de pão ralado.

Na tela, mais uma vez, e mais outra vez:




A fritura:
Agora é só fritar o bifão. Pega uma frigideira, e enche de óleo. Não precisa, necessariamente, encher. Mas o suficiente pra cobrir os bifes tem que ter. Mete no fogo e deixa esquentar bem. O segredo do bom bife é esquentar bem o óleo.
Depois disso, faz o simples: deita cada bifão com o cuidado pra não encostar esse dedão de ogro no óleo, deixa encher de bolha e fazer o furdúncio, vira uma única vez e tira. Convém deixar o bifoto descansar alguns minutos no papel toalha. Depois coma e seja feliz.

A felicidade na tela:


Palhaço Ronald, entenda o real e profundo significado de "amo muito tudo isso".

Este post é uma homenagem a um grande e querido amigo. Mas, se você pensa que o Beto é o meu melhor amigo, errou. Eu não.tenho um melhor amigo. Papai do céu foi tão bacana comigo, que encheu de anjos ao meu redor, caras pelos quais eu posso ter a honra de chamar de amigos, com exatamente a mesma intensidade. Por isso, esse post é dedicado ao Beto, ao Cris, ao Batata, ao Gil, ao Pão, ao Delen, ao Daninho, ao Brunão, ao Rodriguinho e a mais um bando de calhordas que eu adoro. E, se você se identificou com essa história, esse post é dedicado a você, também.

Resenha de churrascaria vagabunda: Tramontana Grill

Este post foi escrito a 6 mãos, 30 dedos, 3 cabeças e outras coisas que eu nem quero citar aqui. Nesta empreitada, fui honoravelmente acompanhado pelos meus grandes amigos Luiz Caprioli e VinceVader, que meteram os seus cascos na produção desta resenha. Agradecimentos muito especiais pela boa companhia e pela ajuda com a primeira resenha de churrascaria vagabunda.

Dizem que futebol é uma caixinha de surpresas. Não é. Quem inventou essa bobagem não tem a menor idéia do quão surpreendente é a churrascaria que abre esta série. Uma surpresa atrás da outra, um lugar que, definitivamente, foi criado para alegrar os nossos malpassados coraçõezinhos. Vai vendo.

Se você já andou pelo metrô de São Paulo, provavelmente já passou pela estação Praça da Árvore. Pois o que você nem imagina é que logo acima da terra, nas imediações da estação Praça da Árvore, existe um gênio incompreendido, um verdadeiro templo da comida barata, antro da melhor gastronomia popular. Este mestre da culinária responde pelo nome de Tramontana Grill. Vai por mim, quando estiver no metrô, passando pela Praça da Árvore, cancele os seus compromissos, desça do metrô, caminhe pela rua Guaraú até o número 70 e separe $12,90 pra saborear o melhor churrasco que você pode comer com pouco dinheiro.

E a Tramontana Grill não é só excelente enquanto churrascaria, é um verdadeiro espetáculo, um local de diversão e arte. Entrenimento completo pra você pra toda a sua família.

Comecemos esta resenha pelo local. Pequeno, apertado, não tem placa na porta e não tem nada de mais. Mesas simples, toalha surrada, cadeira velha, enfim. Sinceramente, não esperava nada de luxuoso lá.

Sentamos na única mesa disponível, bem no centro da Tramontana, o que, pra quem conhece churrascarias, é uma boa estratégia, porque sempre tem garçom passando. Porém, na nossa mesa sentou-se também um cara, um desconhecido. Provavelmente devido à falta de lugar nas outras mesas. Azar o dele, teve de almoçar ouvindo a gente falar bobagem e comemorar os gols do paraguay. Mas como notei que, eventualmente ele segurava o riso, tudo beleza.

O atendimento foi um show à parte. Nada disso de fingir que você não existe, passar direto pela mesa, nada disso. Sem miséria, serviço 100%. Assim que chegamos, um simpático garçom paraibano veio nos perguntar, com sotaque gaúcho, quais as bebidas que gostaríamos de apreciar. Como não quis beber em horário comercial, pedi um guaraná com gelo e laranja, a melhor combinação de todos os tempos entre frutas e refrigerantes. Aliás, uma característica peculiar do local: todos os garçons, não importa de onde vierem, precisam ter sotaque gaúcho. Se a Tramontana contratar um garçom holandês, ele vai ter que aprender a falar bah, tche, chamar moleque de guri e levar guampo da patroa. O próprio Luiz notou que um dos garçons era barman do Madame Satã, e lá ele não usava sotaque gaúcho.

Isto posto, fomos checar a mesa das saladas. Peguei um prato, entrei na fila e coloquei nele algumas beterrabas. Foi quando eu me perguntei que diabos eu tava fazendo ali e larguei a fila pra lá, uma vez que eu não tinha ido à Tramontana pra comer salada. Pra quem gosta de desperdiçar espaço no estômago com salada em churrascaria, a mesa parecia bem completa, com folhas, verduras e todas as coisas coloridinhas que os nutricionistas dizem que fazem bem. O Vader foi mais saudável e acabou se servindo de alguns vegetais. Segundo ele, a mesa de saladas estava fabulosa, com picles, farofa e cebola aperitivo dignos de um manjar de rei egípcio, seja lá o que isso possa significar numa churracaria. Danem-se os vegetais, estamos aqui pra falar de CARNE.

Voltamos à mesa, e o ótimo atendimento já começou a mostrar os seus sinais. Os refris estavam na mesa, já no copo, excelência total. Porém, o meu guaraná com laranja não era um guaraná com laranja, e sim um guaraná com limão. Ficou ruim pra caramba, mas gostei do toque lúdico. Certamente, a primeira fanfarrice de uma equipe de garçons feita pra divertir você. Lembrei da propaganda da skol e achei redondo rir de mim mesmo. Ri redondo.

Imediatamente, um graçom bahiano com sotaque gaúcho me perguntou se eu queria alcatra. Sim, segurei um pedaço com aquele trequinho que eles deixam na mesa, e o garçom cortou um generoso pedaço pra mim enquanto a peça pingava na toalha. Deve ser pra deixar aquele cheirinho de carne no ar, coisa de gente criativa e solícita. Se meu companheiro Luiz sentisse vontade de comer mais alcatra, podia lamber a mesa. A carne, em si, estava razoável. Acho que a peça estava na mão do garçom há algum tempo, porque estava meio fria e, consequentemente, dura. Mas o sabor estava ótimo, carne bem no ponto, nota 7.

Na sequência, passou um garçom pernambucano com sotaque de gaúcho oferecendo um pedaço de fraldinha. Novamente segurei a carne com o trequinho, novamente pingou na toalha, enfim. Aí fomos surpreendidos novamente , porque a fraldinha estava sensacional. Temperada só com sal, sem nenhuma boiolice, mas muito saborosa. Dou a ela uma nota 9, sem pestanejar.

Depois da fraldinha, o japonês bateu o pênalti no travessão e a churrascaria levantou. Sensacional, acho que todo mundo lá na Tramontana estava com o mesmo sentimento que eu, aquele medo de ter que torcer "tcha, tcha" se algum time oriental ganhasse a copa. Enquanto isso, Vader dava nota 10 pra kafta.

Chegou a hora da picanha, trazida por um garçom alagoano com sotaque gaúcho. Enquanto a peça pingava na toalha, escolhi mais um pedacinho e peguei com o trequinho. Aliás, estávamos em 3 na mesa (fora o tiozinho desconhecido), e só tínhamos 2 trequinhos. Deve ser mais uma fanfarrice dos garçons. "Viu aquele cara pegando a picanha com a mão?", devem comentar os garçons no busão de volta pra casa. Entretenimento interno, coisa de gente alegre.

A picanha estava boa, como deveria ser uma picanha de churrascaria. Eles fazem aquele rolinho, espetam, salgam e deixam na churraca. Ela fica boa sempre. Se uma churracaria errar a picanha, corre dali que tem algum muito errado acontecendo. Nem vou avaliar, porque picanha é sempre nota 10.

Foi quando fomos surpreendidos novamente. Novamente. O gerente, um gaúcho com sotaque gaúcho, veio perguntar pra gente se a carne estava boa, se queríamos mais alguma coisa, se o atendimento estava divertido o bastante. Incrível, jamais imaginei que isso aconteceria num restaurante popular. Pedi mais um guaraná com laranja, o Vader pediu coraçãozinho (que depois se revelou outra iguaria) e o Luiz lembrou que não havia visto costela bovina. Quase pedi um pedaço de pão pra passar na toalha, aquilo devia estar delicioso.

O milagre do atendimento trouxe coraçãozinho enquanto o gerente ainda estava na mesa. 10 no coraçãozinho de frango, 10 no coraçãozinho da gente. Telepatia também é entretenimento. Se é entretenimento, é Tramontana Grill. O garçom rapidamente trouxe o meu guaraná, mas entregou ao Luiz. Definitivamente, não era o meu dia de tomar guaraná com laranja. Sorte que ele é um bom camarada e me devolveu o guaraná, desta vez com a laranja. Se fosse o tiozinho desconhecido, acho que eu ficava sem. Trouxe também um javali, que estava muito bom, nota 8. Tinha um temperinho especial nele, fabuloso.

A costela foi o ponto fraco do dia. Acho que, na tentativa de ser solícito, o gerente mandou tirar a costela antes da hora. Um garçom cearense com sotaque gaúcho trouxe um pedaço generoso, mas que não pingou na mesa, e parecia meio durengo, não tava legal, não. Nota 3.
Aqui temos uma discórdia, pois o Vader deu nota 10 à costela bovina. Ou seja: é loteria. No meio da costela boa, eles colocam uma duranga. Entrenimento é isso aí.
Pois é, se você pensa que acabou, fomos surpreendidos novamente, pela terceira vez. Um garçom maranhense com sotaque gaúcho apareceu com uma belíssima peça de cupim. Mais uma vez, repeti o procedimento com o trequinho e, antes que ele pudesse ir embora, gritei pra quem quisesse ouvir: pega um pedaço dessa porra!

A idéia era apenas comunicar ao Vader e ao Luiz que a carne estava muito boa, mas acho que exagerei um pouco no volume, e assustei o tiozinho desconhecido. Mas não pude me conter, aquele foi um dos melhores cupins que eu já comi na vida. Muito, mas muito melhor do que o meu cupim ao alho, famoso nos churrascos que faço. Macio, saboroso, carne bem molhada e com sal na medida, com uma casquinha por fora. Repeti duas vezes. Uma delícia, levou nota 10.

Enfim, chegou a hora de pagar a conta e levantar dali. Nos dirigimos ao caixa com a comanda na mão, dividimos a conta em 3. O custo final ficou em $17,00 pra cada um, uma bagatela. Preço de banana, mas é carne, que é muito melhor do que banana.

E se você pensa que a fanfarrice termina aí, está muito enganado. Eu pedi um cartão da Tramontana pro cara do caixa, que se assustou e deixou a máquina da Visa cair no chão. Sorte que eu já havia acertado a minha parte, porque a partir daí, ninguém mais pagou com visa. Enquanto isso, outro garçom deixava cair um copo d'água no Vader, acredita? Uma fanfarrice atrás da outra, só pra nos alegrar. E alegres ficamos, 100% de aproveitamento.

Pra finalizar, o site da Tramontana Grill é um espetáculo à parte. O preço tá errado (no site mostra 14,99, mas é 12,99), os garçons da fotos são os mesmos, o logo é o mesmo, mas o ENDEREÇO NÃO É O MESMO. Isso mesmo que você leu: o endereço, localização, mapa no site, fotos do local estão todos errados. Mas os garçons que aparecem na foto trabalham mesmo lá. Isso significa que eu não errei de site, o site que errou de churrascaria. Mais uma trapalhada meticulosamente calculada pra nossa diversão. Pensa que é num lugar, vai no outro. Sensacional, adorei! Deve ser por isso que não tem placa na porta.

Tramontana Grill é um lugar que eu recomendo. O Deitando o Gato na Grelha aprova, bate o carimbo e garante com o selo "ESSA CHURRASCARIA VAGABUNDA É 10".

Tramontana Grill, obrigado por você existir.

Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

- Mentiroso, safado, vagandundo!

O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

cabou o post.
...
...
...
cabou, não.

Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.

A linguiça cuiabana do Adib

Se você acha que linguiça só serve pra encher o bucho da galera nos churrascos, que só churrasqueiro pobre que faz churrasco de linguiça, é porque você ainda não conheceu a linguiça certa. Se você pensou que o escriba deste blog emboiolou-se, posso lhe assegurar que está redondamente enganado. Eu estou falando da Linguiça Cuiabana. E não é uma cuiabana qualquer, porque existem vários tipos google afora.

O primeiro a se entender é que ela chama-se Cuiabana, mas não é originária de Cuiabá. Reza a lenda que o cara que inventou a Linguiça Cuiabana foi um fazendeiro de Paulo de Faria, no interior de São Paulo. Mas a patente de tal guloseima foi registrada em nome dos proprietários de uma padaria de Nova Granada, que obviamente era um açougue, mas o português acordou com a macaca e trocou a linguiça pelo baguete. Deus salve o Gooogle, mas isso tudo nem vem ao caso.

Essa linguiça é produzida artesanalmente nos açougues interior afora, então as receitas são variadas e você não encontra em supermercado. Vamos falar especificamente da Linguiça do Adib. 

Nas estatísticas deste blog, pude notar que temos leitores em São José do Rio Preto, a 550km da cidade de São Paulo. Achou longe? Pois ande mais 130km estado adentro até a bela e pacata cidade de Jales, local acolhedor de porres homéricos deste que vos escreve. Então, achou longe? Ande mais um pouquinho até Santa Albertina, nos arredores de Jales. Assim que chegar a Santa Albertina, pergunte ao primeiro que passar onde fica o açougue do Adib, separe R$8,80 e encoste a barriga no balcão.

O Adib prepara a linguiça cuiabana sob encomenda, pois ela fica mais gostosa quando fresca. E fica melhor fresca porque tem leite dentro dela. Isso mesmo que você leu, leite. Sente o drama: a linguiça cuiabana é, em maneira geral, feita de carne bovina, mais especificamente a Alcatra (que já é boa por si só, imagine como ingrediente), queijo minas, temperos diversos e leite. Digo temperos diversos porque o Adib não é um açougueiro falador, e até o presente momento, não houve tortura capaz de fazê-lo revelar quais temperos recobrem tal iguaria. 

Bom, comprados os 2,5kg de linguiça cuiabana, metamos ela na churraca, não? Pra facilitar as coisas, vou fazer como o pessoal da novela, que entra no avião aqui e sai na índia no segundo seguinte. Pode esquecer os 600 e tantos kilometros rodados, todos os pedágios da Bandeirantes e da Anhanguera, a paradinha no posto Castelo pra comprar biscoito de polvilho e o trânsito na marginal ao chegar a São Paulo. O lance aqui é teletransporte: do balcão do Adib à avenida Paulista em 3 segundos. 

Pra preparar, você não precisa de nada mais do que paciência e muito, muito cuidado. Paciência porque demora um pouco, ela é uma linguiça densa (ui!) e cuidado porque ela é muito frágil. Você tem que fazer toda a sua força mental e espiritual pra ela não arrebentar. Senão o leite cai na brasa e aí, meu filho... joga nescau e esquece o churrasco. Vamos ao modo de preparo:

Deite, cuidadosamente, mas muito cuidadosamente a linguiça numa grelha só pra ela. Essa grelha deve estar fria, pois se estiver quente, corre o risco dela colar na grelha e furar na hora de virar, e nós não queremos isso, ok?. Na hora de por na grelha, larga mão de ser bichinha e mete a mão na linguiça (ui de novo), não pegue a cuiabana com nenhum instrumento. Faça um enroladinho com ela. Pelamordedeus, nao separe os gomos!! Tem leite lá dentro, e é lá dentro que ele deve permanecer, deu pra entender?

Preciso comprar uma máquina decente. esse carvão azul não tá certo, não.
Olja o queijinho querendo sair da pontinha dela. delícia!

Deixe a cuiabana no médio da churraca, sem receber labareda, mas também não muito longe do fogo. Fique atento, quando ela começar a ficar preta embaixo (não no estilo carvão, fique ligado na sua comida, parceiro), faça uma operação tipo missão impossível pra virá-la. Tire-a com grelha e tudo (por isso que eu falei pra usar uma grelha só pra ela), posicione outra grelha cuidadosamente sobre ela, e vire de uma vez. Se furar nesse processo, game over and insert coins. Mas vamos imaginar que você sabe cuidar de alguma coisa nessa vida e conseguiu cumprir essa parte do processo direitinho. Volte ela pro fogo. Quando ficar vermelho escuro, tire, deite sobre a tábua, corte e sirva.

Ao contrário de qualquer linguiça, que só serve, digamos, pra encher linguiça, a Cuiabana pode ser a rainha do churrasco. Como ela é extremamente saborosa, o povo come que nem louco e você pode fazer uma atrás da outra. 

Mas, pra isso, vai ter que viajar até Santa Albertina, que fica perto de Jales, que fica a 130km de São José do Rio Preto, que fica a 550km de São Paulo... ufa! 

Ah, os leitores que o Goooogle indicou lá de Rio Preto podem fazer uma visitinha aqui. Desde que tragam lembranças do Adib.

UPDATE: Num post mais recente, eu FIZ a minha própria linguiça Cuiabana. Chupa essa manga, Adib. Se quiser saber como faz, vai lá e lê.

IPDA, mas não tem no Pão de Açúcar (perdeu Abílio): R$8,80 o Kg.
Rendimento: 2,5kg encheram o bucho de umas 10 pessoas. 
Tempo de preparo: 3 brejas até virar, 1 breja depois de virada.

E dá-lhe Porco!! Alcatra de porco levanta a torcida

Eu já gritei "porco" o mais alto que pude. As pessoas à minha volta também fizeram o mesmo. Umas 80 mil, todo mundo gritando porco, porco, porco.. É, eu já me emocionei com o porco. Já chorei de alegria, de tristeza, já me descabelei. Quando criança, meu sonho era fazer parte do porco. Vestir as suas cores e sair por aí, correndo na relva. Aliás, frequentemente eu me visto de porco. Foi meu pai que me ensinou a ser assim, e eu também ensinei os meus filhos. Definitivamente, o porco faz parte da minha vida. Amar a um porco dessa maneira é um sentimento que só uma categoria da população sabe o que é: os palmeirenses!

E diante disso, hoje este blog vai sangrar a própria carne, trazer o assunto de volta ao que nos interessa e escrever um post antropófago. Vamos falar de deitar o porco na grelha.

Quando se fala de churrasco de porco, logo vem à mente a famosa costelinha, ou a bisteca. Pois o porco tem carnes saborosíssimas a serem exploradas. Uma delas é a ALCATRA SUÍNA.

A alcatrinha do porco é uma peça de, mais ou menos, 1kg. O sabor parece muito com o da costelinha, mas não tem quase nada de gordura, o sabor é um pouco mais leve e a carne é super macia. Receita de sucesso pra qualquer churrasco, não?

Pra preparar, não tem segredo. É mais um tipo de carne for dummies, que qualquer um consegue fazer sem se mijar. Vamos à receita.

Costumo cortar a peça da alcatra suína em duas partes, e preparar só uma delas. Mas isso é uma opção pessoal, porque costumo fazer churrasco com várias carnes diferentes. Então, a menos que você receba um time de rugbi no seu churrasco, vale a pena fazer apenas meia peça pra ter variedade. Além disso, a outra meia peça vira pretexto pra outro churrasco.

De posse da meia peça, não fatie. Manda ela inteirinha pra grelha. Pode ser na parte de baixo, mais próxima da brasa. só cuide pra não subir labareda na carne, pra não torrar. Coloque sal grosso. A alcatra tem um sabor suave, não é pra fazer aquela camada bizarra de sal grosso em cima da carne. Não seja um animal, porque o porco já o é.

Deixe aquecer alguns minutos (uma meia latinha de breja), e vire do outro lado. De novo, ponha sal com toda a parcimônia que Deus lhe deu. Deixa ela ae. Vai virando ela de tempos em tempos, pra assar por igual.

A alcatra do porco, quando crua, é meio branca, meio rosa e macia até demais. Quando ela vai ficando pronta, escurece e fica um pouco mais dura. Dá pra perceber o ponto dela facinho. 

Pra ter certeza do ponto, tire uma lasquinha dela. Por dentro, a carne tem que estar branquinha. Se você notar que tem sangue, ou que tá meio rosa no meio, manda de volta pro fogo. Carne de porco, definitivamente, não dá pra comer mal-passada. Além de ficar ruim, ainda tem o problema do verminho que prefiro não comentar aqui. Você entendeu: assa até ficar assado. E a carne de porco tem uma vantagem: se você deixar passar um pouquinho, ela não fica ruim. só fica mais seca.

Tá bom? Experimentou? Tá branquinho e sequinho por dentro? Então tá pronto!! 

Corta ela em tirinhas bem fininhas, joga num prato e espreme limão em cima. Querido churrasqueiro, prepare-se pra conquistar garotas, fazer amigos e influenciar pessoas! Essa carne é tudo de bom.

A alcatra de porco é o tipo da carne barata, fácil de fazer e saborosa, mas que ninguém faz. Aposto um rim como o pessoal vai falar assim: "Uau, que delícia! Que carne é essa?". Aí nessa hora você faz aquela cara de que conhece um segredo que ninguém mais conhece e diz: "Alcatra de porco, meu caro Watson". E todos vão invejar a sua astúcia e sagacidade. Há!

Com essa carne, até corintiano grita PORCO!

IPDA: R$13,80 a peça inteira. E dá pra 2 churrascos. Logo, R$6,90. Brecinho de brimo.
Tempo de preparo: Umas 3 latinhas. 
Rendimento: Serve umas 4 pessoas, se não for a única carne do churrasco e se não forem 4 ogros.