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Como preparar um sanduíche de pernil matador

Olha, não sei aí onde você mora, mas aqui na minha terra, esse sanduba é um verdadeiro clássico, capaz de fazer a gente rodar kilômetros enfrentando um trânsito do capeta, índices de poluição chineses e motoboy chutando espelhinho só pra saborear um verdadeiro Sanduíche de Pernil.

Pra quem não é daqui, eu dou a dica: aqui em São Paulo, temos o tal Mercado Municipal. Mercadão, como chamamos por aqui. Aliás, paulistano tem uma mania irritante de mudar o nome das coisas pro aumentativo. Um dia ainda mudo o nome desse blog pra Deitando o Gato no Grelhão.

Voltando ao mercadão: é um local da mais absoluta divindade no que tange comilança e bebelança. O mercadão é como uma feira, só que fica num ambiente fechado. Cada comerciante tem sua barraquinha, porém os produtos vendidos ali são a nata do que tem de bom pra comprar em termos de comida em SP. São temperos, carnes especiais, frutas exóticas, peixes, vinhos, queijos, condimentos, uma infinidade de coisas boas pra se comprar. Tudo com qualidade TOP. E tem, também, algumas lanchonetes famosas, principalmente, por dois motivos: O sanduíche de mortadela, e o sanduíche de pernil.

Se um dia vier à nossa caótica capital, não deixe de passar por lá, vai por mim. Vais comer o pão que o diabo amassou pra chegar, porque o mercadão fica no centro da cidade, e pra conseguir posicionar o esqueleto debaixo daquele teto, terás que suplantar todos os obstáculos anteriormente citados, além de outras bizarrices da nossa cidade, como moleque fazendo malabarismo com limão no farol (há! só paulistano chama sinal de farol), motoqueiro sendo recolhido pelo SAMU, mendigo com a camisa do corinthians (hahahaha zuei) e travesti na esquina usando biquini. Mas garanto que vai valer a pena. O sanduíche, não o travesti, ok?

Pois é, mas eu moro aqui, e não tenho a menor disposição de enfrentar isso tudo só pra comer um sanduba. E assim decidi fazer o meu próprio sanduíche de pernil. E senta-que-lá-vem-a-história, porque esse post é longo. Por um único motivo: a receita é complexa. Complexa, mas não difícil. Ou seja: você vai ter muito trabalho e vai demorar, mas não precisa ser um chef engomadinho e saber em quanto tempo a jaca verde da tunísia pega liga, basta ter paciência e um mínimo de cuidado que você vai conseguir.

Essa é uma receita muito louca, vai no forno, na panela e na geladeira. Você começa a preparar hoje, e só vai comer amanhã, vai comprar vinho vagabundo e ainda por cima ficar feliz com isso. Ah, uma maluquice só. Vem comigo fazer glu-glu e bora pra dentro dessa doidera.

Comecemos pela compra do pernil. Dirija sua carcaça ao supermercado mais próximo. Ou açougue. Ou qualquer lugar que seja capaz de vender um pernil decente. Abre essa sua mão de vaca e compra logo uma peça de pernil de porco, de aproximamente 1kg. Isso, nem precisa ser muito, 1kg dá pra encher vários sandubas.

Aqui tem um detalhe importante: tem partes do pernil que são mais secas, outras tem mais gordura. Prefira uma peça que tenha um pouquinho a mais de gordura. Isso não significa que você deva escolher uma peça que seja SÓ gordura, usa a cabeça e lembra que você não está fazendo sabão, está fazendo um delicioso sanduba de pernil.

Legal, então vamos fazer a caminha pra ele nanar. Procura um pote / frasco / refratário / tupperware ou seja lá o nome que se dá a isso, e joga o pernilzim dentro. Pense num pote (vamos chamar de pote) que caiba o pernil e mais um pouco. É importante deixar um espaço porque você vai jogar um monte de coisas pra nanar com ele, maaas.... é importante também não deixar muito espaço de sobra. Já, já eu explico porque, e você vai me dar razão.

Pro bichinho não ficar sozinho durante o soninho, corte uma cebola em rodelas e deita lá no pote. Nem precisa picotar, pode ser em rodelas mesmo. Só não seja ogro, gaste um tempinho nisso e faça direito, nada de cortar a cebola em 4 e dane-se.

Agora, uns 4 dentes de alho picotados. Sem segredo: pega o alho, descasca, picota, joga lá dentro e gol do Brasil.

Prepare as suas maracas que é hora da salsa, muchacho. Hombre que é hombre picota um maço de salsa e cebolinha e manda pra dentro do pote coçando o bigodón e arrumando o sombrero. Seja hombre, maricón, mira la salsa e manda pra dentro!

Não se esqueça do sal. Com comedimento. Olhe bem pro pernil, depois olhe bem pro sal, concentra essa mente abilolada e manda sal lá pra dentro. Não se esqueça que o sal deve apenas salgar, e não destruir o seu pernil. Então, guarda essa colher de sopa e salgue com cuidado. Tou confiando em você. Pode jogar um pouquinho daquela pimentinha que eu sei que você gosta, mas, de novo: tenha comedimento, isso aqui não é comida mexicana.

Agora vamos entender o porquê do tamanho do pote. Recapitulando: você pegou um pote, jogou pernil, cebola, alho, salsa e cebolinha, sal e pimenta, certo? A essa altura, o referido recipiente já deve estar cheio até a boca e você se pergunta: Mas que diabos, o que mais eu tenho que enfiar aqui dentro, se não cabe mais nem uma azeitona? Eis que então você se responde: Macacos me mordam, ainda cabe algum líquido aqui dentro. Isso, vamos encher de líquido. Mas calma aí, não estamos falando de qualquer líquido.

Estamos falando de vinho. Vinho branco. Vinho branco seco. Vinho branco seco vagabundo. Vinho branco seco vagabundo, mas nem tanto.

Captou?

Não?

Pensa comigo: o que você está fazendo é um marinado. Ou seja, a carne precisa ficar submersa em líquidos e condimentos. O líquido é vinho. Além de marinar a carne, o vinho ainda pode marinar a sua alma. É pra isso que ele serve, pra trazer alegria aos nossos embriagados coraçõezinhos, não?

Portanto, se você pegou um pote muito grande, vai precisar de muito vinho pra submergir a carne. Se você usou um pote do tamanho certo, vai precisar de menos vinho. E vai poder beber o que sobrou, com exatamente o mesmo efeito prático sobre a sua carne. Por isso o vinho tem que ser vagabundo, mas nem tanto. Porque você vai desperdiçar um tanto na carne, mas vai beber o resto. Um liebfraumilch de $7 resolve bem o problema. Meia garrafa no porco, meia garrafa na mente e tá feita a felicidade.

Olha lá, o pernil debaixo do tempero todo

Acabamos a primeira parte. Fecha bem o pote (esqueci de falar, ele tem que ter tampa), chacoalha como se não houvesse amanhã e bota a criança pra dormir no aconchego da sua geladeira.

Boa noite, já diria o cid moreira. Mas hoje em dia ele prefere falar jabulaaaaaaaaaaniiiiii. Vai dormir e amanhã a gente continua.

Acordou? Limpa essa remela e vai lavar essa cara. Bora pras panelas que o dia vai ser longo.

A primeira coisa que a gente vai fazer é mandar o nosso marinado pro forno. Despeja todo mundo numa bandeja, coloca um copo d'água pra fazer volume, cobre com papel alumínio e olha pro relógio. Faz a conta, você vai tirar aquilo do forno umas 2 horas depois. Tempo suficiente pra você preparar o resto das coisas, porque, te falei, essa receita dá um trabalho do cão.
Obs: O pernil tem que ficar no forno 2h. Mas isso depende do seu forno, por motivos óbvios. A partir da primeira hora, vale a pena abrir o forno de vez em quando pra avaliar. Se o líquido secar, joga mais água na bandeja. O pernil fica pronto quando você não aguentar mais o cheiro maravilhoso que sair do seu forno, digo, quando você espetar ele com o garfo, e parecer que está espetando uma manteiga derretida. Ele fica macio pra caramba.
Enquanto ele tá no forno, picote mais uns 3 dentes de alho, e guarde num pires. Corte mais umas 2 cebolas médias em rodelas, guarde numa xícara. Praticamente um chá, mas recomendo não beber cebola e alho no café da manhã.

Picote um tomate grande, dois pequenos ou um médio e meio, tanto faz. Faça as contas e tenha tomate picado, que você pode colocar num pratinho.

Pimentão, você vai precisar de bastante pimentão. Três, pra ser mais exato. Um de cada cor. Se você não sabe, as cores são vermelho, amarelo e verde. Picota os 3 e deixa num pote qualquer.

Confere como está o pernil. Se ele estiver macio e o cheiro estiver te enlouquecendo, o pernil está pronto. Retire ele da bandeja sem, necessariamente, jogar fora o líquido que sobra. Pega uma faca e tenha juízo nessa sua cabeçona, picotando o pernil sem comer tudo antes da hora e sem cortar esse dedão peludo.

Hora do refogado. Sabe o que é um refogado? É a base de um moooonte de pratos que você come e acha gostoso. Basicamente, uma fritura de cebola, alho e mais um monte de coisas.

Comece escolhendo uma panela grande, pense que você vai ter que colocar tudo isso que você preparou dentro dessa panela. Deite um pouco de azeite extra-virgem (já falei mil vezes que existe uma diferença gritante entre um azeite bom e aquele óleo que você jogava no tanque da mobilete, não preciso repetir, certo?) na panela e manda pro fogo.

Alguns segundos depois, jogue lá toda a cebola. Vai começar a fazer barulhinho, cheiro gostoso na cozinha, aquela coisa toda. Misture um pouco com uma colher de pau.

Sempre que eu faço refogados, costumo jogar uma folha de louro na hora da cebola. Ajuda a ficar mais bacana, pode confiar.

Assim que a cebola começar a murchar e ficar meio amarelinha, jogue o alho picotado. Essa é A HORA.  O cheiro é coisa de louco. Mexa um pouquinho pro alho dar aquela queimadinha bacana, e jogue todo o resto: pimentões e tomate.

O seu trabalho daqui pra frente é, basicamente, mexer essa coisa. Fica mexendo até os pimentões ficarem meio molengas. O pimentão é o ingrediente mais rígido da receita toda, quando ele estiver mole, todo o resto já tá sabendo que a pipa do vovô não sobe mais.

- ritmoooooo.... ritmo de feestaaaa...

Lembra do pernil? Já comeu tudo, ou você conseguiu segurar a gula? Jogue o que sobrou dentro da panela, picado pequeninho. Aproveite e mande pra panela também aquele resto de líquido que sobrou na bandeja. Aquilo é cebola, alho, vinho, caldo do próprio pernil... Não tem como ficar ruim, né?

Bacana, agora basta mexer até misturar bem, deixa ferver um pouquinho todo mundo junto, o recheio do sanduíche não pode ficar muito líquido, você deixa ferver até reduzir um pouco. Tá quase pronto, finalmente.

Recomendo roubar um pedacinho da panela, embora eu duvide veementemente que ainda não o tenha feito. Nesse momento, você pode corrigir o sal, se for necessário.

Enquanto ferve, mande alguém buscar pão fresco na padaria. Mande o dinheiro contado, você vai esquecer de pegar o troco, eu te conheço. Tome uma cerveja enquanto ferve, ainda não havia lembrado disso.

Pronto. O pessoal voltou da padaria, abra um pão, jogue o pernil lá dentro e seja feliz.

chora, ruth lemos: isso que é sanduíche-iche.

Rendimento: um monte. Dá pra fazer uns 10 sandubas fácil, fácil.
Tempo de preparo: um monte. Vire um escravo da sua própria cozinha.
Custo: O pernil vai custar uns $12. O pimentão é caro pra dedéu, você vai gastar uns $12 de pimentão, acredite. Cebola, tomate, alho e afins devem somar mais uns $5. Vinho vagabundo custa $7. Fora o pão. Pense que vai gastar umas 30 pratas, mas vai alimentar um monte de gente.

Costelinha de porco ao chimichurri

No início de tudo, Deus tirou uma costela de Adão e fez a Eva. Adão, espertalhão, comeu a maçã da Eva e a merda tava feita: tomaram um rapa do paraíso, o bicho pegou e assim vamos até hoje. E não me pergunte como Adão e Eva, seres humanos, viraram macaco, depois neanderthal e depois gente de novo, porque eu faltei nesse dia e fui mal nessa prova, ok? Mas voltando ao assunto, se Deus tivesse poupado a costela do pelAdão e tivesse usado uma costela de.. de.. sei lá, de porco, a história teria sido bem diferente: Deus tiraria a costela do porco, olharia pra ela... olharia pra ela.... olharia pra ela... assaria e comeria. E a essa hora Adão tava todo feliz lá, no paraíso, jogando bola, tomando cerveja e comendo churrasco. Ele e a serpente. Xiii.....

Deixemos Adão de lado (não no sentido de mudar a posição em que se encontra, no sentido de desencanar dele, ok?), e vamos nos preocupar com que realmente importa neste post, porque isso é uma receita e eu já inventei tanta merda que tou quase perdendo o rumo do post. A parada que interessa é que Deus tirou a costela do porco, assou e comeu. E se Ele fez isso e achou gostoso, a gente também é filhinho dEle e tem o mesmo direito. Como Ele escreve certo por linhas tortas, se esqueceu de contar como é que a costela do porquinho ficou tão divina (olha o trocadilho-lho-lho). E, como de linha torta entendo eu (minha letra é feia que é o cão), transcrevo em arial tamanho 12 as palavras do senhor:

"E, no sétimo dia, deitarás a costela do porco cortada em ripas na bandeja, depositarás o chimichurri sobre ela e descansarás sobre o altar durante sete dias e sete noites*. Então o fogo da churrasqueira queimará todo o alimento, e aquele que experimentar tal oferenda será expluso do paraíso para as trevas sem fim"


* Tá 7 dias e 7 noites tem um puta apelo dramático, mas se vc deixar marinando durante esse tempo todo, será expluso da cozinha pro banheiro e lá sim, permanecerá sentado durante 7 dias e 7 noites. Portanto, deixe a costelinha no molho chimichurri durante mais ou menos uma hora. É o suficiente.

E pode esquecer a conspiração Código DaVinci: molho chimichurri não é uma senha pra abrir artefatos mirabolantes nem nada do tipo: no post anterior, eu e você vimos a diferença entre nossos vizinhos argentinos e o homem de neanderthal. Vimos também que se o homem de neanderthal tivesse sido argentino, a humanidade teria hoje sérios problemas em relação a cortes de cabelo masculinos, mas a subsistência desde a idade da pedra até hoje teria sido mais suave, o neanderthal teria sido um primata mais sorridente e a carne de mamute teria sido muito mais gostosa em função de uma maravilha da culinária portenha: o Molho Chimichurri.

Pois, agora que você sabe FAZER o molho, vamos achar uma maneira de USÁ-LO. A receita, em si, é simples assim. Deixa a costela no chimichurri durante uma hora num recipiente, depois deita o porquinho na grelha, espera ficar pronto e come. Essa costela fica boa de neanderthal nenhum botar defeito.

Uma dica legal: Se você quiser molhar a carne depois de pronta no molhinho, o que fica animal, não ponha sal no molho chimichurri, deixando pra salpicar sobre a costela já no fogo. Faça um pouquinho mais de molho, de maneira que vc consiga guardar um pouco. Assim, quando a costelinha ficar pronta, vc pode molhar os pedacinhos no chimichurri e lavar a alma. Eu tou contando que você não vai fazer a porcaria de molhar a carne assada na bandeja onde a costela ficou descansando, ok? Infelizmente, carne crua não faz bem, principalmente a de porco. E se a costela ficou descansando naquele molho, não se esqueça de que já tem um porco na receita e você não precisa ser como ele: larga mão de nojeira e joga fora esse molho. Ah, você entendeu a moral da história: se quiser molhar a carne, guarde um pouco de molho antes.

Dica 2: Fica mais legal se você deixar assar bem, como tá cheio de azeite ela dificilmente vai ficar seca. E quanto mais bem passada, melhor você sente o sabor do "tche meu molho". Não entendeu a piada? Leia o post anterior!

A costela do porco-cabrito

Neste blog, nós adoramos os Simpsons. A razão dessa adoração toda tem nome e sobrenome: Homer Simpson, esse é o cara. Homer querido, você mora no nosso coração. Nós escolhemos você pra jogar no nosso time. Nós emprestamos a velha camisa da seleção de 70 pra você, dividimos a nossa cerveja e deixamos o controle da TV na sua mão. 

Isso porque o Homer é um cara que gosta de cerveja, e a gente gosta de cerveja. Hommer tem uma pança responsa, e a gente ainda não tá assim, mas é questão de tempo pra chegar lá. Homer é foda porque manda pensamentos como esses aqui:
"Filho, uma mulher é parecida com… [olha ao redor na cozinha] uma geladeira! Elas têm quase 1,90 m e uns 130 kg! Elas fazem gelo e… hum… [encontra uma lata de cerveja na geladeira]. Não, espere um minuto! Na verdade, mulher é mais como uma cerveja. Elas cheiram bem, são bonitas e você pisaria na sua própria mãe para conseguir uma! [Bebe a cerveja.] E você não consegue parar com uma só!
Você sempre quer beber outra mulher!"

Ou ainda:
"Ele já sabe como gosto do meu DRINK.... Com muito álcool!"
E Homer criou o porco-aranha, a fantástica criatura que compartilhou o meu imaginário esse final de semana. Tudo isso porque eu assumi o meu lado Homer e criei o... Porco-cabrito!!!




Sabe que eu percebi que nunca escrevi uma receita de costela de porco por aqui? Pois é, sabichão. Como é que você pensa que entende de churrasco, se nunca escreveu nada sobre uma das carnes mais fáceis de fazer? Pois é, maior furada, então corre ae, bora recuperar o tempo perdido. Mas, enquanto o sr. Homer caminha com o porco no teto, vamos convidar o leitãozinho até a área da churraca pra deitá-lo na caminha de carvão quente que preparamos pra ele. 

Na semana passada, eu tava numas de querer fazer um porquinho marinado, porque o cabrito tinha ficado massa, e eu sabia que dava pra fazer algo bacana com a costelinha. Corri no mercado e encontrei uma peça de costelinha de porco de 1,2kg bem carnuda, como há tempos não via. Comprei ela, a costela, e mais uma garrafa de vinho branco vagabundo. Tá, mas e agora, e o tempero?

Pois eu encontrei, num hortifruti lá perto de casa, uma pequena porção de felicidade desidratada. Estamos falando de um tempero chamado Chimichurri, que, na verdade é um molho, mas no nosso caso, estava desidratado. Explico:

Os argentinos não entendem nada de futebol, mas se tem uma coisa que eles entendem é de carne. E de churrasco. Lá na terra deles, a vaquinha come capim mais verde, faz cocô mais cheiroso e até o mugidinho dela é mais bonitinho. Portanto, quando um argentino falar de churrasco para você, escute. Mesmo que você tenha que fingir ignorá-lo. Pois eles inventaram o tal molho chimichurri, um molho à base de azeite, alho, vinagre, salsinha e mais um monte de coisas que ficam animais num churrasco. Mas o chimichurri dessa receita é outro: desidratado. 

Comprei uma pequena embalagem de "tempero chumichurri". Tinha cebola desidratada, alho, tomate, sal, salsa, bacon, pimenta calabresa e mais alguma coisa que não consegui reconhecer. Não se preocupe com o meu tempero, eu mesmo sei que não vou mais encontrar desse pra comprar. Sendo assim, siga minimamente os ingredientes do molho que funcionará bem.

Bom, joguei o pacotinho de chimichurri num pote e adicionei o vinho branco. Metade da garrafa foi suficiente. O porquinho bebe super bem o vinho, então você tem a vantagem de beber a outra metade da garrafa, e dane-se que o vinho é vagabundo. 

Misturei bem com uma colher, adicionei um golão de azeite e joguei sobre a costelinha, que a essa hora já estava deitadinha numa bandeja grande. Só pra caprichar, picotei meio maço de cheiro verde e joguei sobre a costelinha, sem misturar demais com o vinho. Antes disso tive o prazer de descobrir a diferença entre o cheiro verde e a salsinha: você coloca dois talinhos de cebolinha num maço de salsinha e voilá! Você tem um maço de cheiro verde.


Foi assim que o porquinho dormiu: vinho branco, tempero chimichurri e dois nana-nenéns.

Bom, daí pra frente foi bico. Cobri a bandeja com papel alumínio e botei o porquinho pra dormir lá no calor da minha geladeira.

No dia seguinte, segue-se o ritual de preparação de qualquer costelinha de porco. É só colocar a costelinha com o lado do osso pra baixo, deixar lá até parecer assado, virar, deixar assar, cortar e comer. Fácil!

E aí você me pergunta: porque porco-cabrito? Ah, eu te conto.

A costela de porco é uma carne rosada, que tende a ficar branca quando assada. O cabrito também. O cabrito bebe o vinho de um dia pro outro e fica com gostinho de vinho. O porco também. Cabrito e costela de porco são carnes bem macias, com a diferença que algumas pessoas torcem o nariz pro cabrito só porque não conhecem, e o porquinho todo mundo sabe quem é e come feliz. Além disso é mais barato e você prepara uma carne batuta com pouco cascalho. 

Na hora de servir, teve gente que pingou limão, mas eu preferi sentir o sabor do vinho. Fica bem legal e a galera come em segundos. Faça bastante.

Custo: R$15,00 por 1,2kg de costela. R$6,00 uma garrafa de vinho vagabundo.
Tempo de preparo: Meia garrafa de vinho vagabundo na cozinha, 2 latinhas na churraca.
Rendimento: Serve legal umas 5 pessoas, mas é legal ter outra carne pra compor o churras. 

Como preparar uma paleta de cordeiro na churrasqueira

Vou começar este post tirando uma dúvida de todo mundo: qual a diferença entre cabrito, carneiro e cordeiro? Para iluminar sua mente brilhante, faço minhas as palavras do mestre Google: 
“O cordeiro é o ovino de até quatro meses, filhote do carneiro e da ovelha, enquanto que o cabrito é o animal da mesma idade, resultado da cruza do bode e da cabra. Mesmo com essas diferenças, ambas as carnes são as mais saudáveis entre as vermelhas, pois possuem menos gordura, mais proteína, mais ferro e ainda são ricas em vitaminas do complexo B”.  Palavra de José Henrique Carlan, proprietário do restaurante Pata de Cordeiro, que fica em algum lugar do Paraná.
Ok, isto claro, vamos aos fatos. Desde que adquiri uma churraca responsa, sempre quis fazer uma paleta de cordeiro pra galera. A isto se deve o fato de que a Dona Ivette, a nonna, prepara uma no forno que me faz lamber os beiços. Nada mais natural do que tentar fazer a minha própria paleta, não?
O primeiro passo foi correr à internet. Bora lá procurar todo tipo de receita. Nenhuma me agradou, seja pela simplicidade absoluta (meta sal e bote a perna no fogo) ou pela imensa quantidade de procedimentos duvidosos (pegue a perna, passe mel, coloque uma lingua de gato, reze 3 ave-marias..). Fiz um catadão de idéias que me pareciam interessantes e inventei o meu próprio cordeiro.
Primeiro passo: o que fazer com a perna em si. 
Pelo que procurei, só encontrei paletas congeladas.  Comprei um belo exemplar. Aí nasceu também a primeira cagada: Pra descongelar a bichinha, enchi um balde de água, taquei a peça dentro, devidamente embalada à vácuo, e deixei no sol. Assim que cumpri as etapas acima, bora pra internet ver se aparece mais alguma receita legal. Mas não, acabei descobrindo que a paleta é uma peça sensível e deve ser descongelada vagarosamente, na geladeira. Fudeu. 
Segundo passo: preparando o molho pra marinar. 
Em quase todas as receitas que li, a paleta deveria marinar por algumas horas num molho xyz, que, em geral tinha vino branco ou cerveja, e azeite. Optei pelo vinho branco, porque cerveja bebo eu e carne nenhuma vai tomar a minha. As receitas falavam em 1 copo de vinho e um copo de água. Como eu não faço coisa pela metade, mandei logo uma garrafa inteira, sem essa de água. Vinho branco seco, hein fanfarrão! Não vai comprar suave pq vai fazer a tua carne doce como um pirulito.
Bom, joguei o vinho no liquidificador e taquei lá 150ml de um azeite bom. A patroa me disse que pra cozinhar pode ser qualquer azeite, mas eu mandei lá um italiano.
Pra dar um tempero no molho, vale a pena meter umas ervas. Recorri aos vasos da patroa e, com a ajuda e uma prima que sabe qual erva é qual, voltei com hortelã, manejricão fresco, salsinha, alecrim, além do orégano e da folha de louro, daquelas que vende num saquinho.
Dei uma colherada generosa no orégano. Joguei as folhas de 5 galhos de hortelã. As folhas de 2 galhos de manjericão e duas folhas de louro. As folhas de 4 galhos de salsinha e um pouquinho de alecrim (que na real nem fez diferença). Era pra dar uma pitada de pimenta do reino, mas eu me atrapalhei com a embalagem e deixei cair bastante, mais ou menos uma colher de chá. Adicionei sal fino, fechei a tampa e começou a lambança. É, um litro inteiro de vinho + esse monte de coisa pode ser demais para o seu liquidificador. Para o meu foi, e vazou bastante. Ainda bem que deu pra passar um pano antes da patroa ver. Recomendo bater tudo com apenas meio litro de vinho, depois vc adiciona o resto.
O molho fica com uma aparência bizarra, parece um lodo de pântano. Isso acontece porque o azeite tende a subir em relação ao vinho (é, eles não se misturam, vc lembra da aula de ciências?) e fica com aquele monte de tempero batido. Mas vai na fé que fica bom. 
Terceiro passo: marinando a pernoca.
Caso você não saiba o que é marinar, consiste em deixar determinada peça de carne praticamente boiando em determinado molho, crua, durante determinado tempo. Sacou? Vamos meter a paleta do cordeiro num recipiente, jogar o molho nojento que acabamos de fazer, e deixar lá no mínimo 12 horas. 
Usei uma bandeja quadradona daquelas de alumínio, coube a peça direitinho. Se você tem mulher ou mãe em casa, abre o forno que você vai encontrar uma peça dessas.
Ponha lá a pernoca. Jogue todo o molho em cima.  De hora em hora, depois de conferir o resultado da telesena, vire a peça. Como já disse, o vinho tende a ficar por baixo, e o azeite faz uma meleca em cima com as ervas. Com uma colher, espalhe um pouco dessa meleca sobre a peça. Assim vai por umas 10 ou 12 horas. 
Uma dica legal é fazer uns furinhos com a faca na carne. Ajuda o molho (e o vinho) a penetrar melhor e pegar o gosto. Mas não seja um orangotango, faça apenas meia dúzia de pequenos furinhos. 
Quarto passo: lugar de carne é na grelha!
Espetei a peça toda num daqueles espetos duplos. ela fica mais firme na churraca. Pra assar por igual, requintes de crueldade: tem um lado que dá pra ver nitidamente um ossinho, onde ficava plugado o pezinho do bicho. Esse lado tem menos carne, e é interessante usar a cabeça na hora de espetar, de maneira que esse ossinho fique voltado pro lado de fora da churraca. 
Quando pegar uma paleta de cordeiro na mão, você vai conseguir identificar um lado mais magro do que o outro. Coloque na churraca, no andar mais alto e com esse lado magrinho pra baixo. Se a sua churraca não faz o estilo Empire State, deve ser o terceiro andar. Fogo forte, não é hora de economizar carvão.
Lá pela terceira ou quarta breja, o lado de baixo começa a ficar escurinho. Aparência de assado é facinho de reconhecer. Quando achar que tá ok, vire a peça. Mesma coisa, mais 3 ou 4 brejas e se achar que tá legal, tire. 
É uma peça muito grande e chata pra cacete de cortar. Recomendo separar um cantinho no terceiro andar da churraca, e ir tirando tequinhos da carne aos poucos. Se quiser cortar tudo de uma vez, vai ficar frio. 
O resultado foi fenomenal. Mesmo eu tendo cometido várias cagadas no processo, embebedado um filhote de ovelha e ter tacado temperos de forma descoordenada e aleatória, a paleta de cordeiro fez a festa. É uma carne tão saborosa, que você pode errar à vontade que fica bom.

Rendimento: Se for a única peça do churrasco, deve alimentar uns 4 ou 5 marmanjos.
Tempo de preparo: 3 latas pra fazer o molho. No cozimento, pode contar com 4 latas de cada lado do bicho. Ou seja, além do cordeiro, você também absorve uma quantidade legal de álcool.
Este post é uma homenagem a todos os amigos de má índole que comeram o cordeiro dizendo que o frango tinha ficado ótimo. Amo todos vocês, seus malditos.