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Churrasqueira de tijolo roubado 2

Eu moro em São Paulo. Sou paulistano mesmo, de comer pastel na feira com caldo de cana e pegar 170km de engarrafamento pra chegar em casa achando isso normal. Falo "ô loco", chamo os amigos de "meu" erro compulsivamente o plural das palavras. Saio na minha sacada e vejo 8 mil janelas. Isso é ser paulistano. Mas uma coisa que você talvez não saiba é que eu tenho um pezinho na praia. Um pezinho não, tenho até a canela enterrada num pequeno pedaço de areia litorânea que responde pelo singelo nome de Bertioga.

Minha família é de Bertioga, meus amigos são quase todos de Bertioga, meus pais se conheceram em Bertioga, provavelmente me conceberam em algum ponto daquela areia toda (aliás, eu prefiro não tocar nesse assunto, credo!). Conheci a minha esposa lá em Bertioga, e não adianta que não conto o que aconteceu em algum ponto daquela areia toda (ela deu bronca, esquece esse ponto). O nome da rua da minha casa é o nome do meu avô... Aposto que o primeiro português que pisou em Bertioga saboreou algum chucrute lá na casa da minha bisavó, que, pasme, tinha um metro e meio, mas era alemã. Dona Mina, o nome dela.

Eu já falei dessa minha bertioguice aqui no blog uma vez. Na vez em que eu esclareci alguns procedimentos sorrateiramente adotados pela população local. Procedimento este ao qual também aderi, como apresentado no post sobre a churraca de tijolo roubado.

Pois, depois de alguns anos distante, preparei o corpo e a alma pra passar novamente um ano novo em Bertioga. Os acontecimentos foram, como de praxe, insólitos.

O chuveiro queimou, básico. Quando consertamos o chuveiro, a água acabou, básico de novo. Fui descalço pular 7 ondinhas e cortei o pé, básico. Um rojão não subiu e causou pânico na praia, básico. O anelzinho da minha lata quebrou sem que eu conseguisse abrí-la, básico. Um bêbado podraco tentava abrir minha lata com um pedaço de lixo enquanto eu bebia a pinga dele no bico, básico. Ele conseguiu e nos abraçamos como irmãos, básico de novo. Assim é Bertioga. Um lugar onde tudo acontece. Os acontecimentos acima citados são absolutamente verídicos, aconteceram num curto espaço de tempo e, acredite, em Bertioga, não são exceção: são regra. E o pior de tudo; isso é legal DEMAIS!

Bom, assim que entramos em 2011, lembramos que o professor sempre nos ensinou que o que importa são os 3 pontos e decidimos dedicar nossa existência a um único e improvável objetivo: obter sucesso com um churrasco onde ninguém tinha tomado banho, a ser realizado na famosa casa da Rua Manoel Gajo, que não por acaso, foi meu avô. E, já que o corpo tava sujo, decidimos também sujar a alma, a mente e a nossa pouco valiosa reputação.

A questão mais importante era que nós tínhamos cerveja, gelo, carne e carvão, mas.... não tínhamos uma churrasqueira. Seu Manoel Gajo, o engenheiro da casa que, do alto do mais lusitano bigode que o sobrenome possa denotar, fez de tudo na residência, mas não construiu uma churrasqueira.

Pois eu, contrariando o ditado que diz que uma geração constrói e a outra destrói, decidi construir uma churrasqueira na casa. A singela contribuição da minha geração para com as próximas, num imóvel que já abriga a quarta geração luso-germânica que compartilha daquele habitat.

O detalhe é que, tal e qual o costume local, nossa construção seria provisória, e feita sob os mais imorais pilares da construção civil: furto e gambiarra.

Vai ter copa e olimpíada no Brasil logo, logo. Abre o olho pra esse post, porque ainda vem muita gambiarra seguida de furto por aí. Mas isso é assunto pra outro post. Vamos aos fatos que nos permeiam neste momento: eu estava na casa da família, com tudo pra fazer um belo churrasco, menos uma churrasqueira.

Lembrei da obra realizada no barracão há pouco, e perguntei à minha tia sobre os tijolos que haviam sobrado dali. Foram roubados, foi a resposta.

Diante dos fatos, a malufice se apossou da minha alma, e decidi: vou roubar os tijolos. O mais beato dos leitores, seguidor de todos os dez mandamentos, pode abandonar o blog neste momento, porque os fatos que irão seguir ferem mortalmente a moral, os bons e até alguns maus costumes. Vem comigo, prepare o seu habeas corpus, porque a gente ainda vai roubar muito tijolo nesse mundo.

Começando do começo, todo bom ladrão precisa de uma quadrilha. Isso nos coloca alegremente no artigo 288 do código penal, antes que me pergunte. Não se preocupe, você terá direito a um telefonema e advogado, e tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal!

Olhei em volta e sussurei com certo sarcasmo: "precisamos de tijolo. quem tem coragem?". Antes que você possa discar 190 e fazer uma denúncia anônima, dois cabras da peste se alistaram: Brunão e Fernando da boina. Uma quadrilha que tem um descendente de português, um Brunão e um cara de boina tem periculosidade garantida. A menos que o português faça alguma lambança, mas nós sempre contávamos com a sorte da probabilidade a nosso favor.

Formado o bando, só faltava uma diligência. Pois prontamente surgiu um alazão, fazendo menos de 6km por litro no álcool, e quem faz menos de 6 na cana, merece respeito, parceiro. Aposto que tu dá PT consumindo desse jeito.

Diligência, bandidos, álcool, bandidos dentro da diligência, álcool sendo consumido a 6 por km, lá vamos nós procurando uma obra para, educada e matematicamente, subtrair temporariamente os objetos necessários para a construção da faraônica churraca da casa da rua Manoel Gajo. Tenho certeza que vovô ficaria orgulhoso de mim.

Avistada uma obra, a diligência dirigiu-se ao local mais adequado para tão vil prática. Em questão de segundos, uma pilha de tijolos havia misteriosamente se movido pra dentro da diligência.

Foi quando, de repente, não mais que de repente, um zelador aparece esbravejando contra a diligência que, do alto dos seus cento e poucos, muito poucos, cavalos, desligou o ar condicionado pra ganhar mais um tico de potência, engatou a primeira e quase morreu porque o porta-malas tava cheio de tijolo e pesado pra caramba e dali evadiu-se, de portas abertas e arrastando os meliantes, que, na tentativa de explanar ao zelador todas as boas intenções de seus atos, acabaram por evadir-se. A cena com o pessoal pendurado fechando as portas enquanto descíamos da calçada fez inveja a bruce willis, fez corar angelina jolie e deixou de tanga froxa o governator, alrnold swchrtzeamsncsjnkjndfksndf. o nome é difícil, você entendeu.

O fato é que chegamos em casa munidos de tijolos pra construir uma casa popular, e tudo o que nos faltava ali era brincar de lego. Além do Lego, bastava lançar mão de toda a gambiarra disponível e voilá! Habemos churraca!

As fotos falam por si só. Piso de ardósia, carrinho de feira e grade do forno da vó foram parte integrante dessa verdadeira lambança. Tudo milimetricamente calculado.

Em tempo: todos os tijolos foram, conforme a expectativa, roubados por outrém na segunda semana de 2011. Por isso que eu amo esse lugar. Não há pecado em Bertioga.

Na tela:

Sente só a intensidade de engenharia alternativa aplicada. Gambiarra, se preferir.

Ainda tinha esse probleminha com o tijolo que pendia pro lado, por conta da grelha.

 Como resolver? Gambiarra, claro!
Um pedaço de lajota com cimento coloca tudo no seu devido lugar. Tudo muito seguro!


Agora sim! Já dá pra deitar uma costela de 5,5kg com a grelha do fogão, com toda a segurança.

 Quéops, quefrem, miquerinos e a churraca de bertioga. Patrimônio da humanidade!

O carrinho de feira segurava a lajota de ardósia, que segurava o calor dentro da churraca.
Tudo meticulosamente calculado.

Carrinho, você nunca foi tão útil na sua vida! Esquece o alface, teu trabalho é escorar a costela, parceiro!

Meteu fogo, nada caiu. Mais um empreendimento de sucesso da Gato na Grelha Inc.

Em pleno funcionamento. Recomendo aos incautos que protejam também a frente.
Esse buraco queimou a minha coxa. Mas pra quem não tinha churraca, o que é uma passada de hipoglós?

malandro é o gato que já nasce de bigode. Na minha terra, malandrage tira foto contra a luz pra não deixar B.O. compana. 

Fogo na bomba: como acender a churraca

Quando você chega num churrasco e vê ali aquela fumaceira, ossos e outros lixos na mesa, gente alegremente bêbada caída pelos cantos e toda aquela atmosfera tipo "o capeta passou por aqui" que fica depois de um churrasco, você, o curioso leitor, se pergunta: Meldels, mas como é que isso foi começar?

Eu te respondo: o churrasco começa, oficialmente, quando mete-se fogo no carvão. É como o tiro pro alto nos 100 metros rasos, o "atenção emissoras da rede globo para o top de 5 segundos", ou a luz verde na fórmula 1 que, tirando o rubinho, bota os pilotos pra correr, o willian bonner pra falar e as nossas queridas e saborosas carninhas pra assar. Risca o fósforo, 1 2 3.. Valendo!

E essa hora de acender a churraca é especialmente peculiar. Cada churrasqueiro tem uma técnica milenar. Algumas interessantes, outras bizarras. Vou comentar aqui algumas, que já vi pessoalmente:
  1. O famoso túnel de jornal: Funciona assim: o camarada pega uma garrafa de cerveja, faz um rolinho com o jornal, enrola na garrafa. Depois tira a garrafa, e coloca aquele negócio na churraca. Joga uma golada de álcool, e despeja o carvão em volta, deixando o meio oco. A técnica é interessante porque utiliza bem a passagem do ar no túnel, mas tem seus pontos fracos. O primeiro é que dá trabalho enrolar a parada, apoiar os carvões e o escambau. O segundo é que usa papel. Acho uma grande bobagem acender o fogo com jornal. Pensa comigo: a fumaça é expelida pra cima, certo? Aí, o caderno de TV queima os resumos de novela, a ana maria braga e o louro josé de uma só vez, e vira uma espécie de fuligem, certo? E o que tem logo acima do fogo, geralmente é a sua carne, certo? E aí essa fuligem gruda na sua carne e você pode aproveitar pra ler as notícias encrustradas na sua picanha. Show!
  2. Uma certa vez, um animal que não me recordo quem era, usou uma técnica qualquer, e na hora de acender, jogou no carvão a bituca do cigarro que ele tava fumando. Não interessa a técnica, se você for porco assim, quem merece ser queimado é você, e não o churrasco. Não se esqueça de que a sua churrasqueira é um local pra fazer COMIDA, e não uma lata de lixo.
  3. A terceira técnica é bastante interessante, o rodapé de latinha. Funciona assim: você pega uma faca e destrói a latinha, de maneira que você consiga retirar apenas o fundinho dela. Aí você joga um pouco de óleo de cozinha no fundinho, acende e monta um predinho de carvão em cima. Olha, essa é uma técnica muito legal, porque o fogo do óleo é muito mais duradouro, vai pegar no carvão de qualquer jeito, mesmo que ele não esteja muito seco. O único probleminha é a perícia metalúrgica necessária à execução. Primeiro você tem que destroir a latinha com uma faca. O que pode, além da latinha, destruir o fio da sua faca. Se você fizer isso com a minha faca, perdeu a amizade, isso é um fato. O segundo problema é que, além de destruir a latinha e, eventualmente, o fio da sua faca, você ainda corre um sério risco de destruir a sua mão. Principalmente se foi você o folião que entornou aquela latinha. Mais ainda se você enxugou aquela latinha e mais algumas iguais a ela. Ou seja: com aquele alumínio fininho e a sua delicadeza de parafuso de trator, corre o risco de se cortar feio antes do churrasco começar, e passar o churras todo na base do band-aid. Mico na certa. Essa técnica é só pros bons. Se tu é tosco, esquece essa.
  4. O incinerador maluco: Essa é pra você descontar aquela raiva extra. Funciona assim: Joga todo o carvão que conseguir carregar dentro da churraca. Depois, empunhe o vidro de álcool (por favor, nada de álcool gel ou outras franguelices. Estou falando de álcool 96 graus, coisa de gente grande). Ok, encharque o carvão. Assim mesmo, sem critério, sem carinho e sem perdão. Agora é só encarnar o Nero e acender o fósforo. Recomendo tomar uma certa distância, pois essa costuma mandar Roma pelos ares. É a técnica preferida dos mais sem-noção, mas admitamos que funciona. Se o objetivo é pegar fogo, essa pega.
  5. A minha preferida: Pão velho. Eu sempre guardo pão velho aqui em casa. Tem uma gavetinha na fruteira onde eu vou guardando os restos de pão. Sempre que preciso acender a churraca, pego um tequinho, jogo um pouco de álcool, coloco no fundo da churraca, cubro com carvão e mando um fósforo, tomando o cuidado necessário pra acender o pão. Cabou-se. O pão demora um tempinho pra terminar de queimar, isso é o suficiente pra pegar no carvão. Além disso, o cheiro do pão queimando é bem mais legal do que jornal ou óleo, né?

Técnica muito utilizada pelos exércitos pretos em Omsk, no Aral e no sul da Dudinka.
Compreende segurar cartaz do bigodudo, jogar álcool sobre o próprio corpo,
acender o fósforo e pular na churrasqueira.

Eu acho que todas as técnicas são válidas, desde que respeitem um certo índice de limpeza. Não utilize jornal, querosene, gasolina, essas coisas. Não esqueça que a sua carne vai ficar muito perto desses ingredientes, e qualquer cheiro ou gosto adicional na carne é bobeira.

No final das contas, o que interessa mesmo é conseguir acender. Uma vez acendida a churraca, tá dado o start no seu churras e daí pra frente é só alegria.

E você? Qual a sua técnica milenar pra botar fogo na parada?

Carvão é um saco

O carvão é o apetrecho mais injustiçado da história do churrasco. Isso porque, a menos que você utilize uma churrasqueira elétrica, a gás, ou queime as cadeiras da sala da sua mãe, você, invariavelmente, precisa de carvão pra fazer um churrasco. O problema é que ninguém se importa com o carvão, a menos que ele falte.

Carvão é coisa séria, parceiro. Você sabia que, nos idos de mil-novecentos-e-vovó-mocinha, usava-se o carvão como combustível para trem? Isso mesmo, o carvão que vai na nossa churrasqueira é capaz de mover um trem. Praticamente uma churrasqueira ambulante. E se ele é capaz de mover um trem, imagina o que ele é capaz de fazer com uma picanha?

Tem indústria que usa carvão pra aquecer seus fornos, tem gente que usa o carvão pra desenhar, e a gente, que não é maquinista, nem metalúrgico e nem artista, mete fogo na parada e bota o carvão mesmo é pra torrar na churrasqueira. Vamos ao mercado, voltamos com o famoso saco de papelão, inserimos as pedrinhas da alegria na churrasqueira, um teco de álcool e pronto: tá feito o inferno na sua churraca e agora é só deitar a sua carne. Sua não, a da vaca, no caso.

Pois é, mas ultimamente, esse carvãozinho no saco de papelão só tem me dado tristeza. Vocês também tem notado como caiu a qualidade do carvão? Pelo menos aqui em são paulo, comprar um carvão bom virou uma atividade dos infernos.

Você vai no mercado e compra as carnes, sal, cerveja e carvão. Sai de lá portando um churrasco inteiro com você. Aí você chega em casa, abre o saco de carvão e percebe que ali tem uma ou outra pedra grande, e o resto é, literalmente, só o pó, uma espécie de farofa de churrasco. E você até consegue acender a churraca com esse pó, mas depois de aceso, basta jogar a maldita farofa de carvão sobre o fogo pra apagá-lo. Mas porque diabos os fabricantes não colocam apenas as pedras grandes no saco? Ora, seus fabricantes, olhem direito para os vossos sacos!!

Pois pode preparar a vinheta das Organizações Tabajara, porque os seus problemas acabaram!! Vou te dar a dica que me deram (sic) e resolver os seus problemas carvorais. Desde que você more em são paulo, claro. Desde que tenha disposição pra se mover até a avenida Tancredo Neves, claro. E desde que tenha 30 cruzeiros nesse bolso furado. Portanto, se você não conseguiu cumprir os 3 requisitos mínimos para continuar lendo este post, lamento, parceiro, mas você vai continuar chorando sangue, suor e cerveja a cada vez que abrir um saco de carvão.

O nome da solução mágica responde ao nome de Carvão Gaúcho. Antes que me pergunte, eu não conheço o Seu Gaúcho, nem sequer sou gaúcho e não tou recebendo nada pra escrever isso aqui, embora agradeceria se o Seu Gaúcho mandasse umas sacas de carvão lá pra casa.

Isso mesmo que você leu: sacas. O Carvão Gaúcho, além de vender nos mercados, açougues e botecos vagabundos Brasil afora, também tem uma loja, cuidadosamente escondida num bairro ruim de São Paulo. E, nessa loja, eles vendem SACAS de carvão. A um preço honestíssimo, que faz valer a pena o perigo de adentrar a região.

E é nesse pequeno parque de diversões do churrasqueiro que você pode ter o prazer de comprar uma saca de 15kg do mais puro carvão, pagando apenas 30 mangos. Ou seja, enquanto o seu Abílio tem coragem de cobrar R$7,00 num saquinho de 2,5kg de um carvão de péssima qualidade, o Seu Gaúcho te olha feio, mas cobra 2 reais o kg. E o mais legal é que o Seu Gaúcho é um cara de visão. Ele separa as pedronas de carvão da farofa, porque ele sabe que a pedreirada nesse mundão de Deus precisa usar alguma coisa pra encher laje, e essa farofa pode muito bem ser usada pra isso. Então, uniu o útil ao agradável e vende um carvão excelente a um preço honestíssimo.

Tá dada a dica. Nem vou dar o endereço, porque o site do Seu Gaúcho é um espetáculo à parte e vale a visita. O site até é bem feitinho, mas tem pequenos detalhes que só um vendedor de carvão é capaz de proporcionar. O endereço da loja está na página "Contato", onde você vai encontrar uma simpática chaminha pegando fogo ao lado do título, e a foto de recepcionista mais mal cortada da história do Photoshop. Deleite-se: www.carvao.com.br.

UPDATE: O nosso amigo André Ogrodoy, que rabisca o conteúdo de sua mente no blog Ogros na Cozinha, mandou uma bela dica para aqueles que gostam de flertar com a gambiarra. Diz ele que aprendeu na argentina. Corre lá pra ver que a dica é boa!

Especial Churrasqueiras: a churrasqueira pré-moldada

Voltamos com as nossas pesquisas de cunho altamente científico, onde nossos heróis, ávidos por conhecimento, reviram mundos e fundos atrás dos mais diversos tipos de churrasqueiras para você deitar o seu gato. Nos últimos posts da série, falamos sobre a honestíssima churraquinha elétrica, escapamos de um incêndio de proporções catastróficas com uma invenção genial que responde pelo nome de churrasqueira de papel (vê se tinha chance de dar certo, né?), ensinamos a roubar a quantidade e tipo certo de tijolo pra improvisar uma churraca, e agora vamos falar sobre uma das mais geniais invenções que a preguiça humana conseguiu inventar depois do controle remoto, da direção hidráulica e da cerveja em lata. Estamos falando de mais uma campeã de audiência: a churrasqueira pré-moldada.


Oi, eu sou a churrasqueira pré-moldada e preciso de um lar.

A churrasqueira pré-moldada é o Lego do churrasqueiro, um verdadeiro brinquedo de adulto. Isso porque ela vem desmontada, e tudo o que você tem a fazer é montar e usar. Fácil assim. Tá, não é tãããão fácil assim, porque ela pesa pra caramba. Mas a gente tá contando que você é um cara fortão e vai conseguir montar uma dessas sem fazer biquinho. 

Funciona assim: você vai na loja, escolhe os milhares de modelos disponíveis, compra. Os caras levam na tua casa, você monta e tem uma churrasqueira responsa sem cimento, sem tijolos e por um preço honestíssimo. A minha churraca é dessas, então vai por mim que eu sei do que tou falando.

Antes que você instale uma no meio da sala da sua mãe, vamos às vantagens e desvantagens deste modelito:

Vantagens:
  1. É barata. A minha tem um tamanho razoável e custou, há um ano atrás, cerca de 300 reais. Se você comparar com os quase 100 mangos que uma churraca de metal, daquelas bem sem-vergonha que vende no mercado, é uma pechincha.
  2. É grande. Você pode preparar cupim, costela de boi e outras delícias que são impensáveis em churracas menores. Na verdade você só não pode preparar um boi no rolete, de resto vai tudo.
  3. Existem, no mercado, zilhões de modelos dessas churracas. Tem algumas que já vem com o forno de pizza acoplado, enfim. Dá um pulo no leroy merlin mais próximo e divirta-se.
  4. Você ainda pode pintá-la, pode passar uma massa bacana, pode cobrir de tijolinho, de azulejo, colar um pôster da Luma de Oliveira... Dá pra fazer o capeta com uma dessas. E ela fica bem bacana, desde que você respeite as regras do bom-senso visual. 
  5. Ela pode ficar no quintal, na chuva, com o cachorro roendo o pé que demora muito pra estragar. A churraca é feita de concreto, e a menos que você tenha um dinossauro no seu quintal, ela segura bem a bronca.
Como nem tudo é doce nessa vida, ela tem algumas poucas desvantagens, mas tem:
  1. É feia como o cão. Se você não pintá-la, ao menos, o concreto vai escurecer, sujar, manchar. Ou seja, sua churraca vai ficar com cara de muro velho. Digo por experiência própria, a minha tá assim :-P
  2. Pesa muito. Se você faz o tipo He-man, além de ter cabelo chanel, tanga e uma aparência boiolona, você tem o dom de mudar coisas de concreto do lugar. Agora, se você não é o He-man, nunca visitou Greyscow e não tem uma treta com um magrelo chamado Esqueleto, decida muito bem onde vai montar a sua churraca. Não é nada fácil movê-la de lugar. 

Pelos poderes de Greyscow, pelas barbas do profeta e pela hora da morte.

Olha, essa churraca pré-moldada é tão porreta que eu só consegui me lembrar dessas duas desvantagens. Que nem são tããão desvantajosas assim. E, como eu tenho uma dessas em casa, separei aqui algumas dicas pra quem tá afim de aboletar um brinquedo desses no quintal:
  • Alguns modelos têm uma gavetinha embaixo, pra tirar a cinza. Na real, essa gavetinha nem é tão útil assim pra tirar cinza, mas pra tirar água é perfeito. No meu quintal, posicionei a churraca estrategicamente em frente à TV da sala. Assim, posso assistir o verdão na TV assando uma carninha. A desvantagem é que, quando chove, inunda a churraca. Se ela tivesse a gavetinha, a água escorria por ali e rapidinho ela secava. Como a minha é fechada, ficava com aquela poça lá, e pra acender depois era um parto de ouriço. Resolvi fazendo 3 pequenos furos embaixo dela.
  • Recomendo comprar um pacotinho de tijolo refratário. São uns tijolos quadradinhos, que suportam bem o calor. Minha churraca era muito funda, e pra fazer o calor chegar legal até a carne, era um saco de carvão por churrasco. Comprei os tijolos e montei um Lego dentro dela, de maneira que ficasse mais rasa. Economiza um carvão danado, e você ainda pode tirá-los fora pra limpar.
  • E recomendo pintar, ou revestir com alguma coisa. A minha tá feia que dá dó.
Veredito final: Aprovadíssima. Gato, capivara, sapo ou jacaré, qualquer coisa pode ser assada numa churraca dessas. E ainda custa relativamente barato, então não tem o que falar. Ponto pra ela!!

Peixe na churrasqueira: Corvina


- Qual o seu último pedido, dona Corvina?
- Um espetinho de camarão, por favor.

Dando uma busca gooogle afora sobre a linda e faceira personagem desse post, a corvina, descobri um lance que me cortou o coração: pra pescar a corvina, recomenda-se utilizar como anzol camarão vivo ou morto. Que que é isso, meu querido... Eu não sou adepto de jogar nem cerveja na carne, porque minha cerveja bebo eu e carne nenhuma vai tomar por mim, imagina só se eu vou dar um camarão pro peixe... Sem chance! Mesmo que eu pesque o sabichão pra mandar pra grelha, ainda assim perco o camarão. Isso porque não dá pra pegar o peixe e deitar na grelha logo de cara. Tem que limpar a nojenta barrigada, e aí, amigo.. Bau bau camarão. Deixa o Forrest Gump saber disso.

Resumindo: o que os olhos não vêem o coração não sente. Vá à peixaria mais próxima e compre a corvina pré-pescada, pré-mortinha da silva e limpa. Assim você economiza um camarão e se livra da nojeira.

De corvina em punho, vamos preparar o tempero dela. É um molho bem simples e sem segredo nenhum: sal grosso, limão e salsinha.


Simples assim: cobre o fundo do pote com sal grosso, põe bastante salsinha e espreme dois limões.

Tem gente que não gosta de colocar limão, porque, uma vez na churraca, escurece a carne do peixe. Não ligo muito pra isso, porque fica muito gostoso de qualquer jeito.

Com uma folha grande de papel alumínio embaixo do comedor de camarões, coloque o molho na barrigada, e passe por fora dele. Admito que não precisamos de todo esse molho que eu coloquei na pança do peixe. Poder ser mais comedido.

Tá aí a bichinha embrulhada, pronta pra deitar na grelha.

Uma vez temperado, embrulhe o peixe em papel alumínio e coloque na lancheira das crianças. Há! Imagina o susto da criançada abrindo a lancheira no recreio e encontrar um peixe lá dentro? Depois ninguém vai querer brincar de passa-anel. Uma fanfarrice!

Tá, voltando ao preparo do nosso shrimp-killer. Embrulhe com papel alumínio e manda pra churraca, que já deve estar acesa e quente. Põe num andar intermediário. Nem lá no alto (demora) e nem perto da brasa (torra por fora). Deixe por lá umas 8 latinhas. Vire com muuuuuuuito cuidado e tome mais umas 2 brejas.

Quando a sua intuição disser: "Vai filho. Faz o teu melhor", faça o teu melhor: abra o papel alumínio. Experimente dar uma garfada de leve pra ver como ficou o tempero. Se tiver pedaços de sal grosso, pode passar uma faca de leve pra tirar.

Momento Freddy Krueger: De um só golpe, arranque a cabeça do peixe, embrulhe numa caixa de veludo e mande para a sua sogra. Se quiser mandar para a minha, me procura que eu passo o endereço. Uma vez decapitado, abra o peixe pela barrigada, se possível retire toda a espinha (normalmente ela solta fácil), sapeque bastante limão na carne e tá pronto.

A melhor maneira de servir é promover a famosa pia de porco; dê um garfo pra cada participante e cada um vai tirando um pedacinho. 

Essa receita faz o gato miar!

Dica1: Quando fizer peixe, nem pense em fazer carne também. Mesmo embrulhado, o peixe pode perder líquidos, que caem na brasa e fica cheirando. Definitivamente, cheiro de carne e peixe misturado é lambança.

Dica 2: Dá pra fazer de boa na churraquinha elétrica, eu mesmo já fiz. Na pequena de carvão, dá pra fazer, se a brasa não estiver com chamas. Só não recomendo fazer em apartamento por causa do cheiro de peixe. Se você tem estômago forte, vai em frente.

Obs: Tenho um filho de 3 anos, o Rodrigo. Inocentemente, peguei o garoto no colo pra mostrar o peixe na pia. Ele se cagou todo, saiu chorando e correndo. Portanto, evite pesadelos e não sacaneie seus filhos: não deixe ao alcance das crianças. Mas que foi daí que nasceu a idéia da lancheira, foi.

IPDA: Essa corvina custou R$11,00. Uma bagatela.
Tempo de preparo: Uma lata na cozinha, 11 na churraca. Sirva bêbado.
Rendimento: Essa aí encheu 4 panças.

Abobrinha na churrasqueira

Se o teu carnaval foi como o meu, aposto um rim (o que sobrou, porque o outro derreteu) como essa quinta feira está sendo o dia mais comprido da história da humanidade, certo? A sensação é que durante os quatro dias de carnaval, quem foi assado foi o meu fígado, o meu baço, o meu estômago e o meu cérebro, e não as carnes deliciosas que fizemos na churraca. Mesmo tendo sido dilacerado pela cerveja e afins, posso garantir que foi um feriado daqueles que valem a pena.

E, pra um estômago desfigurado, nada melhor do que uma comida leve, não? E como aqui a gente fala de churrasco e saladinha é coisa de coiffeur e a gente desconfia desse pessoal, vou mandar aqui uma receita saudável, que fica uma delícia e as gatas piram: Abobrinha na churraca.

Faz assim, pega uma abobrinha grande, lava e corta ela em rodelas. Essas rodelas precisam ser meio largas, mais ou menos dois dedos de espessura, e eu estou contando que você não tem dedinhos de moça, nem um cacho de bananas. Estou falando de dedos normais. É importante que ela não seja fininha por dois motivos: o primeiro, porque a cereja do bolo tá dentro da abobrinha; segundo, porque ela diminui drasticamente de tamanho, e não queremos que ela caia pela grelha e torre no carvão, certo? Já que você vai preparar comida de mulherzinha, faz direito.

Bom, uma vez cortada a abobrinha, coloque numa bacia grande, pra você poder mexer sem fazer sujeira. Põe aí um pouco de azeite, de preferência um azeite bom, porque faz diferença. Não se esqueça de que a abobrinha não tem gosto de nada, e são os temperos que você coloca que fazem ela funcionar.

Agora, o segredo tá no alho frito. Coloque um pouco de alho frito, aqueles que vêm torradinhos, sabe? Não confunde com o alho assado, é o frito mesmo, aquele do frango à passarinho. Pra uma abobrinha grande, uma colher de sobremesa cheia já é o suficiente. Põe também um pouco de orégano, uma chacoalhada de pacote só. Costuma funcionar bem com alecrim e manjericão fresco também. Ou seja, assalta o armário dos temperos e sapeca na abobrinha, com moderação. O principal está no azeite, alho frito e orégano. O resto, você adiciona de acordo com o seu gosto. Só não vai me encher a abobrinha de frescurada, senão fica com gosto de armário dos temperos.

Mistura tudo, coloca um pouco de sal fino (o sal grosso não fica legal) e manda pra brasa. Pode colocar no meio da brasa, no mais quente da churraca. A abobrinha demora pacas pra ficar pronta, porque primeiro ela perde bastante água, pra depois começar a amolecer.

Como ela fica mais perto do fogo, a chance de ter alguma carne assando nos andares superiores da churraca é imensa, né? Então vou te mostrar o pulo do gato: posicione a abobrinha embaixo de alguma carne suculenta, daquelas que ficam perdendo líquido o tempo todo. Com isso, você faz a abobrinha com todos os temperos, além de um caldo natural de carne que dá o tchan na brincadeira.

Quando estiver ficando escura de um lado, vire pro outro utilizando um pegador. Garfo não ajuda muito, porque a abobrinha fica lisa como um bagre ensaboado, e porque ela diminui e passa no meio dos vãos da grelha. Bom, vira pro outro lado e monitora. Quando estiver escurecendo, tira, corta em pedaços pequenos e come. O melhor ponto pra ela é deixar ela tostar levemente por fora, e deixar molhada por dentro. 


essa abobrinha da esquerda tá querendo ficar pronta.
Se deixar tostar um pouco mais desse lado e virar, fica ótima.
Essa foto veio da receita de rocambole de fraldinha.

Fica muito, muito bom, por mais que doa a um amante da carne dizer isso de um maldito vegetal.
  • Dica 1: a melhor grelha pra fazer isso é aquela que tem um monte de buracos em forma de bolinha, mas em compensação é a mais chata de limpar. Mas é certeza de que a abobrinha não cai lá pra baixo.
  • Dica 2: Se você tem apenas daquelas grelhas de arames paralelos, pode colocar uma em cima da outra, em sentido invertido, fazendo uma grelha em X. 
  • Dica 3: Se a abobrinha cair lá no fogo, engole o choro e finge que não viu, torcendo pra ela queimar antes que alguém note a sua falta. Todas as tentativas de salvamento só vão aumentar a sua vergonha. Abobrinha no carvão é abobrinha morta.
  • Dica 4: Funciona bem em churraca responsa, em churraquinha pequena, em churraca elétrica, qualquer coisa.
  • Dica 5: decore essa receita (no sentido de gravar, não vai meter galhinho de planta em cima do prato), principalmente se você costuma fazer churrasco para mulheres. Elas adoram, dão gritinhos, pulinhos e batem palminhas quando você faz isso. Coisa de mulher, você sabe como é.
IPDA: Baratíssimo, uma abobrinha custa uns R$2,00, se você pagar caro.
Tempo de cozimento: umas 4 latinhas.
Rendimento: nunca faça só um churrasco de abobrinha. Além de dar um trabalho dos infernos, pega mal fazer churrasco sem carne. Então, como acompanhamento, uma abobrinha grande serve umas 2 pessoas.

Lembrando que este post é uma homenagem à mulherada que frequenta os churrascos lá de casa, e homenagear garotas sempre rende bom ibope. A idéia de preparar a abobrinha assim é totalmente delas, eu apenas deito na grelha e espero ficar pronto. Agradecimentos mais do que especiais à patroa Dani, Déa, Vandrope, Dani do Pão e Carlinha.

UPDATE: As garotas acima leram este post e me puxaram a orelha. Portanto, neste momento o escriba deste manuscrito encontra-se funcionando em mono. Se você é um leitor solidário, feche seu olho direito e leia-me assim como escrevo-o: em função mono.
O problema estava no alecrim, que, com 78% dos votos, foi eliminado nesse paredão. Aí, como a gente manda nessa casa mais do que o Boninho, botamos o Tomilho na receita. Conhece o tomilho? 
Se você pensou que é uma mistura de tomate com milho, errou. O tomate está para o milho como a Alessandra Negrini está para o Tiririca. Tá certo que ela é sem noção e casou com o Oto, mas é uma mistura que não funciona. O Tomilho é um farbusto aromático da família das labiadas. Grandes merdas, goooogle nos disse e agora sabemos. 

O que importa é que é um temperinho maneiro que vc pode achar em supermercados, ou plantar na sua casa e usar fresco, que é fresco mas é legal. Ou seja: tire o alecrim e bota o tomilho que ele é mais legal. 

Costela ponta de agulha é o bicho

Imagina o tamanho de uma ripa da costela inteira do boi. É mais ou menos do tamanho de um berimbau, e vai das costas até o peito. Então já dá pra imaginar que uma peça extensa dessa tem todo tipo de carne, certo? Sim, e onde queremos chegar com isso? A resposta é fácil, queremos chegar a mais uma peça de carne que tem nome esdúxulo que não condiz com a aparência física dela, nem com o tamanho, nada. Mais uma fanfarrice do primeiro açougueiro que fatiou o primeiro boi: A Ponta de Agulha

A Costela Ponta de Agulha é uma parte muito saborosa e macia da ripa de costela bovina. Fica localizada meio que embaixo do boi, na região da barriga. Veja o que o grande jedi Gooooogle tem a dizer:
É a grande peça constituída das massas musculares que recobrem as oito últimas costelas, a última esternebra, o apêndice xifóide e a região do vazio, obtida do traseiro-comum, na preparação do traseiro-serrote ou especial. 

O corte é obtido do traseiro-comum, por meio de incisão que se inicia na extremidade posterior do matambre, junto ao gânglio linfático pré-crural, atinge a ponta da anca (tuberosidade ilíaca), seguindo em linha reta até a sexta costela, a uma distância máxima de 4 cm da borda lateral da porção muscular do contra-filé.
Se você nunca viu a última esternebra, não acha que tem apêndice xifóide e concorda que a região do vazio é aquela que dói antes do churrasco, concorda comigo que isso aí não tem a menor importância. A menos que você tenha a pretensão de incorporar o Magaiver, sacar o canivete e destrinchar o boi você mesmo. Recomendo uma passada no supermercado, dá muito menos trabalho.  Mas taí, a título de informação.

Existem várias maneiras de preparar a Ponta de Agulha. Fazendo uma busca rápida na internet você encontra todo tipo de receita, mas a maioria vai concordar comigo: carne boa, você tempera com sal e pronto. Viadagem na comida é coisa da ana maria braga, e se você pensou em colocar uma pitada de páprica, decorar com tomate seco ou sapecar um pouquinho de alcaparra, recomendamos que saia do armário, acesse o site do louro josé e seja feliz. 

Pois então é simples assim? Sal e bota-no-fogo? Olha, caro churrasqueiro... Sim e não. 

Realmente, taca sal grosso na parte de baixo, põe um pouquinho mais na parte de cima, e mete no fogo. O segredo mora a partir daí.

Quando você manuseia a ponta de agulha, percebe que é uma carne mega macia, mesmo crua. Mas não ache que só por isso você deita ela, conta até 10 e fatia. Tem que esperar, e muito. Essa carne tem o mesmo estilo do cupim, se tirar antes da hora fica uma borracha e aí, parceiro.. o churrasqueiro toma vaia e a gente não tá aqui pra ver homem chorando.

O legal da costela é que vem com o osso no lado de baixo. É como se a carne fosse o seu colchão, e as ripas de costela, o estrado embaixo dela. Se você tem algum tipo de sonambulismo, recomendo que não leia este post antes de adormecer, sob o risco de acordar com um teco de espuma ou uma mola ensacada entre os dentes.

Qualquer um que já prestou atenção na sopa da mãe sabe: dentro do osso tem o totano, que é um lixo se você comer sozinho, mas fica muito bom se você tiver a paciência de tirá-lo pra temperar a carne. E na ponta de agulha, esse processo acontece naturalmente. Ou seja, você não está temperando a carne apenas com sal; tá temperando com sal e osso. 

E pra fazer isso, basta paciência. Tempere a carne com sal grosso, e coloque no alto da churraca com os ossos pra baixo. E quando eu digo alto da churraca, tenha em mente que você precisa de uma churraca responsa, de vários andares pra fazer uma carne assim. E, uma vez proprietário de tal instrumento da alegria, posicione a carne em questão no seu andar mais alto, cuidando para que o fogo esteja sempre forte, mas sem chamas e sem lambança. Ah, você entendeu: fogo forte e carne no alto.

Hoje eu vou quebrar um protocolo deste blog. Como é uma carne muito, mas muito demorada, não vou contar o tempo de preparo por latinhas de cerveja, porque se você bebe que nem mulherzinha, vai tirar a carne muito louco, e se você é um animal, vai tirar crua demais. Dessa vez, e apenas dessa vez, contarei em horas (sim, horas. demora muuuuito).

Deixe a peça de ponta de agulha virada com o osso pra baixo no andar mais alto da churraca por 3 fuckin horas. Sim, dá pra assistir o jogo do seu time, ler este blog inteiro umas 4 vezes e conferir o resultado da tele-sena 3 vezes. E não acha que tá pronto, não. Depois dessas 3 horas, vire a carne com o osso pra cima. Você vai notar que os ossinhos estão mais soltos, meio quequerendo sair pra fora da carne. Isso porque eles secaram e estão mais lisos, e a carne perdeu água e diminuiu de tamanho, apertando os ossos pra fora. Mas deixa o osso lá, não precisa tirá-lo. 

Voltando ao assunto: vire a carne do outro lado. Pelamordedeus, compadre: agora que você cumpriu metade do processo, não desça a carne. Essa é a hora que você faz merda por ansiedade, porque se queimar a parte de fora com fogo próximo, o meio continua cru, e duro. Deixa ela no mesmo andar, lá no alto. Por, mais ou menos, 1 e 1/2 ou 2 horas, dependendo da potência da sua churraca. Fica ligeiro, vai tirando umas lascas e experimentando. 

Quando achar que tá legal, experimentou e lavou a alma, vai tirando por pedacinhos, separados pelos ossos. Recomendo cortar pequeno e sapecar limão. Faz a festa.

O problema dessa carne é a estratégia. Não encha o seu eleitorado de carne antes, dose bem o que vai servir pra não deixar ninguém com fome, nem ninguém empapuçado. Assim, quando a ponta de agulha sair você vai ouvir muitos elogios. Cuide também de servir na hora que o carinha das batidas esteja fazendo um drink de aguarraz com suco de kiwi, porque isso fica bom e esse canalha não merece.

IPDA: Uns 15 reais uma peça boa, de 1,5Kg, e sal nem entra na conta. Tenha limão, não sei o preço.
Tempo de preparo: Sirva bêbado. Demora, você leu: entre 4 e 5 horas e a breja come solta nesse meio tempo.
Rendimento: a peça de 1,5kg serve bem 4 pessoas. Claro que essa não é a única carne do churrasco, senão você apanha.