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Casquinha de siri

Isso que eu vou contar aqui vai me denunciar a idade. mas eu preciso dizer que dia desses, lembrei sem querer de uma das bandas que mais tocavam nas rádios antes das rugas habitarem a cútis facial deste que vos fala.

No distante tempo no calendário gregoriano, no qual este ainda ostentava espinha, kichute, transcaloi e lição de casa, as rádios vigentes eram sempre povoadas pelas letras sórdidas de um gaúcho dos pampas chamado humberto gessinger. 

Gessinger era o cara que dizia que o papa era pop, que infinita mesmo era a highway e que a juventude era apenas uma banda numa propaganda de refrigerantessssss. Havia um garoto que, como ele, gostava dos beatles e dos rolling stones. E ainda tinha uma garota chamada Ana, cujos lábios eram labirintos, Ana, que lhe atraíam os instintos mais sacanas.

Tal e qual o poeta-safado com pinta de capoeirista djavan, humberto gessinger desenvolveu a teoria da composição artística baseada no aleatório, uma verdadeira genialidade do descompromisso. Artistas como gessinger e djavan conseguem reunir numa única frase coisas como um açaí, zum de besouro e um íma. E fazer as pessoas gostarem de ouvir essa coisa. Ou então, desfilar que existem sim paralelas que se cruzam, mas lá em Belém do Pará, confundindo gente culta e aumentando involuntariamente o contingente turístico da região.

A isso se dá o nome de fanfarrice. Safadeza, gatunice, malacagem. Ato ou efeito de camuflar outrém sob a flâmula da malandragem.

Se você estava tentando entender o que isso tudo teria a ver com uma simples e honesta casquinha de siri, encontramos, aqui, um paralelo. E olha que nem precisamos viajar ate Belém. Primeiramente, porque se tem um cara que entende de paralelo, esse cara é o siri. Ou o nobre leitor acha que um cidadão que anda de lado não entende de paralelo? E outra que o siri é mesmo um cara safo. 

Cidadão olha pro siri, e de repente.. cadê? Dois passos pro lado e já era o crustáceo. Ou então, cava um buraco na areia e pronto, tchau siri. E vacila com esse dedão pra você ver se não toma um beliscão. 

Definitivamente, o siri é casca grossa. Literalmente. E essa receita aqui é tão malaca quando o siri, porque começa te levando a crer que vais comer a casca do siri quando, na verdade, vais comer só a carne. O que julgo ser uma vantagem, não fosse o infortúneo de comer isso tudo montado numa conchinha. 

É, caro leitor. O siri é um cara cheio de traquitanas, que te faz pensar que vai comer a casca, mas vai comer a carne. E mesmo não sendo na casca, é na concha. Foi logrado e nem notou, amigo.

A casquinha de siri em si todo mundo já comeu. E se alguma vez você já se perguntou que diabos vai lá naquele treco, pode dispensar o indiana jones aí do seu lado, porque eu ajudo a esclarecer o enigma. Na casquinha de siri vai um mooooonte de coisas. A primeira delas é carne de siri. Vem comigo.

Vamos partir do princípio que você tem as conchinhas em mãos, ou pelo menos tem algum invólucro pra montar as casquinhas. Se não tem nada, compre uma caixa de cerveja, tome todas as cervejas, corte cada latinha na metade e utilize a meia-lata como concha. Não vai te ajudar a abalar os corações das garotas, mas que funciona, funciona.

Pasmem, mas o ingrediente que predomina na casquinha de siri é mesmo... o pão. Parceiro, como vai pão naquele negócio. 

E já que estamos falando de pão, pegue 3 fatias de pão de forma e coloque pra dormir num pratinho repleto com uma garrafinha de leite de coco. 

Tá vendo como essa receita é uma fanfarrice? Aposto que nunca imaginou que lá dentro tinha pão e leite de coco, não é? Lembra do açaí e do íma? Mesmo princípio.

Ok, deixamos o pão no leite, tira o gato de perto e continuamos com a receita. 

A carne do siri, em si, vende no supermercado. Se você prefere cavar a areia, tomar belisco e limpar o bicho, beleza. Mas eu achei mais simples comprar uma embalagem de 100g de carne de siri limpa. Aí o trabalho é jogar tudo num saquinho daqueles de freezer e mandar pra dentro o caldo de um limão. É importante deixar no saquinho, depois você vai entender. Põe tudo no mesmo saco, limão e siri. Chacoalha e deixa quieto. 

Agora vem o básico do refogado, né? Corta meia cebola em pedaços beeeeem pequenos, guarda num pote. Picota uns 2 dentes de alho beeeeeeeem pequenos e vê se não corta esse dedo, você ainda vai precisar dele. E picota um tomate inteiro, em pedaços moderadamente pequenos.

Aí vem mais uma surpresa. Picota beeeeeem pequeno, tomando cuidado pra não furar o bandaid, meio pimentão verde. Só meio.

A maneira mais maneira, com o perdão do trocadilho, de lidar com o pimentão é retirando aqueles veios brancos que tem dentro dele. Abre o bicho, que não é bicho e sim legume, e sai retirando aqueles sulcos brancos. Corta só a carne, por mais que ele não tenha carne. Você entendeu.

Agora mete fogo na boca 1 e mete uma panela ali. Dá aquela boa e velha golada de azeite, tomando toda a atenção do mundo pra somente depositar o óleo sobre a panela, e não necessariamente, degustar a iguaria. Joga azeite lá e boa.

Quando parecer que tá quente, joga a cebola. Mexe mexe que é bom [/ leonardo]. E se no mexe-mexe todo mundo apronta, aproveita a deixa e joga o alho lá dentro quando a cebola ficar amarelinha. Mexe e remexe de novo, mexendo gostosinho sem parar [/ gerasamba]. Quando tudo ficar amarelo e você começar a achar que tudo vai queimar e o que era pra ser uma receita vai virar um incêndio, jogue lá o tomate e o pimentão. Mexe mais uma vez. O tomate começa a perder água e a coisa toda acalma dentro da panela.

Lembra do siri no saco? Pois é, capitão nascimento sabe do que tá falando. O lance é fazer um buraquinho pequeno no saco e ir espremendo a carne, de maneira que todo o limão e todo o liquido possível escapem pelo buraco. Isso mesmo. Primeiro, nós jogamos limão no siri, agora vamos tirar tudo. A vida é assim, amigo. Um dia é da casca, outro do descascador. 

Quando o siri estiver sequinho, manda pra panela do refogado. Mexe mexe que é bom mais uma vez. É o beija-beija. Alguém tira esse leonardo daqui, pelo amor de Deus!! Ou seria o zezé de camargo?

Bom, o lance é deixar esse trem fervendo, mexendo sempre até que o tomate e o pimentão desapareçam. ou pelo menos fiquem bem detonados, você entendeu onde eu quero chegar.

O único e derradeiro tempero que vai nessa receita é o cominho. Mas recomendo cuidado, porque o palhaço é ladrão de mulher o cominho é ladrão de sabor. Coloque coisa como uma colherzinha de chá, apenas. Muito cominho vai te fazer preparar uma casquinha de cominho. E o bicho é indigeeeesto. Não é bicho, é tempero, mas você entendeu.

Ah, em algum momento dessa ferveção de tomate e pimentão, você pode jogar um tablete de caldo de camarão. Ou caldo de peixe. Ou caldo de legumes. Não adianta especular, não existe caldo de siri, ok?

Quando achar que tá na hora, e, acredite, você vai saber, jogue lá dentro o pão e o leite de coco. Vai mexendo, a coisa toda agora começa a virar uma pasta mesmo. Tá nojento? Estamos no caminho certo.

Sabe aquela embalagem de queijo ralado que não muda há mais de 500 anos? Pois veja só, pode jogar o conteúdo de uma dessas pra dentro da sua panela. Vai derreter, vai ficar legal. Vem comigo.

Agora a única missão é engrossar o caldo da coisa toda aí. Pra engrossar, deixe em fogo baixo e vai mandando pra dentro colheradas e mais colheradas de farinha de rosca. O que nos leva a uma reflexão...

Tu já apertou uma rosca? Tinha farinha? Então. Na minha rosca não tem farinha, então nem imagino porque diabos alguém deu esse nome a tão nobre elemento da nossa culinária, mas o fato é que devemos usar a tal farinha de rosca pra fazer a nossa maçaroca de ingredientes ficar uma pasta grossa.

Aí é só colocar essa pasta nas conchas (mas eu confesso que gostei mesmo do lance da meia latinha), e polvilhar com um pouquinho mais de queijo ralado.

Feito isso, manda pro forno, e deixa lá enquanto saboreia uma maravilhosa dose de felicidade enlatada. Quando a cerveja acabar, tira do forno e come.

Se você não perdeu nenhum capítulo da nova novela das nove detalhe desse post, vai ficar bom. Não tem onde errar, essa receita é boa e pronto.

eu não tenho mais uma máquina fotográfica, então não me restou outra opção a não ser roubar essa foto desse site.
Mas tudo indica que eles também roubaram de outro. Vida que segue.

Rendimento: Essa receita toda dá um monte de cascas. Pensando no tamanho tradicional das casquinhas, dá umas 15 ou mais.
Custo: A carne de siri custou uns 10, mais os outros ingredientes, deve ter custado uns 25 reais. Uma receita bem barata.
Tempo de preparo: 4 latinhas na cozinha, 1 no forno. Sirva feliz.

Tainha recheada com farofa de ovas

Tu conhece a tainha, parceiro? Não? Vem comigo que eu vou te mostrar quem é.

Ela mora lá na lagoa não lava o pé porque não qué A tainha mora no litoral brasileiro, perto de costões rochosos, maguezais e praias de areia. Alguém me contou isso, não sei se o google, a wikipedia ou o chico xavier. O que importa é que a tainha mora na praia, porque praia ou tem rocha, ou tem areia ou tem mangue. Eu já morei na praia, tropiquei na rocha, peguei micose na areia e me afoguei na água. Mas morar na praia é bem legal. Com a diferença que eu morava do lado de fora da água, e a tainha mora do lado de dentro. Questão de afinidade.

Nós, os pobres mortais, chamamos a tainha de tainha mesmo. Mas os cientistas, essa gente louca do óculos de aro grosso, chama a tainha de Mugil Cephalus, o que nos coloca numa situação bastante peculiar. Isso porque você nem precisa ser cientista pra descobrir que por aqui, parceiro.. mugil, a gente come. Não interessa se é planta, peixe ou vaca. Abriu a boca, fez mú, vai pra pança.

E é por isso que estamos aqui: pra comer uma deliciosa tainha.

Caro leitor, pode ir preparando a penitência, espalhando o milho pelo chão e contando ave-marias, porque nós vamos, juntos, pisar sobre todos os preceitos de moralidade e complacência que se pode imaginar: nós vamos comer criancinhas. Não como o michael jackson, necessariamente. Mas vamos comer a tainha e toda a família dela, principalmente a filharada.

Então, vamos lá. Já sabemos que a tainha é um peixe que muge (pelo menos na certidão de nascimento), e sabemos que ele mora na praia. E agora vamos descobrir como preparar esse peixoto aí.

Você começa, claro, adquirindo a tainha. Se o pescador tem dois amor [/dorival caymmi], ele é, além de ser um HERÓI que enfrenta duas tpms no mês, é um cara que entre uma DR e outra acha um tempo pra pescar. E quando ele faz isso, ele volta com a tainha na mão. Afinal, a tainha tá lá na praia, do lado de dentro do mar, pescador joga a rede e volta com a sereia, mulherada fica louca, duas TPMs, DR, tainha, aquela história toda.. Você entendeu: malandro sobe no barco e rema pro horizonte, manda a rede pra água e volta com a tainha. Pescador é gente que faz. Por isso que tem o Ministério da Pesca. Tem o do churrasco? Não. Mas tem o da pesca. Enfim, tudo isso por causa de uma tainha.

Então a nossa missão começa tentando encontrar o pescador, preferencialmente quando ele não está na água, e nem com nenhum dos dois amores dele, sob o risco de enfrentarmos uma situação constrangedora. O pescador é, realmente, um cara que entende dessas coisas de amor. Um cara que pega duas mulheres com a mão fedendo a peixe é, definitivamente, um cara bom. Respeitemos isso.

Bom, antes que você também vire mulher do pescador ou vice-versa, o que seria uma roubada, saque logo alguns reais e peça a ele que te venda uma tainha. De preferência limpa. E, se o pescador vai limpar a tua tainha, peça a ele que abra a tainha pelas costas, e não pela barriga. Nem tem muito o que entender aí, pede pra ele "me dá uma tainha limpa, aberta pelas costas" que o cara entende.

Assim como a minha mãe, a sua e todas as leitoras desse blog, a tainha também tem o dom de ficar grávida. Com a diferença que as leitoras desse blog se divertem muito mais no ato ou efeito de adquirir a gravidez. Enfim, a tainha fica com uma penca de filhotinhos crecendo dentro da barriga, assim como as leitoras, a mamãe e a vovó.

A essa peixarada toda dentro da pança da tainha, dá-se o nome de "ovas". É isso mesmo, diferente da galinha que fica com a pança cheia de OVO, a tainha fica com a pança cheia de OVA. Pra mamãe, vovó e pras leitoras, dá-se o nome de bebê, mesmo. Vai entender essa língua portuguesa, né?

Professores pasquales à parte, recomendo que peça ao pescador uma tainha que tenha ovas. Recomendo seriamente que considere a hipótese de comprar as ovas na época em que a sua pesca é permitida, sob o risco de enfrentar problemas legais bastante severos junto ao ibama e adjacências.

De posse da tainha limpa aberta pelas costas e das ovas, corra pra casa pra preparar nossa amiga. A tainha, para de pensar besteira.

O procedimento é muito simples. Muito mesmo. Basicamente, abra uma breja e seja feliz. Não, peraí, voltando à receita.. basicamente, a gente faz uma farofa e sapeca dentro do peixe.

Começando os procedimentos, de mãozinha lavada e cerveja na alma, um, dois, três e VAI!

Corte uma cebola em rodelas bem fininhas. Depois que você terminar de cortar, desmonte as rodelas, de maneira que você só vai ficar com um monte de anéis de cebolas. Acho que você entendeu, né?

Beleza, agora picote uns 3 dentes de alho. Pode picotar em pedaços bem pequenos.
Aqui faço um adendo: essa receita pode ser feita na churraca, ou no forno mesmo. Se você vai fazer no forno, eu recomendo que descasque umas batatas e bote pra ferver em outra panela, ok?
Legal. Agora, pega uma panela e coloca ali uma bela golada de azeite. Pode por uma golada sarada, de cobrir o fundo da panela. Isso aí deve dar, sei lá, uma meia xícara de azeite. Mas como aqui nesse blog o sistema é bruto e jacaré anda de lado (qual o sentido disso??), a gente manda golada pra panela. Não é pra fazer uma sopa de azeite, mas é bom colocar uma quantidade legal, pra nossa farofa ficar bem molhadinha (ui!).

Ok, deixa aí uns segundos que o azeite começa a ferver no fundo da panela. Claro, desde que você tenha se lembrado do brilhante e chamuscoso procedimento de acender o fogo debaixo da mesma.

Na sequencia, joga lá dentro uma folha de louro. Louro, isso mesmo. Aquele, que conta piada com a tiazinha do programa matinal. É, aquela, que tem idéias gastronômicas brilhantes, como o brigadeiro de gengibre, saboroso quitute que espanta todas as crianças da festa.

Beleza, joga o louro no óleo quente a folha de louro no azeite. Na sequencia, jogue os anéis de cebola. Te cuida, frodo bolsero, que anel por anel....     ...      ...      ....... putz, não tem como fazer um trocadilho com anel que não fique com duplo sentido. Esquece o frodo bolsero e bola pra frente. Ops, bola pra onde? Ah, esquece o duplo sentido, mente suja!

O cheiro da cebola fritando no azeite é uma das coisas mais gostosas da culinária, não acha? Pois eu acho. Quando a cebola começa a ficar amarelinha e molenga, é hora de jogar ali o alho. Pois faça isso, jogue o alho pra ferver junto com a cebola.

Mais alguns segundos, e o alho começa a pegar uma corzinha maneira, enfim. Tá fritando, né?

Falando nisso, quem tá frita mesmo é a prole da tainha. Na real, ainda não fritamos, mas eu digo que elas estão fritas só pra não dizer coisa pior. Pode ter criança lendo.

E se tem criança, a gente manda pra panela. Pegue as ovas e mande pra dentro daquele azeite fervendo com cebola e alho. Misture bem, sem medo de ser feliz. O cheirinho de peixe frito, ou melhor, de filhote de peixe frito que começa a subir é realmente agradável.

Até o mais desligado dos leitores já entendeu que farofa que se preza, tem que ter farinha, não é mesmo? Pois sapeque dentro da panela umas duas xícaras de farinha de milho.

A farinha de milho é legal pra você usar, porque ela é meio macia, tem um gostinho maneiro, enfim. Vai na minha que é sucesso, sapeca farinha de milho lá e mistura bem.

Alguns segundos depois que começar a misturar, recomendo desligar o fogo. A farinha queima rapidinho, e pode transformar todo esse trabalho que você fez até agora num lixo queimado. Lembre-se do frodo bolsero e não queime os anéis. Enfim.

Tua farofa tá pronta, parceiro. Recomendo que experimente e dê aquela rebocada no sal, com todo o comedimento que o cardiologista recomenda.

A missão agora é rechear a tainha com a farofa. Lembra que o peixeiro, entre uma mulher e outra, abriu a sua tainha pelas costas? Pois então, é pelas costas que nós vamos encher a bicha de farofa. Pega uma colher, mete a mão no peixe e enche de farofa.

E pra fechar, caro blogueiro? Pergunta o nobre leitor. Com barbante, respondo eu.

Amigão, eu aqui escrevendo esse negócio todo, tou aqui imaginando que você já tem idade suficiente pra amarrar o próprio sapato, não tem não? Pois então, o princípio é o mesmo, e eu estou aqui acreditando veementemente que você vai saber como amarrar esse peixe e manter a farofa dentro dele. Te vira e amarra esse trem aí.

Tamos quase lá. Agora, embrulhamos o peixe (que por sua vez tá embrulhando a farofa) no papel alumínio e vamos pro calor.

Se você vai colocar na churraca, embrulha o peixe no papel alumínio e manda pra lá, tomando cuidado pra labareda não pegar no pacote.

Se vai colocar no forno, pode deitar o peixe sobre uma bandeja grande, espalhar as batatas pela bandeja, jogar um azeitinho por cima de tudo e cobrir tudo com papel alumínio.

A tainha, se antes era mugil, agora é só uma comida esperando alegremente o momento de sentir a força dos nossos molares. E espera quanto? Espera quase uma hora, dependendo do tamanho da tainha, da força do seu forno ou da chama que acendeu na sua churraca. Estou imaginando que você vai saber acompanhar.

Pronto. Agora é só abrir e comer. Cuidado que tem espinha [/mãe]. Mas é um peixe absolutamente delicioso, e a farofa fica molhadinha dentro do peixe. Sucesso, vai por mim.

Taí a mamãe recheada com os filhotinhos.

Custo: A tainha que compramos tinha mais de 2kg e custou uns R$30,00.
Rendimento: Serve bem a umas 6 pessoas. Sem ogros e sem princesas: gente normal.
Tempo de preparo: Umas 2 latinhas na pia, umas 3 latinhas no forno (ou churraca). Sirva feliz.

Receitas dos leitores: Tainha assada com farofa de camarão

Começamos este post com uma constatação fatal: todo mundo tem pai. Você pode não conhecer o seu pai, ou pode ser que ele já não esteja mais por este mundo. Ou sei lá, pode ser que você tenha pai, ele esteja vivo, mas você não goste dele. Ou ele não goste de você. Mas a verdade é: todo mundo tem pai. Alguém, um dia, convenceu a sua mãe de que seria um bom negócio realizar a cópula, assim procedeu, e olha só: você nasceu.

Pois é, eu também tenho pai. Eu conheço ele. E ele tá vivo. E eu gosto dele. E acredito até que ele goste de mim :-)

E meu pai, além de um cara batuta, gente da mais alta camaradagem no que tange árvores genealógicas, é um excelente cozinheiro, o que já foi demonstrado no post das alheiras. O que é muito lucrativo para mim, pois ele é um verdadeiro mestre na arte de cozinhar frutos do mar, o que não é a minha especialidade. Assim, qualquer visitinha à casa dele no litoral (pai caiçara, é mole?) sempre se transforma naquela tradicional lambança gastronômica, do jeito que a gente gosta, pra ficar refestelado. Aqui eu faço churrasco, lá ele faz peixe e assim caminha a humanidade, cozinhando formiga e comendo com vontade.

E eis que meu pai me conta, dias atrás, que fizera uma fabulosa tainha, e que escreveria a receita para ser postada neste blog. O que me fez encher a fralda, rechear a ceroula, borrar a sunga mesmo. Isso porque eu conheço bem a qualidade literária dos textos do meu pai, e temeroso pela possibilidade de gostarem muito mais da receita dele, do que das minhas, procurei fingir de morto, torcendo para que a internet nunca entregasse o e-mail dele, contendo a receita. Mas a internet é essa coisa louca, cheia de miguxo, caninha e ruth lemos (joga no google, beibê), e, pasmem: ela entrega e-mails. E entregou o email do meu pai, que reproduzo aqui.

Os leitores deste blog estão terminantemente proibidos de gostar mais da receita do meu pai do que da minha, ok?

"Estava procurando por alguma novidade que pudesse enriquecer o meu cardápio de especialista em frutos do mar. Enquanto o meu prezado filho adotou a churrasqueira eu procurei outros caminhos que me apeteciam mais.


Em tempo, sou o pai do prezado articulista criador deste blog. Já fui citado no artigo sobre as alheiras e desta vez decidi escrever o meu artigo.
Iniciei a minha peregrinação nas peixarias da ponta da praia em Santos. Não que eu faça publicidade de ninguém, mas é onde tenho o habito de procurar as minhas delícias do mar. Entre polvos, lulas, mariscos e outros seres das profundezas resolvi inventar um assado especial e levei uma tainha de cerca de 1,5 Kg e mais 1/2Kg de camarão que rendeu mais ou menos umas 300 g depois de limpo.


O prato que imaginei fazer é parecido com o peixe que comi em Florianópolis no começo deste ano, num restaurante muito simpático que fica bem ao sul da ilha e onde o publico costuma deixar suas impressões em bilhetinhos colados nas paredes. O prato estava fantástico e além disso estávamos sentados ao lado de uma mesa cheia de argentinos, o que nos dava a chance de contar, em voz bem alta, varias piadas.... de russo ! foi uma noite muito saborosa e divertida !


Mas falando do meu peixe, primeiramente temperei a tainha com sal, alho, azeite extra virgem e algumas gotas de limão. Esfreguei uns 5 dentes de alho moído por toda o peixe, por dentro e por fora, apliquei o sal e bastante azeite por cima e deixei que ficasse pegando gosto enquanto preparava a farofa de camarão.


Essa dita farofa é feita à partir de um refogadinho de camarão engrossado com farinha de milho.


Peguei dois tomates picados, um pouco mais de alho moído, cerca de um dente, uma cebola de tamanho médio picada no processador de alimentos, um punhado de salsinha também picada à mão, um punhado de azeitonas sem caroço, dessas que se compra em conserva e pouco mais de meio dedo de moça. ( não vá cometer nenhuma violência doméstica ! ) é aquela pimenta vermelha que mantemos conservada em vinagre.


Ponha mais ou menos meia xícara de azeite extra virgem no fundo da panela e quando estiver quente acrescente a cebola com o alho, a pimenta, as azeitonas e depois que tiver refogado um pouquinho, junte o camarão, a salsinha e o tomate picado com um pouco de agua. Deixe cozinhar até que o camarão esteja no ponto. Eu costumo esperar cerca de trinta minutos. Quando o camarão estiver bem cozido acrescente uma xícara de farinha de milho ou um pouco mais, até pegar o ponto.


Nesse meio tempo dê uma ligada no forno para ir esquentando e quando o recheio estiver pronto, deite o peixe numa travessa de metal e coloque a farofa na barriga do dito cujo. O que não couber fica por fora mesmo. O peixe deverá ir ao forno e assar por mais ou menos uns 20 a 25 minutos. Consuma quantas latinhas você achar que precisa para essa tarefa.
Como eu não tomo cerveja, sou um tipo meio jurássico, do tempo que se fazia churrasco com picanha de dinossauro, aguardei que tudo fosse para a mesa e degustei a minha proeza culinária acompanhada de uma garrafa de vinho branco “Frascatti” bem gelado.


Achei que ficou tão bom que resolvi compartilhar minha criação com os leitores deste renomado blog, com permissão do seu criador. Espero que vocês gostem.
Renato Rodrigues Fº"

Salmão na grelha

Quando eu comecei a escrever nessa espelunca, eu nunca imaginei que um dia levaria isso a sério. Na verdade, até hoje eu não levo, mas pelo menos me preocupo um pouco mais com a total, irrestrita e absoluta falta de qualidade das coisas que escrevo aqui, procuro receitas novas, enfim. Comecei a escrever aqui despretensiosamente, e alguns incautos, para a minha surpresa, decidiram que seria uma boa idéia ler estas porcarias. Então me vi obrigado a tomar vergonha na cara, buscando me informar para que pelo menos pareça que eu entendo do que estou escrevendo.

Com isso, acabei encontrando vários blogs e sites bacanas internet afora. Um deles é o Mesa pra 1. A receita de bolo deles é parecida com a nossa: macho na cozinha, fazendo comida boa e falando merda. A gente sabe que isso funciona. Homem escrevendo merda de um lado da tela, homem lendo merda do outro. Entre uma breja e outra, assim vamos indo em direção à derrocada. Enfim, como a direção da derrocada é nossa via de mão única, certa vez encontrei uma receita por lá que me animou muito, e decidi fazê-la, e aqui reproduzo com uma fidelidade malúfica.

A diferença entre os dois blogs é que neste aqui, eu enrolo, enrolo e enrolo parágrafos e mais parágrafos (tá vendo como é fácil enrolar?) pra postar uma receita que poderia ser descrita em 5 linhas, e lá eles metem a mão na massa mesmo. Gente que faz. Em tempo real, ao vivo e à cores, com uma câmera na mão e uma cerveja na cabeça lá vão eles filmando pataquadas gastronômicas e recheando o youtube com uma turminha muito louca aprontando altas receitas numa cozinha do barulho. Sério, o blog é legal, já passei o link, vai lá que eu espero.

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acho que o pessoal gostou mais do mesa pra 1

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#jascakszxcz xz @#$#!%ˆ$
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voltou? ufa, então vamos à receita.

O esquema é muito simples, e faz o salmão, que já é um peixe muito saboroso (taí o urso marrom, malaco da ilha kodiak, que não deixa a gente mentir), ficar ainda melhor. E não é só simples, não. O esquema é roots, coisa de gente rude, de sola dura e calcanhar rachado. Sem essa de garbo e elegância, se você chora na novela ou passa ppt de paisagem, sai desse corpo que não te pertence, prepara o capitão nascimento que existe dentro de você e TRAZ O SACO AGORA!

O lance é que você deve ter adquirido anteriormente, um belíssimo filé de salmão. Não recomendo disputá-lo na beira da pirambeira com o urso marrom, nem navegar pelos mares da noruega em busca do salmão perfeito. Muito mais fácil conferir comigo que salmão bom é salmão morto, dar um pulo num mercado e comprar uma bunda de salmão fresca, por mais que possamos estranhar essa coisa de bunda fresca. E a bunda do salmão só tá fresca quando tá firme (ai, a luma de oliveira...) e larnja escuro. Fica atento, se o peixeiro te passar um salmão laranja meio branquelo, que parecer meio mole, dá-lhe logo um pescotapa e se manda dali porque esse salmão tá velho.

Beleza, de salmão em punhos, TRAZ O SACO SENHOR ZERO UM e mete o peixoto lá dentro. Pode ser um saco de freezer, saco de pão, saco de lixo, o que você quiser. Apenas se certifique de que o saco não vai vazar, porque além do salmão, você ainda vai jogar mais algumas coisas lá dentro.

E, pra que o salmão não se sinta um peixe fora dágua, você deve colocar ali alguma coisa pra ele nadar. A coisa, no caso, é o mundialmente conhecido molho soyu. Deposite no saco um monte, um copo, uma lata, bastante molho shoyu. O salmão agradece.

Como sabemos neste blog que uma andorinha só não faz verão, sabemos que o salmão não pode ficar ali sozinho, boiando alegremente naquela piscina de shoyu, não? Pois lance mão de toda a cebola que você conseguir carregar. Vai na fé, pra meio quilo de salmão, você pode picotar umas 3 cebolas.

Picotar, não. Corte em rodelas, e eu espero que você saiba como fazer isso. Não vou ensinar marmanjo a descascar a cebola, posicionar na tábua, fazer cortes paralelos e desmontar com as mãos. Não vou mesmo. Enfim, o sabichão aí já deve estar imaginando que a cebola deve IR PRO SACO TAMBÉM. Desse jeito mesmo, com agressividade, macheza e virilidade.

Cebola no shoyu, cebola no olho e a essa hora já tem salmão chorando dentro do saco, certo? Pois então, pra acabar com essa tristeza, nada como uma musiquinha pra alegrar o ambiente, não acha?

Pra animar, pode preparando as suas maracas e o bigodón, que chegou a hora de muito merengue e SALSA, maricón. Isso, picote um maço inteiro de salsinha e MANDA PRO SACO E CADÊ O BAIANO???? Cadê o baiano? Boa, manda lá pra dentro duas pimentas baianinhas, sem picotar nem nada.

Agora que tá todo mundo animado, na maior agitação, hora da sacanagem. Você dá um nó na ponta do saco e deixa a putaria comer solta lá dentro. Pode chacoalhar, pode mexer, pode fazer essa galera balançar o esqueleto na festa que rola dentro do seu saco. O do peixe, claro.

Tamo quase lá. Abre a geladeira, deposita o saco lá dentro e vai acender a churrasqueira. Já te falei pra abrir uma cerveja? Não? Então tá esperando o que, criatura? Aproveita a geladeira aberta e saca uma latinha agora mesmo.

Deixa o saco lá dentro da geladeira, enquanto você acende a churraca e tal. Isso vai demorar uns 15, 20 minutos, dependendo da sua destreza para com as atividades pirotécnicas.

Quando você conseguir acender a churraca e terminar a cerveja, a coisa já deve estar no ponto lá no saco. Agora você abre o saco e procura o salmão lá dentro. Com a mão mesmo, larga de nojinho. Posiciona o peixoto sobre a grelha, com a pele pra baixo, o que parece óbvio, mas sempre é bom avisar.

Agora é bacana: pega toda aquela maçaroca de cebola e salsa, devidamente embriagados de shoyu, e deposite cuidadosamente sobre o salmão. O resultado será surpreendente.

Abra outra breja, e mais outra. A essa hora, o peixe deve estar ficando bom. Você percebe que ele tá bacana quando a pele fica mais durinha, e a carne do salmão começa a fica mais branca. Como salmão é um peixe que se come cru (favor não confundir, mente suja), não tem muito essa de ponto, não. Olha pra ele, gostou? tira. Ele não fica seco, porque tem um monte de salsa e cebola molhadas em cima dele, e fica gostoso mesmo se você tirar antes da hora.

Na hora de tirar, recomendo uma espátula. Você mete a espátula entre a pele e a carne, elas se soltam facinho, você taca o peixe na tábua, dá um garfo pra cada um e come-se assim, no esquema pia de porco, mesmo.

Dica: o shoyu já tem sal, não seja besta e tira esse ajinomoto daí.

O vídeo da receita feito pelo pessoal do Mesa pra 1 é bem legal, clica aqui que eu não vou dar um embed assim, na cara dura. Já chupinhei a receita deles, uai.

Rendimento: 500g de peixe dá pra umas 2 ou 3 pessoas. Mas recomendo um camarãozinho pra ajudar.
Custo: 500g custaram R$11,00, mas acho que você pode encontrar mais barato, depende muito da sua localização geográfica.
Tempo de preparo: 1 breja na cozinha, 2 ou 3 na churraca. Você vai precisar de mais umas latinhas pra servir feliz.

Perguntas na grelha: Tirando Abel Teixeira da masmorra

Inaugurando tardiamente a série "Perguntas na Grelha", venho encarecidamente solicitar que juntemos nossas forças pra salvar do limbo o nosso colega churrasqueiro Abel Teixeira, que lá de Teresina, no Piauí, clama por socorro. Limbo esse em que se meteu, e por infortúnio, o ajudei a chafurdar, e agora preciso mover os meus pauzinhos para tirá-lo dessa encrenca.

Há mais de uma semana atrás... ... ... Volta tudo.

Há BEM MAIS de uma semana atrás, recebi o chamado do amigo Abel, e após uma rápida troca de e-mails, prometi a pronta apresentação para a solução dos problemas dele. O que, como já tradicionalmente tenho feito neste blog, faço agora, com um atraso considerável. Isso porque o final de semana chegou, Abel continuava com dúvidas, eu não o ajudei, e, mais uma vez, ele fracassou, sucumbiu ao túmulo dos perdedores e tomou vaia da família. E eu, com meu timing britânico, com precisão cirúrgica e fazendo a volta mais rápida, chego numa segunda feira pra evitar que ele se lasque no churrasco do final de semana que vem.

corre, filhinho... porque coelho bom é coelho morto.

Ciente da condição daquele que tarda, mas não falha, segue abaixo um resumo dos problemas de Abel:
Me propus a ser responsável pelo churrasquinho do final de semana, comprei uma churrasqueira elétrica, uma faca, a tábua, o amolador, o sal grosso, etc... Mas já está com dois finais de semana q fracasso. rsrsrsrs 

No primeiro realmente foi muita fumaça, foi quando resolvi recorrer à internet e encontrei teu blog. Mas acho q é por q deixei a água acabar na churrasqueira, deve ser por isso, eu acho. Tenho dúvida se coloco muita água ou pouca, mas acho q estou encontrando um ponto médio. 
Tentei um peixe - pargo - e a pele dele soltou toda, e ficou caindo pedaços, ficou gostoso, mais ficou um prato muito feio. 
No último final de semana tentei a costela de porco, como é da fazenda, não foi de supermercado cortei a carne um pouco grossa, e demorou pra caramba pra assar... O almoço saiu por volta das 14:30, gente já com cara de bicho. 
É por aí, na verdade preciso de umas dicas, umas sugestões pra limpar a minha barra...(gosto de peixe aos sábados e domingo topo o q vier, inclusive as cervas. rsrsrsrs).

Consideremos as situações. Vejo aí 3 problemas distintos.

O primeiro tá fácil de resolver. A churraca elétrica precisa ficar com água na bandeja o tempo todo. O suficiente pra cobrir o fundo dela, mas não pode deixar a água pegar na resistência. Uma dica é deixar uma caneca com água perto de você, assim pode ir completando de pouco em pouco. Honestamente, se deixou a água secar, fico feliz que você nos mandou este e-mail: é um sinal de que você não pegou fogo, pois é deveras perigoso deixar esta churraca seca assim.

Outro ponto é o da costela. A churraca elétrica demora um pouco mesmo, não tem jeito. E carne de porco mal passada, nem pensar. A solução, nesse caso, é pensar o churrasco como um todo, não apenas uma única carne. Costumo fazer assim: Uma carne é a principal, no seu caso, a costela. Tenha outras pequenas peças de carne, ou linguiça, ou queijo-coalho. Coisas que saem rápido e dão aquela forrada no estômago enquanto o principal assa. So tenha o cuidado de não empanturrar seus convidados, e na hora que a costela sair, todos os convidados estarem arrotando linguiça. Aí, compana... Segura o choro e come a costela sozinho.

O terceiro ponto é o do peixe-farofa que você usou e desmontou inteiro. Não conheço, exatamente, o pargo, o que me faz pedir novamente a ajuda dos leitores, universitários ou não. Mas a dica aqui serve pra qualquer peixe. Recomendo que você embrulhe o peixoto em papel alumínio, com os temperinhos dentro dele. Só tire dali quando estiver pronto mesmo. Então abra o papel alumínio e tire o peixe com todo o cuidado e atenção do mundo. Como se estivesse movendo a bunda da juliana paes de uma cadeira pra outra: põe a maozinha embaixo e vai com calma, muita calma nessa hora. Com a diferença que o peixe você come, e a juliana paes, não.

Ah, e não se esqueça de que a sua churrasqueira está ligada na tomada. Todo o cuidado é pouco quando se utiliza papel alumínio numa churraca eletrificada. Bote um chinelo nesse pé e evite a combustão espontânea desse seu esqueleto surrado embebido em álcool.

Um peixe bacana pra churrasqueira elétrica é um que tem um nome infame, mas funciona bem: o carapau. É um peixe relativamente pequeno e consistente, é bem gostoso e fica pronto rapidinho.

Boa sorte nos próximos churras, companheiro. Se eu passar por Teresina um dia, me convido pra um churrasco na sua casa, já sei que tem costela direto da fazenda :-)

Tá com dúvida? O bicho pegou pro seu lado? Tomou vaia, magoou, tá com medo do escuro? Manda um e-mail pra danielwalterrodrigues@gmail.com contando seus problemas. Com uma frequencia irresponsável e o timing apurado de sempre, publicaremos as dúvidas dos leitores aqui no blog.

Receitas de panela: Salmão com batatas

Rapaziada, vou contar uma coisa... esse carnaval foi punk. Ou eu estou ficando velho. Ou as duas coisas: um carnaval punk demais pra um velho como eu.

Resumindo, minha preguiça de pegar trânsito me impediu de viajar neste carnaval, então reunimos os amigos que compartilharam desta preguiça, e uma vez reunidos, chafurdamos na cerveja para não mais sair de dentro dela. Posso dizer que passei o meu carnaval, literalmente submerso no universo cerveja / churrasco.

Tanto que, na quarta-feira de cinzas, eu era apenas um corpo sem alma perambulando pelos cantos, pedindo aos seres das catacumbas que clamassem pela sua vida oferendo a esta alma pútrida uma travessa de salada. Opa, SALADA?????? Ma che??

Tenho que admitir que eu perdi a batalha da quarta-feira de cinzas. Como antes nunca perdera. Acordei, tomei um copo de água, outro, mais outro e mais outro, e não consegui chegar perto da geladeira de cerveja, e muito menos da churrasqueira.

Claro que eu não poderia me entregar à saladinha, mas precisava me alimentar, e carne não ia dar pra comer de novo, não. Precisava de alguma coisa consistente, saudável, gostosa... Mas, que alimento poderia preencher tais requisitos?

Aqui: consistente, saudável, gostosa...

Tá. Levei um ralo da patroa. Fora a Luma, o que poderia ser?

Neste momento, me lembrei do urso marrom. O urso marrom é um cara batuta, malaco lá das ilhas Kodiak (e viva a wikipedia). O bicho passa o dia inteiro com a cara chafurdada no rio à espera do salmão que, mesmo sabendo que o urso vai estar lá, nada rio acima na maior pirambeira, tudo pra sapecar a sardinha na salmoa, encher a água de pequenos filhotes de salmão, e depois morrer. Ou, no caso do encontro com o urso, morrer sem sapecar a sardinha na salmoa. Vida dura, essa de salmão.

Enfim, lembrei do nosso amigo urso, e pensei em chafurdar a cara no rio também. Mas, como moro em São Paulo e os rios por aqui costumam não ser muito bacanas pra se chafurdar a cara, corri até o compre-bem mais próximo da minha casa e voltei com um salmão inteiro e umas batatas.

Adoro comprar peixe inteiro. Só pra assustar o meu filho de 4 anos. Só que dessa vez ele foi esperto, não se assustou, pegou o peixe da minha mão e saiu correndo atrás do cachorro gritando "Buuuu... o peixe vai te pegar!!". Enfim, melhor parar com essa brincadeira, porque deu o maior trabalho recuperar o salmão e a piada não assusta mais ninguém.

Bom, vamos à receita, que dessa vez eu já tou enrolando demais.

O lance é o seguinte, essa receita tá na categoria "Receitas de panela", mas ela não é feita, exatamente, na panela. É feita no forno. Espero que o compreensivo leitor entenda a questão.

O primeiro passo é cuidar das batatas, que depois vão fazer companhia ao salmão dentro do forno. Pra que ela fique bastante macia e gostosa, você deve cozinhá-las. Simples como tirar o peixe de uma criança: Descasque umas 4 batatas, corte cada uma delas em 4 pedaços e bote numa panela com água, e uma quantidade comedida de sal. Enquanto ferve, vamos dar uma atenção ao salmão.

Comprei o peixe inteiro, mas como não sou sushi-man, e não tenho a menor técnica para cortá-lo, peguei uma faca afiada e picotei, de maneira que eu fiquei com 4 grandes pedaços de salmão. Se você for ao mercado e encontrar aquela bandeja com um tecão de salmão, é aquilo. Compre somente a bandeja, ou compre o peixe todo e desmonte ele da maneira que bem entender. Não tire fora a pele do peixe, você vai agradecer pela presença dela mais tarde.

Mexer em peixe cru é meio nojento mesmo, então lave as mãos e abra uma cerveja. Isso vai te fazer bem.

Numa bandeja (ou pirex) grande, jogue uma camadinha de azeite, de maneira que o fundo da bandeja fique coberto com uma fina camada de azeite. Sem ensopar a parada, companheiro. Você está fazendo um prato fino, e não uma sopa oleosa.

Com a pele pra baixo, deposite os pedaços de salmão na bandeja.

O tempero é bem fácil, também. Roube do jardim da sua mãe (ou esposa, ou irmã, ou vizinha) algumas folhas de alecrim. Umas 15 folhinhas já dão um bom agrado. Taque todas num potinho e adicione uma boa golada de azeite. Mais ou menos meia xícara.

Agora jogue lá um pouco de pimenta do reino preta, e sal. Imagine que você vai depositar aquele molho sobre os pedaços de peixe. Então faça as contas para o sal e não deixe o seu salmão ficar parecendo um bacalhau.

Tenho em casa uma pimenta que se chama Pimenta Bode. O nome é terrível e parece uma insanidade jogar algo de bode dentro de uma receita de salmão, mas vai por mim: A pimenta bode não tem nada a ver com o barbicha, e você não vai ficar com uma buchada de salmão no forno. Mas jogue no molho uma bolinha da pimenta, e não picote ela, nem amasse, nada disso. Apenas deixe a pimenta lá que ela faz o trabalho dela.

Voltemos às batatas, que a esta hora, devem estar macias dentro da panela. Espete com um garfo pra conferir. Se estiver macia, desligue o fogo e jogue a água fora. Coloque as batatas na bandeja, viradas pra baixo, de maneira que elas fiquem com a maior superfície possível em contato com o fundo da bandeja.

Agora só falta depositar o molho sobre o peixe. Faça isso. Mas não deixe a pimenta ir junto, você pode jogá-la fora antes. Pimenta é assim mesmo, a gente usa e joga fora mesmo. Sem canalhice, sem remorso, sem coração.

Não precisa espalhar o molho sobre as batatas, apenas sobre o peixe. Quando você colocar no forno, o azeite vai ferver, o tempero vai penetrar no peixe, que vai perder líquidos pra bandeja, que serão absorvidos pela batata. Entendeu?  Sobre as batatas, pode passar uma camada fina de azeite, só pra ter a certeza de que elas ficarão crocantes por fora e macias por dentro (chupa essa manga, mcdonalds!).

Cubra tudo com um papel alumínio e deixe no forno médio por, mais ou menos, umas 4 cervejas. Abra o forno e dê uma olhada no peixe. A carne dele deve estar meio branquela, é um sinal de que ele está ficando assado. Hora de abrir o papel alumínio e deixá-los (os peixes e as batatas) queimarem um pouco por cima. Tome mais umas 3 brejas e retire do forno.

Na hora de servir é fácil, você tira as batatas e põe no prato, tira o peixe e põe no prato. A diferença estará na pele do peixe, que ficou colada na bandeja e vai dar o maior trabalho pra mãe lavar depois. Mas em compensação, o salmão desgruda facinho da pele, e vai inteirinho pro seu prato, sem trabalho e sem desperdício.
UPDATE: A leitora Viviany me alertou, de forma delicadamente ríspida, que eu deveria forrar a bandeja com papel alumínio, assim não deixaria aquela pele de peixe grudada que poderia deixar a sua mãe com muque. Então, faça como ela: forre embaixo da pele do peixe com papel alumínio. Valeu Vivi!
Receita boa pra fazer amigos e influenciar pessoas. Se eu não fosse casado, daria outras dicas a respeito da boa utilização desta iguaria, mas como a patroa lê este blog, prefiro deixar a dica no ar. Pesca quem é bom. Ou quem é urso :-)

Em tempo: Depois de alguma pressão pública, minha prima devolveu a minha máquina, e eu bem que tentei montar um prato bacana pra fotografar. Mas a fome tava grande eu não tenho o menor talento pra decorador de prato. De qualquer maneira, veja com seus próprios olhos.



Rendimento: 1,5kg de salmão deu pra encher 2 buchos, duas vezes e ainda sobrou. Ou seja: rende pacas.
Custo: Acredite, um salmão congelado de 1,5kg custou R$13,90 no compre bem. E nem foi preciso chafurdar a carona na água gelada.
Tempo de preparo: 1 breja na preparação, 6 ou 7 brejas na espera do forno. Sirva feliz.

Peixe na churrasqueira: Lugar de tainha é na brasa

A páscoa se passou, e com ela a antiga e dolorosa tradição de não comer carne na sexta-feira santa. Isso acontece porque a Igreja diz que a gente tem que passar por alguma penitência nesse dia em respeito ao sofrimento e Jesus e tal, e aí tem esse lance que a gente não pode comer carne nesse dia. Ainda bem que eles não falaram nada da cerveja, porque isso sim ia ser o maior sofrimento. Dói um pouco ficar sem comer carne num feriado, mas se tem um cara que a gente curte é o Papai do Céu: sabendo que a gente ia ter que passar por essa, ele chegou lá pelo quinto ou sexto dia e inventou O PEIXE e ensinou o pessoal da peixaria a pescar. Aí se o pessoal acha de bom tom sofrer um pouquinho e não comer carne, a gente come peixe e ele que sofra no nosso lugar. Tá fácil.

O peixe escolhido, não por Deus, mas por mim, foi a Tainha. Tenho boas lembranças da Tainha. Em Bertioga, existe uma festa que ocorre uma vez por ano, onde eles fecham um lugar grande e fazem uma festa regada a receitas diferentes de tainha e de derivados alcoólicos. É uma festa bacana e eu recomendo a visita no mês de julho. Tenho, como lembrança de infância, a família chegando tarde em casa, todo mundo embriagado enquanto a criançada fingia que dormia (o que nem precisava, pois eles estavam bêbados mesmo). Mas vamos aos finalmentes: eu SEI que a tainha é um peixe gostoso, então bora lá deitar a garota na brasa.

Comprei duas tainhas - limpas, porque eu limpo carne, mas tenho nhaca de peixe, que pesavam, mais ou menos 800g cada uma. Como peixe rola um puta desperdício (pele, escamas, rabo, cabeça, vc não come quase nada), 1,6kg de tainha não é lá um grande banquete não. 

Existem várias maneiras de preparar a tainha. Minha mãe fazia uma no forno com batatas, azeite e orégano que ficava bacanérrima (taí a dica, hã!). Mas aqui a gente deita os bichos na grelha e é assim que vai ser com a tainha: deitada lá, assadinha! Preparei um molhinho pra temperar, embrulhei e boa.

O temperinho ficou super suave e saboroso. Vamos a ele:

Num pote, esprema uns 5 limões. Não vai querer economizar nisso, o importante é o peixe estar bem temperado. No mesmo pote, manda umas 2 mãozadas cheias de sal grosso. Deixa o potinho de lado e vai cuidar dos outros ingredientes, e isso tem um motivo: o sal grosso vai começar a derreter no caldo do limão. E pode esquecer esse maldito pensamento prático: o sal grosso derretido não é igual ao sal fino. Ah, você já entendeu: deixa lá o sal descansando no limão e vai cuidar do alho. Alho? Que alho?

Esse aqui, ó: pegue 3 ou 4 dentes de alho, dos graúdos. Usando uma faca afiada e muito cuidado com a integridade dos dedos que tem na mão, triture o alho em pedaços bem pequenos. Olha, eu sei que a vida moderna é toda bacanona, e vende alho triturado no supermercado. Ok, se você pensa assim, pode fazer o peixe direto no microondas, e tenta a sorte ae. Entenda, ilustrado leitor: a qualidade dos ingredientes fazem a sua comida ficar melhor. Quanto mais frescos (ui!) os ingredientes que utilizar, melhor fica o sabor. Voltando ao ponto: tritura a porra toda e joga lá junto do sal grosso e do limão.

A tainha é um peixe muito carnudo, e eu acho que um pouco de manteiga pode fazer essa carninha aí mais feliz e saborosa pra preencher as crateras dos nossos cânions estomacais. Mas a gente sabe que se jogar manteiga de qualquer maneira lá não vai misturar nunca. Aí a gente te manda uma dica: pega uma colher, enche de manteiga, acende o fogo e segura a colher ali, durante alguns segundos. A manteiga magicamente derrete e agora você pode misturá-la com o limão, o sal e o alho. Faça isso. No caso, derreti umas 4 colheres de manteiga.

Pra completar, dê uma chacoalhada num pote de tempeiro. No caso, chacoalhei o de pimenta do reino. Mistura tudo e começa a passar no peixe.

Com o instrumento correto, abra a barrigada do peixe (note que já deve haver um bom corte ali, por conta da limpeza feita na peixaria) e sapeque umas boas colheradas dentro dela. Passe um pouco na parte de fora e embrulhe a tainha. Se você for malaco, vai fazer uma espécie de conchinha com o papel alumínio, e então poderá depositar uma ou duas colheres de tempero a mais antes de fechar o alumínio. Isso vai ajudar a sua amada tainha a beber mais limão, mais sal, mais pimenta, mais manteiga e mais alho, ficando mais... gostosa.

Embrulhada a nossa feliza nadadora, deita ela na grelha, no andar de baixo, tomando conta apenas do fogo não ficar muito alto. Cuidando pra não deixar a chama queimar o papel alumínio. Deita ela, enxuga 3 latinhas, vira com muito cuidado e enxuga mais 3. Você, à medida que vai bebendo, começa a sentir o cheiro da tainha ficando legal. Ok, findas as 6 brejinhas, abra o papel com a faca, sem necessariamente desembrulhar. Abre um corte na parte de cima e vai abrindo o papel que já tá bom. 

Pra servir, deite a tainha com papel alumínio e tudo na tábua. Ofereça um garfo para cada convidado e dê a largada: as pessoas vão voar sobre o seu peixe. 

Cuidado com as espinhas, a tainha tem montes delas. A boa notícias é que elas são grandonas, e só vai se engasgar aquele mais morto de fome. Mas aí, como dizem: apressado come cru e se engasga com a espinhona. Avise a ele que a sua parte tá feita.

O peixe fica bem legal. Pra provar isso, reproduzo aqui uma conversa telefônica gravada com autorização da justiça entre a minha esposa e a mãe dela, que por acaso é minha sogra:

- Mãe, tudo bem?
- Tudo, filha. Quer dizer, tudo menos o pedreiro que jhasck skdn kjnskdd;f bowjo aknx, cnskdj, o presidente lula que jksdn lsnjkdc kdnksdv ksjdvnbks e a ana maria braga que falou no programa dela que xzlkvs klvjx lcvnx jklcnv kxnv slkj e passou embaixo da mesa. Mas olha, como estava bom aquele peixe do Daniel ontem, hein! Mas não conta pra ele, senão esse moleque acha que eu sou mole. 

Alguns trechos dessa conversa foram retirados da transcrição por não ter absolutamente nenhuma relevância neste contexto, e, na verdade, em nenhum outro.

Ou seja, cumpra a penitência, asse o peixinho e ganhe o coração da sua sogra para todo o sempre. Mesmo que ela jamais admita isso. 

Rendimento: essas duas tainhas encheram o bucho de 4 pessoas, e ainda fiz uma pecinha pequena de lombo de salmão, que abordaremos em outros versículos.
Custo: as duas tainhas custaram R$18,00. Sei que paguei caro, mas estava em são paulo no meio do feriado, e sem a menor vontade de correr mundo atrás de peixe barato. Ah, 18 mangos tá bom, né?
Tempo de preparo: todas as latas que julgar necessário na cozinha, 3 de um lado do peixe e 3 do outro lado: sirva bêbado.

Este post é uma homenagem aos personagens desse post: Deus, minha sogra e a tainha, nessa ordem. Todos os 3 são seres vivos bacanas, com a exceção do peixe que eu prefiro morto.

Espetinho de camarão com areia da praia

Ah, as férias na praia.. Quem nunca passou férias inesquecíveis na praia que atire a primeira água-viva. 

Pois eu me considero um privilegiado. Como minha família tem raízes litorâneas, passei férias e mais férias na praia. Por muitas vezes, eu pisei descalço em poça de lama, naquelas intermináveis semanas de chuva. Comi muito pastel no Pezão, que depois criou a franquia Pastel do Trevo (e estragou tudo). Visitei númeras vezes o Forte São João e adorava admirar a orla do terraço, vendo os canhões e imaginando batalhas épicas naquele canal. Também fiz balada na Vila,  tomei batida no Oásis do Pedrão, pulei carnaval completamente embriagado e andei de banana. Pesquei no pontão, atravessei o canal de barco e fui de bonde até Itatinga. Atravessei o mesmo canal de balsa e peguei a trilha da Prainha. Visitei o SESC, tomei rabo de galo no Bud. Tomei outro rabo de galo no Bud, e mais outro. Tomei ponto e gesso precário no hospital. Isso tudo aconteceu numa época mágica da vida chamada adolescência. E o local mágico que me acolheu nessas aventuras foi um pedaço do paraíso bem pertinho do inferno chamado Bertioga


Bertioga, onde coisas estranhas acontecem. Aprecie com moderação.

Pois este blog mergulha nas profundezas do oceano pra degustar uma típica receita de praia: o espetinho de camarão. 

Pode ter certeza: em qualquer praia deste Brasil varonil, tem alguém de bermuda, chinelo e uma bandejinha de alumínio coberta com pano de prato, vendendo pequenos pedaços de felicidade frita e espetada. Do Oiapoque ao Chuí, tem. Em São Paulo, no Rio, na Bahia, tem. Se Minas tivesse praia, vendedor de espetinho de camarão também teria. 

A diferença é que nós não vamos fritar o camarão, e sim assá-lo na churrasqueira. Por dois motivos: o primeiro é que aqui a gente não fala de fritura, as coisas por aqui são feitas na churraca; o segundo é que fritar o camarão faz um furdúncio na cozinha da patroa, e na  brasa fica muito gostoso também. 

E o melhor de tudo é que essa receita chega a ser ridícula de fácil: espete o camarão, passe sal, coloque na churraca, conte até 10 e coma. Tá, vamos detalhar melhor esse processo pra não parecer que eu tou enrolando alguém aqui. Neste blog funciona assim: a gente promete, a gente entrega!

Fiz essa receita no auge da crise, quando o preço da carne encontrava-se impagável. Enquanto 1kg de picanha custava uns R$60,00, comprei uma bandeja com uns 300g de camarão vermelho com casca, congelado, por R$7,00. O legal do camarão vermelho é que ele é grandinho, e dá pra meter no espeto sem lambança. É importante ter casca pra ir pra brasa. E pra ficar com gostinho do camarão frito depois, né? 

É importante que ele esteja congelado, isso por um motivo operacional. Pegue um espeto duplo (pode usar varetinha de madeira também, deve ficar legal). Mexendo na bandeja dos camarões com a mão, você certamente começa a destacar um ou outro. Ele destaca da bandeja, mas continua duro. Aproveite a firmeza do camarão durinho e vá espetando todos, lado a lado, no mesmo sentido. Isso vai fazer toda a diferença na hora de assar. Sapeque sal fino, sem exagerar. Nem precisa se preocupar muito com isso, se ficar sem sal você coloca depois. 



Monta eles que nem criança na fila da escola: todo mundo no mesmo sentido, de um lado e de outro.

Montado o espetinho, manda pra brasa, nem muito no alto, nem muito perto do fogo. Você deve assá-lo, se lembrando de que se trata de uma carne sensível. Sabe quando o mulherio reclama que a gente não tem sensibilidade, e a gente tem que descer da boléia do caminhão e voltar todo cheio de dedos para com a dama? Pois então, trate o camarão assim: como uma donzela. No fim você vai acabar comendo mesmo... 

Coloque o espeto de maneira que fique com os rabinhos pra baixo. Vai assar num minuto, e dá pra notar que o camarão fica mais vermelhinho. Fica atento pra não passar que ele seca. Agora vire pro outro lado, de maneira que ele fique com as costas pra brasa. Deixe mais um pouquinho e tira do espeto, direto pra um prato. Sapeque limão, mas sem dó nenhuma. Experimente o primeiro. Se faltar sal, pode adicionar agora. Acho que você pode espalhar um pouquinho de alho frito, mas como eu não fiz assim, não posso garantir. 

Chame a galera e divirtam-se. Essa receita é bem legal pra ir fazendo enquanto assa um peixe, por exemplo. Como eu sempre digo, não faça a cagada de assar peixe e carne no mesmo churrasco, e isso vale também pro camarão. Entendeu, né? OU carne, OU peixe.

O espetinho de camarão assado na churraca fica muito parecido com o frito, porém mais suave e muito menos gorduroso. A mulherada vai agradecer por isso, e a sua coronária também.

Custo: R$7,00 a bandeja com 300g
Tempo de preparo: 3 latinhas na cozinha, uma na churraca.
Rendimento: a bandeja de 300g encheu o espeto duplo da foto duas vezes. Ou seja: não mata a fome, mas dá bastante.

UPDATE: este post vale uma breja em dedicação a todos os amigos que fiz em Bertioga. Gil, Vandras, Guê, Gustavinho, Lígia, Joinha... tenho muito orgulho de tê-los ao meu lado até hoje.

Peixe na churrasqueira: Corvina


- Qual o seu último pedido, dona Corvina?
- Um espetinho de camarão, por favor.

Dando uma busca gooogle afora sobre a linda e faceira personagem desse post, a corvina, descobri um lance que me cortou o coração: pra pescar a corvina, recomenda-se utilizar como anzol camarão vivo ou morto. Que que é isso, meu querido... Eu não sou adepto de jogar nem cerveja na carne, porque minha cerveja bebo eu e carne nenhuma vai tomar por mim, imagina só se eu vou dar um camarão pro peixe... Sem chance! Mesmo que eu pesque o sabichão pra mandar pra grelha, ainda assim perco o camarão. Isso porque não dá pra pegar o peixe e deitar na grelha logo de cara. Tem que limpar a nojenta barrigada, e aí, amigo.. Bau bau camarão. Deixa o Forrest Gump saber disso.

Resumindo: o que os olhos não vêem o coração não sente. Vá à peixaria mais próxima e compre a corvina pré-pescada, pré-mortinha da silva e limpa. Assim você economiza um camarão e se livra da nojeira.

De corvina em punho, vamos preparar o tempero dela. É um molho bem simples e sem segredo nenhum: sal grosso, limão e salsinha.


Simples assim: cobre o fundo do pote com sal grosso, põe bastante salsinha e espreme dois limões.

Tem gente que não gosta de colocar limão, porque, uma vez na churraca, escurece a carne do peixe. Não ligo muito pra isso, porque fica muito gostoso de qualquer jeito.

Com uma folha grande de papel alumínio embaixo do comedor de camarões, coloque o molho na barrigada, e passe por fora dele. Admito que não precisamos de todo esse molho que eu coloquei na pança do peixe. Poder ser mais comedido.

Tá aí a bichinha embrulhada, pronta pra deitar na grelha.

Uma vez temperado, embrulhe o peixe em papel alumínio e coloque na lancheira das crianças. Há! Imagina o susto da criançada abrindo a lancheira no recreio e encontrar um peixe lá dentro? Depois ninguém vai querer brincar de passa-anel. Uma fanfarrice!

Tá, voltando ao preparo do nosso shrimp-killer. Embrulhe com papel alumínio e manda pra churraca, que já deve estar acesa e quente. Põe num andar intermediário. Nem lá no alto (demora) e nem perto da brasa (torra por fora). Deixe por lá umas 8 latinhas. Vire com muuuuuuuito cuidado e tome mais umas 2 brejas.

Quando a sua intuição disser: "Vai filho. Faz o teu melhor", faça o teu melhor: abra o papel alumínio. Experimente dar uma garfada de leve pra ver como ficou o tempero. Se tiver pedaços de sal grosso, pode passar uma faca de leve pra tirar.

Momento Freddy Krueger: De um só golpe, arranque a cabeça do peixe, embrulhe numa caixa de veludo e mande para a sua sogra. Se quiser mandar para a minha, me procura que eu passo o endereço. Uma vez decapitado, abra o peixe pela barrigada, se possível retire toda a espinha (normalmente ela solta fácil), sapeque bastante limão na carne e tá pronto.

A melhor maneira de servir é promover a famosa pia de porco; dê um garfo pra cada participante e cada um vai tirando um pedacinho. 

Essa receita faz o gato miar!

Dica1: Quando fizer peixe, nem pense em fazer carne também. Mesmo embrulhado, o peixe pode perder líquidos, que caem na brasa e fica cheirando. Definitivamente, cheiro de carne e peixe misturado é lambança.

Dica 2: Dá pra fazer de boa na churraquinha elétrica, eu mesmo já fiz. Na pequena de carvão, dá pra fazer, se a brasa não estiver com chamas. Só não recomendo fazer em apartamento por causa do cheiro de peixe. Se você tem estômago forte, vai em frente.

Obs: Tenho um filho de 3 anos, o Rodrigo. Inocentemente, peguei o garoto no colo pra mostrar o peixe na pia. Ele se cagou todo, saiu chorando e correndo. Portanto, evite pesadelos e não sacaneie seus filhos: não deixe ao alcance das crianças. Mas que foi daí que nasceu a idéia da lancheira, foi.

IPDA: Essa corvina custou R$11,00. Uma bagatela.
Tempo de preparo: Uma lata na cozinha, 11 na churraca. Sirva bêbado.
Rendimento: Essa aí encheu 4 panças.