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Como preparar uma FEIJOADA de mestre

Segunda feira chata como sempre, final de expediente, você aí dando aquela enrolada no trabalho, dia das mães já passou, bin laden bateu as barbas, e cá estamos nós, eu e você, já pensando na lambança gastronômica do final de semana. E, se o assunto aqui é esse, lambança rima com lembrança e vem comigo nessa rima pobre relembrar os primórdios da nossa culinária, chafurdando no caldeirão [/luciano hulk] de um dos mais tradicionais instrumentos da nossa cultura.

Assim como o futebol, o samba e a bunda, esse belo país em formato de bisteca também é conhecido no mapa-mundi pela Feijoada.

A história da feijoada todo mundo conhece, mas não custa dar a nossa versão relembrar: No século dezenove - eu odeio números romanos. odeio romanos [/asterix], a rapaziada mais abastada, assim como hoje em dia, não tinha lá muito apreço por pegar no batente, não. Assim como muito político que a gente conhece, nesse mundão sem fronteiras, quem tem dinheiro não faz, manda fazer. No século 19 as coisas eram ainda mais cruéis, vai vendo.

O coronel Coriolano, que aliás tem um belo nome, não tinha muito apreço pela fadiga. Gostava mesmo era de contar os seus contos de réis, devidamente ornamentado pela sua bombacha sobre a carroagem que o levava pela pradaria. Coronel Coriolano era um cara de vocabulário arcaico, por isso profiro aqui palavras tão prolixas.

Porém, para multiplicar os seus contos de réis, alguém naquela fazenda tinha que trabalhar, e nós aqui já sabemos que não seria o coronel Coriolano. Mas se o distinto senhor possuía providências, logo poderia comprar alguém para fazer isso no lugar dele, não? Pois foi assim que o coronel Coriolano procedeu, e logo aportou em algum local desse Brasil varonil um navio cheio de negros, feitos escravos.

Coronel Coriolano, um grandecíssimo calhorda, gordo como um porco, ficava ali, deitado eternamente em berço esplêndido, enquanto os negros trabalhavam no lugar dele.

Aí, o coronel mandava um negro abater aquele porco gordo (o bicho, não o coronel), retirava as partes nobres e mandava pros negros o que sobrava. Pés, orelhas, rabo.... E, gordo como um porco (o coronel, não o bicho), ria-se das desgraças daqueles pobres negros que, sem a menor culpa no cartório, sofriam as mazelas da escravidão no seu lugar.

Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada, já dizia o velho ditado. Se a vida lhe der um feijão, faça uma feijoada, diz o velho blogueiro. Se a vida lhe der um violão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um irmão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um sermão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um caminhão, faça uma feij... Você entendeu, aconteça o que acontecer, faça uma feijoada. E foi o que os escravos fizeram: juntaram todo aquele resto de porco, meteram dentro de um feijão e assim tava criado um dos pratos mais incríveis da nossa gastronomia.

E se for pra fazer uma feijoada, siga o procedimento abaixo. E, caros leitores.. o procedimento é longo e a labuta é árdua.

Portanto, agradeçamos à Princesa Isabel que, ao contrário de todas as outras princesas da história, fez alguma coisa realmente relevante e aboliu a escravidão. Escravidão esta que nem deveria ter existido, mas como algum idiota achou que seria legal dar um pulinho na África e cometer um dos maiores erros da história da humanidade, ainda bem que nós tínhamos a dona Isabel, que azedou com a graça do coronel e de mais um monte de aproveitadores, safados e vagabundos e botou todo mundo pra trabalhar.

Agora vamos ao procedimento. Estamos levando com consideração que você vai fazer uma feijuca pra um monte de gente, portanto a quantidade de ingredientes vai ser colossal. Prepara que você vai, literalmente, suar sangue.

Pela primeira vez na história desse blog, vamos abrir mão da sacanagem de simplesmente ir jogando ingredientes a esmo no meio do texto, e vamos fazer uma listinha com tudo o que você precisa ter em mãos pra preparar uma boa feijoada.


Hora do prejuízo. Prepara o pelego, monta no pangaré e dirige agora essa carcaça surrada até o supermercado mais próximo. Pegue um carrinho grande e senta que lá vem a história.


  1. Esquece o bacon defumado. Compre uns 400g de barriga de porco, aquela crua mesmo;
  2. Se não tiver arroz na sua casa, compre. Feijuca sem arroz é como mulher na TPM: não adianta o quão você se esforçar, você não vai conseguir comer;
  3. 1kg de feijão preto;
  4. Salsa;
  5. Alho;
  6. Umas 4 cebolas grandes;
  7. Um maço de couve-manteiga, que não tem nada de manteiga, mas assim foi denominada;
  8. Uma peça de costela de porco de uns 2kg;
  9. 1/2kg de carne de charque, um tipo de carne seca;
  10. Duas orelhas de porco, daquelas salgadas;
  11. Um rabo de porco, igualmente salgado;
  12. Um pé de porco, salgadinho, salgadinho, só no sapatinho [/só pra contrariar];
  13. Uma linguiça portuguesa defumada;
  14. Uma linguiça calabresa também defumada;
  15. Dois paios, defumadinhos defumadinhos, só na fumacinha [/bob marley];
  16. Um codeguim, seja lá o que isso signifique, mas já chegamos lá;
  17. 1kg de bisteca de porco em fatias;
  18. 1/2kg de farinha de mandioca;
  19. 6 limões;
  20. Pimentas diversas, se vira;
  21. Colorau;
  22. Umas folhas de louro;
  23. Azeitonas.

Já deu pra perceber que isso aqui vai dar trabalho, não é? Assim como já deu pra perceber que o preju aqui vai ser grande, não é? Pois é, mas isso aí serve pra alimentar um pelotão. Portanto, se você pretende alimentar um pelotão, siga os procedimentos e leve o prejuízo.

O primeiro passo é lavar 1/2kg de feijão preto. E como lava? Mete num pote, abre a torneira e deixa passar água. Parceiro, meu lado ogro me diz que esse negócio vai ferver tanto, mas tanto, que você nem precisa se preocupar com bichos ou agrotóxicos. Chora, Doutor Bactéria, que dessa vez a gente vai levar os anticorpos da galera ao limite!

Lavado ou não, pegue o 1/2kg de feijão e mergulhe na água. Pega um pote bem grande, joga o feijão e manda água pra dentro. Sabe aquele lance que a gente chafurda na cerveja e fica todo inchado? Então, acontece o mesmo com o feijão. Então, pensa num pote grande, porque os grãos vão crescer bem. E enche bem de água. Deixa isso quietinho e vai acender a churrasqueira.

Churrasqueira??? O mais sensato dos leitores certamente vai pensar que este blogueiro está viajando na maionese, na mostarda e no catchup, mas não: eu não estou viajando.

Vamos por partes, já diria o jack estripador, embora eu prefira muito mais o jack daniels.

Pé, orelhas charque e rabo do porco
Como lidar com essa verdadeira carnificina suína salgada e depilada que tá aí na sua frente? É, essas partes são meio bizarras quando cruas, mas não tem jeito: você tem que meter a mão nesse trem aí. Abre a torneira, lava bem pra tirar o sal e chafurda numa bacia grande, cheia de água. Você tem que fazer isso pra tirar o sal dessas peças.. Se deixar do jeito que tá, a sua feijoada vai ficar mais salgada que o mar morto. Se não entendeu a piada, vai pro goooooogle. É importante deixar de molho umas 5 ou 6 horas, trocando a água de hora em hora. Fica atento no silvio santos, passou o resultado da tele-sena, troca a água.

Costela e barriga
Você acendeu a churrasqueira, certo? Então joga um salzinho em cima da costela e coloca na churraca, de maneira que as labaredas não encostem na costela. Nem na sua e nem na do porco. Se você sabe o que fazer com a barriga, empurra com ela fatia ela em pedaços da espessura de uma caneta e coloca ela na grelha. Mas coloca beeem longe da labareda, porque a barriga perde muita gordura, que faz as labaredas ficarem encapetadas. Pra evitar um incêndio, deixa a barriga longe, de maneira que ela asse, mas demoradamente. De vez em quando, dá uma passada na churraca e tira as peças quando elas estiverem bem assadas, com cara de bem passadas. Quando a costela estiver OK, use uma faca e separe as costelas no osso, como se fosse servir. E tira esse olho gordo e essa mão boba daí, senão vai faltar costela na sua feijoada. Deixa isso tudo bem guardado num buraco na periferia de jalalabad.

Pensa no timing da coisa: você colocou as coisas na churraca, e não vai ficar ali de bobo do lado dela esperando ficar pronto enquanto tem uma trabalheira te esperando lá na cozinha, vai? Sim, vai Não, não vai, né? Então pensa que o procedimento abaixo pode ser feito durante o procedimento anterior. Uma verdadeira confusão, mas vai por mim que no fim dá certo.

O couve, parte 1
O couve é meio esquisito, mas é assim que a couve se chama. O couve. Nos tempos modernos, quando rapaziada muda de roupa, muda de time e valdemar vira valdirene, relaxa e chama a couve de o couve.  O que importa realmente é que você precisa lavar esse treco aí. Abre bem, separa as folhas, mete numa bacia cheia de água e com um gole de vinagre. Deixa lá por uma meia hora e vai fazer outra coisa. E não é playstation, é trabalho, merrrmão!

Por falar me trabalho, vamos inaugurar os trabalhos? Corra o mais rápido que puder até a sua geladeira, abra uma latinha de cerveja e fique mais feliz.

A farofa
Você deve cortar meia cebola em rodelas, o que é bem fácil. Nem vou te contar como fazer isso, você vai saber. Aproveita essa levada toda de picotar as coisas em rodela, e picota umas 5 azeitonas em rodela, se lembrando de retirar os caroços antes, sob pena de causar sérios danos à lâmina da sua faca. Picota também uns 3 dentes de alho, de qualquer jeito. Não precisa ficar muito bonitinho não, desde que esteja pequeno.Corra na churrasqueira e retire umas 2 fatias de barriga, mesmo que elas não estejam prontas. Picota a fatia em pedaços do tamanho de uma ervilha.
Pronto, agora vamos pra panela. Jogue uma golada de azeite na panela, bote pra esquentar. Na sequencia, jogue lá dentro os pedaços de barriga, e uma folha de louro. Mexa com uma colher de pau, senão as barrigas grudam no fundo da panela, e nós não queremos isso. Quando achar que tá ficando bacana, jogue também as cebolas e azeitonas em rodelas. O cheiro já começa a ficar complicado de segurar.. Mexe até que as cebolas comecem a ficar amarelinhas. Na sequencia, jogue o alho e mexa, até que o alho comece a escurecer um pouco. Agora, jogue a farinha, e mexa muito, sem parar. Por uns 20 segundos, depois você deve desligar o fogo. A farofa queima muito rápido, portanto é bom desligar. Experimente um pouquinho, e se achar que deve colocar mais sal, adivinhe: coloque mais sal. Feito isso, pode guardar a farofa num esconderijo numa mansão no paquistão.

O feijão, parte 1
Bom, vamos começar a cuidar do feijão, afinal de contas, isso aqui é uma feijoada e nós não estamos aqui pra enganar ninguém com uma feijoada sem feijão. Jogue o feijão todo numa panela de pressão, com o pé de porco, a orelha, o charque e o rabo, que já devem ter passado por todo aquele procedimento de lavagem. Ponha água até o limite de segurança da sua panela, feche e mande pro fogo por uma meia hora.

O couve, parte 2
Enquanto o feijão tá levando muita pressão [/bonde do tigrão], enxágue as folhas do couvão, junte todas, enrole e comece a cortar fininho. Entendeu como faz? Você tem umas folhas grandes e precisa fazer aquilo ficar como um macarrão, que é o jeito que o couve fica quando vai pra mesa. Usa a cabeça que você vai entender. Feito isso, picote uns 2 dentes de alho. Numa panela, jogue mais uma golada de azeite, e comece a fritar o alho. quando ele começar a mudar de cor, manda lá pra dentro todo o couve feito em tirinhas. Mexa bastante, e frite até ficar escuro e molenga. se precisar, manda mais azeite pra dentro. Quando escurecer e amolecer, jogue um pouco de sal e guarde nas cavernas do afeganistão.

A bisteca, parte 1
Num pote, esprema (JAMAIS inverta o P e o R de lugar, sob sério risco de acabar com a receita. Se fizer isso, nem me chama pra comer essa bomba) um limão, picote um dente de alho e dê uma colherada pequena de colorau, com umas pitadas de sal. Misture todo esse treco e mergulhe as bistecas.. feche o pote e chacoalhe como se não houvesse amanhã. Pensando bem, uma pitada de pimenta do reino deve ajudar essa mistura aí. Deixe descansar, por mais que o porco já esteja morto sem a menor necessidade de descanso. Enfim, você entendeu.

Nesse tempo, se a meia hora do feijão já passou, tudo bem. Deixa todo mundo fechado dentro da panela e segue os procedimentos.

O feijão, parte 2
O procedimento é abrir a panela tomando todo o cuidado do mundo com a pressão que tá rolando lá dentro. O ideal agora é você transferir tudo pra uma panela realmente grande, que caiba o dobro do feijão que você tem, ao menos. Feito isso, deixe a panela aberta no fogo médio até o final da receita toda. O lance da pressão é que ela ajuda a amolecer um pouco o feijão, mas todo o resto fica melhor em panela aberta. Põe bastante água nesse feijão e mexe de vez em quando, pro feijão não colar no fundo da panela.
O tempero do feijão é simples. Tenha em mãos, mas não necessariamente NAS mãos, uma cebola picotada, 4 dentes de alho picados, duas folhas de louro e o resto todo da barriga de porco cortada em pedaços pequenos. Numa outra panela, jogue uma golada de azeite e deposite ali as barrigas todas com as folhas de louro. Siga a sequencia das cebolas, alho e pronto. Quando todo mundo estiver bem fritinho, jogue na panela do feijão, com azeite e tudo.

Pescaria
Pode largar a varinha e a minhoca (ui), o lance agora é dar uma olhada no meio do feijão, e tentar resgatar o pé do porco. Isso porque ele tem muito osso, e nós não queremos que aquela tia bacanuda que gastou vinte mil reais na sua prótese detone a lustrosa dentadura com um pedaço de osso, certo? Portanto, é legal pescar o porco pelo pé, retirar toda a carne possível e jogar o osso fora.

O arroz
Ah, esse post já tá muito longo e eu não vou ensinar ninguém a fazer arroz. Pelo menos não agora. Dá seus pulos aí, parceiro, e prepara um arroz

Feijão, linguiças e costela
Com a panela aberta, você mexendo toda hora e aquele caldo começando a engrossar, hora de descobrir onde enfiar toda aquela linguiça. E antes que o leitor utilize o lado negro dessa mente putrefacta, as linguiças todas devem ser depositadas na panela do feijão, sem furar, sem abrir, sem fatiar. Linguiça inteira, compana. Manda pra panela, elas devem ficar pelo menos uma hora lá dentro. O mesmo pras costelas. Aliás, a costela tem uma tendência a desmanchar, e você pode deixar desamanchar mesmo, ou separar metade das costelas pra colocar só na hora de ir pra mesa.

O molhinho de pimenta
Essa parte fica em aberto. Muita gente põe a pimenta sozinha na mesa, muita gente faz um molho usando o caldo do feijão, mas eu vou ensinar um molhinho que eu acho porreta, receita da vovó (claro, né). Bom, picota meio maço de salsinha, espreme uns 6 ou 7 limões, e adiciona um pouco de pimenta vermelha. Só isso. Esse molhinho, quando jogado em cima do prato de feijoada, faz o palhaço chorar.

A bisteca, parte 2
Tamos quase lá, rapazeada. Tá acabando a trabalheira e tá chegando a hora da comilança. Aqui não tem segredo, é só fritar as bistecas até ficar bem passada. Na hroa de servir, joga em cima dela um pouco de salsinha e põe limão cortado na mesa.

Pronto, pessoal Acabou a saga. Agora é tirar tudo o que estava escondido por aí, colocar todo mundo na mesa e lavar a alma. O resultado é esse aqui:




Custo: Ah, é caro. Dependendo de onde você vai comprar, dá pra gastar mais de R$60,00 com esses ingredientes.
Tempo de preparo: Demora muuuuito. Só o feijão, fica no fogo umas 5 horas, fora o tempo pra tirar o sal do porco, churraca, enfim. Se você ficar bebendo cerveja o tempo todo, vai servir a feijuca em coma alcoólico. Toma cuidado com esse pé de cana aí, parceiro.
Rendimento: Dá pra uma galera. Já fiz feijoada pra 16 pessoas com esse volume de ingredientes.

    Resultado da promoção: Quem vai levar linguiça dessa vez?

    Rapazeada, entrei numa roubada. Na segunda roubada, aliás.

    A primeira aconteceu há algumas semanas atrás, quando o Renato da La Bragantina me mandou 7kg de linguiça pra experimentar,  e eu tive que vasculhar o dicionário atrás de palavras que explanassem a minha opinião sem comprometer o "sexo: M" que tem no meu RG. Creio que consegui, e a voracidade com que os leitores do blog se cadastraram pra entrar nessa me deram a tranquilidade de que estamos todos na mesma levada.

    Primeiro, foi a minha vez de pagar o mico, mas eu tinha o benefício da vingança ao meu lado, pois sabia que a promoção renderia dois incautos leitores que seriam massacrados aqui neste post, eu poderia tripudiar sobre as suas almas, pois eles deixaram seus nomes e e-mails ali no box, ávidos por SETE QUILOS DE LINGUIÇA, e.... eis que caio novamente numa roubada.

    O sorteio se procedeu hoje à tarde, diante da auditoria da minha esposa, sob o testemunho da Preta, a mais imaculada vira-latas da história da desenvoltura canina aleatória (sim, esse é o nome culto dos vira-latas), sob a responsabilidade da Júlia, minha filha de 11 anos que, com a inocência de uma criança e a malemolência de uma pré-adolescente, sacou 2 papéis com os nomes dos candidatos.

    Minha alma ria-se dos pobres leitores que seriam achacados nestas linhas, até que... duas mulheres foram sorteadas. COMO ASSIM????

    Pensa comigo: Aqui a gente respeita a mulherada, certo? Por vários motivos que a gente nem precisa citar. Eu, por exemplo, tenho mãe, irmã, esposa e filha. Se eu não aprender a respeitar essa mulherada, segura a TPM depois como é que fica?

    Diante dos fatos, como é que eu vou sacanear duas garotas que eu não conheço, que podem ter maridos, e esses maridos podem ser policiais, lutadores de vale-tudo, matadores de aluguel, gerentes da minha conta no banco, mecânicos do meu carro, proctologistas quando chegar o dia do meu exame? Como, Deus do céu, eu vou me vingar nessa vida?

    Não me resta outra alternativa a não ser engolir o choro e limpar a cara pra respeitosamente contar pra vocês que as duas felizes ganhadoras que levarão 7kg de um saboroso condimento para casa são:

    Rosana Modesto Gomes
    e
    Beth

    Antes que você me pergunte porque a Beth não tem sobrenome, eu respondo: porque ela não digitou o sobrenome no campinho. Mas isto não é um problema, pois o e-mail foi preenchido, e vamos contactá-las diretamente por e-mail.

    Ainda não foi desta vez que sorteamos uma Ferrari, nem uma conta recheada nas ilhas cayman, nem um anão na ilha da fantasia. Mas fique atento, pois outras promoções hão de pintar por aqui.

    Aos que não ganharam, não chorem, marmanjos. Carreguem esse corpo nefasto até Bragança Paulista e visitem a sede da La Bragantina.

    Agradecimentos especiais ao Renato, com quem dei muitas risadas nos e-mails que trocamos acertando os detalhes da promo. Vida longa à LaBragantina!

    O dia em que eu ganhei linguiça

    Caro leitor,

    Este é, certamente, o post mais atrasado, mais reticente e mais enrolado da história deste blog. Sim, estas linhas já deveriam ter sido escritas há algumas boas semanas. Mas não, eu protelei enquanto pude, enrolei, mastiguei, digeri até sucumbir e cá estou eu, diante do teclado sob o sol desta terça-feira.

    Antes que você possa olhar os ponteiros do seu relógio e praticar a tabuada do cinco, cá estou eu, mais uma vez tentando terminar este post. Sim, mais uma vez, porque eu já tentei várias.

    Aí o mais criativo leitor logo pensa que tá faltando assunto, que o blogueiro em questão deveria assinar algum jornal, decorar algumas piadas, ou talvez consultar alguma enciclopédia, em busca de algumas palavras que possam ilustrar as vossas mentes nessa grande churrascaria da vida.

    Mas não, não está faltando assunto por aqui. Inclusive, acho que nunca tive tanta pauta armazenada pra escrever no blog. Então, qual o problema que fez com que este post saísse assim, tão atrasado? O motivo é um só: vergonha.

    Sabe quando você entra numa situação tão complicada, que chega uma hora em que você já não sabe mais como sair? Então, é isso.

    Lê rapidinho aí porque eu só vou escrever uma vez:
    Tem um cara que me ofereceu a linguiça dele. E não é uma linguicinha qualquer, estamos falando de 7Kg de linguiça. Aí ele trouxe pra mim, e eu experimentei. E sabe o que é pior? Eu gostei!!

    E não conta pra ninguém, senão tu vais se ver comigo. Segura esse riso aí, moleque!

    Sentiu o tamanho do problema? Isso aí é cilada pra fazer o bruno mazzeo parecer só o filho do chico anysio. Como é que eu ia achar uma maneira de falar isso sem me colocar numa roubada? Quais as palavras pra explicar uma coisa como essa pro ilustre leitor desta porcaria? Aliás, isso tem explicação?

    Tem. Senta aí que eu te explico.

    Sentou?

    Sei.... kkkk

    A história é a seguinte: Tudo começou com um e-mail. Eu deixo o meu e-mail aí, disponível na barra lateral, e recebo e-mails frequentemente, de leitores do blog, de empresas querendo vender curso de esperanto, palestra de auto ajuda, de empresas bacanas oferecendo alguma promoção, enfim. Mas desta vez, o e-mail foi inusitado.

    O remetente deste e-mail é o Renato, um cara que tem uma fábrica de linguiças especiais lá de Bragança Paulista. O Renato é o tipo do cara que confia no próprio taco. Deixando sempre bem claro que eu não tive nenhum tipo de contato com o referido taco, sendo esta apenas a aplicação de uma força de expressão.

    O Renato foi direto ao assunto: traria um pouco da linguiça da sua fábrica pra mim, e eu falaria aqui no blog o que bem entendesse. Muito corajoso, esse cara. Aceitar uma coisa dessas sem ressalvas, sendo eu um estranho? Mas não, o Renato confiou no seu taco, ou melhor, na sua linguiça mais uma vez e levamos a idéia adiante.

    Coincidentemente, ele acelerou o seu bólido em direção à nossa poluída capital para me entregar a linguiça justamente no dia em que eu estava num churrasco na casa de um amigo, com um monte de gente que sequer sabia da existência deste blog. Ou seja: se o objetivo é avaliar o produto, não pode ter uma situação mais imparcial do que esta: churras em local neutro, cheio de gente que nem sabe o porque daquela linguiça estar lá. Bota na roda e bora lá ver o que vai dar.

    Assim, o Renato gentilmente levou os 7kg de linguiça até a casa de meu amigo, me entregou e a mesma já foi pra grelha naquela mesma hora. O veredito, eu conto daqui a pouco.

    Eram 7kg de linguiças especiais. Mas não apenas uma linguiçona, ou gomos, nada disso. As linguiças da fábrica do Renato, que se chama La Bragantina, são inteiras, em peça. Aquela linguiça tradicional mesmo, enrolada em uma peça de 1kg. Na minha opinião, a melhor maneira de preparar linguiça. Além disso, eram 7 kg, porque eram de 7 e modalidades diferentes. Vamos a eles:

    1. Comecemos pela linguiça tradicional. Ela é a base de todas as outras. Ou seja: Todos os outros 6 tipos de linguiças que me foram ofertados eram a tradicional, acrescida de temperos e acepipes afins. O veredito é muito positivo. Uma saborosíssima mistura de carnes de porco (lombo, coisa fina), muito bem temperada, coisa boa. 
    2. A segunda foi a linguiça calabresa apimentada. Particularmente, não sou fã de linguiças apimentadas. Mas tenho que confessar que, se tem uma coisa que a La Bragantina sabe fazer, é ponderar muito bem a pimenta. Saborosa, mas sou suspeito pra falar.
    3. A terceira foi a de ervas finas. Muito boa. Muito mesmo. Deu pra sentir um sabor bem forte de erva doce, bem saborosa. Recomendo.
    4. Provolone: Isso mesmo que você tá lendo. Linguiça de lombo de porco com provolone. Bastante provolone, não estamos falando de miséria, não.
    5. Linguiça de alho: Essa aqui foi o único ponto de discórdia. O pessoal curtiu, mas eu achei muito pegada no alho. A ponto de conseguir ofuscar os temperinhos da linguiça que, como frisados anteriormente, são muito bem equilibrados. 
    6. Poutz, agora se prepara pra babar no teclado. LINGUIÇA DE PIMENTA BIQUINHA. Gente, vocês não tem noção do que é isso. Recapitulando: a linguiça deles é uma massa de carnes nobres de porco muito bem temperadas, certo? Aí você pega e enche essa massa de pimenta biquinha. Mas não é aquele lance industrial de moer a biquinha junto da carne, não. A pimenta vai INTEIRA. E de monte, sem miséria. Isso significa que você sente a pimenta, uma delícia. E como a biquinha está longe de ser ardida, é muito mais uma pimenta aromática, faz dessa linguiça o grande produto da La Bragantina. Sério, já tenho pedidos de vários amigos aqui pra fazer ao Renato. Recomendo seriamente.
    7. O último produto é inovador, e muito bacana. É uma espécie de hamburguinho quadrado de linguiça. Ou seja: a carne da linguiça, prensada num formatinho quadrado. Essa eu não fiz na churraca. Mas fiz na chapa, num dia de frio. Muito gostosa como aperitivo, fez sucesso.
    Por fim, o Renato estava certo em confiar na própria linguiça. O desafio foi vencido.

    E se você pretende ficar rindo da cara do blogueiro aqui, que teve que encarar 7kg de linguiça e ainda contar pra todo mundo o que achou, pode começar a suar frio aí na sua poltrona, porque, amigo leitor: vais entrar nesta comigo.

    A La Bragantina, representada pela figura do seu presidente-master-dono-patrão Renato, vai sortear mais 2 Kits de 7kg de linguiça para os leitores do blog. Pois estamos quites, caro leitor.

    Para participar, basta assinar a nossa newsletter. Note que na barra lateral, agora existe um box para cadastro de newsletter. Quero começar a enviar, de acordo com todas as regras e bom senso que a utilização de e-mail marketing precisa, a enviar para os leitores pequenos resumos do blog, assuntos sobre churrasco que eu não escrevo aqui, enfim. Pode confiar que não vamos mandar spam pra você.

    Então está valendo! Para concorrer a 7kg de linguiça, basta deixar seu nominho e e-mail no box que tem na lateral do blog.

    O sorteio será na QUARTA-FEIRA, DIA 15 DE SETEMBRO DE 2010.

    Participe, aposto que você vai adorar atender a campainha de casa e encontrar um cara com 7kg de linguiça pra você.

    Para os que se interessaram, mas não tem sorte e não ganham nem par ou ímpar, segue abaixo o contato da La Bragantina. A visita à Bragança Paulista é sempre agradável, a linguiça é espetacular e o brecinho é de brimo.

    La Bragantina
    Avenida Norte-Sul, 446
    Bragança Paulista - SP
    Fone: 11 4032 7087
    www.labragantina.com.br

    UPDATE => Recebi do Renato algumas fotos dos produtos da La Bragantina. Dêem uma olhada no que eu tou falando:







    Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

    Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

    - Mentiroso, safado, vagandundo!

    O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

    cabou o post.
    ...
    ...
    ...
    cabou, não.

    Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

    Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

    Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
    A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
    Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

    No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

    Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

    Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

    Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

    Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

    Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

    O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

    Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

    Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

    Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

    Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

    Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

    Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

    Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

    Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

    Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

    Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

    Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

    Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

    Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

    Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

    Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

    Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

    O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

    Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

    Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

    Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

    Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
    Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
    Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

    Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
    Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
    Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.

    Linguiça Alheira, uma epopéia tipicamente portuguesa

    Querido leitor, se você já leu o meu nome alguma vez aqui, pôde notar que o meu sobrenome é Rodrigues. Com isso, o astuto leitor pode, também, supor a origem desse nome. Se não pode supor, existe uma grande chance de termos um fator preponderante em comum: o sangue lusitano corre desgovernadamente em nossas veias, parceiro.

    Então, podes imaginar que, há quase um século atrás, um tal Seu Rodrigues partiu de além-mar, com mais alguns patrícios, pra varar esse marzão rumo ao desconhecido e abrir uma padaria aqui. Tá, bisavovô não abriu uma padaria, mas o gosto pela culinária lusitana veio com ele, se transportando irremediavelmente através do DNA dos seus futuros predecessores.

    Dentre as iguarias da culinária de nossos gentis colonizadores, destacamos especialmente uma: a linguiça alheira, convidada especial deste capítulo nesta novela da vida :-)

    Bisavovô veio lá da terrinha, e numa casinha do bairro do Brás saboreava alheiras com o menino Renatinho, que viria a ser meu querido e saudoso vovô. O menino Renatinho cresceu (digo, ficou mais velho, porque grande ele nunca foi) e virou o Seu Renato Rodrigues, cultivou um suntuoso bigode e foi pra guerra. Guerra?
    Momento história de família: Meu avô foi pra guerra como voluntário. Certa vez, eu perguntei porque ele foi voluntário, e a resposta foi sensacional: No dia do alistamento militar, havia um tenente carioca selecionando os possíveis soldados, já com a guerra em curso, e com a iminência do Brasil entrar. Pois em algum momento, o tal tenente falou, ou sugeriu, que paulista era tudo boiola e ninguém tinha coragem de enfiar o dedo na cara do alemão. Nesse momento, Renato, o marrento, levantou-se e bradou que tinha coragem sim ia mostrar pro tenente carioca com quantos bigodes se faz um chucrute. E assim, o bravo soldado Renato Rodrigues adentrou as fileiras da Força Expedicionária Brasileira. Ele nem queria ir, mas aquele tenente era folgado demais e isso não dava pra suportar.
    E lá na guerra, o soldado Renato não parava de pensar nas tardes que passava com o pai, o Seu Rodrigues (então, falecido) saboreando acepipes. Ansioso pelas alheiras e com saudades do Brasil, o soldado Renato Rodrigues deu um jeito no alemão, acabou com a guerra (palavras dele. Vovô afirmava categoricamente que acabara com a guerra sozinho) e voltou ao Brasil para cair diretamente no colo de vovó, que já citamos largamente neste blog. Adiantando a história, vovó e vovô se casaram e tiveram dois lindos filhotes: papai e a minha tia Lídia.

    A história se repetiu, e papai e vovô adquiriram o hábito de saborear alheiras com uma certa frequencia, como um ritual familiar, a ser passado do mais velho pro mais novo.

    Mas a alheira não é uma linguiça muito fácil de se encontrar, e os fornecedores de alheiras que abasteciam vovô e o menino papai com sua mercadoria foram ficando cada vez mais raros, até que eles decidiram que era a hora de fazer a sua própria alheira. E assim fizeram, até que papai conheceu mamãe, eu nasci, cresci e todo final de semana tinha alheira na casa de vovó, pra saborearmos enquanto a refeição não vinha. Até que vovô veio a falecer, em 2002, e as alheiras acabaram rareando na casa de vovó. Aqui começa a nossa história pra valer.

    Com esse blog e as consequencias gastronômicas que ele trouxe, achei que havia chegado a hora de me juntar a papai pra fazer o furdúncio na cozinha lá de casa e preparar as alheiras, pela primeira vez na minha vida. Baita honra, essa.

    Nossa história começa no Mercado Municipal. Acordei cedo num sábado pra comprarmos os ingredientes no famoso templo do sanduíche de mortadela e um local sensacional pra comprar temperinhos e coisas que.. bem, que só tem lá. A visita ao mercadão, por si só, já dá um post. Portanto, vamos à receita, falo do Mercado Municipal em outro post. Entenda apenas que compramos tudo no sábado, pra prepararmos as alheiras no domingo.

    Domingo, precisamente na hora marcada, toca o interfone e meu pai chega. Um pouco mais tarde do que ele gostaria e algumas horas mais cedo do que eu precisaria, começamos os trabalhos. Até porque, trabalho é uma palavra que define bem a produção das alheiras: parceiro, te prepara porque essa receita dá um puta trabalho. Prepara a picareta, o muque e a força de vontade.

    O primeiro passo é cozinhar algumas das carnes. Na alheira, vai frango, e vários tipos de carne de porco. Comece jogando numa panela grande, 1kg de frango. No nosso caso, compramos a sobrecoxa, porque tem bastante carne e fica fácil desossar depois.

    Junto ao frango, adicionamos 1kg de lombo de porco cortado em cubinhos. Cortamos o lombo em vários cubinhos do tamanho de uma borracha de escola. Isso, lembra aquela borracha que vem com a capinha verde? Então, pega a faca, lembra dela e picota o lombinho do mocotó. Manda todo mundo pra panela.

    Um ingrediente comum a qualquer linguiça é a barriga do porco. Sabe o que é a barriga do porco? É como o bacon, mas não é defumado. É cru. CRU, mente maldita. Com o erre!! Recomendamos atenção a este ingrediente. Um pequeno deslize pode te levar a inserir a parte errada do porco na linguiça, e nós sabemos bem o que acontece quando a linguiça se relaciona com as partes erradas e nós não queremos isso na nossa receita, certo?

    Passados os entraves morfológicos da barriga do porco, picote aproximadamente 400g de tal elemento em cubinhos muito pequenos e jogue na panela junto ao lombo e ao frango. Cubra com bastante água, e bote pra ferver. Se quiser jogar um ou dois dentes de alho, não passe vontade.

    Prepare-se pra costurar. Isso mesmo que você ouviu. Costurar. Faça um recorte num pano de prato, tomando todo o cuidado para a patroa não perceber. Recomendo jogar o resto do pano fora. Bom, no quadradinho de pano, despeje umas 10 bolinhas de pimenta preta (é a pimenta do reino). Agora feche como um envelope, e dê um jeito de fechar. É aqui que entra toda a sua habilidade com a agulha e linha. Pra fechar direitinho, pode ser que você tenha que costurar o envelope. Larga mão de frescura, costura esse treco logo e manda pra panela.

    Enquanto ferve, você tem uma missão: arranjar 1kg de miolo de pão italiano. É, essa é dificil, parece gincana. E sabe como você cumpre essa missão? Compra muito mais do que 1kg de pão italiano, descasca e guarda o miolo. Se você é malaco, e eu confio na sua destreza intelectual, guarde as cascas pra fazer torrada ou algo do tipo.

    Se você demorou uma hora e meia pra buscar os pães e separar os miolos [/chuck norris], a carne deve estar pronta. Hora da pescaria!

    Pesque cuidadosamente todos os pedaços de frango e guarde. Depois pesque todo o resto das carnes. E guarde a água, você vai precisar daquele caldo de porco e frango.

    Com o frango, você deve retirar o ossinho do meio da sobrecoxa. Depois, seu trabalho é desfiar o frango. Como você vai fazer isso é problema seu. Entenda apenas que, das sobrecoxas que haviam ali, haverão apenas fiapos de frango, ok? Legal, feito isso, guarda esse frango ae.

    O porco terá um final muito mais trágico. Encarne o seu pior momento Sexta-feira 13 e moa toda a carne de porco. Isso mesmo, passe tudo no moedor, e tenha em mente que você vai precisar de um. Sem dó nem piedade, todo o lombo e barriga de porco vão virar uma verdadeira pasta.

    Estamos quase lá, ansioso leitor. Daqui pra frente, é basicamente misturar tudo e temperar. Mas vamos por partes.

    Pensa comigo, você já tem 1kg de lombo de porco, 400g de barriga do mesmo suíno, 1kg de frango e 1kg de miolo de pão italiano. Ou seja, temos quase 3,5kg de comida, fora o caldo da panela que reservou. Diante desse fato, admitamos que temos muita comida, certo? Então você pode imaginar que vai precisar sapecar toda aquela comida em algum recipiente, pra misturar tudo e fazer aquilo virar uma linguiça, certo? No nosso caso, lavamos uma bacia da lavanderia e foi lá mesmo que preparamos a iguaria.

    Bom, então prepara o muque que a labuta agora é cascuda. O trabalho consiste em jogar miolo de pão, lombo, barriga, frango e caldo das carnes, todo mundo na bacia, e misturar. Não tem milagre, tem que meter a mão e fazer força, muita força.

    Papai, ao mexer os ingredientes, lembrava-se das duas vezes que eu repeti de ano, ou seja: usou de violência. Porém, desta vez não contra este que vos escreve, mas contra os nobres ingredientes. Para a sorte deste que vos escreve. Caso contrário, provavelmente não mas escreveria.

    Enquanto isso, tratei de apelar para o bom e velho migué, e fui de fininho preparar o tempero pra jogar lá, mantendo papai ocupado.

    O tempero não é difícil, não. Num pote grande, joguei umas duas xícaras de azeite extra-virgem. Depois dessa trabalheira toda, nem pense em usar o azeite mais barato, ou achar que azeite e óleo de girassol são a mesma coisa. Sem serviço porco, mande lá duas xícaras de azeite extra-virgem, do bom.

    Picote, bem pequeno, 4 ou 5 dentes de alho. Aproveita que o ritmo tá bom pra picotar, e picote um maço inteiro de salsinha. Manda todo mundo pra dentro do pote.

    Hora das pápricas! Jogue uma colherada generosa de páprica doce pra junto do azeite, alho e salsinha. E como páprica pouca é bobagem, adicione uma colherada igualmente generosa de páprica picante. Seu molho vai ficar uma pasta meio vermelha. E, pra ficar mais vermelha ainda, jogue uma colherada sarada de um negócio chamado Colorau, que é um tempero à base de Urucum, e sabe-se lá o que isso significa, mas aprendi isso no Mercadão. Tá feito o registro. Recomendo picotar umas 5 ou 6 bolinhas de pimenta biquinha, porque essa fica gostosa até em pão com margarina.

    Uma boa golada de sal dentro do seu tempero e pronto, basta misturar tudo e jogar na bacia. Faça como eu, convença o seu pai a mexer um pouco mais pra misturar o tempero ao resto das coisas. Isto posto, papai se cansou um pouco mais e mexeu aquilo tudo.

    A linguiça tá pronta. Mas você não vai colocar a carne na tripa, aquela coisa toda, caro blogueiro? Não vou não, distinto leitor. A tradição familiar fez com que meus antepassados preparassem as alheiras sem, necessariamente, enfiá-las tripa abaixo.

    Normalmente, enche-se a linguiça, e coloca-se um gomo na frigideira, pra tostar. A linguiça incha, por conta do pão, estoura e você frita aquela carne. Sendo assim, o senso prático dos Rodrigues achou que o baita trabalho de encher a linguiça não valia a pena se, ora pois, ela iria estourar mais adiante. Portanto, esqueça a tripa e pense na linguiça como uma pasta de carne que você vai fritar.

    Preparando as alheiras
    Horas depois do início dos trabalhos, você está apto a experimentar esta saborosa iguaria. O preparo é fácil demais. No nosso caso, aquecemos uma chapa de ferro fundido na churraca. Quando estava tinindo de quente, joguei lá um golinho de azeite só pra molhar a chapa. Na sequencia, joguei uma colherada de alheira, e, com a espátula, fui amassando aquela pasta até ficar fininho.

    Depois, é só deixar lá e ir virando até ficar meio queimadinho dos dois lados. É assim que a alheira fica legal, porque o queimadinho é, na realidade, pão queimadinho. Pão queimadinho temperado. Com carnes. Com azeite. Não tem jeito disso ficar ruim.

    Com isso, dei, junto com meu pai, o meu passo no resgate de uma tradição familiar, o que, por si só, já é motivo de muito orgulho. E ainda por cima, ficou uma delícia. Ah, você tem que experimentar essa verdadeira tradição familiar. A pena é que vovô não está aqui pra experimentar a minha alheira. O lado bom é que todo o resto experimentou, porque nossa receita rendeu 5kg de linguiça. Aí foi só separar em saquinhos e mandar pra vó, pra tia, pra irmã...

    Em resumo, uma receita difícil e que dá muito trabalho, mas é muito fácil de acertar o ponto e extremamente saborosa. Uma verdadeira iguaria.

    Custo: Foi caro. Gastamos, fácil, uns R$40,00. Mas são 5kg de comida, né?
    Rendimento: 5kg, ué. Muita comida.
    Tempo de preparo: Nossa, umas 10 cervejas na cozinha, mais umas 3 na churraca. Sirva bêbado.

    Linguiça de picanha

    Neste blog eu nunca escrevi sobre linguiça (exceto a cuiabana, que é outra história). E isso tem um motivo bastante lógico: linguiça não tem receita. Quer dizer, até tem, mas a gente não vai chegar no ponto de comprar tripa, moer a carne e colocar lá dentro e tal. Esse é um processo mega trabalhoso, meio nojento e nem um pouco amigável. Além disso, existem vários tipos legais de linguiça à venda por preços honestíssimos por aí. Ou seja: Não espere que nós vamos estimulá-lo a moer a carne, temperar, enfiar tripa de carneiro abaixo pra depois fazer o nozinho na ponta. Nada disso, corre no açougue, no supermercado, na geladeira de sogra e compre uma boa linguiça (exceção feita à geladeira da sogra, onde deve-se praticar o furto, mesmo).

    Pois a boa notícia quando se fala de linguiça vem de um cara que tem um nome infame, mas um coração de ouro: O Rei da Linguiça. É, o Rei da Linguiça é aquele cara que começou de baixo, montou seu negocinho de encher tripa, cresceu e hoje é um cara foda nesse meio (sem trocadilhos, ok?). A única coisa em que ele não pensou foi que ele faria tanto sucesso, mas tanto sucesso, que o nome besta que ele escolheu pro negócio dele pudesse virar motivo de chacota. E virou. Pô, seu Linguiça, vacilou feio hein!



    - Eu já falei pro Bill que lá em casa só entra a linguiça do Rei.

    E eu resolvi experimentar a linguiça do Rei da Linguiça. E gostei.

    ATENÇÃO: Antes de continuar a ler este blog, certifique-se de que está em dia com a sua sexualidade, seja lá ela qual for, e tire da sua cabeça todo e qualquer pensamento maldoso e/ou capicioso. O editor deste pergaminho informa que "experimentar a linguiça", no nosso vocabulário, significa única e exclusivamente ato ou efeito de saborear um alimento. Toda e qualquer interpretação diferente desta citada, será considerada inapropriada, afronta, provocação, PALHAÇADA E QUERO VER VIR AQUI FALAR ISSO NA MINHA CARA PORQUE AQUI O SISTEMA É BRUTO, MOROU!!

    [Este site ficará fora do ar por motivos de força maior. Pedimos que aguardem o tempo da maracujina fazer efeito e releiam as regras acima dispostas, afim de evitar novos problemas]

    Ok, acalmados os ânimos, voltemos ao assunto que nos interessa.

    As linguiças do Rei da Picanha são diferenciadas, e é por isso que ele é Rei. Já viu o Pelé jogando? O cara era diferenciado, não? Por isso que é rei. E o Robertão? Cê acha que ele faz especial no fim de ano desde que a globo é globo porque? Porque é diferenciado! Lá em Cachoeiro do Itapemirim não tinha UM capaz de dar aquela risadinha sem-graça como ele, não tinha UM que usava uma pena no meio do cabelo que nem ele, e não tinha UM capaz de usar calça branca, camisa branca e paletó azul que nem ele, nem cantar de ladinho no microfone, nem dar aquela levantadinha brega na sombrancelha, enfim. Por isso que o cara é rei. Porque ele, o Pelé e o Rei da Linguiça são capazes de fazer um monte de coisas que eu e você não conseguimos fazer, e ainda meter gol, descer a Augusta a 120 por hora e enfiar a calabresa... bom, deixa pra lá.


    - Deita na brasa, mora?

    Essa conversa mole toda (sem trocadilhos, a brincadeira tá começando a ficar chata) era pra dizer que o seu Linguiça inventou um monte de tipos diferentes de linguiças recheadas muito bacanas. O preço não é dos mais baratos, mas a gente não tá falando de uma linguiça qualquer. É a linguiça do Rei, porra!

    Neste post, estamos falando da linguiça de picanha. Comprei uma embalagem contendo 4 linguiças grandes (limpa essa mente AGORA), pesando 400g. O que eu mais gostei foi o tempero, dosado na medida, e a honestidade na picanha. Porque muitas vezes você vê produtos (hamburgeres e outras merdas) de picanha que não tem nem o cheiro da mesma, e aí os caras entopem de tempero pra enganar. Essa linguiça parece bem honesta nesse sentido, por isso o tempero é bem suave.

    Pra preparar, é a coisa mais besta do mundo. Mete a linguiça na grelha (pensa bobagem agora, pensa) e deixa lá esquentando. Quando começar a ficar escura embaixo, é hora de virar. Como não é uma linguiça gordurosa, recomendo virar com cuidado pra não furar, senão ela pode perder todo o pouco líquido que tem e secar. Ficou escura do outro lado, mete na tábua, corta (tá vendo? pensou bobagem, ficou de linguiça cortada) e come.

    Custo:
    R$11,00 o pacote com 400g. Caro, mas trata-se de um produto de primeira. Não é pra servir num mega churras.
    Rendimento: Ah, alimenta umas 4 pessoas, mas você tem que ter outras carnes.
    Tempo de preparo: Umas 3 brejas de um lado, mais 2 brejas do outro: sirva alegre.

    Como eu fiz um churrasco pra 40 pessoas com R$175,00

    Antes de iniciar, vou avisar: este post é longo, e pra caraio. Trata-se de uma epopéia, e eu tou dando a dica pra você mandar um churrasco responsa pra 40 esfomeados com menos de 200 mangos, ou seja, menos de 5 cruzeiros por pança. Se você não tá afim de ler, leva a sua galera na churrascaria de sua preferência e hipoteque a sua casa quando chegar a conta. Esclarecidos os fatos, vamos aos assuntos que nos interessam.

    Eu não sou churrasqueiro profissional. E eu não quero ser churrasqueiro profissional. Me incomoda a idéia de fazer comida pra pessoas que não conheço. Incomoda também a idéia de fazer carne sem nenhum amigo pra bater um papo. Além disso, fazer carne sem enxugar umas boas brejas não faz o menor sentido. Eu, como churrasqueiro profissional ia passar vergonha. Ia encher a cara em todo churrasco, queimar o meu filme, e no final sairia breaco demais e nem ia lembrar de cobrar o meu dinheiro. Por isso que eu faço carne pras pessoas que eu gosto e tá bão por aí. Claro que existem excelentes profissionais por aí e eu acho super bacana. Pra eles. Pra mim, carne e trampo não se misturam.

    Só que nesse final de semana eu fui churrasqueiro profissa por um dia. Foi o aniversário da minha queridíssima sobrinha Nicole. Vã, a mãe dela e minha prima-irmã, queria fazer um churras pra chamar a tiarada, primaiada, molecada, padrinhada, vizinhada, hunos, godos e visigodos. E me pediu pra cuidar da parte da carne. Eu não tinha como dizer não. É pra Nick, pô!! E aceitei o desafio de cuidar de um churras pra 40 pessoas. Peguei 200 cruzeiros com a Vã e  bora pro jogo. 

    Vem comigo fazer uma continha. Aproveita que a minha filha teve prova de matemática ontem e eu estudei com ela, e a conta tá quentinha na cabeça: 200 fuckin mangos é um dinheirão, né não? Éééééé... opa, então sente o problema chegando:

    Pedrinho foi ao açougue comprar carne pra 40 pessoas. Se o preço da picanha anda valendo R$30,00 em média, qual dos dois rins o Pedrinho vai ter que vender pra pagar esse banquete: o direito ou o esquerdo? Sem rim, como ele vai processar a cerveja do churrasco? Tem chance disso dar certo?

    Pois então, foi assim que eu me senti. E ao contrário do Pedro Bial, encarei o paredão e dane-se os 300 milhões de votos (a globo acha que a gente tá na china. um paredão tem 50 milhões de votos num país de 200 milhões de habitantes. Um pra cada 4, Bial??). O primeiro passo foi pedir a grana ao vivo pra Vã, e isso teve um motivo. Seu eu faço o velho esquema de eu-pago-e-depois-vc-me-paga, eu ia acabar gastando mais, e absorvendo o preju. Claaaro que eu pagaria o quanto precisasse pela Nick, mas achei que valeria a pena abraçar o desafio. Meti as quatro onças-pintadas na mochila e era aquilo que eu tinha pra gastar. Pois eu fiz o milagre, e vou contar o santo.

    Primeiro enfiei na minha cabeça que não ia ter picanha. A piqueta é uma delícia, mas é cara pra diabo e acaba em segundos num churrasco. Optei por fazer outras carnes mais baratas e igualmente saborosas. Minha estratégia se baseava em comprar pequenas peças de um monte de tipos de carnes diferentes. Depois pude ver que essa estratégia foi perfeita, mas foi puro chute. Vou destrinchar as peças compradas uma a uma daqui pra frente.

    1 - A costela ponta de agulha: Foi minha primeira idéia. Primeiro porque eu tava com vontade (outra vantagem de não ser profissional, vc escolhe de acordo com a sua gula). Segundo porque é uma carne deliciosa e ridiculamente barata. Nos pão-de-açúcar da vida só vende pedaços pequenos, e eu precisava de um grande, ou seja: tinha que comprar em algum açougue, no horário comercial. Pois então, lá estava eu voltando de uma reunião na casa do chapéu, estressado com o trânsito, quando me surge um mercadinho de bairro que tinha belas peças de ponta de agulha penduradas. Parei o carro, peguei a peça que julguei mais bonita e comecei as compras. Moral da história: Uma belíssima peça de 2,5kg por R$12,50. Sacou?? 12 fuckin reais por 2 quilos e meio de carne fodona!! Na dinâmica de um churrasco de galera, já resolvi o problema do final do churrasco, quando ficam os mais chegados do seu lado. A ponta de agulha demora hoooooras pra ficar pronta e vale a pena tratar os que te acompanharam durante essa peleja com carinho. Ou seja: quando as tias esfomeadas forem embora, vais compartilhar com os amigos 2,5kg de pura felicidade.

    Pronto, agora faltavam as outras carnes. A semana de trabalho acabou com meus glóbulos brancos, fez empretejar os meus glóbulos vermelhos e derreteu as minhas plaquetas, e com isso só consegui tempo pra comprar o resto das coisas no próprio sábado, lá pelas 13:00. O churras era às 16:00. Logo, fudeu. Decidi ir até o pão de açúcar da av. Ibirapuera com Rep. do Líbano (quem é de sp sabe, quem não é, trata-se de um dos poucos mercados grandes e com bons produtos do pda, e eu não ganho nada do abílio diniz pra falar isso). Lá, eu sabia que encontraria boas carnes.  Pega carrinho e empurra PDA adentro. Cheguei rapidamente a uma gôndola de congelados que tem brinquedos especialmente divertidos (perdiz, paleta de cordeiro, pernil do porquinho), mas principalmente peças de costela de porco congeladas. 

    2 - Costela de porquito: Como o churras seria horas depois, comprei algumas congeladas, mesmo. Dei uma bela sorte de encontrar duas peças altas, com bastante carne, e da parte boa do osso, aquela em que se vê o vãozinho dos ossos direitinho. Em posts futuros, pretendo discorrer mais profundamente sobre a anatomia costelar suína. Por enquanto, entenda que acertei nas duas peças que comprei. Uma custou R$6,80 mangos e a outra R$4,90. Ou seja: mais 12 cruzeiros em carne boa. Costela de porco não tem segredo: hora que sair, geral come feliz e acaba num segundo. Foi o que aconteceu.

    3 - A alcatra do porco fez a festa: Achei um belíssimo pedaço de alcatra de porco. Como disse no post sobre a alcatrinha, é uma peça barata, que ninguém sabe o que é, mas todo mundo come lambendo a cara. Comprei uma peça de 1kg e dividi em 3 partes. Servi com intervalos de mais de uma hora entre elas. Na boa, um monte de gente veio lambendo os dedos perguntando que carne era aquela. Disse que era carne de leprechaun e o pessoal desistiu de perguntar. Sabe quanto custou essa peça? R$14,50. Em três levas, fiz a festa com 3 tecos de carne de R$4,80.

    4 - Linguiça de pernil ao alho: Neste blog eu nunca falei muito de linguiça. Primeiro porque eu sou espada, e pega mal ficar falando de linguiça. Segundo porque eu não sou um grande fã mesmo. Quando eu preparo linguiça, prefiro umas recheadas, mais caprichadas (e caras, infelizmente). Acho que, no meu tempo de moleque, fiz tanto churrasco de linguiça que enjoei. Bom, comprei uma embalagem de linguiça de pernil ao alho com quase 1Kg por honestíssimos R$6,30. Fui soltando aos poucos no churrasco, fazendo uma por vez. Ajuda a dar volume.

    5 - Fraldinha: A fraldinha é uma carne perfeita pra churrascões. Fácil demais de preparar, e é uma carne saborosa, que agrada inclusive aos que acham que churrasco é significado de picanha e mais nada. A pecinha que fiz pesava 400g e custou R$6,10. Cheguei a cogitar a hipótese de preparar o rocambole de fraldinha, mas ia dar um trabalho monstruoso, e meu tempo tava curto. Optei por deitar a peça inteira mesmo, só com sal grosso. Funcionou lindamente.

    6 - Drumet: Frango é bom em churrascão porque não dá trabalho e fica pronto logo. Se chegar um grupo de esfomeados, você lança uns drumets na grelha e serve rapidão. No PDA vende um drumet temperado honestíssimo. Nem pensei em preparar nada, comprei aquele mesmo e assim foi. Comprei duas bandejas que, juntas, pesaram 1,1kg e custaram R$9,50. 

    Antes que você saque a calculadora, relaxa que eu faço as contas no fim do post. Mas vai vendo, só comprei coisa barata até agora.

    7 - Coraçãozinho de frango: Esses dias vi uma reportagem sobre um inglês que mora no Brasil, e faz torta de rim de boi. O cara dizia assim: "Como vocês tem nojo do rim? Vocês comem coração de frango!!". Eu digo, companheiro: no coração do frango só passou colesterol e os mais puros sentimentos pela galinha sua mãe. No rim, passou mijo e eu tou fora disso. Pensando assim, comprei uma bandeja de coração que, incrivelmente, estava limpinho. Se eu tivesse que limpar não ia dar tempo. Foram 530g por R$5,80. 

    8 - O famoso espetinho de contra-filé: esse já virou um clássico. Dá um mega trabalho preparar, mas vale a pena demais. E espetinho em churrascão é legal porque sai rápido. Chegou monstro faminto? Mete dois espetos, vira duas vezes e serve. Comprei 1,2kg de contra-filé por R$21,80, três embalagens de 150g de tomate-cer(v)eja por R$9,00. Tá, azeite e orégano eu não comprei, e ainda usei uma mostarda preta que eu tinha em casa. Dediquei todo o tempo que eu teria em casa a esta carne, porque eu sabia que ia fazer sucesso na festa. E, realmente, fez. A veiarada ficou doida hora que experimentou. 

    Tanto para o coraçãozinho, quanto para o espetinho, eu comprei 3 embalagens de espetos de bambu (e pra que serve o bambu? haha). Custaram R$1,25 cada, totalizando R$3,75.

    9 - O pão com alho do Daninho: Essa foi uma receita que veio em boa hora. O Daninho veio com essa idéia no meio da semana passada, e eu aproveitei pra arrebentar no churrasco. Fez um baita sucesso, o povo ficava louco com o pãozinho com alho e catupiry. Minha estratégia era ter pão saindo o tempo todo, intercalado com qualquer carne. Ajuda a encher as panças, e como é caprichado você não parece um picareta, que convidou a galera pra um churrasco mas tá enfiando pão goela abaixo. Usei um pote inteiro de maionese (R$2,80), um pote de 250g de catupiry (R$4,99), azeite e alho eu tinha em casa e comprei 20 pães (R$9,15). Como eu sabia que na casa da Vã só tem mulher e se tem coisa que mulher compra pra churrasco é pão, comprei só 20, mas na real acabei preparando uns 50. 

    Parei o carrinho num corredor sossegado, e fiz rapidamente as contas. Fiquei surpreso ao perceber que ainda sobrava uma nota preta. Já tinha carne pra caramba no carrinho, os 200 mangos iam dar e sobrar. Diante disso, abri mão da minha estratégia de pão-durice. 

    10 - Linguiça calabresa com provolone e orégano: Essa linguiça é legal mesmo. A marca é Rei da Linguiça, que apesar no nome infame, tem umas carnes bacanas. Depois vou escrever melhor sobre isso. A embalagem tinha 500g e custou R$12,50. 

    11 - Aí sim, a picanha!! Bom, como tinha dinheiro sobrando, bora lá procurar se tem uma picanha pequeninha e barata. E olha só, não é que tinha uma sorrindo pra mim? A lindoca tinha 850g, uma capa de gordura perfeita e custava R$19,00. Não dá pra resistir, né? Bom, eu a preparei em bifes grossos, com o esquema do alho. Ficou sensacional.

    12 - A breja, claro: Olha, eu também sou filhinho de Deus. Saindo do supermercado, teria uma trabalheira na cozinha pra preparar os espetinhos, e quando chegasse no churrasco eu tava verdadeiramente lascado. Já vou te avisando, num churrasco pra 40 pessoas, você não consegue parar um minuto, nem pra fazer xixi. Sabendo da labuta que me aguardava, comprei uma caixa de Itaipava pra tomar enquanto preparava tudo. Com o dinheiro da minha prima. Mas aí que vem o legal da coisa: verificando o ticket aqui, acabei de perceber que a garota do caixa passou apenas UMA cerveja. Ou seja: Abíliô, valeu pelas 11 de graça, parceiro!

    Ainda corri num mercadinho próximo de casa e comprei 4 sacos de carvão por R$5,60 cada um, totalizando R$22,40.

    Agora soma tudo isso ae que eu tou cansado de digitar. Vai dar marromeno R$175,00, porque eu ainda devolvi R$25,00 pra Vã, que acabaram se transformando em cerveja. E eu bebi.

    Bom, o churras foi bem legal, trabalhei pra cacete, tive companhia o tempo todo (esse é o medidor: se tem muita gente em volta de você, é porque a carne tá boa, vai por mim). Tive uma grande ajuda do Hugo, que também manja de carne e matou a ponta de agulha comigo, e me ajudava quando eu precisava largar a churraca pra mandar um pipi.

    Felizes leitores, taí a dica. Agora nós sabemos que você não precisa ir à falência pra mandar um churras densamente populado. Com R$200,00, você pode comprar 4 picanhas grandes, ou esse monte de coisa aí.

    Esse post é especialmente dedicado à Ni, pelos seus 11 aninhos. Parabéns, lindinha. Você merece muito mais do que esse monte de carne aí, você merece o mundo!! Aliás, você descobre que tá sabendo fazer churrasco quando uma criança de 11 anos te pede um churrasco de aniversário :-)

    Churrasco de apartamento: o que fazer?


    É, não dá pra fazer um boi no rolete, mas vá lá.
    Isso é uma churraca. Imagina a gordura pingando nos andares de baixo.
    Compre isso aqui.

    Certa vez escrevi aqui neste boteco sobre churrasco de apê. Naquele momento, dei a primeira dica, sobre a decisão de compra entre a churrasqueirinha elétrica ou a de carvão. Vale a pena dar uma lida, uma decisão errada nessa hora pode te custar um carão na reunião de condomínio. Ou uma multa, o que é pior ainda.

    Leu? Já sabe que tipo de churraca usar? Pois hoje vamos lustrar as nossas mentes e descobrir quais são as carnes mais adequadas pra se fazer em churraquinhas pequenas. E olha que disso eu entendo, pois morei muito tempo no penúltimo andar e fazia churrasco de sacada toda santa semana. Sem multas e sem reclamação, praticamente um recorde. Tá, a amizade com os porteiros do prédio contaram um pouco, mas tá valendo.

    Vamos imaginar a seguinte e hipotética situação: Você vai receber um grupo de 4 amigos em casa, fora você e a sua patroa. Se você for solteiro, recomendo que convide uma garota. Se não tiver patroa, e sim patrão, recomendo que vá imediatamente ao site da ana maria braga ou do chef alex atala, que lá eles decoram os pratos com folhinhas.

    Então temos 6 barrigas famintas para alimentar, correto? E apenas uma churraca pequena pra preparar tudo, correto? Pense, então, em carnes que ficam prontas rapidamente e que podem ficar perto da grelha. Pense nisso aqui:
    1. A picanha em fatias é perfeita. Fica pronta rapidinho, todo mundo gosta e fica boa de fazer o gato miar. Uma dica que funciona bem na picanha fatiada de churraquinha é dar uma passada de manteiga nela. Outra dica é usar sal fino, pois, dependendo do calor da churraca ela fica pronta muito rápido e não dá tempo do sal grosso derreter, deixando tecos de sal pro pessoal morder, o que não é educado e não conserva os dentes na boca. E não ponha ela na churraca se não estiver bem quente, senão ela endurece, óquei? 
    2. Linguiça. Não vou linkar o post da linguiça cuiabana porque ela não pode ficar tão perto do fogo, e demora pra sair. Mas uma boa linguiça fica legal na churraca pequena. Em qualquer supermercado você encontra umas linguiças legais, daquelas tipo premium. Tem uma, em especial, do "Rei da Linguiça" (ô nominho infame, dotô), recheada com queijo e orégano que é muito legal. Custa mais caro do que uma linguiça normal, mas não chega a ser um absurdo. Só precisa ficar atento pra não furar linguiça recheada (o nome recheada te diz alguma coisa? Mantenha o recheio lá dentro) e pra ela não vazar ao virar.
    3. Queijo coalho, particularmente, tem vocação pra ficar muito bom nas churraquinhas pequenas. 
    4. Coraçãozinho de frango fica bom, mas tem que tomar um certo cuidado, pois ele fica o tempo todo perto do fogo. Recomendo usar sal fino nele também.
    5. Ah, a abobrinha.. Se não fosse as garotas (leia o post das abobrinhas até o fim), eu jamais teria olhado uma abobrinha com respeito nessa vida.. Obrigado por vocês existirem (as garotas, não as abobrinhas, que fique claro). Fica bom na churraquinha e não precisa de nenhum cuidado especial. Só demora um pouco, então não encha a churraca disso. Reserve um espaço pra ir colocando outras coisas.
    Tá feito: só nessas dicas você já tem um churrasco pra 6 pessoas, até um pouco mais. Ainda dá pra tentar outras coisas, até costelinha de porco eu já fiz. 

    Só não tente fazer carnes grandes ou que necessitem de muito tempo na churraca. Essas, geralmente tem que ficar lá no alto. E quando eu falei "lá no alto", li a sua mente e vou me antecipar à merda: não tente fazer gambiarra, meu filho. Entenda que a churraca pequena tem seus limites, quando quiseres fazer uma ponta de agulha, um cupim ou um cordeiro, use uma churraca decente.

    A linguiça cuiabana do Adib

    Se você acha que linguiça só serve pra encher o bucho da galera nos churrascos, que só churrasqueiro pobre que faz churrasco de linguiça, é porque você ainda não conheceu a linguiça certa. Se você pensou que o escriba deste blog emboiolou-se, posso lhe assegurar que está redondamente enganado. Eu estou falando da Linguiça Cuiabana. E não é uma cuiabana qualquer, porque existem vários tipos google afora.

    O primeiro a se entender é que ela chama-se Cuiabana, mas não é originária de Cuiabá. Reza a lenda que o cara que inventou a Linguiça Cuiabana foi um fazendeiro de Paulo de Faria, no interior de São Paulo. Mas a patente de tal guloseima foi registrada em nome dos proprietários de uma padaria de Nova Granada, que obviamente era um açougue, mas o português acordou com a macaca e trocou a linguiça pelo baguete. Deus salve o Gooogle, mas isso tudo nem vem ao caso.

    Essa linguiça é produzida artesanalmente nos açougues interior afora, então as receitas são variadas e você não encontra em supermercado. Vamos falar especificamente da Linguiça do Adib. 

    Nas estatísticas deste blog, pude notar que temos leitores em São José do Rio Preto, a 550km da cidade de São Paulo. Achou longe? Pois ande mais 130km estado adentro até a bela e pacata cidade de Jales, local acolhedor de porres homéricos deste que vos escreve. Então, achou longe? Ande mais um pouquinho até Santa Albertina, nos arredores de Jales. Assim que chegar a Santa Albertina, pergunte ao primeiro que passar onde fica o açougue do Adib, separe R$8,80 e encoste a barriga no balcão.

    O Adib prepara a linguiça cuiabana sob encomenda, pois ela fica mais gostosa quando fresca. E fica melhor fresca porque tem leite dentro dela. Isso mesmo que você leu, leite. Sente o drama: a linguiça cuiabana é, em maneira geral, feita de carne bovina, mais especificamente a Alcatra (que já é boa por si só, imagine como ingrediente), queijo minas, temperos diversos e leite. Digo temperos diversos porque o Adib não é um açougueiro falador, e até o presente momento, não houve tortura capaz de fazê-lo revelar quais temperos recobrem tal iguaria. 

    Bom, comprados os 2,5kg de linguiça cuiabana, metamos ela na churraca, não? Pra facilitar as coisas, vou fazer como o pessoal da novela, que entra no avião aqui e sai na índia no segundo seguinte. Pode esquecer os 600 e tantos kilometros rodados, todos os pedágios da Bandeirantes e da Anhanguera, a paradinha no posto Castelo pra comprar biscoito de polvilho e o trânsito na marginal ao chegar a São Paulo. O lance aqui é teletransporte: do balcão do Adib à avenida Paulista em 3 segundos. 

    Pra preparar, você não precisa de nada mais do que paciência e muito, muito cuidado. Paciência porque demora um pouco, ela é uma linguiça densa (ui!) e cuidado porque ela é muito frágil. Você tem que fazer toda a sua força mental e espiritual pra ela não arrebentar. Senão o leite cai na brasa e aí, meu filho... joga nescau e esquece o churrasco. Vamos ao modo de preparo:

    Deite, cuidadosamente, mas muito cuidadosamente a linguiça numa grelha só pra ela. Essa grelha deve estar fria, pois se estiver quente, corre o risco dela colar na grelha e furar na hora de virar, e nós não queremos isso, ok?. Na hora de por na grelha, larga mão de ser bichinha e mete a mão na linguiça (ui de novo), não pegue a cuiabana com nenhum instrumento. Faça um enroladinho com ela. Pelamordedeus, nao separe os gomos!! Tem leite lá dentro, e é lá dentro que ele deve permanecer, deu pra entender?

    Preciso comprar uma máquina decente. esse carvão azul não tá certo, não.
    Olja o queijinho querendo sair da pontinha dela. delícia!

    Deixe a cuiabana no médio da churraca, sem receber labareda, mas também não muito longe do fogo. Fique atento, quando ela começar a ficar preta embaixo (não no estilo carvão, fique ligado na sua comida, parceiro), faça uma operação tipo missão impossível pra virá-la. Tire-a com grelha e tudo (por isso que eu falei pra usar uma grelha só pra ela), posicione outra grelha cuidadosamente sobre ela, e vire de uma vez. Se furar nesse processo, game over and insert coins. Mas vamos imaginar que você sabe cuidar de alguma coisa nessa vida e conseguiu cumprir essa parte do processo direitinho. Volte ela pro fogo. Quando ficar vermelho escuro, tire, deite sobre a tábua, corte e sirva.

    Ao contrário de qualquer linguiça, que só serve, digamos, pra encher linguiça, a Cuiabana pode ser a rainha do churrasco. Como ela é extremamente saborosa, o povo come que nem louco e você pode fazer uma atrás da outra. 

    Mas, pra isso, vai ter que viajar até Santa Albertina, que fica perto de Jales, que fica a 130km de São José do Rio Preto, que fica a 550km de São Paulo... ufa! 

    Ah, os leitores que o Goooogle indicou lá de Rio Preto podem fazer uma visitinha aqui. Desde que tragam lembranças do Adib.

    UPDATE: Num post mais recente, eu FIZ a minha própria linguiça Cuiabana. Chupa essa manga, Adib. Se quiser saber como faz, vai lá e lê.

    IPDA, mas não tem no Pão de Açúcar (perdeu Abílio): R$8,80 o Kg.
    Rendimento: 2,5kg encheram o bucho de umas 10 pessoas. 
    Tempo de preparo: 3 brejas até virar, 1 breja depois de virada.