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Receitas de boteco: Frango à passarinho

É natal! Época de celebrar, época de felicidade, de alegria, não é mesmo, caro leitor? Época de encher a cara de rabanada e champanhe vagabunda. A gente gosta muito disso, mas aqui na suntuosa redação do DGG, o motivo da comemoração é outro. Aqui não tem vez pra presentinho, não tem bom velhinho barbudo com roupa vermelha de frio no calor e muito menos jingle bells.

O real motivo da comemoração aqui é a vitória intelectual imposta aos nobres leitores, através da última charada, que NENHUM, absolutamente NENHUM leitor conseguiu acertar. Conforme a tradição, nós mandamos 3 dicas, e aguardamos os sabichões, que sabiamente costumavam desvendar os mistérios da produção alimentícia em frações de segundos. Mas desta vez foi diferente, e seja pela inebriável malemolência da proximidade das férias de fim de ano, ou seja pela igualmente inebriável lactência do álcool advindo da festa da firma, do happy hour ou do amigo secreto, a verdade é que nossa charada foi simplesmente indecifrável. Te cuida, Dan Brown, que de enigma aqui a gente entende.

A receita de hoje é, além de figura do indecirável, um verdadeiro teste de lógica. Frango à passarinho, frango à passarinho... Não cabe, não cola, não combina. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, já diria o lógico leitor. Como que eu vou fazer um frango virar um passarinho? É como passar um camelo pelo buraco de uma agulha, como passar o elefante pelo buraco da fechadura, como passar uma girafa pelo desfibrilador. Ok, desfibrilador não tem nada a ver, mas eu gosto da palavra e acho que poderia ser legal dar uns trancos na girafa. Melhor, faz o seguinte: esquece que eu escrevi isso aí e foco no frango e no passarinho.

Vamos tratar de passarinho. De passarinho você entende, certo? Na hora de bater aquela foto, sempre tem um que manda um "olha o passarinhô!". Quando o zíper da calça escorregava, a mãe sempre mandava um "o passarinho tá querendo fugir", enfim. O fato é que o passarinho faz parte da vida da gente. Agora pensa no frango.

Ao contrário do passarinho, que faceiro e feliz sempre ilustrou nosso imaginário, o frango nunca teve papel relevante em nossa existência. Frango, pra gente, sempre foi comida. Acorda, come milho, engorda, morre e vai pra panela. Vida dura, essa do frango. Salvo a possibilidade de você morar numa granja, aposto um rim como você já viu umas cem vezes mais frangos mortos do que vivos, certo? Isto posto, façamos um dois em um e mandemos esqueleto adentro um frango, à moda do passarinho. O grande do jeito do pequeno, já diria a charada (que ninguém acertou DURMAM COM ESSA, SABICHÕES).

Comecemos pela parte violenta da brincadeira. Como fazer um frango ficar todo picado, parecendo uma carnificina de passarinhos? Simples, temos duas opções. A primeira é comprar um frango e picotar desgovernadamente. A segunda é pedir ao açougueiro (ou granjeiro, ou jason, ou o chuck norris) que o faça. A menos que tenha problemas sérios, muito sérios em relação à sua taxa de colesterol, recomendo veementemente que não retire a pele do frango. É lá que mora a maior parte da alegria de consumir tal iguaria.

O tempero do frango é a primeira parte da nossa aventura. Para 1/2kg de frango, você deve picotar uns 3 dentes de alho, e jogar todo mundo no mesmo balaio numa bacia ou pote, onde você possa operar uma verdadeira lambança posteriormente.

Jogue ao frango e ao alho, uma mãozada moderada de colorau. O colorau é um pó vermelho, feito à base de semente de urucum, levemente apimentado. Vai na fé e manda uma mãozada moderada lá. A mãozada moderada é aquela medida de dosagem, onde você mete e mão e manda pra dentro, mas sem, necessariamente, encher a mão. Afinal, você está fazendo um frango a passarinho, e não um colorau a passarinho.

Pra completar a festa, jogue junto uma golada de azeite. Lembrando que não é necessário encher a boca de azeite para depois cuspí-lo no frango, sob pena de graves consequencias intestinais no caso de ingestão acidental. Apenas tenha em mente o quanto seria uma golada, e despeje diretamente da garrafa para o frango.

Adicione uma porção de sal. Você é um cara sabido, já temperou a própria salada naquele restaurante por quilo, e sabe quanto de sal é necessário pra fazer o seu frango ficar temperado. Não deixe sem sal, não salgue demais. Tenha comedimento nessa sua alma de ogro, eu sei que você consegue.

Agora, feche a tampa do pote, misture bem. Pra misturar, mande uma macarena naquele rádio velho e comece a chacoalhar o esqueleto segurando um pote cheio de frango. Direto da série "coisas que provam o quanto você é doidão". Misturado, deixe ele de lado. Não, necessariamente de lado, poderia derramar o tempero sobre a pia. Apenas deixe ele ao lado de algum outro objeto à sua escolha. Você entendeu.

Próximo passo: alho frito. Precisamos de alho frito, muito alho frito. Você pode comprar o alho já em tais condições, ou fritar o seu próprio alho, o que sempre garante um toque de qualidade a mais na sua vida [/propaganda de margarina]. Vamos pelo caminho mais longo e tortuoso, fritemos nosso alho.

Picote uns 5 dentes de alho. Sabe quando tem uma pedra no seu sapato? Então, cada tequinho de alho tem que ficar mais ou menos daquele tamanho. Do tamanho de uma pedra de sapato.

Isto posto, pegue a menor frigideira que você tiver. Eu tenho uma pequeninha pra fazer hamburger que é perfeita pra isso. Dê uma pequena golada de azeite nela, e coloque no fogo baixo. O alho queima muito rápido, então você tem que ser ligeiro no gatilho. Jogue os alhos no seu sapato e saia pelo mundo com o pior chulé do mundo na frigideira, e mexa um pouco com uma colher. Um minuto depois, tá todo mundo pronto. Quando eles começarem a ficar marronzinhos, tá no ponto. Você precisa tirá-los dali e colocar todo mundo sobre um guardanapo, ou algum papel que ajude a secar a gordura. Assim, o azeite escorre, e o alho fritinho fica bem seco e crocante. Só isso aí já é um quitute. Um quitute que dá bafo, que dá azia e que te faz transpirar alho por horas. Conforme a charada, destrói relações (CHOREM). Depois de comer alho frito, não beije a sua mãe, não beije o seu pai, não beije a sua namorada... Por favor, não beije ninguém. Nós sabemos que nessa época de natal até o mais viril dos leitores fica cheio de amor pra dar, mas... Amor e alho não se combinam, entenda isso.

amor aos pedaços

Abra uma cerveja. Isso é absolutamente necessário para o bom funcionamento do resto dos procedimentos. Beba e seja feliz. Continuemos com a receita.

O trabalho agora é fritar o frango, que a essa altura, já absorveu bem o tempero. Cuidado, isso faz barulho, faz furdúncio na frigideira, espirra, explode, uma lambança. Na charada, fazia bolha (essa foi fácil. Francamente, viu...). Tenha em mãos uma frigideira funda, com uma boa quantidade de óleo bem quente. Existem umas tampas pra frigideira que te ajudam a fazer muito menos lambança. Se tiver, use. Se não tiver, prepara o pinho sol que a limpeza amanhã vai ser pesada.

Bom, o trabalho de fritar, creio eu, não precisa ser lá muito explicado, não é? Quero acreditar que você já imaginou que basta jogar os pedaços de frango no óleo quente, e deixar lá até que pareçam com um frango à passarinho. Quero acreditar que você já comeu um frango à passarinho. Ou que pelo menos viu um. Uma boa dica é observar a pele, que deve ficar bem crocante. Não a sua, a do frango, parceiro.

Quando chegar nesse ponto, tá pronto. O frango fica bem douradão, com a cor da Juliana Paes. Isso, quando estiver da cor da juliana paes, tá no ponto. Basta arrumar um prato coberto com papel gordura que, ao contrário do nome, não vem cheio de gordura. Jogue lá todo o frango, jogue o alho sobre o frango e seja feliz.

 - tô no ponto!

Se a juliana paes tá no ponto, o nosso frango não faz por menos. Na tela:

eu vô.

Custo: 1/2kg de frango picotado e com pele custa uns R$5,00
Rendimento: Uns 10 pedaços. Dá pra umas duas pessoas.
Tempo de preparo: duas brejas na preparação, uma na fritura. Sirva contente.

Como preparar um frango de televisão de cachorro

Televisão é um treco doido, mesmo. A gente fica ali na frente daquela caixa sem mover um músculo, sem piscar, imóvel. Seca a retina, mas não perde a chance de saber quem matou odete roitman. A gente ri dos animais que são nossos políticos durante o horário obrigatório, a gente fica esperando a peruca do patrão cair num aviãozinho de dinheiro, a gente assiste ao JN com o pote de grecin dois mil na mão, esperando um vacilo do willian bonner pra dar uma demão naquele topete. Definitivamente, televisão é um aparelho que faz a gente interagir.

Quando eu era criança, o bozo falava "você aí que tá sentadão no sofá, compre tênis montreal" e eu ficava pirado com isso, me perguntando como-é-que-aquele-palhaço-sabe-que-eu-to-no-sofá. Até que um dia eu resolvi sentar no chão, e ele falou que eu tava no sofá. Perdeu, pleibói. Nesse momento, minha infância perdeu um pouco da magia, mas o importante era que eu podia dizer "te peguei, palhaço!".

Até que meus pais tiveram uma idéia brilhante, um ataque fulminante da mais pura filosofia hippie pé-sujo. Sabe-se lá porque deletaram a televisão da minha casa. Ela já não era lá essas coisas, tinha mais fantasma que poltergheist, tinha bombril até no seletor de canais, fazia chiadão e levava 5 minutos pra ligar. E agora era uma TV desempregada. Foi-se, tchau, abrásss. Lá se foi a nossa telefunken.

A idéia era que falássemos de coisas mais importantes durante os momentos de família, ao invés de ficarmos alienados àquela máquina de fazer louco (palavras de papai). Bom, confesso que de certa forma funcionava. Comecei a ler muito mais, discutimos coisas interessantes, dormia cedo e acordava bem, etc e tal.. Hippie é gente que sabe cuidar de criança. O problema era que na escola, os amiguinhos comentavam TV Colosso, Malandrovski e Thundercats, e eu não sabia nem o que era. Fui descobrir anos depois.

hippies cuidando de crianças.
cuidando de crianças com lsd exalando dos poros.
de crianças que estão na terapia até hoje.

Meu pai, dono de um sarcasmo comovente, sempre me dizia que se eu quisesse ver TV, que fosse à padoca acompanhar a televisão de cachorro. E é dessa TV que vamos falar hoje. O mais alto grau do entretenimento canino, aquela que passa sempre o mesmo filme, aquela que faz gente e cachorro babar como se não houvesse amanhã.

Não tem tela de led, não é plasma e não é lcd. E se fosse hippie, não seria nem de lsd. É de vidro, de metalzão, é feia e é suja. Mas a gente adora. A Televisão de Cachorro é a TV mais legal que tem. Porque além de ver, você pode comer o conteúdo daquela TV. Imagina só, você tá lá vendo a novela, de repente passa a juliana paes, você abre a tampa da tv... e come! Simples assim. Ou então, tá assistindo animal planet, aparece aquele tubarão branco de um bilhão de quilos, abre a tampa da tv e acabou você. Ou coisa pior, melhor deixar pra lá.

Enfim, a televisão de cachorro é aquele fornão que fica na porta da padoca, onde rodam e assam alegrementes exemplares de frango, despejando toda a sua gordura corporal sobre inocentes batatinhas, depositadas na parte de baixo, só bebendo aquela sopa de colesterol. Um crime na nossa coronária, mas um alento à nossa alma. A vida é dura, rapaz. Pra ganhar, tem que perder. E como churrasqueiro não se rende aos apelos do coração até que o infarto nos separe, vem comigo porque nessa receita, além do frango, você vai ter que gastar uma energia na produção da gambiarra que vai simular a televisão de cachorro.

Vamos começar pelas batatas. Ao vencedor, as batatas. Vá até o mercado/quitanda/feira mais próximo e saboreie o verdadeiro sabor da vitória: volte com as batatas. Mas não adianta pegar aquele batatão de 12kg. Preste atenção, você vai encontrar umas batatas pequeninhas, que geralmente estão dentro daquele saquinho de pano meio furado, esquisito. As batatinhas tem mais ou menos o tamanho daquela pedrona de gelo bacana que a gente adora jogar dentro do whisky.

Por falar em whisky... abra uma cerveja e fique mais feliz.

Foi no mercado, venceu e voltou com as batatas? Pois volte ao mercado e não me apareça aqui se não tiver em mãos um frango sem pé nem cabeça. Mas que diabos é isso de frango sem pé nem cabeça? Pergunte ao fabricante:

Sem pé nem cabeça é isso: kinder-frango com um pogobol, duas aspirinas, um colete salva-vidas, parafuso de balsa e 4 marionetes.
E, já que a televisão é de cachorro, olha o bicho cabreiraço aí.

Se o otimizado leitor preferir, pode aproveitar a viagem inicial ao mercado e voltar com as batatas E o frango. Opção sua.

O primeiro passo é colocar as batatas-bebê para cozinhar. Jogue as batas numa panela grande, com casca e tudo. Se a sua mulher (ou mãe) estiver por perto, lave as batatas. Caso contrário, acredite na força dos seus anticorpos e bora pra panela. Complete com água. A dica do século vem agora: Quando se cozinha batatas, é bastante comum adicionar sal ao cozimento, certo? Pois então, vamos dar uma melhorada nesse negócio. Sapeque lá dentro um cubinho de caldo de galinha. Isso vale pra qualquer batata cozida. O caldo já ajuda a dar um gostinho nas batatas. Vai por mim que fica bom.

Enquanto elas cozinham, vamos cuidar do frango. Mais especificamente, do tempero do frango.

Num pequeno pote, jogue 3 dentes de alho, e 3 pimentas biquinho, algumas folhas de manjericão, orégano, páprica picante e colorau. Nem precisa picotar nada, daqui a pouco a gente faz o terror dentro desse pote e a coisa funciona. A proporção dos ingredientes? A gente aprendeu com os publicitários que uma imagem vale mais do que mil palavras, não é? Pois olha só o que eu tenho aqui pra você: MAIS DE MIL PALAVRAS pra te mostrar quanto você tem que colocar de cada ingrediente.

Recomendo colocar o alho primeiro, ajuda a fazer a proporção, sabe?

Viu? Beleza, agora vem a hora do massacre. Jogue uma golada generosa de azeite dentro desse potinho, prepara o socador de caipirinha e arrebenta com tudo aí, garotão. Quebra tudo, arrepia!!

faço isso com meus inimigos HUAHUAHUAHUHA

Virou isso aí. O cheiro desse temperinho é fabuloso. Dê uma colherada de leve aí, experimente e coloque o sal de acordo com o seu gosto. Eu imagino que umas duas ou três colheres de sobremesa sejam suficientes. Tou confiando que você vai saber quanto sal é necessário pra estragar uma receita.

Próximo passo: operar o frango. É isso, caro leitor. Vais, a partir de agora, encarnar o Dr. Pitanguy e botar uns peitões maneiros de silicone fazer uma incisão subcutânea longitudinal abdominal no paciente. Entendeu? Não? Sem problemas, basta pegar o tesourão de frango e abrir a barriga do bichinho. Não se preocupe, ele não sentirá dor alguma. Não pelo fato de estar anestesiado, mas pelo fato de ter vindo a óbito em procedimentos anteriores. Procedimento este que não é de nossa responsabilidade, eximindo-nos de quaisquer aborrecimentos no que tange o trato aos animais durante a preparação desta receita. O fato é que deve-se abrir a tesoura e adentrar o frango com uma das lâminas, num local que certamente lhe faria corar, e vir cortando até que esteja aberto. Faça uma forcinha e abra o frangote mesmo. Vais enxergar os ossinhos, a coluna, uma cena realmente dantesca. Mas não fique impressionado, tem gente que faz coisa muito pior :-)

Bom, agora basta passar o tempero sobre o frango. Por dentro e por fora, numa grande festa da pimenta doida. Besunta o galináceo aí.

A esse momento, as suas batatas devem estar tinindo. Vá até a panela, espete com um garfo. Se estiver macia como a ovelha-nuvem da propaganda (ah, os publicitários), tá pronta. Joga a água fora e guarda as batatas do lado esquerdo do peito.

A gambiarra necessária é bem simples de fazer. Mas é gambiarra, e quando se trata de gambiarra, sabemos todos que sempre tem chance de dar merda. Não dê chance à merda, mantenha-se atento aos detalhes e todo mundo vai sair bem desta.

Recapitulando: Na TV de cachorro, o frango fica ali assando, com gordura pingando na batata, certo?

A gambiarra consiste numa bandeja, onde ficarão as batatas acomodadas, e uma grelha da sua churrasqueira sobre as batatas. E um frango pós-operado e devidamente besuntado sobre ela. Sacou?

Batatas dentro bandeja, grelha em cima da bandeja, frango em cima da grelha, com a barriguinha que você operou pra baixo. O frangote vai assar, a gordura vai escorrer, e quem vai estar lá embaixo pra receber o elixir da obesidade? As batatas! Na tela:

frango sobre a grelha, sobre as batatas, dentro da bandeja, dentro do forno, dentro da cozinha, dentro de casa.... maldita relatividade.

Nós queremos televisão de cachorro? Sim, queremos. Nós queremos que você apareça na televisão com cara de cachorro? Não, não queremos. Então entenda a diferença entre uma gambiarra e um incêndio e verifique se a sua grelha utiliza alguma parte de madeira, ou algo que possa queimar e mantenha-se em segurança.

Agora basta acender o forno da sua casa no médio e mandar todo mundo pra dentro.

Ainda no quesito mandar pra dentro, mande umas 5 latinhas pra dentro. Quando terminar, abra o forno sem queimar a cútis e retire todo mundo de lá. O frango deve estar douradíssimo (o colorau é o responsável por isso. Pratincamente o sundown da sua comida), as batatas engorduradas, e o cheiro deve estar enlouquecedor.

Se estiver enloquecedor, retire do forno, e destrua o frango. Honestamente, não conheço uma técnica especial para desmontar o frangote. O que fiz foi retirar as coxas, as asas e cortar o resto aleatoriamente. Dane-se a técnica, faz assim que a família vai gostar.

Pra finalizar o nosso ilustrado post, sintoniza a sua tv nessa fotinho aqui ao top de cinco segundos!

Linguiça Alheira, uma epopéia tipicamente portuguesa

Querido leitor, se você já leu o meu nome alguma vez aqui, pôde notar que o meu sobrenome é Rodrigues. Com isso, o astuto leitor pode, também, supor a origem desse nome. Se não pode supor, existe uma grande chance de termos um fator preponderante em comum: o sangue lusitano corre desgovernadamente em nossas veias, parceiro.

Então, podes imaginar que, há quase um século atrás, um tal Seu Rodrigues partiu de além-mar, com mais alguns patrícios, pra varar esse marzão rumo ao desconhecido e abrir uma padaria aqui. Tá, bisavovô não abriu uma padaria, mas o gosto pela culinária lusitana veio com ele, se transportando irremediavelmente através do DNA dos seus futuros predecessores.

Dentre as iguarias da culinária de nossos gentis colonizadores, destacamos especialmente uma: a linguiça alheira, convidada especial deste capítulo nesta novela da vida :-)

Bisavovô veio lá da terrinha, e numa casinha do bairro do Brás saboreava alheiras com o menino Renatinho, que viria a ser meu querido e saudoso vovô. O menino Renatinho cresceu (digo, ficou mais velho, porque grande ele nunca foi) e virou o Seu Renato Rodrigues, cultivou um suntuoso bigode e foi pra guerra. Guerra?
Momento história de família: Meu avô foi pra guerra como voluntário. Certa vez, eu perguntei porque ele foi voluntário, e a resposta foi sensacional: No dia do alistamento militar, havia um tenente carioca selecionando os possíveis soldados, já com a guerra em curso, e com a iminência do Brasil entrar. Pois em algum momento, o tal tenente falou, ou sugeriu, que paulista era tudo boiola e ninguém tinha coragem de enfiar o dedo na cara do alemão. Nesse momento, Renato, o marrento, levantou-se e bradou que tinha coragem sim ia mostrar pro tenente carioca com quantos bigodes se faz um chucrute. E assim, o bravo soldado Renato Rodrigues adentrou as fileiras da Força Expedicionária Brasileira. Ele nem queria ir, mas aquele tenente era folgado demais e isso não dava pra suportar.
E lá na guerra, o soldado Renato não parava de pensar nas tardes que passava com o pai, o Seu Rodrigues (então, falecido) saboreando acepipes. Ansioso pelas alheiras e com saudades do Brasil, o soldado Renato Rodrigues deu um jeito no alemão, acabou com a guerra (palavras dele. Vovô afirmava categoricamente que acabara com a guerra sozinho) e voltou ao Brasil para cair diretamente no colo de vovó, que já citamos largamente neste blog. Adiantando a história, vovó e vovô se casaram e tiveram dois lindos filhotes: papai e a minha tia Lídia.

A história se repetiu, e papai e vovô adquiriram o hábito de saborear alheiras com uma certa frequencia, como um ritual familiar, a ser passado do mais velho pro mais novo.

Mas a alheira não é uma linguiça muito fácil de se encontrar, e os fornecedores de alheiras que abasteciam vovô e o menino papai com sua mercadoria foram ficando cada vez mais raros, até que eles decidiram que era a hora de fazer a sua própria alheira. E assim fizeram, até que papai conheceu mamãe, eu nasci, cresci e todo final de semana tinha alheira na casa de vovó, pra saborearmos enquanto a refeição não vinha. Até que vovô veio a falecer, em 2002, e as alheiras acabaram rareando na casa de vovó. Aqui começa a nossa história pra valer.

Com esse blog e as consequencias gastronômicas que ele trouxe, achei que havia chegado a hora de me juntar a papai pra fazer o furdúncio na cozinha lá de casa e preparar as alheiras, pela primeira vez na minha vida. Baita honra, essa.

Nossa história começa no Mercado Municipal. Acordei cedo num sábado pra comprarmos os ingredientes no famoso templo do sanduíche de mortadela e um local sensacional pra comprar temperinhos e coisas que.. bem, que só tem lá. A visita ao mercadão, por si só, já dá um post. Portanto, vamos à receita, falo do Mercado Municipal em outro post. Entenda apenas que compramos tudo no sábado, pra prepararmos as alheiras no domingo.

Domingo, precisamente na hora marcada, toca o interfone e meu pai chega. Um pouco mais tarde do que ele gostaria e algumas horas mais cedo do que eu precisaria, começamos os trabalhos. Até porque, trabalho é uma palavra que define bem a produção das alheiras: parceiro, te prepara porque essa receita dá um puta trabalho. Prepara a picareta, o muque e a força de vontade.

O primeiro passo é cozinhar algumas das carnes. Na alheira, vai frango, e vários tipos de carne de porco. Comece jogando numa panela grande, 1kg de frango. No nosso caso, compramos a sobrecoxa, porque tem bastante carne e fica fácil desossar depois.

Junto ao frango, adicionamos 1kg de lombo de porco cortado em cubinhos. Cortamos o lombo em vários cubinhos do tamanho de uma borracha de escola. Isso, lembra aquela borracha que vem com a capinha verde? Então, pega a faca, lembra dela e picota o lombinho do mocotó. Manda todo mundo pra panela.

Um ingrediente comum a qualquer linguiça é a barriga do porco. Sabe o que é a barriga do porco? É como o bacon, mas não é defumado. É cru. CRU, mente maldita. Com o erre!! Recomendamos atenção a este ingrediente. Um pequeno deslize pode te levar a inserir a parte errada do porco na linguiça, e nós sabemos bem o que acontece quando a linguiça se relaciona com as partes erradas e nós não queremos isso na nossa receita, certo?

Passados os entraves morfológicos da barriga do porco, picote aproximadamente 400g de tal elemento em cubinhos muito pequenos e jogue na panela junto ao lombo e ao frango. Cubra com bastante água, e bote pra ferver. Se quiser jogar um ou dois dentes de alho, não passe vontade.

Prepare-se pra costurar. Isso mesmo que você ouviu. Costurar. Faça um recorte num pano de prato, tomando todo o cuidado para a patroa não perceber. Recomendo jogar o resto do pano fora. Bom, no quadradinho de pano, despeje umas 10 bolinhas de pimenta preta (é a pimenta do reino). Agora feche como um envelope, e dê um jeito de fechar. É aqui que entra toda a sua habilidade com a agulha e linha. Pra fechar direitinho, pode ser que você tenha que costurar o envelope. Larga mão de frescura, costura esse treco logo e manda pra panela.

Enquanto ferve, você tem uma missão: arranjar 1kg de miolo de pão italiano. É, essa é dificil, parece gincana. E sabe como você cumpre essa missão? Compra muito mais do que 1kg de pão italiano, descasca e guarda o miolo. Se você é malaco, e eu confio na sua destreza intelectual, guarde as cascas pra fazer torrada ou algo do tipo.

Se você demorou uma hora e meia pra buscar os pães e separar os miolos [/chuck norris], a carne deve estar pronta. Hora da pescaria!

Pesque cuidadosamente todos os pedaços de frango e guarde. Depois pesque todo o resto das carnes. E guarde a água, você vai precisar daquele caldo de porco e frango.

Com o frango, você deve retirar o ossinho do meio da sobrecoxa. Depois, seu trabalho é desfiar o frango. Como você vai fazer isso é problema seu. Entenda apenas que, das sobrecoxas que haviam ali, haverão apenas fiapos de frango, ok? Legal, feito isso, guarda esse frango ae.

O porco terá um final muito mais trágico. Encarne o seu pior momento Sexta-feira 13 e moa toda a carne de porco. Isso mesmo, passe tudo no moedor, e tenha em mente que você vai precisar de um. Sem dó nem piedade, todo o lombo e barriga de porco vão virar uma verdadeira pasta.

Estamos quase lá, ansioso leitor. Daqui pra frente, é basicamente misturar tudo e temperar. Mas vamos por partes.

Pensa comigo, você já tem 1kg de lombo de porco, 400g de barriga do mesmo suíno, 1kg de frango e 1kg de miolo de pão italiano. Ou seja, temos quase 3,5kg de comida, fora o caldo da panela que reservou. Diante desse fato, admitamos que temos muita comida, certo? Então você pode imaginar que vai precisar sapecar toda aquela comida em algum recipiente, pra misturar tudo e fazer aquilo virar uma linguiça, certo? No nosso caso, lavamos uma bacia da lavanderia e foi lá mesmo que preparamos a iguaria.

Bom, então prepara o muque que a labuta agora é cascuda. O trabalho consiste em jogar miolo de pão, lombo, barriga, frango e caldo das carnes, todo mundo na bacia, e misturar. Não tem milagre, tem que meter a mão e fazer força, muita força.

Papai, ao mexer os ingredientes, lembrava-se das duas vezes que eu repeti de ano, ou seja: usou de violência. Porém, desta vez não contra este que vos escreve, mas contra os nobres ingredientes. Para a sorte deste que vos escreve. Caso contrário, provavelmente não mas escreveria.

Enquanto isso, tratei de apelar para o bom e velho migué, e fui de fininho preparar o tempero pra jogar lá, mantendo papai ocupado.

O tempero não é difícil, não. Num pote grande, joguei umas duas xícaras de azeite extra-virgem. Depois dessa trabalheira toda, nem pense em usar o azeite mais barato, ou achar que azeite e óleo de girassol são a mesma coisa. Sem serviço porco, mande lá duas xícaras de azeite extra-virgem, do bom.

Picote, bem pequeno, 4 ou 5 dentes de alho. Aproveita que o ritmo tá bom pra picotar, e picote um maço inteiro de salsinha. Manda todo mundo pra dentro do pote.

Hora das pápricas! Jogue uma colherada generosa de páprica doce pra junto do azeite, alho e salsinha. E como páprica pouca é bobagem, adicione uma colherada igualmente generosa de páprica picante. Seu molho vai ficar uma pasta meio vermelha. E, pra ficar mais vermelha ainda, jogue uma colherada sarada de um negócio chamado Colorau, que é um tempero à base de Urucum, e sabe-se lá o que isso significa, mas aprendi isso no Mercadão. Tá feito o registro. Recomendo picotar umas 5 ou 6 bolinhas de pimenta biquinha, porque essa fica gostosa até em pão com margarina.

Uma boa golada de sal dentro do seu tempero e pronto, basta misturar tudo e jogar na bacia. Faça como eu, convença o seu pai a mexer um pouco mais pra misturar o tempero ao resto das coisas. Isto posto, papai se cansou um pouco mais e mexeu aquilo tudo.

A linguiça tá pronta. Mas você não vai colocar a carne na tripa, aquela coisa toda, caro blogueiro? Não vou não, distinto leitor. A tradição familiar fez com que meus antepassados preparassem as alheiras sem, necessariamente, enfiá-las tripa abaixo.

Normalmente, enche-se a linguiça, e coloca-se um gomo na frigideira, pra tostar. A linguiça incha, por conta do pão, estoura e você frita aquela carne. Sendo assim, o senso prático dos Rodrigues achou que o baita trabalho de encher a linguiça não valia a pena se, ora pois, ela iria estourar mais adiante. Portanto, esqueça a tripa e pense na linguiça como uma pasta de carne que você vai fritar.

Preparando as alheiras
Horas depois do início dos trabalhos, você está apto a experimentar esta saborosa iguaria. O preparo é fácil demais. No nosso caso, aquecemos uma chapa de ferro fundido na churraca. Quando estava tinindo de quente, joguei lá um golinho de azeite só pra molhar a chapa. Na sequencia, joguei uma colherada de alheira, e, com a espátula, fui amassando aquela pasta até ficar fininho.

Depois, é só deixar lá e ir virando até ficar meio queimadinho dos dois lados. É assim que a alheira fica legal, porque o queimadinho é, na realidade, pão queimadinho. Pão queimadinho temperado. Com carnes. Com azeite. Não tem jeito disso ficar ruim.

Com isso, dei, junto com meu pai, o meu passo no resgate de uma tradição familiar, o que, por si só, já é motivo de muito orgulho. E ainda por cima, ficou uma delícia. Ah, você tem que experimentar essa verdadeira tradição familiar. A pena é que vovô não está aqui pra experimentar a minha alheira. O lado bom é que todo o resto experimentou, porque nossa receita rendeu 5kg de linguiça. Aí foi só separar em saquinhos e mandar pra vó, pra tia, pra irmã...

Em resumo, uma receita difícil e que dá muito trabalho, mas é muito fácil de acertar o ponto e extremamente saborosa. Uma verdadeira iguaria.

Custo: Foi caro. Gastamos, fácil, uns R$40,00. Mas são 5kg de comida, né?
Rendimento: 5kg, ué. Muita comida.
Tempo de preparo: Nossa, umas 10 cervejas na cozinha, mais umas 3 na churraca. Sirva bêbado.

Coraçãozinho temperado

O coraçãozinho de frango é uma carne ingrata. Primeiro porque você tem que limpar, e isso dá um trabalhão. Já mostrei num post anterior como é que faz isso, e é nojento e eu não vou falar nisso de novo. E você compra 1kg e quando limpa, fica com 650g. Isso porque depois de tantos anos nessa indústria vital, os fabricantes de coração (sic!) ainda não entenderam que é uma delícia assar coraçãozinho de frango, mas as artérias e outros presentes do mal que sempre vem junto ficam um lixo. Colocar os coraçõezinhos com artérias na churrasqueira é como se você estivesse assando um pedaço da perna cheia de varizes da bruxa do 71.


- Num vô!


E não é só por isso que o coraçãozinho é uma carne ingrata. Conhece a história do garçom da churrascaria que tem como tarefa servir o coraçãozinho, que ninguém quer e depois o cara é zuado pelos colegas? É bem por aí. Todo mundo olha feio pro coraçõzinho, mas no fundo, no fundo, não tem quem não goste de cerrar os dentes no órgão vital do doce e cacarejante frangote.

A idéia dessa receita é fazer um coraçãozinho diferente, que vai dar uma trabalheira e quase nada de carne (já vou avisando), mas fica uma delícia e vai manter a auto-estima do seu garçom em dia.

Bom, partamos do princípio que você é um churrasqueiro cuidadoso e tomou as precauções necessárias em relação às artérias e demais órgãos encontrados, ok? Estou acreditando que você tem aí uns 600g de coração limpo, parceiro. Não vem com churumela pro meu lado, que depois a receita fica ruim e você vem botar a culpa no blog.

O primeiro passo é cortar em pedaços bem pequenos um dente de alho. Pra isso tem uma dica sensacional, direto da patroa lá de casa: deixa o alho sempre no freezer. Quando vc destaca o dente, a casca sai facinho e fica uma moleza cortar ele. Descobri isso sem querer, porque em casa sempre tem alho no freezer e eu nunca tinha me ligado porque. Neste final de semana, uma prima foi fazer um macarrão pras crianças e deixou o alho fora. Quando eu fui cortar, foi uma meleca só. Portanto, deixa o cabeção do alho no freezer que é mais fácil manuseá-lo. Beleza, feito isso, mande pro coração um dente de alho picadinho. 

Agora é a hora da combinação perfeita. A hora do Romário e Bebeto, do Roberto e Erasmo Carlos, do Pica-Pau e Pé de Pano, do William Bonner e Fátima Bernardes do churrasco: a dupla perfeita Azeite e Orégano. Incrível como esses dois ingredientes nasceram um pro outro. Qualquer coisa que receber azeite e orégano fica bom. Portanto, jogue lá uma golada de azeite, e uma tacada de orégano. 

Um bom agrado pra essa receita é um teco de molho shoyu, o melhor trava-linguas da cozinha moderna. Fale mil vezes "moio shoio" que você enlouquece. Mas antes, deixe uma meia golada dele na nossa receita.

Pra finalizar, despeje uma colherada de mostarda, de preferência a preta. Acho que a mostarda preta fica melhor depois de misturada e assada do que a amarela. Mas fica a seu critério. 

Pra finalizar de novo: não faça como eu acabei de fazer, não esqueça de colocar sal. Uma mãozada de leve já tempera todo mundo. Não seja o monstro da salina mal-assombrada, salgue com parcimônia. E pode usar sal fino mesmo, já que tá cheio de molho não faz sentido deixar o sal derreter.

Agora é só misturar tudo e usar da malandragem. Feita a receita, você tem duas opções: Ou espeta os corações e se suja todo, ou usa do bom e velho jeito malaco de ser. Em todas as vezes que fiz essa receita, dei um migué pra cima de alguma mulher (a maior parte das vezes, a minha própria) e disse que ia acendendo o fogo e bla bla bla e deixava ela com a tarefa de espetar, o que, além de sujar as patas, demora pacaramba. 

A partir daí é fácil, basta tomar uma cerveja na frente da churrasqueira enquanto espera a mulher espetar os corações. Quando eles chegarem, deixa na grelha de qualquer jeito e boa. quando o coração tem tempero assim, não tem muita técnica na frente da churraca. Você pode colocar o coração direto no mais quente, deixa lá e vira de vez em quando. Só tira quando estiver bem passado, porque ele vai ter bastante molho dentro dele, que precisa estar seco. Caso contrário, o gosto pode ficar um pouco forte, acentuado pro lado da mostarda.

Aí você vai descobrir que o coraçãozinho é mesmo uma carne ingrata: os 650g que você preparou secam e diminuem drasticamente de tamanho, resultando em uns 400g de carne. Assim que você tira do espeto, as pessoas devoram e ele some em segundos. 

Mas vale a pena tanta ingratidão, já diria a mulher do bandido. Isso porque fica gostoso mesmo e todo mundo elogia depois. 

Custo: R$7,00 a bandeja de coração, balato.
Tempo de preparo: 4 brejas na cozinha, 2 na churraca: sirva feliz.
Rendimento: quase nada, faça outras carnes junto.

Como eu fiz um churrasco pra 40 pessoas com R$175,00

Antes de iniciar, vou avisar: este post é longo, e pra caraio. Trata-se de uma epopéia, e eu tou dando a dica pra você mandar um churrasco responsa pra 40 esfomeados com menos de 200 mangos, ou seja, menos de 5 cruzeiros por pança. Se você não tá afim de ler, leva a sua galera na churrascaria de sua preferência e hipoteque a sua casa quando chegar a conta. Esclarecidos os fatos, vamos aos assuntos que nos interessam.

Eu não sou churrasqueiro profissional. E eu não quero ser churrasqueiro profissional. Me incomoda a idéia de fazer comida pra pessoas que não conheço. Incomoda também a idéia de fazer carne sem nenhum amigo pra bater um papo. Além disso, fazer carne sem enxugar umas boas brejas não faz o menor sentido. Eu, como churrasqueiro profissional ia passar vergonha. Ia encher a cara em todo churrasco, queimar o meu filme, e no final sairia breaco demais e nem ia lembrar de cobrar o meu dinheiro. Por isso que eu faço carne pras pessoas que eu gosto e tá bão por aí. Claro que existem excelentes profissionais por aí e eu acho super bacana. Pra eles. Pra mim, carne e trampo não se misturam.

Só que nesse final de semana eu fui churrasqueiro profissa por um dia. Foi o aniversário da minha queridíssima sobrinha Nicole. Vã, a mãe dela e minha prima-irmã, queria fazer um churras pra chamar a tiarada, primaiada, molecada, padrinhada, vizinhada, hunos, godos e visigodos. E me pediu pra cuidar da parte da carne. Eu não tinha como dizer não. É pra Nick, pô!! E aceitei o desafio de cuidar de um churras pra 40 pessoas. Peguei 200 cruzeiros com a Vã e  bora pro jogo. 

Vem comigo fazer uma continha. Aproveita que a minha filha teve prova de matemática ontem e eu estudei com ela, e a conta tá quentinha na cabeça: 200 fuckin mangos é um dinheirão, né não? Éééééé... opa, então sente o problema chegando:

Pedrinho foi ao açougue comprar carne pra 40 pessoas. Se o preço da picanha anda valendo R$30,00 em média, qual dos dois rins o Pedrinho vai ter que vender pra pagar esse banquete: o direito ou o esquerdo? Sem rim, como ele vai processar a cerveja do churrasco? Tem chance disso dar certo?

Pois então, foi assim que eu me senti. E ao contrário do Pedro Bial, encarei o paredão e dane-se os 300 milhões de votos (a globo acha que a gente tá na china. um paredão tem 50 milhões de votos num país de 200 milhões de habitantes. Um pra cada 4, Bial??). O primeiro passo foi pedir a grana ao vivo pra Vã, e isso teve um motivo. Seu eu faço o velho esquema de eu-pago-e-depois-vc-me-paga, eu ia acabar gastando mais, e absorvendo o preju. Claaaro que eu pagaria o quanto precisasse pela Nick, mas achei que valeria a pena abraçar o desafio. Meti as quatro onças-pintadas na mochila e era aquilo que eu tinha pra gastar. Pois eu fiz o milagre, e vou contar o santo.

Primeiro enfiei na minha cabeça que não ia ter picanha. A piqueta é uma delícia, mas é cara pra diabo e acaba em segundos num churrasco. Optei por fazer outras carnes mais baratas e igualmente saborosas. Minha estratégia se baseava em comprar pequenas peças de um monte de tipos de carnes diferentes. Depois pude ver que essa estratégia foi perfeita, mas foi puro chute. Vou destrinchar as peças compradas uma a uma daqui pra frente.

1 - A costela ponta de agulha: Foi minha primeira idéia. Primeiro porque eu tava com vontade (outra vantagem de não ser profissional, vc escolhe de acordo com a sua gula). Segundo porque é uma carne deliciosa e ridiculamente barata. Nos pão-de-açúcar da vida só vende pedaços pequenos, e eu precisava de um grande, ou seja: tinha que comprar em algum açougue, no horário comercial. Pois então, lá estava eu voltando de uma reunião na casa do chapéu, estressado com o trânsito, quando me surge um mercadinho de bairro que tinha belas peças de ponta de agulha penduradas. Parei o carro, peguei a peça que julguei mais bonita e comecei as compras. Moral da história: Uma belíssima peça de 2,5kg por R$12,50. Sacou?? 12 fuckin reais por 2 quilos e meio de carne fodona!! Na dinâmica de um churrasco de galera, já resolvi o problema do final do churrasco, quando ficam os mais chegados do seu lado. A ponta de agulha demora hoooooras pra ficar pronta e vale a pena tratar os que te acompanharam durante essa peleja com carinho. Ou seja: quando as tias esfomeadas forem embora, vais compartilhar com os amigos 2,5kg de pura felicidade.

Pronto, agora faltavam as outras carnes. A semana de trabalho acabou com meus glóbulos brancos, fez empretejar os meus glóbulos vermelhos e derreteu as minhas plaquetas, e com isso só consegui tempo pra comprar o resto das coisas no próprio sábado, lá pelas 13:00. O churras era às 16:00. Logo, fudeu. Decidi ir até o pão de açúcar da av. Ibirapuera com Rep. do Líbano (quem é de sp sabe, quem não é, trata-se de um dos poucos mercados grandes e com bons produtos do pda, e eu não ganho nada do abílio diniz pra falar isso). Lá, eu sabia que encontraria boas carnes.  Pega carrinho e empurra PDA adentro. Cheguei rapidamente a uma gôndola de congelados que tem brinquedos especialmente divertidos (perdiz, paleta de cordeiro, pernil do porquinho), mas principalmente peças de costela de porco congeladas. 

2 - Costela de porquito: Como o churras seria horas depois, comprei algumas congeladas, mesmo. Dei uma bela sorte de encontrar duas peças altas, com bastante carne, e da parte boa do osso, aquela em que se vê o vãozinho dos ossos direitinho. Em posts futuros, pretendo discorrer mais profundamente sobre a anatomia costelar suína. Por enquanto, entenda que acertei nas duas peças que comprei. Uma custou R$6,80 mangos e a outra R$4,90. Ou seja: mais 12 cruzeiros em carne boa. Costela de porco não tem segredo: hora que sair, geral come feliz e acaba num segundo. Foi o que aconteceu.

3 - A alcatra do porco fez a festa: Achei um belíssimo pedaço de alcatra de porco. Como disse no post sobre a alcatrinha, é uma peça barata, que ninguém sabe o que é, mas todo mundo come lambendo a cara. Comprei uma peça de 1kg e dividi em 3 partes. Servi com intervalos de mais de uma hora entre elas. Na boa, um monte de gente veio lambendo os dedos perguntando que carne era aquela. Disse que era carne de leprechaun e o pessoal desistiu de perguntar. Sabe quanto custou essa peça? R$14,50. Em três levas, fiz a festa com 3 tecos de carne de R$4,80.

4 - Linguiça de pernil ao alho: Neste blog eu nunca falei muito de linguiça. Primeiro porque eu sou espada, e pega mal ficar falando de linguiça. Segundo porque eu não sou um grande fã mesmo. Quando eu preparo linguiça, prefiro umas recheadas, mais caprichadas (e caras, infelizmente). Acho que, no meu tempo de moleque, fiz tanto churrasco de linguiça que enjoei. Bom, comprei uma embalagem de linguiça de pernil ao alho com quase 1Kg por honestíssimos R$6,30. Fui soltando aos poucos no churrasco, fazendo uma por vez. Ajuda a dar volume.

5 - Fraldinha: A fraldinha é uma carne perfeita pra churrascões. Fácil demais de preparar, e é uma carne saborosa, que agrada inclusive aos que acham que churrasco é significado de picanha e mais nada. A pecinha que fiz pesava 400g e custou R$6,10. Cheguei a cogitar a hipótese de preparar o rocambole de fraldinha, mas ia dar um trabalho monstruoso, e meu tempo tava curto. Optei por deitar a peça inteira mesmo, só com sal grosso. Funcionou lindamente.

6 - Drumet: Frango é bom em churrascão porque não dá trabalho e fica pronto logo. Se chegar um grupo de esfomeados, você lança uns drumets na grelha e serve rapidão. No PDA vende um drumet temperado honestíssimo. Nem pensei em preparar nada, comprei aquele mesmo e assim foi. Comprei duas bandejas que, juntas, pesaram 1,1kg e custaram R$9,50. 

Antes que você saque a calculadora, relaxa que eu faço as contas no fim do post. Mas vai vendo, só comprei coisa barata até agora.

7 - Coraçãozinho de frango: Esses dias vi uma reportagem sobre um inglês que mora no Brasil, e faz torta de rim de boi. O cara dizia assim: "Como vocês tem nojo do rim? Vocês comem coração de frango!!". Eu digo, companheiro: no coração do frango só passou colesterol e os mais puros sentimentos pela galinha sua mãe. No rim, passou mijo e eu tou fora disso. Pensando assim, comprei uma bandeja de coração que, incrivelmente, estava limpinho. Se eu tivesse que limpar não ia dar tempo. Foram 530g por R$5,80. 

8 - O famoso espetinho de contra-filé: esse já virou um clássico. Dá um mega trabalho preparar, mas vale a pena demais. E espetinho em churrascão é legal porque sai rápido. Chegou monstro faminto? Mete dois espetos, vira duas vezes e serve. Comprei 1,2kg de contra-filé por R$21,80, três embalagens de 150g de tomate-cer(v)eja por R$9,00. Tá, azeite e orégano eu não comprei, e ainda usei uma mostarda preta que eu tinha em casa. Dediquei todo o tempo que eu teria em casa a esta carne, porque eu sabia que ia fazer sucesso na festa. E, realmente, fez. A veiarada ficou doida hora que experimentou. 

Tanto para o coraçãozinho, quanto para o espetinho, eu comprei 3 embalagens de espetos de bambu (e pra que serve o bambu? haha). Custaram R$1,25 cada, totalizando R$3,75.

9 - O pão com alho do Daninho: Essa foi uma receita que veio em boa hora. O Daninho veio com essa idéia no meio da semana passada, e eu aproveitei pra arrebentar no churrasco. Fez um baita sucesso, o povo ficava louco com o pãozinho com alho e catupiry. Minha estratégia era ter pão saindo o tempo todo, intercalado com qualquer carne. Ajuda a encher as panças, e como é caprichado você não parece um picareta, que convidou a galera pra um churrasco mas tá enfiando pão goela abaixo. Usei um pote inteiro de maionese (R$2,80), um pote de 250g de catupiry (R$4,99), azeite e alho eu tinha em casa e comprei 20 pães (R$9,15). Como eu sabia que na casa da Vã só tem mulher e se tem coisa que mulher compra pra churrasco é pão, comprei só 20, mas na real acabei preparando uns 50. 

Parei o carrinho num corredor sossegado, e fiz rapidamente as contas. Fiquei surpreso ao perceber que ainda sobrava uma nota preta. Já tinha carne pra caramba no carrinho, os 200 mangos iam dar e sobrar. Diante disso, abri mão da minha estratégia de pão-durice. 

10 - Linguiça calabresa com provolone e orégano: Essa linguiça é legal mesmo. A marca é Rei da Linguiça, que apesar no nome infame, tem umas carnes bacanas. Depois vou escrever melhor sobre isso. A embalagem tinha 500g e custou R$12,50. 

11 - Aí sim, a picanha!! Bom, como tinha dinheiro sobrando, bora lá procurar se tem uma picanha pequeninha e barata. E olha só, não é que tinha uma sorrindo pra mim? A lindoca tinha 850g, uma capa de gordura perfeita e custava R$19,00. Não dá pra resistir, né? Bom, eu a preparei em bifes grossos, com o esquema do alho. Ficou sensacional.

12 - A breja, claro: Olha, eu também sou filhinho de Deus. Saindo do supermercado, teria uma trabalheira na cozinha pra preparar os espetinhos, e quando chegasse no churrasco eu tava verdadeiramente lascado. Já vou te avisando, num churrasco pra 40 pessoas, você não consegue parar um minuto, nem pra fazer xixi. Sabendo da labuta que me aguardava, comprei uma caixa de Itaipava pra tomar enquanto preparava tudo. Com o dinheiro da minha prima. Mas aí que vem o legal da coisa: verificando o ticket aqui, acabei de perceber que a garota do caixa passou apenas UMA cerveja. Ou seja: Abíliô, valeu pelas 11 de graça, parceiro!

Ainda corri num mercadinho próximo de casa e comprei 4 sacos de carvão por R$5,60 cada um, totalizando R$22,40.

Agora soma tudo isso ae que eu tou cansado de digitar. Vai dar marromeno R$175,00, porque eu ainda devolvi R$25,00 pra Vã, que acabaram se transformando em cerveja. E eu bebi.

Bom, o churras foi bem legal, trabalhei pra cacete, tive companhia o tempo todo (esse é o medidor: se tem muita gente em volta de você, é porque a carne tá boa, vai por mim). Tive uma grande ajuda do Hugo, que também manja de carne e matou a ponta de agulha comigo, e me ajudava quando eu precisava largar a churraca pra mandar um pipi.

Felizes leitores, taí a dica. Agora nós sabemos que você não precisa ir à falência pra mandar um churras densamente populado. Com R$200,00, você pode comprar 4 picanhas grandes, ou esse monte de coisa aí.

Esse post é especialmente dedicado à Ni, pelos seus 11 aninhos. Parabéns, lindinha. Você merece muito mais do que esse monte de carne aí, você merece o mundo!! Aliás, você descobre que tá sabendo fazer churrasco quando uma criança de 11 anos te pede um churrasco de aniversário :-)

Uma maneira infernal de preparar o drumet

Já falamos aqui sobre o drumet com maionese e sopa de cebola, que fica uma delícia. Mas faz uma sujeirada danada, é maionese pra todo lado e sopa de cebola até no branco do olho. Se você tá com a mão no drumet e não tá afim de fazer sujeira (sem duplo sentido,ok?), te mando uma receitinha bico de preparar e que fica do jeito que o diabo gosta.

O drumet, como você já sabe, é uma espécie de coxinha pequeninha, que fica junto da asa, cheia de carne e pele. E frango, quando tem pele (no peito não tem, por exemplo), merece ser tostado pra deixar a pele crocante. E qual o segredo pra tostar a pele sem queimar a coxa? Já diria o hebreu, o mesopotâmio, o romano e o paraguaio: azeite, minha gente.

O azeite vem da azeitona, que vem da oliveira, que vem lá da Era Terciária, bem antes da gente aparecer na face da Terra. É um tempero porreta, qualquer coisa fica boa com um bom azeite. E pra você, que toma cerveja aos litros e fica com aquela pança sexy, pode encher a cara à vontade: tem gente dizendo por aí que azeite é bom até pra perder barriga. Além disso, o azeite é um símbolo presente em diversas religiões, o que me faz quase arrepender de dizer que a receita ficaria boa pra diabo. Mas como o blog aqui é meu e nem o seu Bento, o XVI, vai me tirar o capeta do corpo, vai ficar assim mesmo. Uma receita dos infernos!!

A oliveira também tem seu simbolismo. É a planta símbolo da paz. Quando acabou o dilúvio, Noé, o da Arca, além de reclamar da prefeitura recebeu uma pomba branca que o presenteou com um ramo de oliveira. Olha, eu também gosto da oliveira. Da Luma de Oliveira.

E no sétimo dia, Deus criou a Luma de Oliveira.

Agora que já sabemos tudo de olivas, oliveiras e azeite (valeu goooogle!), vamos ao franguinho que vai ficar o cão! 

Mete uma bandeja de drumet num pote. Uma bandeja costuma ter uns 10 ou 12 pedacinhos. Joga azeite, mais ou menos umas 4 colheres. Não vai medir com a colherinha que pega mal, tenha noção e despeja o azeite direto da garrafa/lata. Só de maldade, jogue um pouco de orégano, mais ou menos uma chacoalhada de pacote. Pra garantir o seu lugar no inferno, picote umas 5 folhinhas de manjericão fresco (de fresco, só o manjericão, pode tirar essa fantasia de Freddy Mercury) e misture tudo.

Agora vem a parte boa, vamos queimar isso tudo no mármore do infeeeeeeerno!!!! Uahahahahahaaaaa!!!!

Esse drumet é bom pro começo do churrasco, quando o carvão ainda não pegou pra valer. Isso porque algumas gotas do azeite inevitavelmente caem na brasa, atiçando o fogo, puxando o rabo do capeta e fazendo o inferno lá dentro. Então pode te poupar um certo esforço na hora de acender, e se o bicho já estiver pegando, você não taca mais combustível. 

Deita os drumets na grelha mais baixa, mais perto do fogo... onde o diabo gosta, você sabe. Deixa lá até começar a queimar por baixo. Vira e deixa ficar com cara de queimando do outro lado. Sem queimar, obviamente.. seja malandro e tire do fogo antes, ok?

Pronto. Agora basta procurar a primeira encruzilhada, mandar um Blues e esperar o cramulhão. Ofereça um pedaço a ele e mande lembranças por mim.

Se eu não fui direto pro inferno com essa, ninguém mais vai.

UPDATE: Muito bem lembrado pelo leitor Carlos, e muito mal esquecido pelo escriba deste ficheiro; eu esqueci de por sal no frango. Sabe o que é, Carlão.. É a Luma de Oliveira que me desorienta, parceiro. Faz uma busca no goooogle por Luma de Oliveira pra você ver se não vai esquecer o sal, o açúcar, o rumo de casa e a cor do cavalo branco de Napoleão. Bom, diante dos fatos, faço um adendo aqui: ponha sal fino na hora de misturar o frango com os demais ingredientes. Com moderação, não salgue demais, e não seja bichinha. Sem essa de cuidado com a pressão. Churrasco não tem isso, salga até ficar bom. 

Coraçãozinho de frango no espeto

Um pacote de 500g de coraçãozinho de frango tem, mais ou menos, uns 40 corações. Estamos falando de 40 ex-frangos, que tiveram família, amigos, sentiram, amaram.. Toda vez que eu vejo um coraçãozinho de frango eu fico me perguntando... por qual galinha aquele frangote teria se apaixonado antes de ir pro espeto? Será que existe uma galinha triste, em alguma granja nesse mundão de Deus, botando ovo todo dia e sonhando com a volta do seu frango amado? Será??
A Rádio Atividade leva até vocês
Mais um programa da séria série
"Dedique uma canção a quem você ama"
Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta
Uma carta d'uma ouvinte que nos escreve
E assina com o singelo pseudônimo de
"Mariposa Apaixonada de Guadalupe"
Ela nos conta que no dia que seria
O dia do dia mais feliz de sua vida
Arlindo Orlando, seu noivo
Um caminhoneiro conhecido da pequena e
Pacata cidade de Miracema do Norte
Fugiu, desapareceu, escafedeu-se
Oh! Arlindo Orlando volte
Onde quer que você se encontre
Volte para o seio de sua amada
Ela espera ver aquele caminhão voltando
De faróis baixos e pára-choque duro

Agora uma canção canta pra mim
Eu não quero ver você triste assim

Ei, ei, o que é isso? Isso aqui é blog de macho e a gente não tem dó de mandar neguinho pro espeto aqui, não!! Pode engolir esse choro e enxugar essa lágrima aí e vamos dar início à receita: coraçãozinho de frango na grelha.

Antes de assar, você tem que limpar os coraçõezinhos. Prepare-se para uma das coisas mais nojentas que um churrasco pode te proporcionar. Isso porque você nunca vai encontrar um lugar que os venda decentemente limpos. Nesta receita, vamos ilustrar uma bandeja comum do Pão de Açúcar. Ou seja: tive que limpar.

Na granja, quando eles separam as partes do frango, geralmente arrancam o coração de qualquer jeito, e junto com ele vem todo tipo de tranqueira. O mais comum é o coração vir com artérias, o que dá um gosto ruim ao coração, caso sua preguiça te impeça de limpá-lo.


Dá uma olhada nesse coração de cima.
O primeiro que adivinhar que órgão é esse que veio anexo ganha um saco de vômito da Xuxa.

Nessa foto tem todo tipo de tranqueira. Alguns, como o penúltimo, tem uma membrana de gordura que o envolve, outros tem a artéria e tem até um fígado ou qualquer outra porra de brinde. Concordamos que não dá pra meter isso aí na grelha desse jeito, né?

Não tem outra saída: respire fundo e meta a mão na meleca. Tenha em mãos uma faca afiada, senão você acaba destruindo cada coração que limpar. Além disso, uma faca afiada vai te ajudar a acabar essa nojeira mais rápido.

O principal é fazer um corte bem no meio da gordurinha dele, tomando cuidado pra não tirá-la completamente. 


Mantenha um pouco da gordura, você vai precisar dela.


Olha eles aí. Nem parecem os 4 elementos do mal da primeira foto.

Se você tirar toda a gordura, o coração vai secar completamente, e aí ele fica uma borracha. Ao contrário do que parece, o coraçãozinho demora um tempo pra assar. Além disso, churrasco sem gordura é coisa de vegetariano, e esses aí a gente manda visitar o site da ana maria braga, que lá tem um hamburger vegetariano que é Oh! Uma merda!

Depois de limpos os coraçõezinhos, você tem que colocá-los no espeto. Se você for um mestre na arte do equilíbrio, pode deixá-los sobre a grelha, mas garanto que carvão não precisa de coraçãozinho pra viver.

Recomendo utilizar o espeto duplo, porque assa uma montanha de coraçõezinhos de uma vez. Isso é importante, porque coração costuma fazer sucesso no churrasco, e a galera come de monte.


Todo mundo no mesmo sentido. Uma dinastia inteira de frangos no seu espeto.

Uma vez cheio o espeto, manda pro fogo, de preferência no segundo andar, que fica a uns 30cm do fogo! E com a gordurinha pra cima. Primeiro porque a parte de baixo demora mesmo pra assar. Segundo porque a gordurinha derrete pra dentro do coração, dando um sabor muito bom. Terceiro, porque é sobre a gordurinha que você deve colocar o sal. Logo, ele também derrete pra dentro do coração.

Quando a parte de baixo começar a parecer mais marrom, e ter uma aparência mais "sequinha", é hora de virar e deixar a gordura pra baixo. O espeto duplo quebra um galhão nesse lance de virar. Depois de uma cervejinha, pode descer o coração mais pra perto do fogo, com a gordura pra baixo. 

Sirva e faça o mundo feliz. Coraçãozinho é o tipo da comida que faz sucesso com todo mundo. A menos que você conte a história do amor do frangote pela galinha do vizinho...

IPDA: marromeno R$4,00 um pacote com 500g. Metade das 500g são lixo que você tira dele quando limpa. Mas ainda sim é barato. 
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha, e 4 brejas na grelha.
Rendimento: 500g faz uns 40 ou 50 coraçõezinhos. Serve como aperitivo.

Drumet crocante

Taí um título trava-língua. Duvido você falar "drumet crocante" mais de 3 vezes sem mandar um "cocrante" sequer.  E aqui funciona assim: se o título é ruim, a receita é boa. 

Essa é mais uma daquelas receitas campeãs de audiência (te cuida, plim-plim!!), que você deveria fazer em todo churrasco. Além de ser barata e leve, você ainda pode receber todos os personagens da novela das 8 na sua casa, porque é frango e não vaca.

Aliás, desviando um pouco do assunto, sou só eu que tenho pensamentos altamente gastronômicos quando passa aquele pessoal dando comidinha na boca da vaca na novela?

Tá, mas o assunto aqui é frango e não vaca, e se é vaca, a gente COME! Prepare-se pra fazer um fordúncio na sua pia. Essa receita FAZ MELECA. Mas impressiona as garotas, então faça a meleca, se limpe e receba os elogios. 

A receita consiste em drumet de frango chafurdado na maionese misturada com sopa de cebola. É, isso mesmo que você ouviu: sopa de cebola. E não, nós não vamos fazer a sopa, ok? Estou falando da sopinha de pacote, daquelas que você mistura água quente e tá feita a parada. E nem precisa preparar nada, vamos usar só o pó (maradona style?)

Mas, afinal, que porra é essa de drumet? E Deus salve o Gooooogle:

Drumet, no contexto da culinária, é a parte da asa de frango, muito apreciada em churrascos e molhos. Diferente da Tulipa, que refere-se a mesma parte, só que com a asa desossada. Muito apreciada em churrascos e almoços de família. Temperadas com canela em pó e molho curry. Para o churrasco ser completo colocar também alcatra e contra filé temperados só com sal grosso.

O camaradinha que escreveu essa explicação na Wikipedia já se meteu onde não devia: esquece essa merda de canela em pó no frango porque isso aqui não é a ana maria braga. Aqui a gente põe coisa SALGADA pra temperar a carne. O que importa é que você descobriu o que é drumet. O nome é gay, mas o frango é bom.

Bom, vamos começar pelo molho. Lance mão de uma boa maionese. Se você souber como faz a maionese caseira, melhor ainda. Na minha receita, usei uma maionese chamada "caseira" da marca Liza. Não vou colocar link e nem nada porque eu não tou aqui pra vender maionese. Te vira, marmanjão. Ah, e pra você ter uma noção, utilizei marromeno 500g de drumet, o que deu umas 7 pecinhas. 

Taca num pote umas 3 colheres de sopa de maionese. Não precisa exagerar, certo? Agora, pegue o pacote da sopa de cebola. Taca lá dentro marromeno 3 colheres, que deve dar meio pacotinho. 


Pra você ter uma idéia, isso aqui temperou 7 drumets. Não exagere, isso faz uma sujeira do capeta.

Beleza, mistura tudo. Virou uma pastinha meio esquisita. Agora taca os frangos lá dentro, e mistura bastante, até os frangos ficarem todos besuntados e isso aí virar uma verdadeira gororoba.

Se quiser, pode mandar os franguetes pra churraca agora mesmo. Ou pode adicionar um elemento a mais que costuma ser um UP pra qualquer comida: manjericão fresco.


Vendo assim, é a imagem do cão. Mas põe no fogo que eles ficam uma delícia.

Pra assar, é fácil. Frango não tem muito segredo. Pode virar, pode deixar perto do fogo que ele assa legal, pode deixar longe que só demora mais, faça o que tu queres, há de ser tudo da lei.. é só ficar ligado na casquinha dele, quando começar a ficar queimadinha, vai virando até queimar por igual. Se você já comeu um frango assado uma vez na vida, sabe qual é o ponto. Posso contar com isso, hã?

O legal é que a maionese seca, e o pozinho da sopa faz uma camada levemente crocante sobre o drumet, e o tempera por igual. Fica super gostoso, agrada as garotinhas, o sogrão, as crianças e os vizinhos. Recomendo agradar as garotinhas com moderação, principalmente se o sogrão estiver por perto.

Uma dica: tenha por perto um monte de guardanapos. Tem maionese pra caray aí, e vai, invariavelmente, sujar todo o seu instrumental. E você não vai ser burro de sujar outras carnes com maionese, não?

Ah, funciona legal nas churraquinhas de apartamento, tanto as pequenas de carvão quanto as elétricas.

IPDA: Menos de 10 reais pra 1k de frango. Baratim!!
Tempo de preparo: 1 latinha pra preparar o molho, 2 latinhas pra assar. 
Rendimento: 500g deu 7 coxinhas. Serve umas 2 pessoas, mas é bom ter outras opções.