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Gnocchi: Uma comida com nome de barulho. Hein??

É naquele momento em que o mais malaco dos leitores já anda pensando que você tá comendo capim pela raíz, dormindo de pé junto e cabelo deitado, que você, tal qual um zumbi, ressurge dos cafundós do fundo do plâncton do pântano, quebrando tudo com uma larga insônia e uma vontade louca de tirar a poeira dos dedos, do blog e dessa mente capta (SIC - agora aguenta que voltamos com trocadilho ruim e tudo. Se quiser parar de ler, rabugento leitor, a  hora é essa).

Trocando em miúdos: Levando este blog como tenho feito, me sinto como aquele velho safado cachaceiro de 114 anos, que pra morrer é só deitar com força, mas se recusa a dar o último suspiro. Então, provando que vaso ruim não quebra, que ri melhor quem ri por último e que a última gota é sempre da cueca, profetizo que a espelunca está novamente aberta!!!! Chega junto e traz cerveja porque hoje é dia de lavar o bigode por aqui.

E sem mais delongas, vamos logo meter os dentes nessa enigmática receita de hoje, o Nhoc! E durma-se com um barulho desses (há! mais um trocadilho tão afável quanto inoportuno).

Como já escrito certo pelas linhas tortas aqui neste pergaminho, eu venho de família italiana. Logo, tão certo quanto dois e dois [=SOMA(2+2) e viva o excel] são 4, eu tenho um curriculo invejável na arte e ofício de comer gnocchi. Experiência esta adquirida através da inacreditável habilidade da minha nonna, a Dona Ivette (pensa no nível de fanfarrice da família: uma italiana com nome francês), que sempre preparou o mais suculento, opulento e calorento gnocchi do mundo.

Aliás, esse nome por si só é uma fanfarrice. Não, não vou discorrer sobre o nome francês da minha avó italiana. Embora essa seja uma história à parte, no momento vamos mesmo decifrar o porque essa comida tem nome de barulho.

Antes de mais nada, tem uma coisa que me incomoda nesta madrugada, além dos pernilongos no meu quarto. Gnocchi é uma maneira muito chique e elegante de escrever o nome que, falado, fica fuleiro pra caramba. Então podemos chamar o nosso nobre companheiro de Nhoque?

Pode?
Pode.
Brigadú, fabio junior. Pau no gato, rapaziada!

Nhoque não é crocante. Logo, não deveria ter nome de barulho. Não é como um hotdog, que você morde e fica ali a dentadura marcada no pão, dando a clara noção de que ali rolou um NHOC!. Nhoque não é como as torradas, que fazem uma barulheira dentro da boca e você tem que aumentar o som da TV enquanto mastiga. E por fim, nhoque também não é sucrilhos, que você mastiga de boca fechada, e mesmo assim todos ao redor ouvem. É nessa hora que hora que o sucrilhos nos prova que boca fechada não entra mosca, e nem o mais sábio dos homens saberia porque diabos uma comida tem nome de barulho.

E quando o mais sábio não sabe (olha o trocadilho-lho-lho), é um sinal de que a jiripoca vai piar. E compartilhando com vocês um pensamento que usei mil vezes na minha vida profissional....

Tão importante quanto saber, é saber quem sabe.
Daniel Rodrigues - 1977 /...
Então lhes digo: Eu sei quem sabe. E quem sabe aquilo que o sábio não sabe? Só pode ser aquele bom mafagafinhador, capaz de mafagafar não menos que 7 mafagafinhos: O Google!!

Acho que deve ser por conta da hora, mas quando perguntei pra ele, o Google me pareceu meio confuso. Tirando a baba do canto da boca e com um bafo de leão, ele me falou um monte de coisas. E como esse blog não tem nenhum compromisso com a verdade, muito pelo contrário, vamos com a explicação que achei mais bacaninha.


A história do prato é bastante antiga. Foi certamente o primeiro tipo de massa caseira - apesar do renomado gastrônomo Pellegrino Artusi, autor do clássico italiano A Ciência na Cozinha e a Arte de Comer Bem, publicado em 1891, não o enquadrar nessa categoria. O espaguete, o ravióli e companhia são posteriores. Supõe-se que o nhoque exista desde os antigos gregos e romanos.Na Itália, chamaram-no primeiramente de macarrão. Na Idade Média, porém, já era conhecido com o nome atual. Em português, escreve-se nhoque. Fica parecendo vocábulo de ascendência tupi-guarani. Em italiano, grafa-se "gnocchi". O sociólogo paulista Gabriel Bolaffi, no livro A Saga da Comida, lançado em 2000, diz significar "algo como pelota, isto é, uma pelotinha de farinha amassada com água".
O link é esse aqui.

Enfim, ninguém sabe nada. Então eu, você ou o barak obama podemos simplesmente inventar uma história e boa. Embora todo mundo tenda a acreditar mais no obama do que na gente, eu prefiro acreditar que um ET perneta, fedido e dentuço desceu de um cavalo marinho feito de cheetos tubinho, encontrou uma jibóia loira e perguntou a ela quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Após uma rápida consulta ao oráculo [/matrix], a jibóia respondeu que pato que come pedra sabe o cu que tem. Nesse momento começou a chover nhoque sobre a face da Terra e foram felizes para sempre.

Enquanto se pergunta qual barbitúrico o escriba desta porcaria anda consumindo, o mais impaciente dos leitores, entre um gardenal e outro quer saber por que estamos há tantos parágrafos nesta enrolação sa-fa-da e não vamos logo para a receita?

Traz o chá de folha de maracujá pro menino e avisa ele que tudo isso é porque esta é uma receita muito, muito fácil. Avisa também que o humilde autodidata que vos escreve aprendeu na novela das 8 que a enrolação faz a graça da trama e que se pode criar um par romântico entre a mariana ximenes e o toni ramos, e no final ninguém vai achar que isso não faz o menor sentido.

Então, pára de achar que as coisas aqui não fazem sentido e cola esse seu globo ocular aqui na telinha [/plim-plim] porque chegou a hora de botar tudo o que conhecemos acima, em prática.

A primeira coisa que você vai precisar é de batatas. A segunda é de farinha. E acabou. Tem gente que floreia a receita com um bilhão de especiarias, óleo de fígado de bacalhau ou purpurina de dendê. Mas não precisa de nada disso. Só batatas e farinha de trigo. Vai na minha que você não passa fome, amigo.

Primeiro temos que ter em mente qual batata usar. Eu prefiro a batata baroa, que é meio rosada. Pensa na cara de pau da cristina kirschner, pergunta mentalmente a cor da casa dela e pega a batata mais parecida. Essa batata fica meio farinhenta, e fica mais fácil chegar no ponto da massa.

Mas a batata comum também serve. Se você quiser tentar, eu já fiz até com mandioca, e ficou bem legal. So recomendo tirar aquele fiapo esquisito que tem no meio da mandioca. A sensação de encontrar aquilo no meio da mordida não é legal não.

Bom, aquiridas as batatas queridas, vamos descascá-las e botar pra ferver [UHU BOTA PRA FERVER DJ]. Pra facilitar este processo, você pode cortá-las em cubinhos pequenos, do tamanho de uma rapadura, porque aí o processo vai mais rápido.

Neste momento, você pode tentar dar uma temperada na batata. Pode colocar um pouco de sal, ou talvez um caldo de legumes. Fica como mandar o seu livre-arbítrio, democrático leitor.

Para saber se as batatas estão no ponto, e este ponto é quando você espetá-las com um garfo e os pedaços se quebrarem, espete-as com um garfo e veja se quebram. Quebrou, tá no ponto. Não quebrou, não tá no ponto. Simples como a soma dos catetos é o quadrado da hipotenusa (eu acho que errei essa de novo).

É importante as batatas estarem bem sequinhas antes de vc começar a massa. Então deixe-as numa peneira ou algo do tipo, e você aproveita pra matar dois coelhos com uma cajadada só: A batata escorre a água, e esfria evitando o posterior e vexaminoso uso de hipoglós pela sua pessoa.

É o tempo de abrir uma cerveja gelada e beber pensando no quanto tudo pode valer a pena se a alma não for pequena. Então, faça valer a pena mergulhando a alma numa cerveja, mas não a pequena.

Bebeu? Valeu a pena? Então vem comigo pra labuta.

Com as batatas que já estão um pouco mais frias (não deixe ficar gelada, elas precisam de um pouco do calor), faça um purê. Purê, como diz o sábio, é o ato ou efeito de amassar as batatas até que se transformem num creme homogênio, sem pedaços. Como você vai fazer isso é uma decisão sua para com a sua criatividade, juízo ou inteligência. Pode ser com o garfo, com a makita do vizinho ou com algum aplicativo maroto do seu iphone. O importante é que não fiquem pedaços.

Isto feito, despeje o purê num recipiente grande e manda pra dentro uma mãozada de farinha. Aí começa a festa do estica e puxa e viva a festa da xuxa. Tem que mexer com as mãos mesmo. Sem nojinho, sem frescura. Mexeu, misturou tudo? Tá colando muito na sua mão? Então mete mais farinha. Agora você tem que descer a cinderela que tem em você e usar de sensibilidade. Vai colocando farinha aos poucos até que o xico xavier te diga que tá no ponto. Vais ter que descobrir sozinho. Mas é fácil. Massa com uma textura agradável, grudando levemente nas mãos, desceu o santo e é isso aí.

Pra montar os nhoques, é bem fácil. Você vai precisar de uma superfície limpa e grande. Exemplo: o campo de futebol de botão do seu filho. Me desculpe, Rodrigo Rodrigues, mas eu fiz isso e você nem percebeu.

Para a massa não colar na superfície, espalhe uma mão de farinha pelo campo e bora lá que é hora do gol.

Você deve ir retirando pedaços da massa grande, mais ou menos do tamanho de um limão. Passa um pouco de farinha em volta, taca no campinho e começa a rolar pela farinha, fazendo uma cobrinha. Se você não se chama benjamin button e ao contrário dele, teve infância, já fez cobrinha de massinha no jardim 2 com a tia Rose. O princípio é o mesmo.

Com a cobra na mesa (ui), pegue uma faca e com ela faça cortes. Estes cortes serão bem próximos do tamanho das bolinhas do seu nhoque. Mais ou menos porque elas crescem um pouco com a água. Não precisa enrolar nem nada. A cobrinha cortada fica como uns travesseirinhos de playmobil.

O pulo do gato aqui é uma coisa que eu achava que era pura gourmetice, mas não é. Sabe aqueles risquinhos que tem no nhoque? Então, eles tem um sentido de ser. Serve para o molho agarrar nas ranhuras e quando vc pegar o nhoque no prato, ele vir mais gostoso. Pra fazer as ranhuras, dê uma apertadinha com um garfo na bolinha.

É, amigo. Com nhoque ou sem nhoque...
nós temos bolinhas

Tá pronto o nosso nhoque. O preparo é tão simples quanto roubar um doce de criança. Coloca água pra ferver com um pouco de sal e uma golada pequena de azeite, e deixa o bicho pegar. Nhoque precisa de água fervente. Assim que estiver rolando o vesúvio na sua panela, jogue os nhoques pra dentro.

As bolinhas vão, inicialmente, para o fundo da panela. À medida que elas vão subindo, você conta até 5 e tira para o próprio recipiente onde vai serví-los. A decisão sobre o instrumento mais adequando para retirá-las de lá, eu deixo para a equação que já citamos anteriormente.

Agora é só jogar o molho com surpresa, muito queijo ralado e ser feliz.


É disso que eu tou falando, amigo.

E por que o molho seria uma surpresa, questiona o curioso leitor. Então sem contarem com a vossa astúcia, o sagaz narrador desta epopéia, contrariando gregos e troianos, categoricamente afirma que, SIM, este pirilampo pedaço de papel ressurgiu não apenas para se alimentar das vossas retinas e hibernar o sono dos justos, mas que haverão mais posts, e o próximo deles falará justamente sobre o mais tradicional e glorioso MOLHO DE MACARRÃO.

Por hora, use o molho de sua preferência que eles também funcionam. Até mais, amiguinhos!
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Camarão na moranga

O calendário gregoriano é mesmo uma coisa de louco. Caso o nobre leitor não saiba, gregoriano é o calendário que nós utilizamos, onde cada semana tem 7 dias, cada ano tem 12 meses, cada dia tem quase 24 horas e quase todo ano temos 365 dias.

O papa Gregório XIII inventou tal aparato para corrigir o falho calendário Juliano, desenvolvido anteriormente pelo incauto romano Júlio Cesar, que já deu nome a um monte de gente, mas perdeu a autoria do calendário e teve de aceitar essa pro papa. 

A loucura começa pelo fato de termos um calendário feito por um papa. É como se tivéssemos uma estrada construída por um criador de javalis, ou uma cidade arquitetada por um garçom. Não que o garçom não tenha seus talentos, mas eu aaaaacho que construir cidade é uma coisa meio complexa. Enfim.. A segunda loucura é que o seu Gregório inventou um calendário falho pra substituir um calendário falho. Taí o ano bissexto que não nos deixa mentir. Ou seja: deu um chega pra lá no imperador e até hoje temos que trabalhar um dia a mais de 4 em 4 anos.

E, já que o assunto aqui é gente que faz caca, venho eu admitir que sim, malacamente fiz uso da incompetência gregoriana pra assumir que tive, nos últimos meses, uma semana tão longa que faria corar Maias e Astecas, com seus calendários assombrosamente finalizados neste malfadado ano de 2012. Se o leitor vislumbrou o post passado, pode notar que, dizia eu, que "semana que vem" redigiria a doce história de um camarão que penetrara (ui) na moranga para produzir uma quente e cremosa gororoba, porém jamais imaginava que passaria por uma semana que começaria em janeiro, e terminaria quase em abril. Culpa do seu Gregório, o XIII.

Pois bem, já que começamos com as pataquadas astronômicas do bondoso papa, vamos nós nessa aventura que o querido leitor vai ver com seus próprios olhos como se vai do céu ao inferno numa única receita.

O camarão na moranga é uma comida típica brasileira, e basicamente compreende uma das mais improváveis combinações gastronômicas já imaginada: Trata-se de uma gororoba de camarão com catupiry enfurnada dentro de uma doce e assombrosa abóbora. 

E vem comigo que a coisa por aqui vai ficar feia.

Primeiro, vamos à gororoba de camarão.

Tudo começa, como quase tudo em culinária, no bom e velho refogado. Se o leitor não sabe do que se trata, é uma fritura de cebola, tomate e alho picados. Mas vamos fazer esse treco direito.

Picota bem pequenina uma cebola média. Tira a casca, faz a coisa direito. Sem chorar, cowboy. Reserva esse trem aí num pote. 

Agora picota uns 2 ou 3 dentes de alho. Reserva em outro pote. Vais sujar um monte de louça mesmo, depois vc se vira com ela.

Picota uns 2 tomates grandes também. Tendo em mente aquela coisa chata dos coliformes fecais, recomendo seriamente que dê uma lavada nos tomates antes da lavagem picotagem*.

* adendo: eu havia escrito que deviamos lavar o tomate antes da lavagem. Os sábios leitores me avisaram do grande erro lógico que me acometera. Agradecido!

Aí você pega uma panela grande (não esquece que vais jogar catupiry, camarão e mais um monte de coisa lá dentro), joga azeite até cobrir o fundo e deixa dar uma esquentadinha. Quando achar que tá meio quentinho, taca a cebola lá dentro. Uma folha de louro ajuda. 

Quando a cebola começar a ficar amarelinha e meio transparente, joga o alho e mistura bem. O alho frita rapidinho, então fica esperto nos pontos pretinhos na panela. Quando o primeiro pontinho preto aparecer, fica esperto e taca lá dentro todo o tomate que já tenha picado. Se não deu tempo de lavar, manda com coliforme e tudo, o que não mata, engorda.

Dá uma mexida aí nessa coisa, vc vai notar que os tomates começam a se desfazer. Vai mexendo gostosinho gostosinho rebolando até o chão [/leandro e leonardo].

Tenha em mãos um belo e glamouroso kilograma de camarão limpo. Pode ser qualquer camarão, e a razão diretamente proporcional entre o prejuízo no seu bolso e o tamanho do camarão impacta diretamente no sucesso da sua receita. Desde que esteja limpo, sem pele, sem rabo, sem cabeça e sem pezinhos. Tirou tudo isso, pesou 1kg, é disso que a gente tá falando.

Manda esses caras pra dentro da panela. Mexe mexe que é bom de novo.

O camarão começa a perder um monte de água, e eles vão diminuindo de tamanho, enquanto você acompanha, literalmente, o seu dinheiro evaporar. 

Primeiro, faz um monte de líquido na panela. Depois, esse líquido vai evaporando e o caldo começa a ficar mais grosso. Tamos chegando no caminho.

Se você tiver um cubinho de caldo de camarão, taca dentro. Se não tiver, taca um de legumes. Se não tem de legumes, nem pensa em mandar aquele tempero de feijoada, sazon ou caldo de carne. Aquele lance da propaganda que todo mundo acha gostoso e sai gritando que É O AMOOOOOOOR só acontece no comercial. Se você mandar um caldo de carne no camarão, estragou o camarão. Se não tem caldo nenhum, ao final da receita vc acerta o sal e pronto. 

Entornando o caldo, o que temos aqui é uma panela fervilhando de camarão, tomate, cebola, alho, tempero e água. Joga lá dentro um vidrinho de leite de coco, isso aí dá um agrado ímpar a essa receita.

Quando der uma boa evaporada no seu rico dinheirinho na água do camarão e o caldo estiver ficando grosso mesmo, joga lá dentro metade de uma daquelas bandejas de catupiry. Pode ser uma bisnaga, enfim. O ideal mesmo é aquele catupiry que vem no potinho (que parece uma bandeja, que antes era de madeira), mas pode ser o de bisnaga.

Mais uma vez, a razão entre o quanto pagou no queijo e o quanto sua receita vai ficar gostosa é diretamente proporcional. Resumindo: não manda aquele "requeijão biriba" pra uma receita cheia de camarões. Manda catupiry de verdade, ou alguma coisa BOA lá pra dentro.

Ok, feito isso, mistura um pouco e deixa. Vamos pra abóbora.

Eu, sinceramente, nunca entendi os americanos. O fato deles acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, eu até aceito. O fato deles comerem pasta de amendoim e omelete de manhã, até dá pra entender. O fato deles não gostarem de futebol e acharem o máximo jogar taco no estádio, passa. Mas esse lance muito louco de ter medo de abobora eu não entendo MESMO. Tá certo que é helloween, aquela coisa toda, mas poxa.. uma abóbora, sempre vai ser uma abóbora. Um vegetal, como cenoura, pepino e acelga. Embora acelga seja meio esquisita mesmo.

Pra provar que esse lance de medinho é coisa de maricas, cá vamos nós bancar o sacripantas e retirar o cérebro da fruta lá de dentro.

Você pega uma faca afiada, e arranca a tampinha do alto da cabeçona dela. Imagina uma tampinha redonda, começa a cortar. Tá feito. 

Mete o mãozão lá dentro (dá uma lavada, né fanfarrão), retira todo o conteúdo e pronto. Você vai ter uma abóbora oca, inofensiva, incapaz de assustar o mais frágil dos barak obamas. 

E antes que você possa falar "Shake Your Ass, mr. Pumpkin-head", passe a mão no óleo da sua cozinha e esfregue nas paredes internas da cabeçona de abóbora ali. Pouco óleo, é só pra dar uma molhadinha.

Pra que? Pra passar batom, de que cor? de cor de violeta. Na boca e na buchecha Pra abobora em si começar a ficar molinha.

E por falar em molinha, saca que moleza: mete a aboborona dentro do seu microondas e deixe lá uns 2 minutos. Abre, cuidado pra não queimar esse dedão duro. Se ela tá ficando um pouco mole, tira de lá. Se ainda tá muito durenga, vai deixando mais um minuto, conferindo o estado da fruta com frequencia.

Aqui vem o grande momento da sua abóbora. Pensa comigo:

At the blue corner, você tem uma abóbora acéfala, meio molenga. E at the red corner você tem um líquido muito louco de camarão e mais um monte de coisa. A missão aqui é colocar um dentro do outro, preferencialmente o camarão dentro da moranga, sem nocautear a sua receita e sem golpe abaixo da linha de cintura.

Se você não tomar cuidado, sua abobora vai quebrar e todo o seu dinheiro camarão vai pelos ares pelo chão.

Portanto, não faça como eu fiz, e coloque uma bandeja debaixo da abóbora. Feito isso, deposite no fundo da abóbora o outro meio pote de requeijão. Feito isso também, jogue aquele líquido todo de camarão e coisas. Isso tudo vai, agora, pro forno. Não se esqueça da lambança que acontecerá caso esqueça da bandeja debaixo da abóbora.

Veja com seus próprios olhos:


sim, leitores. isso aconteceu comigo.
aí aprendi a forrar a abóbora, como podem ver na de cima.

Recolhido do chão, a família nem percebeu o gostinho de ODD. 
malandragem também faz parte da culinária, vai aprendendo com o tio.

Agora, deixe no forno o tempo de você tomar umas duas cervejas, retire com todo o cuidado do mundo e seja feliz.

Como preparar uma picanha invertida, um espetáculo em qualquer churrasco

Merda.

Não, caro leitor. Não estou lamentando a escalação do dunga, nem escolhendo meu candidato para as próximas eleições, e nem tampouco dei uma topada na quina da cama. Até porque, eu estou escrevendo aqui agora, e não creio que seja uma boa prática digitar andando pela casa.

Merda, segundo o gooooooogle, é uma expressão muito utilizada entre artistas de teatro. Fanfarrões, os atores costumam desejar "merda" uns aos outros antes de entrarem em cena, visivelmente camuflando uma vontade iminente de que o companheiro de cena perca um dente, peide em cena ou simplesmente esqueça o texto. Atores gostam disso, sempre faz sucesso depois, nas cenas dos bastidores. Taí o video show que não nos deixa mentir.

Mas que diabos tem a ver esse negócio de merda tem a ver com o nosso combalido Gato na Grelha?

Simples, caro leitor. Eu, o escriba desta merda deste surrado pergaminho, estou lhe desejando MERDA. Muita merda.

Desejo-lhe merda, porque daqui pra frente, o artista é você. Pode liberando esse seu lado toni ramos, pode encarnar a ana maria braga (piada pronta, isso), vista a sua roupa de Freddie Mercury, e tenha parcimônia pra não sair do armário, porque essa carne que vamos fazer aqui é capaz de te colocar nos mais altos patamares da moral que um churrasqueiro pode atingir com a sua platéia.

A picanha invertida é assim: algum afortunado virou uma picanha como uma meia, encheu de coisa dentro, costurou a boquinha dela e mandou pra grelha. Consegue visualizar?

Isso, faça aí o seu exercício de imaginação. Vá imaginando as coisas que eu vou te contando aqui, ok?

Feche os olhos e imagine a Luma de Oliveira pelada, esqueça a picanha e nunca mais abra os olhos.

Abre.
Aaaaaabre.
AAAAABREEEEEEEEE!!!!!
Amigo, sei que a Luma é uma delícia, muito mais gostosa do que qualquer picanha, mas se você não abrir os olhos, não vai conseguir ler o resto da receita, entendeu?

Tá enxergando? Posso continuar? Limpa a remela do canto do olho.

Então, começamos analisando a peça de picanha. Pra fazer essa receita, você não pode usar qualquer picanha não. Ao longo da receita, vou explicando porque. Por enquanto, entenda apenas que a picanha não pode ser muito pequena (menos de 1kg), nem ter muita gordura, e muito menos sujeira na contra-capa. Não sabe o que é sujeira na contra-capa? São aqueles nervos na parte de trás dela.

Ok, de picanha na mão, hora de meter a mão na massa.

O primeiro passo é limpar a picanha. Tire o máximo que puder da capa de gordura da picanha. Normalmente, as picanhas com uma boa capa são bem vindas, mas dessa vez, recomendo deixá-la mais magrinha. Pegue uma faca, cuidado com essa mão e vai retirando lascas da gordura. Ao contrário da Luma, você não deve deixar a picanha pelada, apenas retire o excesso. Um pouco de gordurinha vai fazer bem.

Se você é meio louco como eu, guarde essas lascas de gordura pra fazer linguiça posteriormente. Se você é louco inteiro, pode botar a gordura na grelha, esperar ficar douradinha e mandar a sua coronária pras cucuias. Se você é muito louco mesmo, misture chantilly, uva passa e maionese e saboreie na cozinha da ana maria braga.

- menina, sente o cheirinho dessa gororoba!

Isso mesmo, dona ana. Vai já pra baixo da mesa que a receita aqui é bruta.

Enfim, você tirou bem a gordura da picanha, certo? Ok, vire ela do outro lado, e certifique-se de que ela está limpa. Mas a picanha nem caiu no chão, pergunta-se o auspicioso leitor. Não, amigo, ela não precisa cair na lama e nem andar na boca do cachorro pra estar suja. Se ela tiver nervos, membranas e afins, tá suja. Larga de preguiça, afia a faca e começa a retirar essa caca toda. Isso tudo vai deixar a sua picanha dura. E você não quer servir uma picanha dura num churrasco, quer? Eu não quero, e não quero que você queira. Então engole esse choro e limpa logo esse negócio.

Beleza, de picanha limpa e magra, deite ela na tábua. A sua missão é fazer um corte nela, paralelo à gordura. Difícil explicar sem fotos, porque eu não tirei fotos, pra variar. Então vou ter que improvisar, sente o cheiro de photoshop chegando:

recomendo substituir a tesoura por uma faca.
no photoshop, foi o que deu pra fazer.

O lance é o seguinte, você mete a faca no bucho da picanha, e vai abrindo o corte por dentro. A picanha tem que fica como um envolope, mas tome muito, muito cuidado pra não rasgar as laterais e nem o bico. Use toda a sensibilidade que ouvir Love of My Life na adolescência lhe deu e chegue o mais próximo possível das extremidades, mas sem rasgar a picanha. Se rasgar, esquece que vai dar merda. Não no sentido da sorte, no sentido da merda mesmo.

A picanha vai ficar parecendo uma luva daquelas de cozinha. Aquela, que a gente usa pra tirar as coisas do forno.

E, já que ficou uma luva, meta a mão dentro dela. Isso mesmo, experimente e veja se serve na sua mão.

No meu caso, a mão de raquete do garotão aqui não deu, não. Tive que chamar a patroa e pedir a ela que emprestasse sua doce e delicada mãozinha pra enfiar dentro da picanha. Exatamente por isso que a picanha não pode ser pequena. Senão sua mão não cabe dentro dela. Ou você tem mãozinha do mickey, ou vai ter que comprar uma picanha de mais de 1kg. Vai no açougue, mede a picanha, compara com o tamanho da mão e compra uma decente.

Legal, uma vez que a picanha serviu, literalmente, como uma luva, começa a parte mais difícil: virar a bicha do avesso. O plano é o seguinte: um mete a mão dentro da picanha e tenta trazer o bico dela, enquanto outro empurra o bico pra dentro. Como virar uma meia, com a diferença que você não come a sua meia depois de virar. Pelo menos é o que eu espero.

Assim que o bico entrar, venha virando a picanha com cuidado, bem devagar. Não tenha pressa e não seja um ogro, pois a carne pode ter algum ponto mais frágil nas laterais, e rasgar. Aí, dá merda, conforme explicações anteriores.

na hora de virar, deixamos algum ponto mais frágil na lateral.
na hora abrir, rasgou e o queijo fugiu. Dane-se, ficou bom assim mesmo :-)

Agora tá fácil, você deve recheá-la. Você pode enfiar o que quiser dentro da picanha (não, necessariamente, o que quiser, mente suja do capeta). Recomendo seriamente queijo provolone cortado em cubinhos, com bacon e um pouco de orégano. Mas já vi gente que coloca pimentão, cebola, farofa, enfim, um monte de coisa. Minha próxima receita vai ser com catupiry e ervas. Ou seja: use a imaginação. Se você não tem imaginação, encha a picanha com provolone e bacon que funciona. Não precisa lotar a picanha, senão vai vazar e fazer lambança. Encha, mas seja comedido. No caso do provolone, nem precisei colocar sal, pois o queijo já é bastante salgado. Se usar coisas sem sal, salgue as coisas.

Chama a vó aí.

Hora da costura. Para que aquele recheio todo não vaze, você precisa dar um jeito de costurar a boca da picanha. Não me venha com essa história de que não sabe cozinhar. Eu sei. E sabe porque eu sei? Porque no meu tempo as camisas de futebol não vinham com os números impressos nas costas, como hoje. A gente tinha que comprar o número na papelaria, e costurar na marra. E como minha mãe não era, exatamente, uma serzideira, ela ignorava meus pedidos e se eu quisesse jogar com um número nas costas, tinha que me virar. Assim aprendi que espetar o dedão dói, descobri que tenho hipermetropia e, por fim, aprendi a fazer uns pontos porcos que prendiam o número na camisa, e agora prendem o recheio dentro da picanha.

Tal e qual o 10 nas costas do artilheiro, costure a boca da picanha. Uns 6 pontos já são suficientes, nem precisa ser muito bem feito. Como na famosa macumba, lembre-se daquele chefe chato, e pense que tá costurando o nome dele na boca do sapo.

A picanha tá quase pronta pra ir pra churraca. Na verdade, se você é ansioso e não acha ruim o velho ditado que diz que o apressado come cru (CRU, mente suja), manda ela pro fogo. Se você quer dar um agrado nela, esprema uns dentes de alho e passe por fora na gordinha (sim, ela fica gordinha, parece um bebezinho).

Ah, é interessante passar um pouco de sal grosso por fora dela.

Deixa na churraca, perto do calor, e sem deixar que as chamas encostem nela e abre uma breja. Mais outra. E mais outra. Pronto, se a tua churraca é quente e funciona direito, tá na hora de tirar.

Pra experimentar, retire um pedacinho do bico tomando cuidado pra não chegar no recheio, e veja a cor da carne. Se estiver muito vermelha, volte pra churraca. Essa carne não é legal malpassada, não.

Ok, se a cor estiver legal, retire, fatie e manda bala. Nesse momento, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo. A picanha invertida te faz artista.

tá duvidando? dá uma olhada nisso.
não dá vontade de bater palmas pra ela?

Duas histórias engraçadas sobre a picanha invertida:


  1. Tenho um filho de 4 anos, que adora me acompanhar nos churras, prepara as carnes comigo, maior barato. No dia da picanha invertida, ele foi comigo no açougue, ajudou a escolher a peça, queria saber como fazia, a coisa toda. Na volta do açougue, ele começa a rir sozinho no carro. Perguntei qual era a graça, ele falou: "Pai, legal esse negócio de picanha DIVERTIDA!" hehehe. Aqui em casa a receita mudou de nome, chama-se agora Picanha Divertida.
  2. Minha prima, e melhor cliente da churrascaria lá de casa, me decepcionou. Disse que a picanha invertida ficou com gosto de pano de chão. Fila da mãe, pode deixar que eu vou aprontar uma pra ela no próximo churrasco. Se alguém tiver uma boa idéia de vingança, agradeço.
  3. Semana passada, estive em Penápolis, cidade da saborosa Sabrina Sato, e da respeitável família de uma amiga nossa. Fizemos a picanha invertida juntos, a N mãos, maior barato. Ficou todo mundo tão pilhado com a picanha, que quando ela saiu, o amigo que estava cortando a carne teve que desviar dos dedos na tábua, de tanto que o pessoal voou pra cima da picanha. Foi a primeira vez que eu vi uma peça inteira de picanha sumir em menos de 4 minutos. Taí a foto pra provar:

sente o enxame pra cima da picanha


Tempo de preparo: 2 breja na cozinha, 3 na churraca. Sirva feliz.
Custo: meio carinho, $30 da picanha e mais $10 do queijo. Mas vale a pena.
Rendimento: complicado, porque o pessoal acaba comendo mais do que comeria normalmente. Serve bem umas 5 pessoas. Mas sempre pode aparecer aquela prima magrinha que se revela uma ogra e come tudo sozinha.

Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

- Mentiroso, safado, vagandundo!

O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

cabou o post.
...
...
...
cabou, não.

Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.

Molhinho da vovó

Não tenho como saber em qual dia e horário você estará lendo este post, mas eu posso te garantir que eu sei em que dia e hora estou escrevendo. E te digo: hoje é segunda-feira, e já passamos de meia-noite. Informação esta que me coloca numa saia justa, porque eu garanti que seria segunda, mas na verdade já passou da meia noite, transformando automaticamente essa segunda numa terça.

Ok, segunda ou terça, tanto faz. O que nós podemos concordar é que, salvo feriados ou aqueles dias da mais absoluta lambança, segunda ou terça não são exatamente os melhores dias da semana pra fazer um churrasco, não é?

Somando a isso o fato de que eu abusei da prerrogativa de ser carnívoro neste final de semana e devo ter comido, entre sexta e domingo, uma vaca inteira. Vaca, daquela que muge e come mato, de quatro patas e rabo abana-moscas. Limpe essa sua mente ruminante e decrete comigo: hoje não vamos falar de churrasco.

E tira a mão desse agrião aí, moleque.
Um adendo importantíssimo a respeito do agrião, que eu já vou te avisando agora, pra você não estranhar na hora: eu ainda vou escrever um post aqui sobre o agrião. Já notou como é gostoso comer agrião tomando cerveja? Sério, pára tudo e experimenta. Bom, tá avisado. Qualquer dia eu vou escrever sobre as propriedades embriagadoras da dupla agrião e cerveja, e não quero você fazendo beicinho (ui) e nem olhando feio pra mim. Tá avisado.
Onde eu queria chegar? Ah, aqui, na minha vó.

Vó é o maior barato, sou fanzaço da minha. Provavelmente da sua também. Porque casa da vó é sinônimo de comer bem. Taí a Dona Benta, fazendo bolinhos de chuva pro menino Pedrinho, lá no Pica-pau amarelo. E vou te falar: Perdeu, Narizinho, porque se a tua vó faz bolinho de chuva, a minha faz comida. E comida boa, não é qualquer bolinho, não. Dona Ivette, a nonna, manda bem até quando passa manteiga no pão.

E foi numa dessas que eu aprendi a fazer um verdadeiro manjar, uma maravilha da culinária Donivética, que você pode preparar na sua casa, aproveitando pra fazer amigos e influenciar pessoas.

Comida na casa da vó, mesmo que durante a semana, costuma ser almoço. Ela prepara com carinho, faz o show que ela bem sabe e serve aquele almoção fantástico.. Mas teve uma vez, que o combinado foi diferente, e acabamos marcando um jantar. Lanchinho, segundo ela.

Na hora marcada, chegamos, batemos um papinho e fomos pro lanchinho. Vovó vai pra cozinha e volta com um pão francês cortado ao meio, recheado com alguma coisa maravilhosa que parecia queijo+presunto derretidos, mas não era bem isso.

Não era bem isso, mas ao mesmo tempo era, então perguntei à nonna como é que ela conseguia fazer um simples sanduíche de queijo e presunto ficar tão bom, ela me respondeu e te prepara pra fazer o melhor lanche da história do pão francês.

O primeiro passo é picotar uma cebola. Uma cebola das pequenas, não queremos fazer um sanduíche de cebola, ok? Prepara uma faca afiada, engole o choro e liberta o Jason que há dentro de você. Queremos essa cebola bem picotada, pra você não sentir nacos de cebola no seu lanche futuramente, ok? Guarda a cebola picotada num pote.

Aproveita o embalo e picota, muito pequeninho, uns 2 dentes de alho pequenos. Não precisa colocar muito alho, mas se você não pô-lo, vai fazer falta. Seja comedido, picote e guarde em outro pote.

Isso, suje louça mesmo. Dê um migué e peça pra alguma garota lavar depois. Comigo, sempre funciona.

Agora, os tomates. Picote em pedacinhos, uns 2 tomates médios. Na verdade, esses tomates não precisam ser tão pequenos como a cebola e o alho, mas vale ter um certo cuidado.

O principal da receita é o queijo e o presunto, não? Então, picote uns 300g de presunto. Se você comprou fatiado, ponto pra você. Rapaz astuto! Fica mais fácil picotar, você deita todas as fatias na tábua, e faz um tabuleiro de xadrez sobre ela. Assim, ainda pode retirar alternadamente e arrumar uma diversão enquanto cozinha.

O queijo, por motivos óbvios, você não precisa picotar. Se não entendeu ainda, fica aí o mistério no ar. Mas confia em mim, não precisa picotar o queijo. Até pode, mas não precisa.

Seguinte, o preparativo é bem facinho, e tudo o que você tem a fazer é meter todo mundo na panela, respeitando minimamente uma certa ordem. Vamos a ela:

Deite, numa panela, umas 2 goladas de azeite. Mais ou menos o suficiente pra cobrir o fundo da panela. Não precisa por muito, animalesco leitor. Lembre-se que o queijo vai derreter, e ele já tem muita gordura. Pense na sua coronária e seja comedido no azeite.

Aqueça o azeite no fogo. Ou você também não entendeu porque colocamos o azeite na panela? Quanto mistério... Já sacou porque não precisa picotar o queijo?

Quando o azeite estiver quente, jogue toda a cebola picotada. Sempre digo que esse é o começo da mágica. A cebola faz barulhinho, fica bonita e cheirosa, quando frita no azeite. Coisa linda.

Alguns segundos depois, a cebola começa a parecer meio transparente, fica meio molenga. Essa é a hora que você pode encher o peito, e fazer todo mundo ouvir do Ipiranga às margens plácidas: A cebola tá fritaaaaaaa!!!

Joga o alho lá pra dentro, mistura. A coisa começa a ficar supimpa dentro da panela.

Na sequencia, hora do tomate se juntar aos seus amigos fritantes. Mexendo sempre. O tomate começa a dissolver, e fazer daquela fritura um verdadeiro molho. Parabéns, nesse momento você entendeu o que é fazer um refogado. Mas continuemos, estamos perto do fim.


Perto do fim.

Nessa hora, aposto que você já comeu a rainha branca, alguns peões e corre porque o cavalo preto tá vindo aí, e manda o tabuleiro de presunto pra dentro da panela.

Como o presunto é meio borrachento, ele vai ajudar a destruir os tomates. Vai mexendo.

Agora é o fim do mistério: Joga o queijo, picotado ou não, pra dentro da panela. Ele vai derreter com o calor, o que faz com que não importe nada, se ele estava picotado, fatiado ou com uma escultura de michael jackson. A única informação que você precisa ter é que ali existem 300 felizes gramas de queijo mussarela.

Só pra dar um agrado, você pode jogar uma colherada de orégano lá dentro. Tem tomate, tem queijo, tem presunto? Joga orégano, que esse é da turma.

Assim que derreter o queijo, é só cortar o pão no meio e rechear. Tou aqui, no aconchego do meu lar, confiante de que você sabe como fazer essa parte.

Divirta-se. Encha o bucho. Vá pela sombra.

Custo: Somando todos os ingredientes, deve sair uns 10 cruzeiros. Bem barato.
Rendimento: Bastante coisa. Sendo generoso na hora de rechear os pães, essa quantidade rende uns 10 sanduíches.
Tempo de preparo: Umas 3 latinhas, rapidinho e vale a pena.

Churrasco de berinjela com queijo

Começamos este post com um desafio de torrar os neurônios do mais intelectualmente privilegiado leitor desta espelunca: Você, letrado, vivido e ligeiro leitor, sabe me dizer se o correto é escrevermos Beringela ou Berinjela? Com G ou com J? Tenho certeza de que me dei mal em algum vestibular por conta disso aí. Na verdade, me dei mais nos vestibulares mundo afora por outros N motivos, mas pode colocar uma parte da minha derrocada acadêmica na conta da beringela. Ou da berinjela, você decide.

Você não: o goooogle. Vamos perguntar a ele, porque nessas horas, Deus sabe de tudo.

A beringela (em Portugal) ou berinjela (no Brasil) é o fruto da planta Solanum melongena, uma solanaceae arbustiva, anual, originária da Índia, considerada de fácil cultivo nos trópicos, e que pertence à mesma família do pimentão que em Portugal é chamado de pimento, da batata e do tomate. É sensível ao frio, a geadas e ao excesso de chuva na altura da floração. A época de plantio, no hemisfério norte, é de Setembro a Fevereiro e, em regiões de clima quente, o ano todo.

Tá aí Deus que não nos deixa mentir. Perguntei a ele, Deus me disse que eu estava com sorte e eu cliquei. Deus abriu uma nova aba, e lá a Wikipedia resolveu a questão. Agora não temos mais problemas, e podemos chamar a saborosa acompanhante deste post simplesmente de berinjela.

Daí que churrasco de berinjela é coisa de vegetariano, né? É. E olha, nesse blog aqui a gente não tem viadagem com vegetariano não. Pensa comigo:
  • Se você for convidado pra um churrasco, só você e o vegetariano, proporcionalmente, ele vai comer todo o tabule, e você vai comer toda a carne. Tem relação custo-benefício melhor que essa?
  • Se você convidar um vegetariano pra um churrasco, vai poder tocar um foda-se no cardápio e preparar a carne que bem entender, do jeito que bem entender. Afinal, ele só vai comer o tabule mesmo.
  • Se o vegetariano for uma pessoa merecedora do seu carinho, você pode preparar a receita da abobrinha, que já foi escrita por aqui. Além de agradar o cara, vai agradar a si próprio, porque essa abobrinha aí é boa mesmo.
  • Ou, pode libertar o seu coração de todo o ódio e rancor, sair do lado negro da força e preparar a tal berinjela, da qual falamos tanto e necas de receita. Mas esse blog é assim, a gente enrola pra caramba e depois mete a receita num parágrafo só. Vai vendo.
Falando sério, não tenho o menor problema com vegetarianos. Já tive vários deles nos meus churrascos, já teve vegetariano que leu esse blog e comentou comigo que gostou, e até admito que faz falta mesmo uma verdurinha num churrasco. Se o cara vai num churras e não quer comer carne, respeite e dê a ele todo o broto de bambu, toda acelga e brócolis que conseguir encontrar e encha a sua cara (a sua, não a dele) de carne, afogando-se em proteína enquanto nosso amigo se mantém saudável, protege os animais do terrível açougueiro do inferno e ainda dá uma força pra camada de ozônio.

Legal, onde eu queria chegar mesmo? Ah, na receita. Vambora que a enrolação aqui já tá passando do limite.

Essa é uma receita que dá um certo trabalho, então não recomendo fazê-la num churrasco muito populoso, sob o risco de ficar apenas cuidando das berinjelas e queimar a carne. Portanto, esta receita compreende a preparação de apenas UMA berinjela grande.

O primeiro passo é cortar a berinjela em rodelas, da espessura de uma salsicha. Estou acreditando que todo mundo aqui sabe a espessura de uma salsicha, ok? Legal.

Importante: não descasque a berinjela. Sério, não faça isso. Descascar a berinjela, além de causar espinha e pelos na mão, estraga a sua receita. Portanto, limpe essa sua mente fétida, guarde a playboy da priscila do BBB e volte pra cozinha. E vê se lava a mão.

Uma vez fatiada a berinjela, jogue todo mundo num pote grande. Pode ser o pote da batedeira, mesmo. O próximo passo é uma golada generosa de azeite. Como já disse mil vezes, larga mão de ser muquirana e compra um azeite decente. A qualidade dos ingredientes que você põe na sua receita está diretamente relacionada à quantidade de elogios que você vai receber depois.

Picote, bem pequeninho, uns 3 dentes de alho. Sem preguiça, descasca o alho, deita na tábua, prepara a faca e manda o kill bill no alho.

Já tem azeite, tem alho, agora você pode mandar umas 2 colheradas de orégano. Já falei que azeite e orégano são o Romário e Bebeto da culinária. Praticamente o pedro e bino do churrasco. Tudo o que você colocar azeite e orégano fica bom.

Dê uma bela borrifada de mostarda preta lá dentro. A mostarda preta é especialmente bacana quando se fala de grelhados. A mostarda queima por fora e protege a carne (no nosso caso, berinjela), fica muito show.

Feito isso, jogue um punhado de sal. Com muita parcimônia. Não seja o monstro da salina maldita, jogue o suficiente pra ficar bacana, e cuidado com a pressão.

Picote um tomate em cubinhos e jogue lá dentro. Um tomate legal pra se usar nessa receita é o tal "tomate cereja", carinhosamente apelidado de tomate-cerveja. Nesse caso, basta cortá-lo ao meio e ele tá no jeito pra se juntar com a berinjela. Tenha em mente que cada fatia de berinjela vai precisar de um tomate lá em cima. Portanto, cuidado pra não sobrar tomate, nem faltar. Faça a conta, rapaz. Jogue o tomate pra dentro do pote.

Na real, você já pode misturar tudo e considerar a parte da cozinha finalizada. Eu, particularmente, gosto de adicionar ainda umas 2 ou 3 pimentas biquinhas, que é a pimenta mais querida do Brasil, tanto no pessoal quanto no profissional. Ou seja: essa é a hora de você dar aquele toque especial na sua receita.

Agora vamos pra brasa. Nós e a berinjela. Tenha em mãos uma bandeja de queijo mussarela fatiada, ok?

Agora deite algumas berinjelas na grelha, e abra uma cerveja. Na verdade, eu acho que depois de todo aquele trabalho na cozinha, você já abriu a cerveja. No caso, abra outra.

O fogo vai queimar a parte de baixo da berinjela. Quando começar a ficar preto, você vira. Dá dois goles de breja e bora pra fase final.

Dobre uma fatia de queijo em 4 partes. Coloque em cima da berinjela. Depois, coloque um pedacinho de tomate em cima do queijo.

Deixe lá na grelha até o queijo derreter. Tá pronto, você pode tirar e servir.

Apesar da aparência emboiolada, fica uma delícia. Recomendo.

Custo: ah, preço de berinjela. Vamos dizer que uma berinjela, tomate-cerveja e queijo custaram menos de 10 cruzeiros. Tá bom, né?
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha, e mais umas 3 na churraca. Sirva feliz.
Rendimento: Uma berinjela dá umas 7 ou 8 rodelas.

Churrasquinho com queijo

Quando eu era moleque, eu simijava com os Mamonas cantando o Vira. Aliás, sempre achei o humor daqueles caras muito foda. Tem certas sutilezas em robocop gay, por exemplo, que são impagáveis. Prestenção nos backing vocals, na próxima vez que ouvir. Aliás, na próxima vez não, prestenção AGORA:




Então, mas onde a gente quer chegar com essa conversa mole? Ah, então, os caras mandavam muito bem no Vira, que me lembra do seu Manuel da padaria, que me lembra que ontem eu almocei lá (na padoca) e que a patroa pediu um churrasquinho com queijo, que me lembra que eu fiquei morrendo de vontade de comer aquilo, e que tudo isso me lembra que sim, eu me lembro do que eu almocei ontem! E que foi uma coxa-creme e tava terrível, ao contrário do churrasquinho com queijo da patroa, que parecia delicioso. Só não me lembro se eu assumi a minha porção neanderthal e tomei o quitute da mão dela ou se apenas fiquei olhando e babando, mas isso não tem a menor importância. Fato é que aquele churrasquinho com queijo ficou me atormentando o resto da tarde.

Se você não sabe o que é um churrasquinho com queijo, eu ajudo a ventilar essa sua mente. Pegue uma cerveja (o ativador cerebral do homem moderno. ou nem tão moderno assim) e escuta o que eu vou te falar: Churrasquinho com queijo é um lanche. Composto por um pão francês, que os gaúchos (ou cariocas, não lembro bem), virilmente chamam de "cacetinho", recheado com um bifão de contra-filé coberto com queijo derretido. Sacou? Simples assim.

Então, ao adentrar o conforto do lar, depois de um dia de trabalho cascudão, com esse sanduíche me perseguindo o subconsciente, eis que abro a geladeira e encontro uma Itaipava. Não, não era isso (acho que tá na hora de ir pra casa, a mente já tá engasopando), eis que eu abro a geladeira e encontro um belíssimo pedaço de contra-filé. Uma peça mesmo, que eu havia comprado no dia anterior. Tava resolvido o caso do sanduíche que me dominava: faria eu mesmo o meu churrasquinho com queijo. Little Barbecue with Cheese, como dizem os ianques, entre um hamburger e outro.

Tratei de convencer a minha doce esposa a comparecer à padaria, em busca de pães e queijo mussarela. Fui bem-sucedido nessa investida, apesar da má vontade com que ela executou a tarefa. Mas o que importa é que ela saiu tarde e no frio pra comprar pães e eu fiquei no quentinho preparando os bifes (querida, te amo, vc sabe que isso aqui é brincadeira, né?).

E como preparei os bifes pro churrasquinho com queijo? Na verdade, pra fazer churrasquinho você não precisa nem temperar, basta por sal. Mas, como eu cheguei do trabalho depois das 9 da noite e minha alma só se salvaria se eu comesse algo REALMENTE gostoso naquele momento, decidi fazer um agrado no contra-filé.

Cortei 4 fatias de contra-filé, com um pouco menos do que uma salsicha de espessura (wow, acabei de inventar uma medida excelente pra espessura! Todo mundo sabe o quanto tem uma salsicha, não tem como errar). Joguei um pouco de orégano nos bifinhos. Adicionei sal fino e uma pitada de nada de pimenta do reino. Só pra dar o agrado, mandei uma pimenta biquinha picotada lá dentro. Um gole de azeite e tá feita a arte. O cheiro da carne, somado à quantidade de horas decorrentes desde a minha última refeição já seriam o suficiente pra abocanhar aqueles bifes crus mesmo, mas preferi o auto-controle e deitá-los na frigideira.

Ok, isso é um blog de churrasco e esse negócio de frigideira é coisa de fritador de batata, e isso a gente não é, pensa o nobre leitor nesse momento. Mas explico: se você mora em São Paulo e, como eu, está sofrendo com a massa de ar polar que os argentinos mandaram pra gente, creio que consegue entender que usar o quintal (e a churrasqueira, por consequencia) nesses dias pode causar o congelamento de certas partes do corpo que eu prefiro manter quentinhas. Portanto, mandei-os pra frigideira. Mas, se você quer arriscar, recomendo acender a churraca e usar uma chapa de ferro pra fritar o bife.

Na hora de fritar os bifes, é bom lembrar de não colocar óleo, manteiga, azeite, nada na frigideira. Afinal, você já deu uma golada de azeite nos bifes, lembra-se? Além disso, o contra-filé tem bastante gordura, que derrete e lubrifica a frigideira.

Daqui pra frente não tem segredo. Deixa o bifinho ali deitando fazendo barulhinho por um tempinho, vira ele, joga o queijo em cima, e quando derreter, corta o pão, põe tudo no meio, fecha e come.

E, finalmente, o churrasquinho com queijo da patroa parou de me atormentar, e fomos felizes para sempre.

Tempo de preparo: Muito rápido, só 2 brejas. Tome umas 5 antes e sirva bêbado.
Rendimento: Cada bife vale um pão, uai.
Custo: Uns R$5,00 de carne e mais uns R$4,00 de queijo e pão renderam 4 sandubas. Beeem barato.

Churrasco de apartamento: o que fazer?


É, não dá pra fazer um boi no rolete, mas vá lá.
Isso é uma churraca. Imagina a gordura pingando nos andares de baixo.
Compre isso aqui.

Certa vez escrevi aqui neste boteco sobre churrasco de apê. Naquele momento, dei a primeira dica, sobre a decisão de compra entre a churrasqueirinha elétrica ou a de carvão. Vale a pena dar uma lida, uma decisão errada nessa hora pode te custar um carão na reunião de condomínio. Ou uma multa, o que é pior ainda.

Leu? Já sabe que tipo de churraca usar? Pois hoje vamos lustrar as nossas mentes e descobrir quais são as carnes mais adequadas pra se fazer em churraquinhas pequenas. E olha que disso eu entendo, pois morei muito tempo no penúltimo andar e fazia churrasco de sacada toda santa semana. Sem multas e sem reclamação, praticamente um recorde. Tá, a amizade com os porteiros do prédio contaram um pouco, mas tá valendo.

Vamos imaginar a seguinte e hipotética situação: Você vai receber um grupo de 4 amigos em casa, fora você e a sua patroa. Se você for solteiro, recomendo que convide uma garota. Se não tiver patroa, e sim patrão, recomendo que vá imediatamente ao site da ana maria braga ou do chef alex atala, que lá eles decoram os pratos com folhinhas.

Então temos 6 barrigas famintas para alimentar, correto? E apenas uma churraca pequena pra preparar tudo, correto? Pense, então, em carnes que ficam prontas rapidamente e que podem ficar perto da grelha. Pense nisso aqui:
  1. A picanha em fatias é perfeita. Fica pronta rapidinho, todo mundo gosta e fica boa de fazer o gato miar. Uma dica que funciona bem na picanha fatiada de churraquinha é dar uma passada de manteiga nela. Outra dica é usar sal fino, pois, dependendo do calor da churraca ela fica pronta muito rápido e não dá tempo do sal grosso derreter, deixando tecos de sal pro pessoal morder, o que não é educado e não conserva os dentes na boca. E não ponha ela na churraca se não estiver bem quente, senão ela endurece, óquei? 
  2. Linguiça. Não vou linkar o post da linguiça cuiabana porque ela não pode ficar tão perto do fogo, e demora pra sair. Mas uma boa linguiça fica legal na churraca pequena. Em qualquer supermercado você encontra umas linguiças legais, daquelas tipo premium. Tem uma, em especial, do "Rei da Linguiça" (ô nominho infame, dotô), recheada com queijo e orégano que é muito legal. Custa mais caro do que uma linguiça normal, mas não chega a ser um absurdo. Só precisa ficar atento pra não furar linguiça recheada (o nome recheada te diz alguma coisa? Mantenha o recheio lá dentro) e pra ela não vazar ao virar.
  3. Queijo coalho, particularmente, tem vocação pra ficar muito bom nas churraquinhas pequenas. 
  4. Coraçãozinho de frango fica bom, mas tem que tomar um certo cuidado, pois ele fica o tempo todo perto do fogo. Recomendo usar sal fino nele também.
  5. Ah, a abobrinha.. Se não fosse as garotas (leia o post das abobrinhas até o fim), eu jamais teria olhado uma abobrinha com respeito nessa vida.. Obrigado por vocês existirem (as garotas, não as abobrinhas, que fique claro). Fica bom na churraquinha e não precisa de nenhum cuidado especial. Só demora um pouco, então não encha a churraca disso. Reserve um espaço pra ir colocando outras coisas.
Tá feito: só nessas dicas você já tem um churrasco pra 6 pessoas, até um pouco mais. Ainda dá pra tentar outras coisas, até costelinha de porco eu já fiz. 

Só não tente fazer carnes grandes ou que necessitem de muito tempo na churraca. Essas, geralmente tem que ficar lá no alto. E quando eu falei "lá no alto", li a sua mente e vou me antecipar à merda: não tente fazer gambiarra, meu filho. Entenda que a churraca pequena tem seus limites, quando quiseres fazer uma ponta de agulha, um cupim ou um cordeiro, use uma churraca decente.

Queijo coalho não é carne, mas é bom

 INFORMAÇÃO: Conteúdo readequado às novas diretrizes editoriais do nosso gerente em outubro de 2022 

Churrasco sem carne não existe. Mas isso não significa que você não possa ajudar a compor o seu churrasco com outras coisas. E uma que faz bastante sucesso é o queijo coalho.
Trata-se de um queijinho pasteurizado, meio durinho, espetado num palito. Comer cru deve ser meio esquisito por conta da textura, mas se vc esquentar um pouquinho fica de lavar a alma.
Uma embalagem de queijo coalho costuma ter 7 ou 8 espetinhos. Recomendo que se faça de 2 em 2 espetinhos. A explicação disso é muito simples: quando ele ficar pronto, retire o cabinho de madeira, e corte em pedacinhos. Um espetinho dá uns 5 ou 6 pedaços do tamanho de uma borracha escolar. Se você fizer um espetinho por vez, corre o risco de ver seus convidados se degladiarem. Se fizer mais de 2, corre o risco de empanturrar o pessoal, deixando alguns pedaços sobrarem na mesa. Aí tá feita a merda, pois o queijo coalho, depois de frio, fica uma borracha, terrível de comer. E mandar de volta pra grelha pra requentar é serviço porco.
Pra preparar é muito simples: retire o espetinho do pacote e coloque inicialmente numa parte mais fria da grelha. Perto das extremidades, por exemplo. O segredo é deixar o queijo aquecer gradativamente, pois direto no fogo, você corre o risco de tostá-lo por fora, e não derreter totalmente por dentro.
Você vai perceber que ele tá ficando bom, pois ele dá umas derretidinhas nas bordas. O chato do queijo coalho é que tem que virar o tempo todo, pra derreter por igual. Ou seja: dá trabalho. Mais um motivo pra não meter mais de 2 na churraca, pq você vai ter que ficar tomando conta.
Ok, então você conseguiu deixar os 4 lados deles meio derretidinhos. Hora de meter ele mais perto do fogo. Assim, ele vai torrar de leve por fora, formando uma casquinha. Não deixe queimar, é só uma casquinha.  O segredo tá no palitinho, que deixa de ficar firme quando o miolo dele estiver mais derretido.
Deu a torradinha nos 4 lados? Então ele tá derretido por dentro e com uma casquinha por fora, pronto pra servir. É só colocar na tábua, tirar o palitinho e cortar pequeno.
Dica 1: por ser mais leve, faz sucesso com a criançada, que não tem estômago de ogro como a gente. Portanto, se no seu churrasco aparecer o filho da vizinha, aquele sobrinho mala ou até mesmo os seus próprios filhos, mande um queijo coalho e faça a moral com a molecada.
Dica 2: se você é como eu, que detesta ver suja a tábua onde você corta a carne, utilize o queijo coalho pra limpar. Quando você corta uma picanha no ponto, por exemplo, ela perde bastante líquido sobre a tábua. Esse líquido é caldo de picanha, já temperado. Uma iguaria pra ser desperdiçada assim, não acha? Então experimente passar o queijo coalho, ajuda a dar um temperinho no queijo e mantem o seu chiqueiro em ordem. 
Não tempere com nada. Nem sal. Mete o queijão lá e tá redondo.
Tempo na churraca: 1 lata de cerveja.
Rendimento: é acompanhamento, porra.