Pois hoje vamos falar da comida mutante. Convoque o seu x-men predileto e vem comigo nessa aventura que começa de um jeito e termina de outro, tal e qual o mutante, que tem a perna de pau, o olho de vidro e a cara de mau. Aliás, esse não era bem o mutante, né? Mas enfim, sigamos com a nossa experiência genética que hoje eu quero ver o homem virar mosca.
Eu tenho um amigo chamado Zé. Até aí, morreu Neves, porque todo mundo tem um amigo chamado Zé. Mas segura o Neves aí, porque todo mundo tem um amigo chamado Zé, mas eu tenho um amigo chamado Zé Neves! É o amigo que já vem com trocadilho! E olha que, ao contrário do trocadilho, ele nem morreu, hein!
Zé Neves, mineirim de Cristais (abraço pra MG aí, gente!), certa vez me telefona, comunicando que estaria acompanhado de uma mineirada toda, gente que eu muito prezo, a caminho do famoso bar Mercedez aqui em são paulo. Mas não vou fazer propaganda, até porque eu nem me lembro se era no mercedez ou no mercearia. O fato é que o Zé, como mineirim, sorrateiramente movimentou todos em direção a tal boteco, determinado a fazer todo mundo experimentar um tal de bolinho de carne com canela.
Canelas. Carne. É disso que estamos falando.
Não, não é disso que estamos falando. Estamos falando de um bolinho de carne com canela. E eu, que sempre fui um defensor da comida-roots, da culinária rampeira, não conseguia entender porque não pedir uma porção de bolinho de carne e só carne e pronto. Mas mineirim é aquela coisa, né? Sorrateiramente, o Zé Neves me convenceu de que aquilo ali seria uma boa idéia, e "Ok, você venceu,
Quando o bolinho chegou, uma surpresa. E não é que aquele trem era bão mesmo? Bão dimais da conta, sô!
Por fim, tomamos chopp a noite toda, comemos todo o estoque de bolinhos e pagamos uma conta de um bilhão de reais na saída. Mas valeu a pena, porque o Zé Neves é um daqueles caras que sempre valem. Mas eu tive que engolir toda a minha robusteza e assumir que o bolinho temperado com canela era muito bom, ainda que parecesse receita da ana maria braga.
A questão é que não é sempre que a gente tem um bilhão de reais pra gastar numa conta de barzinho, ainda mais quando a gente nem lembra direito se o barzinho é o mercedez ou o mercearia, e decidi tomar coragem e preparar tal iguaria lá na minha cozinha, reduto da mais absoluta macheza e virilidade, que desta vez sucumbira à carne com temperinho doce.
Eis que o mais batuta dos leitores me pergunta mas-porque-diabos-tu-tá-falando-de-bolinho e ainda retruca onde-diabos-está-a-kafta?
onde está wally? onde está a kafta?
Pois é, aí que a porção mutante deste post se revela, porque se fritar vira bolinho de carne, e se enrolar no pau vira kafta. E, ruborizados, temos que admitir que preferimos a porção enrolada no palito.
Sem mais delongas, vamos à receita porque já fomos muito devagar com o andor e o santo é de barro, mas paciência tem limite.
Começamos com meio quilo de patinho moído. O ideal é pedir ao açougueiro que moa na hora, e moa duas vezes. Com isso, todos os nervinhos e afins da carne acabam sendo destruídos também, e carne não fica dura. Não se esqueça de que o patinho não é, exatamente, o orgulho da dona vaca, certo?
De posse do patinho moído, picote muito bem uma cebola pequena e mande pra dentro. Picotar muito bem significa exatamente isso que você leu: larga mão de ser preguiçoso e picota esse trem aí direito. Pensa comigo: você já tá fazendo uma comida meio afrescalhada que mistura doce com salgado, então vê se faz direito, pra ficar bom e te evitar vexame, ao menos.
Assunto compreendido, cebola picotada, aproveite esse surto de boas intenções e picote uns 3 dentes de alho. De novo, picota pequeno, sem preguiça, enfim. Não tou aqui pra te ensinar boas maneiras, e sim pra ensinar a fazer uma comida maneira. Obedece quem tem juízo (me senti o chuck norris agora).
Agora você vai precisar de um maço de
Hoje de manhã, não vi o criado-mudo posicionado ao lado da cama e dei uma bela tropicada seguida do mais temível dos palavrões. Então, faça como eu: meta a canela e mande tudo às favas!
Mete a canela na carne, parceiro. Isso não significa aplicar um round-house-kick no cachorro, e sim depositar o tempero no patinho moído. Não tenha dó, é pra ficar com gosto de canela mesmo. Pra 1/2kg de carne, pode depositar uma colher de sopa cheia, sem medo de ser feliz. Ah, canela em pó, ok? De pau aqui já basta o espetinho.
Sempre que usamos carne moída nessas coisas, a carne tende a ficar densa, e a comida fica pesada. A dica pra deixar mais leve, e render mais, é jogar um pouco de farinha de rosca. Se você é um cara cuidadoso e quer que a sua receita fique realmente gostosa, pode ralar um pão velho, que ele vira uma farinha de rosca bem gostosa. Se não é cuidadoso, mas ainda assim quer que a receita fique boa, veja no mercado mais próximo, geralmente eles vendem pão moído.
Uma boa golada de farinha de rosca, provavelmente uma colher se sopa cheia. Pra ajudar a misturar a farinha com a carne, você pode jogar um ovo la dentro. Mas esta parte pode ser dispensada. Se você acha que esse negócio de botar ovo é coisa de galinha, não bote ovo
Ponha sal com a parciônia que Deus lhe deu e misture. Tá pronto.
Pronto em partes, claro. Agora a parte mutante da receita entra em ação.
Se quiser fazer pequenas bolinhas e fritar, faça isso. Frite bem, a farinha de rosca fica crocante, bem gostoso.
Se quiser enrolar no palitinho e mandar pra churraca, faça isso. Sirva no ponto, nada de bem passado, e não deixe vermelho, pois o espeto desmonta.
A receita é fácil e gostosa. O amargo mesmo é admitir que o mineirim te levou no bico, te fez comer uma coisa que você não queria e você ainda gostou.
Custo: Aproximadamente R$10,00 no PDA. O maço de salsinha sai a R$1,30 e o resto é irrisório.
Rendimento: Se fritar, rende fácil uns 20 bolinhos. Se enrolar como kafta, rende uns 10 espetos.
Tempo de preparo: 3 latinhas na cozinha, duas latinhas na churraca. Rápido e fácil.