Carne de panela tipo gambiarra

Quando eu era moleque, tinha um matuto na televisão chamado McGyver. Matuto, matreiro e malaco, McGyver se livrava de todo tipo de perrengue usando apenas das ferramentas que dispunha, derrotando de vietcongues a comunistas com objetos simplórios como chicletes mastigados e clips de papel. Imagina a cena: o bichão tá lá, na serra do Camboja, cercado de vietcongues loucos pra depilarem aquele topete anos 80, e o cara se safa usando titica de macaco e folha de taioba. Não sei tem taioba no Camboja, mas caso não haja, substitua pela vegetação cambojana de sua preferência.

levando o míssil pra passear.

A isso se dá o nome de GAMBIARRA. Ao ato ou efeito de utilizar-se de material inadequado, improvável e inacreditável para resolver temporariamente determinada situação. Eu faço gambiarra, você faz gambiarra. Não mintamos, todo mundo já fez aquele remendão com fita crepe, já grudou alguma coisa com cliclete ou, pelo menos, já escovou o dente com o dedo na falta de uma escova. 
Adendo para gambiarras das quais me lembro:
1 - Quando era menino, um vizinho tinha um Passatão detonadaço, que ele emprestava pra minha mãe me buscar na escola. O passatão não tinha chave. Tinha um interruptor, igual a esse que você usa pra acender a luz do quarto. #gambiarra
2 - Certa vez, o pedal da embreagem do meu carro afundou, e não queria mais voltat. No meio da avenida Bandeirantes, eu tinha que tirar o carro dali. Percebi que, se puxasse o pedal com o pé, ele voltava e eu conseguia engatar as marchas, mas ao pisar nele, afundava novamente. Não tive dúvida, peguei una daquelas cordas elásticas no porta-malas e amarrei o pedal na base do banco do motorista. Funcionou perfeitamente, e eu admito que rodei mais de um mês assim. #gambiarra
3 - Já fiz muita churrasqueira usando a grelha do fogão da minha mãe #gambiarra
Pois essa receita começa com uma revelação. Você acha que tá dificil aí na serra do Camboja, vietcongue na cola, formiga de um quilo e meio subindo pela canela, sanguessuga que rosna e tigre de bengala? Quero ver você ser churrasqueiro e casar com uma vegetariana, só pra ver a quantidade de gambiarra que vai ter que  fazer na sua culinária, parceiro.

O fato é que a ironia do século aconteceu logo comigo, e o churrasqueiro que lhes fala decidiu casar-se com uma vegetariana. O que não é nem um pouco ruim visto que eu amo muito a garota em questão, mas tenho que admitir que o preparo das refeições lá em casa é sempre uma aventura, regada a doses cavalares de gambiarra. 

Para suprir aquela vontade de comer carne no meio da madrugada, eu sempre tenho na geladeira alguns espetos, daqueles quadradinhos que a gente compra pronto. Espeto Lili, Fifi, não me lembro como são conhecidos aqui em São Paulo. Pode chamar também de espetinho de gato que ele atende. Miando, mas atende. Quando bate aquela vontade de meter os dentes numa coisa que viveu, amou, teve família e amigos, eu esquento um daqueles no forninho elétrico e tá feita a graça. Acha que isso é gambiarra? Ainda não viu nada, parceiro. Vem comigo.

Aqui em casa, assim como na sua casa, tem miojo. Todo mundo tem sempre aquele pacotão de miojo guardado pra uma larica inesperada, uma preguiça de fazer comida ou algo do tipo. Eu tenho, você tem. Não minta pra mim que eu não minto pra você.

Já falamos de espeto de gato, já falamos de miojo. Vai guardando tudo aí nessa memória sofrida que essa receita vai ser cheia de coisas improváveis.

Aí estava eu em casa, morrendo de fome, esposa preparando aquela seleta de legumes não muito apetitosa, quando me bate uma vontade imensa de comer alguma coisa com carne. Porém, tão grande quanto a vontade estava a preguiça de dirigir o esqueleto até algum mercado para a compra de ingredientes adequados. É exatamente nesse momento que te desce o espírito mcgyver, e você decide que na falta dos ingredientes adequados, você vai cozinhar com os inadequados mesmo. Pois pode amarrar a sua panela com arame e meter o bombril na antena parabólica, porque vai começar a receita mais bizarra de carne de panela que você já viu. Mas garanto: continua a ler, não desiste porque fica gostosa.

O primeiro ponto é que você vai usar a carne quadrada do espeto de gato. Logo, seja esperto e retire os cubos de carne do palito. Uns 5 espetos dão uma boa refeição. A grande moral desse parágrafo é: quem não tem boi, caça com gato.

O espeto de gato já vem, normalmente, temperado. Mas na dúvida, é sempre bom dar um toque gourmet a mais (adoro esse termo: gourmet. Faz qualquer comida furreca virar prato de madame). No meu caso, joguei a gataiada num pote e adicionei um pouco de azeite, pimenta do reino, orégano e sal. Mas você pode temperar com o que quiser, desde que não esqueça de que o churrasquinho já vem temperado. Portanto, não exagere.

Agora, dá aquela checada no esparadrapo que prende a haste do óculos, confere a hipermetropia, prepara uma faca afiada e picota uma cebola pequena nos menores pedaços que conseguir. Você vai descobrir qual o menor pedaço que você consegue quando o sangue começar a escorrer do dedão.

Isto feito, manda todo mundo pra panela: cebola, azeite, gato em cubos. Barriga no fogão e vamos em frente. A idéia é fritar os cubos de carne até eles diminuírem de tamanho. O espeto de gato tem uma cor muito característica, e se você já saboreou um espetinho na porta do estádio, vai saber o ponto do bichano.

Já te falei pra abrir uma cerveja? Não? Então abre duas. Uma pra você, aprecie tudo num golão com moderação, e outra pra jogar dentro da panela. Isso mesmo, o molho da carne de panela vai ser feita de cerveja. Espeto de gato, cerveja.. Parece comida da geral do maraca.

Quando a espuma da cerveja der uma baixada, é hora de engrossar esse caldo aí. E como faz isso? Com farinha, meu compana. Farinha. Mas não adianta simplesmente sair jogando farinha na panela que vai empelotar tudo. Então a dica é pegar um pouquinho da cerveja quente na panela, uma meia xícara, talvez um pouco menos. Na mesma xícara, você deposita umas 3 colheradas de farinha, e mexe até que fique tudo homogêneo. Pode ir largando essa preguiça de lado, mexe esse trem aí que o segredo taí.

Agora é só jogar na panela e mexer com a colher de pau (ou com o instrumento que lhe convier, caso o espírito mcgyver tenha tomado conta da sua carroceria).Vai mexendo, que a parada vai engrossando. Até a hora que você perceber que não adianta mais mexer, que o caldo não vai mais engrossar. Aí você pára e tá pronto o rango.

Ah, tá pronto nada. Se você der uma colherada no caldo, vai perceber que ainda está meio sem gosto. Isso acontece porque o churrasquinho de gato não tem taaaaanto sabor assim. Então, o que fazemos nessa hora? Gambiarra, compana. Vem comigo.

Lembra que eu falei do miojo, que eu tenho em casa e sei que você também tem? Então...

Eu deveria ter vergonha de escrever isso aqui nesse blog.

Ainda tou com vergonha.

Bom, tenho que assumir que encontrei um pacotinho de tempero de miojo com um boizinho desenhado, o que significa que o tempero era de carne. O que me leva a crer que aquele miojo fora consumido pela esposa vegetariana, que desacartou o tempero de carne, fazendo ela mesma alguma gambiarra para o miojo ganhar algum sabor. E, uma vez que já tinha dado uma cerveja pra um espeto de gato, o que seria um temperinho de miojo no meio de tanta gambiarra, não é? Tá no inferno, abraça o capeta, parceiro.

Pois adicionei o tempero de miojo, mexi, deixei ferver mais alguns segundos e pronto.

O resultado foi, não sei se a fome que sentia tem alguma coisa a ver com isso, bastante positivo. O molho ficou com um gosto delicioso, a carne macia (também, o que tem de amaciante nesses espetos), tudo saboroso.

Para acompanhar tão degradante iguaria, recomendo um arroz branco, talvez um pouquinho de batata palha também.

Escapar do vietcongue é moleza, quero ver agora quem é que tem coragem de preparar essa receita aqui :-)

Pensamentos de uma cabeça de alho

Cabeça vazia, oficina do diabo, já dizia a minha vó. Aposto um bulbo e um cerebelo como a sua também dizia isso. Aliás, pensando aqui com meus botões, já parou pra pensar como a vó de todo mundo usa as mesmas expressões? E já parou pra pensar como é mal-pensada essa expressão de parar pra pensar? Quero pensar sem parar, essa maluquice de parar pra pensar só existe na cabeça de quem pensou esse pensamento. Parado, provavelmente. E por falar em existir, existe a máxima que diz: "penso, logo existo". E quem não pensa, não existe? Conheço uma meia dúzia de seres que não parecem pensar muito, não. Eles não existem?

Existem sim. Se não existissem, ninguém passaria na porta da minha casa com o som do carro no último volume, no qual uma garota esganiçada grita A PORRADA COME, entre outras pérolas e impropérios. Quem mora na periferia, assim como este que vos escreve, sabe do que eu tou falando. Para aqueles que tiveram a sorte de estabelecer residência longe do funk, o nome da música por si só é auto-explicativo.

A cabeça da gente é uma coisa louca. Isso porque a gente existe, porque pensa, e segundo o maluco-beleza, quem pensa, pensa melhor parado. E, embora eu não concorde com esse lance de parar pra pensar, tem que concordar. Ou não. E a cabeça que não pensa? A que não pensa faz funk. Ou tempera a comida, e é dessa segunda que vamos discorrer.  A cabeça do alho.

Pensando nisso...

Prezado escriba do Gato na Grelha. 

Vimos por meio desta informar-lhe que isto que vem fazendo não se trata de pensamento, mas sim de embromação. E das bem safadas. De modo que solicitamos ao setor responsável que dê fim à enrolação e adentre imediatamente ao assunto.

Att.
A4LBDGG - Associação dos 4 leitores do blog Deitando o Gato na Grelha

Assim sendo, vamos ao assunto.

Qualquer cabeça-oca sabe que o melhor lugar pra armazenar o alho é dentro do freezer. Congelado. Isso porque ele fica, por óbvio, sólido, tornando mais fácil o trabalho de picotar bem pequeno o dentinho dele. Além disso, no estado sólido, ele fica mais seco, a casquinha do dente solta muito mais fácil, e faz muito menos meleca na sua mão. Confia na dica: alho e chicabon, lado a lado, numa geladeira próxima de você.

Ainda no quesito meleca na mão, ouvi falar de um cabeça de bagre que manipulou um alho daqueles bem caprichados e depois foi fazer carinho no rostinho de uma bela garota numa noite de luar. Nem preciso dizer que a bela garota meteu-lhe um chapéu de touro pra decorar a cabeça, sapecou-lhe um pé na bunda e um tremendo safanão. E nós não queremos que isso aconteça, certo? Eu não quero. E imagino que você também não queira. Então, após manipular o alho, basta ligar a torneira e esfregar as pontas dos dedos nas costas da faca cuidando, claro, para não decepar os dedos. Alguns poucos segundos nesse esfrega-esfrega de dedo nas costas da faca e pronto: sai sangue pra caramba os dedos perdem aquele cheirão de alho, livrando suas mãos do mal cheiro e evitando antena no seu telhado.

Aí tem a dica da cabeça de alho na cerveja no canto da churrasqueira. Receita esta já anteriormente abordada aqui neste blog, mas se você prefere, pula comigo de cabeça nesse flash-back, que eu te conto o segredo da longevidade: Basicamente, você toma alegre e supimpamente uma lata de cerveja, depois pega a faca e tira fora a tampa da cerveja. Como? Simples: cortando em qualquer lugar o alumínio desde que fique do meio pra cima da lata. Corta de qualquer jeito mesmo, sem carinho e sem delicadeza. Aí você joga lá dentro uma cabeça inteira de alho, cobre com aquela cerveja vagabunda que o cunhado levou, e bota no cantinho da churraca. De vez em quando, dá uma completada na cerveja, pro alho ficar sempre hidratado. Funciona assim: 10 goles pra você, um gole pro alho. Mais 10 goles pra você, mais um gole pro alho. Repita o procedimento por, mais ou menos, uma hora. Aí você usa essa cabeça pra tirar a lata lá de dentro sem queimar a mão, tira o cabeção do alho lá de dentro, e, com as costas da faca, sempre ela, espreme sobre a tábua. O alho vira uma pasta super saborosa, sem aquela nhaca que costuma deixar aquele bafo sem-vergonha. Aí você pode comer com pão, com qualquer coisa. Eu, sinceramente, recomendo passar na barriguinha de uma bela peça de picanha e mandar de volta pra churraca. É uma coisa de outro mundo, por mais que pareça um loucura jogar alho na lata de cerveja e mandar ambos pra churrasqueira esperando um patê como produto final. Mas acredite, é bom.

E, pra completar, eu falei tanto de alho, que no final das contas eu vou contar uma coisa que vai te deixar de cabeça quente. Eu aboli o alho da minha culinária. Sério. Não confunda com abolir o alho da minha alimentação, que isso já é demais. Acontece que eu me casei com uma garota que, apesar de linda, não gosta de alho. Ninguém é perfeito, já dizia o piloto Peter [/corrida maluca]. Aí comecei  a reduzir o alho da minha comida, e quando dei por mim: cadê? tinha desencanado de colocar tal condimento na maioria das coisas que faço. E sabe o que eu acho disso tudo? Nada. A comida continua gostosa, a mocinha gosta e eu não sinto falta do alho, não.

O que não significa que eu não goste mais, ou que tenha entrado em alguma dieta pós-moderna da desconstrução da alimentação enquanto chaga da sociedade, porque não tem nada disso. Apenas experimentei algo diferente.

Coisa de gente cabeça :-)

Promoção de Lançamento da loja Gato na Grelha - Resultado parcial

Queridos leitores,

Eu, aqui deste lado da tela creio que, assim como a mim, a cerveja, que nada mais é do que a felicidade enlatada, exerce seus talentos sobre a sua alma tal e qual exerce sobre a minha.

De maneira que julgo que entenderia se eu lhes dissesse que tal iguaria realiza todas as suas competências sobre o cérebro deste que lhes escreve.

Assim sendo, cá estou, moribundo, para comunicar que, etilicamente, realizei o sorteio utilizando o random.org e voilá: temos um vencedor!! E ainda digo mais: temos uma vencedora!!

O nomc da moça é ELISA CERQUEIRA, e o goró que ganhou chama CaipiBloody, que é uma espécie de Bloody Mary com alguns toques meio cachacísticos.

Parabéns, moça!! Sua receita foi muito criativa!

Prometo me alongar acerca da iguaria, mas devido ao grau etílico aplicado à hipermetropia deste que lhes escreve, é seguro parar por aqui.

Agradeço também aos demais participantes, tivemos várias receitas interessantes por lá.. 

Aguardem por novidades. Elisa, vou entrar em contato com você para planejarmos o seu prêmio!!

Atenciosamente
Velho, o Barreiro

Promoção de lançamento da Loja Gato na Grelha

Martin Luther King teve um sonho.

Sonhou com um novo país, onde as pessoas seriam iguais e o negro filho de escravos jogaria playstation com o filho do fazendeiro. Mas teve um pessoal meio sangue ruim que não queria dividir o joystick e ele se deu muito mal. O raul seixas teve um sonho de sonhador. Maluco que era, sonhou com o dia em que a terra havia parado. Mas era tão maluco, tão maluco... que morreu de maluquice. Shakespiere teve um sonho aí numa tal noite de verão, mas eu admito que não me lembro o que ele sonhou. Só sei que era verão, tava quente e devia ter muito pernilongo. Até a susan boyle dreamed a dream e deixou todo mundo de queixo caído. Enfim.

A embalagem de biscoito me contou que são os sonhos que fazem a gente se transformar em coisa grande e que eu deveria acreditar nos meus. Aí eu me lembrei que meus sonhos são sempre a maior doideira, e se esses aí me transformarem em alguma coisa, não pode ser coisa boa, não. Mas, como já exposto em artigos anteriores, até o mais sonhador dos leitores sabe que eu sou um teimoso, e teimando comigo mesmo, decidi que sim, eu também posso sonhar. Embora isso me lembre que o nosso velho amigo Toca Raul, no auge da sua maluquez, controlando demais a sua lucidez, pensou, executou e gravou uma vergonhosa versão de Lucy in the sky with diamonds chamada "Você ainda pode sonhar".

Pois é, ouvi muito raul quando era moleque. Talvez isso explique alguma coisa. Ou não.

Bom, retomando a revoada, estava eu balburdiando coisas sobre sonhos e outras mazelas dessa natureza do nosso subconsciente. Coisas sobre teimar comigo mesmo, e correr atrás dos meus sonhos.

Ultimamente, dois sonhos - não daqueles que a gente tem dormindo, mas aqueles que a gente tem acordados mesmo - estavam me martelando o cérebo, o bulbo e o cerebelo. Um deles era o tão sonhado período de férias, a que eu, nos meus 15 anos de carreira, nunca havia sido acometido ao prazer. O outro era o sonho de montar a minha própria loja virtual, pois sou profissional de e-commerce há muitos anos, e se eu já ajudei a vender pneu de carro, bolsa feminina, suplemento alimentar e blusa de três mil reais pela internet, por que motivo eu não poderia ajudar um pobre churrasqueiro a realizar o seu sonho? E por que motivo eu não poderia fazer isso, se o tal churrasqueiro seria, no caso, eu mesmo?

Eu acredito PIAMENTE que o papai do céu, lá em cima, sempre dá uma forcinha extra para aqueles que têm a coragem de chutar algumas bundas. Assim procedi, e com o carinho que Deus me deu, chutei os devidos glúteos e me lancei novamente à maldição do empreendedorismo.

Assim como nosso amigo raul, preferi ser aquela metamorfose ambulante e larguei o meu atual emprego. Tal e qual shakespiere, submergi uns dias sob os pernilongos da praia grande realizando a primeira parte desta empreitada: o sonho das férias. E quando retornei com sinais de anemia e alguns litros de sangue a menos nas veias, montei a minha loja com o objetivo de deixar todo mundo de queixo caído, como fez a susan boyle. Assim nasceu a Loja do Gato na Grelha.

Só espero não quebrar a cara, pobre do martin luther king.

Pra evitar que isso aconteça, vamos começar os trabalhos com a nossa primeira ação de marketchim. E aqui no nosso aniversário, quem ganha o presente é você, o gerente ficou maluco e as concorrência pira!! Vai vendo.

Nossa loja está começando com uma linha modesta de produtos, mas nós vamos crescer, conquistar o mundo e 24 territórios à sua escolha. E nessa linha modesta, pobre e limpinha de produtos, está a CANECA COM RECEITA DE CAIPIRINHA. É uma caneca, toda bacaninha, feita pelas nossas próprias mãos, com uma receita saborosa de caipora pra você ficar babando enquanto espera o final do horário comercial.

A caneca é essa aqui:

 quer saber mais sobre essa belezinha? clica aqui!

E a nossa promoção de lançamento é bem maneira. Você tem que fazer uma visitinha na fanpage do Gato na Grelha lá no Facebook (www.facebook.com/gatonagrelha), e postar a receita da sua própria batida. Nem precisa ser caipirinha, não. Solta essa imaginação e pensa no raul, caro leitor! Afinal, você ainda pode sonhar!

Ao final, vamos fazer um sorteio com toda aquela honestidade e parcimônica que você só encontra aqui, e o prêmio vai ser muito maneiro.

Eu vou produzir, pessoalmente, uma caneca com a sua receita, assinada com o seu nome, e te mandar pelo correio o presente que você sempre sonhou. E depois que você receber o seu presente, ela ficará à venda na loja, levando o seu brilhante e lustroso nome para além das fronteiras do seu RG.

Quer participar? Vai lá e deixa aquela receita de goró matadora que só você conhece, parceiro!

O sorteio vai ser no dia 20 de setembro (deste ano, claro). Participa ae, parceiro!

Drops de Churrasco Ed. 12 - Regime é bom ou ruim?

Caro e rodado leitor, como anda essa sua carroceria? Meio batida, umas marquinhas de estacionamento, um pouco de massa? A funilaria tá em dia aí do seu lado? Pois é, eu não tenho vergonha de assumir que a minha lata aqui anda meio desconcertada sim. E entre uma funilaria e uma pintura, com martelinho de ouro, prata ou bronze, quando o mais esperançoso leitor já imaginava o sepulcro deste, eis que, tal qual o paulo ricardo que ressurge a cada edição do big brother, renasce mais um Drops de Churrasco, pra equilibrar o corpo e a alma, o verdadeiro alinhamento e balanceamento da mente. Ou não. Vamos, pois, aos assuntos da semana:

O Regime
Esse papo de carroceria todo era só pra ilustrar ao nobre leitor que este que vos escreve não se encontra na mais esbelta das formas físicas possíveis, ou sequer imagináveis. Os anos de cerveja, picanha e outras ilegalidades alimentícias fizeram desta surrada carcaça praticamente um desproporcinoal repositório de órgãos, bastante aquém daquilo que podemos compreender pelo nome de gianechinne, seja lá como se escreve o sobrenome do galã.
Diante dos fatos, fui compelido pela minha linda e agradável companheira a entrar num tal de regime, condição à qual não havia me submetido nos ultimos 35 anos, ou seja: todos. Uma vez concretizado o acordo, bastava escolher qual dieta seguir. A dieta da Lua? Da sopa? Do mar, da deusa, da abobrinha, da marília pera? Não, caro leitor.. Econtrei uma tal Dieta da Carne, que consiste em, basicamente, comer carne, e apenas carne, em todas as refeições durante algum período. Isso me soa bastante sedutor, não acha? Escolhida a dieta, vamos adiante.
Desde hoje de manhã, estou seguindo a tal dieta. Até o momento, duvido que eu tenha perdido um único grama, mas estou registrando cada sentimento, cada emoção e cada proteína dessa maluquice, para que você não perca nada nessa verdadeira derrocada a que se submeteu este que vos escreve. No próximo post, entraremos mais a fundo nesta questão vital. Peço ao mais devoto dos leitores que acenda uma vela pela minha alma, e que eu ainda tenha forças para apertar as teclas deste eletrônico aparato, porque lhes digo que a dieta começou no almoço de hoje, e já começou mal. Aguardem!

A volta dos mortos-vivos
Aquele que achava que este blog encontrava-se putrefato, morto, enterrado, velado e entregue para estudos em faculdade de segunda divisão, enganou-se. Estamos completando aqui o segundo post do mês de agosto, o que prova, sem quadro no fantástico e sem exame de DNA, que sim, caro blog: eu sou seu pai. E já que a vida é dura, o bom filho à casa torna e toma que o filho é teu, segura essa bomba aqui que eu vou te provar com quanto bacon se entope uma coronária: Caro leitor, nos próximos posts, eu vou lhe provar como um blogueiro que escreve sobre churrasco é capaz de ser imbecil, louco e inconsequente empreeendedor, e vamos juntos conhecer o último grito quando o assunto é viver, literalmente, de churrasco. Vamos, eu e você, sucumbirmos aos sunstuosos, presunçosos e matrapilhos planos do Gato na Grelha para conquistar o mundo, 24 territórios ou destruir os exércitos brancos. Aguarda que eu já te conto, parceiro.

Receitas dos leitores
Eu me comunico o tempo todo com leitores do blog. Largando o sapatão e o colarinho largo de lado, esse é o maior bônus que esse blog me dá. Já fiz amigos aqui em sp, amigos em minas, no rio, paraná, enfim.. Um monte de churrasqueiros ou amantes das carnes e afins que me enviam emails, e através da troca deles acabamos descobrindo que somos todos o mesmo bando de marmanjos iguaizinhos uns aos outros: comilões, beberrões, falastrões e fanfarrões. Entre confissões, reclamações e afins, acabamos trocando receitas.
Esse hábito acabou por me proporcionar um verdadeiro arsenal de receitas de leitores. Logo nas primeiras, descobri que não tenho condições de preparar todas elas pra depois escrever sobre.. Então, decidi que agora vou publicar as pérolas que vocês, os caros leitores me escrevem, da maneira como me escrevem. Portanto, se tu queres publicar suas receitas aqui nesta espelunca, você pode imprimir suas melhores, ou piores, idéias levianamente nas costas do papel de pão, com a impressora no modo econômico e sem usar corretor automático, que eu publico aqui com o seu nome, seu endereço, seu cpf e a sua declaração de imposto de renda [/cd da receita na santa ifigenia feelings].
E o cara que vai estrear essa série é uma figura que eu conheci justamente assim: ele me mandou um email, eu respondi, trocamos figurinhas e quando percebi, eu tinha ganhado um amigo chamado Murta. Um camarada com um nome de maluco, mas com um coraçãozinho de frango menino, que é o único cara cuja esposa é capaz de ter o MurtaDela, com o perdão do péssimo trocadilho.

Ficando por aqui, assim ficamos. Este drops não tem charada, não tem mistério e não tem churumela: é direto e reto. Estamos em processo de emagrecimento, termos novidades e sabemos que o Murta tem receita de responsa a caminho. Aguarde e verá :-)

Receitas de panela - Batatas Rústicas

Ao mais bronco dos leitores desta maltratada espelunca, eu pergunto: tu és um cara rústico? Se tu és uma mina e não um cara, pergunto mesmo assim: tu és uma mina rústica?

Manja rústico? Na concepção mais asséptica da palavra, seja lá o que isso signifique? Não? Então vamos ao conceito da coisa.

Rústico é aquele indivíduo que não chega no sapatinho, que não tem voz de veludo e não sai bonito na foto.  Rústico não pede licença, não lava as mãos antes das refeições e não recolhe o cocô do cachorro. Rústico dirige sem direção hidráulica, não usa desodorante roll-on e não beija a mocinha no final. A vida é dura pra quem é rústico, amigo.

Pra esclarecer essa misteriosa celeuma, vamos, hipoteticamente, a um exemplo prático: A mocinha está em perigo no estacionamento do shopping com 5 mal-feitores, mal-encarados e mal-intencionados.
  1. O super-homem chega, manda os cinco pra cadeia e ainda leva a mocinha pra um vôo panorâmico. Aquele cabelinho não nega: o super-homem pode ser super, mas não é rústico.
  2. O batman chega, enfia a porrada em todo mundo e ainda dá uma bitoca na mocinha. Não sei como ele consegue ouvir se as orelhas estão dentro da touca, mas o batman ainda não compreende totalmente o nosso conceito de rústico. 
  3. O chuck norris termina de quebrar uns dez vietcongues, pega bazuca, mira no shopping e explode a porra toda. Manda mocinha, bandido, cinema 3D e casa do pão de queijo pelos ares. É disso que estamos falando. Definitivamente, chuck norris é um cara rústico. 
Eu tenho um amigo rústico. O nome dele é Brunão, mas pode chamar de Brutão que ele atende. Mas chama devagar, vai no sapatinho você, porque ele não vai, ok? Bom, Brutão machucou a unha do dedão do pé. Chutando um busão. A unha, por óbvio, necrosou. Ele arrancou a unha à forceps, usando um abridor de vinhos. Sangrou, limpou com papel higiênico. Naquele dia, tínhamos um jogo importante. Brunão não se fez de rogado: tomou um yakult, cortou a boca do potinho, enfiou o dedão dentro, meião, chuteira, e bora pro jogo. E correu como se não houvesse amanhã. Isso é coisa de gente rústica.

Assim é a nossa receita. Rústica, feita nas coxas, do jeito mais bronco, sem muito carinho e nenhum traquejo.

Batata rústica é, na essência uma batata frita. Mas a batata frita é aquela coisa delicada, palitinho, french fries, como diriam os americanos. Nossa batata não tem essa de cortar em palitinho, não tem frigideirinha, nada disso.. Ops, não tem frigideirinha? Como assim? Vai vendo.

O lance é o seguinte, você vai precisar óleo, batata e mais um ou outro instrumento rústico, claro.

Quando for comprar as batatas, recomendo escolher aquelas que são grandes e lisas. Isso porque pode facilitar na hora de descascar as batatas. Isso para o caso de você querer descascar, porque se a batata é rústica, você pode se eximir da terrível e desagradável missão de lavar as mesmas.

Na verdade, você pode valer da mesma desculpa que eu, e concluir que já que o óleo vai ferver, vai fritar tudo que é bactéria, fungo e toda sorte de malfeitores que porventura habitarem a casca da nossa linda e saborosa batatinha.

Fica aqui um adendo: se você fritar as batatas com casca, elas tendem a ficar um pouco mais amargas. Eu estou acreditando que o nobre leitor é um cara rústico, mas pensando no caso de você receber aquela tia mais frutinha na sua casa, então neste caso, e somente neste caso, eu recomendo que descasque as batatas. Brunão não descascaria, tenho certeza. Nem chuck norris. Bola pra frente.

Não vou, e nem sei como te ensinar a descascar batatas, no caso da visita supracitada. Você pode pegar uma faca e decepar os membros superiores do seu corpo acidentalmente e se virar pra retirar a casca. Pode pedir pra algum outro vívere da sua residência fazer isso pra você. Pode obrigar algum desses víveres, o que é um pouco mais rústico. Pode também sair na rua vestido de taliban e obrigar alguém a descascar pra você. Isso seria tão rústico quanto perigoso. Mas creio que você é bem grandinho e sabe o que pode e o que não pode te mandar pra cadeia. Enfim, se tu quer descascar batatas, te vira e não me aparece aqui com essas batatas cascudonas.

O próximo passo é cortar as batatas. Aí entra o lado bronco da coisa. Você pode usar uma faca, uma machadinha, uma serra elétrica ou uma locomotiva a vapor. Cortar batata rústica é igual a futebol de várzea: não tem regra. Mete e faca, corta do jeito que quiser, do tamanho que quiser. Fecha o olho e mete a marretada desgovernadamente aí. O que importa é que as batatas, que antes eram redondinhas e bonitinhas, agora encontram-se desfiguradas, decepadas, dilaceradas. Nessa hora, violência pouca é bobagem. Chora, Kill Bill.

Picotadas as nossas personagens, mete todo mundo na panela de pressão. Falei que a receita era bruta? Aqui não tem batatinha cortadinha em palitinho, fritinha no olinho (isso foi licença poética, você entendeu), gostosinha colocadinha na caixinha. Aqui o sistema é bruto, parceiro.

Depositadas as nossas vítimas na panela de pressão, cubra todas com óleo limpo. Se você se preocupa com a sua coronária, mete ali um óleo de canola. Caso se manter vivo não esteja entre as suas prioridades, pode mandar ali um óleo de milho, de girassol, de soja, de câmbio ou de caminhão. A decisão é sua, o que interessa é que tem que cobrir as batatas com o óleo.

Agora, preste muita atenção a essa parte. Eu não quero, e creio que você também não queira, explodir a sua cozinha, sua casa e todo o quarteirão, certo? Lembra do chuck norris? Então, nós não queremos que a sua panela se transforme na bazuca do vietcongue, não queremos que a sua cozinha seja mais perigosa que o afeganistão, certo? Então, presta atenção:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Vou explicar de novo, pra ter certeza que não te bateu aquela preguiça safada e vc tá lendo só os parágrafos ímpares:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Mais uma vez:

Sabe aquele pininho de segurança que tem na tampa da panela de pressão? Então, levanta o pininho, solta a trava, libera a pressão, amigo.

Bom, se a tua cozinha explodir agora, não me vem reclamando na caixa de comentários do além, estamos entendidos?

Agora que todo o procedimento de segurança foi compreendido, fecha a tampa, e fogo na bomba [/bob marley].

A batata frita rapidinho, e como tá na pressão, fica macia por dentro. Fica esperto, abre uma cerveja e aproveite o tempo livre pra refletir sobre a cabeça ruim da carminha, o pernil da nina e a bunda mole do tufão. Mas não gasta muito tempo pensando, porque essa batata fica pronta em 10 minutos.

Passados os dez minutos, que deve ser o tempo suficiente pra você tomar, ao menos, uma cerveja, desliga o fogo, espera o terror acabar dentro da panela e abre. Saca de lá uma batata e experimenta. Se achar necessário, deixe mais um tempinho na fritura, com a panela aberta mesmo.

Depois, é só retirar as batatas de lá utilizando um instrumento adequado (recomendo abandonar a ogrice e virilidade nessa hora, larga mão de ser machão e use instrumentos), e coloca lá naquele papel de gordura, salga e pronto.

Como elas fritam rapidamente, a batata rústica assim tende a ficar sequinha, costuma fazer sucesso. Confia :-)

Rendimento: depende quantas batatas você fritar, espertão.
Tempo de preparo: umas 2 brejas no preparo, e uma pra fritura. Beba comendo e seja feliz.
Custo: batatas e óleo. isso é barato, vai por mim.

Aviso aos navegantes

Caros leitores do Deitando o Gato na Grelha.

Depois de mais de 3 anos sem jamais ter que excluir ou sequer moderar um único comentário, informo-lhes que, graças à falta do que fazer de um único cidadão que sequer assina seus comentários e decidiu dedicar o seu tempo a torrar o meu, a partir de agora todos os comentários brilhantemente redigidos pelos leitores precisarão passar por aprovação.

Na prática, quando um comentário for redigido, eu recebo um aviso e o mesmo só fica disponível para leitura mediante a minha autorização.

Infelizmente, vemos aqui mais um exemplo onde um babaca penaliza um monte de gente legal.

Obrigado a todos, menos ao babaca, por obvio.

Abs
Daniel Rodrigues

Camarão na moranga

O calendário gregoriano é mesmo uma coisa de louco. Caso o nobre leitor não saiba, gregoriano é o calendário que nós utilizamos, onde cada semana tem 7 dias, cada ano tem 12 meses, cada dia tem quase 24 horas e quase todo ano temos 365 dias.

O papa Gregório XIII inventou tal aparato para corrigir o falho calendário Juliano, desenvolvido anteriormente pelo incauto romano Júlio Cesar, que já deu nome a um monte de gente, mas perdeu a autoria do calendário e teve de aceitar essa pro papa. 

A loucura começa pelo fato de termos um calendário feito por um papa. É como se tivéssemos uma estrada construída por um criador de javalis, ou uma cidade arquitetada por um garçom. Não que o garçom não tenha seus talentos, mas eu aaaaacho que construir cidade é uma coisa meio complexa. Enfim.. A segunda loucura é que o seu Gregório inventou um calendário falho pra substituir um calendário falho. Taí o ano bissexto que não nos deixa mentir. Ou seja: deu um chega pra lá no imperador e até hoje temos que trabalhar um dia a mais de 4 em 4 anos.

E, já que o assunto aqui é gente que faz caca, venho eu admitir que sim, malacamente fiz uso da incompetência gregoriana pra assumir que tive, nos últimos meses, uma semana tão longa que faria corar Maias e Astecas, com seus calendários assombrosamente finalizados neste malfadado ano de 2012. Se o leitor vislumbrou o post passado, pode notar que, dizia eu, que "semana que vem" redigiria a doce história de um camarão que penetrara (ui) na moranga para produzir uma quente e cremosa gororoba, porém jamais imaginava que passaria por uma semana que começaria em janeiro, e terminaria quase em abril. Culpa do seu Gregório, o XIII.

Pois bem, já que começamos com as pataquadas astronômicas do bondoso papa, vamos nós nessa aventura que o querido leitor vai ver com seus próprios olhos como se vai do céu ao inferno numa única receita.

O camarão na moranga é uma comida típica brasileira, e basicamente compreende uma das mais improváveis combinações gastronômicas já imaginada: Trata-se de uma gororoba de camarão com catupiry enfurnada dentro de uma doce e assombrosa abóbora. 

E vem comigo que a coisa por aqui vai ficar feia.

Primeiro, vamos à gororoba de camarão.

Tudo começa, como quase tudo em culinária, no bom e velho refogado. Se o leitor não sabe do que se trata, é uma fritura de cebola, tomate e alho picados. Mas vamos fazer esse treco direito.

Picota bem pequenina uma cebola média. Tira a casca, faz a coisa direito. Sem chorar, cowboy. Reserva esse trem aí num pote. 

Agora picota uns 2 ou 3 dentes de alho. Reserva em outro pote. Vais sujar um monte de louça mesmo, depois vc se vira com ela.

Picota uns 2 tomates grandes também. Tendo em mente aquela coisa chata dos coliformes fecais, recomendo seriamente que dê uma lavada nos tomates antes da lavagem picotagem*.

* adendo: eu havia escrito que deviamos lavar o tomate antes da lavagem. Os sábios leitores me avisaram do grande erro lógico que me acometera. Agradecido!

Aí você pega uma panela grande (não esquece que vais jogar catupiry, camarão e mais um monte de coisa lá dentro), joga azeite até cobrir o fundo e deixa dar uma esquentadinha. Quando achar que tá meio quentinho, taca a cebola lá dentro. Uma folha de louro ajuda. 

Quando a cebola começar a ficar amarelinha e meio transparente, joga o alho e mistura bem. O alho frita rapidinho, então fica esperto nos pontos pretinhos na panela. Quando o primeiro pontinho preto aparecer, fica esperto e taca lá dentro todo o tomate que já tenha picado. Se não deu tempo de lavar, manda com coliforme e tudo, o que não mata, engorda.

Dá uma mexida aí nessa coisa, vc vai notar que os tomates começam a se desfazer. Vai mexendo gostosinho gostosinho rebolando até o chão [/leandro e leonardo].

Tenha em mãos um belo e glamouroso kilograma de camarão limpo. Pode ser qualquer camarão, e a razão diretamente proporcional entre o prejuízo no seu bolso e o tamanho do camarão impacta diretamente no sucesso da sua receita. Desde que esteja limpo, sem pele, sem rabo, sem cabeça e sem pezinhos. Tirou tudo isso, pesou 1kg, é disso que a gente tá falando.

Manda esses caras pra dentro da panela. Mexe mexe que é bom de novo.

O camarão começa a perder um monte de água, e eles vão diminuindo de tamanho, enquanto você acompanha, literalmente, o seu dinheiro evaporar. 

Primeiro, faz um monte de líquido na panela. Depois, esse líquido vai evaporando e o caldo começa a ficar mais grosso. Tamos chegando no caminho.

Se você tiver um cubinho de caldo de camarão, taca dentro. Se não tiver, taca um de legumes. Se não tem de legumes, nem pensa em mandar aquele tempero de feijoada, sazon ou caldo de carne. Aquele lance da propaganda que todo mundo acha gostoso e sai gritando que É O AMOOOOOOOR só acontece no comercial. Se você mandar um caldo de carne no camarão, estragou o camarão. Se não tem caldo nenhum, ao final da receita vc acerta o sal e pronto. 

Entornando o caldo, o que temos aqui é uma panela fervilhando de camarão, tomate, cebola, alho, tempero e água. Joga lá dentro um vidrinho de leite de coco, isso aí dá um agrado ímpar a essa receita.

Quando der uma boa evaporada no seu rico dinheirinho na água do camarão e o caldo estiver ficando grosso mesmo, joga lá dentro metade de uma daquelas bandejas de catupiry. Pode ser uma bisnaga, enfim. O ideal mesmo é aquele catupiry que vem no potinho (que parece uma bandeja, que antes era de madeira), mas pode ser o de bisnaga.

Mais uma vez, a razão entre o quanto pagou no queijo e o quanto sua receita vai ficar gostosa é diretamente proporcional. Resumindo: não manda aquele "requeijão biriba" pra uma receita cheia de camarões. Manda catupiry de verdade, ou alguma coisa BOA lá pra dentro.

Ok, feito isso, mistura um pouco e deixa. Vamos pra abóbora.

Eu, sinceramente, nunca entendi os americanos. O fato deles acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, eu até aceito. O fato deles comerem pasta de amendoim e omelete de manhã, até dá pra entender. O fato deles não gostarem de futebol e acharem o máximo jogar taco no estádio, passa. Mas esse lance muito louco de ter medo de abobora eu não entendo MESMO. Tá certo que é helloween, aquela coisa toda, mas poxa.. uma abóbora, sempre vai ser uma abóbora. Um vegetal, como cenoura, pepino e acelga. Embora acelga seja meio esquisita mesmo.

Pra provar que esse lance de medinho é coisa de maricas, cá vamos nós bancar o sacripantas e retirar o cérebro da fruta lá de dentro.

Você pega uma faca afiada, e arranca a tampinha do alto da cabeçona dela. Imagina uma tampinha redonda, começa a cortar. Tá feito. 

Mete o mãozão lá dentro (dá uma lavada, né fanfarrão), retira todo o conteúdo e pronto. Você vai ter uma abóbora oca, inofensiva, incapaz de assustar o mais frágil dos barak obamas. 

E antes que você possa falar "Shake Your Ass, mr. Pumpkin-head", passe a mão no óleo da sua cozinha e esfregue nas paredes internas da cabeçona de abóbora ali. Pouco óleo, é só pra dar uma molhadinha.

Pra que? Pra passar batom, de que cor? de cor de violeta. Na boca e na buchecha Pra abobora em si começar a ficar molinha.

E por falar em molinha, saca que moleza: mete a aboborona dentro do seu microondas e deixe lá uns 2 minutos. Abre, cuidado pra não queimar esse dedão duro. Se ela tá ficando um pouco mole, tira de lá. Se ainda tá muito durenga, vai deixando mais um minuto, conferindo o estado da fruta com frequencia.

Aqui vem o grande momento da sua abóbora. Pensa comigo:

At the blue corner, você tem uma abóbora acéfala, meio molenga. E at the red corner você tem um líquido muito louco de camarão e mais um monte de coisa. A missão aqui é colocar um dentro do outro, preferencialmente o camarão dentro da moranga, sem nocautear a sua receita e sem golpe abaixo da linha de cintura.

Se você não tomar cuidado, sua abobora vai quebrar e todo o seu dinheiro camarão vai pelos ares pelo chão.

Portanto, não faça como eu fiz, e coloque uma bandeja debaixo da abóbora. Feito isso, deposite no fundo da abóbora o outro meio pote de requeijão. Feito isso também, jogue aquele líquido todo de camarão e coisas. Isso tudo vai, agora, pro forno. Não se esqueça da lambança que acontecerá caso esqueça da bandeja debaixo da abóbora.

Veja com seus próprios olhos:


sim, leitores. isso aconteceu comigo.
aí aprendi a forrar a abóbora, como podem ver na de cima.

Recolhido do chão, a família nem percebeu o gostinho de ODD. 
malandragem também faz parte da culinária, vai aprendendo com o tio.

Agora, deixe no forno o tempo de você tomar umas duas cervejas, retire com todo o cuidado do mundo e seja feliz.

Drops de churrasco Ed. 11 - O retorno

Eu sempre fui um cara do contra. Se me mandavam ir pra direita, eu ia pra esquerda. Se me mandavam descer, eu subia. Se me mandavam fazer cocô na casa do pedrinho, eu fazia mesmo era em casa, e sem essa de perfuminho, porque gente que honra as calças faz cocô com cheiro de cocô, sem essa palhaçada de perfuminho, lavanda e flores do campo. Na verdade, eu nem sei porque chegamos a esse assunto de cocô, mas nesse blog as coisas acontecem assim mesmo. O assunto nos escapa entre os dedos, quase como no papel higiênico furado por infortúnio do destino. Antes que entremos em assuntos mais tenebrosos como esse de destino e papel higiênico, caros leitores, eu lembrei. Ia este escriba dizendo ser do contra. Ok. Aí o mais carinhoso e prestativo dos leitores poeticamente pensara: "desde setembro sem postar nada, sem receita e sem churrasco, eu atesto, esse é um blogueiro que morreu. Com toda a certeza, algum mal lhe abateu, seja guerra nuclear, queda de avião ou micose no pé, este que escrevia, já não mais escreverá".

Eu, dentro daquele lance de ser do contra e tal, cá estou dando a cara pra bater, o osso pra roer e um carro velho pra vender, provando que, ao contrário da torcida de muitos e do receio de poucos, estou vivo, alive and kicking como nunca estivera antes, seja lá qual for a razão de estar vivo e chutando. O fato é: chuto, logo existo.

O que aconteceu, em linhas rápidas e deixando claro que não pretendo me alongar na minha vida pessoal, é que no ano passado eu me separei, fiquei sem casa e sem churrasqueira, e passei uns meses morando com a minha avó, que os leitores costumazes desta espelunca já sabem ser uma verdadeira nonna italiana, daquelas que não deixa homem nenhum fazer nada na cozinha dela a não ser buscar água ou levar o prato depois do almoço. Logo, passei meses sem churrasqueira e sem cozinha. E sem ter como escrever nada que valesse a pena aqui no blog.

Por isso, ficamos alguns meses com a programação meio esquisita, fora de sintonia, dando fantasma e um monte de chiado. Pior que tv aberta no carnaval.

Finalizando esta novela, o fato é que agora eu tenho novamente uma casa e uma cozinha, e pude voltar a praticar as já conhecidas estripolias e fanfarrices gastronômicas, tão calorosamente digeridas pelos nossos inoxidáveis leitores.

Ainda no quesito do inoxidável, agradeço pessoalmente com beijo, abraço e aperto de mão a cada um dos leitores que se preocuparam com a minha integridade física, mental ou, sei lá, espiritual durante o período de vacas magras aqui do blog. Muito obrigado. Fui atropelado por jamantas, passei por avalanches de neve e cruzei o saara sem uma única cerveja gelada, mas agora está tudo bem.

Agora, rapazeada, parafraseando o gênio que inventou que camarão que dorme a onda leva, abre bem esse olho, vai grudando o bombril na antena, que daqui pra frente o que vem é patifaria da grande, com mesma falta de qualidade, clareza e honestidade que sempre coloquei em cada uma das mal escritas linhas desta espelunca. Boteco aberto novamente, galera!

E provando que quem é vivo sempre aparece, já deixo aqui mais um daqueles desafios que fazem retorcer os neurônios do mais genial dos leitores: a nossa charada da próxima receita.

Pra quem é novo por aqui, ou esqueceu como o sistema é duro e embrutece a alma, a coisa funciona assim: eu dou 3 dicas sobre a próxima receita, e você, nobre leitor, perde o sono, os cabelos e um milhão de reais tentando adivinhar. O box de comentários está aí pra você provar a magnitude do seu QI.

Vamos a elas:

  1. Uma comida dentro da outra;
  2. O masculino é muito frutinha;
  3. Raimunda.
Boa sorte, vamos ver quem consegue desvendar esse mistério.

Parabéns aos envolvidos

Estou passando por aqui rapidamente só pra lembrar, ao mais radiante dos leitores, que hoje é dia de comemoração.

O faustão diria ôlocomeu, o gugu pensaria no pintinho amarelinho e o silvio santos diria má-oeee. Todo mundo em ritmo de festa só porque hoje é o DIA DO CHURRASQUEIRO.

Isso mesmo, parceiro. Você que passa horas na frente do fogo no calor, que suja a mão no carvão e respinga gordura na camisa, pode sair por aí no maior abraço coletivo porque hoje é o seu dia.

Na verdade, abraço por abraço, aproveita que hoje também é dia da secretária. Abraça ela. Eu abraçaria. Entenda como quiser kkkk.

Como a passagem aqui era rapidinha, desejo que cada churrasqueiro leitor dessa espelunca abra uma cerveja em homenagem ao nosso dia.

Saúde!

Casquinha de siri

Isso que eu vou contar aqui vai me denunciar a idade. mas eu preciso dizer que dia desses, lembrei sem querer de uma das bandas que mais tocavam nas rádios antes das rugas habitarem a cútis facial deste que vos fala.

No distante tempo no calendário gregoriano, no qual este ainda ostentava espinha, kichute, transcaloi e lição de casa, as rádios vigentes eram sempre povoadas pelas letras sórdidas de um gaúcho dos pampas chamado humberto gessinger. 

Gessinger era o cara que dizia que o papa era pop, que infinita mesmo era a highway e que a juventude era apenas uma banda numa propaganda de refrigerantessssss. Havia um garoto que, como ele, gostava dos beatles e dos rolling stones. E ainda tinha uma garota chamada Ana, cujos lábios eram labirintos, Ana, que lhe atraíam os instintos mais sacanas.

Tal e qual o poeta-safado com pinta de capoeirista djavan, humberto gessinger desenvolveu a teoria da composição artística baseada no aleatório, uma verdadeira genialidade do descompromisso. Artistas como gessinger e djavan conseguem reunir numa única frase coisas como um açaí, zum de besouro e um íma. E fazer as pessoas gostarem de ouvir essa coisa. Ou então, desfilar que existem sim paralelas que se cruzam, mas lá em Belém do Pará, confundindo gente culta e aumentando involuntariamente o contingente turístico da região.

A isso se dá o nome de fanfarrice. Safadeza, gatunice, malacagem. Ato ou efeito de camuflar outrém sob a flâmula da malandragem.

Se você estava tentando entender o que isso tudo teria a ver com uma simples e honesta casquinha de siri, encontramos, aqui, um paralelo. E olha que nem precisamos viajar ate Belém. Primeiramente, porque se tem um cara que entende de paralelo, esse cara é o siri. Ou o nobre leitor acha que um cidadão que anda de lado não entende de paralelo? E outra que o siri é mesmo um cara safo. 

Cidadão olha pro siri, e de repente.. cadê? Dois passos pro lado e já era o crustáceo. Ou então, cava um buraco na areia e pronto, tchau siri. E vacila com esse dedão pra você ver se não toma um beliscão. 

Definitivamente, o siri é casca grossa. Literalmente. E essa receita aqui é tão malaca quando o siri, porque começa te levando a crer que vais comer a casca do siri quando, na verdade, vais comer só a carne. O que julgo ser uma vantagem, não fosse o infortúneo de comer isso tudo montado numa conchinha. 

É, caro leitor. O siri é um cara cheio de traquitanas, que te faz pensar que vai comer a casca, mas vai comer a carne. E mesmo não sendo na casca, é na concha. Foi logrado e nem notou, amigo.

A casquinha de siri em si todo mundo já comeu. E se alguma vez você já se perguntou que diabos vai lá naquele treco, pode dispensar o indiana jones aí do seu lado, porque eu ajudo a esclarecer o enigma. Na casquinha de siri vai um mooooonte de coisas. A primeira delas é carne de siri. Vem comigo.

Vamos partir do princípio que você tem as conchinhas em mãos, ou pelo menos tem algum invólucro pra montar as casquinhas. Se não tem nada, compre uma caixa de cerveja, tome todas as cervejas, corte cada latinha na metade e utilize a meia-lata como concha. Não vai te ajudar a abalar os corações das garotas, mas que funciona, funciona.

Pasmem, mas o ingrediente que predomina na casquinha de siri é mesmo... o pão. Parceiro, como vai pão naquele negócio. 

E já que estamos falando de pão, pegue 3 fatias de pão de forma e coloque pra dormir num pratinho repleto com uma garrafinha de leite de coco. 

Tá vendo como essa receita é uma fanfarrice? Aposto que nunca imaginou que lá dentro tinha pão e leite de coco, não é? Lembra do açaí e do íma? Mesmo princípio.

Ok, deixamos o pão no leite, tira o gato de perto e continuamos com a receita. 

A carne do siri, em si, vende no supermercado. Se você prefere cavar a areia, tomar belisco e limpar o bicho, beleza. Mas eu achei mais simples comprar uma embalagem de 100g de carne de siri limpa. Aí o trabalho é jogar tudo num saquinho daqueles de freezer e mandar pra dentro o caldo de um limão. É importante deixar no saquinho, depois você vai entender. Põe tudo no mesmo saco, limão e siri. Chacoalha e deixa quieto. 

Agora vem o básico do refogado, né? Corta meia cebola em pedaços beeeeem pequenos, guarda num pote. Picota uns 2 dentes de alho beeeeeeeem pequenos e vê se não corta esse dedo, você ainda vai precisar dele. E picota um tomate inteiro, em pedaços moderadamente pequenos.

Aí vem mais uma surpresa. Picota beeeeeem pequeno, tomando cuidado pra não furar o bandaid, meio pimentão verde. Só meio.

A maneira mais maneira, com o perdão do trocadilho, de lidar com o pimentão é retirando aqueles veios brancos que tem dentro dele. Abre o bicho, que não é bicho e sim legume, e sai retirando aqueles sulcos brancos. Corta só a carne, por mais que ele não tenha carne. Você entendeu.

Agora mete fogo na boca 1 e mete uma panela ali. Dá aquela boa e velha golada de azeite, tomando toda a atenção do mundo pra somente depositar o óleo sobre a panela, e não necessariamente, degustar a iguaria. Joga azeite lá e boa.

Quando parecer que tá quente, joga a cebola. Mexe mexe que é bom [/ leonardo]. E se no mexe-mexe todo mundo apronta, aproveita a deixa e joga o alho lá dentro quando a cebola ficar amarelinha. Mexe e remexe de novo, mexendo gostosinho sem parar [/ gerasamba]. Quando tudo ficar amarelo e você começar a achar que tudo vai queimar e o que era pra ser uma receita vai virar um incêndio, jogue lá o tomate e o pimentão. Mexe mais uma vez. O tomate começa a perder água e a coisa toda acalma dentro da panela.

Lembra do siri no saco? Pois é, capitão nascimento sabe do que tá falando. O lance é fazer um buraquinho pequeno no saco e ir espremendo a carne, de maneira que todo o limão e todo o liquido possível escapem pelo buraco. Isso mesmo. Primeiro, nós jogamos limão no siri, agora vamos tirar tudo. A vida é assim, amigo. Um dia é da casca, outro do descascador. 

Quando o siri estiver sequinho, manda pra panela do refogado. Mexe mexe que é bom mais uma vez. É o beija-beija. Alguém tira esse leonardo daqui, pelo amor de Deus!! Ou seria o zezé de camargo?

Bom, o lance é deixar esse trem fervendo, mexendo sempre até que o tomate e o pimentão desapareçam. ou pelo menos fiquem bem detonados, você entendeu onde eu quero chegar.

O único e derradeiro tempero que vai nessa receita é o cominho. Mas recomendo cuidado, porque o palhaço é ladrão de mulher o cominho é ladrão de sabor. Coloque coisa como uma colherzinha de chá, apenas. Muito cominho vai te fazer preparar uma casquinha de cominho. E o bicho é indigeeeesto. Não é bicho, é tempero, mas você entendeu.

Ah, em algum momento dessa ferveção de tomate e pimentão, você pode jogar um tablete de caldo de camarão. Ou caldo de peixe. Ou caldo de legumes. Não adianta especular, não existe caldo de siri, ok?

Quando achar que tá na hora, e, acredite, você vai saber, jogue lá dentro o pão e o leite de coco. Vai mexendo, a coisa toda agora começa a virar uma pasta mesmo. Tá nojento? Estamos no caminho certo.

Sabe aquela embalagem de queijo ralado que não muda há mais de 500 anos? Pois veja só, pode jogar o conteúdo de uma dessas pra dentro da sua panela. Vai derreter, vai ficar legal. Vem comigo.

Agora a única missão é engrossar o caldo da coisa toda aí. Pra engrossar, deixe em fogo baixo e vai mandando pra dentro colheradas e mais colheradas de farinha de rosca. O que nos leva a uma reflexão...

Tu já apertou uma rosca? Tinha farinha? Então. Na minha rosca não tem farinha, então nem imagino porque diabos alguém deu esse nome a tão nobre elemento da nossa culinária, mas o fato é que devemos usar a tal farinha de rosca pra fazer a nossa maçaroca de ingredientes ficar uma pasta grossa.

Aí é só colocar essa pasta nas conchas (mas eu confesso que gostei mesmo do lance da meia latinha), e polvilhar com um pouquinho mais de queijo ralado.

Feito isso, manda pro forno, e deixa lá enquanto saboreia uma maravilhosa dose de felicidade enlatada. Quando a cerveja acabar, tira do forno e come.

Se você não perdeu nenhum capítulo da nova novela das nove detalhe desse post, vai ficar bom. Não tem onde errar, essa receita é boa e pronto.

eu não tenho mais uma máquina fotográfica, então não me restou outra opção a não ser roubar essa foto desse site.
Mas tudo indica que eles também roubaram de outro. Vida que segue.

Rendimento: Essa receita toda dá um monte de cascas. Pensando no tamanho tradicional das casquinhas, dá umas 15 ou mais.
Custo: A carne de siri custou uns 10, mais os outros ingredientes, deve ter custado uns 25 reais. Uma receita bem barata.
Tempo de preparo: 4 latinhas na cozinha, 1 no forno. Sirva feliz.

Tainha recheada com farofa de ovas

Tu conhece a tainha, parceiro? Não? Vem comigo que eu vou te mostrar quem é.

Ela mora lá na lagoa não lava o pé porque não qué A tainha mora no litoral brasileiro, perto de costões rochosos, maguezais e praias de areia. Alguém me contou isso, não sei se o google, a wikipedia ou o chico xavier. O que importa é que a tainha mora na praia, porque praia ou tem rocha, ou tem areia ou tem mangue. Eu já morei na praia, tropiquei na rocha, peguei micose na areia e me afoguei na água. Mas morar na praia é bem legal. Com a diferença que eu morava do lado de fora da água, e a tainha mora do lado de dentro. Questão de afinidade.

Nós, os pobres mortais, chamamos a tainha de tainha mesmo. Mas os cientistas, essa gente louca do óculos de aro grosso, chama a tainha de Mugil Cephalus, o que nos coloca numa situação bastante peculiar. Isso porque você nem precisa ser cientista pra descobrir que por aqui, parceiro.. mugil, a gente come. Não interessa se é planta, peixe ou vaca. Abriu a boca, fez mú, vai pra pança.

E é por isso que estamos aqui: pra comer uma deliciosa tainha.

Caro leitor, pode ir preparando a penitência, espalhando o milho pelo chão e contando ave-marias, porque nós vamos, juntos, pisar sobre todos os preceitos de moralidade e complacência que se pode imaginar: nós vamos comer criancinhas. Não como o michael jackson, necessariamente. Mas vamos comer a tainha e toda a família dela, principalmente a filharada.

Então, vamos lá. Já sabemos que a tainha é um peixe que muge (pelo menos na certidão de nascimento), e sabemos que ele mora na praia. E agora vamos descobrir como preparar esse peixoto aí.

Você começa, claro, adquirindo a tainha. Se o pescador tem dois amor [/dorival caymmi], ele é, além de ser um HERÓI que enfrenta duas tpms no mês, é um cara que entre uma DR e outra acha um tempo pra pescar. E quando ele faz isso, ele volta com a tainha na mão. Afinal, a tainha tá lá na praia, do lado de dentro do mar, pescador joga a rede e volta com a sereia, mulherada fica louca, duas TPMs, DR, tainha, aquela história toda.. Você entendeu: malandro sobe no barco e rema pro horizonte, manda a rede pra água e volta com a tainha. Pescador é gente que faz. Por isso que tem o Ministério da Pesca. Tem o do churrasco? Não. Mas tem o da pesca. Enfim, tudo isso por causa de uma tainha.

Então a nossa missão começa tentando encontrar o pescador, preferencialmente quando ele não está na água, e nem com nenhum dos dois amores dele, sob o risco de enfrentarmos uma situação constrangedora. O pescador é, realmente, um cara que entende dessas coisas de amor. Um cara que pega duas mulheres com a mão fedendo a peixe é, definitivamente, um cara bom. Respeitemos isso.

Bom, antes que você também vire mulher do pescador ou vice-versa, o que seria uma roubada, saque logo alguns reais e peça a ele que te venda uma tainha. De preferência limpa. E, se o pescador vai limpar a tua tainha, peça a ele que abra a tainha pelas costas, e não pela barriga. Nem tem muito o que entender aí, pede pra ele "me dá uma tainha limpa, aberta pelas costas" que o cara entende.

Assim como a minha mãe, a sua e todas as leitoras desse blog, a tainha também tem o dom de ficar grávida. Com a diferença que as leitoras desse blog se divertem muito mais no ato ou efeito de adquirir a gravidez. Enfim, a tainha fica com uma penca de filhotinhos crecendo dentro da barriga, assim como as leitoras, a mamãe e a vovó.

A essa peixarada toda dentro da pança da tainha, dá-se o nome de "ovas". É isso mesmo, diferente da galinha que fica com a pança cheia de OVO, a tainha fica com a pança cheia de OVA. Pra mamãe, vovó e pras leitoras, dá-se o nome de bebê, mesmo. Vai entender essa língua portuguesa, né?

Professores pasquales à parte, recomendo que peça ao pescador uma tainha que tenha ovas. Recomendo seriamente que considere a hipótese de comprar as ovas na época em que a sua pesca é permitida, sob o risco de enfrentar problemas legais bastante severos junto ao ibama e adjacências.

De posse da tainha limpa aberta pelas costas e das ovas, corra pra casa pra preparar nossa amiga. A tainha, para de pensar besteira.

O procedimento é muito simples. Muito mesmo. Basicamente, abra uma breja e seja feliz. Não, peraí, voltando à receita.. basicamente, a gente faz uma farofa e sapeca dentro do peixe.

Começando os procedimentos, de mãozinha lavada e cerveja na alma, um, dois, três e VAI!

Corte uma cebola em rodelas bem fininhas. Depois que você terminar de cortar, desmonte as rodelas, de maneira que você só vai ficar com um monte de anéis de cebolas. Acho que você entendeu, né?

Beleza, agora picote uns 3 dentes de alho. Pode picotar em pedaços bem pequenos.
Aqui faço um adendo: essa receita pode ser feita na churraca, ou no forno mesmo. Se você vai fazer no forno, eu recomendo que descasque umas batatas e bote pra ferver em outra panela, ok?
Legal. Agora, pega uma panela e coloca ali uma bela golada de azeite. Pode por uma golada sarada, de cobrir o fundo da panela. Isso aí deve dar, sei lá, uma meia xícara de azeite. Mas como aqui nesse blog o sistema é bruto e jacaré anda de lado (qual o sentido disso??), a gente manda golada pra panela. Não é pra fazer uma sopa de azeite, mas é bom colocar uma quantidade legal, pra nossa farofa ficar bem molhadinha (ui!).

Ok, deixa aí uns segundos que o azeite começa a ferver no fundo da panela. Claro, desde que você tenha se lembrado do brilhante e chamuscoso procedimento de acender o fogo debaixo da mesma.

Na sequencia, joga lá dentro uma folha de louro. Louro, isso mesmo. Aquele, que conta piada com a tiazinha do programa matinal. É, aquela, que tem idéias gastronômicas brilhantes, como o brigadeiro de gengibre, saboroso quitute que espanta todas as crianças da festa.

Beleza, joga o louro no óleo quente a folha de louro no azeite. Na sequencia, jogue os anéis de cebola. Te cuida, frodo bolsero, que anel por anel....     ...      ...      ....... putz, não tem como fazer um trocadilho com anel que não fique com duplo sentido. Esquece o frodo bolsero e bola pra frente. Ops, bola pra onde? Ah, esquece o duplo sentido, mente suja!

O cheiro da cebola fritando no azeite é uma das coisas mais gostosas da culinária, não acha? Pois eu acho. Quando a cebola começa a ficar amarelinha e molenga, é hora de jogar ali o alho. Pois faça isso, jogue o alho pra ferver junto com a cebola.

Mais alguns segundos, e o alho começa a pegar uma corzinha maneira, enfim. Tá fritando, né?

Falando nisso, quem tá frita mesmo é a prole da tainha. Na real, ainda não fritamos, mas eu digo que elas estão fritas só pra não dizer coisa pior. Pode ter criança lendo.

E se tem criança, a gente manda pra panela. Pegue as ovas e mande pra dentro daquele azeite fervendo com cebola e alho. Misture bem, sem medo de ser feliz. O cheirinho de peixe frito, ou melhor, de filhote de peixe frito que começa a subir é realmente agradável.

Até o mais desligado dos leitores já entendeu que farofa que se preza, tem que ter farinha, não é mesmo? Pois sapeque dentro da panela umas duas xícaras de farinha de milho.

A farinha de milho é legal pra você usar, porque ela é meio macia, tem um gostinho maneiro, enfim. Vai na minha que é sucesso, sapeca farinha de milho lá e mistura bem.

Alguns segundos depois que começar a misturar, recomendo desligar o fogo. A farinha queima rapidinho, e pode transformar todo esse trabalho que você fez até agora num lixo queimado. Lembre-se do frodo bolsero e não queime os anéis. Enfim.

Tua farofa tá pronta, parceiro. Recomendo que experimente e dê aquela rebocada no sal, com todo o comedimento que o cardiologista recomenda.

A missão agora é rechear a tainha com a farofa. Lembra que o peixeiro, entre uma mulher e outra, abriu a sua tainha pelas costas? Pois então, é pelas costas que nós vamos encher a bicha de farofa. Pega uma colher, mete a mão no peixe e enche de farofa.

E pra fechar, caro blogueiro? Pergunta o nobre leitor. Com barbante, respondo eu.

Amigão, eu aqui escrevendo esse negócio todo, tou aqui imaginando que você já tem idade suficiente pra amarrar o próprio sapato, não tem não? Pois então, o princípio é o mesmo, e eu estou aqui acreditando veementemente que você vai saber como amarrar esse peixe e manter a farofa dentro dele. Te vira e amarra esse trem aí.

Tamos quase lá. Agora, embrulhamos o peixe (que por sua vez tá embrulhando a farofa) no papel alumínio e vamos pro calor.

Se você vai colocar na churraca, embrulha o peixe no papel alumínio e manda pra lá, tomando cuidado pra labareda não pegar no pacote.

Se vai colocar no forno, pode deitar o peixe sobre uma bandeja grande, espalhar as batatas pela bandeja, jogar um azeitinho por cima de tudo e cobrir tudo com papel alumínio.

A tainha, se antes era mugil, agora é só uma comida esperando alegremente o momento de sentir a força dos nossos molares. E espera quanto? Espera quase uma hora, dependendo do tamanho da tainha, da força do seu forno ou da chama que acendeu na sua churraca. Estou imaginando que você vai saber acompanhar.

Pronto. Agora é só abrir e comer. Cuidado que tem espinha [/mãe]. Mas é um peixe absolutamente delicioso, e a farofa fica molhadinha dentro do peixe. Sucesso, vai por mim.

Taí a mamãe recheada com os filhotinhos.

Custo: A tainha que compramos tinha mais de 2kg e custou uns R$30,00.
Rendimento: Serve bem a umas 6 pessoas. Sem ogros e sem princesas: gente normal.
Tempo de preparo: Umas 2 latinhas na pia, umas 3 latinhas no forno (ou churraca). Sirva feliz.

Como preparar uma FEIJOADA de mestre

Segunda feira chata como sempre, final de expediente, você aí dando aquela enrolada no trabalho, dia das mães já passou, bin laden bateu as barbas, e cá estamos nós, eu e você, já pensando na lambança gastronômica do final de semana. E, se o assunto aqui é esse, lambança rima com lembrança e vem comigo nessa rima pobre relembrar os primórdios da nossa culinária, chafurdando no caldeirão [/luciano hulk] de um dos mais tradicionais instrumentos da nossa cultura.

Assim como o futebol, o samba e a bunda, esse belo país em formato de bisteca também é conhecido no mapa-mundi pela Feijoada.

A história da feijoada todo mundo conhece, mas não custa dar a nossa versão relembrar: No século dezenove - eu odeio números romanos. odeio romanos [/asterix], a rapaziada mais abastada, assim como hoje em dia, não tinha lá muito apreço por pegar no batente, não. Assim como muito político que a gente conhece, nesse mundão sem fronteiras, quem tem dinheiro não faz, manda fazer. No século 19 as coisas eram ainda mais cruéis, vai vendo.

O coronel Coriolano, que aliás tem um belo nome, não tinha muito apreço pela fadiga. Gostava mesmo era de contar os seus contos de réis, devidamente ornamentado pela sua bombacha sobre a carroagem que o levava pela pradaria. Coronel Coriolano era um cara de vocabulário arcaico, por isso profiro aqui palavras tão prolixas.

Porém, para multiplicar os seus contos de réis, alguém naquela fazenda tinha que trabalhar, e nós aqui já sabemos que não seria o coronel Coriolano. Mas se o distinto senhor possuía providências, logo poderia comprar alguém para fazer isso no lugar dele, não? Pois foi assim que o coronel Coriolano procedeu, e logo aportou em algum local desse Brasil varonil um navio cheio de negros, feitos escravos.

Coronel Coriolano, um grandecíssimo calhorda, gordo como um porco, ficava ali, deitado eternamente em berço esplêndido, enquanto os negros trabalhavam no lugar dele.

Aí, o coronel mandava um negro abater aquele porco gordo (o bicho, não o coronel), retirava as partes nobres e mandava pros negros o que sobrava. Pés, orelhas, rabo.... E, gordo como um porco (o coronel, não o bicho), ria-se das desgraças daqueles pobres negros que, sem a menor culpa no cartório, sofriam as mazelas da escravidão no seu lugar.

Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada, já dizia o velho ditado. Se a vida lhe der um feijão, faça uma feijoada, diz o velho blogueiro. Se a vida lhe der um violão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um irmão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um sermão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um caminhão, faça uma feij... Você entendeu, aconteça o que acontecer, faça uma feijoada. E foi o que os escravos fizeram: juntaram todo aquele resto de porco, meteram dentro de um feijão e assim tava criado um dos pratos mais incríveis da nossa gastronomia.

E se for pra fazer uma feijoada, siga o procedimento abaixo. E, caros leitores.. o procedimento é longo e a labuta é árdua.

Portanto, agradeçamos à Princesa Isabel que, ao contrário de todas as outras princesas da história, fez alguma coisa realmente relevante e aboliu a escravidão. Escravidão esta que nem deveria ter existido, mas como algum idiota achou que seria legal dar um pulinho na África e cometer um dos maiores erros da história da humanidade, ainda bem que nós tínhamos a dona Isabel, que azedou com a graça do coronel e de mais um monte de aproveitadores, safados e vagabundos e botou todo mundo pra trabalhar.

Agora vamos ao procedimento. Estamos levando com consideração que você vai fazer uma feijuca pra um monte de gente, portanto a quantidade de ingredientes vai ser colossal. Prepara que você vai, literalmente, suar sangue.

Pela primeira vez na história desse blog, vamos abrir mão da sacanagem de simplesmente ir jogando ingredientes a esmo no meio do texto, e vamos fazer uma listinha com tudo o que você precisa ter em mãos pra preparar uma boa feijoada.


Hora do prejuízo. Prepara o pelego, monta no pangaré e dirige agora essa carcaça surrada até o supermercado mais próximo. Pegue um carrinho grande e senta que lá vem a história.


  1. Esquece o bacon defumado. Compre uns 400g de barriga de porco, aquela crua mesmo;
  2. Se não tiver arroz na sua casa, compre. Feijuca sem arroz é como mulher na TPM: não adianta o quão você se esforçar, você não vai conseguir comer;
  3. 1kg de feijão preto;
  4. Salsa;
  5. Alho;
  6. Umas 4 cebolas grandes;
  7. Um maço de couve-manteiga, que não tem nada de manteiga, mas assim foi denominada;
  8. Uma peça de costela de porco de uns 2kg;
  9. 1/2kg de carne de charque, um tipo de carne seca;
  10. Duas orelhas de porco, daquelas salgadas;
  11. Um rabo de porco, igualmente salgado;
  12. Um pé de porco, salgadinho, salgadinho, só no sapatinho [/só pra contrariar];
  13. Uma linguiça portuguesa defumada;
  14. Uma linguiça calabresa também defumada;
  15. Dois paios, defumadinhos defumadinhos, só na fumacinha [/bob marley];
  16. Um codeguim, seja lá o que isso signifique, mas já chegamos lá;
  17. 1kg de bisteca de porco em fatias;
  18. 1/2kg de farinha de mandioca;
  19. 6 limões;
  20. Pimentas diversas, se vira;
  21. Colorau;
  22. Umas folhas de louro;
  23. Azeitonas.

Já deu pra perceber que isso aqui vai dar trabalho, não é? Assim como já deu pra perceber que o preju aqui vai ser grande, não é? Pois é, mas isso aí serve pra alimentar um pelotão. Portanto, se você pretende alimentar um pelotão, siga os procedimentos e leve o prejuízo.

O primeiro passo é lavar 1/2kg de feijão preto. E como lava? Mete num pote, abre a torneira e deixa passar água. Parceiro, meu lado ogro me diz que esse negócio vai ferver tanto, mas tanto, que você nem precisa se preocupar com bichos ou agrotóxicos. Chora, Doutor Bactéria, que dessa vez a gente vai levar os anticorpos da galera ao limite!

Lavado ou não, pegue o 1/2kg de feijão e mergulhe na água. Pega um pote bem grande, joga o feijão e manda água pra dentro. Sabe aquele lance que a gente chafurda na cerveja e fica todo inchado? Então, acontece o mesmo com o feijão. Então, pensa num pote grande, porque os grãos vão crescer bem. E enche bem de água. Deixa isso quietinho e vai acender a churrasqueira.

Churrasqueira??? O mais sensato dos leitores certamente vai pensar que este blogueiro está viajando na maionese, na mostarda e no catchup, mas não: eu não estou viajando.

Vamos por partes, já diria o jack estripador, embora eu prefira muito mais o jack daniels.

Pé, orelhas charque e rabo do porco
Como lidar com essa verdadeira carnificina suína salgada e depilada que tá aí na sua frente? É, essas partes são meio bizarras quando cruas, mas não tem jeito: você tem que meter a mão nesse trem aí. Abre a torneira, lava bem pra tirar o sal e chafurda numa bacia grande, cheia de água. Você tem que fazer isso pra tirar o sal dessas peças.. Se deixar do jeito que tá, a sua feijoada vai ficar mais salgada que o mar morto. Se não entendeu a piada, vai pro goooooogle. É importante deixar de molho umas 5 ou 6 horas, trocando a água de hora em hora. Fica atento no silvio santos, passou o resultado da tele-sena, troca a água.

Costela e barriga
Você acendeu a churrasqueira, certo? Então joga um salzinho em cima da costela e coloca na churraca, de maneira que as labaredas não encostem na costela. Nem na sua e nem na do porco. Se você sabe o que fazer com a barriga, empurra com ela fatia ela em pedaços da espessura de uma caneta e coloca ela na grelha. Mas coloca beeem longe da labareda, porque a barriga perde muita gordura, que faz as labaredas ficarem encapetadas. Pra evitar um incêndio, deixa a barriga longe, de maneira que ela asse, mas demoradamente. De vez em quando, dá uma passada na churraca e tira as peças quando elas estiverem bem assadas, com cara de bem passadas. Quando a costela estiver OK, use uma faca e separe as costelas no osso, como se fosse servir. E tira esse olho gordo e essa mão boba daí, senão vai faltar costela na sua feijoada. Deixa isso tudo bem guardado num buraco na periferia de jalalabad.

Pensa no timing da coisa: você colocou as coisas na churraca, e não vai ficar ali de bobo do lado dela esperando ficar pronto enquanto tem uma trabalheira te esperando lá na cozinha, vai? Sim, vai Não, não vai, né? Então pensa que o procedimento abaixo pode ser feito durante o procedimento anterior. Uma verdadeira confusão, mas vai por mim que no fim dá certo.

O couve, parte 1
O couve é meio esquisito, mas é assim que a couve se chama. O couve. Nos tempos modernos, quando rapaziada muda de roupa, muda de time e valdemar vira valdirene, relaxa e chama a couve de o couve.  O que importa realmente é que você precisa lavar esse treco aí. Abre bem, separa as folhas, mete numa bacia cheia de água e com um gole de vinagre. Deixa lá por uma meia hora e vai fazer outra coisa. E não é playstation, é trabalho, merrrmão!

Por falar me trabalho, vamos inaugurar os trabalhos? Corra o mais rápido que puder até a sua geladeira, abra uma latinha de cerveja e fique mais feliz.

A farofa
Você deve cortar meia cebola em rodelas, o que é bem fácil. Nem vou te contar como fazer isso, você vai saber. Aproveita essa levada toda de picotar as coisas em rodela, e picota umas 5 azeitonas em rodela, se lembrando de retirar os caroços antes, sob pena de causar sérios danos à lâmina da sua faca. Picota também uns 3 dentes de alho, de qualquer jeito. Não precisa ficar muito bonitinho não, desde que esteja pequeno.Corra na churrasqueira e retire umas 2 fatias de barriga, mesmo que elas não estejam prontas. Picota a fatia em pedaços do tamanho de uma ervilha.
Pronto, agora vamos pra panela. Jogue uma golada de azeite na panela, bote pra esquentar. Na sequencia, jogue lá dentro os pedaços de barriga, e uma folha de louro. Mexa com uma colher de pau, senão as barrigas grudam no fundo da panela, e nós não queremos isso. Quando achar que tá ficando bacana, jogue também as cebolas e azeitonas em rodelas. O cheiro já começa a ficar complicado de segurar.. Mexe até que as cebolas comecem a ficar amarelinhas. Na sequencia, jogue o alho e mexa, até que o alho comece a escurecer um pouco. Agora, jogue a farinha, e mexa muito, sem parar. Por uns 20 segundos, depois você deve desligar o fogo. A farofa queima muito rápido, portanto é bom desligar. Experimente um pouquinho, e se achar que deve colocar mais sal, adivinhe: coloque mais sal. Feito isso, pode guardar a farofa num esconderijo numa mansão no paquistão.

O feijão, parte 1
Bom, vamos começar a cuidar do feijão, afinal de contas, isso aqui é uma feijoada e nós não estamos aqui pra enganar ninguém com uma feijoada sem feijão. Jogue o feijão todo numa panela de pressão, com o pé de porco, a orelha, o charque e o rabo, que já devem ter passado por todo aquele procedimento de lavagem. Ponha água até o limite de segurança da sua panela, feche e mande pro fogo por uma meia hora.

O couve, parte 2
Enquanto o feijão tá levando muita pressão [/bonde do tigrão], enxágue as folhas do couvão, junte todas, enrole e comece a cortar fininho. Entendeu como faz? Você tem umas folhas grandes e precisa fazer aquilo ficar como um macarrão, que é o jeito que o couve fica quando vai pra mesa. Usa a cabeça que você vai entender. Feito isso, picote uns 2 dentes de alho. Numa panela, jogue mais uma golada de azeite, e comece a fritar o alho. quando ele começar a mudar de cor, manda lá pra dentro todo o couve feito em tirinhas. Mexa bastante, e frite até ficar escuro e molenga. se precisar, manda mais azeite pra dentro. Quando escurecer e amolecer, jogue um pouco de sal e guarde nas cavernas do afeganistão.

A bisteca, parte 1
Num pote, esprema (JAMAIS inverta o P e o R de lugar, sob sério risco de acabar com a receita. Se fizer isso, nem me chama pra comer essa bomba) um limão, picote um dente de alho e dê uma colherada pequena de colorau, com umas pitadas de sal. Misture todo esse treco e mergulhe as bistecas.. feche o pote e chacoalhe como se não houvesse amanhã. Pensando bem, uma pitada de pimenta do reino deve ajudar essa mistura aí. Deixe descansar, por mais que o porco já esteja morto sem a menor necessidade de descanso. Enfim, você entendeu.

Nesse tempo, se a meia hora do feijão já passou, tudo bem. Deixa todo mundo fechado dentro da panela e segue os procedimentos.

O feijão, parte 2
O procedimento é abrir a panela tomando todo o cuidado do mundo com a pressão que tá rolando lá dentro. O ideal agora é você transferir tudo pra uma panela realmente grande, que caiba o dobro do feijão que você tem, ao menos. Feito isso, deixe a panela aberta no fogo médio até o final da receita toda. O lance da pressão é que ela ajuda a amolecer um pouco o feijão, mas todo o resto fica melhor em panela aberta. Põe bastante água nesse feijão e mexe de vez em quando, pro feijão não colar no fundo da panela.
O tempero do feijão é simples. Tenha em mãos, mas não necessariamente NAS mãos, uma cebola picotada, 4 dentes de alho picados, duas folhas de louro e o resto todo da barriga de porco cortada em pedaços pequenos. Numa outra panela, jogue uma golada de azeite e deposite ali as barrigas todas com as folhas de louro. Siga a sequencia das cebolas, alho e pronto. Quando todo mundo estiver bem fritinho, jogue na panela do feijão, com azeite e tudo.

Pescaria
Pode largar a varinha e a minhoca (ui), o lance agora é dar uma olhada no meio do feijão, e tentar resgatar o pé do porco. Isso porque ele tem muito osso, e nós não queremos que aquela tia bacanuda que gastou vinte mil reais na sua prótese detone a lustrosa dentadura com um pedaço de osso, certo? Portanto, é legal pescar o porco pelo pé, retirar toda a carne possível e jogar o osso fora.

O arroz
Ah, esse post já tá muito longo e eu não vou ensinar ninguém a fazer arroz. Pelo menos não agora. Dá seus pulos aí, parceiro, e prepara um arroz

Feijão, linguiças e costela
Com a panela aberta, você mexendo toda hora e aquele caldo começando a engrossar, hora de descobrir onde enfiar toda aquela linguiça. E antes que o leitor utilize o lado negro dessa mente putrefacta, as linguiças todas devem ser depositadas na panela do feijão, sem furar, sem abrir, sem fatiar. Linguiça inteira, compana. Manda pra panela, elas devem ficar pelo menos uma hora lá dentro. O mesmo pras costelas. Aliás, a costela tem uma tendência a desmanchar, e você pode deixar desamanchar mesmo, ou separar metade das costelas pra colocar só na hora de ir pra mesa.

O molhinho de pimenta
Essa parte fica em aberto. Muita gente põe a pimenta sozinha na mesa, muita gente faz um molho usando o caldo do feijão, mas eu vou ensinar um molhinho que eu acho porreta, receita da vovó (claro, né). Bom, picota meio maço de salsinha, espreme uns 6 ou 7 limões, e adiciona um pouco de pimenta vermelha. Só isso. Esse molhinho, quando jogado em cima do prato de feijoada, faz o palhaço chorar.

A bisteca, parte 2
Tamos quase lá, rapazeada. Tá acabando a trabalheira e tá chegando a hora da comilança. Aqui não tem segredo, é só fritar as bistecas até ficar bem passada. Na hroa de servir, joga em cima dela um pouco de salsinha e põe limão cortado na mesa.

Pronto, pessoal Acabou a saga. Agora é tirar tudo o que estava escondido por aí, colocar todo mundo na mesa e lavar a alma. O resultado é esse aqui:




Custo: Ah, é caro. Dependendo de onde você vai comprar, dá pra gastar mais de R$60,00 com esses ingredientes.
Tempo de preparo: Demora muuuuito. Só o feijão, fica no fogo umas 5 horas, fora o tempo pra tirar o sal do porco, churraca, enfim. Se você ficar bebendo cerveja o tempo todo, vai servir a feijuca em coma alcoólico. Toma cuidado com esse pé de cana aí, parceiro.
Rendimento: Dá pra uma galera. Já fiz feijoada pra 16 pessoas com esse volume de ingredientes.

    Drops de Churrasco - Ed. 10

    Um salve aí para o mais saudoso dos leitores! Pois é, caros amigos, a vida anda mesmo judiando deste velho e maltrapilho escriba. Vida loka, já diria o motoboy. E já começamos logo com uma torta na cara, segura que essa vem quente.

    Num dos últimos posts escritos nesta espelunca, encontrava-me eu respondendo pelo status de semi-deschurrasqueirado, aquele que está quase sem uma churrasqueira. Pois é, mas quando você acha que o bicho vai pegar, o bicho vai comer e é o bicho, é o bicho, vai te devorar, crocodilo eu sou [/gerasamba], lá vem o bicho e PAU: te pega mesmo. Dentro daquele conceito louco que diz que se ficar o bicho come, se correr o bicho pega, economize tempo e dinheiro e pule logo dentro da boca do bicho. Creio que o leitor padrão deste blog, que responde por um Q.I. sempre superior a 100, queima seus neurônios mas não entende bulhufas do que eu tento dizer aqui. E essa é a tonica da parada por aqui: eu escrevo desgovernadamente, ninguém entende nada e no final a gente dá risada. Porque, afinal, quem ri por último ri melhor. Resumindo: se antes eu era um semi-deschurrasqueirado, agora estou completamente deschurrasqueirado. Não tenho mais aonde deitar o meu gato, sou praticamente um sem-terra das churrasqueiras. Portanto, peço ao nobre leitor que entenda que passo por momentos da mais absoluta abstinência, e diante de tais fatos, faremos aqui, neste blog, uma larga sessão de receitas de panela, que eu ainda me reservo o direito de manusear. Agradecido e vamos à próxima.


    Ando meio cabreiro com uma situação. Todos os leitores aqui sabem que dentro de uma caixa de cerveja, encontramos sempre 12 pequenos invólucros repletos da mais absoluta alegria e sapiência. Os leitores que não sabem, deveriam saber. 12 latas numa caixa de cerveja é um número cósmico, que só serve pra nos confundir na hora de calcular o preço da caixa. Já percebeu que você sabe que a Brahma custa R$1,45, mas não sabe o quanto custa a caixa? Então, faz parte da magia. Se tivessem 10 cervejas, tava fácil, mas os caras colocam 12. Só que eu tenho sentido uma pisada na bola e meldels, um pisão nas bolas deve ser extremamente doloroso, de forma que  curiosamente as últimas caixas de Itaipava que tenho comprado em diferentes supermercados do Seu Abílio, o Tio Bilhão, têm vindo com uma das latinhas furada. Isso mesmo. Não sei se a Itaipava tá querendo economizar, se o Tio Bilhão tá querendo me fazer beber menos, mas esse é o fato: comprei, nas últimas semanas, diferentes caixas de cerveja Itaipava em diferentes supermercados do Tio Bilhão e, invariavelmente, uma lata estava vazia. A maior pegadinha do malandro que poderia existir. De deixar o ivo holanda no chinelo. O fato me injuriou, e escrevi o ocorrido para o site da Itaipava. Há mais de uma semana, sem sucesso. Gente, eu nem quero meu dinheiro de volta, nem quero cerveja pra me ressarcir. Só quero ter a certeza de que vou comprar uma caixa de cervejas e levar as 12 latinhas pra casa. Cheias.

    Aqui nesse blog a gente já causou chachota naqueles caras que fizeram picanha com sorvete, lembra? Pois é, atiramos no calabouço a apresentadora matinal plastificada, que serviu farofa gelada com maçã e bacon, e costumamos mesmo apontar o dedo na cara de gente que se esquece que a comida serve mesmo é pra comer, e se eu quer ver obra de arte eu vou mo museu, mas.... dessa vez, rapazeada se superou. Extrapolou os limites, surpreendeu, já diria a propaganda do banco. Sente o drama. Ao mais desprevenido dos leitores, eu aviso: pra ler as palavras que vem por aí, é preciso ser forte. Strong, macho man. Forte como um cavalo. Isso mesmo, porque o lance aqui é do cavalo, e quando falamos de comida, se vem do cavalo, ou é bosta, ou vai dar bosta. Mas o lance aqui é tão ruim, que recomendo que fique na esperança de ser bosta. Porque, infelizmente, não é. Deu bosta.
    A questão é que lá na Nova Zelândia, onde batem alegremente as ondas da oceania, algum cabra da peste decidiu ordenhar o cavalo, e percebeu a égua dá leite e o cavalo dá coisa muito pior, e não contente em fazer um papelão desse, ainda recolheu o produto extraído do pocotó, lavou as mãos (espero eu) e fez um milk-shake. Isso mesmo: não mais leite no milk-shake dos neozelandeses, a brincadeira agora é filhote de cavalo. Veja com seus próprios olhos.

    Por fim, voltamos com toda a fanfarrice e alegria que nos motiva com mais uma charada. Quero ver quem vai desvendar os mistérios da nossa próxima receita aqui no DGG. A primeira dica tá fácil.

    • É receita de panela. Mas eu faço mezzo panela / mezzo churraca;
    • Keep Walking, Johnny Walker;
    • Muitos ingredientes. Muitos.
    Hasta la vista, babe, já diria o exterminador. Ou o amigo dele, eu não vi o filme.

    Deitando o cachorro na grelha

    Caros amigos, isso aqui não é um post típico do DGG. Hoje, nós não vamos falar de nenhuma receita, nem nada relacionado a churrasco. Quer dizer, até que a nossa personagem aqui se dá bem nos churrascos de casa. Afinal, a costela tem osso, e quando a gente come a carne, é preciso dar um fim pro osso, né? E hoje falamos de uma exímia comedora de ossos.

    Pra quem não conhece, eu apresento aqui a Preta. Preta, manda um oi pra rapazeada ae.

    au.

    Se você, em tempos de politicamente correto, se arrepiou com o fato de eu te apresentar alguém que responde pela alcunha de Preta, é porque você ainda não conheceu a figura. E vem comigo conhecer, você não vai se arrepender.

    A Preta é, na realidade, uma cachorra. Uma vira-latas daquelas, orgulho da raça. Ou da falta de raça. Ou do excesso, sei lá. Vira-latas são o produto final de uma verdadeira farra da miscigenação baseada na irresponsabilidade. Na putaria, falando claramente. Vira-lata não tem critério na escolha de parceiros, não tem bonito ou feio, nada disso. Vira-lata não tem nota de corte, não tem critério de desempate. Latiu, é parceiro. Abanou o rabo, tou dentro! Esse é o pensamento. No campeonato da evolução viralática, todo mundo é campeão e todo mundo cai pra segunda divisão ao mesmo tempo.

    Vira-latas levam consigo a carga genética de um sem-número de outros cachorros, com seus defeitos e qualidades. E, que me perdoem os barões quadrúpedes de apartamento, mas os vira-latas tendem a levar consigo o melhor da genética disponível. E assim é a Preta: uma cadela geneticamente privilegiada, abençoada pelos caprichos do aleatório. Inteligente, esperta, viva, moleca, detentora da eterna gratidão e carência que só tem que já sofreu na rua.

    Vi a Preta pela primeira vez numa gaiolinha da Cobasi. Aquele bichinho pretinho, acuado e com olhos vibrantes me cativou na hora. Ah, pra quem não conhece, a Preta fala com os olhos. Mais um vestígio de genialidade genética, tenho em casa um cachorro telepata. E o que aqueles olhos me disseram foi "vai, patrão. Me leva pra casa, eu tenho tudo pra ser um bom cachorro, você não vai se arrepender!". Eu não pude deixar de concordar com um cachorro que entende de telepatia, e decidi levá-la para casa. Quintal razoavelmente grande, crianças, churrascos, ossos depois dos churrascos... tinha tudo pra dar certo.

    Uma breve analisada nas suas patas grossas, e me veio um questionamento. Perguntei à moça da Cobasi: "Moça, será que ela cresce muito?". A resposta, brilhante, foi: "Vira-lata é loteria".

    Bom, parece que eu acertei as seis dezenas. A Preta cresceu, e se tornou um grande, forte, belíssimo e vistoso vira-latas. Bem tratada, limpa e alimentada, parece até cachorro de raça. Se não fosse a ponta do rabo branca denunciando a ausência de pedigree, diria que se trata de um cachorro valioso quando, na verdade, vale o mesmo que uma colherada de margarina. Rasa.

    Barata no valor econômico e caríssima no sentimental, a Preta fez valer cada segundo dos quase 3 anos em que ocupa o quintal lá de casa. Muito carinhosa, inteligente, malandra como todo vira-lata tem que ser, e sem nunca ter dado o menor indício de violência. Fato impactante pra quem tem crianças em casa. Boazinha, essa é a alma da Preta.

    - gente, olha a minha cara de gente fina.

    Bom, o problema com a loteria é que ela se tornou, na realidade, o meu grande dilema. Explico. Ela cresceu. Muito. Do alto dos seus 3 anos de idade, a Preta virou um vira-lata forte, da altura de um doberman, pesando seus trinta e poucos kg.

    Eu moro em prédio. Mas não pense que eu prendo um cachorro grande nos poucos metros quadrados de um apartamento, não. Por um milagre da arquitetura lúdica, no meu apartamento eu tenho um quintal generoso, e posso garantir que a Preta não passa aperto, não.

    A questão é que, antes da Preta, já era proibido manter cachorros grandes no prédio. Mas eu não sabia o quanto ela cresceria, e ela cresceu, e eu ignorei solenemente a regra. Bola pra frente.

    Acontece que vivemos em sociedade e, ao contrário dos vira-latas, que dedicam suas vidas civilizadamente ao exercício da malemolência, nós somos uns tapados e não conseguimos compreender os limites aceitáveis das coisas. Pra isso, fazemos leis e as seguimos.

    Alguns vizinhos, que não necessariamente moram num apartamento com quintal e não tem espaço pra manter um cachorro grande, começaram a encher o condomínio com animais de grande porte, aprisionados em apartamentos de 80 metros quadrados. Esses cachorros ficam sozinhos, latem, fazem algazara, fazem sujeira. Eles são cachorros, ora. E devem mesmo fazer as coisas assim. Mas não num espaço confinado. Não num espaço que é compartilhado com outros. E isso incomodou, justamente, os outros.
    Que reclamaram, e agora exigem o cumprimento da regra. Regra esta que, embora injustamente, precisa se aplicar a mim, e precisa se aplicar à Preta.

    Semana passada recebemos um comunicado. Todos os apartamentos que mantivessem cachorros de médio e grande porte, deveriam se desfazer dos mesmos, cumprindo a lei número qualquer coisa do estatuto blablabla do edifício condomínio jardins.. sei lá, da Babilônia.

    O fato é que eu estou errado e preciso obedecer. A genética foi generosa com a Preta, que cresceu e virou um belo, alegre e saudável cão. Mas foi traiçoeira com uma vira-latinha que saiu das ruas, foi acolhida pela ong que trabalha com a Cobasi, e posteriormente ganhou uma família, com casa, comida, crianças, alegria, amor e carinho. E agora precisa perdê-la.

    Vou manter a Preta no meu quintal, desafiando o condomínio, até que comecem a chegar as multas.
    Aí, não poderei mais lutar. Até lá, tenho o desafio de arrumar um novo lar pra ela. Gente que goste de cães, que tenha espaço, que possa dar a ela uma vida boa, como a que ela tem hoje. Gente que eu saiba que não vai soltá-la numa rua desconhecida quando chegar a viagem de férias, gente que vai alimentá-la com o mesmo zêlo, que dê carinho e assistência pra ela. Pra que ela possa continuar a alegre existência dela com a malandragem e felicidade que se a gente só vê nos olhos de um vira-latas.

    Na verdade, esse texto foi escrito há alguns meses, e deixei a coisa andar. Até que o cerco apertou, e a situação está se tornando mais difícil. De forma que aqui estou, pedindo àqueles que tem melhores condições de cuidar dela, que se apresentem. Infelizmente, este blog nem está aqui pra isso, mas tenho que recorrer. Agradeço.
    Bom, agora que já falamos da parte ruim, sente o paparazzo da moça: