Já começo este post no melhor estilo Gato na Grelha, que você já conhece desde os idos de 2009: mentindo. Aqui a coisa funciona assim: a gente mente na cara dura e você que se amalandre pra não cair na nossa conversa.
A parada é que não tem nada aqui sob nova direção. Esta porcaria tem dono e vocês vão ter que me engolir [\zagallo]. Um dono malemolentemente relapso, mas tem um dono.
Isso aqui é praticamente um cachorro de mendigo: tá mal cuidado, tá pulguento, tá com fome, toma chuva e dorme no papelão, mas não larga o dorme-sujo de jeito nenhum. E por muito mais de 10 anos esse pulguento aqui tem perambulado atrás de mim, pedindo um pouco de atenção e um osso de galinha de vez em quando.
Logo, eu e essa casa muito engraçada sem teto e sem nada nos amamos. Aí essa coisa toda de amor escoando pelas ventas me coloca numa situação decerto delicada. Porque eu amo isso aqui.
Aí você, o mais amado dos leitores, vem até aqui e lê as mal colocadas colocações que escrevo sem o menor compromisso com o bom português. Nem com a verdade.
E quando você lê o Gato na Grelha, o Gato na grelha te ama. O cachorro, no caso, é o Gato na Grelha. Gosto de acreditar que tenha exercitado esse seu neurônio malfalado nos ultimos 10 anos e esteja entendendo o meu pensamento.
Só que se eu amo o Gato na Grelha e o Gato na Grelha te ama, eu fico com ciúmes de você.
De você e de outros dois milhões, cento e nove mil, quatrocentos e setenta e cinco outras pessoas. Tomei este susto quando vi as estatísticas do blog nesta linda manhã de domingo.
O que me coloca numa situaçõa mais delicada ainda.
E pensando em mulheres, dinheiro e iate servir bem pra servir sempre, aliado a um conjunto de fatores tranquilos e favoráveis, me fizeram sentir vontade de despejar meus mais desconexos pensamentos gastronômicos aqui novamente. E aqui estamos de volta.
Antes de entender porque voltamos, seria justo que gente mentirosa como nós aproveitássemos o sublime momento pra expor alguns fatos. E lá vão eles:
- Eu escrevia aqui com bastante frequencia, porque eu tinha uma vida e uma rotina bastante propícias para isso.
- Só que a minha vida, nem sempre sob meu comando navegou por mares nunca dantes navegados e aí ficou impossível dar andamento a esta nada nobre obra literária.
- Churrasco, pra mim, virou raridade. Escrever sobre churrasco, então... nem em sonho.
Como deve se portar todo mendigo de bem, continuei me alimentando mal e fazendo uso abusivo de álcool e outras substâncias que se encontram à venda em todo boteco porco que se preze.
E o excesso de cerveja vagabunda, torresmo, ovo rosa, bolovo e salsicha à milanesa me deixaram doente.
Doente pra caraio. E essa parte aqui não é mentira não.
Fiquei doente de ficar amigo do enfermeiro da UTI. De saber o número do prontuário de cor. De saber nome de remédio além da Dipirona. De se ferrar grandão.
De fazer um transplante de fígado.
Isso não é mentira. Aqui a gente mente a rodo, mas sempre avisa quando tá mentindo.
Então este que vos escreve é um ser sem dinheiro, sem moral e que não é dono nem do próprio fígado.
Se você acha que dá pra manter amizade com gente assim, continua aqui. Se não confia e se não continar lendo o Gato na Grelha, meu amigo dono do meu fígado vai puxar o seu pé. Esse cara é parceiro, tipo um anjo da guarda só que ao contrário.
Ele teve a linda e bondosa idéia de avisar a família que gostaria de doar seus órgãos. Eu tava lá na UTI num estado deplorável precisando de um. Batemos um papo legal, assinamos o DUT e agora ambos partilhamos de um fígado semi-novo.
Talvez em posts anteriores eu tenha falado sobre judiar do figão ou algo do tipo. Eu tava falando do outro fígado, tá? Aquele foi pra universidade ser estudado pelos alunos por algum professor que mostra que não se deve fazer cagada com a própria saúde a ponto de seu fígado parecer um pacote de whiskas sachê.
Eu falo bem do meu fígado semi-novo. Meu amigo aqui tem a vaidade dele, né? Sempre bom dar aquela enaltecida nos amigos. Ainda mais um que salvou a sua vida.
Aproveita e fala pra sua família que você também quer doar esse seu corpinho gostoso. Recomendo doar apenas somente após a morte, ok? Mas não perde a chance de fazer alguma coisa que preste e doa isso tudo aí. Você salva umas 8 vidas e fica todo mundo feliz. Menos você que morreu, mas melhor doar do que deixar pra minhoca comer, ok?
Tá dada a dica.
Voltando ao ponto, eu dizia que a gente - eu e ele, gostamos de loucas aventuras e de meter a cara no fogo. Tem risco? Tou dentro, é o que diz meu parceiro aqui. Como eu também digo, decidimos juntos que era a hora de retomar a vida de churrasqueiros e preparar muita carne e todo tipo de guloseimas pra você.
Como minha vida acabou virando uma democracia onde eu e ele temos que decidir tudo juntos, nós resolvemos mudar algumas diretrizes aqui nesta espelunca.
Vem comigo que eu te conto:
Ana Maria Braga
Outrora muito sacaneada aqui, não mais será. A partir deste momento, dona Ana vira nossa musa, nossa inspiração, nossa Deusa.
Primeiro que ela virou uma senhorinha e não fica mais inventando sorvete de creme com picanha na TV. Ela se limita a falar - sem mexer a boca - suas mensagens motivacionais toda manhã.
"ACORDA ALZARENTO ESCOVA ESSES DENTE SENÃO EU TE CUBRO DE PORRADA". Minha mãe era muito mais eficiente em motivar a rapazeada logo pela manhã, mas a dona Ana tá fazendo o melhor que pode. Merece respeito.
Agora falando sério, eu passei perrengues inomináveis no meu transplante, e sei o que é vencer uma doença. ou enfrentar de peito aberto. E a Ana Maria Braga venceu não um, mas DOIS cânceres. E depois de tudo o que eu passei, não posso não apoiar e respeitar uma lutadora assim.
Respeito define.
Gatos
A vida, esse jumento desembestado ca gente nas costa é um bicho tão dois que eu, que nunca tinha tido gato, agora tenho um monte. E contando.
O principal e queridão aqui é o Whisky. Um gato absolutamente maluco que protagoniza altas fanfarrices numa casa muito louca. Vocês ouvirão muito falar dele.
A irmã dele é a Tequila. Acho que esses nomes dão uma dica de porque eu fiz um transplante de fígado. Enfim.
A Tequila é uma gatinha linda, gordinha, manhosa e tagarela. Não é louca como o Whisky, mas é louca de outra maneira. Vocês ouvirão falar dela.
Tem o Gerente, um gato que invadiu a minha oficina e resolveu morar lá. O Gerente é um gato barrigudo, vesgo, rabo curto mas muito simpático. Esse vai ser mais presente, uma vez que ele mora onde fica a churrasqueira e às vezes até dorme dentro dela.
Aí no quintal ainda tem a Luna, a Marina, o Frajola, a Pantera e até bem pouco tempo atrás tinha o Cara de Minhoca, que fugiu e nunca mais voltou. Provavelmente atrás de outro mendigo.
Logo, esse blog passa a flertar com o perigo desgovernadamente. Um blog chamado Gato na Grelha, onde a grelha em si vive cercada de gatos.... não vou continuar hahaha.
Quem quer dinheiro?
Durante o perído de ouro deste blog, eu negava todo e qualquer patrocínio pago.
Um idiota.
Hoje eu vejo que temos mais de 2 milhões de views e já era pra eu estar rico fazendo churrasco nas ilhas Cayman usando nota de cem pra acender o carvão. Mas eu fui burro e continuo pobre.
Então agora vamos ter sim alguns jabás aqui. No mesmo estilo malemolente e sem valores de sempre: se o produto for ruim, a gente desce o pau.
E pra finalizar, eu não pretendo reescrever coisas antigas daqui. Mas precisamos - todos - ponderar que isso aqui começou a ser escrito em 2009, e muitas regras de comportamento e respeito ao próximo evoluíram, e vejo isso como uma coisa muito positiva.
Sinceramente, preconceito de nenhuma natureza jamais fez parte da minha personalidade, intenções ou ações. Mas hoje, eu não apenas respeito como também defendo ferrenhamente dfierenças e e minorias.
Na real, não deveríamos ser diferentes ou menores. Tudo igual, feito de carne e osso, fazendo cocô e chupando laranja com barulho.
Na posição de uma pessoa que teve a vida salva por um fígado que veio de um desconhecido, eu me coloco como a última pessoa do planeta a aceitar qualquer tipo de preconceito.
Afinal, eu não sei quem foi meu doador. Preto, branco, verde, azul, cis, trans, índio, curintiano? Só sei que ele tinha 74 anos e 1,58m. O resto, a lei dos transplantes protege e eu não sei mais nada.
Só que ele fica aqui sussurando aqui no meu ouvido.
Que ele ficou sussurando que era pra eu voltar aqui e desperdiçar o meu mau portugês (com U mesmo) mais uma vez e retomar aquela comunidade tão divertida que criamos.
Mas tudo com muito, muito respeito.
Doe seus órgãos. E leia o Gato na Grelha :-)
Sejam bem vindos de volta a este antro da pior gastronomia que você vai querer praticar hoje.
É verdade esse bilete.