Salmão na grelha

Quando eu comecei a escrever nessa espelunca, eu nunca imaginei que um dia levaria isso a sério. Na verdade, até hoje eu não levo, mas pelo menos me preocupo um pouco mais com a total, irrestrita e absoluta falta de qualidade das coisas que escrevo aqui, procuro receitas novas, enfim. Comecei a escrever aqui despretensiosamente, e alguns incautos, para a minha surpresa, decidiram que seria uma boa idéia ler estas porcarias. Então me vi obrigado a tomar vergonha na cara, buscando me informar para que pelo menos pareça que eu entendo do que estou escrevendo.

Com isso, acabei encontrando vários blogs e sites bacanas internet afora. Um deles é o Mesa pra 1. A receita de bolo deles é parecida com a nossa: macho na cozinha, fazendo comida boa e falando merda. A gente sabe que isso funciona. Homem escrevendo merda de um lado da tela, homem lendo merda do outro. Entre uma breja e outra, assim vamos indo em direção à derrocada. Enfim, como a direção da derrocada é nossa via de mão única, certa vez encontrei uma receita por lá que me animou muito, e decidi fazê-la, e aqui reproduzo com uma fidelidade malúfica.

A diferença entre os dois blogs é que neste aqui, eu enrolo, enrolo e enrolo parágrafos e mais parágrafos (tá vendo como é fácil enrolar?) pra postar uma receita que poderia ser descrita em 5 linhas, e lá eles metem a mão na massa mesmo. Gente que faz. Em tempo real, ao vivo e à cores, com uma câmera na mão e uma cerveja na cabeça lá vão eles filmando pataquadas gastronômicas e recheando o youtube com uma turminha muito louca aprontando altas receitas numa cozinha do barulho. Sério, o blog é legal, já passei o link, vai lá que eu espero.

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acho que o pessoal gostou mais do mesa pra 1

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#jascakszxcz xz @#$#!%ˆ$
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voltou? ufa, então vamos à receita.

O esquema é muito simples, e faz o salmão, que já é um peixe muito saboroso (taí o urso marrom, malaco da ilha kodiak, que não deixa a gente mentir), ficar ainda melhor. E não é só simples, não. O esquema é roots, coisa de gente rude, de sola dura e calcanhar rachado. Sem essa de garbo e elegância, se você chora na novela ou passa ppt de paisagem, sai desse corpo que não te pertence, prepara o capitão nascimento que existe dentro de você e TRAZ O SACO AGORA!

O lance é que você deve ter adquirido anteriormente, um belíssimo filé de salmão. Não recomendo disputá-lo na beira da pirambeira com o urso marrom, nem navegar pelos mares da noruega em busca do salmão perfeito. Muito mais fácil conferir comigo que salmão bom é salmão morto, dar um pulo num mercado e comprar uma bunda de salmão fresca, por mais que possamos estranhar essa coisa de bunda fresca. E a bunda do salmão só tá fresca quando tá firme (ai, a luma de oliveira...) e larnja escuro. Fica atento, se o peixeiro te passar um salmão laranja meio branquelo, que parecer meio mole, dá-lhe logo um pescotapa e se manda dali porque esse salmão tá velho.

Beleza, de salmão em punhos, TRAZ O SACO SENHOR ZERO UM e mete o peixoto lá dentro. Pode ser um saco de freezer, saco de pão, saco de lixo, o que você quiser. Apenas se certifique de que o saco não vai vazar, porque além do salmão, você ainda vai jogar mais algumas coisas lá dentro.

E, pra que o salmão não se sinta um peixe fora dágua, você deve colocar ali alguma coisa pra ele nadar. A coisa, no caso, é o mundialmente conhecido molho soyu. Deposite no saco um monte, um copo, uma lata, bastante molho shoyu. O salmão agradece.

Como sabemos neste blog que uma andorinha só não faz verão, sabemos que o salmão não pode ficar ali sozinho, boiando alegremente naquela piscina de shoyu, não? Pois lance mão de toda a cebola que você conseguir carregar. Vai na fé, pra meio quilo de salmão, você pode picotar umas 3 cebolas.

Picotar, não. Corte em rodelas, e eu espero que você saiba como fazer isso. Não vou ensinar marmanjo a descascar a cebola, posicionar na tábua, fazer cortes paralelos e desmontar com as mãos. Não vou mesmo. Enfim, o sabichão aí já deve estar imaginando que a cebola deve IR PRO SACO TAMBÉM. Desse jeito mesmo, com agressividade, macheza e virilidade.

Cebola no shoyu, cebola no olho e a essa hora já tem salmão chorando dentro do saco, certo? Pois então, pra acabar com essa tristeza, nada como uma musiquinha pra alegrar o ambiente, não acha?

Pra animar, pode preparando as suas maracas e o bigodón, que chegou a hora de muito merengue e SALSA, maricón. Isso, picote um maço inteiro de salsinha e MANDA PRO SACO E CADÊ O BAIANO???? Cadê o baiano? Boa, manda lá pra dentro duas pimentas baianinhas, sem picotar nem nada.

Agora que tá todo mundo animado, na maior agitação, hora da sacanagem. Você dá um nó na ponta do saco e deixa a putaria comer solta lá dentro. Pode chacoalhar, pode mexer, pode fazer essa galera balançar o esqueleto na festa que rola dentro do seu saco. O do peixe, claro.

Tamo quase lá. Abre a geladeira, deposita o saco lá dentro e vai acender a churrasqueira. Já te falei pra abrir uma cerveja? Não? Então tá esperando o que, criatura? Aproveita a geladeira aberta e saca uma latinha agora mesmo.

Deixa o saco lá dentro da geladeira, enquanto você acende a churraca e tal. Isso vai demorar uns 15, 20 minutos, dependendo da sua destreza para com as atividades pirotécnicas.

Quando você conseguir acender a churraca e terminar a cerveja, a coisa já deve estar no ponto lá no saco. Agora você abre o saco e procura o salmão lá dentro. Com a mão mesmo, larga de nojinho. Posiciona o peixoto sobre a grelha, com a pele pra baixo, o que parece óbvio, mas sempre é bom avisar.

Agora é bacana: pega toda aquela maçaroca de cebola e salsa, devidamente embriagados de shoyu, e deposite cuidadosamente sobre o salmão. O resultado será surpreendente.

Abra outra breja, e mais outra. A essa hora, o peixe deve estar ficando bom. Você percebe que ele tá bacana quando a pele fica mais durinha, e a carne do salmão começa a fica mais branca. Como salmão é um peixe que se come cru (favor não confundir, mente suja), não tem muito essa de ponto, não. Olha pra ele, gostou? tira. Ele não fica seco, porque tem um monte de salsa e cebola molhadas em cima dele, e fica gostoso mesmo se você tirar antes da hora.

Na hora de tirar, recomendo uma espátula. Você mete a espátula entre a pele e a carne, elas se soltam facinho, você taca o peixe na tábua, dá um garfo pra cada um e come-se assim, no esquema pia de porco, mesmo.

Dica: o shoyu já tem sal, não seja besta e tira esse ajinomoto daí.

O vídeo da receita feito pelo pessoal do Mesa pra 1 é bem legal, clica aqui que eu não vou dar um embed assim, na cara dura. Já chupinhei a receita deles, uai.

Rendimento: 500g de peixe dá pra umas 2 ou 3 pessoas. Mas recomendo um camarãozinho pra ajudar.
Custo: 500g custaram R$11,00, mas acho que você pode encontrar mais barato, depende muito da sua localização geográfica.
Tempo de preparo: 1 breja na cozinha, 2 ou 3 na churraca. Você vai precisar de mais umas latinhas pra servir feliz.

Drops de Churrasco - Ed. 2

Lá vamos nós pra mais uma edição dessa catástrofe literária chamada deitando o gato na grelha. Acerte o seu aí que eu arredondo o meu aqui, segura no apito do árbitro que vai começar a peleja, e te prepara que nós vamos chutar pra cima de você informações rápidas e diretas, acerca do cotidiano sem sal, sem açúcar e sem escúpulos desse mundo do churrasco e demais iguarias.

E por falar em chutar, lá chegou o Dunga chutando bunda de vaca (opa, aí não), chutando o pau da barraca, chutando o balde e chutando pra longe a chance da gente se divertir durante a copa. Olha, acho que nem o lazaroni foi capaz de convocar uma seleção tão cheia de jogadorzinho pereba. Fuja da bicuda, amigo churrasqueiro, e te prepara pra caprichar no churrasco durante os jogos, porque alguma coisa aí tem que ficar boa, e não vai ser o futebol.
Praticamente uma pegadinha do mallandro. Isso me lembrou da vez que o Sergio mallandro me perguntou uma informação na rua, mas isso é pra outro post.

E, já que estamos falando de seleção, tá fazendo o maior fordúncio aí a propaganda da seara com o neymar, o robinho e o ganso. Tá, a coreografia é ok, a música é legal, bla bla bla. Mas eu espero ansiosamente que o caríssimo, letrado e versado leitor tenha atentado para pequenos fatores que, pra mim, fazem desta uma das mais cagadas invenções que os nossos criativos e inventivos publicitários já vomitaram da telinha da tv para a sala da nossa casa. Pensa comigo: Temos ali 3 jogadores de futebol com uma camisa do Brasil. Porém, só um deles está convocado #FAIL. Estou, até agora, tentando imaginar que cacetas fazem 3 marmanjos na televisão fazendo coreografia de uma música chamada single LADIES numa propaganda de linguiça????? Será que os meninos da vila se deram conta do mico? Parece que sim, note a cara de constrangido do Ganso ao longo do comercial, só no sorriso amarelo. Shame on you, nizan guanaes!!!!

Ontem eu inventei uma verdadeira gambiarra. Uma gambiarra que deu certo e, então, foi promovida a invento. Agora, além de palmeirense, churrasqueiro e blogueiro, eu sou também inventor. Chique demais. Mas pra que serve essa invenção? Uma das carnes que eu mais gosto é a costela bovina. Acho que é a carne que eu mais gosto, mas prefiro não falar alto assim porque as outras carnes também têm coração. Inclusive o coração. Só a costela que não tem coração, porque a costela tem osso. Assim como o ofício, que tem o osso do ofício. Não confundir com orifício. Mas o que tem a ver o orifício com o invento? Melhor começar de novo.



Ontem eu inventei uma gambiarra bacana. Eu gosto muito de costela, e já tinha feito de duas maneiras. Uma no celofane, que funciona muito bem. Outra direto no fogo, que funciona bem, mas depende de vários fatores, e nem sempre eu tenho isso na minha churraca. Isso porque eu fui uma anta na hora de escolher a localização dela, mas isso não vem ao caso. Afinal, eu sou o inteligentão que inventou uma parada aqui, rapaziada. Mas inventou o que? pergunta-se o aflito leitor. Inventei uma gambiarra, respondo. Uma gambiarra pra fazer costela no bafo. Cuma? perguntaria o Didi. eu explico, negadis, responderia o mussum.

Uma lata de heineken, daquela de 5 litros, devidamente e deliciosamente esvaziada que, após aberta em um dos orifícios (sabia que isso ia ser útil pra alguma coisa), levou uma dezena de furos, de maneira que eu consegui um respiro no alto, e 4 buracos nas laterais, por onde passa um espeto. Ao passar pelo meio da lata, o espeto leva uma costelada, digo, a costela leva uma espetada e... bom, você entendeu. O espeto vara a lata, e dentro da lata, espetada, fica um pedaço de costela. Aí você põe sobre a grelha e esquece que aquilo existe, por mais que possa parecer estranho uma lata de cerveja gigante com um espeto na sua churrasqueira. Vai parecer que está assando uma cerveja espetada, mas não é. É uma costela. Faça como eu: desbanque a sua mulher e faça uma costela de lavar a alma, porque a patroa vinha tentando me desmoralizar enquanto eu fazia os furos. Elas sempre falam que não vai dar certo, e no final, dá. GPS pra quê? A gente sempre acha.

Aí eu fui no mcdonalds ontem, experimentar o tal do McBrasil. Não tenho palavras pra descrever. Aliás, tenho uma: ruim. Não experimente essa porcaria, é caro, seco, feio, chato e bobo. A melhor coisa do lanche é a cocacola de 750ml que, desculpa aí, é uma cocacola e vende em qualquer lugar. O lanche tenta ser um sanduíche de pernil, e começa bem, muito bem. Contrariando toda a filosofia da culinária mcdônica, o hamburger de pernil estranhamente tem gosto de pernil. Imaginei que fosse como os outros hamburgeres da rede, onde a carne tem o mesmo gosto da embalagem, mas não. Acontece que nada mais no lanche é bom. O pão, achei seco demais. A salada, pra variar, ficou toda na caixinha. O queijo, nem notei e tinha um molho lá dentro que tava apimentado. No final, tirei o hamburger de dentro do pão e comi só o hamburger. Quer uma dica? economiza 15,50 e não come esse treco. Lanche ruim, de fazer o palhaço chorar.

Sabe quando você mete o pé na jaca, enche os cornos e fica bêbado como uma lhama? O instituto de pesquisas tecnológicas Gato na Grelha apurou que 9 entre 10 bêbados, no dia seguinte prometem que não vão mais beber. E 9 entre cada 9, furam essa promessa. E, num desses dias, nos quais o fígado passa o dia alojado em algum lugar obscuro e impronunciável do corpo, entre o branco do olho e o tendão de aquiles, descobri um santo remédio pra curar a ressaca e colocar o corpinho novamente em funcionamento. E essa descoberta tem fundamento científico, não é chute e não foi a mãe dinah que me deu a dica. Foi o Terra, mesmo. Vai lá ver, descubra o que um sanduíche de bacon pode fazer pela sua alma e nunca mais se sinta um pedaço de estopa vagando encharcado pelo mundo à espera de um transplante.

Enfim, era isso. Tenho novas receitas na mente, mais trabalho do que eu consigo fazer e uma falta de habilidade ímpar com as palavras que me fazem gastar uma hora inteira pra escrever aqui no blog, mas aguardem, quem espera sempre alcança. Ou dança? ou cansa? como era mesmo o velho ditado? ou seria um velho deitado?

melhor parar. bom final de semana.

Nome aos bois - parte 1

Eu queria muito saber quem foi o primeiro camarada que abriu o primeiro boi e saiu dando nome pra tudo o que ele encontrou lá dentro. Sério.

Afinal, caro leitor, vamos combinar que os nomes das carnes são de uma fanfarrice ímpar. Sujeito controverso, este. Controverso, no sentido da antagonia da sua própria fanfarrice, seja lá o que isso signifique. Controverso porque ele encheu a cara, abriu o boi e deu nomes esdrúxulos e bizarros pras carnes, mas o inusitado se fez presente, e aí todo mundo acreditou no que ele tava dizendo, e os nomes continuam sendo falados nos açougues desse nosso Brasil varonil afora, comprovando a controvérsia da coisa. Controverso, côncavo e convexo. Ou não.

Sério, eu queria muito bater 15 minutos de conversa com esse cara, que abriu o primeiro boi e mandou logo um "Caracas, tem um pato aqui dentro. Tem um lagarto, também. Ou seria um tatu? E tem uma agulha, e um cupim, e um peixinho, uma fralda e uma raquete!!! Maneiro!".

Sigamos adiante.

Aí eu me lembro que meu nome é Daniel Walter, e quem um cara que tem dois nomes tão diferentes pensa que é pra questionar uma peça de carne de BOI que chama LAGARTO? Logo depois eu me lembro que a isso se deve o fato de Walter ser sobrenome, e não nome, e me dou conta da sorte que tenho de ter nascido homem, porque a minha irmã se chama Monica Walter, e minha prima Carol ganhou na escola o apelido de CaWalter durante o duro e cruel período da adolescência. Me lembro também que o sobrenome Walter é de origem germânica, e, definitivamente alemão não é um povo bom pra dar nome às coisas, taí a Volkswagen pra provar. Então, mais uma vez, me lembro da sorte que tenho da minha mãe ter me dado o simples e comum nome de Daniel e abdicado da criatividade chucrútica impregnada na nossa corrente cromossômica. Eu poderia tar matando, eu poderia tar roubando, eu poderia me chamar Hans, Wolfgang ou Fritz, e isso seria bastante ruim. Mas isso me faz lembrar de que a minha avó não teve esse ato de bondade e deu o nome de Gudrun pra minha mãe. Mas a grande sacanagem é que a minha avó se chamava Joanna, o que mostra que a nossa família, geração sim, geração não, sacaneia os filhos com nome de cerveja. Mas eu não passei adiante, meus filhos são Júlia e Rodrigo.

Cada coisa que eu tou me lembrando hoje. Sigamos com a história.

Já que é pra lembrar, lembrei de mais uma, e quando a gente fala de nomes de coisas, tem uma pessoa que é imbatível, uma autoridade no quesito nomes-bizarros-pra-coisas. Estamos falando da Baby do Brasil.

capa de disco com peitola de fora, colar de talheres,
pintura de índio e bebê mamando: é disso que eu tou falando.

Primeiro porque a Baby do Brasil se lançou na carreira artística sob o nome de Baby Consuelo, mesmo se chamando Bernardete Dinorah. O que, por si só, já nos mostra que estamos tratando de uma pessoa dotada de altos índices de noção.

Em determinado momento da carreira, Baby Consuelo achou que algo ia mal, e que era a hora de dar uma mudada nesse nome. E aí, quando todo mundo pensava que ela ia trocar o Baby por Juliana, Alessandra, Fernanda ou algo do tipo... ela tira o Consuelo e põe Do Brasil.

ééééééééé......   do brasilllllll!!!!!!!!!!!!!

Baby do Brasil é o tipo de pessoa que chamaria um pedaço de carne de raquete. Vai por mim.

Mas isso não é tudo, nossa feliz colaboradora não terminou por aí. Preocupada em perpetuar o seu legado de criatividade e alegria na arte de nomear pessoas, Baby do Brasil se uniu ao seu guitarrista pepeu gomes, copulou e se reproduziu, daí a capa do disco. Hippies e bebês foram feitos um pro outro. Assim nasceram pessoas da mais fina elegância, gente que merece o nosso respeito pelo simples fato de ter respondido chamada durante a vida escolar sob a alcunha de "Riroca", "Zabelê", "Nana Shara", "Pedro Baby", entre outras pérolas.

E isso não é apelido. É nome. Cidadão chamava Pedro Baby. Envelhecia, tinha filhos, ganhava profissão, e continuava chamando Pedro Baby. Você contrataria um advogado chamado Pedro Baby? Como você se sentiria ao ouvir "boa tarde, passageiros, aqui é o comandante Pedro Baby, estamos viajando a 8.000 pés sobre o oceano pacífico e..."?

Enfim, aí a Riroca, revoltada, atingiu a maioridade e correu para o cartório mais próximo da sua residência, embuída da missão de se livrar desse nome mezzo doce do interior, mezzo apelido de vó. E assim procedeu, trocando o nome Riroca por... Sara Sheeva.

SARA. SHEEVA.

Isso, assim se faz as coisas com perspicácia e sapiência. Trocando um nome ridículo por um nome feio. É como se o Patinho, infeliz com o nome que o tiozão que abriu o boi lhe deu, corresse no cartório pra mudar o nome de Patinho pra Roda Gigante. Ou Abajour. Ou Alfazema, ou abacaxi, ou berinjela.

Bom. Muito bom.

Muito bom que não foi a baby do brasil, nem a riroca baby que deram o nome às carnes.

Enfim, agora que todo mundo já tá curioso, eu aproveito pra contar que isso não é um post, é uma série, e aos poucos eu pretendo pesquisar sobre os nomes divertidos das nossas carnes, e contar aqui, uma a uma. Leitores cultos e letrados são muito bem vindos nessa epopéia em busca da arca perdida do que bebeu o fanfarrão que abriu o primeiro boi e deu os primeiros nomes às peças.
Uma dica importante: Se você está grávida (o) e ainda não decidiu que nome dar a seu rebento, recomendo veementemente que mantenha toda a distância possível deste post. Tememos que más idéias impregnem a sua mente e façam uma criança infeliz por toda a sua existência. Grato.

Drops de Churrasco - Ed. 1

Tamosae com uma nova série neste mal escrito, mal interpretado e, porque não, mal-passado blog. Estamos falando da novíssima seção "Drops de Churrasco".

E antes que o imaginável leitor imagine que o escriba desta porcaria andou experimentando balinhas ilícitas e, entre um elefante de bolinhas e um tapete voador, já se imagina degustando um Halls sabor churrasco, eu acho melhor explicar.

"Drops" é uma expressão de cunho jornalístico, que denomina pequenas informações, que não são exploráveis o suficiente para virarem notícias, e nem desimportantes o suficiente para serem descartadas. Então, os editores costumam agrupar estas informações num boletim, determinado Drops. E aqui comigo eu tenho centenas de pequenas pautas armazenadas, que nem servem pra virarem posts, e nem inúteis o suficiente para me encorajar a apertar o delete.

Sendo assim, nasce esta série. De parto normal, fora do peso ideal e chorando sem levar tapa do médico.

Sem mais delongas, vamos a elas:


Dia desses eu fiz carne de avestruz na churrasqueira, iguaria essa que populava o meu imaginário há tempos. Comprei dois filés de peito, custou uns R$8,00 (R$26,00 o Kg, carinho).
Olha, esquece que ele é um primo grande do frango, porque não tem cara de ave. Quer dizer, tem cara mas não tem gosto de ave. Tem gosto de carne bovina.
O veredito? É bonzinho. Gostoso pra uma carne de ave, porque tem gosto de carne bovina. Mas não é melhor que carne bovina, logo... Se você quer a minha opinião, compre um contra-filé, economize dinheiro e seja feliz.

A Skol tem mandado muito bem na dobradinha cerveja + churrasco, não acham? Já é a quinta ou sexta propaganda que eu vejo deles e a risada é inevitável. Demorou pra desvincular a propaganda de cerveja da gostosona de biquini pra mostrar algo que faça parte da realidade de todos. Não que a gente esteja achando ruim aquele desfile de bundas, mas é que é muito mais fácil você encontrar um amigo dançando lambada de tanga num churrasco do que gostosas com biquini pequeno, cara de safada e vento artificial no cabelo. A gente é fã da gostosa, mas é sempre bom encontrar publicidade inteligente, né?

O caríssimo leitor Carlos Gallo, dia desses me mandou um e-mail. Isso é bem legal, recebo vários e-mails da galera, sempre com coisas interessantes. Dessa vez, era um link do UOL com comemoração dos 61 anos da nossa querida apresentadora matinal, a dona ana maria braga. Um álbum de fotos que, segundo ele, davam pauta pra uns 100 posts. Pois é, logo no primeiro que cliquei, nossa querida anciã inadvertidamente comera uma salada com um verme. E ainda passou por baixo da mesa. Adoramos isso! Adoramos ela! Adoramos ela comendo larva!

E daí que a Glorinha Kalil, aquela que dá dicas de etiqueta no fantástico mandou umas dicas de etiqueta pra um churrasco. O link tá aqui e o tópico no orkut é hilário por si só, mas você nem precisa ler, xá cumigo que eu resumo: No único trecho que meu estômago me permitiu ler, ela sugeriu salada verde, farofa e sobremesa. Oiê, cadê a carne, dona etiquetada? Churrasco é coisa roots, tia. Churrasco a gente come com a mão, tia. Coisa de gente que tem culhão. Etiqueta só serve pra incomodar na cueca, e eu corto todas as minhas com a tesoura. Faz assim, dona Glorinha: não enche o saco alheio e vai pagar R$100,00 por pessoa no fogo de chão, vai.
Saladinha, faça-me o favor.

Tem vários blogs bacanas por aí, que falam não só de churrasco, mas de peripécias gastronômicas masculinas, provando que a gente também esquenta a barriga no fogão. Um dos que eu mais gosto é o Mesa pra 1. É bacana, porque o pessoal deixa a camera ligada enquanto prepara as receitas, toma umas brejas, fala merda... é bem divertido, e um conceito bem diferente do Gato na Grelha, onde eu escrevo muito mais do que deveria pra escrever uma receita. Bom, fiz uma receita deles e será o próximo post no blog. Enquanto isso, visite o site dos caras e veja como faz: Salmão à moda caipira do Mesa pra 1.
[UPDATE]
Escrevi este post ontem, no final da tarde. À noite, o velho Jo entrevistou a dona Palmirinha. Se você está lendo este blog, provavelmente buscou alguma receita no google e acabou caindo aqui. E, se buscou uma receita no google, provavelmente achou o site da Dona Palmirinha.
Pra quem não sabe, a Dona Palmirinha é uma senhora que tem um programa de receitas na televisão. Porém, ao contrário de ooooutra senhora que tem um programa na televisão, eu adoro a Dona Palmirinha. Ela não tenta se mostrar jovial e gostosona, até dá umas furadas no programa dela por conta da idade. Isso é autêntico, isso é dar a cara pra bater, e se a velhinha dá a cara pra bater, a gente bate a gente paga um pau.
A questão é que essa senhorinha roubou a cena ontem. Desculpa ae, seu jo, mas a Dona Palmirinha foi sensacional. A entrevista parecia uma conversa com vovó. Eu me senti assim e você também vai sentir. Além da história de vida dela ser linda, que fez todo mundo ficar emocionado. Incluindo ela, que chorou no programa, e gente que tem a moral de chorar na tv SEM fingir, tem culhão. E, mesmo sendo uma senhorinha, Dona Palmirinha tem culhão que a gente sabe.
Quer receita de verdade, sem enrolação e com muito mais chances de acerto? Vai no site da Dona Palmirinha.


Bom, tamo dropado, fico por aqui. Pautas, dicas, idéias e reclamações, o meu e-mail tá lá no alto.

Mas olha... Fiquei pensando numa coisa. Bem que um Bubbaloo sabor picanha não seria uma má idéia hein!! #fikdik

Peito na cerveja

Putz, o nome dessa receita dá margem pra tanta piada de duplo sentido, que eu confesso que meu coraçãozinho fraqueja, a perna tremelica e o olhinho embaça, e tenho que admitir que eu não sei nem por onde começar.

Bom, dizem por aí que uma imagem vale por mil palavras, certo? Pois então, vamos começar ilustrando esse post com uma foto. Segura ae, na tela!

amamos muito tudo isso.

Por mim, eu terminava o post aqui mesmo. Peito na cerveja, olhe pra foto e fique feliz. Simples assim.

Tá, mas temos um objetivo aqui, que é falar de uma tal receita de peito na cerveja. Vamos tentar manter o foco, mesmo diante de assunto tão, digamos, sugestivo.

tem peito, tem cerveja. tou dentro.

Ainda não é disso que eu tenho que falar. Concentra, menino. É peito de vaca, aquela que faz muu, que come capim e quando peida fura a camada de ozônio. VACA, meu filho, entendeu?

peito de vaca e cerveja.

Pois é, o astuto leitor já deve ter notado que chegamos perto, mas ainda não é, exatamente assim, a nossa receita.

E é melhor parar com a brincadeira, porque isso aqui é um blog sério (ô!),  escrito por um blogueiro sério, a patroa do blogueiro lê o blog e ainda por cima é uma fera. Então, amigo, respira fundo aí e vamos tentar recobrar a concentração pra voltar ao motivo que nos trouxe aqui: a receita.
-tô de olho em você, cidadão

Bom, falando sério agora, o peito do boi é uma carne extremamente macia, ridiculamente barata, e se você tiver um pouquinho de paciência e cuidado com ela, vai conseguir mandar um churras responsa com bem pouco dinheiro. Ideal pra você que, assim como eu, não ganhou a mega-sena acumulada e anda com as contas de casa meio apertadas. Então pode ir parando de pensar nos atributos da menina da segunda foto, ou na vaca que dá cerveja e escuta as dicas de economia que o titio aqui trouxe pra você.

Dirija-se até o mercado mais próximo, e uma vez lá, encaminhe esse esqueleto surrado até o balcão das carnes. Ok, feito isso, procure pelo peito e ponha as mãos numa peça de 1kg. A carne, queridão. Esquece a loirinha do seu lado e se concentra. Não vai errar de peito e arrumar confusão dentro do supermercado.

O peito, o da vaca, se parece muito com o cupim, na sua composição. Isso porque tem uma carne muito macia, porém cheia de nervos passando pelo meio dela. E o que faz do peito uma carne ridiculamente barata é o fato da maioria das pessoas não terem paciência, ou até mesmo técnica pra detonar esses nervos e saborear uma carne maravilhosa. Aí, é lei da oferta e da demanda: ninguém quer comprar o peito, o preço cai. Todo mundo quer comprar picanha, o preço sobe. E se você quer saber como subverter a regra, compre um belo pedaço de peito, faça uma carne barata ficar mais gostosa que uma picanha e dê plantão na porta do mercado chamando de otário todo mundo que sair de lá com uma carne de $46,00/kg a tiracolo. Vem comigo!

Basicamente, as técnicas milenares usadas pra detonar os nervos que tem dentro da carne são, somente, temperatura e paciência. Pra temperatura, carvão. Pra paciência, cerveja. Partindo desse princípio, a gente sabe que isso aí foi feito pra nós, não?

O primeiro passo é embrulhar a carne no papel celofane. Antes que você comece a desencapar os cadernos das crianças, entenda que existe um celofane especial pra churrasco, que aguenta a temperatura, e serve para que você possa fazer, na churraca, carnes que precisam de temperatura e uma certa pressão.

Antes de fechar, espero que imagine que você precisa colocar sal lá dentro, ok? Senão a carne vai cozinhar (sim, com esse processo ela cozinha, e não, necessariamente, assa) sem sal e ficar sem gosto. Um pouquinho de alho picado também pode ajudar, põe sem medo.

Recapitulando: você cortou um pedaço grande de papel celofane e esticou na pia. Estou contando que você largou de ser mão de vaca e cortou um pedaço grande o suficiente pra dar umas 4 voltas na carne. Feito isso, deitou a carne em cima, jogou um pouco de sal e um pouquinho de alho picado. Aí começa a parte da enrolação, e isso eu sei que você faz bem. Vai lá, enrolão. Levanta essa bunda daí e enrola a carne no celofane.

A carne está, agora, devidamente embrulhada, mas as laterais ainda estão abertas e você me pergunta: Meldels, o que eu faço agora? E eu te respondo: se vira e fecha uma lateral. Só uma.

Pra fechar, eu costumo cortar uma tirinha de papel celofane da largura de 2 salsichas, enrolar e utilizar pra amarrar as laterais. Amarra forte, sem medo de ser feliz.

Agora você tem em mãos um embrulho de celofane, fechado de um lado e com uma carne dentro. Olha só, parece um copo! Legal, e se é copo, desce uma breja que a gente adora isso.

ABRA UMA CERVEJA. agora.

DÊ UM VIGOROSO GOLE.

ME DÁ UM MINUTO QUE A MINHA ACABOU, VOU NA COZINHA E JÁ VOLTO.

VOLTEI.

Pronto, agora que deu um gole, despeje com todo o cuidado e parcimônia que Deus lhe deu, outro gole dentro do celofane. Você vai notar que a cerveja borbulha toda com o sal e a carne. Parabéns, você já está começando o processo de detonar os nervos da carne.

Um adendo: essa receita fica especialmente gostosa se feita com cerveja preta. Tomando todo o cuidado pra não mandar lá pra dentro uma malzebier ou coisa do tipo. Essas cervejas são doces, não me vá fazer um serviço desses, hein. Quando fiz, utilizei uma caracu mesmo. Não vale comprar aquela schin ou a cerveja mais barata do mercado por um motivo muito simples: você manda só um gole pra dentro da carne, o resto você toma. E uma economia de 20 centavos na hora de comprar a cerveja pode significar uma série de caretas e trejeitos na hora de beber o resto, que podem te comprometer moralmente e te fazer motivo de chacota. E a gente não tá aqui pra ver homem chorar, então manda logo uma breja responsa aí.

Se você for rápido, vai conseguir fechar a outra lateral do celofane enquanto a cerveja ainda borbulha, o que vai fazer com que o embrulho fique cheio de gás dentro, parecendo uma bombinha. Bacana, tá pronta pra ir pro fogo.

Ah, seria legal você acender a churraca antes de preparar o embrulho. Por dois motivos:

1 - Quase sempre que se acende a churraca, ela levanta labareda por conta do combustível, que depois abaixa. Então, o celofane é especial pra churrasco, mas você não pode deixar, de jeito nenhum labareda encostar nele. É incêndio na hora, cerveja derramada e plástico derretido na carne. Perda total, papelão, vexame. Não faça isso.
2 - Você enrolou, amarrou direitinho e tal, mas o embrulho não tá vedado. O ideal é mexer nele o menos possível. Fechar a embalagem, meter na churraca e não mexer mais, pra evitar que a breja saia de lá. Então, deixe o fogo aceso, a churraca quente, esperando o embrulhinho da alegria chegar.

Bacana, deixa lá, no local mais quente possível longe das chamas. Você vai notar que a breja vai ferver, a embalagem vai inchar, vai fazer o capeta lá dentro. Esse é o objetivo.

Esqueça que a carne tá lá. Não fique mexendo, não vire, não fale com estranhos e vai buscar uma cerveja porque isso aqui vai demorar. Umas 3 horas, pra ser mais exato. Sem ansiedade, saiba esperar que vai valer a pena.

Passado esse tempo todo, pode abrir a embalagem. Recomendo que faça um furinho com uma faca, e posicione uma lata vazia logo abaixo. O caldo que cai dela é uma mistura de cerveja com gordura, uma verdadeira nojeira, e recomendo que não deixe aquilo cair na sua churraca.

Retirada a peça, basta deixá-la alguns minutos bem perto do fogo. Assim ela ganha uma corzinha, um cheirinho de fumaça e ainda dá aquela torradinha por fora que faz a alegria de qualquer um que já tenha metido os dentes num animal que já mugiu.

Basta cortar e comer, não tem segredo.

Pela proximidade com a costela, particularmente acho que o peito fica com um sabor muito parecido com da ponta de agulha. Mas isso é só uma opinião minha. Pra saber mesmo, vais ter que preparar uma, parceiro.

Rendimento: quase toda a carne que você comprou. O peito não perde muita gordura, não tem osso, nada disso. Aproveitamento máximo.
Tempo de preparo: 1 breja na cozinha, 10 na churraca. Sirva embriagado e feliz.
Custo: 13 mangos. mas estou contando que você tem o tal celofane, ok?


E essa foto aqui é só pra alegrar a sua vida.

epa, mas peraí! isso não é peito na cerveja, é cerveja no peito!

Receitas de panela: Homus, um prato tipicamente árabe

Já comeu homus? Sabe do que se trata? Então aproveita que na páscoa tem aquele lance de não poder comer carne e bota uma receita maneira no cardápio.

O homus é um rango árabe, feito com grão de bico e mais uma meia dúzia de temperos maneiros que, inacreditavelmente, funcionam bem juntos. O homus é comida típica do mundo islâmico, que é uma região muito complexa socialmente e bacana, mas infelizmente tudo o que chega de notícias pra gente é o imenso e interminável quebra-pau que aquele bando de doido promove lá naquelas bandas. Às vezes nem tão lá.

"aqui tem um bando de locoooo
loco por ti mohammed"

Isso, não abandona nunca.

E entre um camelo aqui e uma tempestade de areia ali, quando a labuta se finda e nosso destemido mohammed pode adentrar o seu lar, doce, lar, sempre encontra um ranguinho preparado carinhosamente pela sua dedicada e carinhosa patroa que, debaixo da burca, o aguarda ansiosamente e cheia de amor pra dar. E, acredite: o rango desses caras é muito, muito gostoso.

Morar no oriente médio é isso, é amor no coração, é dizer eu sou afegão e não desisto nunca, é pegar um lance sem graça como o grão de bico, meter na panela e deixar lá um tempão e depois comer frio, é fazer um rango de fazer a ana maria braga passar por debaixo do rio nilo. Com todo o respeito ao crocodilo, que não come plástico nem silicone.

O lance é o seguinte, o homus é uma pasta de grão de bico que se come fria, com o pão sírio. E hoje, vamos chafurdar nas catacumbas da babilônia atrás das delícias e sabores da culinária lá de longe.

Bom, se você conhece o grão de bico sabe que ele é uma espécie de semente (ou ele É a semente?) dura pra dedéu, e se tentares meter os dentes nele sem o devido preparo, não mais meterá dentes em nada nessa vida. Portanto, atenção aos detalhes pode fazer toda a diferença a favor da sua arcada dentária.

O primeiro passo é adquirir um pacote de 1/2 kg de grão de bico. Isso você consegue no mercado mais próximo, ou no mais longe da sua residência.

Feito isso, abra o pacote e despeje o grão de bico numa tigela. Cubra com água e deixe lá.

Abra uma cerveja. Avalie ponderada e auspiciosamente a condição do nosso pobre amigo mohammed, que morre de calor mas não é chegado numa breja. Que chega na copa e tem que torcer pelo brasil, enfim. Vida dura, essa.

Acabou a cerveja? Abra outra.

Proceda assim, tomando uma cerveja atrás da outra por, aproximadamente, uma hora. Futebolzinho na TV é extremamente providencial nessa hora.

Legal, tomaste uma bela quantidade de cerveja, o mundo encontra-se, nesse momento, melhor. Pelo menos eu fico assim quando tomo mais de uma cerveja. Na verdade, o mundo melhora a cada cerveja que eu tomo. Dia desses, tomei tantas que eu achei que tava no céu. E quase que eu fui mesmo pro céu, se é que é pra lá.

Agora, dê uma lavada no grão de bico. Isso, jogue fora aquela água toda, e passe os grãos debaixo da torneira.

Essa é uma receita demorada, mas não difícil. A parte mais chata é essa que vem agora. Você vai notar que algumas casquinhas começam a se soltar dos grãos. Sim, esse grão tem uma casquinha, e quanto mais você conseguir retirá-las, melhor. Depois você vai moer tudo no liquidificador, então dane-se as cascas, pensa o mais preguiçoso dos leitores. Mas como sei que você é preguiçoso, mas não é o mais preguiçoso, e sim uma pessoa pró-ativa, bacana e trabalhadora, então seja brasileiro e não desista nunca: vá tirando, com as mãos, as cascas dos grãos, até onde a sua paciência permitir. Entenda que o homus vai ficar mais suave à medida que você vai tirando as cascas.

Uma vez cumprido o trabalho de hércules, mete todo mundo numa panela de pressão, com água o suficiente pra cobrir 2x os grãos.

Vixe, olha que difícil: abra outra cerveja. Mais outra, e depois mais outra. Até o relógio completar uma volta inteira de ponteiro grande. Não fique olhando pro relógio, olhe pra cerveja. Quando ela acabar, olhe pra outra. Cerveja é assim mesmo, elas não tem ciúmes.

A essa hora, você já deve estar pra lá de Bagdá, e vai por mim: esse é mesmo o local. E, estando em bagdá, o grão de bico já deve estar bombando na panela de pressão. Desligue, deixe sair a pressão e abra a panela. O que tem lá dentro? Grão de bico amolecido e uma água com cara de água de poça. Mas vai por mim, não jogue essa água fora, você vai precisar dela.

Prepare o liquidificador. O segredo, agora, é bater em várias levas. Ou seja, como é uma pasta consistente, você não pode ser apressadinho e jogar tudo no liquidificador. Assim você vai acabar travando o referido eletrodoméstico, o que só vai trazer alegria pro gerente das casas bahia.

Pense que você vai bater em 4 levas. Isso ajuda muito, porque você pode ir sentindo o tempero e corrigindo o gosto.

Jogue no LD (nome difícil do cão, vou chamar o liquidifoaakjdajk de LD) o primeiro 1/4 de grão de bico, junto com um quarto da água de poça que ficou na panela.

Nessa primeira leva, eu costumo carregar nos temperos, e ir só corrigindo nas outras. Isto posto, esprema (não digite errado, senão vira esperma e pelamordedeus, sua comida vira um lixo) um limão inteiro, jogue 3 dentes de alho, uma golada sarada de azeite, um bom punhado de sal e uma golada de um tempero chamado Tahine. Ligue o LD.

Se o seu LD é vagabundo como o meu, vai acontecer o seguinte: as lâminas vão moer o grão de bico que tá embaixo, vai começar a rodar sozinha e o resto do grão de bico não desce. Se tu meteres uma colher lá dentro, corre o risco de gerar um acidente compatível com a imbecilidade de meter uma colher dentro de um liquidificador em movimento. A dica do século é ficar chacoalhando o LD enquanto ele bate. Vai por mim, parece loucura, mas evita que se forme uma camada de ar entre o grão batido e o grão inteiro. Demorei alguns anos pra descobrir essa maravilha da força centrífuga.

Beleza, uma vez batida a primeira leva, deposite ela numa poupança da caixa num pote grande e meta uma dedada. Esse é o segredo, vai dando umas dedadas pra sentir o tempero. Recomendo seriamente desligar o LD antes de meter o dedo, ok?

Sinta, com esse paladar de ogro  que deus lhe deu, se está bom de sal, de limão, de alho e de tahine. O ideal é que o homus não seja forte demais em nenhum dos temperos. Equilíbrio é o nome que você tem que lembrar.

Na segunda leva o procedimento é igual, mas acho que você entendeu que só deve ir calibrando os temperos, e não acrescentando tudo de novo. O mesmo com a terceira e com a quarta leva. Tudo isso torcendo pro seu liquidufadssdfsdfsdsd não queimar.

O rango tá quase pronto.

Você pode esperar esfriar e servir. Na hora de comer, tenha na mesa um vidro de azeite. Azeite bom, parceiro. Gasta uns reais aí e compra um azeite decente, senão você deixa um prato maneiro com gosto da pizza da padaria. Tenha também um belo punhado de salsinha e cebolinha picadas. Tem gente que gosta de cebola picada pequeninha pra acompanhar, mas... olha os gases aí, amigo.

No prato, as pessoas devem adicionar azeite e salsinha, misturar e comer com o pão sírio.

Desta vez, me animei a fazer algumas fotos, acho que, diante do meu histórico de péssimo fotógrafo, até que tá enganando, não?

Comandante Amílton, põe na tela:

no prato, o homus, azeite e salsinha. 

salsinha, manda um OE aí pra rapaziada

mas não pense que você vai comer um prato todo decoradinho e boioladinho assim.
Mistura tudo e chafurda o pão sírio antes de comer.

Rendimento: Rende pacas. Vai por mim, desperdício zero. Pode chamar uns 5 monstros pra compartilhar.
Tempo de preparo: um monte, umas 10 brejas. sirva bêbado e feliz.

CustoR$5,00 o grão de bico, mais salsinha, alho, uns goles de azeite, limão. Fica barato, você não gasta nem 12 mangos.

UPDATE:

Fiz um update neste post graças ao questionamento feito pelo leitor Raphael, o nosso querido Personal Grill lá de BH. A brincadeira é a seguinte: a partir de agora, toda vez que eu falar de preço de qualquer coisa, abrirei um carrinho de compras num famoso supermercado online da cidade, pra que possamos ter a noção exata do custo de cada receita.

O legal disso é que eu trabalho com e-commerce e sei o quanto de trabalho dá abrir um carrinho de compras e não comprá-lo. Chora, Abílio Diniz!! kkkk.

Note que: 
  1. Compramos 100g de alho, mas só vamos usar dois ou três dentes;
  2. O mesmo ocorre com a salsinha;
  3. Só vamos usar um limão;
  4. Só vamos usar um golinho de tahine;
  5. Vai sobrar mais de meia lata de azeite.
Ou seja: esta conta dá 26 mangos, mas você ainda utilizará quase todos os ingredientes. Se tiver um mínimo de bom senso, vai entender que eu acertei a conta em botar o custo da receita numa média de R$12,00.

Agora a equipe do site já pode fechar o meu carrinho e devolver os produtos ao estoque, porque eu não vou fazer isso não. hehehe

Fraldinha na mostarda

Mais rápido que um avião, mais lépido do que um coelho e chegando anos-luz à frente do alemão (chupa rubinho), eis que rapidamente pinta na sua tela o post-relâmpago. Este aqui, no caso.

Funciona assim:

1- Você dá um jeito de se encher de trabalho e fica sem tempo pra nada. Se você não conseguir, ligaê que eu te passo uma atividade.
2 - Aí, sem tempo pra nada, você não consegue atualizar o blog, porque adquiriu a irritante e sorrateira mania de enrolar e escrever parágrafos e mais parágrafos pra explicar receitas que poderiam ser escritas em 4 ou 5 linhas.
3 - Mas aí a clientela reclama tal e qual fez o Adriano Martins via twitter, e antes que o procon venha com a mão pesada da justiça no seu encalço e cole cartazes com a sua cara pelos postes, é bom achar um tempinho no meio da labuta pra escrever aqui a receita que já havia - falsamente - anunciado: a fraldinha na mostarda.

Isso significa, caros leitores, que isso aqui está sendo escrito na sangria desatada, no meio da pirambeira, pulando num pé só, assobiando e sem essa de chupar cana que o sistema aqui é bruto. Em outras palavras, vai como ficar que eu não vou rever nem erro de digitação. Se alguém quiser fazer isso por mim, a senha do blog é mienganamalandro1987. Bora lá que eu to descendo na banguela.

- Binô isso aqui tá me cheirando a cilada.

A fraldinha todo mundo já conhece, né? É uma carninha maneira que tem dentro do boi, e a gente curte muito esse negócio por aqui. Eu curto. Tu curte? Então fechou! Bora pra próxima.

Bom, trabalhar em casa tem um bilhão de desvantagens, mas se tem uma vantagem é a de você poder almoçar comida de casa. Aí tu vai lá e bota na conta: um bilhão de desvantagens contra UMA vantagem, é bom você fazer uma comida decente nessa sua cozinha. E foi assim que eu fiz a fraldinha na mostarda.

Bom, tenha em mãos uma peça de fraldinha que, salvo uma grande sacanagem do seu açougueiro, tem lá 1 quilinho. Um bom peso, dá um rango agradável. E o seu objetivo com essa fralda é conquistar a oceania e a américa do sul, e mais 234 territórios à sua escolha fazer um molho bacana com  mostarda, chafurdar na fraldinha e mandar pro fogo.

O molho é bem simples. Num pote que caberia o molho e mais a fralda (claro, depois de pronto, você joga a fralda lá dentro pra mexer), jogue uma boa tacada de mostarda (preta, de preferência). Uma boa tacada é aquela em que você abre a tampinha do tubo de mostarda, vira de cabeça pra baixo e aperta com prazer. Uma boa tacada é coisa de malaco. Uma boa tacada é coisa do tiger woods. Tiger woods é um cara malaco, embora tenha dado umas tacadas pra fora ultimamente. Dane-se o tiger woods, voltemos à fraldinha.

Bom, agora você dá uma boa golada de azeite pra misturar com a mostarda. Não assim, no sentido de abrir o azeite e meter a boca. Mas no sentido de abrir o azeite e virar um belo gole dentro do pote. Bem assim.

Hora do alho. Assim disse o relógio. Diante dos fatos, picote uns 3 dentes de alho e sapeque no meio do molho. Agora temos mostarda, azeite e alho num pote. show.

Põe sal. maneira no sal, olha essa pressão.

Aqui em casa pode-se dizer que nós praticamos o reflorestamento. Sim, temos vários temperos plantados, e quando acaba, replantamos tudo. Muito melhor do que aquela indústria que torra todos os recursos naturais do planeta pra fazer um pegador de bolo, depois planta 3 pés de palmito e faz propaganda no fantástico.

Isso tudo era pra dizer que você pode dar um pulinho na horta mais próxima e voltar com algumas folhas de manjericão pra jogar no seu molho. Se não há uma horta na sua casa, nem pense em pular a cerca pra conferir como a grama do vizinho é mais verde. Isso sempre termina mal, abra a gaveta dos temperos que você VAI encontrar manjericão desidratado. Se não achar o manjericão, use um pouco de orégano que funciona.

Bom, já que a gaveta tá aberta, encontre a pimenta do reino e jogue um pouco no tal molho.

Picote meio maço de salsinha e manda brasa lá pra dentro.

Agora é só misturar e jogar a carne dentro. Deixe a fralda lá uns minutinhos, ajuda a ir pegando o gosto.

Essa fralda pode ir pra churraca, ou até pro forno. Como eu fiz de almoço, não ia dar tempo de ligar a churraca e preparar tudo, então fiz no forno mesmo. Além disso, eu não consigo ficar perto da churrasqueira sem tomar cerveja, e se eu tomar uma birita na hora do almoço, acaba-se a tarde de trabalho, o que anda fora de cogitação.

Pra finalizar, você deve embrulhar a fraldeta no papel alumínio e jogar pra junto dela todo o caldo do tempero. Fecha direitinho, pra evitar que os líquidos evaporem. Assim ela fica mais macia ainda.

Fralda embrulhada (putz, isso me lembrou a tenra infância dos meus filhos e tirou o meu apetite), fogo aceso e aquela alegria na alma, chega a hora de botar a natureza pra fazer a parte dela: meta a fralda na churraca (ou no forno, você entendeu) tomando o cuidado de não deixar as labaredas queimarem a sua bunda (a da fralda, nem a sua e nem a minha, ok?) e nem ficar longe do calor.

Quando eu fiz aqui, deixei a fralda por uma hora no forno. Mas acho que poderia ter ficado mais. Se você fechou direitinho, pode deixar umas duas horas lá que ela não seca.

Depois de passado esse tempo, você já bebeu toda a cerveja que tinha na sua frente, e encontra-se bêbado e com fome, acertei? Não? Acertei sim, eu conheço os leitores pé de cana desse blog.

- pé de pano, meu nome é pé de pano.
- mas não era pé de cana?

Hora de abrir a fralda pra ver o que tem dentro. Se tem filhos pequenos, sabe o terror que essa frase pode significar. Mas pode confiar, o que você vai encontrar é bastante diferente, vai por mim.

A fralda deve estar bem cozida, cheirosa e macia. Mas branquela. Pra ela pegar uma corzinha, uma torradinha nas bordas e um cheirinho de fumaça, deita ela na grelha perto do fogo, vira todo o liquido do papel alumínio nela e deixa uns 10 minutos, vira e deixa mais 10 minutos.

Passado este tempo, corta e come. Simples assim.

O preço é preço de fralda: você compra um pedaço bacana com uns 12 reais.
Rende um kilo de carne, uai.

Post escrito no peito e na raça, ou na falta dela. Desculpem possíveis - e prováveis - erros de digitação.

Pronto, Adriano. Posso voltar pro trabalho agora? O cliente já mandou mais 5 e-mails só no tempo de escrever este post :-)

Perguntas na grelha: Tirando Abel Teixeira da masmorra

Inaugurando tardiamente a série "Perguntas na Grelha", venho encarecidamente solicitar que juntemos nossas forças pra salvar do limbo o nosso colega churrasqueiro Abel Teixeira, que lá de Teresina, no Piauí, clama por socorro. Limbo esse em que se meteu, e por infortúnio, o ajudei a chafurdar, e agora preciso mover os meus pauzinhos para tirá-lo dessa encrenca.

Há mais de uma semana atrás... ... ... Volta tudo.

Há BEM MAIS de uma semana atrás, recebi o chamado do amigo Abel, e após uma rápida troca de e-mails, prometi a pronta apresentação para a solução dos problemas dele. O que, como já tradicionalmente tenho feito neste blog, faço agora, com um atraso considerável. Isso porque o final de semana chegou, Abel continuava com dúvidas, eu não o ajudei, e, mais uma vez, ele fracassou, sucumbiu ao túmulo dos perdedores e tomou vaia da família. E eu, com meu timing britânico, com precisão cirúrgica e fazendo a volta mais rápida, chego numa segunda feira pra evitar que ele se lasque no churrasco do final de semana que vem.

corre, filhinho... porque coelho bom é coelho morto.

Ciente da condição daquele que tarda, mas não falha, segue abaixo um resumo dos problemas de Abel:
Me propus a ser responsável pelo churrasquinho do final de semana, comprei uma churrasqueira elétrica, uma faca, a tábua, o amolador, o sal grosso, etc... Mas já está com dois finais de semana q fracasso. rsrsrsrs 

No primeiro realmente foi muita fumaça, foi quando resolvi recorrer à internet e encontrei teu blog. Mas acho q é por q deixei a água acabar na churrasqueira, deve ser por isso, eu acho. Tenho dúvida se coloco muita água ou pouca, mas acho q estou encontrando um ponto médio. 
Tentei um peixe - pargo - e a pele dele soltou toda, e ficou caindo pedaços, ficou gostoso, mais ficou um prato muito feio. 
No último final de semana tentei a costela de porco, como é da fazenda, não foi de supermercado cortei a carne um pouco grossa, e demorou pra caramba pra assar... O almoço saiu por volta das 14:30, gente já com cara de bicho. 
É por aí, na verdade preciso de umas dicas, umas sugestões pra limpar a minha barra...(gosto de peixe aos sábados e domingo topo o q vier, inclusive as cervas. rsrsrsrs).

Consideremos as situações. Vejo aí 3 problemas distintos.

O primeiro tá fácil de resolver. A churraca elétrica precisa ficar com água na bandeja o tempo todo. O suficiente pra cobrir o fundo dela, mas não pode deixar a água pegar na resistência. Uma dica é deixar uma caneca com água perto de você, assim pode ir completando de pouco em pouco. Honestamente, se deixou a água secar, fico feliz que você nos mandou este e-mail: é um sinal de que você não pegou fogo, pois é deveras perigoso deixar esta churraca seca assim.

Outro ponto é o da costela. A churraca elétrica demora um pouco mesmo, não tem jeito. E carne de porco mal passada, nem pensar. A solução, nesse caso, é pensar o churrasco como um todo, não apenas uma única carne. Costumo fazer assim: Uma carne é a principal, no seu caso, a costela. Tenha outras pequenas peças de carne, ou linguiça, ou queijo-coalho. Coisas que saem rápido e dão aquela forrada no estômago enquanto o principal assa. So tenha o cuidado de não empanturrar seus convidados, e na hora que a costela sair, todos os convidados estarem arrotando linguiça. Aí, compana... Segura o choro e come a costela sozinho.

O terceiro ponto é o do peixe-farofa que você usou e desmontou inteiro. Não conheço, exatamente, o pargo, o que me faz pedir novamente a ajuda dos leitores, universitários ou não. Mas a dica aqui serve pra qualquer peixe. Recomendo que você embrulhe o peixoto em papel alumínio, com os temperinhos dentro dele. Só tire dali quando estiver pronto mesmo. Então abra o papel alumínio e tire o peixe com todo o cuidado e atenção do mundo. Como se estivesse movendo a bunda da juliana paes de uma cadeira pra outra: põe a maozinha embaixo e vai com calma, muita calma nessa hora. Com a diferença que o peixe você come, e a juliana paes, não.

Ah, e não se esqueça de que a sua churrasqueira está ligada na tomada. Todo o cuidado é pouco quando se utiliza papel alumínio numa churraca eletrificada. Bote um chinelo nesse pé e evite a combustão espontânea desse seu esqueleto surrado embebido em álcool.

Um peixe bacana pra churrasqueira elétrica é um que tem um nome infame, mas funciona bem: o carapau. É um peixe relativamente pequeno e consistente, é bem gostoso e fica pronto rapidinho.

Boa sorte nos próximos churras, companheiro. Se eu passar por Teresina um dia, me convido pra um churrasco na sua casa, já sei que tem costela direto da fazenda :-)

Tá com dúvida? O bicho pegou pro seu lado? Tomou vaia, magoou, tá com medo do escuro? Manda um e-mail pra danielwalterrodrigues@gmail.com contando seus problemas. Com uma frequencia irresponsável e o timing apurado de sempre, publicaremos as dúvidas dos leitores aqui no blog.

Perguntas na grelha

Eu sempre achei que os leitores dessa espelunca eram gente batuta. Pessoal bacana mesmo, gente fina, da maior qualidade. Primeiro, porque gastam o seu tempo lendo receitas de duvidosa credibilidade. Segundo, porque eu logo percebi que não necessariamente aquele que escreve, entende mais do assunto escrito do que aqueles que o lêem. E, rápido como uma lata de cerveja num dia de calor, pude perceber que este blog se transformou num grande e profundo poço do mais puro creme do milho, digo, do mais puro e concreto conhecimento churrasquístico.

Entre outras palavras, a participação dos nobres leitores através do box de comentários é a coisa mais legal que tem neste blog. Aprendi várias receitas, dicas, trocamos idéias.. Tudo isso é muito bacana, e só prova uma coisa: quem entende de churrasco aqui, não é o escriba. Somos todos nós.

Não raro, escrevo alguma coisa aqui no blog, e algum leitor me alerta que errei, ou apresenta alguma solução melhor, etc. Tá tudo escrito aqui no blog, leia os comentários, porque eles valem mais do que os posts.

- Vale UM MILHÃO DE REAIS, Lombardi!

Bom, em resumo, meu e-mail tá aí, e todos tem a liberdade de me contactarem. E o fazem. Vocês não imaginam como é reconfortante receber, no meio de um dia duro de trabalho, algum churrasqueiro vindo de algum ponto desse Brasil varonil querendo falar sobre churrasco. Sério, faz o meu dia melhor. E eu não me poupo em responder, por um único motivo: é legal.

Os e-mails que eu troco com os amigos churrasqueiros daqui dão, por si só, posts completos.

E a partir de agora, pretendo trazer alguns destes e-mails à tona. A questão é bem simples: Sempre há, em algum canto deste país, um churrasqueiro em apuros, metido numa enrascada, segurando o choro. E, desde que não esteja mordendo a fronha, é um amigo precisando de ajuda, e devemos ajudá-lo. Sim, nós. A partir de agora, quero convocar os leitores para, juntos, salvarmos nossos colegas churrasqueiros das maiores e mais arrepiantes encrencas.

O próximo post já trará a primeira dúvida, de algum churrasqueiro metido numa cilada, precisando da nossa ajuda.

E se o bicho pegou pro seu lado, a coisa tá preta, mexeram no seu queijo ou o rei está nu, pode contar com a gente. Mande a sua dúvida para danielwalterrodrigues@gmail.com que eu publico aqui e tento ajudar, contando com a enciclopédia itinerante movida a carvão dos leitores deste blog.

Bem-vindos à Perguntas na Grelha.

Receitas de panela: Salmão com batatas

Rapaziada, vou contar uma coisa... esse carnaval foi punk. Ou eu estou ficando velho. Ou as duas coisas: um carnaval punk demais pra um velho como eu.

Resumindo, minha preguiça de pegar trânsito me impediu de viajar neste carnaval, então reunimos os amigos que compartilharam desta preguiça, e uma vez reunidos, chafurdamos na cerveja para não mais sair de dentro dela. Posso dizer que passei o meu carnaval, literalmente submerso no universo cerveja / churrasco.

Tanto que, na quarta-feira de cinzas, eu era apenas um corpo sem alma perambulando pelos cantos, pedindo aos seres das catacumbas que clamassem pela sua vida oferendo a esta alma pútrida uma travessa de salada. Opa, SALADA?????? Ma che??

Tenho que admitir que eu perdi a batalha da quarta-feira de cinzas. Como antes nunca perdera. Acordei, tomei um copo de água, outro, mais outro e mais outro, e não consegui chegar perto da geladeira de cerveja, e muito menos da churrasqueira.

Claro que eu não poderia me entregar à saladinha, mas precisava me alimentar, e carne não ia dar pra comer de novo, não. Precisava de alguma coisa consistente, saudável, gostosa... Mas, que alimento poderia preencher tais requisitos?

Aqui: consistente, saudável, gostosa...

Tá. Levei um ralo da patroa. Fora a Luma, o que poderia ser?

Neste momento, me lembrei do urso marrom. O urso marrom é um cara batuta, malaco lá das ilhas Kodiak (e viva a wikipedia). O bicho passa o dia inteiro com a cara chafurdada no rio à espera do salmão que, mesmo sabendo que o urso vai estar lá, nada rio acima na maior pirambeira, tudo pra sapecar a sardinha na salmoa, encher a água de pequenos filhotes de salmão, e depois morrer. Ou, no caso do encontro com o urso, morrer sem sapecar a sardinha na salmoa. Vida dura, essa de salmão.

Enfim, lembrei do nosso amigo urso, e pensei em chafurdar a cara no rio também. Mas, como moro em São Paulo e os rios por aqui costumam não ser muito bacanas pra se chafurdar a cara, corri até o compre-bem mais próximo da minha casa e voltei com um salmão inteiro e umas batatas.

Adoro comprar peixe inteiro. Só pra assustar o meu filho de 4 anos. Só que dessa vez ele foi esperto, não se assustou, pegou o peixe da minha mão e saiu correndo atrás do cachorro gritando "Buuuu... o peixe vai te pegar!!". Enfim, melhor parar com essa brincadeira, porque deu o maior trabalho recuperar o salmão e a piada não assusta mais ninguém.

Bom, vamos à receita, que dessa vez eu já tou enrolando demais.

O lance é o seguinte, essa receita tá na categoria "Receitas de panela", mas ela não é feita, exatamente, na panela. É feita no forno. Espero que o compreensivo leitor entenda a questão.

O primeiro passo é cuidar das batatas, que depois vão fazer companhia ao salmão dentro do forno. Pra que ela fique bastante macia e gostosa, você deve cozinhá-las. Simples como tirar o peixe de uma criança: Descasque umas 4 batatas, corte cada uma delas em 4 pedaços e bote numa panela com água, e uma quantidade comedida de sal. Enquanto ferve, vamos dar uma atenção ao salmão.

Comprei o peixe inteiro, mas como não sou sushi-man, e não tenho a menor técnica para cortá-lo, peguei uma faca afiada e picotei, de maneira que eu fiquei com 4 grandes pedaços de salmão. Se você for ao mercado e encontrar aquela bandeja com um tecão de salmão, é aquilo. Compre somente a bandeja, ou compre o peixe todo e desmonte ele da maneira que bem entender. Não tire fora a pele do peixe, você vai agradecer pela presença dela mais tarde.

Mexer em peixe cru é meio nojento mesmo, então lave as mãos e abra uma cerveja. Isso vai te fazer bem.

Numa bandeja (ou pirex) grande, jogue uma camadinha de azeite, de maneira que o fundo da bandeja fique coberto com uma fina camada de azeite. Sem ensopar a parada, companheiro. Você está fazendo um prato fino, e não uma sopa oleosa.

Com a pele pra baixo, deposite os pedaços de salmão na bandeja.

O tempero é bem fácil, também. Roube do jardim da sua mãe (ou esposa, ou irmã, ou vizinha) algumas folhas de alecrim. Umas 15 folhinhas já dão um bom agrado. Taque todas num potinho e adicione uma boa golada de azeite. Mais ou menos meia xícara.

Agora jogue lá um pouco de pimenta do reino preta, e sal. Imagine que você vai depositar aquele molho sobre os pedaços de peixe. Então faça as contas para o sal e não deixe o seu salmão ficar parecendo um bacalhau.

Tenho em casa uma pimenta que se chama Pimenta Bode. O nome é terrível e parece uma insanidade jogar algo de bode dentro de uma receita de salmão, mas vai por mim: A pimenta bode não tem nada a ver com o barbicha, e você não vai ficar com uma buchada de salmão no forno. Mas jogue no molho uma bolinha da pimenta, e não picote ela, nem amasse, nada disso. Apenas deixe a pimenta lá que ela faz o trabalho dela.

Voltemos às batatas, que a esta hora, devem estar macias dentro da panela. Espete com um garfo pra conferir. Se estiver macia, desligue o fogo e jogue a água fora. Coloque as batatas na bandeja, viradas pra baixo, de maneira que elas fiquem com a maior superfície possível em contato com o fundo da bandeja.

Agora só falta depositar o molho sobre o peixe. Faça isso. Mas não deixe a pimenta ir junto, você pode jogá-la fora antes. Pimenta é assim mesmo, a gente usa e joga fora mesmo. Sem canalhice, sem remorso, sem coração.

Não precisa espalhar o molho sobre as batatas, apenas sobre o peixe. Quando você colocar no forno, o azeite vai ferver, o tempero vai penetrar no peixe, que vai perder líquidos pra bandeja, que serão absorvidos pela batata. Entendeu?  Sobre as batatas, pode passar uma camada fina de azeite, só pra ter a certeza de que elas ficarão crocantes por fora e macias por dentro (chupa essa manga, mcdonalds!).

Cubra tudo com um papel alumínio e deixe no forno médio por, mais ou menos, umas 4 cervejas. Abra o forno e dê uma olhada no peixe. A carne dele deve estar meio branquela, é um sinal de que ele está ficando assado. Hora de abrir o papel alumínio e deixá-los (os peixes e as batatas) queimarem um pouco por cima. Tome mais umas 3 brejas e retire do forno.

Na hora de servir é fácil, você tira as batatas e põe no prato, tira o peixe e põe no prato. A diferença estará na pele do peixe, que ficou colada na bandeja e vai dar o maior trabalho pra mãe lavar depois. Mas em compensação, o salmão desgruda facinho da pele, e vai inteirinho pro seu prato, sem trabalho e sem desperdício.
UPDATE: A leitora Viviany me alertou, de forma delicadamente ríspida, que eu deveria forrar a bandeja com papel alumínio, assim não deixaria aquela pele de peixe grudada que poderia deixar a sua mãe com muque. Então, faça como ela: forre embaixo da pele do peixe com papel alumínio. Valeu Vivi!
Receita boa pra fazer amigos e influenciar pessoas. Se eu não fosse casado, daria outras dicas a respeito da boa utilização desta iguaria, mas como a patroa lê este blog, prefiro deixar a dica no ar. Pesca quem é bom. Ou quem é urso :-)

Em tempo: Depois de alguma pressão pública, minha prima devolveu a minha máquina, e eu bem que tentei montar um prato bacana pra fotografar. Mas a fome tava grande eu não tenho o menor talento pra decorador de prato. De qualquer maneira, veja com seus próprios olhos.



Rendimento: 1,5kg de salmão deu pra encher 2 buchos, duas vezes e ainda sobrou. Ou seja: rende pacas.
Custo: Acredite, um salmão congelado de 1,5kg custou R$13,90 no compre bem. E nem foi preciso chafurdar a carona na água gelada.
Tempo de preparo: 1 breja na preparação, 6 ou 7 brejas na espera do forno. Sirva feliz.

Receitas de CANA: Como preparar uma caipirinha

Mais uma vez, encontro-me exatamente tal e qual a sexta-feira pré-carnaval de 2009: sentado na cadeira do trabalho, dando a parecer que estaria trabalhando, mas contando malemolemente os últimos 106 minutos que ainda restam até que o verdadeiro grito de carnaval saia da minha alma e adentre a geladeira de cerveja mais próxima.

Geladeira esta que, por infortúnio, encontra-se sem cerveja. Paciência, mas eu encho ela logo, logo...

Dizia eu, que no ano passado, na malemolência pré-carnaval, nada conseguia escrever, e dei uma enrolada básica com algumas dicas pra churrasco de galera, o que mais ocorre no carnaval. Lê lá. Enfim, este ano, pretendo fazer a mesma coisa, já que conto os minutos pra ouvir o barulhinho da primeira cerveja. Barulho este que deve se tornar a verdadeira trilha sonora do meu carnaval.

Aliás, a grande dica deste carnaval é exatamente esta, sobre o álcool e seus excessos, atividades estas às quais devemos nos empenhar e aprofundar com propriedade durante os próximos dias. Vamos falar da cana mais preparada, querida e consumida destes quentes dias de fevereiro: A Caipirinha.

O Jo Soares tem uma teoria sobre o aparecimento da caipirinha muito interessante. Mas, como tudo o que ele faz, foi tão repetida (por ele mesmo) que perdeu a graça. A melhor representação da sua própria piada foi feita no filme "O Xangô de Baker Street", filme bem bacana do gordo. Na tela:
Droga, eu não queria escrever tanto assim, mas não tem no youtube, nem na internet inteira. Malditos direitos autorais. O lance é o seguinte: o sherlock holmes entra com o watson num boteco, e pede uma cachaça. Como tá calor, pede um limão, açucar e gelo pra refrescar. Aí o tiozinho do boteco olha pros dois e comenta com o amigo: "Qual dos dois caipiras inventou essa batida? Foi o caipirão?". O outro responde: "Não, foi o caipirinha", se referindo à baixa estatura do watson. Assim, piada boinha, mas se repetir muito, estraga. Foi o que o Jo fez. Estragou a própria piada.
Continuemos.

Existem dez milhões de receitas de caipirinha, todas elas envolvendo limão, açúcar, gelo e cana. Mas sempre se inventa uma boiolage pra se poder dizer: "A minha caipirinha é a mais foda do mundo". E sempre é, porque a caipirinha é um goró muito bom e fica boa de qualquer jeito. Vou, portanto, lhes contar como faço a minha própria dose de alegria.

Pra um copo razoável, daquele que cabe uma lata de cerveja inteira, use um limão e meio. Pense que o fato de deixar meio limão inutilizado servirá como estímulo para que prepare outra caipirinha posteriormente. Vai por mim.

Corte o limão na metade. Sem descascar nem nada. No máximo, lave o limão. Mas só quando houver alguma mulher por perto, elas detestam quando a gente não lava os vegetais. Ok, corte cada metade do limão novamente na metade. Pensando comigo, você tem 4 pedaços de limão. Bacana, não perca a concentração, corte cada pedaço na metade. Juntando com a outra metade de limão, você deve ter 12 pedacinhos de limão no seu copo. Foda-se a matemática, vai cortando e mete tudo no copo, porque essa batida é feita pra ajudar a gente a PERDER as contas.

Sugiro que não descasque o limão, por dois motivos: o primeiro, é a considerável economia de tempo e recursos que seriam dispensados descascando. E o outro, o mais legal: Pegue um pedaço de casca de limão, e esprema, como se fosse uma espinha. CUIDADO COM O OLHO. Caso contrário, não poderá mais ler este blog, nem ler mais nada. E eu perderei um leitor, coisa que muito me dói na alma e no coração. Bom, espremendo a casca, você notará que ela espirra um líquido, muito cheiroso e meio amargo. É ele que faz uma caipirinha batuta.

O segundo passo é jogar açúcar. Ponha açúcar de monte. Muito, até cobrir todo o limão. Vai por mim, não fica doce demais por conta do suquinho amargo da casca.

Antes de encher de cachaça, pegue o socador e amasse. Faça uma maçaroca daquilo lá. O atrito do açúcar com a casca do limão faz o mesmo efeito que a sua espremida. Com a diferença que o suco amargo e cheiroso se mistura com o caldo do limão e com o açúcar (pelo teclado brasileiro, dá um puta trabalho escrever açúcar, já percebeu? Tou quase escrevendo assucar).

Tá bem amassado, a parada toda virou um caldo? Então encha de cachaça. Ou vodka, embora eu prefira a caipirinha de pinga. Sem a viadage de tirar os pedaços de limão de dentro do copo. Deixa todo mundo lá. A vantagem é que você pode ir completando só com pinga e misturando depois. Pensa pelo lado prático, companheiro.

Agora mexe bem, muito bem. Sem aquela frescurada de meter um copo em cima do outro e bla bla bla. Isso é coisa de barman, e a gente aqui faz goró, e não drinkezinho. Mete uma colher lá dentro, mexe, dá uma lambida na colher e manda pra pia (a colher, não a caipirinha). Lambeu, tá gostoso?

Só jogar ali umas pedras de gelo e correr pro abraço.

PS1: De novo, este post não tem fotos porque a minha prima não devolveu a minha máquina. Vanessa, terceira semana e nada???

PS2: Estou escrevendo num novo blog, sobre futebol. Com o mesmo carinho e preocupação com a moral e os bons costumes que este aqui. É um blog coletivo, então existem outros autores. Meus mal-escritos caracteres estão sempre assinados como "Parmera". Pra quem se interessar, visite o Foot Loser.

Bom carnaval, crianças! Vão pela sombra, bebam toda a cerveja que conseguirem carregar e lembrem-se daquele ditado sobre o cu de bêbado.

Faça sua própria linguiça: A Cuiabana

Começo hoje com uma série que me mete logo de cara em contradição. Isso porque eu havia dito que jamais ia moer carne e encher a tripa, ou seja, no post da linguiça de picanha eu disse que jamais faria minha própria linguiça. Mas eu menti, caros leitores. Menti, e aqui assumo a porção pinóquio deste que vos escreve. Quer saber? Dane-se que eu menti. E se quiser, minto de novo.

- Mentiroso, safado, vagandundo!

O que importa é que a partir de agora, você vai conhecer a fundo a linguiça deste que vos escreve e... pára tudo, que conversa mole é essa?

cabou o post.
...
...
...
cabou, não.

Entremos num acordo: a linguiça não é de ninguém. Diabo de mente suja.

Voltando ao assunto, esta já é a segunda vez que eu preparo linguiça. Mas não quis escrever até então, porque eu errei feio na primeira, e não acho justo escrever quando eu erro feio. Mas pode confiar na receita, que desta vez ficou de fazer a ana maria passar por baixo da mesa, das cadeiras, do tapete, por baixo da porta, por baixo de um tanque de ácido furado, por baixo de uma avalanche de neve, por baixo da tampa da privada.. melhor parar por aqui.

Se você não sabe o que é a linguiça cuiabana, faço um pequeno resumo tipo flash-back aqui e agora:
A Cuiabana, ao contrário do que diz o nome, é um tipo de linguiça tradicional no interior de São Paulo, e não, necessariamente, em Cuiabá. É feita de carne bovina, ervas, leite e queijo, e deve ser consumida fresca (ui!). Já escrevi sobre ela, quando um bom amigo trouxe da região de São José do Rio Preto. Lê aqui que eu espero, vai lá.
Bom, como essa linguiça é tradicional no interior, mas não é aqui na capital, me restaram duas opções para consumir tal iguaria: Meter a cara na estrada, pagar pedágio e comprar a linguiça, ou preparar em casa.

No final de semana passado, saí da cama às 13 horas da manhã, numa ressaca do capeta, mas imbuído da vontade de mandar uma Cuiabana pra dentro. Como a estrada estava fora de cogitação, respirei fundo e tomei a decisão de passar o sábado enchendo linguiça. Literalmente.

Pra fazer linguiça, e isso é comum a qualquer linguiça, a primeira coisa que você precisa ter em mãos é a tripa. E, vou te avisando desde já: tripa é nojento. Se você tem estômago de maricas, corre daqui e pede a linguiça pro açougueiro, isso aqui é para os fortes.

Pensa comigo: A tripa é, sem rodeios nem photoshop, o intestino seco do boi. Intestino, aquele, que durante toda a vida do boi esteve cheio de bosta e peido. E agora, você vai encher de comida. E comer. E achar gostoso. Portanto, todo cuidado é pouco pra lidar com esse verdadeiro saco de bosta.

Aqui em São Paulo, o único lugar que eu conheço que vende tripa seca é o Mercadão Municipal. E lá fui eu, em direção ao centro da cidade, adentrar aquele recinto com toda a cautela que me cabe. Cautela porque o mercadão é o pior lugar do mundo pra você estar, se você gosta de comida. Aquele local maldito tem o poder de influenciar a sua mente, te fazendo uma vontade incontrolável de comprar tudo o que vê pela frente. Pensando nisso, saí de casa com o dinheiro contado pra tripas + metrô.

Bom, comprei um feixe (eles vendem assim, um treco que parece um cacho de bananas, só que de tripas) com uns 5 metros de tripa. Assim, poderia fazer uns 2 metros de cuiabana, e ainda guardar tripa pra fazer mais linguiça em outro momento.

Antes de começar a mexer na tripa, abra uma cerveja. Não passe para a próxima etapa antes de terminar a lata. Você vai me agradecer por isso depois.

O primeiro passo é hidratar a tripa, e é nessa hora que 90% das pessoas desistem de fazer linguiça. O cheiro daquele treco começa a levantar e o nojo é inevitável. Na primeira vez que fiz, deixei as tripas em uma solução de água + vinagre, e minhas mãos ficaram fedendo bosta de boi morto durante semanas. Desta vez, troquei o vinagre por limão. Ajudou bastante.

Li, num livro antigo sobre condimentos, que você deveria esfregar a tripa em caldo de laranja e fubá, até que ela ficasse cheirando laranja. Olha, se a tripa cheirar laranja, tá lindo. Porque da última vez, cheirou bosta de boi morto. Assim sendo, espremi duas laranjas na água com limão, e deixei as tripas de molho, por uma hora. Funcionou lindamente, a tripa ficou mesmo cheirando a laranja.

Enquanto isso, você pode começar a parte boa da coisa, e ir preparando a Cuiabana em si.

Comece pela carne que não deve ser, no todo, moída. A cuiabana é feita de alcatra, que é uma carne bem macia. Se você moer tudo, vai fazer da sua cuiabana uma pasta, e nós não queremos isso. Portanto, de uma peça de 1kg de alcatra, mande moer apenas uns 300g. Bem pouco mesmo. Para o resto da peça, faça como eu: Tenha em mãos uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção. O seu objetivo é picotar 700g de carne em cubinhos muito, muito pequenos, do tamanho de um exército do War, sem decepar a ponta do dedo. Feito isso, taque todos os exércitos vermelhos, junto da carne moída numa bacia.

Agora faça o mesmo com o queijo. Picote meio quilo de queijo do tamanho de exércitos do War. Mande os exércitos brancos pra dentro da bacia. O melhor queijo pra fazer a Cuiabana é o tal "queijo meia cura". Ele é mais consistente do que o queijo branco, e não derrete tanto quanto uma mussarela, por exemplo. Vai por mim: 500g de queijo meia cura picotados.

Tamos quase lá. Picota um maço inteiro de salsinha. Não faça serviço porco, não usa salsinha desidratada e não aceite doces de estranhos. Taí um conselho. A salsinha fresca (ui) faz o agrado no tempero.

Pausa pra mais uma cerveja. Embora, eu acredito que você já tomou mais de uma nesse processo.

Agora, picote uns 5 dentes de alho até ficar bem pequeno. Sem essa de jogar aquelas pastas de alho triturado porque aquilo é nojento. Pega o alho, ranca os dentes, tira a casca e picota. Não é hora de ter preguiça.

Dê umas boas pitadas de pimenta do reino. Não precisa exagerar, acho que 1/4 de uma colher de sopa é mais do que suficiente.

Se você gosta de alguma pimenta, hora de picotar e jogar lá dentro. No meu caso, como sou fã da pimenta biquinha, picotei 4 bolinhas dela. Recomendo muito cuidado com a sua pimenta favorita. Não se esqueça de que o legal da cuiabana é a suavidade dos temperos. Não encha uma receita que tem leite e queijo de pimenta.

Pra misturar tudo, você pode dar uma bela golada de azeite extra-virgem. Golada por golada, dê uma de cerveja, e jogue uma de azeite dentro da bacia. Misture com uma colher de pau. Peraí.. O que eu tou falando? Ah, misture com o que você quiser, isso aqui tá parecendo receita da ana maria braga.

Vamos dar um tapa na parte das ervas? Sem duplo sentido porque, crianças... isso é proibido!

Você pode picotar algumas folhas de manjericão fresco (ui, que frescurada nessa receita), e talvez uma sapecada de orégano. Mas não exagere, quem manda na cuiabana é o leite e o queijo.

Tá quase pronto, agora basta jogar meio litro de leite lá. E sem economia porca, compra um leite tipo A e manda pra dentro.

Mistura tudo e o recheio tá pronto. Certamente, você vai sentir vontade de experimentar o recheio cru mesmo. Não passe vontade, coma carne crua e morra de toxoplasmose.

Pra terminar, o último trabalho é, literalmente, encher linguiça. Lembra daquela tripa que a gente deixou no limão e laranja? Pois é... tira da água, liga a torneira e lava, esfrega e enche de água, esvazia, enche de novo, esfrega de novo. Tire toda a sujeira que enxergar e, principalmente, a que não enxergar. Trabalhinho nojento, esse. Mas alguém tem que fazê-lo. E esse alguém é você.

Na hora de encher, recomendo que corte em pedaços de, mais ou menos, 30 centímetros. Assim, pode fazer várias linguiças independentes. Não acho legal fazer linguiça cuiabana muito grande, porque ela tem grandes chances de furar na hora de assar.

O processo de encheção de linguiça é simples, você fazia isso na redação da quinta série, e deve fazer nos relatórios que o teu chefe te pede.

Você dá um nó na ponta da tripa, e encaixa um funil na outra ponta. Com uma colher, vai jogando o recheio pra dentro da tripa. Quando o recheio chegar no alto da tripa, solte do funil e dê outro nó. Simples assim.

Na hora de assar, a cuiabana incha, o leite ferve, queijo derrete, acontece o capeta dentro dela. A última coisa que você pode querer é um furo na sua linguiça (kkkk). Portanto, não encha demais a linguiça. Ela tem que ficar meio mole, meio naquele esquema da pipa do vovô. Aí você pode por a pipa do vovô na churraca, que ela fica feliz.

Pra preparar a cuiabana, basta colocar na churraca sem deixar fogo encostar nela, e virar uma vez só, pra evitar furos.

Mais detalhes sobre a preparação na churraca neste post aqui.
Este post é dedicado a grande amigo Pão, que sempre compartilha dessas maluquices na cozinha, e participou dessa receita, cheirando comigo toda a bosta do boi morto. Além disso, fizemos também uma linguiça de alcatra suína que ficou animal. Mas ela fica pra outro post. 
Este post não tem fotos, pois minha prima viajou pra europa e levou a minha máquina. Já tem duas semanas que ela voltou, mas até agora, nada de devolver. Fica o toque ae, Vanessa :-)

Rendimento: Nossa, isso deu mais de 2,5kg de linguiça. Coisa pra caramba, congele e tenha cuiabana sempre que quiser.
Custo: metrô + tripa, $12. Carne, $15. Leite, $2. Queijo, $15. Gastei 44 reais e tenho 2,5kg. Justo.
Tempo de preparo: 7 brejas na cozinha, 4 brejas na churraca. Sirva bêbado.