Antigamente, ecologia era coisa de hippie. Adoramos hippies, mas concordemos que hippie não é exatamente o melhor porta-voz pra alguma causa, não é? "Ah, adoro verde, me dá aqui esse pé de maconha". Enfim, sempre tem um LSD pra atrapalhar. Mas de uma hora pra outra, as causas verdes começaram a ganhar voz, visto a pocilga em que nosso planeta se transformou, e todo mundo ficou com os fundilhos na mão, com medo de tudo acabar e não dar tempo da gente ver o final da novela.
E foi aí que chegou o departamento de marketing fazendo tudo aquilo que a gente espera deles, e praticamente qualquer produto, serviço, ideologia, tudo virou ecológico. Tudo, até o que não faz sentido. Ser eco é ser cool! COOL, não esqueça de falar o ele no final!
Ontem eu vi uma propaganda na TV. A empresa que faz shampoo tava mostrando arvorezinha, mico-leão dourado, ararinha da bunda rosa e toda sorte de imagens que precisam estar presentes em qualquer eco-comercial. Essa empresa dizia que plantaria uma árvore a cada vidro de shampoo que vendesse.
Aí eu te chamo pra refletir sobre o que realmente é ecológico, e o que é picaretagem só pra pegar o hype. A empresa em questão, disse que plantaria. E plantará, não tenho dúvida. Mas não estamos falando de mata atlântica. A empresa não vai lá pro mato grosso, expulsar a vaca ilegal do coronel e meter ali uma aroreira. Nada disso, eles vão encher um terreno alugado de eucalipto. O eucalipto vai crescer, eles vão derrubar tudo e vender pra fábrica de papel. Ou seja: ecologia 0 x 10 marketing.
E com esse pensamento vigente, passamos o dia acompanhados de pérolas como carro ecológico, shampoo que replanta pé-de-pau, comida de cachorro reciclável, e até genialidades como incentivar o pessoal a fazer xixi no banho. Sorry, guys, ninguém quer salvar o mundo, não. O lance aí é business, simples e claro. Acredite se quiser, já dizia o bom e velho jack palance.
- acredite... se quiser!
Bom, e como aqui no DGG a gente não consegue deixar passar uma oportunidade, bora lá pegar uma carona nessa cauda de cometa, e plunct-plact-zum que a gente vai hoje preparar uma receita reciclada.
Receita reciclada é aquela que foi feita utilizando resto da comida de outrora. Isso tem vários nomes, você já deve ter ouvido "restodontê", enfim. Minha avó é uma verdadeira autoridade no quesito reciclar comida. Você pode almoçar e jantar todo dia na casa dela, e sempre vai achar que tá comendo comida nova. Mas não, você sempre vai estar comendo alguma coisa reciclada. A vó faz isso tão bem, que uma abobrinha vira uma espiga de milho, ou uma sopa de palmito, ou um bolo floresta negra. Ou seja, minha avó compete com os mestres da camuflagem gastronômica. A gente só descobre que determinado prato é reciclado, porque ela olha pra comida e fala "já te conheço". Essa é a senha, o prato reciclado chama-se sempre Já te conheço.
Hoje vamos reciclar comida e preparar o nosso próprio Já te conheço. E não é qualquer comida, não. Estamos reciclando, aqui, uma saborosa e fabulosa costela de boi.
Pega o telefone, liga pro greenpeace e confere comigo o tamanho do estrago: a gente compra a costela de boi. Esse boi já ocupou lugar num pasto, que não deveria ser pasto, e sim mata virgem. O boi, lá no pasto, come o pasto. Come o capim embaixo da boca dele, dá um passo pro lado, e come o capim que tá do lado. Assim procede a vida inteira. Ê, vida de gado, já diria o cantor. Agora imagina o gado comendo o capim embaixo dele e dando um passinho pro lado, a vida inteira. O quanto de pasto esse boi precisa? E o pior não acaba aí, depois que come, o boi peida esse capim todo. E o peido do boi, pasme, é um verdadeiro desastre pra camada de ozônio. Sabia disso? Cada vez que aquele rabo levanta e não é pra abanar mosca, a camada de ozônio acusa o golpe. Fora o fato de que deixamos a costela na churraca durante horas e horas, queimando madeira, soltando fumaça. Uma catástrofe ecológica.
Catástrofe esta que, já que não conseguimos evitar visto que não pararemos de comer costela, então temos a obrigação de otimizar ao máximo o processo, tentando evitar o impacto na natureza, e assim evitando que algum ecochato bata à sua porta te jogando o parágrafo acima na cara.
Nossa receita começa, então, levando ao limite da gulodice um antigo dito popular. Minha mãe dizia "menino, não tenha mais olho do que barriga", sem efeito, porque eu tinha, e desta vez lhe recomendo ter mais olho do que barriga. Quando der aquela vontade de mandar uma ponta de agulha na churraca, compre o dobro do que pretende servir. Isso mesmo. Aproveita a churraca, e faz a costela de hoje que vai virar a vaca atolada de amanhã.
Pra preparar a costelona, tem várias técnicas. Vou citar, rapidamente, duas, ok?
- Bota a peça no alto da churraca, com fogo forte, osso pra baixo e sem deixar encostar na peça, durante horas e horas. Geralmente, 4 horas + 1 hora por Kg. Depois vira e deixa assar por meia hora. Tá pronto.
- Enrola no celofane pra churrasco, deixa no calor (na churraca ou no forno) sem deixar encostar na labareda durante 3 horas + 1 hora por Kg, tira, deixa uns 20 min pegar cor e gosto de fumaça, tira e serve.
No final do churrasco, você guarda na geladeira e vai dormir. Te recupera aí, que a amanhã terás uma vaca pra desatolar. A vaca foi pro brejo e isso é um problema seu.
Acordou? Tá recuperado? Tomou eparema, epocler, biotônico fontoura, centrum, viagra, aspirina, tampico de morango ou lactobacilo vivo? Então tá pronto, bora pras panelas!
Esta vaca atolada é um pouco diferente da tradicional, ok? Não me venha com puritanice, dando bronca porque não é assim que faz e bla bla bla. Quer receita certinha, vai pro site da ana maria braga. Amigão, pensa no papel reciclado. O papel reciclado é feito a partir de outro papel. Ele tem a mesma textura, o mesmo formato, serve pra mesma coisa, mas tem aquelas ranhurinhas. Ou seja: é quaaaase a mesma coisa, mas você escreve nele e é pra isso que ele serve. Nossa vaca atolada é a mesma coisa. Não é a receita tradicional, mas cumpre seu papel. Quase um papel reciclado.
O primeiro passo é botar as
Deixa lá cozinhando até as batatas ficarem bem moles. Vai acompanhando, espeta com o garfo, você conhece coisa mole que eu sei (heheheh). Quando a moleza se fizer presente dentro da panela, desligue o fogo e guarde com água e tudo.
Agora você tem que preparar um refogadão. Sabe o que é um refogado? É a base de quase tudo o que você come. Consiste em picotar uma cebola bem pequeninho, fritar no azeite, e quando ela estiver amarela, sapecar alho picado pra fritar junto. Uma folha de louro fritando junto ajuda, viu.
Ah, fica muito legal botar umas azeitonas verdes pra fritar junto. Sei que não faz parte da vaca atolada, até porque vaca com azeitona é boi, mas a azeitona fritando junto dá um gosto especial bem legal.
Ok, entendeu? Se entendeu, faça o refogadão, e quando estiver todo mundo amarelinho, com cara de comida de mãe, joga toda a costela lá pra dentro. Recomendo que dê uma certa desmontada na costela. Não adianta mandar pra panela aquele teco de 9kg de costela, isso é serviço de porco, não faça isso.
Mistura um pouquinho, isso vai dar uma fritada na carne da costela. Acredite, isso se transformará em benefício para você mesmo depois.
Mas não frite muito, é só pra dar uma corzinha. Agora jogue uma golada generosa da água da batata.
O lance agora é ficar mexendo até a carne amolecer por completo, aquilo vai começar a derreter, a água evaporar, fica um espetáculo. Quando achar que a textura tá boa, manda as batatas pra dentro (só as batatas, não vai esperar a textura ficar boa pra mandar mais água lá pra dentro, né espertão?), mexe até tudo virar uma gosma. Cuidado pra não deixar as batatas sumirem, presta atenção na sua comida.
olha a textura da brincadeira. antes que me perguntem, tem um pouco de salsinha aí
Tá pronto. Tem gente que troca a batata por mandioca. Particularmente, prefiro batata, mas tanto faz. A decisão é sua.
Na hora de servir, jogue um pouco de salsinha sobre o prato, fica bem gostoso.
com salsinha
sem salsinha
Bom apetite! Pensa que você tá salvando uma baleia e mete os dentes nessa iguaria sem dó!