Como preparar uma FEIJOADA de mestre

Segunda feira chata como sempre, final de expediente, você aí dando aquela enrolada no trabalho, dia das mães já passou, bin laden bateu as barbas, e cá estamos nós, eu e você, já pensando na lambança gastronômica do final de semana. E, se o assunto aqui é esse, lambança rima com lembrança e vem comigo nessa rima pobre relembrar os primórdios da nossa culinária, chafurdando no caldeirão [/luciano hulk] de um dos mais tradicionais instrumentos da nossa cultura.

Assim como o futebol, o samba e a bunda, esse belo país em formato de bisteca também é conhecido no mapa-mundi pela Feijoada.

A história da feijoada todo mundo conhece, mas não custa dar a nossa versão relembrar: No século dezenove - eu odeio números romanos. odeio romanos [/asterix], a rapaziada mais abastada, assim como hoje em dia, não tinha lá muito apreço por pegar no batente, não. Assim como muito político que a gente conhece, nesse mundão sem fronteiras, quem tem dinheiro não faz, manda fazer. No século 19 as coisas eram ainda mais cruéis, vai vendo.

O coronel Coriolano, que aliás tem um belo nome, não tinha muito apreço pela fadiga. Gostava mesmo era de contar os seus contos de réis, devidamente ornamentado pela sua bombacha sobre a carroagem que o levava pela pradaria. Coronel Coriolano era um cara de vocabulário arcaico, por isso profiro aqui palavras tão prolixas.

Porém, para multiplicar os seus contos de réis, alguém naquela fazenda tinha que trabalhar, e nós aqui já sabemos que não seria o coronel Coriolano. Mas se o distinto senhor possuía providências, logo poderia comprar alguém para fazer isso no lugar dele, não? Pois foi assim que o coronel Coriolano procedeu, e logo aportou em algum local desse Brasil varonil um navio cheio de negros, feitos escravos.

Coronel Coriolano, um grandecíssimo calhorda, gordo como um porco, ficava ali, deitado eternamente em berço esplêndido, enquanto os negros trabalhavam no lugar dele.

Aí, o coronel mandava um negro abater aquele porco gordo (o bicho, não o coronel), retirava as partes nobres e mandava pros negros o que sobrava. Pés, orelhas, rabo.... E, gordo como um porco (o coronel, não o bicho), ria-se das desgraças daqueles pobres negros que, sem a menor culpa no cartório, sofriam as mazelas da escravidão no seu lugar.

Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada, já dizia o velho ditado. Se a vida lhe der um feijão, faça uma feijoada, diz o velho blogueiro. Se a vida lhe der um violão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um irmão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um sermão, faça uma feijoada. Se a vida lhe der um caminhão, faça uma feij... Você entendeu, aconteça o que acontecer, faça uma feijoada. E foi o que os escravos fizeram: juntaram todo aquele resto de porco, meteram dentro de um feijão e assim tava criado um dos pratos mais incríveis da nossa gastronomia.

E se for pra fazer uma feijoada, siga o procedimento abaixo. E, caros leitores.. o procedimento é longo e a labuta é árdua.

Portanto, agradeçamos à Princesa Isabel que, ao contrário de todas as outras princesas da história, fez alguma coisa realmente relevante e aboliu a escravidão. Escravidão esta que nem deveria ter existido, mas como algum idiota achou que seria legal dar um pulinho na África e cometer um dos maiores erros da história da humanidade, ainda bem que nós tínhamos a dona Isabel, que azedou com a graça do coronel e de mais um monte de aproveitadores, safados e vagabundos e botou todo mundo pra trabalhar.

Agora vamos ao procedimento. Estamos levando com consideração que você vai fazer uma feijuca pra um monte de gente, portanto a quantidade de ingredientes vai ser colossal. Prepara que você vai, literalmente, suar sangue.

Pela primeira vez na história desse blog, vamos abrir mão da sacanagem de simplesmente ir jogando ingredientes a esmo no meio do texto, e vamos fazer uma listinha com tudo o que você precisa ter em mãos pra preparar uma boa feijoada.


Hora do prejuízo. Prepara o pelego, monta no pangaré e dirige agora essa carcaça surrada até o supermercado mais próximo. Pegue um carrinho grande e senta que lá vem a história.


  1. Esquece o bacon defumado. Compre uns 400g de barriga de porco, aquela crua mesmo;
  2. Se não tiver arroz na sua casa, compre. Feijuca sem arroz é como mulher na TPM: não adianta o quão você se esforçar, você não vai conseguir comer;
  3. 1kg de feijão preto;
  4. Salsa;
  5. Alho;
  6. Umas 4 cebolas grandes;
  7. Um maço de couve-manteiga, que não tem nada de manteiga, mas assim foi denominada;
  8. Uma peça de costela de porco de uns 2kg;
  9. 1/2kg de carne de charque, um tipo de carne seca;
  10. Duas orelhas de porco, daquelas salgadas;
  11. Um rabo de porco, igualmente salgado;
  12. Um pé de porco, salgadinho, salgadinho, só no sapatinho [/só pra contrariar];
  13. Uma linguiça portuguesa defumada;
  14. Uma linguiça calabresa também defumada;
  15. Dois paios, defumadinhos defumadinhos, só na fumacinha [/bob marley];
  16. Um codeguim, seja lá o que isso signifique, mas já chegamos lá;
  17. 1kg de bisteca de porco em fatias;
  18. 1/2kg de farinha de mandioca;
  19. 6 limões;
  20. Pimentas diversas, se vira;
  21. Colorau;
  22. Umas folhas de louro;
  23. Azeitonas.

Já deu pra perceber que isso aqui vai dar trabalho, não é? Assim como já deu pra perceber que o preju aqui vai ser grande, não é? Pois é, mas isso aí serve pra alimentar um pelotão. Portanto, se você pretende alimentar um pelotão, siga os procedimentos e leve o prejuízo.

O primeiro passo é lavar 1/2kg de feijão preto. E como lava? Mete num pote, abre a torneira e deixa passar água. Parceiro, meu lado ogro me diz que esse negócio vai ferver tanto, mas tanto, que você nem precisa se preocupar com bichos ou agrotóxicos. Chora, Doutor Bactéria, que dessa vez a gente vai levar os anticorpos da galera ao limite!

Lavado ou não, pegue o 1/2kg de feijão e mergulhe na água. Pega um pote bem grande, joga o feijão e manda água pra dentro. Sabe aquele lance que a gente chafurda na cerveja e fica todo inchado? Então, acontece o mesmo com o feijão. Então, pensa num pote grande, porque os grãos vão crescer bem. E enche bem de água. Deixa isso quietinho e vai acender a churrasqueira.

Churrasqueira??? O mais sensato dos leitores certamente vai pensar que este blogueiro está viajando na maionese, na mostarda e no catchup, mas não: eu não estou viajando.

Vamos por partes, já diria o jack estripador, embora eu prefira muito mais o jack daniels.

Pé, orelhas charque e rabo do porco
Como lidar com essa verdadeira carnificina suína salgada e depilada que tá aí na sua frente? É, essas partes são meio bizarras quando cruas, mas não tem jeito: você tem que meter a mão nesse trem aí. Abre a torneira, lava bem pra tirar o sal e chafurda numa bacia grande, cheia de água. Você tem que fazer isso pra tirar o sal dessas peças.. Se deixar do jeito que tá, a sua feijoada vai ficar mais salgada que o mar morto. Se não entendeu a piada, vai pro goooooogle. É importante deixar de molho umas 5 ou 6 horas, trocando a água de hora em hora. Fica atento no silvio santos, passou o resultado da tele-sena, troca a água.

Costela e barriga
Você acendeu a churrasqueira, certo? Então joga um salzinho em cima da costela e coloca na churraca, de maneira que as labaredas não encostem na costela. Nem na sua e nem na do porco. Se você sabe o que fazer com a barriga, empurra com ela fatia ela em pedaços da espessura de uma caneta e coloca ela na grelha. Mas coloca beeem longe da labareda, porque a barriga perde muita gordura, que faz as labaredas ficarem encapetadas. Pra evitar um incêndio, deixa a barriga longe, de maneira que ela asse, mas demoradamente. De vez em quando, dá uma passada na churraca e tira as peças quando elas estiverem bem assadas, com cara de bem passadas. Quando a costela estiver OK, use uma faca e separe as costelas no osso, como se fosse servir. E tira esse olho gordo e essa mão boba daí, senão vai faltar costela na sua feijoada. Deixa isso tudo bem guardado num buraco na periferia de jalalabad.

Pensa no timing da coisa: você colocou as coisas na churraca, e não vai ficar ali de bobo do lado dela esperando ficar pronto enquanto tem uma trabalheira te esperando lá na cozinha, vai? Sim, vai Não, não vai, né? Então pensa que o procedimento abaixo pode ser feito durante o procedimento anterior. Uma verdadeira confusão, mas vai por mim que no fim dá certo.

O couve, parte 1
O couve é meio esquisito, mas é assim que a couve se chama. O couve. Nos tempos modernos, quando rapaziada muda de roupa, muda de time e valdemar vira valdirene, relaxa e chama a couve de o couve.  O que importa realmente é que você precisa lavar esse treco aí. Abre bem, separa as folhas, mete numa bacia cheia de água e com um gole de vinagre. Deixa lá por uma meia hora e vai fazer outra coisa. E não é playstation, é trabalho, merrrmão!

Por falar me trabalho, vamos inaugurar os trabalhos? Corra o mais rápido que puder até a sua geladeira, abra uma latinha de cerveja e fique mais feliz.

A farofa
Você deve cortar meia cebola em rodelas, o que é bem fácil. Nem vou te contar como fazer isso, você vai saber. Aproveita essa levada toda de picotar as coisas em rodela, e picota umas 5 azeitonas em rodela, se lembrando de retirar os caroços antes, sob pena de causar sérios danos à lâmina da sua faca. Picota também uns 3 dentes de alho, de qualquer jeito. Não precisa ficar muito bonitinho não, desde que esteja pequeno.Corra na churrasqueira e retire umas 2 fatias de barriga, mesmo que elas não estejam prontas. Picota a fatia em pedaços do tamanho de uma ervilha.
Pronto, agora vamos pra panela. Jogue uma golada de azeite na panela, bote pra esquentar. Na sequencia, jogue lá dentro os pedaços de barriga, e uma folha de louro. Mexa com uma colher de pau, senão as barrigas grudam no fundo da panela, e nós não queremos isso. Quando achar que tá ficando bacana, jogue também as cebolas e azeitonas em rodelas. O cheiro já começa a ficar complicado de segurar.. Mexe até que as cebolas comecem a ficar amarelinhas. Na sequencia, jogue o alho e mexa, até que o alho comece a escurecer um pouco. Agora, jogue a farinha, e mexa muito, sem parar. Por uns 20 segundos, depois você deve desligar o fogo. A farofa queima muito rápido, portanto é bom desligar. Experimente um pouquinho, e se achar que deve colocar mais sal, adivinhe: coloque mais sal. Feito isso, pode guardar a farofa num esconderijo numa mansão no paquistão.

O feijão, parte 1
Bom, vamos começar a cuidar do feijão, afinal de contas, isso aqui é uma feijoada e nós não estamos aqui pra enganar ninguém com uma feijoada sem feijão. Jogue o feijão todo numa panela de pressão, com o pé de porco, a orelha, o charque e o rabo, que já devem ter passado por todo aquele procedimento de lavagem. Ponha água até o limite de segurança da sua panela, feche e mande pro fogo por uma meia hora.

O couve, parte 2
Enquanto o feijão tá levando muita pressão [/bonde do tigrão], enxágue as folhas do couvão, junte todas, enrole e comece a cortar fininho. Entendeu como faz? Você tem umas folhas grandes e precisa fazer aquilo ficar como um macarrão, que é o jeito que o couve fica quando vai pra mesa. Usa a cabeça que você vai entender. Feito isso, picote uns 2 dentes de alho. Numa panela, jogue mais uma golada de azeite, e comece a fritar o alho. quando ele começar a mudar de cor, manda lá pra dentro todo o couve feito em tirinhas. Mexa bastante, e frite até ficar escuro e molenga. se precisar, manda mais azeite pra dentro. Quando escurecer e amolecer, jogue um pouco de sal e guarde nas cavernas do afeganistão.

A bisteca, parte 1
Num pote, esprema (JAMAIS inverta o P e o R de lugar, sob sério risco de acabar com a receita. Se fizer isso, nem me chama pra comer essa bomba) um limão, picote um dente de alho e dê uma colherada pequena de colorau, com umas pitadas de sal. Misture todo esse treco e mergulhe as bistecas.. feche o pote e chacoalhe como se não houvesse amanhã. Pensando bem, uma pitada de pimenta do reino deve ajudar essa mistura aí. Deixe descansar, por mais que o porco já esteja morto sem a menor necessidade de descanso. Enfim, você entendeu.

Nesse tempo, se a meia hora do feijão já passou, tudo bem. Deixa todo mundo fechado dentro da panela e segue os procedimentos.

O feijão, parte 2
O procedimento é abrir a panela tomando todo o cuidado do mundo com a pressão que tá rolando lá dentro. O ideal agora é você transferir tudo pra uma panela realmente grande, que caiba o dobro do feijão que você tem, ao menos. Feito isso, deixe a panela aberta no fogo médio até o final da receita toda. O lance da pressão é que ela ajuda a amolecer um pouco o feijão, mas todo o resto fica melhor em panela aberta. Põe bastante água nesse feijão e mexe de vez em quando, pro feijão não colar no fundo da panela.
O tempero do feijão é simples. Tenha em mãos, mas não necessariamente NAS mãos, uma cebola picotada, 4 dentes de alho picados, duas folhas de louro e o resto todo da barriga de porco cortada em pedaços pequenos. Numa outra panela, jogue uma golada de azeite e deposite ali as barrigas todas com as folhas de louro. Siga a sequencia das cebolas, alho e pronto. Quando todo mundo estiver bem fritinho, jogue na panela do feijão, com azeite e tudo.

Pescaria
Pode largar a varinha e a minhoca (ui), o lance agora é dar uma olhada no meio do feijão, e tentar resgatar o pé do porco. Isso porque ele tem muito osso, e nós não queremos que aquela tia bacanuda que gastou vinte mil reais na sua prótese detone a lustrosa dentadura com um pedaço de osso, certo? Portanto, é legal pescar o porco pelo pé, retirar toda a carne possível e jogar o osso fora.

O arroz
Ah, esse post já tá muito longo e eu não vou ensinar ninguém a fazer arroz. Pelo menos não agora. Dá seus pulos aí, parceiro, e prepara um arroz

Feijão, linguiças e costela
Com a panela aberta, você mexendo toda hora e aquele caldo começando a engrossar, hora de descobrir onde enfiar toda aquela linguiça. E antes que o leitor utilize o lado negro dessa mente putrefacta, as linguiças todas devem ser depositadas na panela do feijão, sem furar, sem abrir, sem fatiar. Linguiça inteira, compana. Manda pra panela, elas devem ficar pelo menos uma hora lá dentro. O mesmo pras costelas. Aliás, a costela tem uma tendência a desmanchar, e você pode deixar desamanchar mesmo, ou separar metade das costelas pra colocar só na hora de ir pra mesa.

O molhinho de pimenta
Essa parte fica em aberto. Muita gente põe a pimenta sozinha na mesa, muita gente faz um molho usando o caldo do feijão, mas eu vou ensinar um molhinho que eu acho porreta, receita da vovó (claro, né). Bom, picota meio maço de salsinha, espreme uns 6 ou 7 limões, e adiciona um pouco de pimenta vermelha. Só isso. Esse molhinho, quando jogado em cima do prato de feijoada, faz o palhaço chorar.

A bisteca, parte 2
Tamos quase lá, rapazeada. Tá acabando a trabalheira e tá chegando a hora da comilança. Aqui não tem segredo, é só fritar as bistecas até ficar bem passada. Na hroa de servir, joga em cima dela um pouco de salsinha e põe limão cortado na mesa.

Pronto, pessoal Acabou a saga. Agora é tirar tudo o que estava escondido por aí, colocar todo mundo na mesa e lavar a alma. O resultado é esse aqui:




Custo: Ah, é caro. Dependendo de onde você vai comprar, dá pra gastar mais de R$60,00 com esses ingredientes.
Tempo de preparo: Demora muuuuito. Só o feijão, fica no fogo umas 5 horas, fora o tempo pra tirar o sal do porco, churraca, enfim. Se você ficar bebendo cerveja o tempo todo, vai servir a feijuca em coma alcoólico. Toma cuidado com esse pé de cana aí, parceiro.
Rendimento: Dá pra uma galera. Já fiz feijoada pra 16 pessoas com esse volume de ingredientes.

    Drops de Churrasco - Ed. 10

    Um salve aí para o mais saudoso dos leitores! Pois é, caros amigos, a vida anda mesmo judiando deste velho e maltrapilho escriba. Vida loka, já diria o motoboy. E já começamos logo com uma torta na cara, segura que essa vem quente.

    Num dos últimos posts escritos nesta espelunca, encontrava-me eu respondendo pelo status de semi-deschurrasqueirado, aquele que está quase sem uma churrasqueira. Pois é, mas quando você acha que o bicho vai pegar, o bicho vai comer e é o bicho, é o bicho, vai te devorar, crocodilo eu sou [/gerasamba], lá vem o bicho e PAU: te pega mesmo. Dentro daquele conceito louco que diz que se ficar o bicho come, se correr o bicho pega, economize tempo e dinheiro e pule logo dentro da boca do bicho. Creio que o leitor padrão deste blog, que responde por um Q.I. sempre superior a 100, queima seus neurônios mas não entende bulhufas do que eu tento dizer aqui. E essa é a tonica da parada por aqui: eu escrevo desgovernadamente, ninguém entende nada e no final a gente dá risada. Porque, afinal, quem ri por último ri melhor. Resumindo: se antes eu era um semi-deschurrasqueirado, agora estou completamente deschurrasqueirado. Não tenho mais aonde deitar o meu gato, sou praticamente um sem-terra das churrasqueiras. Portanto, peço ao nobre leitor que entenda que passo por momentos da mais absoluta abstinência, e diante de tais fatos, faremos aqui, neste blog, uma larga sessão de receitas de panela, que eu ainda me reservo o direito de manusear. Agradecido e vamos à próxima.


    Ando meio cabreiro com uma situação. Todos os leitores aqui sabem que dentro de uma caixa de cerveja, encontramos sempre 12 pequenos invólucros repletos da mais absoluta alegria e sapiência. Os leitores que não sabem, deveriam saber. 12 latas numa caixa de cerveja é um número cósmico, que só serve pra nos confundir na hora de calcular o preço da caixa. Já percebeu que você sabe que a Brahma custa R$1,45, mas não sabe o quanto custa a caixa? Então, faz parte da magia. Se tivessem 10 cervejas, tava fácil, mas os caras colocam 12. Só que eu tenho sentido uma pisada na bola e meldels, um pisão nas bolas deve ser extremamente doloroso, de forma que  curiosamente as últimas caixas de Itaipava que tenho comprado em diferentes supermercados do Seu Abílio, o Tio Bilhão, têm vindo com uma das latinhas furada. Isso mesmo. Não sei se a Itaipava tá querendo economizar, se o Tio Bilhão tá querendo me fazer beber menos, mas esse é o fato: comprei, nas últimas semanas, diferentes caixas de cerveja Itaipava em diferentes supermercados do Tio Bilhão e, invariavelmente, uma lata estava vazia. A maior pegadinha do malandro que poderia existir. De deixar o ivo holanda no chinelo. O fato me injuriou, e escrevi o ocorrido para o site da Itaipava. Há mais de uma semana, sem sucesso. Gente, eu nem quero meu dinheiro de volta, nem quero cerveja pra me ressarcir. Só quero ter a certeza de que vou comprar uma caixa de cervejas e levar as 12 latinhas pra casa. Cheias.

    Aqui nesse blog a gente já causou chachota naqueles caras que fizeram picanha com sorvete, lembra? Pois é, atiramos no calabouço a apresentadora matinal plastificada, que serviu farofa gelada com maçã e bacon, e costumamos mesmo apontar o dedo na cara de gente que se esquece que a comida serve mesmo é pra comer, e se eu quer ver obra de arte eu vou mo museu, mas.... dessa vez, rapazeada se superou. Extrapolou os limites, surpreendeu, já diria a propaganda do banco. Sente o drama. Ao mais desprevenido dos leitores, eu aviso: pra ler as palavras que vem por aí, é preciso ser forte. Strong, macho man. Forte como um cavalo. Isso mesmo, porque o lance aqui é do cavalo, e quando falamos de comida, se vem do cavalo, ou é bosta, ou vai dar bosta. Mas o lance aqui é tão ruim, que recomendo que fique na esperança de ser bosta. Porque, infelizmente, não é. Deu bosta.
    A questão é que lá na Nova Zelândia, onde batem alegremente as ondas da oceania, algum cabra da peste decidiu ordenhar o cavalo, e percebeu a égua dá leite e o cavalo dá coisa muito pior, e não contente em fazer um papelão desse, ainda recolheu o produto extraído do pocotó, lavou as mãos (espero eu) e fez um milk-shake. Isso mesmo: não mais leite no milk-shake dos neozelandeses, a brincadeira agora é filhote de cavalo. Veja com seus próprios olhos.

    Por fim, voltamos com toda a fanfarrice e alegria que nos motiva com mais uma charada. Quero ver quem vai desvendar os mistérios da nossa próxima receita aqui no DGG. A primeira dica tá fácil.

    • É receita de panela. Mas eu faço mezzo panela / mezzo churraca;
    • Keep Walking, Johnny Walker;
    • Muitos ingredientes. Muitos.
    Hasta la vista, babe, já diria o exterminador. Ou o amigo dele, eu não vi o filme.

    Deitando o cachorro na grelha

    Caros amigos, isso aqui não é um post típico do DGG. Hoje, nós não vamos falar de nenhuma receita, nem nada relacionado a churrasco. Quer dizer, até que a nossa personagem aqui se dá bem nos churrascos de casa. Afinal, a costela tem osso, e quando a gente come a carne, é preciso dar um fim pro osso, né? E hoje falamos de uma exímia comedora de ossos.

    Pra quem não conhece, eu apresento aqui a Preta. Preta, manda um oi pra rapazeada ae.

    au.

    Se você, em tempos de politicamente correto, se arrepiou com o fato de eu te apresentar alguém que responde pela alcunha de Preta, é porque você ainda não conheceu a figura. E vem comigo conhecer, você não vai se arrepender.

    A Preta é, na realidade, uma cachorra. Uma vira-latas daquelas, orgulho da raça. Ou da falta de raça. Ou do excesso, sei lá. Vira-latas são o produto final de uma verdadeira farra da miscigenação baseada na irresponsabilidade. Na putaria, falando claramente. Vira-lata não tem critério na escolha de parceiros, não tem bonito ou feio, nada disso. Vira-lata não tem nota de corte, não tem critério de desempate. Latiu, é parceiro. Abanou o rabo, tou dentro! Esse é o pensamento. No campeonato da evolução viralática, todo mundo é campeão e todo mundo cai pra segunda divisão ao mesmo tempo.

    Vira-latas levam consigo a carga genética de um sem-número de outros cachorros, com seus defeitos e qualidades. E, que me perdoem os barões quadrúpedes de apartamento, mas os vira-latas tendem a levar consigo o melhor da genética disponível. E assim é a Preta: uma cadela geneticamente privilegiada, abençoada pelos caprichos do aleatório. Inteligente, esperta, viva, moleca, detentora da eterna gratidão e carência que só tem que já sofreu na rua.

    Vi a Preta pela primeira vez numa gaiolinha da Cobasi. Aquele bichinho pretinho, acuado e com olhos vibrantes me cativou na hora. Ah, pra quem não conhece, a Preta fala com os olhos. Mais um vestígio de genialidade genética, tenho em casa um cachorro telepata. E o que aqueles olhos me disseram foi "vai, patrão. Me leva pra casa, eu tenho tudo pra ser um bom cachorro, você não vai se arrepender!". Eu não pude deixar de concordar com um cachorro que entende de telepatia, e decidi levá-la para casa. Quintal razoavelmente grande, crianças, churrascos, ossos depois dos churrascos... tinha tudo pra dar certo.

    Uma breve analisada nas suas patas grossas, e me veio um questionamento. Perguntei à moça da Cobasi: "Moça, será que ela cresce muito?". A resposta, brilhante, foi: "Vira-lata é loteria".

    Bom, parece que eu acertei as seis dezenas. A Preta cresceu, e se tornou um grande, forte, belíssimo e vistoso vira-latas. Bem tratada, limpa e alimentada, parece até cachorro de raça. Se não fosse a ponta do rabo branca denunciando a ausência de pedigree, diria que se trata de um cachorro valioso quando, na verdade, vale o mesmo que uma colherada de margarina. Rasa.

    Barata no valor econômico e caríssima no sentimental, a Preta fez valer cada segundo dos quase 3 anos em que ocupa o quintal lá de casa. Muito carinhosa, inteligente, malandra como todo vira-lata tem que ser, e sem nunca ter dado o menor indício de violência. Fato impactante pra quem tem crianças em casa. Boazinha, essa é a alma da Preta.

    - gente, olha a minha cara de gente fina.

    Bom, o problema com a loteria é que ela se tornou, na realidade, o meu grande dilema. Explico. Ela cresceu. Muito. Do alto dos seus 3 anos de idade, a Preta virou um vira-lata forte, da altura de um doberman, pesando seus trinta e poucos kg.

    Eu moro em prédio. Mas não pense que eu prendo um cachorro grande nos poucos metros quadrados de um apartamento, não. Por um milagre da arquitetura lúdica, no meu apartamento eu tenho um quintal generoso, e posso garantir que a Preta não passa aperto, não.

    A questão é que, antes da Preta, já era proibido manter cachorros grandes no prédio. Mas eu não sabia o quanto ela cresceria, e ela cresceu, e eu ignorei solenemente a regra. Bola pra frente.

    Acontece que vivemos em sociedade e, ao contrário dos vira-latas, que dedicam suas vidas civilizadamente ao exercício da malemolência, nós somos uns tapados e não conseguimos compreender os limites aceitáveis das coisas. Pra isso, fazemos leis e as seguimos.

    Alguns vizinhos, que não necessariamente moram num apartamento com quintal e não tem espaço pra manter um cachorro grande, começaram a encher o condomínio com animais de grande porte, aprisionados em apartamentos de 80 metros quadrados. Esses cachorros ficam sozinhos, latem, fazem algazara, fazem sujeira. Eles são cachorros, ora. E devem mesmo fazer as coisas assim. Mas não num espaço confinado. Não num espaço que é compartilhado com outros. E isso incomodou, justamente, os outros.
    Que reclamaram, e agora exigem o cumprimento da regra. Regra esta que, embora injustamente, precisa se aplicar a mim, e precisa se aplicar à Preta.

    Semana passada recebemos um comunicado. Todos os apartamentos que mantivessem cachorros de médio e grande porte, deveriam se desfazer dos mesmos, cumprindo a lei número qualquer coisa do estatuto blablabla do edifício condomínio jardins.. sei lá, da Babilônia.

    O fato é que eu estou errado e preciso obedecer. A genética foi generosa com a Preta, que cresceu e virou um belo, alegre e saudável cão. Mas foi traiçoeira com uma vira-latinha que saiu das ruas, foi acolhida pela ong que trabalha com a Cobasi, e posteriormente ganhou uma família, com casa, comida, crianças, alegria, amor e carinho. E agora precisa perdê-la.

    Vou manter a Preta no meu quintal, desafiando o condomínio, até que comecem a chegar as multas.
    Aí, não poderei mais lutar. Até lá, tenho o desafio de arrumar um novo lar pra ela. Gente que goste de cães, que tenha espaço, que possa dar a ela uma vida boa, como a que ela tem hoje. Gente que eu saiba que não vai soltá-la numa rua desconhecida quando chegar a viagem de férias, gente que vai alimentá-la com o mesmo zêlo, que dê carinho e assistência pra ela. Pra que ela possa continuar a alegre existência dela com a malandragem e felicidade que se a gente só vê nos olhos de um vira-latas.

    Na verdade, esse texto foi escrito há alguns meses, e deixei a coisa andar. Até que o cerco apertou, e a situação está se tornando mais difícil. De forma que aqui estou, pedindo àqueles que tem melhores condições de cuidar dela, que se apresentem. Infelizmente, este blog nem está aqui pra isso, mas tenho que recorrer. Agradeço.
    Bom, agora que já falamos da parte ruim, sente o paparazzo da moça:



    Especial Churrasqueiras: o semi-deschurrasqueirado

    Começamos este fatídico post logo de cara comunicando aos nobres leitores a ocorrência de um prejuízo. Zica, catimba, chulé, chame como quiser, mas a verdade clama, e é com as calças na mão que nós somos obrigados a admitir que Houston, we have a problem, porque a partir de agora, eu sou um semi-deschurrasqueirado. Pernas pra que te quero e salve-se quem puder!

    Antes que você possa dizer Adeus, mundo cruel, o escriba aqui castiga as pedras do teclado pra elucidar ao mais enigmático leitor o que é um semi-deschurrasqueirado. Comecemos, ora pois, pelo começo.

    Semi é aquele que é quase. Semi-Deus é um cara quase Deus. Semi-analfabeto é um cara que quase não sabe ler, e semitério é o lugar pra onde eu vou, se continuar maltratando o português só pra encaixar o trocadilho. Ou seja, o semi é aquele que chega perto mas não leva. Não leva a medalha de ouro, não vai pro pódio, não tem pedigree, não deixa cheiro e não solta as tiras [/havaianas feelings]. Rubinho Barrichelo é um semi-piloto, por exemplo.

    Então você entendeu que eu estou quase em alguma coisa, certo? E essa coisa que eu estou quase é deschurrasqueirado. Vem comigo desvendar mais essa fanfarrice morfológica da nossa linda e pulsante língua portuguesa de desportos. O "Des" sempre lembra a perda. O curintia, recentemente, foi DESclassificado da copa Libertadores 2011 pelo Tolima kkkk.

    Quando a gente coloca o ado/ada no final da frase, estamos dando um sentido de posse àquela expressão. "Mamãe, estou gripado". Significa que eu tenho, sob minha posse, uma gripe. "Muita cerveja me deixa mamado", significa que eu, após a ingestão de quantidades industriais de cerveja, adquiro mamas. E, como subsequente, nelas mamo, ficando mamado. Não, não mamo nas minhas próprias mamas, mas você entendeu o que eu quis dizer.

    Esse é o sentido da coisa. O cara semi-deschurrasqueirado, no caso, EU, está quase sem churrasqueira.

    Vou contar a história da minha churraca.

    Há alguns anos atrás, eu morava num apartamento muito bacana, que tinha uma sacadinha modesta. Era uma casa muito engraçada, aquela coisa toda, e não me interessava se ela não tinha teto, não tinha nada, ou se as pessoas não podiam fazer xixi. O que importava era a sacadinha. Além da sacadinha, eu tinha uma churrasqueirinha de alumínio, que me acompanhava todo santo final de semana, corajosamente desafiando as leis do condomínio e periculosamente esfumaçando as retinas dos meus vizinhos.

    Até que surgiu uma oportunidade e eu fui morar em outro apartamento, este com regras de condomínio mais flexíveis, e no lugar da sacada, um quintal. Pois é, um apartamento com quintal é tão paradoxo quanto uma moto com airbag, um avião com bote salva-vidas ou um tanque de guerra com cd-player e ar condicionado. Mas, se os publicitários vendem carro fazendo propaganda com um cachorro-peixe, eu me dou o direito de morar em apartamento e ter  quintal. E, garanto, tem cachorro. Mas não tem peixe. Enfim, vida que segue.

    E, como de bobo eu não tenho quase nada (ou tenho quase tudo, vai saber), antes mesmo de mudar já fiz questão de meter uma churraca no quintal. Fiz tanta questão que meti os pés pelas mãos, pisei no tomate e entrei pelo cano. E o resultado é esse: Meu nome é Daniel, eu sou um semi-deschurrasqueirado e só por hoje, eu ainda não fiz nenhuma lambança. Só por hoje, mas naquele dia, eu fiz.

    Assim que a notícia do apartamento novo surgiu, os amigos, no sorrateiro silêncio do msn messenger combinaram que me dariam uma churraca de presente. E não me contaram isso. Eu, com a ansiedade e o auto-controle de uma manada de búfalos em fuga, só conseguia pensar em rechear aquele recinto com uma churrasqueira, fosse ela qual fosse. Os amigos, na sabedoria milenar que só a amizade é capaz de proporcionar, serenemente confabulavam: "tomara que aquele idiota não meta qualquer churrasqueira no quintal, enquanto procuramos a melhor churrasqueira do mundo pra dar pra ele". E, Murphy salva, lá foi o idiota aqui desgovernadamente rumo ao leroy merlin mais próximo, adquirir QUALQUER churasqueira que coubesse no porta-malas do meu automóvel.

    Avisados pela minha prestativa senhora, os amigos se uniram às pressas e correram ao meu encontro para, pelo menos, assinar o cheque e me prover tal iguaria. No fim das contas, eu havia escolhido uma churasqueira que não era aquilo que eles queriam me dar, mas deram porque senão eu ia comprar. Coisa de gente equilibrada e serena. Eu sou assim, pode perceber.

    Era uma churrasqueira pré-moldada, daquelas de concreto. A churraca em si é uma boa churraca. Mas fica reservada às limitações de um produto de concreto, sem qualquer proteção, depositada ao relento, trabalhando sob chuva e sol (literalmente, por acreditar).

    E, tal e qual acontecido com suzana vieira, hebe camargo, cláudia raia, fafá de belem e outras tantas beldades que o tempo enrijeceu, minha churraca sucumbiu ao caminhar do tic-tac. Pela primeira vez, me arrependi por não ter seguido os sábios conselhos da madrinha deste blog, a apresentadora matinal que encheu a face, os seios e sei mais o quê de botox e silicone buscando a juventude eterna; optei por não pintar, e nem recobrir a minha churraca, o que, assim como no caso da apresentadora, poderia representar algum photoshop na sua decadência.

    E o fato é que, passados bons 3 anos de trabalhos forçados, comunico que a minha churraca não morreu, mas tá na rampa. Pra morrer, só falta deitar. Fiz churrasco no frio, ela trincou. Choveu, ela encharcou, eu botei fogo de novo, e a trinca aumentou. A sujeira de centenas, milhares de churrascos impregnou nas suas entranhas, que agora não tem nem mais cor. E chegou a hora de adquirir uma nova.

    Logo, nada mais justo do que reviver a saga "Especial Churrasqueiras" aqui do blog, registrando a minha busca pela churraca, desta vez, ideal.

    Assim sendo, torçamos para que a minha brava companheira não decrete a auto falência múltipla dos próprios órgãos, enquanto eu procuro uma nova.

    Aceito dicas, sugestões, palpites e todo tipo de críticas a respeito da minha insuportável falta de controle emocional. Afinal, se tivesse deixado os amigos fazerem o seu trabalho, eu JÁ teria a churraca que estou agora procurando.

    Churrasqueira de tijolo roubado 2

    Eu moro em São Paulo. Sou paulistano mesmo, de comer pastel na feira com caldo de cana e pegar 170km de engarrafamento pra chegar em casa achando isso normal. Falo "ô loco", chamo os amigos de "meu" erro compulsivamente o plural das palavras. Saio na minha sacada e vejo 8 mil janelas. Isso é ser paulistano. Mas uma coisa que você talvez não saiba é que eu tenho um pezinho na praia. Um pezinho não, tenho até a canela enterrada num pequeno pedaço de areia litorânea que responde pelo singelo nome de Bertioga.

    Minha família é de Bertioga, meus amigos são quase todos de Bertioga, meus pais se conheceram em Bertioga, provavelmente me conceberam em algum ponto daquela areia toda (aliás, eu prefiro não tocar nesse assunto, credo!). Conheci a minha esposa lá em Bertioga, e não adianta que não conto o que aconteceu em algum ponto daquela areia toda (ela deu bronca, esquece esse ponto). O nome da rua da minha casa é o nome do meu avô... Aposto que o primeiro português que pisou em Bertioga saboreou algum chucrute lá na casa da minha bisavó, que, pasme, tinha um metro e meio, mas era alemã. Dona Mina, o nome dela.

    Eu já falei dessa minha bertioguice aqui no blog uma vez. Na vez em que eu esclareci alguns procedimentos sorrateiramente adotados pela população local. Procedimento este ao qual também aderi, como apresentado no post sobre a churraca de tijolo roubado.

    Pois, depois de alguns anos distante, preparei o corpo e a alma pra passar novamente um ano novo em Bertioga. Os acontecimentos foram, como de praxe, insólitos.

    O chuveiro queimou, básico. Quando consertamos o chuveiro, a água acabou, básico de novo. Fui descalço pular 7 ondinhas e cortei o pé, básico. Um rojão não subiu e causou pânico na praia, básico. O anelzinho da minha lata quebrou sem que eu conseguisse abrí-la, básico. Um bêbado podraco tentava abrir minha lata com um pedaço de lixo enquanto eu bebia a pinga dele no bico, básico. Ele conseguiu e nos abraçamos como irmãos, básico de novo. Assim é Bertioga. Um lugar onde tudo acontece. Os acontecimentos acima citados são absolutamente verídicos, aconteceram num curto espaço de tempo e, acredite, em Bertioga, não são exceção: são regra. E o pior de tudo; isso é legal DEMAIS!

    Bom, assim que entramos em 2011, lembramos que o professor sempre nos ensinou que o que importa são os 3 pontos e decidimos dedicar nossa existência a um único e improvável objetivo: obter sucesso com um churrasco onde ninguém tinha tomado banho, a ser realizado na famosa casa da Rua Manoel Gajo, que não por acaso, foi meu avô. E, já que o corpo tava sujo, decidimos também sujar a alma, a mente e a nossa pouco valiosa reputação.

    A questão mais importante era que nós tínhamos cerveja, gelo, carne e carvão, mas.... não tínhamos uma churrasqueira. Seu Manoel Gajo, o engenheiro da casa que, do alto do mais lusitano bigode que o sobrenome possa denotar, fez de tudo na residência, mas não construiu uma churrasqueira.

    Pois eu, contrariando o ditado que diz que uma geração constrói e a outra destrói, decidi construir uma churrasqueira na casa. A singela contribuição da minha geração para com as próximas, num imóvel que já abriga a quarta geração luso-germânica que compartilha daquele habitat.

    O detalhe é que, tal e qual o costume local, nossa construção seria provisória, e feita sob os mais imorais pilares da construção civil: furto e gambiarra.

    Vai ter copa e olimpíada no Brasil logo, logo. Abre o olho pra esse post, porque ainda vem muita gambiarra seguida de furto por aí. Mas isso é assunto pra outro post. Vamos aos fatos que nos permeiam neste momento: eu estava na casa da família, com tudo pra fazer um belo churrasco, menos uma churrasqueira.

    Lembrei da obra realizada no barracão há pouco, e perguntei à minha tia sobre os tijolos que haviam sobrado dali. Foram roubados, foi a resposta.

    Diante dos fatos, a malufice se apossou da minha alma, e decidi: vou roubar os tijolos. O mais beato dos leitores, seguidor de todos os dez mandamentos, pode abandonar o blog neste momento, porque os fatos que irão seguir ferem mortalmente a moral, os bons e até alguns maus costumes. Vem comigo, prepare o seu habeas corpus, porque a gente ainda vai roubar muito tijolo nesse mundo.

    Começando do começo, todo bom ladrão precisa de uma quadrilha. Isso nos coloca alegremente no artigo 288 do código penal, antes que me pergunte. Não se preocupe, você terá direito a um telefonema e advogado, e tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal!

    Olhei em volta e sussurei com certo sarcasmo: "precisamos de tijolo. quem tem coragem?". Antes que você possa discar 190 e fazer uma denúncia anônima, dois cabras da peste se alistaram: Brunão e Fernando da boina. Uma quadrilha que tem um descendente de português, um Brunão e um cara de boina tem periculosidade garantida. A menos que o português faça alguma lambança, mas nós sempre contávamos com a sorte da probabilidade a nosso favor.

    Formado o bando, só faltava uma diligência. Pois prontamente surgiu um alazão, fazendo menos de 6km por litro no álcool, e quem faz menos de 6 na cana, merece respeito, parceiro. Aposto que tu dá PT consumindo desse jeito.

    Diligência, bandidos, álcool, bandidos dentro da diligência, álcool sendo consumido a 6 por km, lá vamos nós procurando uma obra para, educada e matematicamente, subtrair temporariamente os objetos necessários para a construção da faraônica churraca da casa da rua Manoel Gajo. Tenho certeza que vovô ficaria orgulhoso de mim.

    Avistada uma obra, a diligência dirigiu-se ao local mais adequado para tão vil prática. Em questão de segundos, uma pilha de tijolos havia misteriosamente se movido pra dentro da diligência.

    Foi quando, de repente, não mais que de repente, um zelador aparece esbravejando contra a diligência que, do alto dos seus cento e poucos, muito poucos, cavalos, desligou o ar condicionado pra ganhar mais um tico de potência, engatou a primeira e quase morreu porque o porta-malas tava cheio de tijolo e pesado pra caramba e dali evadiu-se, de portas abertas e arrastando os meliantes, que, na tentativa de explanar ao zelador todas as boas intenções de seus atos, acabaram por evadir-se. A cena com o pessoal pendurado fechando as portas enquanto descíamos da calçada fez inveja a bruce willis, fez corar angelina jolie e deixou de tanga froxa o governator, alrnold swchrtzeamsncsjnkjndfksndf. o nome é difícil, você entendeu.

    O fato é que chegamos em casa munidos de tijolos pra construir uma casa popular, e tudo o que nos faltava ali era brincar de lego. Além do Lego, bastava lançar mão de toda a gambiarra disponível e voilá! Habemos churraca!

    As fotos falam por si só. Piso de ardósia, carrinho de feira e grade do forno da vó foram parte integrante dessa verdadeira lambança. Tudo milimetricamente calculado.

    Em tempo: todos os tijolos foram, conforme a expectativa, roubados por outrém na segunda semana de 2011. Por isso que eu amo esse lugar. Não há pecado em Bertioga.

    Na tela:

    Sente só a intensidade de engenharia alternativa aplicada. Gambiarra, se preferir.

    Ainda tinha esse probleminha com o tijolo que pendia pro lado, por conta da grelha.

     Como resolver? Gambiarra, claro!
    Um pedaço de lajota com cimento coloca tudo no seu devido lugar. Tudo muito seguro!


    Agora sim! Já dá pra deitar uma costela de 5,5kg com a grelha do fogão, com toda a segurança.

     Quéops, quefrem, miquerinos e a churraca de bertioga. Patrimônio da humanidade!

    O carrinho de feira segurava a lajota de ardósia, que segurava o calor dentro da churraca.
    Tudo meticulosamente calculado.

    Carrinho, você nunca foi tão útil na sua vida! Esquece o alface, teu trabalho é escorar a costela, parceiro!

    Meteu fogo, nada caiu. Mais um empreendimento de sucesso da Gato na Grelha Inc.

    Em pleno funcionamento. Recomendo aos incautos que protejam também a frente.
    Esse buraco queimou a minha coxa. Mas pra quem não tinha churraca, o que é uma passada de hipoglós?

    malandro é o gato que já nasce de bigode. Na minha terra, malandrage tira foto contra a luz pra não deixar B.O. compana. 

    Receitas de panela: Filé ao molho chateaubriandt

    Começo este post num lindo dia de verão perguntando ao nobre leitor porque diabos essa receita tem um nome tão emboiolado?

    Respondo: Porque o nome emboiolado no caso não pertence, necessariamente, à receita. Mas sim ao nada pacato cidadão que a inventou. Peçamos ajuda à wikipedia, que nos fará as devidas apresentações.
    "Figura polêmica e controversa, odiado e temido, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro, e acusado de falta de ética por supostamente chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e por insultar empresários com mentiras, como o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império teria sido construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo uma proximidade tumultuada porém rentosa com o Presidente Getúlio Vargas."
    Na verdade, a wikipedia conta muito mais coisas a respeito, mas vamos combinar: essa é a parte que a gente mais gosta da história.

    Resumindo: nosso herói aqui era um verdadeiro canalha. Cachorro, safado, vagabundo, já diria a cantora de axé. E se é isso que temos pra hoje, bora comigo nessa receita que, embora tenha origens inescrupulosas, pode lhe trazer inúmeras vantagens.

    Imaginemos uma situação absolutamente hipotética. Imaginemos que você é não é um vagabundo. Não é um cachorro, safado, sem vergonha. Você não gasta, e nem gostaria de gastar, 100% dos seus rendimentos em cerveja, sinuca, pay-per-view e mulher da vida. Nada disso. Você, na nossa imaginação, é um cara centrado, tem uma garota que faz esse seu coraçãozinho de frango palpitar, e tudo o que você precisa nessa vida é convencer essa garota imaginária a juntar as cuecas com você e (mudando irresponsavelmente o tempo verbal só pra caber) foram felizes para sempre. Ou seja, vamos usar a canalhice do nosso herói a nosso favor.

    Oka. Temos uma garota e um cara querendo pegar essa garota. Tudo o que precisamos é de uma estratégia para fazer a nossa caça entrar na arapuca e CRÉU linda e doce garota encontrar o amor da sua vida diretamente na sua pessoa.

    A estratégia consiste em convidar a garota para um jantarzinho sem compromisso, e mandar a receita que nosso canalha inventou. Na tela:

    Bota 1litro dagua pra ferver, com um bloquinho de caldo de costela dentro. Pode ser caldo de picanha, caldo de carne, enfim. Particularmente, o caldo de costela foi o que melhor se adaptou a essa receita até hoje. E olha que eu já fiz esse prato muitas vezes. Todas para a minha esposa, antes que o mais mente suja dos leitores pense mal a respeito deste que vos escreve.

    Quando ferver, joga lá dentro meia garrafa de vinho tinto seco. O ideal é comprar um vinho barato, porque ele vai pra receita. Mas não, necessariamente, um vinho vagabundo. Porque pode ser que você não jogue todo o vinho na panela, e nesse caso, aposto um rim como você vai beber o tal vinho. E se ele for muito vagabundo, quem compromete o rim é você.

    Na sua geladeira deve ter um pote escrito "manteiga". Vai por mim, é isso que tá escrito lá e tem uma pasta amarela dentro. Dá uma olherada generosa naquele negócio e joga dentro da panela. E não me venha com aquela doriana que isso aí é coisa de gente doente. Manteiga, feita de leite de vaca, cheia de colesterol, é disso que eu tou falando. Se não tem manteiga, desliga o fogo e vai comprar. NÃO JOGUE MARGARINA EM COMIDA BOA, isso tá entendido?

    Enquanto ferve, dê uma golada no vinho e picote uns 100gr de champignon. Picote, não. Fatie. O cogumelo fica bonitinho fatiadinho na receita. Recomendo veementemente que compre o cogumelo correto no mercado, e não vá pro mato buscar o seu, sob sério risco de pegar um cogumelo alucinógeno e mandar pras cucuias toda e qualquer possibilidade de se dar bem com a garota. Pensa no lance dos hippies. Não queremos ver você assim, ok?

    Aproveita, descasca e corta umas 4 batatas, joga um caldo de carne dentro, cobre com água e bota pra ferver. Deixa lá e continua com a receita. O único trabalho é se certificar de que a água não secou. Se precisar, completa o tanque de vez em quando. O seu com cerveja, o das batatas com água.

    Quando ferver, prepara ae que tá chegando: Pega um copo, coloca umas 5 colheradas desse molho fervente que tu ta fazendo. Coloca mais uma golada sarada de vinho. Caldo quente + vinho frio = conteúdo morno no copo. Disso que você precisa, de conteúdo morno.

    Beleza, agora pega farinha de trigo e manda umas 3 colheradas dentro do copo, e mexe rapidão pra não empelotar. Na real, vai empelotar um pouco sim, mas o que importa é fazer o melhor que você puder. E aqui, nós acreditamos no potencial dos nossos leitores. O lance do morno é importante pra mexer farinha. Se estiver fervendo, cozinha a farinha e empelota geral. Se estiver frio, não mistura.

    Mexeu? Agora manda pra panela, mexendo rapidão de novo pra não empelotar de novo. Mete o fogo no máximo, ajuda a não empelotar pela terceira vez. Mexe a cadeira. Vai mexendo bonitinho, gostosinho, rebolando até o chão [/banda de axé].

    Beleza, quando não tiver mais nenhuma pelota, manda lá pra dentro o pote inteiro de champigon. Com água e tudo, vai na fé.

    Baixa esse fogo aí. Vai pras carne, parceiro. Ir pras carne é sempre uma coisa legal, entenda como quiser. Mas eu sei que você gosta.

    O trabalho agora é fritar alguns filés. Pode ser filé mignon, ou um contra-filé, alcatra, desde que bem limpinhos, ou seja, sem nervos. Encarna o zezé de camargo e luciano e manda nele o seu tempero favorito [/é o amooooooooooor].

    Enquanto a panela fica engrossando aquele caldo que você fez com o vinho, vai fritando os bifotos e mandando um por um pra dentro da panela. Mexe e deixa lá no fogo baixo. Vai notar que o seu molho começa a ficar marrom, quando antes ele era vermelho. É a carne começando a perder o seu suco pro molho. No frigir dos ovos, embora nesta receita não vá ovos, é que carne perde suco pro molho, que perde molho pra carne e vira tudo uma grande suruba. Mas, se o teu objetivo era derrubar a garotinha, vai nessa linha que o caminho é esse mesmo.

    Bacana, tá quase pronto. Lembra daquelas batatas que ficaram na panela? Pois é, aquilo deve estar uma verdadeira moleza. Espeta uma com um garfo, se ela desmanchar, tá no ponto. Desliga a panela, joga a água fora e amassa bem. Use instrumentos, você vai saber qual o mais adequado pra amassar batatas. Uma colherada de MANTEIGA dentro ajuda a ficar mais legal. Tá pronto.

    Ponha a mesa com toda a elegância que eu sei que você não tem, come de boca fechada, não arrota e não fala com comida na boca. Faz teu prato e janta tudo junto: vinho, purê, bife, molho e garota. A garota pode ficar pra depois.

    Um rango que pode mudar o seu estado civil, te ajudar a pegar a mulher dos teus sonhos e deixar o zé mayer no chinelo.

    PS: eu sempre fotografo os pratos que eu faço. Este, eu já fiz mil vezes. E acabei de descobrir que não tenho uma foto sequer dessa iguaria. Mas assim que fizer, posto aqui.

    Custo: É caro, vai vinho e carne boa. Mas pensa nisso como um investimento. Só faça se a garota valer a pena.
    Tempo de preparo: Umas 4 latinhas. Ou o tempo de você matar a meia garrafa de vinho que sobrou. Não seja estúpido de estar embriagado na hora de... enfim, você entendeu.
    Rendimento: Controverso. Se você casar com a garota, seus rendimentos estarão comprometidos pro resto da vida. Definitivamente, uma receita que pode te levar à falência :-)

    Receitas de boteco: Frango à passarinho

    É natal! Época de celebrar, época de felicidade, de alegria, não é mesmo, caro leitor? Época de encher a cara de rabanada e champanhe vagabunda. A gente gosta muito disso, mas aqui na suntuosa redação do DGG, o motivo da comemoração é outro. Aqui não tem vez pra presentinho, não tem bom velhinho barbudo com roupa vermelha de frio no calor e muito menos jingle bells.

    O real motivo da comemoração aqui é a vitória intelectual imposta aos nobres leitores, através da última charada, que NENHUM, absolutamente NENHUM leitor conseguiu acertar. Conforme a tradição, nós mandamos 3 dicas, e aguardamos os sabichões, que sabiamente costumavam desvendar os mistérios da produção alimentícia em frações de segundos. Mas desta vez foi diferente, e seja pela inebriável malemolência da proximidade das férias de fim de ano, ou seja pela igualmente inebriável lactência do álcool advindo da festa da firma, do happy hour ou do amigo secreto, a verdade é que nossa charada foi simplesmente indecifrável. Te cuida, Dan Brown, que de enigma aqui a gente entende.

    A receita de hoje é, além de figura do indecirável, um verdadeiro teste de lógica. Frango à passarinho, frango à passarinho... Não cabe, não cola, não combina. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, já diria o lógico leitor. Como que eu vou fazer um frango virar um passarinho? É como passar um camelo pelo buraco de uma agulha, como passar o elefante pelo buraco da fechadura, como passar uma girafa pelo desfibrilador. Ok, desfibrilador não tem nada a ver, mas eu gosto da palavra e acho que poderia ser legal dar uns trancos na girafa. Melhor, faz o seguinte: esquece que eu escrevi isso aí e foco no frango e no passarinho.

    Vamos tratar de passarinho. De passarinho você entende, certo? Na hora de bater aquela foto, sempre tem um que manda um "olha o passarinhô!". Quando o zíper da calça escorregava, a mãe sempre mandava um "o passarinho tá querendo fugir", enfim. O fato é que o passarinho faz parte da vida da gente. Agora pensa no frango.

    Ao contrário do passarinho, que faceiro e feliz sempre ilustrou nosso imaginário, o frango nunca teve papel relevante em nossa existência. Frango, pra gente, sempre foi comida. Acorda, come milho, engorda, morre e vai pra panela. Vida dura, essa do frango. Salvo a possibilidade de você morar numa granja, aposto um rim como você já viu umas cem vezes mais frangos mortos do que vivos, certo? Isto posto, façamos um dois em um e mandemos esqueleto adentro um frango, à moda do passarinho. O grande do jeito do pequeno, já diria a charada (que ninguém acertou DURMAM COM ESSA, SABICHÕES).

    Comecemos pela parte violenta da brincadeira. Como fazer um frango ficar todo picado, parecendo uma carnificina de passarinhos? Simples, temos duas opções. A primeira é comprar um frango e picotar desgovernadamente. A segunda é pedir ao açougueiro (ou granjeiro, ou jason, ou o chuck norris) que o faça. A menos que tenha problemas sérios, muito sérios em relação à sua taxa de colesterol, recomendo veementemente que não retire a pele do frango. É lá que mora a maior parte da alegria de consumir tal iguaria.

    O tempero do frango é a primeira parte da nossa aventura. Para 1/2kg de frango, você deve picotar uns 3 dentes de alho, e jogar todo mundo no mesmo balaio numa bacia ou pote, onde você possa operar uma verdadeira lambança posteriormente.

    Jogue ao frango e ao alho, uma mãozada moderada de colorau. O colorau é um pó vermelho, feito à base de semente de urucum, levemente apimentado. Vai na fé e manda uma mãozada moderada lá. A mãozada moderada é aquela medida de dosagem, onde você mete e mão e manda pra dentro, mas sem, necessariamente, encher a mão. Afinal, você está fazendo um frango a passarinho, e não um colorau a passarinho.

    Pra completar a festa, jogue junto uma golada de azeite. Lembrando que não é necessário encher a boca de azeite para depois cuspí-lo no frango, sob pena de graves consequencias intestinais no caso de ingestão acidental. Apenas tenha em mente o quanto seria uma golada, e despeje diretamente da garrafa para o frango.

    Adicione uma porção de sal. Você é um cara sabido, já temperou a própria salada naquele restaurante por quilo, e sabe quanto de sal é necessário pra fazer o seu frango ficar temperado. Não deixe sem sal, não salgue demais. Tenha comedimento nessa sua alma de ogro, eu sei que você consegue.

    Agora, feche a tampa do pote, misture bem. Pra misturar, mande uma macarena naquele rádio velho e comece a chacoalhar o esqueleto segurando um pote cheio de frango. Direto da série "coisas que provam o quanto você é doidão". Misturado, deixe ele de lado. Não, necessariamente de lado, poderia derramar o tempero sobre a pia. Apenas deixe ele ao lado de algum outro objeto à sua escolha. Você entendeu.

    Próximo passo: alho frito. Precisamos de alho frito, muito alho frito. Você pode comprar o alho já em tais condições, ou fritar o seu próprio alho, o que sempre garante um toque de qualidade a mais na sua vida [/propaganda de margarina]. Vamos pelo caminho mais longo e tortuoso, fritemos nosso alho.

    Picote uns 5 dentes de alho. Sabe quando tem uma pedra no seu sapato? Então, cada tequinho de alho tem que ficar mais ou menos daquele tamanho. Do tamanho de uma pedra de sapato.

    Isto posto, pegue a menor frigideira que você tiver. Eu tenho uma pequeninha pra fazer hamburger que é perfeita pra isso. Dê uma pequena golada de azeite nela, e coloque no fogo baixo. O alho queima muito rápido, então você tem que ser ligeiro no gatilho. Jogue os alhos no seu sapato e saia pelo mundo com o pior chulé do mundo na frigideira, e mexa um pouco com uma colher. Um minuto depois, tá todo mundo pronto. Quando eles começarem a ficar marronzinhos, tá no ponto. Você precisa tirá-los dali e colocar todo mundo sobre um guardanapo, ou algum papel que ajude a secar a gordura. Assim, o azeite escorre, e o alho fritinho fica bem seco e crocante. Só isso aí já é um quitute. Um quitute que dá bafo, que dá azia e que te faz transpirar alho por horas. Conforme a charada, destrói relações (CHOREM). Depois de comer alho frito, não beije a sua mãe, não beije o seu pai, não beije a sua namorada... Por favor, não beije ninguém. Nós sabemos que nessa época de natal até o mais viril dos leitores fica cheio de amor pra dar, mas... Amor e alho não se combinam, entenda isso.

    amor aos pedaços

    Abra uma cerveja. Isso é absolutamente necessário para o bom funcionamento do resto dos procedimentos. Beba e seja feliz. Continuemos com a receita.

    O trabalho agora é fritar o frango, que a essa altura, já absorveu bem o tempero. Cuidado, isso faz barulho, faz furdúncio na frigideira, espirra, explode, uma lambança. Na charada, fazia bolha (essa foi fácil. Francamente, viu...). Tenha em mãos uma frigideira funda, com uma boa quantidade de óleo bem quente. Existem umas tampas pra frigideira que te ajudam a fazer muito menos lambança. Se tiver, use. Se não tiver, prepara o pinho sol que a limpeza amanhã vai ser pesada.

    Bom, o trabalho de fritar, creio eu, não precisa ser lá muito explicado, não é? Quero acreditar que você já imaginou que basta jogar os pedaços de frango no óleo quente, e deixar lá até que pareçam com um frango à passarinho. Quero acreditar que você já comeu um frango à passarinho. Ou que pelo menos viu um. Uma boa dica é observar a pele, que deve ficar bem crocante. Não a sua, a do frango, parceiro.

    Quando chegar nesse ponto, tá pronto. O frango fica bem douradão, com a cor da Juliana Paes. Isso, quando estiver da cor da juliana paes, tá no ponto. Basta arrumar um prato coberto com papel gordura que, ao contrário do nome, não vem cheio de gordura. Jogue lá todo o frango, jogue o alho sobre o frango e seja feliz.

     - tô no ponto!

    Se a juliana paes tá no ponto, o nosso frango não faz por menos. Na tela:

    eu vô.

    Custo: 1/2kg de frango picotado e com pele custa uns R$5,00
    Rendimento: Uns 10 pedaços. Dá pra umas duas pessoas.
    Tempo de preparo: duas brejas na preparação, uma na fritura. Sirva contente.

    Drops de Churrasco - Ed. 9

    Hoje me dei conta de que o último post gerou, até o momento, 138 comentários. Além de me dar uma sensação de satisfação muito bacana, o fato me leva, mais uma vez, à conclusão de que, nesta espelunca, os comentários valem mais do que os posts. Me leva também à conclusão de que os ilustres, letrados e lustrosos leitores deste blog andam produzindo muito mais conteúdo que eu. E, como conclusão pouca é bobagem, brilhantemente concluo aqui que, definitivamente, preciso melhorar a frequencia de publicação no blog. Porém, como posso concluir, os sapientes leitores aqui concluirão que não abandonei o blog: apenas estou trabalhando no comércio na época de natal. O couro tá comendo, a coisa tá fedendo e o bicho tá pegando. Mas essa semana eu vou surpreender todos vocês: vou publicar dois posts até o natal. Este e mais um outro. Vai contando.

    E já que este é um deles, vem comigo nessa longa estrada da vida, que tem um drops de churrasco aqui prontinho querendo sair da minha cabeça oca direto pras linhas desse mal-falado blog.

    Prejuízo à vista
    E, já que estamos começando, vamos começar mal. Começamos falando de prejuízo. Já tomaste um prejuízo? Preju é quando o dinheiro que deveria estar na sua carteira, na sua conta bancária ou no seu colchão sai de tal local inerente à sua vontade. É a representação mais clara e possível do "perdeu playboy". E o que mais tem acontecido com o preço da carne nesse final de ano é perdeu playboy. O preço da carne anda muito, muito alto. Ontem mesmo vi uma peça de fraldinha custando 39,90/Kg, quando antes não passava de 18. Uma picanha comum tem custado mais de R$65,00/kg. Ou seja: não anda sendo um bom negócio comprar carne bovina. E porque isso acontece? Sinceramente: não sei. Mas ouvi uma coisa essa semana que me deixou de orelha em pé. O açougueiro do pão de açucar me contou que os frigoríficos tiram muita carne do mercado nessa época de propósito, em função da maior procura pelas outras carnes, fazendo com que o preço suba absurdamente, mantendo o faturamento em dia mesmo vendendo menos. Será que isso procede? Não sei se esse papo é verdade, mas na última semana, comprei cordeiro e salmão pagando menos que carne de segunda. Atenção, senhor dono do boi: tenha piedade dos bolsos destes pobres churrasqueiros!

    Moço, tem uma vaca no seu telhado
    E eis que ao longo da semana passada aconteceu um acidente no qual eu adoraria estar envolvido. Com o preço da carne nas alturas, um cidadão de Ipatinga MG, teve a singular oportunidade de ter uma vaca caindo do céu. Diretamente no telhado da sua casa. A vaca tava ali no barranco, comendo capim, abanando mosca, peidando e detonando a camada de ozônio, quando pisou em falso e catapimba: rolou barranco abaixo até cair no telhado da casa do cidadão. Eu não chamava nem o bombeiro, mandava logo uma brasa debaixo da mimosa. Ia ser uma fanfarrice buscar a carne do churrasco de escada. Amigô, se cair aqui em casa, vira festa. Veja com seus próprios olhos.

    Promoção compre e perca
    E, já que estamos falando de coisa errada, seja com preço alto de sacanagem, seja de vaca rolando barranco, vamos falar de uma determinada "promoção" que tá rolando por aí. Uma churrascaria que cobra a bagatela de R$85,00 por pessoa no rodízio, resolveu sacanear duas vezes os seus pobres consumidores. Sim, sacanear duas vezes, porque eu acho uma verdadeira safadeza cobrar R$85,00 por pessoa nun rodízio, fora as bebidas. Enfim, o gênio do marketing resolveu colocar num desses sites de compra coletiva, a benevolência de vender o seu rodízio a R$10,00. Até aí tudo bem, não fosse o fato de que a benevolência só seria válida, caso o comprador estivesse acompanhado de outra pessoa... pagando R$85,00. Ou seja: você economiza setenta e cinco reais, e continua levando um prejuízo. Bacana, né? É o tipo da promoção oba, tou fora!. A dica foi do leitor Markito Mesquita, via twitter. Valeu, broda!
    O link é esse aqui.

    O que é, o que é?
    E, se aqui tem drops de churrasco, tem que ter também o nosso já conhecido "teaser". Uma charada metida a besta, na realidade. Pra quem tá chegando agora, nós, eu e os leitores do blog nos juntamos numa grande alegria, onde eu dou 3 pistas sobre o próximo post, tentando ludibriar os leitores, que sempre mostram toda a sua volumosa intelectualidade e rapidamente desvendam o mistério, acabando imediatamente com a minha graça. Pois hoje tento, mais uma vez, enrolar-vos com 3 pistas que mostrarão qual a próxima receita desse blog. Vamos a elas:

    1. É o grande, do jeito do pequeno;
    2. Faz bolha;
    3. Destruidor de relações.
    Quero ver se dessa vez algum espertinho vai conseguir.

    Bife à milanesa: o melhor presente que eu já ganhei

    Eu tenho um amigo chamado Beto. Aposto que você também tem. Se não tem, conhece alguém que tem. Beto é o cara. Se o teu amigo Beto não é o cara, tudo bem. O meu amigo Beto, definitivamente, é o cara. E eu compartilho esse cara com você. Vem comigo conhecer o figurão, eu acho que você vai gostar.

    Bom, o Beto nasceu Roberto, mas nasceu magro como um prego, e logo ganhou o apelido de Betinho. Assim ficou até os 16 anos dele, quando o destino fez com que nossos nomes aparecessem na mesma lista de chamada, num lugar incrível chamado OSEC. Postado no meio do mato da represa de guarapiranga em são paulo, esse lugar, teoricamente, deveria ser o nosso colégio. Mas no fundo acabou sendo o local mágico onde nós, inconscientemente, forjávamos as nossas personalidades, que precariamente, perduram até hoje.

    Pois o magrelo moleque Betinho, aos 16, matriculou-se na OSEC e caiu na classe do multirepetente Daniel, que aos 18, ainda encontrava-se passando pelo penoso processo de alfabetização, do qual jamais conseguiu obter sucesso. Mas isso é assunto pra outro post. Ou nenhum, enfim.

    O que importa é que eu e o Betinho logo tivemos aquela empatia mútua que acontece com os verdadeiros amigos. Aquela coisa que te faz olhar pra um cara qualquer como se fosse um irmão. Se você já teve um amigo assim, sabe do que eu tou falando. E é disso que eu tou falando.

    Só que chamar um marmanjo magrelo de betinho depunha contra todos os planos que tínhamos em relação às gatinhas da escola (e eles eram abiciosos, acredite), e eu precisava dar um jeito de mudar esse nome de boiola. Mamãe te chamar de Betinho tá bom, parceiro. Mas aqui não rola, não. Aliás, eu nunca coloquei apelido em ninguém, e nem gosto disso, mas tenho uma mania idiota de ficar mudando o nome das pessoas para variantes esdrúxulas. Mas eu não faço isso pros outros, faço pra mim. Desde sempre, e nunca entendi porque. Mas eu faço isso. Sente o drama.

    O Betinho logo virou Beto, que virou Betolúncio, que acabou virando Bob Lúcio (pra rimar com o lúncio, não porque ele seja lúcio), que depois virou Roberto Lúcio, que depois virou Betim, Betão, e, finalmente, achei que seria bom mesmo parar com essa loucura e chamar o cabra de Beto. Assim, eis o Beto. Um magrelo, ruim de bola, apaixonado por melancia, chato e transparente como a água.

    No auge da adolescência, eu e o Beto descobrimos juntos as mais extremas consequencias do fato de desencanar da vida, não ter medo do amanhã e curtir desgovernadamente o fato de ser moleque. E nós fizemos isso de acordo, pode acreditar.

    Nós saíamos de balada tendo apenas o dinheiro da ida do ônibus e da pinga com mel. Depois dormíamos num caixa eletrônico qualquer e voltávamos a pé de manhã. Independente da distância, o que importava era curtir a balada. No fim das contas, sempre chegávamos em casa.

    O Beto aceitou ir pra praia comigo sem ter dinheiro pra chegar nem lugar pra ficar e nem nada pra comer, o que nos fez descer na beira da Rio-Santos à meia noite pedindo carona. Carona esta que foi concedida por um cara completamente louco, cheirado e embrigado que desafiou todas as leis da física durante o percurso. Inclusive aquela que diz que não conseguimos enxergar na estrada à noite sem ligar os faróis a 160km por hora.

    O Beto foi o cara que me deu a mão pra segurar enquanto o médico costurava a minha testa sem anestesia porque eu levara uma pedrada bêbado numa briga. O Beto foi o primeiro cara pra quem eu contei que a minha namorada estava grávida e eu seria pai aos 22. O Beto foi o cara que não desistiu de mim quando eu mesmo queria desistir. Por essas e outras, muitas outras, que o Beto é o cara.

    Esse climão de final de ano me lembra de uma história ótima. Num dia 24 de dezembro de mil, novecentos e noventa e algo, estava eu tentando dar um jeito de retibuir ao amigo Beto todas as risadas que a amizade dele havia me proporcionado naquele ano. Mas a gente era um bando de pé-rapado e o dinheiro que eu tinha mal dava pra comprar uma par de meias. E como meia é presente de vó, lá estava eu pensando em alguma surpresa pro meu bródi quando passa na frente de casa um caminhão vendendo melancias.

    Não houve meio segundo pra decidir: O cara é meu amigo e merece um presente? Sim, é. O cara gosta muito de melancia, não gosta? Sim, gosta. Então, a melancia lhe será o presente que papai noel ofertará.

    Comprei a mais bela das melancias, lustrei com cera de carro (ninguém conta isso pra ele, pelamordedeus), peguei um cetim velho de casa, fiz um laço e prendi com um prego na melancia e voilá! Tinha em mãos um presente que eu SABIA que seria um sucesso.

    Peguei o 677-V Vila São José - Jabaquara e lá fui em em direção a Interlagos entregar o presente pro meu companheiro.

    Juro que a idéia arrancou risadas do motorista, do cobrador, dos passageiros, do pessoal na rua, do pai, da mãe, das irmãs, dos vizinhos, dos parentes e até do Beto. Foi o presente de Natal mais idiota que eu já dei pra algúem.

    O Beto, que não era menos idiota, posicionou o "presente" embaixo da árvore e deixou ali, à vista de todos os parentes que viriam para a festança prestes a rolar na sua casa momentos depois.

    Alguns meses se passaram, até que o meu aniversário chegou. Meu amigo Beto, já conhecedor dos meus gostos, pediu à Dona Judith, sua mãe, que me preparasse um presente à altura. Pois veja qual não foi a minha surpresa quando, na minha festa de 19 anos, me aparece o Beto com uma caixa recheada com 1kg de bifes à milanesa de presente.

    Como os leitores deste blog são os mais astutos e sagazes de toda a internet, posso imaginar que já sacaste que o tal bife à milanesa é o prato que eu mais aprecio neste Brasil varonil. E, claro, os leitores aqui não erram, e olha só: Bife à milanesa é mesmo o meu prato predileto. Vamos a ele.

    A carne:
    Bife à milanesa é genial porque pode ser feito com carne de primeira, carne de segunda, carne de terceira e até um filé do gato da sua vizinha serve pra preparar a iguaria. A carne só não pode ter uma coisa, nervos.

    Particularmente, recomendo aquelas bandejinhas de alcatra que encontramos no mercado. Bifes finos, com pouca gordura e sem nervos. Tá perfeito pro bifão à milanesa.

    Na tela:



    O tempero:
    Mesmo que essa iguaria tenha aquela casquinha deliciosa, não é lá que está o tempero. É no bife. O tempero, em si, não tem segredo. Separa um pote grande, onde você vai poder fazer lambança. Pra 1/2kg de carne, você deve picotar dois dentes de alho. Picota pequeno, compana.
    Depois, você dá uma pitada de pimenta do reino, uma tacada de orégano, e eu tou confiando que você vai saber o quanto de orégano vai numa tacada. Depois uma golada de azeite, uma beiçada de sal e, entre pitadas, tacadas, goladas e beiçadas tá pronto o seu tempero. Basta sapecar a carne dentro do pote e mexer. Aí que mora a lambança. Você tem um monte de carne e tem que misturar aquele ex-boi todo no temperão que fez. Vai sujar, te garanto. Se você não se suja ao cozinhar, eu desconfio de você. Bola pra frente.

    Na tela de novo:



    A casquinha:
    Aqui reside o diferencial desse maravilhoso prato. A casquinha do bife à milanesa é a cereja do bolo, é rainha da bateria, é o capitão nascimento do bife à milanesa. Ou seja, sem a casca, parceiro, teu bife é de moleque. Só um bifinho, não é um clássico, não é um bife à milanesa.

    Pra fazer a casquinha, te prepara pra fazer mais lambança. Inicialmente, abra o armário da tua casa  e separa 3 pratos. Isso mesmo, 3 pratos.
    1. No primeiro, você enche de farinha de trigo. Se tu não sabe qual é, vai naquela branquinha que parece talco. Talco, brow. Não pensa besteira porque isso aí é roubada e além disso, o capitão nascimento tá de olho.
    2. No segundo, quebra um ovo e taca lá dentro. Com um garfo, faz o capeta comer solto até que gema e clara virem apenas uma coisa: uma gosma.
    3. No terceiro, encha de farinha de rosca. A dica do século é: pegue um pão velho e rale, parceiro. Já não ralaste o peito em situação oportuna? Pois use da sua experiência e rale o pão. 
    Sabe quem foi Henry Ford? Foi o cara que inventou a linha de produção. Funciona assim: antes, um mesmo pião pegava todas as peças e montava o carro inteiro. Aí, o cara inventou uma esteira onde as peças iam andando, e cada pião apertava o seu parafuso. Aposto que conhece essa história. Se não conhece, devia repetir de ano várias vezes, como eu fiz :-)

    Faça da sua cozinha uma linha de produção. Primeiro, você tira o bife do tempero, e passa ele na farinha de trigo. Tira ele branquinho e chafurda naquele ovo nojento. Do ovo, jogue ele na farinha de rosca e dê umas viradas nele. O resultado final é um teco de carne coberto com 3 camadas, sendo uma de farinha branca, uma de ovo e uma de pão ralado.

    Na tela, mais uma vez, e mais outra vez:




    A fritura:
    Agora é só fritar o bifão. Pega uma frigideira, e enche de óleo. Não precisa, necessariamente, encher. Mas o suficiente pra cobrir os bifes tem que ter. Mete no fogo e deixa esquentar bem. O segredo do bom bife é esquentar bem o óleo.
    Depois disso, faz o simples: deita cada bifão com o cuidado pra não encostar esse dedão de ogro no óleo, deixa encher de bolha e fazer o furdúncio, vira uma única vez e tira. Convém deixar o bifoto descansar alguns minutos no papel toalha. Depois coma e seja feliz.

    A felicidade na tela:


    Palhaço Ronald, entenda o real e profundo significado de "amo muito tudo isso".

    Este post é uma homenagem a um grande e querido amigo. Mas, se você pensa que o Beto é o meu melhor amigo, errou. Eu não.tenho um melhor amigo. Papai do céu foi tão bacana comigo, que encheu de anjos ao meu redor, caras pelos quais eu posso ter a honra de chamar de amigos, com exatamente a mesma intensidade. Por isso, esse post é dedicado ao Beto, ao Cris, ao Batata, ao Gil, ao Pão, ao Delen, ao Daninho, ao Brunão, ao Rodriguinho e a mais um bando de calhordas que eu adoro. E, se você se identificou com essa história, esse post é dedicado a você, também.

    Joelho de porco na churrasqueira

    Vamos brincar de matemática? Mais especificamente, de estatística, de subtração, de eliminação? Então vem comigo nessa nave louca do big brother do churrasco, torcendo para que o escriba desta porcaria consiga achar algum sentido na matemática que nos remeta ao joelho de porco. Te cuida, Aristóteles que a coisa aqui tá quente hoje!

    Aposto que você é daquele que come a picanha com gordura, que enche a salada de azeite, que passa manteiga no pão em detrimento à margarina light, e, pasmem, ainda come pão, daquele feito de farinha mesmo. Preza e agradece todo dia aos inventores do controle remoto, da cerveja em lata e da direção hidráulica.

    Acertei? Não? Eu sinceramente acredito que o nobre leitor é uma pessoa saudável, esbelta, exala natureza dos poros e ama os animaizinhos, ok? Principalmente os que mugem. Ah, mas eu acredito... Ô!

    Ok, mas aposto que você conhece alguém que se encaixa no parágrafo acima, certo? Então façamos uma listinha com umas 10 pessoas assim.

    Legal, dentro dessa lista que fizemos, e que NÃO inclui a sua saudável pessoa, vamos selecionar aqueles que se sentem mal dentro desse sedentarismo desvairado, e acham que devem praticar algum esporte ou fazer algum exercício pra manter o corpitcho sempre roliço saudável.

    De dez, sobraram 9. Sempre tem aquele que acredita veementemente que sinuca, buraco e rouba monte são esportes olímpicos.

    Dentro dos 9 que sobraram, temos aquele que paga 6 meses de academia e só vai uma vez, aquele que compra a bicicleta e não tira da caixa, e aquele que compra a esteira polishop de 300 funções, mas acaba pendurando camisa nela. Ou seja: nossa lista diminuiu pra 6 cabras.

    Dos seis, 3 não tem tempo pra nada e 3 acabam apelando pro futebolzinho de final de semana.

    Eu faço parte dessa lista, a dos caras que comem e bebem sem nenhuma preocupação, e no final acham que jogando uma bolinha conseguem se livrar dos trilhões de calorias que consomem em frente à televisão, ao microondas e ao computador (ei, pode ir largando esse amendoinzinho aí!).

    E se você é atleta de final de semana, conhece profundamente a anatomia do joelho. Aposto um rim como você já machucou o seu. Se não machucou o seu, já machucou o de alguém (seu cavalo! kkk). No mínimo, alguém já arrebentou a patela na sua presença. Ou o ligamento cruzado, ou o posterior, ou o lateral.

    Tíbia, perônio, rótula, cartilagem. Diante de um quadro estatístico tão colorosamente elaborado, podemos supor que, desta vez, conhecemos realmente a peça de comida que estamos prestes a preparar, não?

    Exceto por um único motivo: o porco, colega e companheiro que, voluntariosamente, cedeu parte integrante da sua anatomia para nosso deleite, possui 4 joelhos, enquanto nós só possuimos 2. No nosso caso, temos 2 joelhos e 2 cotovelos, enquanto o porco não tem cotovelos, mas tem 4 joelhos.

    Adoro anatomia.

    Bom, e se o porco possui 4 joelhos, como proceder, pergunta o mais curioso dos leitores. Ao qual malemolentemente respondo: o dianteiro.

    O joelho traseiro do porco é, praticamente, uma extensão do pernil, e não é uma área lá muito gordurosa, de pouca carne. E como nesse post a gente joga bola pra torrar a gordura que come, sai pra lá com essa coca light que aqui a gente quer mesmo é caloria. Quando preparar joelho de porco, utilize sempre o dianteiro.

    O joelho é uma peça razoavelmente grande, costuma pesar 1kg, tem bastante osso e bastante gordura, mas a carne (e os ligamentos) lá do meio são extremamente saborosos. E, caro amigo, quando eu digo extremamente, eu não estou brincando. O joelho entra, facilmente, numa lista dos TOP*FIVE [/CQC] da carne do porquito.

    imagem: divulgação kkk (roubei daqui)

    O preparo do joelho não requer talento nem tampouco habilidade: requer apenas paciência. Isso acontece porque o joelho tem fibras, tendões, músculos, enfim.

    Se o joelho em questão não fosse o do porco, mas o meu ou o seu, seria capaz de ter também enxerto, arame, pino, porca, parafuso, platina, enfim. Mas voltemos ao joelho do porco.

    Com tudo isso dentro do joelho do porco, a receita pra amolecer isso tudo é a mesma da costela e do cupim: temos que expor ao calor durante muito tempo, evitando que os líquidos evaporem, o que secaria a carne. E como atingir esse objetivo?

    Simples, embrulhando. Você é bom em embrulhação que eu sei. Um baita embrulhão. Embrulhava a mãe, a professora de matemática, a namorada e agora pensa que embrulha a receita federal com essa declaração mequetrefe. Então pensa nisso: vais embrulhar um porco. Um porco morto. Um porco morto mutilado. Um porco morto, mutilado, com cara de joelho. Durma com um barulho desses!

    Antes da embrulheira toda, pensemos no tempero. Sem esquecer que o joelho é, sozinho, muito saboroso. Então, você pode soltar a sua imaginação e dar um pulinho no site da ana maria braga, lá deve ter uma receita de joelho de porco com sagu de capivara regada ao molho de danoninho que deve ser "Oh! um lixo".

    Já preparei o joelho de 3 maneiras diferentes, e você pode continuar o exercício matemático eliminando duas, ou apertando aquela tecla com um A do excel e mesclando, enfim. A conta é tua e você pode fazer como quiser, que fica bom.

    1. Tempero puro, com sal grosso. Essa é pros mais puristas, aquele cara que não compra carro com vidro elétrico porque isso é coisa de maricas, que não manda sms porque o telefone serve mesmo é pra telefonar e abre cerveja no dente porque abridor é utensílio de cozinha, e isso é lugar de mulher.
    2. Sal e louro. Louro, quando citado neste blog, é sempre o tempero, aquela folhinha meio seca que fica na gaveta dos temperos. Se você já tá pensando no brad pit, no paulo nunes ou no passarinho da apresentadora, pegue seu banquinho e saia antes que eu quebre ele na sua cabeça.
    3. Molho de sal, louro, alho e mostarda preta. Esse tempero é bem legal, o joelho fica com um sabor de mostarda, lembrando a culinária alemã, onde até pão com manteiga tem porco ou mostarda.
    Enfim, a decisão sobre o tempero é sua. Honestamente, funciona bem com qualquer uma das opções.

    O único cuidado que você precisa ter é no preparo. Basta embrulhar bem no papel alumínio (nem precisa de celofane), e deixar no calor durante umas 2 horas por Kg. Com isso, a gordura vai derreter, mas não vai deixar a carne secar, e a alta temperatura vai amolecer todos os ligamentos e afins.

    Depois das 2 horas, é só cortar e comer. Uma delícia de carne que pouca gente conhece. Vale a pena. Além da aula de anatomia, é uma carne saborosa que você pode comer brincando :-)
    Esse post é um oferecimento do Dr. José Luiz Runco, diretamente para o fofo Ronaldo, Maikon Leitte, Rivaldo, ao meu cunhado Arthur, e aos amigos Gil, Oda, Alemão, Renatinho. Além de mim mesmo, e todo mundo que já arrebentou uma porcaria de joelho jogando futebol.
    Tempo de preparo: Umas 7 cervejas, sirva bêbado.
    Custo: O último joelho que comprei custou R$17,00 e tinha mais de 1kg. Mas era de uma marca famosa, você pode encontrar bem mais barato, com certeza.
    Rendimento: O joelho tem bastante gordura e bastante osso. Não rende tanto assim, mas deve alimentar umas 3 pessoas. Opa, 3?? Lembra da matemática dos primeiros parágrafos? Joelho de porco, um excelente rango pós-futebol de final de semana.

    Drops de Churrasco - Ed. 8

    Lá vamos nós com mais uma edição e... tira essa teia de aranha pra lá!!!!
    Pois é, depois de um tempo chafurdado nas catacumbas do esquecimento, eis que o blogueiro reaparece, coberto de poeira e mofo, com icterícia até no céu da boca. Passei tanto tempo nas catacumbas, que o mais desconfiado leitor já deve estar sugerindo até um teste de carbono 14. Mas agora estou de volta e explico. Basicamente, estou fechando a minha empresa pra trabalhar com uma coisa muito legal, o que me fez correr contra o tempo pra entregar todos os projetos que estavam em andamento e não deixar ninguém na mão, e depois precisei de uns dias de descanso, porque o trampo novo vai ser pauleira. Com isso, faltou-me o tempo e a inspiração necessários pra colocar a casa em ordem aqui. Agradecido pela compreensão, bora pra frente que o drops, dessa vez, é cheio de novidades.

    A entrevista
    Alguns aqui souberam, via comentários, que dei uma entrevista para O Globo, falando sobre churrasco de apartamento. A jornalista encontrou a série Especial Churrasqueiras que escrevi aqui e entrou em contato. Falei o que penso, da maneira besta que penso, e a jornalista publicou! Algumas pérolas que julgo impublicáveis como a teoria de que, a cada vez que ligamos uma churrasqueira elétrica, apagamos um bairro no Paraguay, foram na íntegra pra matéria. Outra foi aquela de que a fumaça que a sua churrasqueira produz é inversamente proporcional ao humor dos vizinhos dos andares superiores também recheou a matéria. Muito bacana, mas acho incrível como tem gente séria que ainda presta atenção nas abobrinhas que a gente fala. Os comentários, lá nO Globo, são um show à parte. Não pela camaradagem que vemos aqui, mas pela agressividade gratuita. Vista a sua luva de boxe e vai lá ver. É necessário ser assinante do globo, ou fazer um cadastrinho rápido.

    Aji-sal
    Temos aqui um assunto que já estava preso na minha garganta há muito, muito tempo. O tal Aji-sal. Se você tá boiando na maionese e não sabe do que estamos falando, o Aji-sal é um sal pra churrasco que custa mais do que o triplo do sal normal, e vem cheio do tal glutamato monossódico, que serve pra realçar o sabor das carnes. Funciona assim: você compra carne ruim, e enche de aji-sal para aquele treco pegar gosto de alguma coisa. Só que a carne que você comprou é xumbrega, mas o sal é de patrão. Não seria mais adequado comprar uma carne decente e um sal barato? Bom, dia desses ganhei 1kg do tal aji-sal do meu sempre solícito sogro, e decidi experimentar. Taquei numa picanha e mandei pra churraca. A picanha ficou com gosto de... ajinomoto. Diacho, se eu quisesse ajinomoto, fazia um arroz, e não uma picanha. Alguém aí tem qualquer experiência com esse produto, sabe se ele pode ficar bom em alguma coisa?
    Ah, quer saber porque isso estava entalado na minha garganta? Porque a ajinomoto é cliente de um cliente da minha ex-empresa, e eu não queria pisar no calo dos caras e causar bilhões de dólares em prejuízo, mortes e sofrimentos. Mas como a minha empresa acaba de virar pó, eu posso declarar todo o meu amor a um produto caro e que serve pra estragar comida boa. Valeu Aji-sal!

    Anonimus Gourmet
    Conheçam uma verdadeira pérola da TV brasileira. A mais pura e verdadeira prova de que tem gente cheia de talento na televisão brasileira. E sem precisar de passarinho de borracha, silicone, botox nem escova definitiva. É o verdadeiro entretenimento-raíz.
    O Anonimus Gourmet foi dica de algum leitor aqui do blog, que infelizmente não me lembro ao certo quem foi. Trata-se de um programa de televisão, onde dois distintos senhores ligam uma câmera de televisão e começam a churrasquear, manuseando uma bela costela, um carré e uma paleta de cordeiro numa legítima parrilera argentina. Só aqui já temos pano pra uma boa babada, não? Mas a mágica do programa não tá só aí. A capacidade de interação dos dois com a câmera é tão grande, que dá a impressão que eles esquecem que a câmera está lá. Literalmente. Em diversos momentos, os dois param de falar pra comer. Dane-se o programa, a costela tá pronta. Uma fanfarrice. Detalhe pro momento em que eles param pro comercial, e quando volta a peça de carne quase sumiu. Uma prova de que toda a equipe está fazendo a filmagem com as mãos sujas de carne. Divirtam-se e babem muito!

    A tradicional charada
    Ah, olha lá os publicitários e suas máquinas malucas, trazendo mais um teaser pra animar nossos corações. Como os leitores desse blog são pessoas astutas e providas da mais alta capacidade intelectual quando o assunto é churrasco, decidi tentar mais uma, vamos ver se vocês conseguem identificar, com as pistas abaixo, qual será a receita do próximo post:


    1. Verde na alma, bacon no corpo;
    2. Deus não deu à cobra;
    3. Onkel Helmut recomenda.


    Quero ver quem é malaco pra descobrir essa. Valendo um washington olivetto pra chamar de seu!