Abobrinha na churrasqueira

Se o teu carnaval foi como o meu, aposto um rim (o que sobrou, porque o outro derreteu) como essa quinta feira está sendo o dia mais comprido da história da humanidade, certo? A sensação é que durante os quatro dias de carnaval, quem foi assado foi o meu fígado, o meu baço, o meu estômago e o meu cérebro, e não as carnes deliciosas que fizemos na churraca. Mesmo tendo sido dilacerado pela cerveja e afins, posso garantir que foi um feriado daqueles que valem a pena.

E, pra um estômago desfigurado, nada melhor do que uma comida leve, não? E como aqui a gente fala de churrasco e saladinha é coisa de coiffeur e a gente desconfia desse pessoal, vou mandar aqui uma receita saudável, que fica uma delícia e as gatas piram: Abobrinha na churraca.

Faz assim, pega uma abobrinha grande, lava e corta ela em rodelas. Essas rodelas precisam ser meio largas, mais ou menos dois dedos de espessura, e eu estou contando que você não tem dedinhos de moça, nem um cacho de bananas. Estou falando de dedos normais. É importante que ela não seja fininha por dois motivos: o primeiro, porque a cereja do bolo tá dentro da abobrinha; segundo, porque ela diminui drasticamente de tamanho, e não queremos que ela caia pela grelha e torre no carvão, certo? Já que você vai preparar comida de mulherzinha, faz direito.

Bom, uma vez cortada a abobrinha, coloque numa bacia grande, pra você poder mexer sem fazer sujeira. Põe aí um pouco de azeite, de preferência um azeite bom, porque faz diferença. Não se esqueça de que a abobrinha não tem gosto de nada, e são os temperos que você coloca que fazem ela funcionar.

Agora, o segredo tá no alho frito. Coloque um pouco de alho frito, aqueles que vêm torradinhos, sabe? Não confunde com o alho assado, é o frito mesmo, aquele do frango à passarinho. Pra uma abobrinha grande, uma colher de sobremesa cheia já é o suficiente. Põe também um pouco de orégano, uma chacoalhada de pacote só. Costuma funcionar bem com alecrim e manjericão fresco também. Ou seja, assalta o armário dos temperos e sapeca na abobrinha, com moderação. O principal está no azeite, alho frito e orégano. O resto, você adiciona de acordo com o seu gosto. Só não vai me encher a abobrinha de frescurada, senão fica com gosto de armário dos temperos.

Mistura tudo, coloca um pouco de sal fino (o sal grosso não fica legal) e manda pra brasa. Pode colocar no meio da brasa, no mais quente da churraca. A abobrinha demora pacas pra ficar pronta, porque primeiro ela perde bastante água, pra depois começar a amolecer.

Como ela fica mais perto do fogo, a chance de ter alguma carne assando nos andares superiores da churraca é imensa, né? Então vou te mostrar o pulo do gato: posicione a abobrinha embaixo de alguma carne suculenta, daquelas que ficam perdendo líquido o tempo todo. Com isso, você faz a abobrinha com todos os temperos, além de um caldo natural de carne que dá o tchan na brincadeira.

Quando estiver ficando escura de um lado, vire pro outro utilizando um pegador. Garfo não ajuda muito, porque a abobrinha fica lisa como um bagre ensaboado, e porque ela diminui e passa no meio dos vãos da grelha. Bom, vira pro outro lado e monitora. Quando estiver escurecendo, tira, corta em pedaços pequenos e come. O melhor ponto pra ela é deixar ela tostar levemente por fora, e deixar molhada por dentro. 


essa abobrinha da esquerda tá querendo ficar pronta.
Se deixar tostar um pouco mais desse lado e virar, fica ótima.
Essa foto veio da receita de rocambole de fraldinha.

Fica muito, muito bom, por mais que doa a um amante da carne dizer isso de um maldito vegetal.
  • Dica 1: a melhor grelha pra fazer isso é aquela que tem um monte de buracos em forma de bolinha, mas em compensação é a mais chata de limpar. Mas é certeza de que a abobrinha não cai lá pra baixo.
  • Dica 2: Se você tem apenas daquelas grelhas de arames paralelos, pode colocar uma em cima da outra, em sentido invertido, fazendo uma grelha em X. 
  • Dica 3: Se a abobrinha cair lá no fogo, engole o choro e finge que não viu, torcendo pra ela queimar antes que alguém note a sua falta. Todas as tentativas de salvamento só vão aumentar a sua vergonha. Abobrinha no carvão é abobrinha morta.
  • Dica 4: Funciona bem em churraca responsa, em churraquinha pequena, em churraca elétrica, qualquer coisa.
  • Dica 5: decore essa receita (no sentido de gravar, não vai meter galhinho de planta em cima do prato), principalmente se você costuma fazer churrasco para mulheres. Elas adoram, dão gritinhos, pulinhos e batem palminhas quando você faz isso. Coisa de mulher, você sabe como é.
IPDA: Baratíssimo, uma abobrinha custa uns R$2,00, se você pagar caro.
Tempo de cozimento: umas 4 latinhas.
Rendimento: nunca faça só um churrasco de abobrinha. Além de dar um trabalho dos infernos, pega mal fazer churrasco sem carne. Então, como acompanhamento, uma abobrinha grande serve umas 2 pessoas.

Lembrando que este post é uma homenagem à mulherada que frequenta os churrascos lá de casa, e homenagear garotas sempre rende bom ibope. A idéia de preparar a abobrinha assim é totalmente delas, eu apenas deito na grelha e espero ficar pronto. Agradecimentos mais do que especiais à patroa Dani, Déa, Vandrope, Dani do Pão e Carlinha.

UPDATE: As garotas acima leram este post e me puxaram a orelha. Portanto, neste momento o escriba deste manuscrito encontra-se funcionando em mono. Se você é um leitor solidário, feche seu olho direito e leia-me assim como escrevo-o: em função mono.
O problema estava no alecrim, que, com 78% dos votos, foi eliminado nesse paredão. Aí, como a gente manda nessa casa mais do que o Boninho, botamos o Tomilho na receita. Conhece o tomilho? 
Se você pensou que é uma mistura de tomate com milho, errou. O tomate está para o milho como a Alessandra Negrini está para o Tiririca. Tá certo que ela é sem noção e casou com o Oto, mas é uma mistura que não funciona. O Tomilho é um farbusto aromático da família das labiadas. Grandes merdas, goooogle nos disse e agora sabemos. 

O que importa é que é um temperinho maneiro que vc pode achar em supermercados, ou plantar na sua casa e usar fresco, que é fresco mas é legal. Ou seja: tire o alecrim e bota o tomilho que ele é mais legal. 

Churrasco de galera - é carnaval!!!!

São 14:08 da tarde de sexta-feira antes do carnaval e eu estou no trabalho, malemolentemente procurando alguma atividade entre as muitas que tenho pra fazer que não me leve à fadiga, que não demore muito pra ficar pronta e, principalmente, que não abale o espírito de Pierrot que se apossou da minha alma (a ficar ali até quarta-feira de cinzas). Ou seja, de todas as muitas atividades que tenho a fazer, todas ficaram para quinta feira, depois do carnaval, quando devo reunir o que sobrou de mim para, finalmente, abrir o ano comercial nesse nosso Brasil varonil.

Diante de tal situação, a única atividade a qual Pierrot dentro de mim permite se submeter é a de escrever neste blog. E este blog não faz parte do meu trabalho, logo, torçamos para que o patrão nunca saiba da existência deste post. E vamos parar de falar de trabalho, que isso está me deixando cansado.

Carnaval é bagunça, é beber até cair e me dá um dinheiro aí, é beijar a mulher do próximo, desde que ele não esteja próximo, é olha a cabeleira do Zezé, é coitado do jacaré e é, claro, churrasco. Todo mundo vai fazer ou participar de algum churrasco nos próximos 4 dias que vêm por aí. E churrasco no carnaval é sempre de galera. E você, bom churrasqueiro, deve tomar alguns cuidados.

Quem leva a carne? Quem leva a cerveja?
Quando eu estava na quarta série, fazíamos os famosos bailinhos no quintal da casa de alguém. Quem nunca participou de um evento assim que taque o primeiro chinelo. E nessas festinhas, as meninas levavam os salgadinhos, e os meninos os refrigerantes (faz tempo que eu não participo de uma festa com refri, viu). Num churrasco, é um pouco diferente.

Pedir pro pessoal levar a carne é meio perigoso. O churrasqueiro sabe escolher uma boa carne, tem a estratégia de que tipo de carnes vai fazer, peças que saem rapidamente, peças que demoram um pouco mais.. Se você pede pra galera levar carne, todo mundo corre no supermercado e compra a maior peça mais barata. Aí o churrasco corre um sério risco de ficar ruim e a culpa é sua, parceiro. 

O ideal é instituir a regra de uma caixinha de breja por pessoa, ou por casal. Assim você gasta um tutu com as carnes, e a casa fica cheia de brejas. Tá, comprar carne pra um regimento inteiro do exército de Napoleão pode ser um preju. Nesse caso, recomendo que acione dois ou três amigos próximos, conhecedores de churrasco, e peça a eles que levem uma carninha. No final, acaba ficando razoável.

Tá, todo mundo foi bacana e levou breja.... mas tá quente, inevitável. Você, astuto leitor, ode se antecipar à intempérie. Pouco antes do pessoal chegar, compre uma ou duas caixinhas, um saco de gelo e monte um belo isopor PERTO DE VOCÊ. Não se esqueça de que todos levarão brejas, e como a casa é sua, a sobra também é sua. Ou seja, essas duas caixinhas podem ser consideradas investimento, e não prejuízo.

Assim, você será o detentor da cerveja gelada, vai tomar todas enquanto prepara a comida, e todo mundo que bebe vai conversar com você, porque entre uma pegada de breja e outra sempre rola um papo com o churrasqueiro.

Mais algumas dicas:
  1. Carne se come com a mão. Não sirva em pratos, sob o risco de elouquecer a sua mãe, patroa, empregada ou a você mesmo com a montanha de louça pós-churrasco;
  2. Tenha um telefone à mão e monitore a quantidade de cerveja e carne. Se notar que algo está pra acabar, ligue para aquele amigo que tá atrasado e peça a ele. Ninguém se nega;
  3. Procure comprar bastante carnes como fraldinha, maminha, frango, linguiça toscana.. que saem rapidamente e custam barato;
  4. Uma boa peça de ponta de agulha seria muito bem-vinda, não acha?
  5. Nos churras de galera, farofa, pão, esse tipo de coisa acaba sendo bem aceito. Não dá pra alimentar 300 de esparta só de carne, né?
  6. Fique bêbado. O mais que puder, cuidando apenas para não cair dentro da churrasqueira. Fora pode, sem problemas. É que dentro, queima :-P
Acho que já tá legal assim. Passou um tempão, entrei mais ainda no espírito de carnaval e minha única preocupação agora é arrumar algum motivo pra enrolar e não trabalhar mais, porque hoje. PAREI.

Bom carnaval a todos, que Deus olhe pelos vossos fígados, e que o patrão jamais leia este post.

Receitas do alheio: bacalhau com cerveja

Tenho pesquisado bastante sobre receitas na internet (você já percebeu que nós pesquisamos na internet antes de fazer qualquer coisa hoje em dia?). E nessas andanças gooooglísticas, encontro muita coisa bacana por aí, e resolvi abrir um espaço aqui pra iluminar as mentes nebulosas de vocês com conteúdo alheio.

O pessoal do Azbier é dos nossos. Primeiro porque o blog fala sobre cerveja, e quando o assunto é cerveja, a gente puxa uma cadeira e pede uma pro garçom. Se os caras gostam de breja, a gente gosta deles. Tudo pra molhar o bigode.

A receita de hoje é o Bacalhau com Cerveja. Logo de cara, fiquei meio ressabiado com esse lance, porque eu já disse aqui: a cerveja é minha e eu não vou dar pra carne nenhuma, muito menos pra um bacalhau. Mas logo compreendi e pude ver o quanto a receita dos caras é fácil e divertida de fazer. Consiste nisso aqui:

Tranque a mulher com o bacalhau e os ingredientes na cozinha. Pegue a cerveja e tome em frente à televisão, enquanto espera ficar pronto. 

Sensacional, não? É mais ou menos o que a patroa faz comigo aqui em casa quando quer churrasco: me tranca no quintal com as carnes e a churraca e fica esperando tomando breja. 

Vale a visita, acessa ae: www.azbier.blogspot.com. A receita de bacalhau está nesse link

A linguiça cuiabana do Adib

Se você acha que linguiça só serve pra encher o bucho da galera nos churrascos, que só churrasqueiro pobre que faz churrasco de linguiça, é porque você ainda não conheceu a linguiça certa. Se você pensou que o escriba deste blog emboiolou-se, posso lhe assegurar que está redondamente enganado. Eu estou falando da Linguiça Cuiabana. E não é uma cuiabana qualquer, porque existem vários tipos google afora.

O primeiro a se entender é que ela chama-se Cuiabana, mas não é originária de Cuiabá. Reza a lenda que o cara que inventou a Linguiça Cuiabana foi um fazendeiro de Paulo de Faria, no interior de São Paulo. Mas a patente de tal guloseima foi registrada em nome dos proprietários de uma padaria de Nova Granada, que obviamente era um açougue, mas o português acordou com a macaca e trocou a linguiça pelo baguete. Deus salve o Gooogle, mas isso tudo nem vem ao caso.

Essa linguiça é produzida artesanalmente nos açougues interior afora, então as receitas são variadas e você não encontra em supermercado. Vamos falar especificamente da Linguiça do Adib. 

Nas estatísticas deste blog, pude notar que temos leitores em São José do Rio Preto, a 550km da cidade de São Paulo. Achou longe? Pois ande mais 130km estado adentro até a bela e pacata cidade de Jales, local acolhedor de porres homéricos deste que vos escreve. Então, achou longe? Ande mais um pouquinho até Santa Albertina, nos arredores de Jales. Assim que chegar a Santa Albertina, pergunte ao primeiro que passar onde fica o açougue do Adib, separe R$8,80 e encoste a barriga no balcão.

O Adib prepara a linguiça cuiabana sob encomenda, pois ela fica mais gostosa quando fresca. E fica melhor fresca porque tem leite dentro dela. Isso mesmo que você leu, leite. Sente o drama: a linguiça cuiabana é, em maneira geral, feita de carne bovina, mais especificamente a Alcatra (que já é boa por si só, imagine como ingrediente), queijo minas, temperos diversos e leite. Digo temperos diversos porque o Adib não é um açougueiro falador, e até o presente momento, não houve tortura capaz de fazê-lo revelar quais temperos recobrem tal iguaria. 

Bom, comprados os 2,5kg de linguiça cuiabana, metamos ela na churraca, não? Pra facilitar as coisas, vou fazer como o pessoal da novela, que entra no avião aqui e sai na índia no segundo seguinte. Pode esquecer os 600 e tantos kilometros rodados, todos os pedágios da Bandeirantes e da Anhanguera, a paradinha no posto Castelo pra comprar biscoito de polvilho e o trânsito na marginal ao chegar a São Paulo. O lance aqui é teletransporte: do balcão do Adib à avenida Paulista em 3 segundos. 

Pra preparar, você não precisa de nada mais do que paciência e muito, muito cuidado. Paciência porque demora um pouco, ela é uma linguiça densa (ui!) e cuidado porque ela é muito frágil. Você tem que fazer toda a sua força mental e espiritual pra ela não arrebentar. Senão o leite cai na brasa e aí, meu filho... joga nescau e esquece o churrasco. Vamos ao modo de preparo:

Deite, cuidadosamente, mas muito cuidadosamente a linguiça numa grelha só pra ela. Essa grelha deve estar fria, pois se estiver quente, corre o risco dela colar na grelha e furar na hora de virar, e nós não queremos isso, ok?. Na hora de por na grelha, larga mão de ser bichinha e mete a mão na linguiça (ui de novo), não pegue a cuiabana com nenhum instrumento. Faça um enroladinho com ela. Pelamordedeus, nao separe os gomos!! Tem leite lá dentro, e é lá dentro que ele deve permanecer, deu pra entender?

Preciso comprar uma máquina decente. esse carvão azul não tá certo, não.
Olja o queijinho querendo sair da pontinha dela. delícia!

Deixe a cuiabana no médio da churraca, sem receber labareda, mas também não muito longe do fogo. Fique atento, quando ela começar a ficar preta embaixo (não no estilo carvão, fique ligado na sua comida, parceiro), faça uma operação tipo missão impossível pra virá-la. Tire-a com grelha e tudo (por isso que eu falei pra usar uma grelha só pra ela), posicione outra grelha cuidadosamente sobre ela, e vire de uma vez. Se furar nesse processo, game over and insert coins. Mas vamos imaginar que você sabe cuidar de alguma coisa nessa vida e conseguiu cumprir essa parte do processo direitinho. Volte ela pro fogo. Quando ficar vermelho escuro, tire, deite sobre a tábua, corte e sirva.

Ao contrário de qualquer linguiça, que só serve, digamos, pra encher linguiça, a Cuiabana pode ser a rainha do churrasco. Como ela é extremamente saborosa, o povo come que nem louco e você pode fazer uma atrás da outra. 

Mas, pra isso, vai ter que viajar até Santa Albertina, que fica perto de Jales, que fica a 130km de São José do Rio Preto, que fica a 550km de São Paulo... ufa! 

Ah, os leitores que o Goooogle indicou lá de Rio Preto podem fazer uma visitinha aqui. Desde que tragam lembranças do Adib.

UPDATE: Num post mais recente, eu FIZ a minha própria linguiça Cuiabana. Chupa essa manga, Adib. Se quiser saber como faz, vai lá e lê.

IPDA, mas não tem no Pão de Açúcar (perdeu Abílio): R$8,80 o Kg.
Rendimento: 2,5kg encheram o bucho de umas 10 pessoas. 
Tempo de preparo: 3 brejas até virar, 1 breja depois de virada.

E dá-lhe Porco!! Alcatra de porco levanta a torcida

Eu já gritei "porco" o mais alto que pude. As pessoas à minha volta também fizeram o mesmo. Umas 80 mil, todo mundo gritando porco, porco, porco.. É, eu já me emocionei com o porco. Já chorei de alegria, de tristeza, já me descabelei. Quando criança, meu sonho era fazer parte do porco. Vestir as suas cores e sair por aí, correndo na relva. Aliás, frequentemente eu me visto de porco. Foi meu pai que me ensinou a ser assim, e eu também ensinei os meus filhos. Definitivamente, o porco faz parte da minha vida. Amar a um porco dessa maneira é um sentimento que só uma categoria da população sabe o que é: os palmeirenses!

E diante disso, hoje este blog vai sangrar a própria carne, trazer o assunto de volta ao que nos interessa e escrever um post antropófago. Vamos falar de deitar o porco na grelha.

Quando se fala de churrasco de porco, logo vem à mente a famosa costelinha, ou a bisteca. Pois o porco tem carnes saborosíssimas a serem exploradas. Uma delas é a ALCATRA SUÍNA.

A alcatrinha do porco é uma peça de, mais ou menos, 1kg. O sabor parece muito com o da costelinha, mas não tem quase nada de gordura, o sabor é um pouco mais leve e a carne é super macia. Receita de sucesso pra qualquer churrasco, não?

Pra preparar, não tem segredo. É mais um tipo de carne for dummies, que qualquer um consegue fazer sem se mijar. Vamos à receita.

Costumo cortar a peça da alcatra suína em duas partes, e preparar só uma delas. Mas isso é uma opção pessoal, porque costumo fazer churrasco com várias carnes diferentes. Então, a menos que você receba um time de rugbi no seu churrasco, vale a pena fazer apenas meia peça pra ter variedade. Além disso, a outra meia peça vira pretexto pra outro churrasco.

De posse da meia peça, não fatie. Manda ela inteirinha pra grelha. Pode ser na parte de baixo, mais próxima da brasa. só cuide pra não subir labareda na carne, pra não torrar. Coloque sal grosso. A alcatra tem um sabor suave, não é pra fazer aquela camada bizarra de sal grosso em cima da carne. Não seja um animal, porque o porco já o é.

Deixe aquecer alguns minutos (uma meia latinha de breja), e vire do outro lado. De novo, ponha sal com toda a parcimônia que Deus lhe deu. Deixa ela ae. Vai virando ela de tempos em tempos, pra assar por igual.

A alcatra do porco, quando crua, é meio branca, meio rosa e macia até demais. Quando ela vai ficando pronta, escurece e fica um pouco mais dura. Dá pra perceber o ponto dela facinho. 

Pra ter certeza do ponto, tire uma lasquinha dela. Por dentro, a carne tem que estar branquinha. Se você notar que tem sangue, ou que tá meio rosa no meio, manda de volta pro fogo. Carne de porco, definitivamente, não dá pra comer mal-passada. Além de ficar ruim, ainda tem o problema do verminho que prefiro não comentar aqui. Você entendeu: assa até ficar assado. E a carne de porco tem uma vantagem: se você deixar passar um pouquinho, ela não fica ruim. só fica mais seca.

Tá bom? Experimentou? Tá branquinho e sequinho por dentro? Então tá pronto!! 

Corta ela em tirinhas bem fininhas, joga num prato e espreme limão em cima. Querido churrasqueiro, prepare-se pra conquistar garotas, fazer amigos e influenciar pessoas! Essa carne é tudo de bom.

A alcatra de porco é o tipo da carne barata, fácil de fazer e saborosa, mas que ninguém faz. Aposto um rim como o pessoal vai falar assim: "Uau, que delícia! Que carne é essa?". Aí nessa hora você faz aquela cara de que conhece um segredo que ninguém mais conhece e diz: "Alcatra de porco, meu caro Watson". E todos vão invejar a sua astúcia e sagacidade. Há!

Com essa carne, até corintiano grita PORCO!

IPDA: R$13,80 a peça inteira. E dá pra 2 churrascos. Logo, R$6,90. Brecinho de brimo.
Tempo de preparo: Umas 3 latinhas. 
Rendimento: Serve umas 4 pessoas, se não for a única carne do churrasco e se não forem 4 ogros.

Economize seu dinheiro. Não compre carne pré-temperada

Eu sempre achei que carne temperada era coisa da ana maria braga. E pra falar a verdade, eu sempre estive certo e continuo achando isso. Se você quer fazer um bom churrasco, compre a carne sem tempero e sem nada, meta sal grosso e manda pra brasa. Salvo uma carne ou outra, churrasco em geral é carne crua + sal grosso + brasa = alegria.

Pois olha a cilada em que eu me meti ontem... Voltando de uma reunião, parei no melhor Pão de Açúcar da região, pois havia combinado um churras com os amigos e sabia que viriam umas 15 pessoas em casa, pelo menos. É, aqui em casa os amigos são bem tratados, é só falar de churrasco que aparece todo mundo :-) 

Minha vontade era fazer uma ponta de agulha, porque o comentário do Roberto no post da costela me deu vontade de encher a peça de manteiga pra ver qual-é-qui-é. Além do inferno que foi pra parar o carro no PDA, não tinha nenhuma pecinha de ponta de agulha. Só uma congelada, da Wessel, que parecia um espetáculo, mas não daria tempo de descongelar, e meter carne congelada na churraca é serviço porco.

Fazendo um adendo a respeito do timing: churrasco tem que demorar, parceiro. O legal é levar horas churrasqueando e enchendo a cara, não é como um jantar. Diante disso, é burrada encher o bucho da galera de uma vez, porque você mata o churras cedo. E é burrada também demorar pra sair carne, porque o povo fica com fome. Então você tem que comprar carnes que ficam prontas rapidinho, como fraldinha ou picanha, por exemplo. E carnes que demoram, como a ponta de agulha ou o cupim. Assim o pessoal sacia a fome com as carnes rápidas, e as demoradas vêm pra galera se lambuzar. O pessoal come o tempo todo sem se empanturrar.

Ok, adendo feito, estava eu no PDA procurando carnes pro segundo tempo. Ponta de agulha não tinha, então pensei num cupim. Cupim não tinha também. Chupa essa manga, Abílio Diniz: Eu estava no melhor pão de açúcar da região de moema, numa sexta feira às 18:30 e não tinha carne boa pra churrasco? Gol do paraguay hein parceiro!!

O único cupim que tinha lá era um daqueles pré-temperados, numa bela embalagem, onde vinha escrito: "Cupim ao alho". Pô, parece promissor, não? Levei, paguei 10,58 uma peça que devia ter 1kg. Uma excelente oportunidade aos olhos de qualquer incauto. Até eu caí nessa.

Cheguei em casa e comecei os preparativos, antes que o pessoal chegasse. Quando abri a embalagem, um cheiro delicioso. Até alí, estava diante dos 10,58 mais bem gastos do mundo.  Como todo bom cupim, segui o script: o boizim foi devidamente embrulhado e levado ao lugar mais alto da churraca, e ali permaneceu durante algumas horas. 

Na hora de abrir o celofane, a decepção. O cheiro já não era aqueeeeele, e a cor do cupim já não era mais aquela beleza. Até aí ok, porque o cupim sai cinza do celofane mesmo. Mas o cheiro me estranhou, porque ao abrir o celofane o cupim cheira bem demais. Esse não, cheiro de nada. 

Cortei a carne, e cautelosamente experimentei o primeiro pedaço. E sabe como tava? Macio, sinal que ele foi preparado direito. E o gosto? Meio amargo, esquisito demais, um lixo. Gosto de tudo, menos de carne. Nem servi. Foi pro lixo. Não dei nem pro cachorro. E olha que o dog de casa é um vira-latas hein!

Essas carnes temperadas são tão cheias de conservantes, aromas artificiais e o escambau que acabam perdendo o sabor da carne e só servem a quem não sabe de churrasco. Ou seja, a cor era rosinha e linda, e o cheiro era delicioso devido à quantidade imensa de quimica misturada na carne. Funcionava bem na prateleira do mercado, mas na hora que o fogo come as máscaras caem*. O famoso gato por lebre.

* Bial, explica essa pra gente

Daqui pra frente, se você se deparar aquela embalagem linda, com uma peça de carne suculenta e rosada dentro dela, corra longe. Embora eu seja adepto do carne/sal/brasa, dou uma dica que me fez custar 10,50: se quiser temperar a carne, faça isso em casa. Pelo menos você sabe o que tem dentro. 

Caminho das Índias - não vá por aí!!

Nunca convide um indiano pra um churrasco. Lá na terra deles, isso é um insulto, coisa do capeta, é pior que chamar a mãe de coxinha e o pai de empadinha. Isso porque eles são um povo muito evoluído espiritualmente, têm um deus chamado Ganesh bem simpático, andam de elefante na rua e buzinam o tempo todo sem se irritar. Definitivamente, esse povo indiano é batuta. Só tem um probleminha aí... e o churrasco?

Já falei aqui que me babo toda vez que aquele pessoal da novela dá comidinha na boca da vaca, todo mundo feliz e contente por alimentar o animal sagrado e bla bla bla whiskas sachê. Por mim, metia a mimosa no espeto e vamo-que-vamo!!

Honestamente, respeito o vegetarianismo, desde que bem longe de mim e desde que não me chamem de canibal ou comedor de cadáveres. Mas uma coisa que eu não entendo são esses costumes bizarros baseados em tradições ou religiões. Deixar de lado um belo churrasco porque a vaca é sagrada, por exemplo.

Dá uma olhada no link que tinha no Terra hoje: "Refrigerante de urina de vaca é sensação na Índia". Caracoles, a única sensação que eu consigo ter com um lance desses é a de nojo absoluto. Pô, rapaziada, não seria muito melhor fazer como o mundo todo e aderir à Coca-cola? Essa aí, pelo menos a gente não sabe do que é feito. Agora mandar um mijo de vaca conscientemente.. Sente a situação: 

- Pô, mó calor aqui em Bombaim hoje, né?
- Só, deve estar fazendo uns 50 graus. Aquecimento global.. foda..
- Bora lá molhar a goela pra refrescar um pouquinho?
- Demorô! No seu elefante ou no meu?

.... 5 minutos depois....

- Ô Zé! Manda Gau Jal* aí que hoje eu quero ficar Bamboocha!!
- Puuuuutz esse refri tá demais!! Desce macio e reanima!

* nome do refri, tradução pra Água de Vaca.

Jisuis, sem chance. Bom, continuei lendo a reportagem - antes do almoço, diga-se de passagem, e pude perceber que, ou o jornalista que escreveu aquilo é um fanfarrão, ou a Índia eu tou fora, não conquisto nem no War. 

Não contente em fazer uma Fanta Mijo, os caras ainda consomem mijo e merda de vaca em diversas outras situações porque acham que isso aí tem propriedades curativas e milagrosas. Tá com gripe? Come esse teco de esterco aqui que melhora, filho. 

Pra finalizar a nojeira, eles ainda usam esterco e mijo de vaca pra fazer pasta de dentes e bebidas tônicas.  Aí fudeu tudo: neguinho bebe mijo de vaca, tem bafo de merda e se o redbull lá não dá asas, não quero nem saber o que ele dá. 

Tou fora!! Definitivamente, a Índia não é lindinha e fofinha como mostra a novela da globo. Lá não se faz churrasco, e os caras comem meeeeeeerdaaaaaa!!!!

Cabral, meu véio... Ainda bem que a nau se perdeu e você chegou no Brasil, meu filho. Ainda bem...

Costela ponta de agulha é o bicho

Imagina o tamanho de uma ripa da costela inteira do boi. É mais ou menos do tamanho de um berimbau, e vai das costas até o peito. Então já dá pra imaginar que uma peça extensa dessa tem todo tipo de carne, certo? Sim, e onde queremos chegar com isso? A resposta é fácil, queremos chegar a mais uma peça de carne que tem nome esdúxulo que não condiz com a aparência física dela, nem com o tamanho, nada. Mais uma fanfarrice do primeiro açougueiro que fatiou o primeiro boi: A Ponta de Agulha

A Costela Ponta de Agulha é uma parte muito saborosa e macia da ripa de costela bovina. Fica localizada meio que embaixo do boi, na região da barriga. Veja o que o grande jedi Gooooogle tem a dizer:
É a grande peça constituída das massas musculares que recobrem as oito últimas costelas, a última esternebra, o apêndice xifóide e a região do vazio, obtida do traseiro-comum, na preparação do traseiro-serrote ou especial. 

O corte é obtido do traseiro-comum, por meio de incisão que se inicia na extremidade posterior do matambre, junto ao gânglio linfático pré-crural, atinge a ponta da anca (tuberosidade ilíaca), seguindo em linha reta até a sexta costela, a uma distância máxima de 4 cm da borda lateral da porção muscular do contra-filé.
Se você nunca viu a última esternebra, não acha que tem apêndice xifóide e concorda que a região do vazio é aquela que dói antes do churrasco, concorda comigo que isso aí não tem a menor importância. A menos que você tenha a pretensão de incorporar o Magaiver, sacar o canivete e destrinchar o boi você mesmo. Recomendo uma passada no supermercado, dá muito menos trabalho.  Mas taí, a título de informação.

Existem várias maneiras de preparar a Ponta de Agulha. Fazendo uma busca rápida na internet você encontra todo tipo de receita, mas a maioria vai concordar comigo: carne boa, você tempera com sal e pronto. Viadagem na comida é coisa da ana maria braga, e se você pensou em colocar uma pitada de páprica, decorar com tomate seco ou sapecar um pouquinho de alcaparra, recomendamos que saia do armário, acesse o site do louro josé e seja feliz. 

Pois então é simples assim? Sal e bota-no-fogo? Olha, caro churrasqueiro... Sim e não. 

Realmente, taca sal grosso na parte de baixo, põe um pouquinho mais na parte de cima, e mete no fogo. O segredo mora a partir daí.

Quando você manuseia a ponta de agulha, percebe que é uma carne mega macia, mesmo crua. Mas não ache que só por isso você deita ela, conta até 10 e fatia. Tem que esperar, e muito. Essa carne tem o mesmo estilo do cupim, se tirar antes da hora fica uma borracha e aí, parceiro.. o churrasqueiro toma vaia e a gente não tá aqui pra ver homem chorando.

O legal da costela é que vem com o osso no lado de baixo. É como se a carne fosse o seu colchão, e as ripas de costela, o estrado embaixo dela. Se você tem algum tipo de sonambulismo, recomendo que não leia este post antes de adormecer, sob o risco de acordar com um teco de espuma ou uma mola ensacada entre os dentes.

Qualquer um que já prestou atenção na sopa da mãe sabe: dentro do osso tem o totano, que é um lixo se você comer sozinho, mas fica muito bom se você tiver a paciência de tirá-lo pra temperar a carne. E na ponta de agulha, esse processo acontece naturalmente. Ou seja, você não está temperando a carne apenas com sal; tá temperando com sal e osso. 

E pra fazer isso, basta paciência. Tempere a carne com sal grosso, e coloque no alto da churraca com os ossos pra baixo. E quando eu digo alto da churraca, tenha em mente que você precisa de uma churraca responsa, de vários andares pra fazer uma carne assim. E, uma vez proprietário de tal instrumento da alegria, posicione a carne em questão no seu andar mais alto, cuidando para que o fogo esteja sempre forte, mas sem chamas e sem lambança. Ah, você entendeu: fogo forte e carne no alto.

Hoje eu vou quebrar um protocolo deste blog. Como é uma carne muito, mas muito demorada, não vou contar o tempo de preparo por latinhas de cerveja, porque se você bebe que nem mulherzinha, vai tirar a carne muito louco, e se você é um animal, vai tirar crua demais. Dessa vez, e apenas dessa vez, contarei em horas (sim, horas. demora muuuuito).

Deixe a peça de ponta de agulha virada com o osso pra baixo no andar mais alto da churraca por 3 fuckin horas. Sim, dá pra assistir o jogo do seu time, ler este blog inteiro umas 4 vezes e conferir o resultado da tele-sena 3 vezes. E não acha que tá pronto, não. Depois dessas 3 horas, vire a carne com o osso pra cima. Você vai notar que os ossinhos estão mais soltos, meio quequerendo sair pra fora da carne. Isso porque eles secaram e estão mais lisos, e a carne perdeu água e diminuiu de tamanho, apertando os ossos pra fora. Mas deixa o osso lá, não precisa tirá-lo. 

Voltando ao assunto: vire a carne do outro lado. Pelamordedeus, compadre: agora que você cumpriu metade do processo, não desça a carne. Essa é a hora que você faz merda por ansiedade, porque se queimar a parte de fora com fogo próximo, o meio continua cru, e duro. Deixa ela no mesmo andar, lá no alto. Por, mais ou menos, 1 e 1/2 ou 2 horas, dependendo da potência da sua churraca. Fica ligeiro, vai tirando umas lascas e experimentando. 

Quando achar que tá legal, experimentou e lavou a alma, vai tirando por pedacinhos, separados pelos ossos. Recomendo cortar pequeno e sapecar limão. Faz a festa.

O problema dessa carne é a estratégia. Não encha o seu eleitorado de carne antes, dose bem o que vai servir pra não deixar ninguém com fome, nem ninguém empapuçado. Assim, quando a ponta de agulha sair você vai ouvir muitos elogios. Cuide também de servir na hora que o carinha das batidas esteja fazendo um drink de aguarraz com suco de kiwi, porque isso fica bom e esse canalha não merece.

IPDA: Uns 15 reais uma peça boa, de 1,5Kg, e sal nem entra na conta. Tenha limão, não sei o preço.
Tempo de preparo: Sirva bêbado. Demora, você leu: entre 4 e 5 horas e a breja come solta nesse meio tempo.
Rendimento: a peça de 1,5kg serve bem 4 pessoas. Claro que essa não é a única carne do churrasco, senão você apanha.

Não meta o bedelho no meu churrasco

Churrasqueiro é um bicho ciumento com a sua carne. Mas fica feliz quando todo mundo come ela. Putz, dificil explicar esses fatos se compreendidos ao pé da letra, mas a verdade é que todo churrasqueiro gosta de montar ali ao lado da churraca e cuidar de tudo ele mesmo. Sem interferência e sem palpite.

Aí chega aquele cunhado da vizinha. O cara é um mala, usa camisa pra dentro da bermuda, torce pra Inter de Limeira, não bebe e estuda mecatrônica. Só faltava ser vegetariano. Apesar de que, se vegetariano fosse, mandaríamos o rapaz visitar o site da ana maria braga ler a receita de quibe sem carne e este post não teria motivo de ser. Ok, o cara é mala, se veste que nem um coxinha, torce mal, sempre-sóbrio e estudioso. Já tá chato o suficiente, né?

Querido leitor, se você não se enquadra nas características acima, sabe que um babaca desses num churrasco com gente normal, que bebe, fala merda e torce pra time que tem torcida acaba ficando largado num canto, não se enturma. 

Uma vez não enturmado, o que esse cara faz? cola no churrasqueiro. Além de nerd criado pela vó, é fominha. Então o camarada chega como quem não quer nada, pergunta que carne é essa, dá uma examinada na churrasqueira.. pra puxar papo, diz que a carne tá boa, mas ele faria de outro jeito e tal... OPA PERA LÁ QUE PORRA É ESSA?

Parceiro, é o seguinte, vamos ser bem claros.

O churrasqueiro acorda com vontade de comer uma carninha. Pensa o dia inteiro numa carne legal pra fazer. Vai comprar, gasta uma grana, escolhe, corta, prepara, faz tudo... e maluco vem meter o bedelho???? Ah, parceiro, aí não hein!!

O churrasqueiro fanfarrão

Churrasqueiro que é churrasqueiro não tem medo nem de juiz, malandro!!! Ouve essa história:

Tava navegando mares afora hoje, quando dei de cara com a seguinte notícia: "Convite para churrasco é anexado a processo no RS".

Pãããããtz!! Neguinho tava convidando geral pro churras do final de semana, mandou um bilhetinho pro juiz, que não viu e anexou ao processo. 

Sabe o nome disso? P-a-t-a-q-u-a-d-a. 

Abaixo, o recado encontrado anexo ao processo:

Churrasco de amigos na casa da Morgana, dia 06/12/2008, horário: 12h. O que levar??? Bebidas!!! Cada um leva seu fardinho!!! E a carne??? R$ 10,00 por pessoa, criança não paga. Quem vai??? Favor confirmar presença por e-mail e $$$ até dia 05/12, certo!!!??? Bem, mais uma vez um encontro de amigos, para colocar a conversa em dia, e desopilar fora da santa!!!

Dona Morgana sabe organizar churrasco, olha ae.. Cobrou 10 conto e o fardinho de breja. 

Pena que o churrasco já passou, senão eu aparecia lá. 

O link pra notícia: clica aqui

Coraçãozinho de frango no espeto

Um pacote de 500g de coraçãozinho de frango tem, mais ou menos, uns 40 corações. Estamos falando de 40 ex-frangos, que tiveram família, amigos, sentiram, amaram.. Toda vez que eu vejo um coraçãozinho de frango eu fico me perguntando... por qual galinha aquele frangote teria se apaixonado antes de ir pro espeto? Será que existe uma galinha triste, em alguma granja nesse mundão de Deus, botando ovo todo dia e sonhando com a volta do seu frango amado? Será??
A Rádio Atividade leva até vocês
Mais um programa da séria série
"Dedique uma canção a quem você ama"
Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta
Uma carta d'uma ouvinte que nos escreve
E assina com o singelo pseudônimo de
"Mariposa Apaixonada de Guadalupe"
Ela nos conta que no dia que seria
O dia do dia mais feliz de sua vida
Arlindo Orlando, seu noivo
Um caminhoneiro conhecido da pequena e
Pacata cidade de Miracema do Norte
Fugiu, desapareceu, escafedeu-se
Oh! Arlindo Orlando volte
Onde quer que você se encontre
Volte para o seio de sua amada
Ela espera ver aquele caminhão voltando
De faróis baixos e pára-choque duro

Agora uma canção canta pra mim
Eu não quero ver você triste assim

Ei, ei, o que é isso? Isso aqui é blog de macho e a gente não tem dó de mandar neguinho pro espeto aqui, não!! Pode engolir esse choro e enxugar essa lágrima aí e vamos dar início à receita: coraçãozinho de frango na grelha.

Antes de assar, você tem que limpar os coraçõezinhos. Prepare-se para uma das coisas mais nojentas que um churrasco pode te proporcionar. Isso porque você nunca vai encontrar um lugar que os venda decentemente limpos. Nesta receita, vamos ilustrar uma bandeja comum do Pão de Açúcar. Ou seja: tive que limpar.

Na granja, quando eles separam as partes do frango, geralmente arrancam o coração de qualquer jeito, e junto com ele vem todo tipo de tranqueira. O mais comum é o coração vir com artérias, o que dá um gosto ruim ao coração, caso sua preguiça te impeça de limpá-lo.


Dá uma olhada nesse coração de cima.
O primeiro que adivinhar que órgão é esse que veio anexo ganha um saco de vômito da Xuxa.

Nessa foto tem todo tipo de tranqueira. Alguns, como o penúltimo, tem uma membrana de gordura que o envolve, outros tem a artéria e tem até um fígado ou qualquer outra porra de brinde. Concordamos que não dá pra meter isso aí na grelha desse jeito, né?

Não tem outra saída: respire fundo e meta a mão na meleca. Tenha em mãos uma faca afiada, senão você acaba destruindo cada coração que limpar. Além disso, uma faca afiada vai te ajudar a acabar essa nojeira mais rápido.

O principal é fazer um corte bem no meio da gordurinha dele, tomando cuidado pra não tirá-la completamente. 


Mantenha um pouco da gordura, você vai precisar dela.


Olha eles aí. Nem parecem os 4 elementos do mal da primeira foto.

Se você tirar toda a gordura, o coração vai secar completamente, e aí ele fica uma borracha. Ao contrário do que parece, o coraçãozinho demora um tempo pra assar. Além disso, churrasco sem gordura é coisa de vegetariano, e esses aí a gente manda visitar o site da ana maria braga, que lá tem um hamburger vegetariano que é Oh! Uma merda!

Depois de limpos os coraçõezinhos, você tem que colocá-los no espeto. Se você for um mestre na arte do equilíbrio, pode deixá-los sobre a grelha, mas garanto que carvão não precisa de coraçãozinho pra viver.

Recomendo utilizar o espeto duplo, porque assa uma montanha de coraçõezinhos de uma vez. Isso é importante, porque coração costuma fazer sucesso no churrasco, e a galera come de monte.


Todo mundo no mesmo sentido. Uma dinastia inteira de frangos no seu espeto.

Uma vez cheio o espeto, manda pro fogo, de preferência no segundo andar, que fica a uns 30cm do fogo! E com a gordurinha pra cima. Primeiro porque a parte de baixo demora mesmo pra assar. Segundo porque a gordurinha derrete pra dentro do coração, dando um sabor muito bom. Terceiro, porque é sobre a gordurinha que você deve colocar o sal. Logo, ele também derrete pra dentro do coração.

Quando a parte de baixo começar a parecer mais marrom, e ter uma aparência mais "sequinha", é hora de virar e deixar a gordura pra baixo. O espeto duplo quebra um galhão nesse lance de virar. Depois de uma cervejinha, pode descer o coração mais pra perto do fogo, com a gordura pra baixo. 

Sirva e faça o mundo feliz. Coraçãozinho é o tipo da comida que faz sucesso com todo mundo. A menos que você conte a história do amor do frangote pela galinha do vizinho...

IPDA: marromeno R$4,00 um pacote com 500g. Metade das 500g são lixo que você tira dele quando limpa. Mas ainda sim é barato. 
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha, e 4 brejas na grelha.
Rendimento: 500g faz uns 40 ou 50 coraçõezinhos. Serve como aperitivo.

Drumet crocante

Taí um título trava-língua. Duvido você falar "drumet crocante" mais de 3 vezes sem mandar um "cocrante" sequer.  E aqui funciona assim: se o título é ruim, a receita é boa. 

Essa é mais uma daquelas receitas campeãs de audiência (te cuida, plim-plim!!), que você deveria fazer em todo churrasco. Além de ser barata e leve, você ainda pode receber todos os personagens da novela das 8 na sua casa, porque é frango e não vaca.

Aliás, desviando um pouco do assunto, sou só eu que tenho pensamentos altamente gastronômicos quando passa aquele pessoal dando comidinha na boca da vaca na novela?

Tá, mas o assunto aqui é frango e não vaca, e se é vaca, a gente COME! Prepare-se pra fazer um fordúncio na sua pia. Essa receita FAZ MELECA. Mas impressiona as garotas, então faça a meleca, se limpe e receba os elogios. 

A receita consiste em drumet de frango chafurdado na maionese misturada com sopa de cebola. É, isso mesmo que você ouviu: sopa de cebola. E não, nós não vamos fazer a sopa, ok? Estou falando da sopinha de pacote, daquelas que você mistura água quente e tá feita a parada. E nem precisa preparar nada, vamos usar só o pó (maradona style?)

Mas, afinal, que porra é essa de drumet? E Deus salve o Gooooogle:

Drumet, no contexto da culinária, é a parte da asa de frango, muito apreciada em churrascos e molhos. Diferente da Tulipa, que refere-se a mesma parte, só que com a asa desossada. Muito apreciada em churrascos e almoços de família. Temperadas com canela em pó e molho curry. Para o churrasco ser completo colocar também alcatra e contra filé temperados só com sal grosso.

O camaradinha que escreveu essa explicação na Wikipedia já se meteu onde não devia: esquece essa merda de canela em pó no frango porque isso aqui não é a ana maria braga. Aqui a gente põe coisa SALGADA pra temperar a carne. O que importa é que você descobriu o que é drumet. O nome é gay, mas o frango é bom.

Bom, vamos começar pelo molho. Lance mão de uma boa maionese. Se você souber como faz a maionese caseira, melhor ainda. Na minha receita, usei uma maionese chamada "caseira" da marca Liza. Não vou colocar link e nem nada porque eu não tou aqui pra vender maionese. Te vira, marmanjão. Ah, e pra você ter uma noção, utilizei marromeno 500g de drumet, o que deu umas 7 pecinhas. 

Taca num pote umas 3 colheres de sopa de maionese. Não precisa exagerar, certo? Agora, pegue o pacote da sopa de cebola. Taca lá dentro marromeno 3 colheres, que deve dar meio pacotinho. 


Pra você ter uma idéia, isso aqui temperou 7 drumets. Não exagere, isso faz uma sujeira do capeta.

Beleza, mistura tudo. Virou uma pastinha meio esquisita. Agora taca os frangos lá dentro, e mistura bastante, até os frangos ficarem todos besuntados e isso aí virar uma verdadeira gororoba.

Se quiser, pode mandar os franguetes pra churraca agora mesmo. Ou pode adicionar um elemento a mais que costuma ser um UP pra qualquer comida: manjericão fresco.


Vendo assim, é a imagem do cão. Mas põe no fogo que eles ficam uma delícia.

Pra assar, é fácil. Frango não tem muito segredo. Pode virar, pode deixar perto do fogo que ele assa legal, pode deixar longe que só demora mais, faça o que tu queres, há de ser tudo da lei.. é só ficar ligado na casquinha dele, quando começar a ficar queimadinha, vai virando até queimar por igual. Se você já comeu um frango assado uma vez na vida, sabe qual é o ponto. Posso contar com isso, hã?

O legal é que a maionese seca, e o pozinho da sopa faz uma camada levemente crocante sobre o drumet, e o tempera por igual. Fica super gostoso, agrada as garotinhas, o sogrão, as crianças e os vizinhos. Recomendo agradar as garotinhas com moderação, principalmente se o sogrão estiver por perto.

Uma dica: tenha por perto um monte de guardanapos. Tem maionese pra caray aí, e vai, invariavelmente, sujar todo o seu instrumental. E você não vai ser burro de sujar outras carnes com maionese, não?

Ah, funciona legal nas churraquinhas de apartamento, tanto as pequenas de carvão quanto as elétricas.

IPDA: Menos de 10 reais pra 1k de frango. Baratim!!
Tempo de preparo: 1 latinha pra preparar o molho, 2 latinhas pra assar. 
Rendimento: 500g deu 7 coxinhas. Serve umas 2 pessoas, mas é bom ter outras opções.

Picanha ao alho sem nhaca

No post anterior, falamos sobre como preparar a picanha em bifes, a coisa mais simples do mundo depois da pipoca de microondas. Então vamos dificultar essa receita um pouco, pra fazer uma delícia de lavar a alma.

Alho é bom pra caralho, mas te deixa com o estômago em frangalho e te faz virar um espantalho? Espante a rima ruim da sua vida, leia essa receita e seja feliz!

A Lu Monte, do Dia de Folga, já tinha me falado sobre um alho assado que ela certa vez experimentou. Segundo palavras dela, perfeito pra passar na torrada. Como esse negócio de torrada é coisa de mulherzinha e aqui o sistema é bruto, fiquei de inventar alguma coisa pra fazer com esse alho assado. E tinha que ser carne, senão podia pegar mal.

Pensei comigo mesmo: bora lá tacar esse alho na picanha, porque picanha com alho a gente sabe que funciona. E o resultado ficou animal, diferente da picanha com alho que a gente come na churrascaria, porque o alho é assado antes de grudar na picanha. Então ele fica levinho, dá um sabor muito bom à carne e você não fica com aquela sensação de que comeu um javali. vivo.

Prepara a picanha como indicado no post anterior. Só não põe ela no fogo, criatura. Vamos preparar o alho primeiro.

A idéia é assar o alho na churraca com casca, talo, tudo o que tem direito.  Aproveitei pra dar uns toques demoníacos ao cabeção do alho. Sigam-me os bons!

Pegue uma cabeça inteira de alho. Não desmonte ela, nem tire a casca, nem lave, nada. Só pra fazer uma maldade, passe uma colher de manteiga Aviação no exterior da cabeça (do alho, mente suja). Use manteiga Aviação, vale a pena gastar 2 reais a mais numa manteiga de qualidade. Se passou pela sua cabeça passar margarina ou qualquer merda light, pode parar de ler este blog agora mesmo e vai pro site da ana maria braga. Certamente você vai achar alguma receita de alho com mel e temperos indianos e outras merdas.


Assim que se faz a maldade. Põe uma manteiga boa e deixa todo mundo assar juntinho. 

Ok, passada a manteiga na cabeça, e embrulha com papel alumínio e joga na churraca pra assar. Pra funcionar mais rápido, você pode colocá-lo lá dentro da churraca mesmo, junto do carvão, numa beiradinha onde o fogo não vai torrá-lo. 

Deixa lá por aproximadamente 4 cervejas. Quando começar a ficar pronto, vai dar pra sentir o cheirinho de alho com manteiga.. bão demais!!

Quando você não agentar mais a tortura, retire do calor e abra o papel alumínio. Retire um dente do alho e abra pra ver a textura. O dente tem que sair facinho, e o alho em si tem que estar uma pasta, parecendo um patê. Se ainda estiver durinho, fecha e manda de novo pra brasa.


Essa foto nojenta é pra você saber a textura certa pro alho.
Se não estiver com essa aparência feiosa, ainda não tá bom.

Se estiver pastoso, basta passar no filé de picanha, dos dois lados. Não deixe o excesso de alho lá, não precisamos dele. Só o fato da pasta de alho passar sobre a carne já faz o milagre. E como o alho, uma vez assado, perde aquele ardido e fica até docinho (sério, experimenta um pouquinho), a carne fica com o sabor do bicho, mas sem aquela maldita nhaca que dá quando a gente come muito alho.

Espalha a pasta na carne e tira esses excessos.

Daqui pra frente o processo é normal: mete a carne na grelha, põe sal, vira, tira, corta e come. 

Depois vc me diz o resultado. É outro tipo de carne for dummies, porque a picanha não tem como errar, e nem o alho.  Só demora um pouquinho pra ficar pronto, porque tem que assar o alho antes. 

Mas vale a pena a espera, vai te fazer arrancar elogios das donzelas, vai por mim.

IPDA: quase o mesmo da picanha, o custo do alho é irrisório.
Tempo de cozimento: o alho leva umas 4 ou 5 brejas. A picanha, tá no post anterior.
Rendimento: depende do tamanho da picanha. Mas se prepara que fica bom e a galera avança!

Como preparar uma picanha simples

Se você ainda está iniciando a sua vida de churrasqueiro e não tem lá tantas habilidades, tá aqui uma carne que, além de ser uma delícia, não tem como errar: Com vocês, a picanha!! (barulho de tambores e cornetas nessa hora, ok?) 
Esses dias eu ouvi uma sensacional de um amigo não-churrasqueiro (aquele que come, mas não prepara o churras). O cara disse assim: "eu só sei que tem que por a carne no fogo e tirar quando ficar marrom". A picanha é assim: simples e rápida de preparar e, a menos que você seja um orangotango, fica sempre gostosa. 
Podemos dizer que a picanha é a Paula Burlamaqui das carnes: você pode vê-la de qualquer jeito, que sempre vai estar uma delícia.
Claro que existem receitas mais complexas envolvendo a picanha. Inclusive, se procurar algum site de culinária mais chique e elegante, vai certamente encontrar tosqueiras como "picanha ao molho de maracujá com begônias" ou merdas no estilo-ana-maria-braga de cozinhar. Mas aqui não tem essa frescurada e a gente faz carne pra ficar gostosa, e não pro prato ficar bem decorado.
Tá com a picanha na mão? Então vamos começar a preparar a Picanha for Dummies mais simples do mercado: Picanha em bifes.
Estou presumindo que você adquiriu uma peça decente de carne. Vamos imaginar que a picanha tá vermelhinha, pequena e limpa. Não vou discorrer muito sobre a compra de uma boa picanha, porque isso aí é assunto pra outro post. No caso das fotos deste post, estou fazendo uso de uma picanha-bebê de 450g e pouca gordura, perfeita pra ser colocada alegremente na grelha na forma de bifes.
Bom, deita a piqueta numa tábua, com a capa de gordura pra cima. Fica mais fácil cortar, porque a faca tende a escorregar na gordura, e se estiver por baixo, vc não vai conseguir separar os bifes direito. Tenha em mãos uma faca afiada. A-F-I-A-D-A, tá entendido? Faca ruim mastiga a carne dá 10x mais trabalho e sujeira.
Apóie a mão esquerda sobre a capa de gordura (sim, churrasqueiro tem que sujar a mão, mesmo), e corte a picanha em bifes largos, de aproximadamente 2 dedos de largura. Se você for canhoto, pode apoiar com a direita e realizar os cortes com a esqueda, ok? Ah, e vê se lava essa mão antes de encher a carne que seus amigos vão comer com os coliformes fecais daquela mijada da décima cerveja.
A picanha deve ficar assim: dividida em pequenos pedaços de felicidade.
Agora você deve, carinhosamente, levar cada bifinho à grelha, perto do fogo, mas sem deixar que as chamas a peguem. Faça assim: com a grelha quente, deite o bife e ponha sal grosso do lado virado pra cima. Conte até 5, vire o bifinho e ponha sal do outro lado. Você vai notar que a picanha muda um pouco de cor no lado que estava pra baixo. Isso serve pra "selar" a carne. Ou seja, fazendo isso dos dois lados, você fez com que a camada de carne superficial seque levemente. Com isso, o líquido saborosíssimo que tem dentro da picanha não escorre facilmente, e a bichinha vai ficar molhadinha quando ficar pronta.
Quanto ao sal, reitero a teoria de que QUALQUER UM que já temperou a própria salada uma vez na vida sabe quanto sal colocar na carne. E o sal grosso vai derreter com o calor, e penetrar na carne. Então imagine que cada pedrinha de sal que jogar vai derreter e temperar a carne ao seu redor. Vai sem medo, na hora você vai saber como fazer.
Não fique virando o filezim. Quando você vira, ela perde líquido, e é o líquido que deixa ela macia. Deixa o filezim lá, e de vez em quando dá uma levantadinha pra ver a cor dele. Realmente, a picanha fica marrom, o sal derrete e as bordinhas do filé ficam mais escurinhas. Se estiver assim, pode virar e repetir o processo. 
O legal da picanha é que ela fica gostosa até muito mal passada. Então, se você tá na dúvida sobre o ponto dela, tira uma pontinha dela e experimenta. Se estiver mal-passada demais, volta ela pra caminha e deixa nanar mais um pouquinho. Mais ou menos como o botão "soneca" do despertador: não tá bom, dorme mais 5 minutinhos e acorda legal.
Na hora de servir, corte cada filé em fatias fininhas. Gosto muito de cortar fininho porque não dá aquela sensação de que vc tá se enchendo de carne, dá a impressão de que a carne fica mais leve. 
Eu, particularmente gosto da picanha mal-passada-quase-ao-ponto. É assim, se você cortar o primeiro pedacinho dela, e a carne estiver branquinha meio rosada por dentro, mas ao mesmo tempo escorrer  aquele sanguinho tudo-de-bom, tá no ponto perfeito.
Recomendo fazer de 2 em 2 bifes, a menos que você esteja fazendo churrasco pra muita gente. Esses bifinhos ficam prontos rapidinho, e se você fizer muito de uma vez, corre o risco de empanturrar o pessoal e alguns pedaços esfriarem sobre a mesa, o que é, no mínimo, um sacrilégio.
Se você tem carinho pela coronária dos seus amigos e familiares, pode tirar o excesso de gordura antes de servir. Convém consultar os convidados antes, tem gente que não gosta que tirem. 

Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, cortando a picanha. E uma breja a cada 2 bifes na churraca. 
Rendimento: Uma picanha de 450g, como a que foi usada como exemplo, alimentou 2 pessoas. mas eu comia sozinho uma peça dessas, fácil.

Preparando um bom cupim

O cupim é uma carne extremamente saborosa e macia, mas a diferença entre um bom cupim e um cupim cagado (gostei do trocadilho, junta com a fraldinha e.. xapralá) é muito tênue. É uma carne demorada de preparar e muito fácil de errar. Portanto, se você for convidado a algum churrasco e tiver cupim, tenha certeza de que o churrasqueiro sabe o que tá fazendo.

Já expliquei que o cupim fica em cima das costas do boi, o Nelore, e é cheia de gordura, certo? Na verdade, uma das mais gordurosas do boi. Pois é, mas o cupim não é como a picanha, por exemplo, que tem a gordura bem definida sobre a peça. A gordura do cupim fica entrenhada no meio da carne, junto com uns nervinhos, e se você vacilar, fica tudo uma pedra. Portanto, a palavra que me vem à cabeça é: paciência. O cupim é o primeiro que vai à churrasqueira e o último que sai. Ou seja, se você faz o tipo ansioso, ou tem hiperatividade, tome um chá de passiflora antes de começar o churrasco. 

Pra assar um cupim, você precisa de uma churraca responsa, daquelas de vários andares. Isso porque você tem que preparar a peça em duas etapas, e ambas precisam de uma certa distância do fogo. 

O primeiro passo é espetar o cupim, e enrolar naqueles celofanes de churrasco. Não sabe o que é isso? Gooooogle, parceiro. Só não mete um celofane qualquer, você não tá encapando um caderno, tá preparando uma carne e é melhor que tenha um mínimo de noção nessa cabeça. Recomendo utilizar um espeto único, como o das fotos abaixo e não daqueles duplos. 

Quando você enrola a peça de carne no celofane, é por um bom motivo, então não o faça com preguiça nem de qualquer jeito. A carne vai aquecer, a gordura do meio da carne vai derreter, e vai ficar presa no celofane. Vai aquecer junto da carne e vai ajudar a cozinhá-la. Ou seja, você vai cozinhar a carne na própria gordura dela. Sacou o espírito da coisa? Então segue os passos aí:

Taí uma peça de cupim. Na verdade, aí tem meia peça. A outra meia eu congelei.

Depois de espetada a peça, abra um bom pedaço de celofane sobre uma mesa, jogue um pouco de sal e enrole, sem deixar muita folga.

Uma vez enrolado, arrume um pedacinho de celofane ou qualquer outra coisa pra amarrar as extremidades.
Não se esqueça de que a gordura tem que ficar aí dentro, cozinhando a carne.
Não ficou lindo? Parece uma balinha 7Belo!

Agora bote o espeto no andar mais alto da churraca e deixa lá. Vai ficar ali umas 3 horas. A cada nova cerveja que você abrir, vire a carne com todo o cuidado pra não deixar o líquido escorrer. Você vai adorar quando a gordurinha começar a fazer borbulhinhas dentro do pacote. É o sinal que as coisas vão indo bem.

Não tenha pressa. Sirva toda a linguiça e contra-filé para os convidados mais afoitos, e deixe essa maravilha da natureza ficar boa por sí só. O segredo do cupim (nome de filme da tela quente, com Keanu Reeves) é justamente esse cozimento. Portanto, não tire ele daí. Não deixe esfriar. Não deixe o fogo apagar. Não economize carvão. Não deixe ele mais baixo, perto da grelha, achando que vai ficar pronto mais rápido. Não fure o celofane. Enfim, não seja besta que a carne fica boa sozinha.

Depois que se passarem pelo menos 3 horas, e dentro do celofane estiver um furdúncio já há algum tempo, é hora de abrir. Chame os bombeiros que essa parte é cruel.

Você não tem outro jeito: precisa abrir a embalagem com aquele caldo gosmento dentro. Quando fizer isso, vai cair aquela gordura toda na churraca. Se você tiver uma pia por perto, leve a peça até a pia, faça um rasguinho com a faca e abra a porra toda. Se não tiver, vai ter que ser na marra mesmo. Nesse caso, certifique-se de que não tem nenhuma outra carne nos andares de baixo do cupim. Vai cair uma avalanche de gordura e vai lavar a carne em questão, fica uma merda. Se você aguentar o calor, recomendo posicionar uma latinha de cerveja (VAZIA, HEIN) embaixo pra tentar recolher o máximo possível do caldo que vai cair. Depois você dá a latinha pro cara das batidas beber e tudo ok.

Agora você pode descer o cupim "pelado" pro andar de baixo, mas ainda a uma distância média do fogo. Tire uma lasquinha e veja se há a necessidade de sal. Se sim, pode espalhar um pouco na peça. Não preciso te falar quanto, qualquer um que já temperou uma salada sabe quanto sal colocar na comida, vá.

A melhor maneira de servir o cupim, é ir virando ele, e à medida que vira, você vai tirando as lasquinhas que ficaram mais queimadinhas. Este processo se chama "casqueirar", ou seja, você vai casqueirando a carne. Se você não errou nada nesse processo todo, fica de comer falando palavrões. Eu mesmo já soltei vários puta-que-paris pra essa carne.

Da primeira vez, recomendo fazer sozinho ou num churrasco com menos gente. Você não vai querer errar numa festa pra 30 pessoas, vai?

IPDA: marromeno 14 reais uma peça de 3kg. Mega barato.
Rendimento: não tenha como a única carne no churrasco. Imaginando que fica pronta no final, alimenta uns 6 ou 7 caboclos.
Tempo de preparo: umas 8 latinhas. Adoro essa parte!

Pimenta no cupim dos outros é refresco

Ok, esse post não trata sobre pimenta, mas o título ficou bacana e é assim que vai ficar. Afinal, isso não é uma democracia. Na verdade, nunca passei tanto tempo pensando no título de um post. O meu senso de putaria me gritava que eu deveria fazer algum trocadilho com a palavra CUpim (sacou, hã?). Mas meu bom senso me lembrava que o CUpim, no caso, era o meu, e qualquer trocadilho poderia pegar mal pro meu lado. Acabou ficando assim mesmo, tem a coisa dos OUTROS, fica meio Lost, legal. gostei.
Findas as questões filosóficas envolvendo partes obscuras de outrém, vamos ao assunto que nos trouxe aqui: é com muito pesar que o autor deste blog vem lhes comunicar que falhou. Sim, caros amigos. O cupim deste final de semana ficou um lixo, que eu não serviria nem pro carinha das batidas. Tá, pra ele eu servia, mas pra mais ninguém.
Eu já queria escrever aqui sobre o cupim, que é uma delícia de carne, requer uma churraca responsa e um tanto de capricho e paciência. E eu SEI fazer a porra do cupim, eu JÁ acertei váááárias vezes, e eu JÁ ganhei vários elogios por isso. Mas dessa vez tomei a vaia. Mas então, porque eu vou escrever logo sobre o cupim que eu errei?
O que acontece é que eu gosto de fotografar os processos de preparação das carnes, e nos churrascos anteriores eu acabei deixando isso pra lá. Então, nesta sexta feira, comprei um cupim especialmente pensando em vocês, preparei a máquina fotográfica e registrei todos os passos.
O bom dessa história é que eu sei exatamente onde eu errei, e posso colocar a receita aqui, que vocês vão acertar. Além disso, este blog está comprometido com a verdade, e se a gente erra, a gente dá a cara pra bater. E aí, vai encarar? Então vamos lá.
Falando em cupim e todos os trocadilhos que esse nome sugere, eu queria muito bater um papo com o primeiro carinha que dechavou o primeiro boi. Ele mesmo, o cara que inventou de cortar o boi todo recortadinho como conhecemos. Sim, o camarada que inventou de ficar dando nomes de bichinhos e coisas engraçadinhas no diminutivo pras carnes. Patinho, lagarto, fraldinha, maminha, um monte de nomes bizarros que não dizem nada e faz com que nós, pessoas maduras e sensatas, passemos vergonha no supermercado. 
Mas no cupim ele acertou. Vamos dar um pulinho no Google pra iluminar o vácuo de vossas mentes:
O 'Cupim' é um tipo de corte da carne bovina, mais especificamente o gado Nelore. Está localizado na parte dianteira do animal, precisamente atrás do pescoço , e de igual maneira representa 3,29% do dianteiro. É uma carne macia entremeadas de gordura.
tá vendo ali, em cima das costas? é o cupim! Belos chifres, parceiro!
Tá, mas o que isso tem a ver com o cupim, bicho que come madeira? Aparentemente nada! Mas veja só isso aqui: 
Taí. Esse treco de barro aí é a casa do cupim. E tem um desse nas costas do boi, só que é de carne.
Pronto. Esse trecão aí chama Cupim, e é a casa do.. Cupim! Show! Pelo menos se parece com o lance das costas do Nelore. 
Mas... e como prepara o tal cupim? Bom, vou separar isso em dois posts, porque aqui eu já falei demais. E tem a coisa do google, a gente precisa separar todos os assuntos direitinho. Ah, um dia eu explico isso. Vamos à receita no próximo post.

Especial Churrasqueiras: Churrasco de apartamento

Antes de começar a ler este post, confira a convenção de condomínio do seu prédio, ok? Não nos responsabilizamos por nenhuma multa aplicada aos leitores deste blog.

Tá, agora que você leu e tá de acordo com nossos termos e condições, chega de passar vontade: você, morador de apê, também tem o direito de assar uma carninha quando bem entender. Afinal, os campeonatos regionais já começaram, e não tem nada melhor do que fazer um churrasquinho enquanto assiste futebol pela TV. Se o teu apê tem sacada, ótimo. Se não tem, use a lavanderia. O que importa é acender uma churraca e curtir uma carne nos dentes.

A primeira coisa que você tem a fazer é escolher o tipo de churrasqueira: de carvão ou elétrica.  E o que vai te ajudar a escolher entre uma e outra é um fator muito simples: o andar onde você mora.

A churrasqueira de carvão tem combustão, no caso, do carvão, e isso gera fumaça. A gordura da carne cai no carvão quente, o que gera ainda mais fumaça. Essa fumaça com cheiro de gordurinha queimada subindo, defuma a carne e é por isso que fica gostoso. O problema é que ela não pára na carne, e continua subindo, subindo, impesteando os apartamentos superiores ao seu. É, o seu também fica impesteado, mas isso aí são os ossos do ofício, parceiro.

Já a churrasqueira elétrica não tem combustão, e sim uma grande resistência que fica logo abaixo da grelha. Assa a carne direitinho, até. Pra tentar simular a questão da gordurinha caindo no carvão, vc coloca um pouco de água na bandeja dela. A gordura cai na água, que evapora, vai subindo e pega na carne. Mas não sobe tanto quando no caso do carvão. No máximo, a churraquinha elétrica vai deixar o seu apê com cheiro de churrasco, mas definitivamente, a lambança de fumaça que faz é muito menor do que a de carvão. É uma churraquinha honesta, mas pra ser bão mesmo tem que ter carvão queimando. 

OBS importante: Se vale como opinião, limpar uma churrasqueira elétrica é uma das experiências mais nojentas a que você pode se submeter. Isso porque a gordura cai na água, que evapora deixando aquela borra nojenta, com tecos de carne.. eca, perdi o apetite.

Diante dos fatos, vamos simular algumas situações:
  1. Você mora no segundo andar, e seu prédio tem 11.
    Se você usar carvão, vai defumar 9 apartamentos, além do seu. A chance de algum vizinho se revoltar é beeeem grande. Nesse caso, recomendo a elétrica, que vai deixar, no máximo, um cheirinho de carne no apartamento de cima. 
  2. Você mora no décimo andar, do mesmo prédio de 11.
    Nesse caso, você vai incomodar apenas um apartamento, o de cima do seu. Recomendo tentar a sorte, usando uma churraca de carvão. Se o vizinho reclamar, convide-o para compartilhar do churras. Se ele ficar puto, use uma elétrica e seja feliz.
  3. Você mora do décimo primeiro andar, do prédio de 11.
    Foda-se, mete a churraca de carvão, constrói, faz no chão, arrepia que o mundo é teu.
A maioria dos condomínios não permite que você construa uma churraca de cimento na sacada. Portanto, você precisa de uma portátil. Fuja daquelas porcarias que vende no supermercado, as churrasqueiras de latão. Elas são feitas pra durar dois ou três churrascos. Recomendo procurar uma casa de churrasqueiras mesmo, e isso é facinho de achar, e comprar uma de alumínio. Se você tomar poucos cuidados como limpá-la após os churras e tal, ela dura muito mais.

Agora tá fácil. Basta acender (ou ligar na tomada), tacar a carne e ser feliz.

Dica: como as churracas de apê são sempre pequenas, procure fazer carnes pequenas e que fiquem prontas rápidas. Uma picanha em bifes funciona muito bem. Costelinha de porco, se for magrinha, também. Coração, queijo coalho e linguiça.. Só não vai tentar fazer um cupim ou uma costela de boi que você vai se dar mal.

Ah, e boa sorte com o seu síndico :-)

O churrasqueiro

Senhoras e senhores, com vocês..... O CHURRRRRRRRASQUEIROOOOOOOO
Se eu fosse apresentado um dia, queria que fosse assim. Como no boxe, como no ultimate fighting. Entra o tiozinho de paletó e gravata borboleta, o microfone desce do teto (tá, churrasco quase nunca tem teto, então desce do céu mesmo que tá valendo), apagam-se as luzes e o tiozinho manda uma voz de trovão pra avisar que o churrasqueiro tá chegando: "DO LADO ESQUERDO DO RINGUE, PESANDO 1.300KG... A PICAAAAAANHAAAAAA.... e DO LADO DIREITO, PESANDO MAIS DO QUE DEVIA.... o CHURRRRRASSSQUEEEEEEEIROOOOOOOO!!!!!"
E esse post é exatamente isso mesmo. Uma auto-homenagem ao coitado que fica responsável por lidar com fogo no verão, meter a mão na carne crua, limpar coraçãozinho (que é uma das piores atividades do churrasco) e preparar comida pra um batalhão de gente, que ele chama de "amigos".
O churrasqueiro é o cara mais malaco da festa, porque nunca tem que buscar cerveja na geladeira. Basta amaciar o coração de algum passante oferecendo-lhe uma carninha no capricho pra mandar na sequencia: "pega uma lá pra mim, parceiro?". Certeza que o amigo escolhe a mais gelada pra te trazer. 
O churrasqueiro ganha os céus quando acerta a mão em alguma carne. E toma vaia se errar, mesmo que tenha dado um puuuuta trabalho pra fazer.
Dona Ivette, a nonna, já dizia: "Quem parte e reparte, se o faz com arte, sempre fica com a melhor parte". Pois é, o churrasqueiro tem o direito de comer, desde que discretamente, o melhor pedaço de carne. E quentinho, o que é uma vantagem.
O churrasqueiro tem o direito de sujar toneladas de louça e não lavar absolutamente nada.
Mas também, o churrasqueiro sempre sai mais sujo do que todo mundo. E queima a mão. E corta o dedo. Ou seja: lavem a louça, vocês entenderam.
O churrasqueiro não pega garota nenhuma no churrasco, pode esquecer. Nenhuma garota vai querer se defumar ao seu lado, nem sujar a roupa com a sua mão de carvão. O carinha das batidas, por exemplo, tem muito mais chance de oferecer um drink colorido à base de cointreau e club soda e derrubar a garotinha. 
30 de setembro é o dia do churrasqueiro. Tá, grandes merdas, mas aposto que o carinha das batidas não tem dia dele. Se tiver, não merece, esse canalha.
O churrasqueiro tem o direito de ser barrigudo, ao contrário do carinha das batidas (viu?).
O churrasqueiro pode separar aquele pedaço de carne que caiu no chão e dar pro cara das batidas. Ou aquele pedaço de nervo duro, ou aquela carne que o cachorro não quis.
Enfim, esse cara das batidas nunca me enganou. Esse negócio de drinkzinho colorido é gourmet demais pra mim. 
Depois do exaustivo churrasco de domingo, alimentando 30 pessoas, faço essa auto-homenagem a esse herói dos espetos, o poeta do frigorífico, o Rei do Carvão: o churrasqueiro. No caso deste blog, eu mesmo :-)

Como preparar uma paleta de cordeiro na churrasqueira

Vou começar este post tirando uma dúvida de todo mundo: qual a diferença entre cabrito, carneiro e cordeiro? Para iluminar sua mente brilhante, faço minhas as palavras do mestre Google: 
“O cordeiro é o ovino de até quatro meses, filhote do carneiro e da ovelha, enquanto que o cabrito é o animal da mesma idade, resultado da cruza do bode e da cabra. Mesmo com essas diferenças, ambas as carnes são as mais saudáveis entre as vermelhas, pois possuem menos gordura, mais proteína, mais ferro e ainda são ricas em vitaminas do complexo B”.  Palavra de José Henrique Carlan, proprietário do restaurante Pata de Cordeiro, que fica em algum lugar do Paraná.
Ok, isto claro, vamos aos fatos. Desde que adquiri uma churraca responsa, sempre quis fazer uma paleta de cordeiro pra galera. A isto se deve o fato de que a Dona Ivette, a nonna, prepara uma no forno que me faz lamber os beiços. Nada mais natural do que tentar fazer a minha própria paleta, não?
O primeiro passo foi correr à internet. Bora lá procurar todo tipo de receita. Nenhuma me agradou, seja pela simplicidade absoluta (meta sal e bote a perna no fogo) ou pela imensa quantidade de procedimentos duvidosos (pegue a perna, passe mel, coloque uma lingua de gato, reze 3 ave-marias..). Fiz um catadão de idéias que me pareciam interessantes e inventei o meu próprio cordeiro.
Primeiro passo: o que fazer com a perna em si. 
Pelo que procurei, só encontrei paletas congeladas.  Comprei um belo exemplar. Aí nasceu também a primeira cagada: Pra descongelar a bichinha, enchi um balde de água, taquei a peça dentro, devidamente embalada à vácuo, e deixei no sol. Assim que cumpri as etapas acima, bora pra internet ver se aparece mais alguma receita legal. Mas não, acabei descobrindo que a paleta é uma peça sensível e deve ser descongelada vagarosamente, na geladeira. Fudeu. 
Segundo passo: preparando o molho pra marinar. 
Em quase todas as receitas que li, a paleta deveria marinar por algumas horas num molho xyz, que, em geral tinha vino branco ou cerveja, e azeite. Optei pelo vinho branco, porque cerveja bebo eu e carne nenhuma vai tomar a minha. As receitas falavam em 1 copo de vinho e um copo de água. Como eu não faço coisa pela metade, mandei logo uma garrafa inteira, sem essa de água. Vinho branco seco, hein fanfarrão! Não vai comprar suave pq vai fazer a tua carne doce como um pirulito.
Bom, joguei o vinho no liquidificador e taquei lá 150ml de um azeite bom. A patroa me disse que pra cozinhar pode ser qualquer azeite, mas eu mandei lá um italiano.
Pra dar um tempero no molho, vale a pena meter umas ervas. Recorri aos vasos da patroa e, com a ajuda e uma prima que sabe qual erva é qual, voltei com hortelã, manejricão fresco, salsinha, alecrim, além do orégano e da folha de louro, daquelas que vende num saquinho.
Dei uma colherada generosa no orégano. Joguei as folhas de 5 galhos de hortelã. As folhas de 2 galhos de manjericão e duas folhas de louro. As folhas de 4 galhos de salsinha e um pouquinho de alecrim (que na real nem fez diferença). Era pra dar uma pitada de pimenta do reino, mas eu me atrapalhei com a embalagem e deixei cair bastante, mais ou menos uma colher de chá. Adicionei sal fino, fechei a tampa e começou a lambança. É, um litro inteiro de vinho + esse monte de coisa pode ser demais para o seu liquidificador. Para o meu foi, e vazou bastante. Ainda bem que deu pra passar um pano antes da patroa ver. Recomendo bater tudo com apenas meio litro de vinho, depois vc adiciona o resto.
O molho fica com uma aparência bizarra, parece um lodo de pântano. Isso acontece porque o azeite tende a subir em relação ao vinho (é, eles não se misturam, vc lembra da aula de ciências?) e fica com aquele monte de tempero batido. Mas vai na fé que fica bom. 
Terceiro passo: marinando a pernoca.
Caso você não saiba o que é marinar, consiste em deixar determinada peça de carne praticamente boiando em determinado molho, crua, durante determinado tempo. Sacou? Vamos meter a paleta do cordeiro num recipiente, jogar o molho nojento que acabamos de fazer, e deixar lá no mínimo 12 horas. 
Usei uma bandeja quadradona daquelas de alumínio, coube a peça direitinho. Se você tem mulher ou mãe em casa, abre o forno que você vai encontrar uma peça dessas.
Ponha lá a pernoca. Jogue todo o molho em cima.  De hora em hora, depois de conferir o resultado da telesena, vire a peça. Como já disse, o vinho tende a ficar por baixo, e o azeite faz uma meleca em cima com as ervas. Com uma colher, espalhe um pouco dessa meleca sobre a peça. Assim vai por umas 10 ou 12 horas. 
Uma dica legal é fazer uns furinhos com a faca na carne. Ajuda o molho (e o vinho) a penetrar melhor e pegar o gosto. Mas não seja um orangotango, faça apenas meia dúzia de pequenos furinhos. 
Quarto passo: lugar de carne é na grelha!
Espetei a peça toda num daqueles espetos duplos. ela fica mais firme na churraca. Pra assar por igual, requintes de crueldade: tem um lado que dá pra ver nitidamente um ossinho, onde ficava plugado o pezinho do bicho. Esse lado tem menos carne, e é interessante usar a cabeça na hora de espetar, de maneira que esse ossinho fique voltado pro lado de fora da churraca. 
Quando pegar uma paleta de cordeiro na mão, você vai conseguir identificar um lado mais magro do que o outro. Coloque na churraca, no andar mais alto e com esse lado magrinho pra baixo. Se a sua churraca não faz o estilo Empire State, deve ser o terceiro andar. Fogo forte, não é hora de economizar carvão.
Lá pela terceira ou quarta breja, o lado de baixo começa a ficar escurinho. Aparência de assado é facinho de reconhecer. Quando achar que tá ok, vire a peça. Mesma coisa, mais 3 ou 4 brejas e se achar que tá legal, tire. 
É uma peça muito grande e chata pra cacete de cortar. Recomendo separar um cantinho no terceiro andar da churraca, e ir tirando tequinhos da carne aos poucos. Se quiser cortar tudo de uma vez, vai ficar frio. 
O resultado foi fenomenal. Mesmo eu tendo cometido várias cagadas no processo, embebedado um filhote de ovelha e ter tacado temperos de forma descoordenada e aleatória, a paleta de cordeiro fez a festa. É uma carne tão saborosa, que você pode errar à vontade que fica bom.

Rendimento: Se for a única peça do churrasco, deve alimentar uns 4 ou 5 marmanjos.
Tempo de preparo: 3 latas pra fazer o molho. No cozimento, pode contar com 4 latas de cada lado do bicho. Ou seja, além do cordeiro, você também absorve uma quantidade legal de álcool.
Este post é uma homenagem a todos os amigos de má índole que comeram o cordeiro dizendo que o frango tinha ficado ótimo. Amo todos vocês, seus malditos.