Maturatta é maturada?

Recentemente, surgiu uma discussão nos comentários do blog, acerca da linha Maturatta, da Friboi. A bola que foi levantada ali, é porque surgiram dúvidas se a carne é realmente maturada, ou se foi dado esse nome numa fanfarrice pra ludibriar o consumidor.

Maturação é um processo de apodrecimento controlado. Não tenha nojo disso, entenda que a parte do "controlado" é muito mais importante do que a parte do "apodrecimento". Lembra do queijo gorgonzola, que parece podraco, mas é uma delícia. Pois é, com esse "apodrecimento controlado", a carne tende a ficar bem mais macia e saborosa, pois algumas enzimas agem e clica aqui pra conhecer como funciona. Legal, mas isso tudo tem um custo. Economicamente falando, o frigorífico mata o boi e começa o maior samba do criolo doido pra mandar aquele boi o mais rápido possível pra dentro da sua churraca. E deixar o boizim maturando ali custa grana. Por isso a carne maturada é mais cara. E a carne Maturatta é cara. Mas não fica claro se passou ou não pelo processo.

Sinceramente, conheço vários produtos da Friboi e não acho que eles seriam assim sacanas, mas confesso que não encontrei no site, nenhuma informação bem clara: "Essa parada é maturada" ou "Essa parada não é maturada, você comprou, a gente ganhou e você perdeu".

Com isso, façamos valer a voz do consumidor, a internet taí e a gente tem o trombone pra meter a boca. O trombone, ok?

Mandei um e-mail pro SAC do site da Maturatta. Que, diga-se de passagem, carece de conteúdo mas é um belíssimo site.

E-mail este que transcrevo abaixo, assim como transcreverei a sua resposta, ou reclamarei a ausência dela. Afinal, o intuito aqui não é brigar com a Friboi, e sim informar aos leitores.


Olá. Escrevo regularmente num blog sobre receitas de churrasco, e recentemente os leitores levantaram um assunto que julgo bastante pertinente. O grupo Friboi possui uma linha chamada Maturatta, onde as carnes são embaladas à vácuo. Tanto o nome, quanto o fato de estarem no vácuo, nos sugere que estejamos comprando carne maturada. Porém, não encontrei nenhuma informação que realmente afirmasse que as carnes em questão são maturadas. Gostaria de uma posição da Friboi para poder transmitir a informação correta, seja ela qual for, aos meus leitores. Agradeço Daniel Rodrigues Deitando o Gato na Grelha


Vamos aguardar. Como diria o cid moreira: estamos de oooooolho.

Linguiça Alheira, uma epopéia tipicamente portuguesa

Querido leitor, se você já leu o meu nome alguma vez aqui, pôde notar que o meu sobrenome é Rodrigues. Com isso, o astuto leitor pode, também, supor a origem desse nome. Se não pode supor, existe uma grande chance de termos um fator preponderante em comum: o sangue lusitano corre desgovernadamente em nossas veias, parceiro.

Então, podes imaginar que, há quase um século atrás, um tal Seu Rodrigues partiu de além-mar, com mais alguns patrícios, pra varar esse marzão rumo ao desconhecido e abrir uma padaria aqui. Tá, bisavovô não abriu uma padaria, mas o gosto pela culinária lusitana veio com ele, se transportando irremediavelmente através do DNA dos seus futuros predecessores.

Dentre as iguarias da culinária de nossos gentis colonizadores, destacamos especialmente uma: a linguiça alheira, convidada especial deste capítulo nesta novela da vida :-)

Bisavovô veio lá da terrinha, e numa casinha do bairro do Brás saboreava alheiras com o menino Renatinho, que viria a ser meu querido e saudoso vovô. O menino Renatinho cresceu (digo, ficou mais velho, porque grande ele nunca foi) e virou o Seu Renato Rodrigues, cultivou um suntuoso bigode e foi pra guerra. Guerra?
Momento história de família: Meu avô foi pra guerra como voluntário. Certa vez, eu perguntei porque ele foi voluntário, e a resposta foi sensacional: No dia do alistamento militar, havia um tenente carioca selecionando os possíveis soldados, já com a guerra em curso, e com a iminência do Brasil entrar. Pois em algum momento, o tal tenente falou, ou sugeriu, que paulista era tudo boiola e ninguém tinha coragem de enfiar o dedo na cara do alemão. Nesse momento, Renato, o marrento, levantou-se e bradou que tinha coragem sim ia mostrar pro tenente carioca com quantos bigodes se faz um chucrute. E assim, o bravo soldado Renato Rodrigues adentrou as fileiras da Força Expedicionária Brasileira. Ele nem queria ir, mas aquele tenente era folgado demais e isso não dava pra suportar.
E lá na guerra, o soldado Renato não parava de pensar nas tardes que passava com o pai, o Seu Rodrigues (então, falecido) saboreando acepipes. Ansioso pelas alheiras e com saudades do Brasil, o soldado Renato Rodrigues deu um jeito no alemão, acabou com a guerra (palavras dele. Vovô afirmava categoricamente que acabara com a guerra sozinho) e voltou ao Brasil para cair diretamente no colo de vovó, que já citamos largamente neste blog. Adiantando a história, vovó e vovô se casaram e tiveram dois lindos filhotes: papai e a minha tia Lídia.

A história se repetiu, e papai e vovô adquiriram o hábito de saborear alheiras com uma certa frequencia, como um ritual familiar, a ser passado do mais velho pro mais novo.

Mas a alheira não é uma linguiça muito fácil de se encontrar, e os fornecedores de alheiras que abasteciam vovô e o menino papai com sua mercadoria foram ficando cada vez mais raros, até que eles decidiram que era a hora de fazer a sua própria alheira. E assim fizeram, até que papai conheceu mamãe, eu nasci, cresci e todo final de semana tinha alheira na casa de vovó, pra saborearmos enquanto a refeição não vinha. Até que vovô veio a falecer, em 2002, e as alheiras acabaram rareando na casa de vovó. Aqui começa a nossa história pra valer.

Com esse blog e as consequencias gastronômicas que ele trouxe, achei que havia chegado a hora de me juntar a papai pra fazer o furdúncio na cozinha lá de casa e preparar as alheiras, pela primeira vez na minha vida. Baita honra, essa.

Nossa história começa no Mercado Municipal. Acordei cedo num sábado pra comprarmos os ingredientes no famoso templo do sanduíche de mortadela e um local sensacional pra comprar temperinhos e coisas que.. bem, que só tem lá. A visita ao mercadão, por si só, já dá um post. Portanto, vamos à receita, falo do Mercado Municipal em outro post. Entenda apenas que compramos tudo no sábado, pra prepararmos as alheiras no domingo.

Domingo, precisamente na hora marcada, toca o interfone e meu pai chega. Um pouco mais tarde do que ele gostaria e algumas horas mais cedo do que eu precisaria, começamos os trabalhos. Até porque, trabalho é uma palavra que define bem a produção das alheiras: parceiro, te prepara porque essa receita dá um puta trabalho. Prepara a picareta, o muque e a força de vontade.

O primeiro passo é cozinhar algumas das carnes. Na alheira, vai frango, e vários tipos de carne de porco. Comece jogando numa panela grande, 1kg de frango. No nosso caso, compramos a sobrecoxa, porque tem bastante carne e fica fácil desossar depois.

Junto ao frango, adicionamos 1kg de lombo de porco cortado em cubinhos. Cortamos o lombo em vários cubinhos do tamanho de uma borracha de escola. Isso, lembra aquela borracha que vem com a capinha verde? Então, pega a faca, lembra dela e picota o lombinho do mocotó. Manda todo mundo pra panela.

Um ingrediente comum a qualquer linguiça é a barriga do porco. Sabe o que é a barriga do porco? É como o bacon, mas não é defumado. É cru. CRU, mente maldita. Com o erre!! Recomendamos atenção a este ingrediente. Um pequeno deslize pode te levar a inserir a parte errada do porco na linguiça, e nós sabemos bem o que acontece quando a linguiça se relaciona com as partes erradas e nós não queremos isso na nossa receita, certo?

Passados os entraves morfológicos da barriga do porco, picote aproximadamente 400g de tal elemento em cubinhos muito pequenos e jogue na panela junto ao lombo e ao frango. Cubra com bastante água, e bote pra ferver. Se quiser jogar um ou dois dentes de alho, não passe vontade.

Prepare-se pra costurar. Isso mesmo que você ouviu. Costurar. Faça um recorte num pano de prato, tomando todo o cuidado para a patroa não perceber. Recomendo jogar o resto do pano fora. Bom, no quadradinho de pano, despeje umas 10 bolinhas de pimenta preta (é a pimenta do reino). Agora feche como um envelope, e dê um jeito de fechar. É aqui que entra toda a sua habilidade com a agulha e linha. Pra fechar direitinho, pode ser que você tenha que costurar o envelope. Larga mão de frescura, costura esse treco logo e manda pra panela.

Enquanto ferve, você tem uma missão: arranjar 1kg de miolo de pão italiano. É, essa é dificil, parece gincana. E sabe como você cumpre essa missão? Compra muito mais do que 1kg de pão italiano, descasca e guarda o miolo. Se você é malaco, e eu confio na sua destreza intelectual, guarde as cascas pra fazer torrada ou algo do tipo.

Se você demorou uma hora e meia pra buscar os pães e separar os miolos [/chuck norris], a carne deve estar pronta. Hora da pescaria!

Pesque cuidadosamente todos os pedaços de frango e guarde. Depois pesque todo o resto das carnes. E guarde a água, você vai precisar daquele caldo de porco e frango.

Com o frango, você deve retirar o ossinho do meio da sobrecoxa. Depois, seu trabalho é desfiar o frango. Como você vai fazer isso é problema seu. Entenda apenas que, das sobrecoxas que haviam ali, haverão apenas fiapos de frango, ok? Legal, feito isso, guarda esse frango ae.

O porco terá um final muito mais trágico. Encarne o seu pior momento Sexta-feira 13 e moa toda a carne de porco. Isso mesmo, passe tudo no moedor, e tenha em mente que você vai precisar de um. Sem dó nem piedade, todo o lombo e barriga de porco vão virar uma verdadeira pasta.

Estamos quase lá, ansioso leitor. Daqui pra frente, é basicamente misturar tudo e temperar. Mas vamos por partes.

Pensa comigo, você já tem 1kg de lombo de porco, 400g de barriga do mesmo suíno, 1kg de frango e 1kg de miolo de pão italiano. Ou seja, temos quase 3,5kg de comida, fora o caldo da panela que reservou. Diante desse fato, admitamos que temos muita comida, certo? Então você pode imaginar que vai precisar sapecar toda aquela comida em algum recipiente, pra misturar tudo e fazer aquilo virar uma linguiça, certo? No nosso caso, lavamos uma bacia da lavanderia e foi lá mesmo que preparamos a iguaria.

Bom, então prepara o muque que a labuta agora é cascuda. O trabalho consiste em jogar miolo de pão, lombo, barriga, frango e caldo das carnes, todo mundo na bacia, e misturar. Não tem milagre, tem que meter a mão e fazer força, muita força.

Papai, ao mexer os ingredientes, lembrava-se das duas vezes que eu repeti de ano, ou seja: usou de violência. Porém, desta vez não contra este que vos escreve, mas contra os nobres ingredientes. Para a sorte deste que vos escreve. Caso contrário, provavelmente não mas escreveria.

Enquanto isso, tratei de apelar para o bom e velho migué, e fui de fininho preparar o tempero pra jogar lá, mantendo papai ocupado.

O tempero não é difícil, não. Num pote grande, joguei umas duas xícaras de azeite extra-virgem. Depois dessa trabalheira toda, nem pense em usar o azeite mais barato, ou achar que azeite e óleo de girassol são a mesma coisa. Sem serviço porco, mande lá duas xícaras de azeite extra-virgem, do bom.

Picote, bem pequeno, 4 ou 5 dentes de alho. Aproveita que o ritmo tá bom pra picotar, e picote um maço inteiro de salsinha. Manda todo mundo pra dentro do pote.

Hora das pápricas! Jogue uma colherada generosa de páprica doce pra junto do azeite, alho e salsinha. E como páprica pouca é bobagem, adicione uma colherada igualmente generosa de páprica picante. Seu molho vai ficar uma pasta meio vermelha. E, pra ficar mais vermelha ainda, jogue uma colherada sarada de um negócio chamado Colorau, que é um tempero à base de Urucum, e sabe-se lá o que isso significa, mas aprendi isso no Mercadão. Tá feito o registro. Recomendo picotar umas 5 ou 6 bolinhas de pimenta biquinha, porque essa fica gostosa até em pão com margarina.

Uma boa golada de sal dentro do seu tempero e pronto, basta misturar tudo e jogar na bacia. Faça como eu, convença o seu pai a mexer um pouco mais pra misturar o tempero ao resto das coisas. Isto posto, papai se cansou um pouco mais e mexeu aquilo tudo.

A linguiça tá pronta. Mas você não vai colocar a carne na tripa, aquela coisa toda, caro blogueiro? Não vou não, distinto leitor. A tradição familiar fez com que meus antepassados preparassem as alheiras sem, necessariamente, enfiá-las tripa abaixo.

Normalmente, enche-se a linguiça, e coloca-se um gomo na frigideira, pra tostar. A linguiça incha, por conta do pão, estoura e você frita aquela carne. Sendo assim, o senso prático dos Rodrigues achou que o baita trabalho de encher a linguiça não valia a pena se, ora pois, ela iria estourar mais adiante. Portanto, esqueça a tripa e pense na linguiça como uma pasta de carne que você vai fritar.

Preparando as alheiras
Horas depois do início dos trabalhos, você está apto a experimentar esta saborosa iguaria. O preparo é fácil demais. No nosso caso, aquecemos uma chapa de ferro fundido na churraca. Quando estava tinindo de quente, joguei lá um golinho de azeite só pra molhar a chapa. Na sequencia, joguei uma colherada de alheira, e, com a espátula, fui amassando aquela pasta até ficar fininho.

Depois, é só deixar lá e ir virando até ficar meio queimadinho dos dois lados. É assim que a alheira fica legal, porque o queimadinho é, na realidade, pão queimadinho. Pão queimadinho temperado. Com carnes. Com azeite. Não tem jeito disso ficar ruim.

Com isso, dei, junto com meu pai, o meu passo no resgate de uma tradição familiar, o que, por si só, já é motivo de muito orgulho. E ainda por cima, ficou uma delícia. Ah, você tem que experimentar essa verdadeira tradição familiar. A pena é que vovô não está aqui pra experimentar a minha alheira. O lado bom é que todo o resto experimentou, porque nossa receita rendeu 5kg de linguiça. Aí foi só separar em saquinhos e mandar pra vó, pra tia, pra irmã...

Em resumo, uma receita difícil e que dá muito trabalho, mas é muito fácil de acertar o ponto e extremamente saborosa. Uma verdadeira iguaria.

Custo: Foi caro. Gastamos, fácil, uns R$40,00. Mas são 5kg de comida, né?
Rendimento: 5kg, ué. Muita comida.
Tempo de preparo: Nossa, umas 10 cervejas na cozinha, mais umas 3 na churraca. Sirva bêbado.

Fogo na bomba: como acender a churraca

Quando você chega num churrasco e vê ali aquela fumaceira, ossos e outros lixos na mesa, gente alegremente bêbada caída pelos cantos e toda aquela atmosfera tipo "o capeta passou por aqui" que fica depois de um churrasco, você, o curioso leitor, se pergunta: Meldels, mas como é que isso foi começar?

Eu te respondo: o churrasco começa, oficialmente, quando mete-se fogo no carvão. É como o tiro pro alto nos 100 metros rasos, o "atenção emissoras da rede globo para o top de 5 segundos", ou a luz verde na fórmula 1 que, tirando o rubinho, bota os pilotos pra correr, o willian bonner pra falar e as nossas queridas e saborosas carninhas pra assar. Risca o fósforo, 1 2 3.. Valendo!

E essa hora de acender a churraca é especialmente peculiar. Cada churrasqueiro tem uma técnica milenar. Algumas interessantes, outras bizarras. Vou comentar aqui algumas, que já vi pessoalmente:
  1. O famoso túnel de jornal: Funciona assim: o camarada pega uma garrafa de cerveja, faz um rolinho com o jornal, enrola na garrafa. Depois tira a garrafa, e coloca aquele negócio na churraca. Joga uma golada de álcool, e despeja o carvão em volta, deixando o meio oco. A técnica é interessante porque utiliza bem a passagem do ar no túnel, mas tem seus pontos fracos. O primeiro é que dá trabalho enrolar a parada, apoiar os carvões e o escambau. O segundo é que usa papel. Acho uma grande bobagem acender o fogo com jornal. Pensa comigo: a fumaça é expelida pra cima, certo? Aí, o caderno de TV queima os resumos de novela, a ana maria braga e o louro josé de uma só vez, e vira uma espécie de fuligem, certo? E o que tem logo acima do fogo, geralmente é a sua carne, certo? E aí essa fuligem gruda na sua carne e você pode aproveitar pra ler as notícias encrustradas na sua picanha. Show!
  2. Uma certa vez, um animal que não me recordo quem era, usou uma técnica qualquer, e na hora de acender, jogou no carvão a bituca do cigarro que ele tava fumando. Não interessa a técnica, se você for porco assim, quem merece ser queimado é você, e não o churrasco. Não se esqueça de que a sua churrasqueira é um local pra fazer COMIDA, e não uma lata de lixo.
  3. A terceira técnica é bastante interessante, o rodapé de latinha. Funciona assim: você pega uma faca e destrói a latinha, de maneira que você consiga retirar apenas o fundinho dela. Aí você joga um pouco de óleo de cozinha no fundinho, acende e monta um predinho de carvão em cima. Olha, essa é uma técnica muito legal, porque o fogo do óleo é muito mais duradouro, vai pegar no carvão de qualquer jeito, mesmo que ele não esteja muito seco. O único probleminha é a perícia metalúrgica necessária à execução. Primeiro você tem que destroir a latinha com uma faca. O que pode, além da latinha, destruir o fio da sua faca. Se você fizer isso com a minha faca, perdeu a amizade, isso é um fato. O segundo problema é que, além de destruir a latinha e, eventualmente, o fio da sua faca, você ainda corre um sério risco de destruir a sua mão. Principalmente se foi você o folião que entornou aquela latinha. Mais ainda se você enxugou aquela latinha e mais algumas iguais a ela. Ou seja: com aquele alumínio fininho e a sua delicadeza de parafuso de trator, corre o risco de se cortar feio antes do churrasco começar, e passar o churras todo na base do band-aid. Mico na certa. Essa técnica é só pros bons. Se tu é tosco, esquece essa.
  4. O incinerador maluco: Essa é pra você descontar aquela raiva extra. Funciona assim: Joga todo o carvão que conseguir carregar dentro da churraca. Depois, empunhe o vidro de álcool (por favor, nada de álcool gel ou outras franguelices. Estou falando de álcool 96 graus, coisa de gente grande). Ok, encharque o carvão. Assim mesmo, sem critério, sem carinho e sem perdão. Agora é só encarnar o Nero e acender o fósforo. Recomendo tomar uma certa distância, pois essa costuma mandar Roma pelos ares. É a técnica preferida dos mais sem-noção, mas admitamos que funciona. Se o objetivo é pegar fogo, essa pega.
  5. A minha preferida: Pão velho. Eu sempre guardo pão velho aqui em casa. Tem uma gavetinha na fruteira onde eu vou guardando os restos de pão. Sempre que preciso acender a churraca, pego um tequinho, jogo um pouco de álcool, coloco no fundo da churraca, cubro com carvão e mando um fósforo, tomando o cuidado necessário pra acender o pão. Cabou-se. O pão demora um tempinho pra terminar de queimar, isso é o suficiente pra pegar no carvão. Além disso, o cheiro do pão queimando é bem mais legal do que jornal ou óleo, né?

Técnica muito utilizada pelos exércitos pretos em Omsk, no Aral e no sul da Dudinka.
Compreende segurar cartaz do bigodudo, jogar álcool sobre o próprio corpo,
acender o fósforo e pular na churrasqueira.

Eu acho que todas as técnicas são válidas, desde que respeitem um certo índice de limpeza. Não utilize jornal, querosene, gasolina, essas coisas. Não esqueça que a sua carne vai ficar muito perto desses ingredientes, e qualquer cheiro ou gosto adicional na carne é bobeira.

No final das contas, o que interessa mesmo é conseguir acender. Uma vez acendida a churraca, tá dado o start no seu churras e daí pra frente é só alegria.

E você? Qual a sua técnica milenar pra botar fogo na parada?

Churrasco de berinjela com queijo

Começamos este post com um desafio de torrar os neurônios do mais intelectualmente privilegiado leitor desta espelunca: Você, letrado, vivido e ligeiro leitor, sabe me dizer se o correto é escrevermos Beringela ou Berinjela? Com G ou com J? Tenho certeza de que me dei mal em algum vestibular por conta disso aí. Na verdade, me dei mais nos vestibulares mundo afora por outros N motivos, mas pode colocar uma parte da minha derrocada acadêmica na conta da beringela. Ou da berinjela, você decide.

Você não: o goooogle. Vamos perguntar a ele, porque nessas horas, Deus sabe de tudo.

A beringela (em Portugal) ou berinjela (no Brasil) é o fruto da planta Solanum melongena, uma solanaceae arbustiva, anual, originária da Índia, considerada de fácil cultivo nos trópicos, e que pertence à mesma família do pimentão que em Portugal é chamado de pimento, da batata e do tomate. É sensível ao frio, a geadas e ao excesso de chuva na altura da floração. A época de plantio, no hemisfério norte, é de Setembro a Fevereiro e, em regiões de clima quente, o ano todo.

Tá aí Deus que não nos deixa mentir. Perguntei a ele, Deus me disse que eu estava com sorte e eu cliquei. Deus abriu uma nova aba, e lá a Wikipedia resolveu a questão. Agora não temos mais problemas, e podemos chamar a saborosa acompanhante deste post simplesmente de berinjela.

Daí que churrasco de berinjela é coisa de vegetariano, né? É. E olha, nesse blog aqui a gente não tem viadagem com vegetariano não. Pensa comigo:
  • Se você for convidado pra um churrasco, só você e o vegetariano, proporcionalmente, ele vai comer todo o tabule, e você vai comer toda a carne. Tem relação custo-benefício melhor que essa?
  • Se você convidar um vegetariano pra um churrasco, vai poder tocar um foda-se no cardápio e preparar a carne que bem entender, do jeito que bem entender. Afinal, ele só vai comer o tabule mesmo.
  • Se o vegetariano for uma pessoa merecedora do seu carinho, você pode preparar a receita da abobrinha, que já foi escrita por aqui. Além de agradar o cara, vai agradar a si próprio, porque essa abobrinha aí é boa mesmo.
  • Ou, pode libertar o seu coração de todo o ódio e rancor, sair do lado negro da força e preparar a tal berinjela, da qual falamos tanto e necas de receita. Mas esse blog é assim, a gente enrola pra caramba e depois mete a receita num parágrafo só. Vai vendo.
Falando sério, não tenho o menor problema com vegetarianos. Já tive vários deles nos meus churrascos, já teve vegetariano que leu esse blog e comentou comigo que gostou, e até admito que faz falta mesmo uma verdurinha num churrasco. Se o cara vai num churras e não quer comer carne, respeite e dê a ele todo o broto de bambu, toda acelga e brócolis que conseguir encontrar e encha a sua cara (a sua, não a dele) de carne, afogando-se em proteína enquanto nosso amigo se mantém saudável, protege os animais do terrível açougueiro do inferno e ainda dá uma força pra camada de ozônio.

Legal, onde eu queria chegar mesmo? Ah, na receita. Vambora que a enrolação aqui já tá passando do limite.

Essa é uma receita que dá um certo trabalho, então não recomendo fazê-la num churrasco muito populoso, sob o risco de ficar apenas cuidando das berinjelas e queimar a carne. Portanto, esta receita compreende a preparação de apenas UMA berinjela grande.

O primeiro passo é cortar a berinjela em rodelas, da espessura de uma salsicha. Estou acreditando que todo mundo aqui sabe a espessura de uma salsicha, ok? Legal.

Importante: não descasque a berinjela. Sério, não faça isso. Descascar a berinjela, além de causar espinha e pelos na mão, estraga a sua receita. Portanto, limpe essa sua mente fétida, guarde a playboy da priscila do BBB e volte pra cozinha. E vê se lava a mão.

Uma vez fatiada a berinjela, jogue todo mundo num pote grande. Pode ser o pote da batedeira, mesmo. O próximo passo é uma golada generosa de azeite. Como já disse mil vezes, larga mão de ser muquirana e compra um azeite decente. A qualidade dos ingredientes que você põe na sua receita está diretamente relacionada à quantidade de elogios que você vai receber depois.

Picote, bem pequeninho, uns 3 dentes de alho. Sem preguiça, descasca o alho, deita na tábua, prepara a faca e manda o kill bill no alho.

Já tem azeite, tem alho, agora você pode mandar umas 2 colheradas de orégano. Já falei que azeite e orégano são o Romário e Bebeto da culinária. Praticamente o pedro e bino do churrasco. Tudo o que você colocar azeite e orégano fica bom.

Dê uma bela borrifada de mostarda preta lá dentro. A mostarda preta é especialmente bacana quando se fala de grelhados. A mostarda queima por fora e protege a carne (no nosso caso, berinjela), fica muito show.

Feito isso, jogue um punhado de sal. Com muita parcimônia. Não seja o monstro da salina maldita, jogue o suficiente pra ficar bacana, e cuidado com a pressão.

Picote um tomate em cubinhos e jogue lá dentro. Um tomate legal pra se usar nessa receita é o tal "tomate cereja", carinhosamente apelidado de tomate-cerveja. Nesse caso, basta cortá-lo ao meio e ele tá no jeito pra se juntar com a berinjela. Tenha em mente que cada fatia de berinjela vai precisar de um tomate lá em cima. Portanto, cuidado pra não sobrar tomate, nem faltar. Faça a conta, rapaz. Jogue o tomate pra dentro do pote.

Na real, você já pode misturar tudo e considerar a parte da cozinha finalizada. Eu, particularmente, gosto de adicionar ainda umas 2 ou 3 pimentas biquinhas, que é a pimenta mais querida do Brasil, tanto no pessoal quanto no profissional. Ou seja: essa é a hora de você dar aquele toque especial na sua receita.

Agora vamos pra brasa. Nós e a berinjela. Tenha em mãos uma bandeja de queijo mussarela fatiada, ok?

Agora deite algumas berinjelas na grelha, e abra uma cerveja. Na verdade, eu acho que depois de todo aquele trabalho na cozinha, você já abriu a cerveja. No caso, abra outra.

O fogo vai queimar a parte de baixo da berinjela. Quando começar a ficar preto, você vira. Dá dois goles de breja e bora pra fase final.

Dobre uma fatia de queijo em 4 partes. Coloque em cima da berinjela. Depois, coloque um pedacinho de tomate em cima do queijo.

Deixe lá na grelha até o queijo derreter. Tá pronto, você pode tirar e servir.

Apesar da aparência emboiolada, fica uma delícia. Recomendo.

Custo: ah, preço de berinjela. Vamos dizer que uma berinjela, tomate-cerveja e queijo custaram menos de 10 cruzeiros. Tá bom, né?
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha, e mais umas 3 na churraca. Sirva feliz.
Rendimento: Uma berinjela dá umas 7 ou 8 rodelas.

Como preparar uma costela de cordeiro

Olho pela janela e vejo uma belíssima tarde de sexta feira, e noto que acabei de receber 2 comentários no blog, de 2 leitores das antigas. Boa gente, esse pessoal. Isso me acalentou, porque pude notar que, além de mim, ainda existem outros seres cuja mente diabólica não consegue pensar em outra coisa, a não ser enrolar o máximo possível com o trabalho e poupar o que sobrou da sua mente para arquitetar o churrasco que acontecerá no pós-horário comercial.

Isso me lembrou que eu fui muito confuso no post anterior, e tou devendo uma receita bacana aqui pros churrasqueiros que lêem estas mal-escritas linhas. Mas eu explico a baixa qualidade: eu, ao contrário do que parece, não interrompo o meu trabalho pra escrever aqui. Vou naquelas, escrevo uma frase, ALT+TAB, escrevo outra, ALT+TAB e assim vamos. Num desses alt+tab da vida, aconteceu uma coisa terrível, tão terrível que eu não posso sequer escrever aqui. É como se eu tivesse sido testemunha de um crime horroroso, coisa de polícia mesmo. Quando tudo acabar, eu conto o que aconteceu, agora não posso. Mas então você deve imaginar que fica difícil alguém escrever sobre churrasco enquanto tem contato com a face mais nefasta desse bicho tosco chamado humano. E não, eu não cometi um crime, eu VI um crime. Mas deixemos isso de lado e voltemos ao trabalho porque a tarde está linda.

Ao trabalho, não. A todo o esforço possível a ser empregado na atividade de enrolar para não trabalhar. Com este cérebro condicionado, me veio à memória uma carne bem legal que eu fiz, fotografei, mas não registrei aqui.

Meninos e meninas, com vocês, a Costelinha de Cordeiro!!!!

Pois é, o cordeiro é um bicho ligeiro, e na mente do matreiro, vai direto pro braseiro, com uma pitada de tempeiro, faz a alegria do churrasqueiro, e se o melhor do Brasil é o brasileiro, mete logo num letreiro, a tal receita do cordeiro.

E traz a sanfona que hoje é dia.

Voltando ao assunto, você conhece o cordeiro, não? O cordeiro é o filhote do seu carneiro e da dona ovelha, que fica com esse nominho até os 4 meses, quando vira hominho, cresce a barbicha e o chifrão, e ele ganha o nome de cabrito, seguindo os passos do pai.

Pois bem, passeando tranquilamente pelas gôndolas do supermercado do Seu Abílio, deparei-me com a costelinha do cordeiro, linda e suculenta, olhando pra mim de dentro daquela bandeja de isopor, envolta num frio e sufocante papel-filme. Com os olhos marejados, acalentei a peça, cantei dois nana-nenês e levei pra casa, prometendo-lhe um lugar quentinho para espantar o frio da geladeira do supermercado. Não sem antes passar no caixa, pois aconselho a todos evitar a truculência dos senhores que ganham a vida evitando que pessoas levem coisas sem pagar nos mercados desse mundão afora.

Chegando em casa, preparei a caminha para ela, usando muito carvão vegetal, álcool e um pedaço de pão. Não aquele pão pra quem tem fome, mas sim o pão pra acender a churraca. Fósforos também são bem vindos.

Enquanto isso, achei de bom tom cobrir a pequena e indefesa peça de carneiro-nenem. Pra isso, despejei alguns goles de azeite extra-virgem num recipiente, e picotei 3 dentes de alho lá dentro. Na sequência, joguei um gole de vinho branco, só pra dar um agrado.

E, como cama de criança tem que ser colorida, picotei um maço inteiro de hortelã bem verdinha e misturei com o molho.

Uma dica importante: quando a carne é de cordeiro, todo o hortelã do mundo é pouco. Portanto, vá ao mercado e compre todo o hortelã que você puder carregar. Cordeiro e hortelã nasceram um para o outro.
Feito isso tudo, picotei duas bolinhas de pimenta biquinha, joguei uma mãozada de sal grosso e misturei. Coloquei a criança sobre uma bandeja, e cobri com carinho.

Enquanto isso, a caminha lá na minha churrasqueira já estava quentinha, faltava só deitar o bebezinho. Assim procedi.

Deitei na grelha, cobri cuidadosamente com o cobertorzinho que fiz pra ela, cantei um ou dois bois-da-cara-preta e deixei ela ali, descansando e se aquecendo.

Quando se fala de costela, não interessa se é de porco, de boi, de cordeiro, de taturana ou da luciana gimenez. Você sempre tem que deitar na churraca com os ossos virados pra baixo. Isso porque a membrana que liga os ossos vai endurecer levemente e proteger a carne das labaredas, e ajudar a armazenar os líquidos lá dentro. Além disso, os ossos vão esquentar muito, e assar a carne a partir deles. A tudo isso, deve-se aliar boas doses de paciência, pois costelas costumam demorar. Portanto, deita com os ossos pra baixo, abre uma cerveja e espera. Abre outra e espera mais um pouco. Cabou? Abre outra e espera mais um pouco.

No caso dessa costela, como era uma peça pequena, ficou de ossos pra baixo, mais ou menos umas 6 brejas, quase o tempo de um jogo de futebol.

Vai acompanhando, você vai notar que, à medida que a costelinha vai ficando pronta, a carne começa a querer soltar do osso.

Quando meu sexto-sentido me disse "i see dead people" eu me borrei todo. Não, nada disso, ele disse: "vira ela, filho". E eu virei, só pra deixar tostar um pouquinho a carne e o tempero que estava em cima. Alguns minutos depois, estava pronta para a degustação.

Recomendo seriamente. Facinho de fazer, e pode te ajudar a conquistar garotas, fazer amigos e influenciar pessoas.


Coisinha linda do pai.


Olha o bebê querendo levantar do osso.


Só virar com o osso pra cima, pra dar uma torradinha e o bebê tá pronto.


Custo: não lembro mais, desculpa ae. Mas não foi caro, não. Quer dizer, é uma carne cara, mas como o pedaço era pequeno, custou pouco dinheiro. Não faria num churrasco pra 200 pessoas.
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha e umas 7 na churraca. Todas na cabeça, na alma e no coração.
Rendimento: pouco mesmo, serve duas pessoas e olhe lá. É uma carne magrela, com bastante gordura e ainda tem o osso. Faça como eu: seja esperto e prepare para a sua garota :-)

Uma maneira explosiva de preparar uma costela de boi

Começamos a semana nesta terça-feira, o que é um fato bacana, mas perigoso. Bacana porque a semana é mais curta, mas perigoso porque tenho um prazo cascudo pra cumprir, e essa segunda sem trabalhar vai me fazer falta.

Falando nisso, na tal segunda de sol eu também fiz algo perigoso, ao mesmo tempo bacana. Vamos começar ilustrando um pouco melhor essa questão do "perigoso e gostoso". Vem comigo conhecer melhor o conceito de alguma coisa que pode ser bacana e perigosa ao mesmo tempo. Falemos hipoteticamente:


Feiticeira é uma gostosa. Creio que concordamos se tratar de uma verdadeira delícia.


Agora vem a parte do perigo. A garota em questão atualmente encontra-se casada com o Vitor Belfort, que, caso você não saiba, é um dos expoentes do Jiu-Jitsu, pancadaria e começão de couro aqui no Brasil.


Isso tem um nome: bicuda.

Isso faz o ato ou efeito de investir na Dona Joana, uma experiência de altíssimo índice de periculosidade. Sacou? Joana Prado é, ao mesmo tempo, gostosa e perigosa. Tal e qual a nossa receita de hoje, esta perigosa terça que não é segunda, embora ontem tenha sido domingo. Esqueçamos a joana prado, de agora em diante. Caso não consiga esquecê-la, chamaremos Vitor Belfort, que ele te ajuda a esquecer.

Esquecer o que?

Ah, vamos a receita. A verdade é que, por conta dela, quase o escriba desta espelunca passou desta para uma melhor, foi para a terra do pé-junto ou comeu capim pela raíz. Quase, não fosse o famoso e aclamado Santo de Bêbado, que me tirou da cena do crime na hora da explosão. Explico:

Trata-se de uma maneira alternativa e muito bacana de assar a costela do boi na churrasqueira. Como você já sabe, e se não sabe clica aqui, a costela do boi é uma carne extremamente saborosa, mas dá uma trabalheira do capeta prepará-la. Isso porque ela precisa ficar no alto da churrasqueira por muitas horas, e bla bla bla.

No caso da costelinha-bomba, o lance é fazer alguns furinhos na peça, adicionar sal e um gole de cerveja, embrulhá-la no papel celofane e deixar descansando no alto da churraca. A carne fica muito, muito macia e saborosa, e além de tudo faz deste que vos escreve um grande exemplo de como a contradição sempre acaba fazendo parte da retórica.

Desde o início deste blog, eu sempre disse que a "cerveja é minha e nenhuma comida vai tomá-la por mim". Pois é, mas ultimamente eu tenho adicionado tanto vinho e outros gorós aos pratos que faço, que decidi que eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela opinião formada sobre tudo e desdizer hoje aquilo tudo que eu lhe disse antes.

Pois é, vou te explicar os porques das coisas. Você faz pequenos furinhos na peça. Depois, deita ela sobre um pedaço grande de papel celofane. E estou imaginando que você saiba a diferença entre o celofane de churrasco e o celofane da embalagem de ovo de páscoa, ok? Beleza, deita a peça de costela bovina lá, e dá um jeito de fazer uma canoa pra cerveja não esparramar pela pia. Ah, você entendeu: tem que derramar um pouco de cerveja na carne sem lambrecar a pia da sua casa, nem molhar o pé e, pelamordedeus, não desperdiçar cerveja. E pode jogar pouca cerveja, é só uma molhadinha de leve.

Ok, feito isto, você começa a embrulhar a carne com o celofane, dando várias voltas. Use sem dó, toda a economia que você fizer agora vai se transformar em perigo lá na frente. Na hora de fechar, você tem que dar um nó na ponta do celofane, pra vedar. Atenção, é aí que mora o perigo: A peça precisa estar bem fechada, mas é importante você deixar um dos lados levemente mais solto do que o outro, pra funcionar como uma válvula de emergência.

Assim que deitar a pecinha de carne no alto da churraca e meter um fogo bom ali, a cerveja vai começar a ferver, ajudando a cozinhar a carne. Esta, por sua vez, perde bastante líquido e derrete bastante gordura, que vai ferver junto, fazendo o capeta dentro do celofane. Então, aquilo tudo vira uma espécie de panela de pressão. Você pode até ver as bolhas da gordura fritando tudo lá dentro.

Com isso tudo, a carne deve ficar na churraca, por mais ou menos 1 hora por Kg de carne, além de umas 3 horas iniciais. Ou seja, se você tem 1kg de costela, deixa lá por 3 horas. Se tem 2 kg de costela, deixa lá por 4 horas. Sacou? Essa cozinhada toda vai fazer da carne ficar muito macia. Passado esse tempo, basta abrir a embalagem, retirar toda a peça e deixá-la mais perto do fogo, pra dourar por fora. Depois corta e come, simples assim.

Onde tá a parte do perigo, aí? O vitor belfort por trás da feiticeira, no nosso caso, é a gordura fervendo dentro do celofane. Aquilo ali é de plástico, e fino.

Certa vez, estava eu ansiosamente aguardando os minutos finais, observando as borbulhas e peripécias de uma costela muito louca num celofane do barulho [/sessão da tarde], quando algo me chamou a atenção. Assim que saí da frente da churrasqueira, aquela bomba explodiu, jorrando a gordura quente a mais de um metro de distância. Certamente, se eu não tivesse saído naquele exato instante, teria sofrido queimaduras gravíssimas. Por isso que eu recomendo deixar um nozinho mais frágil que o outro, pois assim você cria uma válvula de escape e evita que a costela-bomba faça jus ao próprio nome.

Caso consiga cumprir com todas as exigências e normas de segurança para a produção desta iguaria, é certeza de bom churrasco. A carne da costela bovina, também conhecida como minga ou ponta de agulha, é uma das mais saborosas.

Devaneios pré-feriadão

Estamos ansiosamente às portas com mais um feriadão, onde vamos comemorar efusivamente o berro que o dom pedro, que não era barrichelo mas era segundo de orleans e bragança, deu às margens do ipiranga, às margens plácidas.

Aí, isso me lembra do presente que a Vanusa nos deu essa semana, cagando-se toda ao cantarolar o hino nacional, aparentemente com a cara cheia de cana. Não sabe do que eu tou falando? Ah, pergunta pra Deus assim: Vanusa + hino nacional. De preferência no youtube, vai lá.

Voltou? Gostou? Eu adorei. Não vejo a hora de terminar esse dia útil de 4 de setembro de 2009 pra dar início ao que realmente é útil e, tal e qual Vanusa, mandar o refrão em mandarim.

E daí que isso não tem nada a ver com churrasco.

Então eu abro uma nova aba e meto logo um Terra nela. E como o terra só tem reportagem trash, vem essa aqui na minha frente: "Preso suspeito de esconder carne e linguica na cueca". Nem precisa clicar que eu te explico: cidadão brasileiro, vacinado e maior de 18 anos vai no supermercado, enfia 1,8kg de alcatra e duas linguiças na cueca e acha que ninguém tá vendo. Depois pega uma bisnaguinha seven boys e passa pelo caixa achando que tá tudo bão sebastião.
Esse caso merece uma reflexão mais aprofundada. Vamos a ela, NA TELA.
  1. Tiozão, se tu vai roubar, rouba logo uma picanha, rapá;
  2. Alguém me diz o nome desse cara, porque na casa dele eu não tomo nem água da pia. Isso lá é lugar de guardar comida, fiote?
  3. Quem descobriu o roubo tava olhando a mala do tiozinho?
  4. Abriram as cuecas dele e encontraram 2 linguiças, mas a câmera de segurança só registrou o furto de uma. Quantas ele roubou, quantas já estavam lá? Quantas linguiças encontram-se atualmente nas dependências cuecais de tiozinho?
É, mas isso aí, apesar de falar de carne, nem é assunto pra churrasco.

E daí que a xuxa entrou no twitter e deu o maior bafão essa semana, e nesse meio tempo eu descobri que a xuxa não gosta de churrasco. Diante disso, a rainha dos baixinhos adentra honrosamente a nossa galeria, tornando-se membro denemérito da sociedade desorganizada Gato na Grelha. Dona xuxa, prepara o advogado que agora tu viraste personagem por aqui.

Mas isso aí também não é, assim... um baita assuntão, né?

E sabe porque a coisa tá desse jeito? Porque eu li a previsão do tempo para o feriado que lentamente se aproxima, e a previsão de chuva é nefasta, passa dos 100% de probabilidade. Ou seja, vai chover o tempo todo e mais um pouco. Vai chover o tempo todo e muito.

O que nos faz trocar momentaneamente a churrasqueira pelo guarda-chuva, e lamentar a ausência de carne e fumaça no nosso organismo até a volta do calor, do tempo bom, da moral e dos bons costumes.

Bons tempos mesmo era quando a previsão do tempo era feita na base do chute, e a chance de você ter boas surpresas era bem grande. Maldita tecnologia.

Bom feriado.

Carvão é um saco

O carvão é o apetrecho mais injustiçado da história do churrasco. Isso porque, a menos que você utilize uma churrasqueira elétrica, a gás, ou queime as cadeiras da sala da sua mãe, você, invariavelmente, precisa de carvão pra fazer um churrasco. O problema é que ninguém se importa com o carvão, a menos que ele falte.

Carvão é coisa séria, parceiro. Você sabia que, nos idos de mil-novecentos-e-vovó-mocinha, usava-se o carvão como combustível para trem? Isso mesmo, o carvão que vai na nossa churrasqueira é capaz de mover um trem. Praticamente uma churrasqueira ambulante. E se ele é capaz de mover um trem, imagina o que ele é capaz de fazer com uma picanha?

Tem indústria que usa carvão pra aquecer seus fornos, tem gente que usa o carvão pra desenhar, e a gente, que não é maquinista, nem metalúrgico e nem artista, mete fogo na parada e bota o carvão mesmo é pra torrar na churrasqueira. Vamos ao mercado, voltamos com o famoso saco de papelão, inserimos as pedrinhas da alegria na churrasqueira, um teco de álcool e pronto: tá feito o inferno na sua churraca e agora é só deitar a sua carne. Sua não, a da vaca, no caso.

Pois é, mas ultimamente, esse carvãozinho no saco de papelão só tem me dado tristeza. Vocês também tem notado como caiu a qualidade do carvão? Pelo menos aqui em são paulo, comprar um carvão bom virou uma atividade dos infernos.

Você vai no mercado e compra as carnes, sal, cerveja e carvão. Sai de lá portando um churrasco inteiro com você. Aí você chega em casa, abre o saco de carvão e percebe que ali tem uma ou outra pedra grande, e o resto é, literalmente, só o pó, uma espécie de farofa de churrasco. E você até consegue acender a churraca com esse pó, mas depois de aceso, basta jogar a maldita farofa de carvão sobre o fogo pra apagá-lo. Mas porque diabos os fabricantes não colocam apenas as pedras grandes no saco? Ora, seus fabricantes, olhem direito para os vossos sacos!!

Pois pode preparar a vinheta das Organizações Tabajara, porque os seus problemas acabaram!! Vou te dar a dica que me deram (sic) e resolver os seus problemas carvorais. Desde que você more em são paulo, claro. Desde que tenha disposição pra se mover até a avenida Tancredo Neves, claro. E desde que tenha 30 cruzeiros nesse bolso furado. Portanto, se você não conseguiu cumprir os 3 requisitos mínimos para continuar lendo este post, lamento, parceiro, mas você vai continuar chorando sangue, suor e cerveja a cada vez que abrir um saco de carvão.

O nome da solução mágica responde ao nome de Carvão Gaúcho. Antes que me pergunte, eu não conheço o Seu Gaúcho, nem sequer sou gaúcho e não tou recebendo nada pra escrever isso aqui, embora agradeceria se o Seu Gaúcho mandasse umas sacas de carvão lá pra casa.

Isso mesmo que você leu: sacas. O Carvão Gaúcho, além de vender nos mercados, açougues e botecos vagabundos Brasil afora, também tem uma loja, cuidadosamente escondida num bairro ruim de São Paulo. E, nessa loja, eles vendem SACAS de carvão. A um preço honestíssimo, que faz valer a pena o perigo de adentrar a região.

E é nesse pequeno parque de diversões do churrasqueiro que você pode ter o prazer de comprar uma saca de 15kg do mais puro carvão, pagando apenas 30 mangos. Ou seja, enquanto o seu Abílio tem coragem de cobrar R$7,00 num saquinho de 2,5kg de um carvão de péssima qualidade, o Seu Gaúcho te olha feio, mas cobra 2 reais o kg. E o mais legal é que o Seu Gaúcho é um cara de visão. Ele separa as pedronas de carvão da farofa, porque ele sabe que a pedreirada nesse mundão de Deus precisa usar alguma coisa pra encher laje, e essa farofa pode muito bem ser usada pra isso. Então, uniu o útil ao agradável e vende um carvão excelente a um preço honestíssimo.

Tá dada a dica. Nem vou dar o endereço, porque o site do Seu Gaúcho é um espetáculo à parte e vale a visita. O site até é bem feitinho, mas tem pequenos detalhes que só um vendedor de carvão é capaz de proporcionar. O endereço da loja está na página "Contato", onde você vai encontrar uma simpática chaminha pegando fogo ao lado do título, e a foto de recepcionista mais mal cortada da história do Photoshop. Deleite-se: www.carvao.com.br.

UPDATE: O nosso amigo André Ogrodoy, que rabisca o conteúdo de sua mente no blog Ogros na Cozinha, mandou uma bela dica para aqueles que gostam de flertar com a gambiarra. Diz ele que aprendeu na argentina. Corre lá pra ver que a dica é boa!

Receitas dos leitores: Churrasquinho turbinado, por André Gebaile

Olha, se tem uma coisa que a gente curte muito é pagodeiro dando entrevista. A cada 4 palavras, rapaziada manda umas de humildade. Beleza que o cara tá coberto de ouro, numa limusine bmw laranja conversível e coloca na letra da música que tem um casaco de bisón (kkk), mas a humildade é o que pega, certo mano? E eu simijo com essas paradas aí. Jogador de futebol, charlie brown junior, pleno ou senior é tudamemamerda. O cara ficou rico e metido, mas continua com o mesmo discursinho besta de humildade.

A verdadeira humildade, segundo Deus, está transcrita nas linhas abaixo:
Humildade vem do Latim humus que significa "filhos da terra". Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é a virtude que dá o sentimento exato da nossa fraqueza, modéstia, respeito, pobreza, reverência e submissão.
Sacou? Pois então sejamos fracos, modestos, pobres, reverentes e nos curvemos ao cara que nos mostrou que Yes, We Can e um churrasquinho com queijo pode se tornar muito mais do que um simples churrasquinho com queijo.

André Henrique Pacheco Gebaile é um cara que quebra as regras, é um cara que chuta bundas, um cara que sabe das coisas e, pasmem: André Gebaile sabe onde está o Belchior!!!

E, do alto da sua sapiência, André Gebaile leu o post sobre o churrasquinho com queijo e mandou a dica do século. Leia as sábias palavras com seus próprios olhos:

E conforme havia falado, o how-to do churrasquinho com queijo plus advanced ;)

1) Pegar um pão francês, abri-lo ao meio, e passar um pouco de requeijão em ambas as fatias.
2) Fritar o bife de Contra-Filé ou Patinho, ao ponto. Quando estiver quase pronto, colocar 3 fatias de queijo prato sobre o bife e jogar um pouquinho de água (uso 2/3 duma tampinha de garrafa d'agua como medida) na frigideira para facilitar o derretimento do queijo.
3) Na fatia da parte de cima do pão, acomodar algumas folhas de alface (cerca de 3 ou 4) e algumas rodelas finas de cebola e duas de tomate. Temperar com orégano, pimenta do reino, um tiquinho de azeite.
4) Após o queijo estar derretido, acomodar o bife no pão, fechar o sanduíche e correr para o abraço.

O requeijão desempenha um papel fundamental nesse sanduíche e convido vcs a saborear a receita. É assaz =D

abraços,
André
E foi assim que procedi, com minúsculas diferenças no procedimento, em relação à receita original. Tão minúsculas que sequer vou postar aqui, deixando ao nobre leitor a oportunidade de experimentar, como bem disse o autor, assaz iguaria.

Se você não entendeu que pica é essa de botar alface e requeijão no churrasco é porque não entendeu o espírito da coisa. Churrasquinho com queijo é um sanduíche, composto de pão, contra-filé na chapa, queijo e outro pão. O link pra receita original está aqui.

E, como nada nessa vida é de graça, deixo o parágrafo abaixo com a responsabilidade de ilustrar o nobre homem que elevou o churrasquinho com queijo a uma categoria intergaláctica dos lanches tradicionais. Com vocês, André Henrique Pacheco Gebaile, por ele mesmo:

André Gebaile, 22 anos, webdesigner da Spinelli Corretora de Valores e do investBolsa Home Broker, e freelancer nas horas vagas, fala sobre o ponto de vista pseudo-abstrático da metafísica quântica das coisas no seu twitter ( @pachecogebaile ), e também pode ser achado no email pachecogebaile@gmail.com

Mas.. e o Belchior, hein?

Pesquisa Gato na Grelha

Sabido leitor, eu podia tá matando, eu podia tá roubando, assim como poderia tá num iate maravilhoso, ancorado numa ilha do oceano pacífico, fazendo churrasco e tomando cerveja importada. Mas não, eu tou aqui pedindo um segundo da sua atenção pra responder à primeira Pesquisa Gato na Grelha. Mas que diabos você está fazendo, churrasqueiro? Tá pensando que é departamento de marketing?, pensa o iluminado leitor. E pensa certo, mesmo errando.

E como aqui a gente não fica de picaretagem e eu não estou nem um pouco afim de enganar ninguém, segue a justificativa: eu estou com uns pensamentos meio malucos na minha cabeça, e pretendo fazer este pensamento maluco virar realidade. Mas não uma realidade maluca, porque realidades malucas são aquelas que fazem a gente achar que é Napoleão ou ficar vendo elefantes de bolinhas voando. E como a gente faz pra uma idéia maluca não virar uma realidade maluca? Planejamento é o nome da brincadeira. E é disso que eu estou brincando nesse momento.

Bom, companheiro. Tudo o que você tem a fazer é responder às poucas perguntas que eu coloquei num formulário.

Com isso, eu poderei planejar melhor a minha maluquice, e tal qual disse Raul: "Controlando a minha maluquez, misturada com a minha lucidez", fazer a coisa virar verdade.

Garanto, mas garanto meeeesmo, que, em tudo dando certo, os maiores beneficiados serão vocês. E garanto também, que não estou procurando delimitar um perfil básico do meu usuário pra depois encher isso aqui de propaganda. O blog não é a casa da sogra e nunca vai ser.

E agradeço, com antecedência, aos que participarem. Valeuzão rapá!

Receitas dos leitores: Farofa de cebola, por Angela Priscila

Eu já ia começando este post com uma errada. Ia escrevendo assim: "A farofa da Angela Priscila". Até aí tá ok, porque você tem que ter uma mente muuuuuito, mas muuuuuito suja pra achar que eu tou sendo malicioso. E como eu sei que essa tua mente é mesmo um poço de podridão, preferi mudar a sintaxe e me safar dos trocadilhos. Imagina o quanto isso não poderia me complicar no futuro? "A costela do Adão", por exemplo. Essa aí até vai, mas eu poderia cair numa pegadinha tipo "A linguiça do Bernardão", ou "A maminha da Julieta", e aí, fio... até explicar que focinho de porco não é tomada, lá se vai um blogueiro pro olho da rua... Portanto, ficaremos por isso mesmo. O nome da receita, mais o nome do autor. Sem mais delongas, vamos à iguaria porque essa é bem legal.

Angela Priscila nos escreveu diretamente de São José do Rio Preto, e nos iluminou com seu conhecimento no post da Linguiça Cuiabana. Ela não apenas escreveu sua receita, como também apontou um açougue em Rio Preto que vende a tal Cuiabana. E, não contente, ainda deu o endereço do local. Vai lá pra conferir e volta que a gente te espera.

Do alto do seu conhecimento, a garota em questão ajeitou o cabelo, deu uma última conferida na vestimenta e bradou:
Tou de TPM, porra!!
Não, esquece, não é nada disso. É que a minha esposa tá de tpm e o medo de voltar pra casa tá me tirando a concentração. Peço desculpas aos leitores, e peço apenas que rezem por minha alma, pois quando eu chegar em casa eu tou frito :-P

Voltando ao que nos interessa, Angela Priscila nos disse:
Lá vai a receita da farofa:
Ingredientes:
- Óleo;
- Cebola (pelo menos duas);
- Farofa de mandioca pronta para churrasco picante (Eu uso a SIAMAR, mas pode ser qq marca).
Vc corta a cebola em fatias, depois vc corta as rodelas em quatro partes iguais. Numa panela vc coloca o óleo para esquentar. Qdo o óleo estiver no ponto (quente o bastante para que ao jogar a cebola ela já comece a soltar bolhinhas, digo fritar, vc vai mexendo a cebola até que ela pegue uma cor dourada. Então, vc joga a farinha temperada e ainda mexe um pouquinho no fogo baixo. Ela deve ficar meio molhadinha. O gosto é uma delícia!! Experimente e depois me conta tá?
Boa sorte!
Abraços!!
Bom, na semana passada resolvi experimentar o quitute, e abaixo detalho a epopéia.

Começando pela farofa: não tinha em casa dessas farofas prontas, no momento da preparação. Mas havia um pacote de Farinha de Mandioca queimada. E, claro, não estou sugerindo ao nobre leitor que queime a mandioca, pois acredito se tratar de um processo deveras perigoso e um pouco desconfortável. Recomendo que compre a farinha pronta no mercado, deixando para outrém as consequências da sua fabricação. Fato compreendido: você pode usar a farofa pronta, como bem sugeriu a dona da receita, ou usar a farinha de mandioca queimada. No caso desta receita, a segunda opção.

É interessante você preparar todos os ingredientes antes, pois a farinha vai ao fogo e vira farofa como num passe de mágica. Antes que o cid moreira possa dizer que o mr. m é o senhor de todos os sortilégios, a sua farinha terá virado farofa. Mais fácil do que tirar coelho da cartola e mais simples do que a baranga que vira monga, por mais que o padre quevedo insista que mulher macaco não ecxsiste. Portanto, mãos à obra, rapazeada.

Resolvemos, eu e a minha doce esposa (tomara que ela leia isso antes de eu chegar em casa), adicionar alguns badulaques, pois a nossa farinha não tem, literalmente, gosto de nada. O primeiro ingrediente já é velho conhecido, capaz de fazer um rombo na sua coronária e infartar o seu cardiologista. Estamos falando do pequeno pedaço de alegria que responde pelo nome de bacon. Cortei duas fatias de bacon do tamanho de um polenguinho cada uma, e picotei em pedaços menores. Cada tequinho ficou do tamanho de um exército do War (magina que legal jogar war assim? O seu objetivo é eliminar todos os exércitos Bacon). Isto feito, guarda tudo num pires e vamos pra próxima etapa.


- Bacon, eu?

A cebola. Não esqueçamos assim de quem, tantas vezes, nos fez chorar. E, chorando se foi quem um dia só me fez chorar, corta a cebola em rodelas fininhas. Separa os aros da rodela (putz, será que deu pra entender o que isso significa?), de maneira que você vai ter uma cebola em argolas. Use uma cebola inteira, nesta receita, toda cebola do mundo é pouca.

Pode picotar alguns dentes de alho. Uns 3, pelo menos. Aliás, picotar não, fatie cada dente, tirando uns filezinhos de alho. Isso vai fazer o capeta na hora de fritar.

Outra que faz o capeta nessa receita é a azeitona. Separe umas 4 azeitonas, e picote com cuidado pra não se cortar (puta frase de mãe). É mega chato tentar tirar a carne da azeitona do caroço, e você pode fazer como eu fiz: de qualquer jeito. Os pedaços de azeitona ficaram cada um de um tamanho, coisa feia mesmo. Mas fica tranquilo, porque depois que misturar tudo, ninguém mais sabe o que é o que dentro daquela farofa e tá valendo.

Se você gosta de farofa apimentada, pode sapecar a pimenta de sua preferência. Eu sou fã da pimenta biquinha, também conhecida como baianinha. Ela é cheirosa e super leve. E como não sou daqueles que come sorrindo e descome chorando, prefiro pegar leve na pimenta. Mas essa fica a seu critério, picote o quanto quiser da pimenta de sua preferência.

Agora vamos botar fogo nesse negócio todo. Antes, me esqueci de que ainda não falamos de cerveja neste post. Portanto, abra uma breja agora. Quero ouvir o barulhinho, vamos lá.

Ok, com a breja aberta, o bigode molhado e a alma lavada, continuemos com a farofa.

Numa panela, jogue uma golada de azeite, o suficiente pra cobrir o fundo da panela. Angela Priscila sugeriu que colocássemos óleo, mas eu sempre prefiro o azeite. Dá uma golada na cerveja, e reflita sobre a situação política do azerbaijão meridional. Isso deve durar uns 15 segundos, e é esse o tempo que deve deixar o azeite esquentar. Pra testar, joga uma rodela de cebola. Se começar a fazer barulhinho, o azeite tá quente e a mágica pode começar.

Faça a alegria do porco em cubos: jogue o bacon lá dentro e fique admirando aqueles cubinhos de felicidade e colesterol fritando alegremente. Deixe os porquinhos fritarem um pouco, e depois mande as cebolas pra fazer companhia a eles. Você tem que mexer de vez em quando, pra elas fritarem por igual. Aí é só ir mexendo e sentindo o cheiro maravilhoso que vem da panela, até que as cebolas fiquem amarelinhas, e com um aspecto meio molenga. A impressão que dá é que a cebola ficou transparente.

Hora de jogar o alho. Abra uma cratera no meio da cebola e bacon, e jogue os alhos, de maneira que eles fiquem em contato com o fundo da panela. Deixe assim alguns segundos. Isso vai fritar os filezinhos do alho, e isso é bom demais. Sente o cheiro, dá vontade de meter uma colherada na panela. Um pouquinho depois do alho, você pode jogar as azeitonas. Agora tem que misturar o tempo todo, senão a cebola e o alho queimam e aí tá feita a lambança.

Pronto, tá tudo pronto pra entrada da farinha de mandioca queimada. Sendo assim, tá esperando o que? Joga lá dentro umas 2 ou 3 xícaras de farinha de mandioca queimada.

Mexa bem, pra fazer os ingredientes se entenderem. Aproveita enquanto deixa torrar um pouco e dá umas pitadas de sal (se você tá usando farofa pronta, não ponha sal), e jogue a pimenta.

Deixe lá no fogo por algum tempo até que a farofa comece a pegar cor, e tire quando o seu juízo mandar. Vai pelo instinto, você vai saber a hora.

Pronto, agora é só comer. Faça isso como bem entender: pode meter num pão, pode dar colherada, pode fazer o que quiser, porque essa receita é da boa.

Agradecemos profundamente a participação da Angela Priscila, que me fez ver que mulher entende sim de churrasco. Enquanto isso, no site da ana maria braga tem uma receita de farofa gelada pra churrasco com maçã, uva passa e mais um monte de coisas que eu não colocaria nem na comida do cachorro.

Milagre

Olhe bem a imagem abaixo e me responda: qual a melhor legenda pra essa foto?

  1. Nossos distintos políticos trocaram a pizza pelo churrasco;
  2. O congresso tá pegando fogo!!! Fechem as portas, tragam mais carvão!!!
  3. É a fumaça de Lost fazendo o capeta com as vossas excelências;
  4. Nenhuma das anteriores. Provavelmente alguma área qualquer está pegando fogo e eles, claro, não estão nem aí.
Seria cômico se não fosse trágico.

E, claro, isto não tem nada a ver com o assunto deste blog. Mas nós, como brasileiros, não podemos deixar de expressar nosso repúdio pela casa da mãe joana que esses senhores fazem com a administração do nosso país.

Receitas dos leitores

Como já dito em outras histórias, eu comecei a escrever neste blog em janeiro deste ano, despretensiosamente, sem o menor compromisso com o sucesso, na base do enche-a-cara-e-escreve-o-que-vai-na-cabeça. Na verdade, continuo fazendo assim até hoje. Acho uma receita, preparo enquanto seco umas brejas, e escrevo aqui. Ou invento uma receita, preparo e escrevo aqui. Assim caminhamos até hoje.
Um adendo filosófico importante: em culinária, DUVIDO que a gente tenha capacidade de inventar alguma coisa. Pensa comigo: Há quantos anos existe o homem? Um descaralho, certo? Agora pensa comigo: há quantos anos existe o azeite, o orégano, o tomilho, o boi, o porco, a azeitona, o jacaré, o peixe-palhaço, a ararinha do ( * ) cor de rosa, o ornitorrinco, o ronald mcdonald? Você acha mesmo, que nesses anos todos, as pessoas já não abusaram de todas as combinações possíveis de ingredientes? Numa boa, acho que a gente pode até se inspirar e fazer uma receita legal sem copiar de ninguém, mas certamente, em algum momento da história.. isso já foi feito.

Eu aprendo muita coisa interessante neste blog. Assim como o Sr. Miyagi ensinou o Daniel San a pegar mosca com palitinho, os letrados, ilustrados e coloridos leitores desta espelunca também me ensinam muita coisa.

Por exemplo, aprendi que churrasco não é só coisa de homem. Temos, aqui, uma quantidade considerável de comentários floridos pelas doces palavras das meninas. E, nesses comentários, tem dicas e tudo mais. Ou seja: as garotas também encostam a barriga na churraca. Com a diferença que as barriguinhas delas são muito mais interessantes do que as nossas.

Teve leitor que perguntou se eu sou viado enrustido, devido à maneira que escrevo. Aí eu tive que explicar pra ele que neste blog a gente fala sobre churrasco, e não sobre comportamento, sexualidade, e que a orientação sexual das pessoas não é problema nosso, e que puta pergunta de boiola ele tinha me feito. Ele não comentou mais.

Teve uma leitora da Bahia que me agradeceu a receita do espetinho de contra-filé, porque ela vendia espetinhos na praia e iria aprimorar o seu menu com a minha receita. Po, isso foi legal pra caramba, todos os 68 posts que eu já escrevi aqui valem só por coisas assim [/mastercard].

Teve leitor que me adicionou no orkut e eu adicionei o cara também. Às vezes, abro o orkut e nas atualizações dele tem fotos de carnes que me fazem, literalmente, babar no teclado no meio do trabalho. Isso é bem legal. As carnes, não babar.

Houve vários casos de comentários de leitores, em que eu me rachei de rir com o humor dos caras. Na receita da costelinha de porco, o cara disse que fica todo mundo "tocando gaita". Sensacional, é só imaginar o pessoal com a costelinha na boca: tá lá a gaita.

E, além de algumas pérolas, recebi muitas dicas e receitas bacanas. Já fiz bastante churrasco baseado em dicas que a galera deixa nos comentários. E é aí que nasce uma nova série neste blog. Vai se chamar Receitas dos Leitores.

Funciona assim: você comenta, deixa suas dicas, receitas, etc. Eu preparo, e posto o resultado, dando os devidos créditos à sua pessoa, claro.

E começarei, ainda hoje, com uma receita simplesmente fantástica que nasceu de uma dica de uma leitora. Claaaaaro que eu iria dar a preferência pras damas, não?

Risoto de camarão: Quando o cozinheiro quebra a cara

A casa caiu, negada. Fiz merda, pisei no tomate, peidei na farofa e dei bola fora. Tudo na mesma hora. Engoli seco e só não chorei de vergonha. Senão tinha chorado.

Ao complacente leitor, peço encarecidamente que amoleça esse seu truculento coração, e me permita compartilhar o momento de profunda tristeza à qual sucumbi no final de semana último. No domingo, Dia dos Pais. Sente o drama...


- fica tranquilo, dotô... nosso manobrista é dez, pode confiar!

Eu sou casado. Logo, nesse dia, preciso cumprir duas obrigações de filho, uma com o meu pai, e outra com o meu sogro. No mundo ideal, eu passaria o dia com o meu pai, e a patroa com o pai dela. Mas como o mundo ideal é um negócio que só existe no filme do harry potter, a gente sabe que se fizer isso vai chatear papai pela ausência da patroa, e vai chatear o sogrão pela minha ausência. O que, aliás, seria uma sacanagem, já que os dois são pessoas da mais absoluta bacanice.

Diante disso, ficou combinado que almoçaríamos com o sogrão, e jantaríamos com o meu pai. Para o sogrão, restaurante. Para o papai, eu faria a janta.

Durante o almoço, tudo perfeito. Almocinho na beira da represa, solzinho na cabeça, cervejinha na cara e tudo transcorria normalmente. A sogra pediu uma picanha no rechaud, e o destino me colocou na ponta da mesa, para que ficasse com a incumbência de preparar a iguaria. Assim procedi, até que me toca o telefone. Era a Monica, minha irmã:

ela: - e ae fii, belez?
eu: - e ae monication, firme?
ela: - então, o pai tá aqui comigo num churrasco na casa do sogro.
eu: - fudeu.
ela: - cuméquié?
eu: - nadanão.
ela: - e eu vou jantar na sua casa também.
eu: - fechô.

Então, caro leitor, é nesse momento que você descobre como funcionam as coisas e pensa: Assim acontece a merda. Eu teria que fazer uma receita de panela, e não um churrasco. Afinal, não poderia oferecer um churrasco a um pessoal que veio de outro churrasco. Não poderia fazer uma carne de panela, como a rabada, pra um pessoal que tava se empanturrando há pouco tempo atrás. Ou seja, eu teria que pensar numa comida leve, que não fosse carne. Aí que a porca torce o rabo, a pata traseira e um pedaço da orelha esquerda.

Papai não viria sozinho. Papai viria com Dona Ivette, a nonna. Se você não sabe o que significa isso, eu vou te contar: Essa senhora, que me atende pela alcunha de VOVÓ, e por isso torna-se automaticamente mãe do meu pai, é a maior especialidade de toda a humanidade nos assuntos gastronômicos. De todos os tempos, de todos os países, de todas as avós, de toda a galáxia!!!!! Foi a Dona Ivette, com sua culinária Divina, que me ensinou a gostar de comer, e a absoluta destreza dessa senhora para com as panelas e outros instrumentos culinários transcende o conhecimento humano. Isso ficou claro? Ficou? Entendeu o tamanho da bucha que eu tinha nas mãos?

Até aquele momento, estava tudo sob controle. Eu faria um churrasco com boas carnes bem preparadas e tudo ok. Eu sei que faço isso bem, e o mais importante: Dona Ivette não faz churrasco. Portanto, jamais passaria pela cabeça dela a frase "eu faço melhor". Ou seja: a situação era minha, e o universo conspirava a meu favor, como diria a mãe dinah. Mas bateu um vento errado, o universo conspirou contra, e a coisa toda se inverteu.

Voltei pra casa tarde, precisando correr contra o tempo pra fazer alguma receita legal, executando com perfeição e em tempo recorde. Recorrendo à minha fraca memória, optei pelo risoto de camarão, que já foi postado aqui. Comecei os preparativos, e o que posto aqui servirá de lição aos que se interessarem em fazer esta receita.

Comprei 1kg de camarão pequeno e limpo, e, como manda a receita, joguei num pote com caldo de limão. Aí aconteceu o meu primeiro, e maior erro: eu, no desespero de preparar aquele troço logo, não dei atenção à quantidade de limão. Digamos que eu deveria ter colocado o caldo de 2 limões, e eu coloquei uns 6.

Na sequencia, deitei a cebola na tábua pra picotar. Isto findo, algum pensamento leviano da minha mente impura me convenceu de que eu precisava de mais uma cebola. Por algum motivo inexplicável, me deixei levar pela minha própria pegadinha e picotei mais uma cebola.

Na hora do refogado, aquilo já me pareceu demais, mas ainda assim não dei ouvidos à parte sã da minha mente e meti todo mundo na panela.

A receita transcorreu bem até o finalzinho, quando se precisa depositar o queijo parmesão. Que queijo parmesão? O queijo parmesão, oras... Eu havia esquecido o queijo, e não havia mais tempo pra comprar. A família, incluindo a Deusa das panelas, minha vó, estava ansiosa aguardando o risoto do Daniel, cuja fama já havia percorrido seus ouvidos. Maldição, vamos sem o queijo mesmo.

Servi à mesa, a família fez os seus pratos salivando, fizemos um brinde e primeira garfada... detestei. O que eu poderia ter errado ali?

Descobri, e vou te contar, mas não conta pra ninguém: Sabe porque o camarão deve ficar no limão, mesmo sabendo que vamos jogar o caldo fora e só o crustáceo entra na receita? Porque o sabor do limão penetra na carne do camarãozinho, e se você fizer isso com comedimento, vai deixar o seu risoto com um azedinho de fundo que fica uma delícia. Mas o animal que vos escreve exagerou no limão, e o azedinho virou um azedão. Se tivesse açúcar, dava pra fazer uma caipirinha com aquele camarão. E esse azedume todo matou completamente o sabor do camarão, do cogumelo, do tomate, de tudo mundo. Praticamente uma gangue de limões assassinos aniquilando todas as iguarias que eu coloquei naquela panela. A isso some-se uma quantidade desmedida, completamente desnecessária de cebola e temos aí um risoto de limão e cebola, quando deveríamos ter um saboroso risoto de camarão.

Vovó disse que estava bom. Eu não acreditei. Acho que nem ela.

Agora, só me resta aguardar o momento certo, pra fazer uma receita perfeita pra ela, e desfazer essa imagem ruim.

Imagem essa, que só não ficou desacreditada porque vovó experimentou o meu sanduíche de pernil, cuja receita (ainda) não está neste blog, e elevou o pernil à estratosfera da produção gastronômica, com toda a humildade e modéstia que este escriba pode ter. Aguardem que eu ainda posto essa receita, ok?

Vovó... você me perdoa?

A camiseta do churrasqueiro







Olha, eu não curto muito fazer esses posts de pouco texto, sem um sentido explícito, como muitos blogueiros fazem. Aliás, nada contra, mas é que eu GOSTO de escrever as porcarias que escrevo aqui, então prefiro não escrever quando não há conteúdo realmente importante. Mas hoje, visitando o blog do ótimo amigo Vader (vincevader.blogspot.com), encontrei um site que vende camisetas com estampas simplesmente geniais.

Tem estampa de todo tipo, mas essas aí me chamaram especialmente a atenção, pois falam de coisas que a gente gosta: carne e cerveja. E, se o assunto interessa pra todo mundo, porque não postar aqui?

Isto posto, tá postado [travalingua mode = on]. Ah, divirta-se, o endereço do site é esse aqui.

PS: Peço desculpas antecipadamente aos vegans e afins. Não sou contra a sua filosofia, mas a piada é boa. E, como você já deve saber, aqui a gente perde o amigo mas não perde a piada!

Rosbife na churrasqueira

Já notou que, ao longo do tempo, a gente vai ficando com o ouvido mais apurado pras palavras? Pensando inversamente, as crianças, logo, tem o ouvido menos apurado, certo? Essa confusão dos diabos que faz a gente ouvir uma coisa e pensar que é outra chama-se cognata.

Me lembro bem que demorei alguns anos até perceber que o herbert viana não cantava "alagados, flinstons, favela da maré.. bla bla bla". Tá, mas nesse caso, a culpa é dele mesmo, que fica inventando palavras estrangeiras no meio das músicas dos paralamas. Quem não lembra do barulho do "já não existem laços... alguém cortou.. track! track! traaaaack!!!"? Mizifio.. Explica pra mim, alguém cortou o que com essa barulheira toda aí? Um pedaço de velcro? Osso de galinha? Plástico bolha? Herbert viana foi o cara que mais perto chegou da linha tênue que divide a criatividade da tosquice. Muitas vezes flertando animadamente com a tosquice.


- vai, herbert... é só um cortinho... se doer vc gita, ok? TRAAAAACK!!

O meu primeiro cognata se deu logo na infância, num jantar na casa da minha tia. Ela me perguntou: "Danielzinho, você gosta de rosbife?". Eu disse que sim e voltei ao playmobil, imaginando que, na sequencia, me seria servido um prato de "arroz e bife". Pô, criança gosta de arroz e bife. Ainda mais se tiver junto uma batatinha frita. Pois qual não foi a minha decepção ao ver aquele bife esquisito, magrinho que dava pra ver do outro lado, deitado no meu prato, sem o tal arroz e sem nenhuma perspectiva ou probabilidade de pintar ali uma batata frita. Bom menino que eu sempre fui, continuo sendo e serei por toda a eternidade, comi aquela carninha sem reclamar, voltei pra casa, pedi à mãe que fizesse um rosbife, ela fritou um bifão, umas batatas e arroz e assim eu cresci feliz.

Chegando à idade adulta, me deparei novamente com o rosbife, desta vez sabendo do que se tratava. O seu Manuel, da padoca que tem perto de casa, além de servir um churrasquinho com queijo da mais absoluta responsa, também ostenta, em seu balcão, uma iguaria conhecida como Rosbife Caseiro, que não é caseiro, é da padaria mas a gente perdoa porque o seu Manuel vem de um lugar onde fila vira bicha e o computador é cheio de ficheiros. O fato é que desde que mudei pra essa casa, há uns 4 anos, fiquei fã do rosbife do seu manuel.

E então veio a crise, o seu Manuel aumentou o preço do rosbife à proporção que os meus rendimentos mensais diminuíam e decidi que era a hora de fazer o meu próprio rosbife.

O primeiro passo foi consultar a Deus pra saber qual carne poderia se transformar naquela iguaria maravilhosa. Em 0,52 segundos, Deus me deu aproximadamente 155.000 respostas, não sem antes corrigir o meu surrado português: "você quis dizer: qual a melhor carne PARA fazer rosbife, filho", disse Ele. Conformado com o tamanho do Seu conhecimento, abri em abas as 4 primeiras respostas e foi aí que se fez a luz. Deus me disse que eu devia construir uma arca e acomodar um casal de cada tipo de animal, porque ia chover pra caraios, e.... Não, não, volta... Deus me disse que era pra eu usar lagarto ou filé-mignon. Ufa, quase dei com a língua nos dentes :-)

Movimentei a carcaça (a minha, dentro da do carro) em direção ao mercado mais próximo, e chegando à prateleira das carnes, me deparei com o lagarto e o filé-mignon, lado a lado. Após um rápido joqueipô mental, onde venceu o lagarto, peguei a peça e levei pra casa.


- sou um lagartinho bonitinho e simpático. Me leva pra sua casa?

O processo de preparação do rosbife é muito simples, e só é preciso paciência pra comê-lo. Isso porque o rosbife no churrasco é carne pro dia seguinte. Explico:

Você deve pegar o lagarto, colocar num espeto e deixar o tempo todo lá no alto da churraca. O que vai deixar ele gostoso é mesmo a fumaça da churraca, vai por mim.

Como preparativos, você pode apenas passar sal grosso em volta dele. E larga de nojinho porque não é pra jogar um pouquinho de sal e pronto. Tem que meter o mãozão na carne mesmo, dar uns tapinhas, chamar de meu bem e tudo mais. Isso porque o lagarto é uma peça de carne roliça, sem pensamentos maliciosos. E de português aqui nesse post já temos o seu manuel, e prefiro crer que você entendeu que, se a carne é redonda e você jogar sal grosso de um lado, quando virar pra jogar do outro o sal cai, certo? Então, joga o sal e mete a mão pra ajudá-lo a colar na carne.

Se você quiser fazer mais meleca ainda, o que eu duvido que queira, mas deixar essa iguaria ainda mais saborosa, recomendo passar um pouquinho de azeite antes de esfregar o sal. Ou então manteiga. Ajuda a colar o sal na peça, e todos sabemos que azeite e manteiga na carne fica de fazer apresentadora siliconada passar embaixo da mesa. Ah, nunca, jamais passe margarina na carne, entendido? Se não tiver manteiga e nem azeite, não passa nada, compreendido?

Agora é a parte fácil. Posicione a peça no andar superior da churraca e abra uma cerveja. Tome alegremente. Abra outra cerveja e tome alegremente. Assim proceda por algumas horas, provavelmente umas 2 ou 3, virando a cada duas brejas que tomar.

Enquanto assa, o seu lagarto vai sofrer mutações bizarras. Primeiro ele seca, e parece que ganha umas rachaduras. Depois aparecem umas bolinhas brancas, que depois desaparecem. Não tenha medo, a carne não vai sair de lá. Confia na gente que isso faz parte do procedimento.

- que foi, nunca viu não, é?

Passadas essas horinhas, seu instinto vai te dizer que ele ta pronto. Desça pra mais perto do fogo, deixe um pouquinho pra tostar por fora, vire pra tostar por fora e direito, e tire a carne.

Agora vem a parte mais emocionante: Se você enfiar os dentes no rosbife desse jeito, certamente ficará sem dentes. Se tirar pedaços grandes, vai ser dificil comê-lo. Então, caro churrasqueiro, qual a melhor maneira de servir essa carne? Pergunta o fiel leitor. E eu respondo ao ansioso amigo deita-gatos:

Uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção é a minha resposta. O rosbife deve ser servido em fatias muito, muito finas. Quase como um salame. Aí ele fica de lascar. Portanto, dê aquele fio especial na faca, prepare-se pra grandes emoções e comece. O mais fino que você puder, quanto mais conseguir, mais saboroso será.

Uma dica legal é deixar o rosbife assando enquanto faz o churrasco com outras carnes. No final, se o pessoal não estiver mais com fome, você guarda ele na geladeira. No dia seguinte, é uma grata surpresa encontrar um belo rosbife pra comer no café da manhã. Além disso, gelado é infinitamente mais fácil cortá-lo e, pasme, rosbife frio é melhor do que rosbife quente. Fora o fato de que você já não está mais bêbado (assim espero) e fatiar a peça sóbrio pode significar um plus a mais na segurança e integridade dos seus dedos.

Custo: Uma peça de 1kg de lagarto limpo custa, em média, R$12,00. Barato bagaray.
Tempo de cozimento: 7 ou 8 latinhas. Sirva bem bêbado e cuidado com a faca.
Rendimento: 1kg de rosbife dá bastante sim. Você pode cortá-lo ao meio (de comprido) e presentear algum convidado ao final do churrasco. Muita gente já saiu de casa levando feliz um saquinho com o rosbifão.

Churrasquinho com queijo

Quando eu era moleque, eu simijava com os Mamonas cantando o Vira. Aliás, sempre achei o humor daqueles caras muito foda. Tem certas sutilezas em robocop gay, por exemplo, que são impagáveis. Prestenção nos backing vocals, na próxima vez que ouvir. Aliás, na próxima vez não, prestenção AGORA:




Então, mas onde a gente quer chegar com essa conversa mole? Ah, então, os caras mandavam muito bem no Vira, que me lembra do seu Manuel da padaria, que me lembra que ontem eu almocei lá (na padoca) e que a patroa pediu um churrasquinho com queijo, que me lembra que eu fiquei morrendo de vontade de comer aquilo, e que tudo isso me lembra que sim, eu me lembro do que eu almocei ontem! E que foi uma coxa-creme e tava terrível, ao contrário do churrasquinho com queijo da patroa, que parecia delicioso. Só não me lembro se eu assumi a minha porção neanderthal e tomei o quitute da mão dela ou se apenas fiquei olhando e babando, mas isso não tem a menor importância. Fato é que aquele churrasquinho com queijo ficou me atormentando o resto da tarde.

Se você não sabe o que é um churrasquinho com queijo, eu ajudo a ventilar essa sua mente. Pegue uma cerveja (o ativador cerebral do homem moderno. ou nem tão moderno assim) e escuta o que eu vou te falar: Churrasquinho com queijo é um lanche. Composto por um pão francês, que os gaúchos (ou cariocas, não lembro bem), virilmente chamam de "cacetinho", recheado com um bifão de contra-filé coberto com queijo derretido. Sacou? Simples assim.

Então, ao adentrar o conforto do lar, depois de um dia de trabalho cascudão, com esse sanduíche me perseguindo o subconsciente, eis que abro a geladeira e encontro uma Itaipava. Não, não era isso (acho que tá na hora de ir pra casa, a mente já tá engasopando), eis que eu abro a geladeira e encontro um belíssimo pedaço de contra-filé. Uma peça mesmo, que eu havia comprado no dia anterior. Tava resolvido o caso do sanduíche que me dominava: faria eu mesmo o meu churrasquinho com queijo. Little Barbecue with Cheese, como dizem os ianques, entre um hamburger e outro.

Tratei de convencer a minha doce esposa a comparecer à padaria, em busca de pães e queijo mussarela. Fui bem-sucedido nessa investida, apesar da má vontade com que ela executou a tarefa. Mas o que importa é que ela saiu tarde e no frio pra comprar pães e eu fiquei no quentinho preparando os bifes (querida, te amo, vc sabe que isso aqui é brincadeira, né?).

E como preparei os bifes pro churrasquinho com queijo? Na verdade, pra fazer churrasquinho você não precisa nem temperar, basta por sal. Mas, como eu cheguei do trabalho depois das 9 da noite e minha alma só se salvaria se eu comesse algo REALMENTE gostoso naquele momento, decidi fazer um agrado no contra-filé.

Cortei 4 fatias de contra-filé, com um pouco menos do que uma salsicha de espessura (wow, acabei de inventar uma medida excelente pra espessura! Todo mundo sabe o quanto tem uma salsicha, não tem como errar). Joguei um pouco de orégano nos bifinhos. Adicionei sal fino e uma pitada de nada de pimenta do reino. Só pra dar o agrado, mandei uma pimenta biquinha picotada lá dentro. Um gole de azeite e tá feita a arte. O cheiro da carne, somado à quantidade de horas decorrentes desde a minha última refeição já seriam o suficiente pra abocanhar aqueles bifes crus mesmo, mas preferi o auto-controle e deitá-los na frigideira.

Ok, isso é um blog de churrasco e esse negócio de frigideira é coisa de fritador de batata, e isso a gente não é, pensa o nobre leitor nesse momento. Mas explico: se você mora em São Paulo e, como eu, está sofrendo com a massa de ar polar que os argentinos mandaram pra gente, creio que consegue entender que usar o quintal (e a churrasqueira, por consequencia) nesses dias pode causar o congelamento de certas partes do corpo que eu prefiro manter quentinhas. Portanto, mandei-os pra frigideira. Mas, se você quer arriscar, recomendo acender a churraca e usar uma chapa de ferro pra fritar o bife.

Na hora de fritar os bifes, é bom lembrar de não colocar óleo, manteiga, azeite, nada na frigideira. Afinal, você já deu uma golada de azeite nos bifes, lembra-se? Além disso, o contra-filé tem bastante gordura, que derrete e lubrifica a frigideira.

Daqui pra frente não tem segredo. Deixa o bifinho ali deitando fazendo barulhinho por um tempinho, vira ele, joga o queijo em cima, e quando derreter, corta o pão, põe tudo no meio, fecha e come.

E, finalmente, o churrasquinho com queijo da patroa parou de me atormentar, e fomos felizes para sempre.

Tempo de preparo: Muito rápido, só 2 brejas. Tome umas 5 antes e sirva bêbado.
Rendimento: Cada bife vale um pão, uai.
Custo: Uns R$5,00 de carne e mais uns R$4,00 de queijo e pão renderam 4 sandubas. Beeem barato.