Olho pela janela e vejo uma belíssima tarde de sexta feira, e noto que acabei de receber 2 comentários no blog, de 2 leitores das antigas. Boa gente, esse pessoal. Isso me acalentou, porque pude notar que, além de mim, ainda existem outros seres cuja mente diabólica não consegue pensar em outra coisa, a não ser enrolar o máximo possível com o trabalho e poupar o que sobrou da sua mente para arquitetar o churrasco que acontecerá no pós-horário comercial.
Isso me lembrou que eu fui muito confuso no post anterior, e tou devendo uma receita bacana aqui pros churrasqueiros que lêem estas mal-escritas linhas. Mas eu explico a baixa qualidade: eu, ao contrário do que parece, não interrompo o meu trabalho pra escrever aqui. Vou naquelas, escrevo uma frase, ALT+TAB, escrevo outra, ALT+TAB e assim vamos. Num desses alt+tab da vida, aconteceu uma coisa terrível, tão terrível que eu não posso sequer escrever aqui. É como se eu tivesse sido testemunha de um crime horroroso, coisa de polícia mesmo. Quando tudo acabar, eu conto o que aconteceu, agora não posso. Mas então você deve imaginar que fica difícil alguém escrever sobre churrasco enquanto tem contato com a face mais nefasta desse bicho tosco chamado humano. E não, eu não cometi um crime, eu VI um crime. Mas deixemos isso de lado e voltemos ao trabalho porque a tarde está linda.
Ao trabalho, não. A todo o esforço possível a ser empregado na atividade de enrolar para não trabalhar. Com este cérebro condicionado, me veio à memória uma carne bem legal que eu fiz, fotografei, mas não registrei aqui.
Meninos e meninas, com vocês, a Costelinha de Cordeiro!!!!
Pois é, o cordeiro é um bicho ligeiro, e na mente do matreiro, vai direto pro braseiro, com uma pitada de tempeiro, faz a alegria do churrasqueiro, e se o melhor do Brasil é o brasileiro, mete logo num letreiro, a tal receita do cordeiro.
E traz a sanfona que hoje é dia.
Voltando ao assunto, você conhece o cordeiro, não? O cordeiro é o filhote do seu carneiro e da dona ovelha, que fica com esse nominho até os 4 meses, quando vira hominho, cresce a barbicha e o chifrão, e ele ganha o nome de cabrito, seguindo os passos do pai.
Pois bem, passeando tranquilamente pelas gôndolas do supermercado do Seu Abílio, deparei-me com a costelinha do cordeiro, linda e suculenta, olhando pra mim de dentro daquela bandeja de isopor, envolta num frio e sufocante papel-filme. Com os olhos marejados, acalentei a peça, cantei dois nana-nenês e levei pra casa, prometendo-lhe um lugar quentinho para espantar o frio da geladeira do supermercado. Não sem antes passar no caixa, pois aconselho a todos evitar a truculência dos senhores que ganham a vida evitando que pessoas levem coisas sem pagar nos mercados desse mundão afora.
Chegando em casa, preparei a caminha para ela, usando muito carvão vegetal, álcool e um pedaço de pão. Não aquele pão pra quem tem fome, mas sim o pão pra acender a churraca. Fósforos também são bem vindos.
Enquanto isso, achei de bom tom cobrir a pequena e indefesa peça de carneiro-nenem. Pra isso, despejei alguns goles de azeite extra-virgem num recipiente, e picotei 3 dentes de alho lá dentro. Na sequência, joguei um gole de vinho branco, só pra dar um agrado.
E, como cama de criança tem que ser colorida, picotei um maço inteiro de hortelã bem verdinha e misturei com o molho.
Uma dica importante: quando a carne é de cordeiro, todo o hortelã do mundo é pouco. Portanto, vá ao mercado e compre todo o hortelã que você puder carregar. Cordeiro e hortelã nasceram um para o outro.
Feito isso tudo, picotei duas bolinhas de pimenta biquinha, joguei uma mãozada de sal grosso e misturei. Coloquei a criança sobre uma bandeja, e cobri com carinho.
Enquanto isso, a caminha lá na minha churrasqueira já estava quentinha, faltava só deitar o bebezinho. Assim procedi.
Deitei na grelha, cobri cuidadosamente com o cobertorzinho que fiz pra ela, cantei um ou dois bois-da-cara-preta e deixei ela ali, descansando e se aquecendo.
Quando se fala de costela, não interessa se é de porco, de boi, de cordeiro, de taturana ou da luciana gimenez. Você sempre tem que deitar na churraca com os ossos virados pra baixo. Isso porque a membrana que liga os ossos vai endurecer levemente e proteger a carne das labaredas, e ajudar a armazenar os líquidos lá dentro. Além disso, os ossos vão esquentar muito, e assar a carne a partir deles. A tudo isso, deve-se aliar boas doses de paciência, pois costelas costumam demorar. Portanto, deita com os ossos pra baixo, abre uma cerveja e espera. Abre outra e espera mais um pouco. Cabou? Abre outra e espera mais um pouco.
No caso dessa costela, como era uma peça pequena, ficou de ossos pra baixo, mais ou menos umas 6 brejas, quase o tempo de um jogo de futebol.
Vai acompanhando, você vai notar que, à medida que a costelinha vai ficando pronta, a carne começa a querer soltar do osso.
Quando meu sexto-sentido me disse "i see dead people" eu me borrei todo. Não, nada disso, ele disse: "vira ela, filho". E eu virei, só pra deixar tostar um pouquinho a carne e o tempero que estava em cima. Alguns minutos depois, estava pronta para a degustação.
Recomendo seriamente. Facinho de fazer, e pode te ajudar a conquistar garotas, fazer amigos e influenciar pessoas.
Olha o bebê querendo levantar do osso.
Só virar com o osso pra cima, pra dar uma torradinha e o bebê tá pronto.
Custo: não lembro mais, desculpa ae. Mas não foi caro, não. Quer dizer, é uma carne cara, mas como o pedaço era pequeno, custou pouco dinheiro. Não faria num churrasco pra 200 pessoas.
Tempo de preparo: 2 brejas na cozinha e umas 7 na churraca. Todas na cabeça, na alma e no coração.
Rendimento: pouco mesmo, serve duas pessoas e olhe lá. É uma carne magrela, com bastante gordura e ainda tem o osso. Faça como eu: seja esperto e prepare para a sua garota :-)