O peido da vaca e o meio ambiente

Você, churrasqueiro amigo, leitor desta espelunca, te prepara que aqui vem uma notícia de furar a cueca. Se você tá lendo isso aqui de pé, o que eu duvido muito, recomendo que procure a poltrona mais confortável possível e deposite a sua busanfa, porque a notícia que segue é uma verdadeira bomba. Prepare o ringtone do Plantão Globo, imagine a voz do Cid Moreira contando notícias em russo com a entonação do Datena, fazendo as caretas do zeca camargo com a boca da ana maria braga e põe na tela, comandante Hamílton porque essa é, definitivamente, a noticia de que o mundo vai acabar e a gente tá, literalmente, na merda.


Essa conversa não tá me cheirando bem...

Já faz um tempinho que eu venho ouvindo alguns malucos dizendo que a produção de gado bovino vem acabando com a natureza e tal, mas dessa vez a coisa ficou russa de verdade. Muito pior do que saber que tem gente desmatando a amazônia pra criar gado, foi descobrir que um dos grandes vilões da esburacada e sofrida camada de ozônio é... o peido da vaca.

Isso mesmo que você ouviu/leu. A produção de gases oriundos da pecuária é maior do que a produção do setor de transportes nos EUA. Eu não estou louco, os ambientalistas não estão loucos e, pasmem, nem a vaca tá louca! Mas ela tá peidando a torto e a direito. E cada vez que aquele rabo levanta, acontece o terror: um pedaço da camada de ozônio se vai junto com tão peculiar fragrância.



Pra te ajudar a entender: o amarelo é o transporte. Dentro dele, a vaca da cara branca, mulher do boi da cara preta.

Eu nasci nos anos 70, portanto, estudei bastante história e geografia nos anos 80, ou seja: num período cascudo de uma tal guerra fria, que a moçadinha de hoje em dia nem sabe o que é. E, largando a guerra fria e voltando à vaca fria, naquele tempo todo mundo se cagava de medo do Gorbachev tomar uma vodka a mais, ou o Reagan deixar cair a dentadura no botão da bomba atômica e o planeta inteiro ir pelos ares. Mas não, o mundo acalmou, a URSS quebrou e, quando você pensa que tá tudo beleza, lá vem de novo a ameaça, dessa vez materializada no coração do bichinho mais bonitinho, amiguinho e gostosinho da face da Terra: a vaca, razão da existência desse blog. Depois da ana maria braga, claro. Putz, será que o peido da ana maria braga também.... bom, deixa pra lá.

Tá, mas e aí, o que fazer? Os ambientalistas já sugeriram, e certamente vão continuar sugerindo, que se acabe com a pecuária, que é a nobre atividade de plantar vaquinhas num pasto, onde elas ficarão comendo e peidando, aguardando ansiosamente o dia de conhecer as grelhas das nossas churrasqueiras. Olha, a gente preza muito essa vacaiada aí, e não é só porque essas doces criaturas não são, digamos assim, flor que se cheire, nós concordaremos em extinguí-las. Ora, o mico-leão dourado já tá em extinção, o ornitorrinco e ararinha do rabo cor-de-rosa também estão, por que vamos aumentar essa lista, ainda mais com um bichinho tão gostoso?


Rá! Se vinguei!

E ainda digo mais, dou a solução de mão beijada pra vocês. Explico: Quem aqui nunca caprichou na feijoada, nunca exagerou no bacon e nunca pesou a mão naquele brócoli com ovo cozido? Todo mundo sabe que é normal ter os seus dias de lança-torpedo. E como é que fica o seu papel na preservação do planeta nessa hora? Segue abaixo não uma, mas algumas sugestões:

  1. Ração à base de Luftal: Basta os produtores de ração investirem um pouco em pesquisa e colocar o mesmo agradinho que existe no Luftal na ração da Dona Mimosa. Se parava o peido da minha vó lá em Bertioga, esse aí breca qualquer coisa.
  2. Cocô na casa do Pedrinho: Só mandar as vaquinhas todas peidarem no banheiro do Pedrinho. Assista a propaganda, você verá como ele e a mamãe se abraçam e giram no banheiro cheiro de pétalas. O miraculoso produto capaz de transformar merda em flores, certamente saberá como lidar com as flatulências dos nossos ruminantes.
  3. Tarcísio Meira é o cara: Ele inventou, na fazenda dele, um dispositovo capaz de cheirar os peidos das suas vacas. E mais, esse dispositivo transforma o peido em energia elétrica, e alimenta a fazenda toda. Ou seja: Quando ele acende a luz, dona Glória sabe que, naqueles fios, corre um peido de vaca eletrificado. E o pior de tudo: isso é verdade, joga no google.
Tá vendo como é fácil? Só usar um pouco a cabeça tãããã.

E você, caro leitor? Conhece alguma maneira mirabolante, rebolante e acidulante de evitar que as vacas peidantes sejam causadoras do efeito estufa, furacão Katrina, maremotos e evitar que o cocô das vacas nos leve mais cedo ao dia do juízo final?

Especial Churrasqueiras: a churrasqueira pré-moldada

Voltamos com as nossas pesquisas de cunho altamente científico, onde nossos heróis, ávidos por conhecimento, reviram mundos e fundos atrás dos mais diversos tipos de churrasqueiras para você deitar o seu gato. Nos últimos posts da série, falamos sobre a honestíssima churraquinha elétrica, escapamos de um incêndio de proporções catastróficas com uma invenção genial que responde pelo nome de churrasqueira de papel (vê se tinha chance de dar certo, né?), ensinamos a roubar a quantidade e tipo certo de tijolo pra improvisar uma churraca, e agora vamos falar sobre uma das mais geniais invenções que a preguiça humana conseguiu inventar depois do controle remoto, da direção hidráulica e da cerveja em lata. Estamos falando de mais uma campeã de audiência: a churrasqueira pré-moldada.


Oi, eu sou a churrasqueira pré-moldada e preciso de um lar.

A churrasqueira pré-moldada é o Lego do churrasqueiro, um verdadeiro brinquedo de adulto. Isso porque ela vem desmontada, e tudo o que você tem a fazer é montar e usar. Fácil assim. Tá, não é tãããão fácil assim, porque ela pesa pra caramba. Mas a gente tá contando que você é um cara fortão e vai conseguir montar uma dessas sem fazer biquinho. 

Funciona assim: você vai na loja, escolhe os milhares de modelos disponíveis, compra. Os caras levam na tua casa, você monta e tem uma churrasqueira responsa sem cimento, sem tijolos e por um preço honestíssimo. A minha churraca é dessas, então vai por mim que eu sei do que tou falando.

Antes que você instale uma no meio da sala da sua mãe, vamos às vantagens e desvantagens deste modelito:

Vantagens:
  1. É barata. A minha tem um tamanho razoável e custou, há um ano atrás, cerca de 300 reais. Se você comparar com os quase 100 mangos que uma churraca de metal, daquelas bem sem-vergonha que vende no mercado, é uma pechincha.
  2. É grande. Você pode preparar cupim, costela de boi e outras delícias que são impensáveis em churracas menores. Na verdade você só não pode preparar um boi no rolete, de resto vai tudo.
  3. Existem, no mercado, zilhões de modelos dessas churracas. Tem algumas que já vem com o forno de pizza acoplado, enfim. Dá um pulo no leroy merlin mais próximo e divirta-se.
  4. Você ainda pode pintá-la, pode passar uma massa bacana, pode cobrir de tijolinho, de azulejo, colar um pôster da Luma de Oliveira... Dá pra fazer o capeta com uma dessas. E ela fica bem bacana, desde que você respeite as regras do bom-senso visual. 
  5. Ela pode ficar no quintal, na chuva, com o cachorro roendo o pé que demora muito pra estragar. A churraca é feita de concreto, e a menos que você tenha um dinossauro no seu quintal, ela segura bem a bronca.
Como nem tudo é doce nessa vida, ela tem algumas poucas desvantagens, mas tem:
  1. É feia como o cão. Se você não pintá-la, ao menos, o concreto vai escurecer, sujar, manchar. Ou seja, sua churraca vai ficar com cara de muro velho. Digo por experiência própria, a minha tá assim :-P
  2. Pesa muito. Se você faz o tipo He-man, além de ter cabelo chanel, tanga e uma aparência boiolona, você tem o dom de mudar coisas de concreto do lugar. Agora, se você não é o He-man, nunca visitou Greyscow e não tem uma treta com um magrelo chamado Esqueleto, decida muito bem onde vai montar a sua churraca. Não é nada fácil movê-la de lugar. 

Pelos poderes de Greyscow, pelas barbas do profeta e pela hora da morte.

Olha, essa churraca pré-moldada é tão porreta que eu só consegui me lembrar dessas duas desvantagens. Que nem são tããão desvantajosas assim. E, como eu tenho uma dessas em casa, separei aqui algumas dicas pra quem tá afim de aboletar um brinquedo desses no quintal:
  • Alguns modelos têm uma gavetinha embaixo, pra tirar a cinza. Na real, essa gavetinha nem é tão útil assim pra tirar cinza, mas pra tirar água é perfeito. No meu quintal, posicionei a churraca estrategicamente em frente à TV da sala. Assim, posso assistir o verdão na TV assando uma carninha. A desvantagem é que, quando chove, inunda a churraca. Se ela tivesse a gavetinha, a água escorria por ali e rapidinho ela secava. Como a minha é fechada, ficava com aquela poça lá, e pra acender depois era um parto de ouriço. Resolvi fazendo 3 pequenos furos embaixo dela.
  • Recomendo comprar um pacotinho de tijolo refratário. São uns tijolos quadradinhos, que suportam bem o calor. Minha churraca era muito funda, e pra fazer o calor chegar legal até a carne, era um saco de carvão por churrasco. Comprei os tijolos e montei um Lego dentro dela, de maneira que ficasse mais rasa. Economiza um carvão danado, e você ainda pode tirá-los fora pra limpar.
  • E recomendo pintar, ou revestir com alguma coisa. A minha tá feia que dá dó.
Veredito final: Aprovadíssima. Gato, capivara, sapo ou jacaré, qualquer coisa pode ser assada numa churraca dessas. E ainda custa relativamente barato, então não tem o que falar. Ponto pra ela!!

Receitas de panela: Risoto de camarão

Eu nunca gostei muito de arroz. Quebrava o pau com a mãe quando eu era criança por conta disso. Pra mim, arroz sempre foi comida de vitecongue, e o coronel Bradock passou a minha infância dizendo que esses caras não prestavam. E, se o Chuck Norris em pessoa mete bala no vietcongue que come arroz, quem sou eu pra desafiar o cara?


Vô queimá teu arroz, vietcong!

Pensa comigo: Geral te chama pra uma feijoada. Pra que serve o arroz? Pra fazer o reboco com o feijão, mais nada. Você foi pra uma feijoada, e não pra uma arrozada. Geral te chama pro estrognofe, sabe lá Deus de onde veio esse nome. Quem tem gosto, cara, cheiro e nome? O estrogonofe, cazzo. O arroz tá lá só pra fazer reboco. É estrogonofe, e não arrozgonofe. Ninguém nunca vai te chamar "ow, véi... bora lá em casa comê um arrozão?". Se chamar, não vai. É roubada na certa.

Mas alguma coisa me bateu na cabeça hoje que eu inventei de fazer o tal arroz no jantar. Cheguei em casa empurrando o esqueleto porta adentro, deixando a alma no elevador e a coragem na escada de incêndio. A patroa tava na cozinha, e como a fome já fazia meu estômago roer a ponta das costelas, começamos a discutir que ração deitaríamos na pança. Churrasco tava fora de cogitação por conta da chuva, então me veio à mente o tal risoto de camarão. Nunca fiz camarão na panela (só assado na churraca, e ficou bom), então revesti a carapaça de toda a coragem gastronômica e bora pra internet achar uma receita de risoto de camarão. Achei uma meia dúzia e, como sempre, li todas e chutei o que seria bom de uma e o que seria bom de outra.

Aliás, essa é uma técnica maneira pra cozinhar: leia várias receitas diferentes do mesmo prato, você pode pinçar idéias excelentes. O google taí pra isso, parceiro. Sente só:

A receita 1 diz que o contra-filé fica legal ao molho madeira.
A receita 2 diz que o contra-filé fica legal fritinho na manteiga.
A receita 3 diz que o molho madeira é feito de vinho.

Você pode cozinhar o contra-filé com manteiga derretida e inventar um molho de vinho.
A ana maria braga vai inventar um filé de madeira na manteiga de nozes, vai dar o vinho pro cachorro, decorar com a folhinha e assim se faz uma receita de sucesso!

Voltemos aos vietcongues, sorrateiramente incorporados na minha arcada dentária. Eles me diziam pra correr ao supermercado mais próximo comprar todo o arroz que eu pudesse carregar. E eu, que não sou besta nem nada, joguei o famoso Migué na patroa e pedi a ela que preparasse um arrozinho enquanto eu comprava os camarõezinhos no mercado.

Faço aqui um adendo importantíssimo: Se você acha que eu vou gastar meu teclado ensinando a fazer arroz, se enganou. Não se esqueça, eu não sou vietcongue, não sei fazer arroz, nem quero saber e tenho raiva de quem sabe. Portanto, faça como eu: dê um gato na sua mãe, irmã, vizinha ou na sua patroa, peça que façam uma panelinha de arroz pra você. Mais ou menos o que daria uns 3 pratos cheios, se você fosse bocó de comer só arroz.

Voltei com 500 gramas de um camarãozinho honesto e limpinho. Na real, nem ligo muito se ele era um camarão honesto, mas limpinho é fundamental. Como você já deve ter ouvido, o camarão é um puta bicho porco e, dizem, come a merda no fundo do mar. Mas, se ele é porco porque come merda, eu sou porco porque torço pro Palmeiras e nóis tamo tudo no memo trem, então é limpinho que ele vai pra minha panela. Entendeu, compre o camarão mais barato que você encontrar e, limpo, sem cabeça e sem a bosta nas costas que aquilo é nojento.

Pegue os 500g de camarão limpo e jogue num pote. Como em todas as receitas de cozinha, se prepare pra sujar muita louça (e ainda falam do churrasco. Fala sério, mulherada). Esprema junto aos camarões uns 3 limões, e deixe ali todo mundo quietinho. Qualquer um que já comeu um espetinho de camarão na praia sabe o quanto camarão e limão nasceram um pro outro. Como um nasce no mar e outro no limoeiro, cabe a você fazer funcionar o feitiço de áquila e unir os dois pombinhos. Então faça isso, jogue limão no camarão e deixe lá enquanto você prepara o resto.

E preparar o resto inclui um monte de coisas, e você pode começar picando uma cebola. Nem precisa picar tão pequeninho quanto a cebola do hamburger de fraldinha, mas é bom não deixar aqueles tecões de cebola. Moral da história: picota uma cebola média e boa.

Picota também uns 4 dentes de alho e guarda num pires. Picar alho (the best trocadilho EVER) não dá muito trabalho, mas deixa a sua mão um nojo. Se você pretende fazer um carinho numa garota, cuidado, essa receita pode te deixar solteiro.

E, já que você se tornou o Picotão da noite, picote também um tomate grande, também conhecido como too much. Tá, piada infame à parte, picota esse tomatão ae e guarda em outro pote.

Se pensa que a picotagem acabou, errou: dê o picote nuns 6 ou 7 champignons. Nem precisa ser muito pequeno, só não manda o cogumelão todo lá dentro pra não parecer uma fase do Mario Bros.



We are the champions, beibê. Vai por mim.

Agora você tem que fazer um caldinho de ervas. Escolha a erva de sua preferência, enrole e ria. Não, não, nada disso. Pra essa receita eu não usei erva nenhuma. Usei foi um tablete daqueles de caldo de carne, só que era de caldo de ervas. Ah, vai no mercado que você acha. Jogue, numa panela à parte, 3 tabletes do caldo de ervas com uma xícara de água e deixe dissolver. Guarda isso que você vai precisar.

Tenha em mãos uma embalagem de queijo ralado. Como eu acho que a frescura dos ingredientes é o que faz uma comida gostosa, comprei um queijo e joguei um migué no amigo Gil, que ralou quase uma xícara de parmesão. Rala que rola, Gião.

Depois de tanto preparativo, tava na hora de começar a cozinhar esse troço.
Recapitulando:
- Você tem uma panela de arroz te esperando?
- Você tem um pote com uma cebola picada?
- Tem uma xícara de parmesão e um amigo com o dedo ralado?
- Terminou de picar alho?
- Tem um camarão mergulhado no limão, achando que é caipirinha?
- Tem um tomatão picotado num terceiro pote?
- Tem cogumelos destruídos em Mario World?
- Tem uma panela com um caldo de ervas derretido?
Então você tá pronto, arrume uma panela grande. Prometo que é a última peça de louça que vamos sujar. Jogue nessa panela um pouco de azeite, o suficiente pra cobrir de leve o fundo da panela. Acenda o fogo. Em alguns segundos, o azeite esquentou e você pode jogar toda a cebola. A missão agora é mexer a cebola enquanto ela frita. E essa missão nem é difícil porque o cheiro é bom. Quando ela ficar amarelinho e parecendo transparente, tá frita. Hora de jogar o alho. Misture tudo um pouco.

Enquanto frita ali, seja rápido: pegue o pote com o camarão, jogue fora o excesso de limão e manda todo mundo pra panela, junto com o alho e a cebola. Deixa eles ali, e mexe de vez em quando.

Agora fica com aquele climão de que vai rolar uma decepção, mas não se preocupe: o camarão perde muita água, diminui de tamanho e aquilo fica parecendo uma pia de porco. Mas vai na fé que tá tudo certo.

Hora dos tomates. Too much hour, como eles dizem lá. Taque todos na panela, e comece a mexer. Naturalmente, os tomates vão começar a se dissolver, e é nessa hora que a magia acontece.

Ô loco, meu... Mais do que nunca, tanto no pessoal quanto no profissional, é a hora do Brasil inteiro curtir.... O CHAMPIGNON!!! Isso mesmo, ponha fogo no fausto silva mais próximo da sua residência e taque todo o champignon dentro da gororoba. Simples assim.

Hora de aproveitar aquele caldo de ervas que ficou na outra panela e mandar lá pra dentro. Aproveite pra abrir mais uma cerveja. Tome a cerveja e fique um pouco mais feliz.

Agora o seu trabalho é mexer. É como dançar o créu, tem que ter disposição. Mexe até aquele caldo começar a ficar encorpado. E o que é um caldo encorpado? É um caldo que não dá pra tomar de canudinho, simples assim.

Cuidado, encorpado leitor: você está entrando na parte mais perigosa dessa receita. Teletransporte-se até Saigon, certifique-se de que Chuck Norris está dando roundhouse kicks bem longe de você, e taque a panela de arroz dentro do molho. Misture, enquanto veste um chapéu de palha pontudinho e um chinelo de madeira. Yankees go home e continuemos com a receita.

Hora de lembrar dos amigos e jogar todo o parmesão que o trouxa, digo, amigo, ralou, na panela. Misture até o queijo sumir. Ele não some, mas derrete. Você entendeu.

Não deixe assim por muito tempo, o arroz pode queimar, e nunca é bom desagradar os vietcongues. Jogue logo uma lata de creme de leite lá dentro, é ela que vai dar a liga, seja lá o que isso signifique.

Nem precisa ficar bajulando muito não. Dá logo uma colherada lá dentro e veja como tá. Se você usou os 3 cubos de caldo pronto, deve estar bom de sal. Senão, adicione sal com a parcimônia que deus lhe deu e pronto: chama o povo pra comer.

Não se preocupe se o seu risoto ficar parecendo uma pasta, é assim mesmo. O creme de leite dá uma melecada na parada, mas deixa muito legal. Confia que vai.

Eu garanto: a trabalheira monstruosa que essa receita dá vale a pena. Além disso, é trabalhoso mas não é demorado, ao contrário da rabada.

Custo: paguei 14 cruzeiros os 500g de camarão vermelho limpo. A lata de creme de leite deve custar uns 2 mangos e o resto é irrisório. Pratão bom e barato.
Tempo de preparo: Tomei umas 3 brejas. Sirva feliz.
Rendimento: 4 animais comeram isso. Ainda sobrou uma merreca e eu tou achando que vou terminar logo esse post e meter no microondas.

A fralda do meu cunhado

Dizem que cunhado, se fosse bom, não começava com c*. Taí a famosa sabedoria popular aprontando das suas. Dizem também que parente a gente não escolhe. E a sabedoria popular mandou bem de novo. Agora, como relacionar "sabedoria" e "cunhado" numa mesma situação? 

Cunhado é aquele troço tão bizarro, que nem a sabedoria popular consegue explicar. Porque o cunhado não é família, mas um dia acaba virando. Cunhado é parente compulsório. A única chance de não ter cunhado é não ter irmã, e ainda casar com uma mulher que não tem irmãos. Caso contrário, é questão de tempo até aparecer um ser desses na sua vida.

Mas eu não posso me queixar, não. Fui sorteado com os dois únicos cunhados bacanas da face da Terra. Um deles, irmão da minha esposa, papai do céu levou pra morar com ele mais cedo. O outro é o Arthur, e é dele que vamos falar nas próximas linhas. Te cuida, compana, que essa orelha vai arder!!!

Arthur é um cara legal, mas tão legal, que eu costumo dizer que ele é mais legal que a minha irmã. Brincadeira, Monicão!! Chora não que você também é batuta!


Mais legal que eeeeuuu? Duvido!
Aposto que ele não tem uma roupa bacanuda dessa!

Pois neste final de semana teve a festa junina da escola do meu filho menor. É, a paternidade tem dessas: te prepara pra acordar cedo em vááááários sábados da tua vida pra assistir performances artísticas da tua prole. E quer saber? É legal demais!

Convidei a família toda, mas sabia que a Monica tinha que estudar, e provavelmente não iria. Ok, zero problema, sei que as coisas são assim: a gente trabalha até cair o couro, e o final de semana é curto. Se tem que estudar, engole o choro e estuda. 

Mas na festa, qual não foi a minha surpresa ao ver, adentrando os portões da Cirandinha da Tia Ofélia, o meu cunhado Arthur. E o cara é tão batuta que foi... mesmo sem a minha irmã. Ela tava estudando, ele queria falar umas merdas e tomar umas brejas, e achou que seria uma boa fazer isso na festa junina do maternal do meu filho. Gênio! Não vejo lugar mais apropriado!

Assim procedemos. Enquanto meu pequeno estourava biribas no nosso pé, nós compensávamos com vigorosos goles de cerveja. Até que Arthur, o astuto, soltou a pérola: "Tem uma fraldeta na minha geladeira, mas a Monica tá estudando". Não precisei nem responder o "faz na churraca de casa", e o cunhado já tava indo na casa dele buscar a peça. Uma bela peça de fralda, aliás.

Pouco antes do jogo do Brasil começar, chega ele em casa com a fraldinha e uma garrafa de vinho. Antes que eu desse uma golada naquela garrafa, fui advertido: 
- Cara, não bebe isso aí, não. É vinho velho, passou.
- Cunhadão, mas pra que diabos tu traz uma garrafa de vinho véio pra casa?
- Pra fazer uma vinha d'alhos!
- Vinha de quê?
- Vinha d'alhos, uma receita dos caralhos!
Sim, nem Arthur, nem eu somos conhecidos pela nossa educação britânica. Mas ambos somos conhecidos por mandar bem pilotando churracas. Cada um tem as suas receitas, cada um faz as carnes do seu jeito, mas a gente nunca entra nessas babaquices de disputa. Nós formamos uma parceria, e não uma concorrência. E foi o que se sucedeu, e conto aqui a receita do molho de alhos (rime com o que bem entender, ok?) do meu cunhado.

E a receita é tão simples, mas tão simples, que eu vou inovar e escrever inteirinha num só parágrafo, sem vírgula, de trás pra frente e em miguxes. Tá, miguxês não dá. Tadinho do português... de trás pra frente, pior ainda. Mas em um parágrafo dá! Respira fundo e vamo comigo!
Arthur pegou um copinho pequeno, daqueles de tomar cerveja em boteco vagabundo. Jogou o vinho velho até pouco menos da metade do copo. Depois deu uma boa borrifada de mostarda. Como em casa só tem mostarda preta, lá foi ela conversar com o vinho velho. Enquanto isso, eu picotava 4 dentes de alho, e taquei lá dentro. Na sequencia, joguei um punhado de sal grosso, enquanto ele picotava um teco de salsinha e cebolinha. Misturamos tudo, jogamos duas boas goladas de azeite e a meleca dentro do copo ficou parecendo caldinho de feijão, mas o Arthur disse que tava tudo certo, então passamos na fraldinha. Deitamos na grelha, e de vez em quando, um de nós tacava uma colherada de molho na fralda. Quando ela ficou pronta, cortamos e comemos.
Tá vendo como é simples? A fraldinha, que já é uma carne mega saborosa, ficou ainda melhor com isso. Recomendo seriamente.

E é pra isso que serve o cunhado. Pra fazer comida pra mim! Há! Quem mandou pegar a minha irmã? Achou que ia sair de graça?

Preço: Custo Zero, Fome Zero. Foi de graça. Cunhado bão é assim.
Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, 3 brejas na churraca. Um gole no vinho velho pode acarretar em algum tempo no banheiro.
Rendimento: Enchemos 4 buchos, a peça era generosa.

E este post é dedicado à memória do Claudinho, o outro cunhado, falecido irmão da minha esposa. Um parceiro muito querido que nos faz muita falta.

Uma linda mulher

Já fazia um tempo que eu vinha me segurando pra não destilar nosso carinho na direção da nossa musa insipadora, a titia ana maria braga, a garota do botox de ouro. Eu tento, mas essa mulher é tão brilhante, tão magnética, tão frenética, tão cibernética... Que quando mais eu fujo dela, mais ela me aparece pela frente.

Acabei de voltar de um cliente, que disse que conhecia a ana maria braga pessoalmente. Meu coração palpitou de alegria, felicidade, medo de ser processado e medo do cliente ler isso aqui e deixar de ser cliente.

Cheguei no escritório e, num momento de morcegada, decidi dar uma passada de olho nos blogs que mais gosto. Eis que me deparo com Ela:



Pra quem não conhece o Dr.Pepper, dispa-se de todos os seus preceitos morais, de toda e qualquer relação com a boa educação, moral e bons costumes e rache o seu bico. Dr.Pepper é o humor politicamente incorreto personificado em forma de quadrinho. 

Porque esse mundo anda muito quadrado e de vez em quando precisa aparecer alguém pra chutar umas bundas. Mesmo que seja a da nossa amada anfitriã.

Vale a visita: www.drpepper.com.br

Receitas de panela: Como preparar uma rabada de mestre

Putz, esse título aí ficou meio sessão-da-tarde. Depois de "Um golpe de mestre", "Jogada de mestre" e outros títulos previsíveis, vem aí: "Uma rabada de mestre: Uma vaquinha muito louca aprontando várias confusões numa panela do barulho!".

Mas como aqui a gente gosta de título mal-feito, vamos mantê-lo assim. Aliás, aproveito o momento pra sugerir que substitua momentaneamente o título deste blog por algo como "Enfiando o Gato na Panela". Afinal, como dissemos no post que abre esta série, está um frio sibérico lá fora e eu não quero congelar meu crânio na churrasqueira que está lá fora. Portanto... Patroa, te prepara que hoje eu vou fazer dessa cozinha um infeeeeernooooo!!!!!

E a primeira coisa que a gente vai fazer é meter o rabo da vaca no fogo. Desculpa aí dona Mimosa, mas hoje nós vamos ver o que é um rabo quente.. Pedimos encarecidamente ao ponderado leitor que feche a playboy da Sheila Carvalho e mantenha a sua atenção dirigida ao rabo que nos interessa no momento: o bovino.

"Esse rabo aí já abanou muita mosca..."

Ao contrário dos nomes das outras carnes, que são quase todos esdrúxulos, o rabo é bem fácil de unir o nome à pessoa. Estamos falando do rabão mesmo, aquele que abana mosca, aquele que a vaquinha levanta antes do cocô, aquele que o peão puxa no rodeio. Aliás, só encontrei essas 3 utilidades pro rabinho da vaca. Além de ir pra panela, claro. Se ela ao menos abanasse o rabo que nem cachorro, mas nem isso. Sendo assim: panela no rabo dela!

Bom, começando os trabalhos.. Dirija-se ao açougue mais próximo, peça 1,5kg de rabo o mais limpo possível. Olha, dá um certo constragimento pedir assim pro camarada do açougue, tipo "Ow, parceiro! Me dá esse rabão bonito aí". Se você já tiver alguma intimidade com ele, pode facilitar as coisas, desde que você não se empolgue. Eu recomendo seriamente que você não o veja cortando o rabo. Isso porque o rabão inteiro se parece MUITO com o rabinho da vaquinha ali, balançando, e vai ser inevitável lembrar daquela levantada de rabo pré-cagada. Pra não perder o apetite, nem veja. 

É importante pedir o rabo limpo, porque é uma peça que tem muita gordura. E, ao contrário da churraca, que derrete a gordura e faz cair no carvão, na panela a gordura fica por lá. E pode deixar a sua comida um sebo só. 

O primeiro passo é dar uma cozida de leve pra tirar o excesso de gordura. Coloque o rabo numa panela grande (procure não pensar besteira, ok?) e cubra com água. Esprema ali um limão, jogue um copo de pinga (isso mesmo, pinga. Ajuda a amaciar a carne) e bote pra ferver. Deixe lá, fervendo, uma meia hora. Você pode aproveitar esse tempo pra tomar umas brejas porque o trabalho a partir de agora é cascudo, e todos nós entendemos o álcool como um facilitador de coisas cascudas. Aquele que nunca pegou uma baranga breaco que atire o primeiro pinóquio.

Ok, enquanto ferve, você pode picotar uma cebola inteira. Não precisa ser tão minucioso e picotar pequeno, porque ela vai virar um refogado e praticamente derreter, mas também não adianta ser animal e cortar a cebola em 4. Ah, entendeu, né? Picote um cebola e pronto. Guarde ela num pote. 

Caro leitor, a partir e agora você vai sujar muuuuita louça. Recomendo manter a sua mãe (ou a patroa, ou seja quem for a dona da louça e da cozinha) bem longe de você, e consequentemente, da cozinha.

Picote, seguindo a mesma recomendação da cebola, uns 4 dentes de alho. Guarde tudo num outro pote. É importante não misturar, compana.

Picote 2 tomates pequenos (ou um grande dããã..) e guarde num terceiro pote. Tá vendo como isso faz um furdúncio na cozinha da patroa?

Legal, você tem 3 potes cheios dos ingredientes da alegria, e uma rabada fervendo na panela. Desligue o fogo e jogue aquela água fora. A rabada deve ter, nesse momento, um aspecto nojento. Se não tiver, tá errado. Mas fica tranquilo que o caminho é esse mesmo. Tem um monte de coisa que a gente come e acha uma delícia, mas em algum momento foi nojento. Deixe a rabada quietinha na panela, já voltamos a ela.

Aliás, não: voltemos agora. Se a rabada for muito gordurosa, essa é uma boa hora pra pegar uma faquinha e rancar, na mão, o excesso de gordura. É um puta trampo chato, mas pode ser a diferença entre uma rabada legal e uma rabada tipo chiclete. Agora sim, guarde esse rabo aí e voltemos à programação normal.

Agora o refogado. Guarda esse nome porque quase tudo o que se faz na cozinha é refogado. Pelo menos quase tudo o que eu sei, o que significa quase nada. 

Numa panela de pressão (sem a tampa, não é pra meter pressão AINDA), coloque um pouco de azeite. Mais ou menos 2 goladas. Recomendo usar a cabeça, e não a boca pra medir 2 goladas. Deixe esquentar por uns instantes e jogue a cebola picada. Ah, companheiro... o cheiro disso é bão dimais. Você deve mexer com uma colher de pau durante uns 5 minutinhos, até a cebola começar a ficar meio transparente. Isso significa que ela tá fritinha, e aí começa a mágica. 

Misture, agora, o alho. Eu costumo empurrar a cebola pros cantos da panela abrindo uma clareira, e tacar o alho lá dentro. Porque, em contato com o fundo da panela, o alho frita rapidinho, e fica com aquele crocante legal. quando ele começar a ficar queimadinho, e fica esperto porque isso acontece bem rápido, mistura tudo. Putz, o cheiro da cebola e do alho fritando juntos é indescritível.

Agora o tomate. Manda ele todo lá no meio e fica mexendo, durante um tempo. O tomate começa a se desmanchar, fazendo daquilo tudo uma pasta. Taca lá dentro uma folha de louro (ah, ana maria braga... que saudades da senhora), inteira mesmo, nem precisa picar. Agora, um lance importante pra rabada: açafrão. Pode ser daqueles saquinhos de tempero que vende no mercado, mesmo. O açafrão é um tempero meio vermelho. Dá uma sapecada lá dentro, que deve dar, mais ou menos, uma tampinha de garrafa de breja. Se não sabe o quanto, compre uma breja, beba, lave a tampinha, seque, encha de açafrão e enfie no rabo (no bom sentido, claro). Pode ser, no mínimo, uma boa desculpa pra enxugar mais uma. Misture tudo, jogue sal com comedimento e voilá: Nesse momento, parabéns, compana: você acabou de fazer um refogado! 

Se você é do tipo que curte dar uma caprichada, recomendo picotar umas folhinhas de manjericão e orégano frescos (ui!). Guarda isso, orégano e manjericão funcionam bem em qualquer coisa que se possa mastigar. De pão com manteiga a cavalo no rolete, vai na fé que sempre ajuda.

Pegue a leiteira da mãe (ou da patroa), encha de água e bote pra ferver. Depois te explico pra quê você vai precisar disso.

Agora, voltemos à vaca fria. Fria mesmo, porque o rabinho ficou guardado e deve ter esfriado. Jogue todo o rabo dentro da panela de pressão com o refogado. Mistura direitinho, dá um certo trabalho, mas eu sei que você consegue. 

Com muita parcimônia, vai tacando aquela água que ferveu. É importante ela estar quente. A vaca faz a maior frescura com esse rabo, e se vc meter água fria, o rabicó da mimosa endurece e aí ferrou com a tua receita.

Isso, jogou a água toda? Misturou? Então continua a misturar até a água ficar cremosa. A essa hora o cheiro começa a ficar bem legal. Essa misturada aí deve levar uns 30 minutos. Aproveite pra tomar mais umas brejas. Só fica atento pra não deixar o nível da água descer demais. Tem que ficar na altura dos rabinhos. Ou seja, nenhum rabinho fora d'água, entendeu?

Quando a água estiver cremosa, e o nível estiver legal, feche a panela de pressão. Conte, a partir de agora, meia hora no relógio. Se você pensa que vai aproveitar essa meia hora pra tomar mais brejas, acertou. Tome mais meia hora de breja.

Mas, se você pensa que vai ficar ali, de perna pro alto tomando breja, errou. Enquanto a panela faz o capeta com a sua rabada, você deve picar meio maço de salsinha e cebolinha. Fica esperto na hora de comprar porque a salsinha se parece muito com o coentro, e são duas coisas completamente diferentes. Digo isso porque eu mesmo já fiz essa cagada algumas vezes.

Passada a meia hora, brejas na cara e salsa picada, hora de abrir a panela. A rabeta deve estar molinha, e você pode até tirar um tequinho pra experimentar. Se ainda estiver meio dura, cheque o nível da água, feche a panela e manda mais 10 minutos. 

Se ela estiver bem macia, pode jogar lá dentro a salsa picada e a cebolinha e se plepalar pla mistular a labada dulante tleze minutos. Com a panela aberta, não é mais pra mandar pra pressão.

Agora é só jogar tudo, com água e o escambau, numa boa travessa e chamar a mãe, a patroa, o pai e os vizinhos pra comer. 

Uma informação importante: a cozinha ficou um inferno. Tome todas as providências para que a dona da cozinha não tenha que ir buscar nada lá até o final do almoço. E não coma demais, pode ser que você precise correr quando virem a bagunça.

Custo da rabada: R$15,00 por 1,5kg. Honesto, vai. Ainda tem a cebola, tomate, alho, tempero e água, mas nem vou colocar isso na conta.
Rendimento: Umas 4 pessoas, se não forem vikings nem ogros.
Tempo de preparo: Umas 3 horas. Sirva bêbado. Bem bêbado.

Receitas de panela: o início de uma série

Comecei este blog em janeiro. Mais precisamente, no dia 2 de janeiro. Naquele momento estava eu, embriagado pela alegria e cerveja dos primeiros dias do ano, devidamente refogado na piscina da casa de um amigo, sentindo os trinta e tantos graus celsius torrarem os meus parcos e desfigurados neurônios, conversando preguiçosamente com os fiéis companas de sempre sobre qual especiaria jogaríamos na churrasqueira nos momentos posteriores e palpitando irresponsavelmente sobre temperos e maneiras de preparar cada carne, quando alguém sugeriu que eu compilasse tudo isso num livro. Rimos, fizemos a carne e fomos cada qual pra sua casa descansar o esqueleto pra jornada de cerveja e churrasco que viria no dia posterior.

Foi quando eu comecei a pensar na história do livro. Na verdade, livro me pareceu demais, mas um blog cairia como uma luva. Liguei o micro e bora pro Blogger.com (nerd é assim: vai pra praia, mas leva o micro). Em alguns minutos, tava criado o "Deitando o gato na grelha". Nem o nome deu trabalho, porque eu costumo mesmo usar essa expressão. Meus amigos tem dezenas de sms nos seus celulares escrito "bora lá queimar um bichano", "vamos deitar um gato hoje?". 

Despretensiosamente, escrevi o primeiro post: "Lugar de boi é deitado na grelha", sem ter a menor idéia de onde isso ia terminar, e sem pensar se eu ia ter repertório pra escrever mais do que um mês de blog.

Aí o blog foi ganhando audiência, os leitores deram dicas fantásticas, eu comecei a experimentar e o bonde andou. Hoje esse blog anda fácil, tenho bastante pauta guardada na manga, a linha editorial tá bem definida e quando falta idéia, a ana maria braga faz alguma merda e alegra os nossos corações. Mas eu não contava com um detalhezinho...

Há cerca de um mês, eu simplesmente pensava na receita, ia no mercado, comprava a carne e deitava na grelha. Depois escrevia aqui e Gol do Brasil. Até que chegou um dia em que eu abri a porta do quintal e fui tomado por uma massa de ar frio que me queimou as sombrancelhas. O inverno tava aí, com um frio de cair o rabo do cachorro. E eu tremi. Não de frio, mas de medo de tentar fazer um churrasco no quintal e terminar como nas propagandas da NET: na Sibéria falando skavurska. E antes que aparecesse um Lada e uma garrafa de vodka na minha garagem, resolvi tomar uma atitude.

Essa vida de churrasqueiro, aos poucos, me apresentou a um grande prazer que eu não conhecia. Antes que você comece a pensar bobagem sobre a minha pessoa, estou falando do prazer de cozinhar. E com isso, além de mandar todas essas carnes na churraca, tenho também me dado bem com as panelas. Já foi o tempo em que eu pensava em comer alguma coisa bacana e tinha que pedir pra vó fazer. Ainda prefiro a comida dela, mas admito que não passo mais vontade. Com a diferença que aqui em casa não tem folhinha pra decorar a comida, não. É panelinha e fogãozinho, mas o sistema continua bruto!

E, a partir de agora, vou postar algumas receitas de carnes e afins.. feitas na panela. Nos próximos dias, inauguraremos com a rabada que eu fiz domingo que tava maaaaaster.

Costelinha de porco ao chimichurri

No início de tudo, Deus tirou uma costela de Adão e fez a Eva. Adão, espertalhão, comeu a maçã da Eva e a merda tava feita: tomaram um rapa do paraíso, o bicho pegou e assim vamos até hoje. E não me pergunte como Adão e Eva, seres humanos, viraram macaco, depois neanderthal e depois gente de novo, porque eu faltei nesse dia e fui mal nessa prova, ok? Mas voltando ao assunto, se Deus tivesse poupado a costela do pelAdão e tivesse usado uma costela de.. de.. sei lá, de porco, a história teria sido bem diferente: Deus tiraria a costela do porco, olharia pra ela... olharia pra ela.... olharia pra ela... assaria e comeria. E a essa hora Adão tava todo feliz lá, no paraíso, jogando bola, tomando cerveja e comendo churrasco. Ele e a serpente. Xiii.....

Deixemos Adão de lado (não no sentido de mudar a posição em que se encontra, no sentido de desencanar dele, ok?), e vamos nos preocupar com que realmente importa neste post, porque isso é uma receita e eu já inventei tanta merda que tou quase perdendo o rumo do post. A parada que interessa é que Deus tirou a costela do porco, assou e comeu. E se Ele fez isso e achou gostoso, a gente também é filhinho dEle e tem o mesmo direito. Como Ele escreve certo por linhas tortas, se esqueceu de contar como é que a costela do porquinho ficou tão divina (olha o trocadilho-lho-lho). E, como de linha torta entendo eu (minha letra é feia que é o cão), transcrevo em arial tamanho 12 as palavras do senhor:

"E, no sétimo dia, deitarás a costela do porco cortada em ripas na bandeja, depositarás o chimichurri sobre ela e descansarás sobre o altar durante sete dias e sete noites*. Então o fogo da churrasqueira queimará todo o alimento, e aquele que experimentar tal oferenda será expluso do paraíso para as trevas sem fim"


* Tá 7 dias e 7 noites tem um puta apelo dramático, mas se vc deixar marinando durante esse tempo todo, será expluso da cozinha pro banheiro e lá sim, permanecerá sentado durante 7 dias e 7 noites. Portanto, deixe a costelinha no molho chimichurri durante mais ou menos uma hora. É o suficiente.

E pode esquecer a conspiração Código DaVinci: molho chimichurri não é uma senha pra abrir artefatos mirabolantes nem nada do tipo: no post anterior, eu e você vimos a diferença entre nossos vizinhos argentinos e o homem de neanderthal. Vimos também que se o homem de neanderthal tivesse sido argentino, a humanidade teria hoje sérios problemas em relação a cortes de cabelo masculinos, mas a subsistência desde a idade da pedra até hoje teria sido mais suave, o neanderthal teria sido um primata mais sorridente e a carne de mamute teria sido muito mais gostosa em função de uma maravilha da culinária portenha: o Molho Chimichurri.

Pois, agora que você sabe FAZER o molho, vamos achar uma maneira de USÁ-LO. A receita, em si, é simples assim. Deixa a costela no chimichurri durante uma hora num recipiente, depois deita o porquinho na grelha, espera ficar pronto e come. Essa costela fica boa de neanderthal nenhum botar defeito.

Uma dica legal: Se você quiser molhar a carne depois de pronta no molhinho, o que fica animal, não ponha sal no molho chimichurri, deixando pra salpicar sobre a costela já no fogo. Faça um pouquinho mais de molho, de maneira que vc consiga guardar um pouco. Assim, quando a costelinha ficar pronta, vc pode molhar os pedacinhos no chimichurri e lavar a alma. Eu tou contando que você não vai fazer a porcaria de molhar a carne assada na bandeja onde a costela ficou descansando, ok? Infelizmente, carne crua não faz bem, principalmente a de porco. E se a costela ficou descansando naquele molho, não se esqueça de que já tem um porco na receita e você não precisa ser como ele: larga mão de nojeira e joga fora esse molho. Ah, você entendeu a moral da história: se quiser molhar a carne, guarde um pouco de molho antes.

Dica 2: Fica mais legal se você deixar assar bem, como tá cheio de azeite ela dificilmente vai ficar seca. E quanto mais bem passada, melhor você sente o sabor do "tche meu molho". Não entendeu a piada? Leia o post anterior!

Coisa de argentino: Molho Chimichurri

Tem gente que diz que o churrasco foi inventado pelos argentinos. Não foi. Tem gente que diz que foram os uruguaios. Também não foram eles. Os paraguaios venderam cópias falsas, mas também não inventaram. E nem os brasileiros e nem nenhum povo que existe aqui hoje. Antes mesmo do conquistador Francisco Pizarro colocar seus pés do lado de lá da américa latina, os Incas e Maias já deitavam suas lhamas na grelha. Os egípcios também já deviam dar suas dentadas numa corcova de camelo mal-passada. Fora os Godos,Visigodos, Hunos, Vikings e outros trogloditas que comiam a carne de qualquer coisa que se movesse. Até de gente. 

Quem inventou o churrasco foi o primeiro Neanderthal que matou o primeiro mamute e tacou o bicho no espeto pra impressionar a primeira garota. E como as garotas da era do gelo tinham muito menos frescuras que as nossas, ele não precisava nem preparar a abobrinha: deitava o mamute na grelha, cantava uma canção do Roberto e CRÉU: lá tava a garota de neanderthal na caverna dele. E assim se perpetuou a espécie até chegar onde chegamos. 

Se você tá pensando que o personagem deste post é o Homem de Neanderthal, está muito enganado. Não confunda, o personagem de hoje é o Argentino. Sim, aqueles que moram ali logo ao lado do paraguay, fãs de Evita, Maradona e Carlos Gardel. 

Responda rápido: qual dos dois homens acima NÃO  é o de neanderthal?

Brasileiro falando de argentino é piada pronta. Fica fácil sacanear, primeiro porque existem mil diferenças entre nós que já foram exploradas até a chatice pelos casseta e planeta da vida. E outra que eles não estão aqui pra se defender mesmo. Mas neste post não vamos sacaneá-los só porque eles acham que entendem mais de futebol do que a gente. Neste post, abraçaremos nossos hermanos, e abrimos mão de toda e qualquer sacanagem que possamos falar a respeito dos seus hábitos, manias e cortes de cabelo (hehehe). 

E, ao contrário do futebol, se tem uma coisa que esses caras entendem, é de churrasco. Parrilla, como eles dizem por lá. O nome não importa, o que vale mesmo é que tanto do lado de cá, quanto do lado de lá da fronteira, deita-se o gato na grelha com uma propriedade vista em poucos lugares do mundo. E, ultimamente, tenho me aventurado na culinária de lá pra saber o que é que essa parrilla tem. Ainda estou me acostumando com o fato de comer churrasco de miúdos, testículos ou linguiça de sangue de boi, mas tem coisa muito boa nas receitas de lá. 

Como, por exemplo, o convidado de hoje: o molho chimichurri. Bora lá no gooogle dar uma olhada qualéquié:

De etimologia controversa, alguns indicam sua origem em imigrantes ingleses que habitavam nas pampas e que acostumavam acompanhar as carnes com molhos a base de curry. Quando solicitavam o molho, o faziam utilizando a expressão inglesa give me the curry (me dá o molho) ou misturando o idioma local che mi curry (tche meu molho). E há quem diga que um comerciante britânico conhecido como Jimmy Curry, inventou o molho, e de seu nome surgiu a palavra.
Parece mais provável, a versão que dá sua origem na palavra basca tximitxurri , que significa mistura no seu idioma original, e definiria bem o que é realmente um chimichurri.

Tche meu molho é a melhor. É a versão portenha do uai, meu moio mineiro, ou do oxente... me dá meu molho? bahiano ou do urra, meu.. meu molho! do paulistanês que só o faustão fala. Gostei, vou usar essa.

Os argentinos usam o Tche Meu Molho pra preparar a carne antes de assá-la, ou pra dar um agrado depois de pronta. No caso desta receita, utilizei o molho pra temperar antes de assar, e há uma diferença entre as duas versões: no caso do tempero pré-churraca, você pode utilizar ingredientes frescos (ui!), e no caso do pós-carvão, pode fazer um molho com ingredientes desidratados e deixar pegando gosto por dias.. Trabalharemos com a primeira opção.

O chimichurri (tche meu molho) é um condimento à base de vinagre, azeite, alho, cebola e salsinha. Na verdade, pesquisando porcamente pela internet você vai encontrar 300 receitas diferentes de chimichurri. Se for no site da ana maria braga, deve achar uma receita de chimichurri de abricó com sabão de coco e uva passa ou qualquer outro ingrediente sem sentido que só ela sabe fazer. Na nossa receita, procurei seguir uma receita argentina, mas acabei, como sempre, botando algumas coisas a mais. Ficou bom demais, então tá valendo. Vamos aos trabalhos.

Arrume um pote pra preparar o molho. Algo que caiba o conteúdo de uma lata de breja e meia funciona bem. Beba as cervejas, encha de água, experimente os potes da patroa e jogue a água fora. Assim que faz.

O primeiro passo é jogar um tanto de vinagre. Mais ou menos meia xícara, pouquinho mais. O vinagre tem que ser de vinho, e não de maçã. Se você não sabe a diferença entre um e outro, o de vinho é vermelho e o de maçã é verde. Embora exista vinho verde e maçã vermelha, mas isso é só pra te confundir.

Vinagre cheira mal, não é? O milagre dessa receita é que você vai tacando os ingredientes, e o molho começa a cheirar cada vez melhor, até você sentir vontade de dar um gole naquilo. É quando você percebe que tá pronto e você acertou a mão. Um passo por vez, já diria o saci. Vamos, então ao próximo.

Pode preparar o espírito pra picotar uma cebola inteira. Descasca a bichinha, corta em 4 e começa a picotar. Um adendo importantíssimo: por mais que possa arder o seu olho, não chore. Prefiro deixar a cebola queimar a minha retina do que chorar pra uma receita argentina. Lembra do "Não chores por mim Argentina"? Então, não faça isso. Engole o choro e mete a faca na cebola. Como sempre digo: picote a cebola com carinho, até ficar bem pequeninha. O cuidado que você tem com os ingredientes sempre se transforma em benefício pra qualidade da sua comida (puta frase de efeito, hein? Vou colocar no meu orkut).

Tacada a cebola lá dentro, agora vamos ao alho. Pegue dois ou três dentes de alho e picote bem pequeno. O alho bom é aquele que vc picota até virar uma pasta. Não sou fã desses alhos prontos que já vem moídos. Dá uma puta vontade de vomitar mexer naquele treco, enquanto o cheirinho do alho sendo picotado é bom. Sendo assim, mande a sua preguiça pro paraguay e picota essa coisa. 

O sal. Taí uma coisa controversa. Vai ter gente que vai me dar bronca por estar colocando sal no chimichiurri. Mas não nos esqueçamos de que este chimichurri vai temperar a carne que ainda vai pro fogo, logo, ele deve ter sal. Coloque um punhado de sal grosso (uma mãozada, sem ignorância) no meio do vinagre, da cebola e do alho. Enquanto você prepara o resto, o sal grosso vai derreter com o liquido e misturar legal. E eu acho o sal grosso mais gostoso que o sal normal, por mais que isso possa parecer maluquice.

Hora das ervas. Prepare o seu personal Bob Marley e mande ver. Se você não esquecer, continue lendo este post porque o chimichurri ainda não acabou. E para com essa risada porque essa é uma receita séria, ok?

A primeira erva que eu coloquei foi o orégano fresco. Isso porque ele tem mais sabor, e já vai misturando com o molho enquanto vc prepara o resto. Picote pequeno apenas 3 ou 4 folhas do fresco. Ah, e ele é fresco no sentido de ter sido retirado do pé há pouco. Não no sentido de gostar de gloria gaynor ou freddie mercury. Se não tiver do fresco, coloca um punhado do orégano de pacote que funciona também.

Manjericão fresco também é legal. Na última vez, pedi à patroa que me aparecesse com umas folhas de majericão, e ela me veio com um tal de manjericão roxo que, pasmem, era roxo mesmo! Bom, picote umas 5 folhas e manda brasa.

Uma única folha de louro picotada só pra dar trabalho. No caso da ana maria braga, recomendamos decapitar o louro mais próximo, pisar 10 vezes na sua cabeça, moer o seu corpo no liquidificador e jogar tudo no lixo. Voltemos às ervas.

A salsinha é a base verde do chimichurri. Portanto, pode jogar um meio maço aí. Lava bonitinho, tira o excesso de talo, deita na tábua e começa a meter a faca. A sensação de destruir a salsinha com a faca é indescritível. Procure moer a salsinha até ficar pequena. Joga tudo no pote.

A cereja do bolo é, como sempre, o azeite (ai, a luma de oliveira...). Jogue na gororoba uma xícara de azeite, ou mais. Em alguns casos, recomenda-se utilizar óleo de girassol, porque o azeite tem um sabor mais forte. Como estamos usando essa receita pra temperar carne que ainda vai ao fogo, pode ficar forte que o calor sauviza isso. 

Só pra dizer que caprichou, você ainda pode dar uma pitada de pimenta do reino, ou picotar uma ou duas bolinhas de pimenta baianinha. Ou colocar a pimenta de sua preferência. Lembrando que o chimichurri é um molho que tem por objetivo ser suave, e se você encher tudo de pimenta vai poder temperar a carne, o miojo ou um paralelepípedo que todo mundo vai ficar com o mesmo gosto: o de pimenta.

Agora vc deve misturar tudo. Note que o cheiro começa a ficar delicioso. Dá mesmo vontade de dar uma golada nesse negócio. Mas não faça isso, ok? Certas coisas tem cheiro bom e gosto forte.

Basta deixar descansar por algum tempo, o quanto a sua ansiedade permitir, e temperar a carne. Acho que uma alcatra em cubinhos no espeto ficaria muito legal. O mesmo do contra-filé. Os argentinos utilizam este molho no bife de ancho, que é um bife alto, macio e bastante saboroso. 

No meu caso, fiz pra temperar uma costelinha de porco que ficou de fazer a ana maria braga passar por baixo da mesa. Mas isso é assunto pra outro post.

Observação: Conheci, ao longo dos 32 anos que tenho, vários argentinos. E posso garantir: todos, sem uma única exceção foram extremamente simpáticos, educados, gente boa mesmo. Por mais que os dois povos adorem se sacanear, fica registrado aqui o meu carinho pelos nossos vizinhos ruins de bola :-)

John Locke e a máquina

Quem já assistiu Lost alguma vez na vida, sabe que tem uma fumaçona preta que quebra geral, sabe que teve a iniciativa Dharma que inventou um monte de fanfarrices e sabe também que o John Locke é o cérebro da turma. Um cara capaz de fazer de tudo pelo bem-estar da rapaziada, praticamente o pai de todos, o fura-bolo e o mata-piolho numa pessoa só. Mas olha o que ele descbriu dessa vez.

Há! Manual de primeiros socorros!

Este post é uma homenagem a um dia tão cheio, mas tão cheio de trabalho, que tudo o que me resta nesse momento é rir pra não chorar :-)

Especial Churrasqueiras: A incrível churrasqueira elétrica

Estamos de volta com mais um capítulo da série Especial Churrasqueiras, que vai te ajudar a escolher o melhor lugar pra deitar o seu bife. Isso é um oferecimento das Organizações Gato na Grelha. 

No último capítulo, experimentamos a tal churraquinha de papel, que tinha tudo pra dar errado... e deu. O acendedor atômico de urânio enriquecido que veio maliciosamente camuflado no meio do carvão chamuscou a minha sombrancelha, torrou a carne e até a própria churrasqueira, acabando com o churrasco e quase causando um incêndio. Ou seja: siga o óbvio, churrasqueira de papel não funciona e não faça isso em casa. Nem fora dela.

Desta vez, vamos experimentar mais uma que tem tudo pra dar errado. Onde já se viu um cara que acha que entende de churrasco confiar numa churrasqueira que tem que enfiar na tomada pra funcionar? Pois é, mas nós torcemos o nariz, demos de ombro, fizemos beicinho (menos a ana maria braga, que fez beição mas ninguém notou porque o botox tava duro), mas acabamos por morder a língua e levar uma bica. E esta anatômica oração só serviu para que morfológica ou sintaticamente admitamos que a churraquinha elétrica surpreendeu os nossos enegrecidos corações e provou que funciona sim senhor. E funciona bem merrrrrmo.

Como já disse num post sobre churrasco de apartamento, o que vai determinar se você vai ter uma churrasqueira elétrica ou a carvão na sua casa é uma razão entre o andar em que você mora e a dureza da sua convenção de condomínio. Se você optou pela elétrica, este post é pra você, iluminado leitor.

O esquema da churraquinha elétrica é bem simples. Tem uma resistência que fica logo abaixo da grelha esquentando a carne. Abaixo dela, uma bandeja armazena a gordura que escorre. E é aí que mora a genialidade deste invento que orgulharia mr. Thomas Alva Edison.


- Oh, my God!! Eles estão deitando o gatinho no grelha!!

Sente a estratégia: a gordura escorre e cai na água. Esta, por sua vez, está próxima da resistência, que encontra-se a meio caminho da água e da grelha. E como pau que bate em Chico bate também em Francisco, se a resistência esquenta a carne, esquenta também a água. Que evapora.. na carne! É, salvo as proporções gastronômicas e astronômicas de ambas, o mesmo princípio que faz a gordura cair no carvão, queimar e subir de volta à carne em forma de fumaça. Essa é a mágica do churrasco. E a churraquinha elétrica cumpre honestamente o seu papel nesse sentido. Mas como a gordura não é queimada, não faz tanta fumaça. Quase nada, pra falar a verdade.

Churracas elétricas consomem uma energia lascada. E um churrasco nunca é um evento rápido. Portanto, se você tem costume de fazer churrasco com frequencia, recomendo procurar outra alternativa. A menos que faça parte dos seus planos sobrecarregar Itaipu e apagar o Paraguay, o que não deixa de ser uma boa idéia. Mas pense na sua conta de luz e evite o greenpeace na porta da sua casa. Essa churrasqueira quebra o galho com propriedade, mas não é pra ser usada com frequencia. 

Como ela é bem pequena, deve ser acomodada em cima de uma mesinha. Nessa hora, recomendo atenção ao tipo da mesa. No apartamento da praia, temos uma dessas, e no primeiro churrasco, apoiei a churrasqueira na mesa da sacada. A mesa era de ferro, e eu tava descalço. Não preciso nem contar o que aconteceu, né? Foi um choque atrás do outro. Como nós gostamos de tomar cerveja durante os churrascos, e não tomamos pouca, o risco de levar um choque e pegar fogo é grande. E eu não acho que seja uma visão agradável pros seus convidados verem um churrasqueiro em chamas num churrasco onde, teoricamente, nem deveria haver fogo. Portanto, mesa de madeira e um chinelão podem ajudar a salvar a tua vida.

Se pegar fogo, não dirija.

Quanto às carnes, dá pra fazer uma porção delas. Picanha em bifes fica perfeita. Costelinha de porco também já fiz, e fica legal. Linguiças em geral, frango, fraldinha, maminha. Até peixe eu já fiz e ficou muito bom. Apenas evite carnes que precisam de um longo tempo de churraca, como costela bovina e cupim. Primeiro porque elas tendem a queimar por fora e não assar direito por dentro, e outra porque uma churraquinha dessas ligada durante muito tempo pode causar um blecaute na sua cidade.

Veredito: tá aprovada. Descobrimos que as resistências servem, além de fazer chuveiro, aquecedor e chocadeira, pra fazer churrasco. Essa sim foi uma experiência bacana.

Comparando, é como o Palmeiras contratar o Obina: você tem certeza de que não vai dar certo, mas no fim.... Bom, no fim eu não quero nem ver. E esse papo de obina me fez perder a fome.

Hamburger de fraldinha: O X-salada

Nas novelas no tempo de criança, no primeiro bloco tinha um retrospecto dos últimos capítulos, e no último, uma prévia dos próximos.  Vou começar este post com o retrospecto, ok? Voz de cid moreira aí, DJ!!

Os capítulos anteriores, nosso intrépido churrasqueiro demonstrava todo o seu apreço à sua amada, a fraldinha. Carinhosamente, ele moeu seu corpo e temperou com cebola, ovos e pimenta. Invejoso, o churrasqueiro declarou seu ódio ao Sr. Hellmans, e decidiu fazer a sua própria maionese. Cruelmente, ainda convidou seus comparsas para partilhar da sua carne amada...

De maionese e hamburger em mãos, bastava preparar o famoso e saboroso x-salada, o nosso objetivo final. E, como esse blog fala de churrasco e você deve estar de perguntando máqueporraééssadexissalada, preparei os hamburgeres na churraca. Há! 

Acendi a churraca e, no lugar da grelha, utilizei uma chapa de ferro, a mesma que uso pra fazer picanha no rechaud. Fazer direto na grelha não ia rolar, pois o queijo fatalmente escorreria ali promovendo a lambança completa e irrestrita. Com a diferença que preparar na churraca evitaria um furdúncio na minha cozinha, porque hamburger espirra e muuuito.

Além do fator social. Preparar comida na cozinha e levar até a sala é meio chato, vc fica sozinho trabalhando. Na churrasqueira é outro papo, você fica cercado de gente, as pessoas comem ali mesmo. É a inclusão social do churrasqueiro :-)

Bom, compramos muitos pães de hamburger, alface, tomate fatiado e... bacon. Ah, o bacon.. Diferentemente do McDonalds que tem aquele bacão redondo, esquisito e com um gosto bizarro que só o mcdonalds é capaz de proporcionar, decidi comprar bacon cru fatiadinho pra fazer junto com os x-saladas. 

Passei um pouquinho de manteiga na chapa e deitei o primeiro hamburger. Coidiloco aquele barulhinho de sshhhhhshshshshshhsshs dele fritando, não é? 

O que se sucedeu foi uma sequencia de 18 hamburgeres pra 8 adultos, 2 duas crianças e nenhum monstro do pântano, de maneira que cada pessoa comeu 2 sandubas, e as crianças comeram apenas um. 

Confesso que estava com medo de ter errado o tempero, ou ficar ruim ou sei lá o que. Sempre que eu vou inventar uma carne nova, ou algo que nunca tinha feito, geralmente eu faço para um público pequeno, e se ficar bom faço depois pra geral. Dessa vez, não. Então tava meio tenso. Mas o resultado foi mega positivo, os convidados adoraram! Ah, como eu trato bem essa gente, viu! 

Os x-saladas foram montados com pão, maionese, hamburger, queijo pratou ou mussarela, alface americana, bacon e tomate, nada de milho ou outras merdas que vemos por aí. Foi o xissa, simples como tem que ser.

A maionese: ficou maaaaaster, a receita da dona vó foi tudo de bom. Os amigos voaram que nem mosca na merda e acabou num minuto. Se você fizer um kg de hamburger de fraldinha, recomendo que dobre a receita.

O pão: foi usado pão de hamburger normal, comprado no supermercado. Recomendo deixar dentro da churraca, num lugar bem reservado, pois ele vai esquentando com o calor, e fica mais gostoso mesmo.

O hamburger: ficou muito, muito gostoso. Dá pra fazer num churrasco normal. O foda é você encher a churrasqueira de hamburger porque vai ficar parecendo americano, que chama os amigos pra um churrasco, acende uma churrasqueira feita pela nasa e enche a máquina de hamburger, salsicha e nugget. Vai entender esse povo, né?

Uma boa dica em relação ao hamburger veio de um dos convidados. Sinceramente, senti falta de uma ervinha no hamburger. E antes que você dê o meu telefone pro Gabeira, eu estou falando da salsinha. Acho que vale a pena colocar um pouco de salsinha na massa do hamburger.

O bacon: foi da patroa a idéia de ouro. Bastava deixar ele ali, deitadinho na chapa que a coisa acontecia sozinha. Quando tinha um hamburger pronto, outro bacon saía na mesma hora. Acho que eles combinaram. O melhor de tudo foi que eu não precisei pedir um Bacon sem bacon pra mim mesmo (se você não entendeu a piada, leia o post com a receita do hamburger). 

A salada: ah, fala sério, compana.. você não quer que eu fique aqui falando de salada, não é? Ah, manda uma mulher lavar a salada, enfia no sanduba e come, porra.

Hamburger de fraldinha: Preparando a maionese

Como disse no post anterior, os hamburgeres não seriam comidos ontem, mas sim hoje. Calma, eu não mudei os planos. Quer dizer, mudei um pouquinho. Decidi chamar a galera pra experimentar o hamburger de fraldinha, e ainda preparei o resto da fralda moída (leia o post anterior, você vai entender). Agora temos 1kg de hamburger que eu fiz, mas não comi. E ainda chamei os amigos pra experimentar. Putz, tomara que esse treco tenha ficado bom. 

Passei o dia decidindo se fazia a maionese ou comprava na lanchonete do seu Osnir, aqui na região. Aliás, se você passar por perto da Praça da Árvore, em são paulo, pare tudo o que está fazendo e mande um sanduba no Osnir, na esquina da jabaquara com a rua das rosas. Voltando ao assunto, deixe-me explicar o motivo da indecisão.

Assistiu "60 segundos"? É assim, os caras tem que roubar uns carros bacanas, mas tem um carro que o ladrãozão do filme nunca consegue roubar, porque acontecem coisas estranhas com a relação entre ele e o carro. Se você levar em consideração que ele pega a Angelina Jolie no filme, eu ia estar me lascando pra relação com o carro e ia me preocupar muito mais com a relação que envolve tão formosa garota. Mas como eu não roubo carros e não pego a Angelina Jolie, o meu drama é mais simplório, digamos assim: eu não consigo acertar uma maldita maionese. Sempre vira uma pia de porco, desanda, fica feia e mal-cheirosa. Mas dessa vez eu decidi encarar o desafio e pedi ajuda à cozinheira master desse mundo, capaz de preparar comidas que até Deus duvida, e como ela não cozinha pra Ele, e sim pra gente, continuará duvidando. Estou falando da nonna desta família, dona Ivette em pessoa.

Telefone em punho, enchi o pulmão e liguei pra ela. Em cinco minutos de conversa, nos atualizamos sobre as notícias da família, me convidei pra um almoço amanhã e anotei a receita da maionese que, na verdade, parecia ridiculamente simples. Aliás, simples pra ela que é capaz de cozinhar qualquer coisa. Mas tá valendo, se tudo der errado, já descolei um almoção pra amanhã.. 

Seguindo os ensinamentos de tão nobre senhora, botei 3 ovos pra cozinhar. O primeiro ovo já estourou logo de cara. Tirei da água e resolvi usar só dois. Ok, cozinhados os ovinhos, bora preparar seguindo a cartilha. 

Abri os ovos e retirei apenas as gemas cozidas. Assim disse Dona Ivette: 

- Use apenas as gemas dos ovos cozidos.
- Mas, vó.. O que eu faço com as claras que sobram?
- Ah, dá pras crianças, ué.

Simples, ela. Porém, das duas crianças da casa, uma dormia e outra estava fora. Achei uma alternativa razoável comê-las eu mesmo. Assim o fiz. 

O próximo passo, adicionar duas gemas cruas, desta vez dispensando completamente as claras. Olha, destacar a gema da clara de um ovo cru é uma atividade para poucos. Nojento que só. Despejei o conteúdo do ovo na palma da mão, com os dedos levementes entreabertos, de maneira que a clara nojentamente escorreu entre eles, ficando apenas ali a gema. Repeti o processo e joguei as duas gemas cruas às duas gemas cozidas. 

Pra dar um agrado, piquei um dente de alho bem pequeno, mas bem pequeno mesmo. Adicionei sal e misturei. Ah, começou a ficar com uma cara de maionese. Mas ainda faltava o azeite. Aí começaram os meus problemas.

Quando disse que usaria a batedeira pra mexer a maionese, dona Ivette caçoou de mim. "Bate na mão, dani" foram as palavras dela. Como ela tem 79 anos e eu 32, acho que ficaria difícil conviver com a minha consciência se eu não batesse aquele troço na mão. Comecei. 

Seguindo as recomendações da nonna, fui adicionando o azeite aos poucos. Ou seja, bate um pouco, adiciona azeite. Bate até pegar textura, depois põe mais um pouquinho. E assim por diante.

O resultado foi bom, e ruim ao mesmo tempo. Bom porque eu não peguei a Angelina Jolie, mas acertei a maionese. E ficou gostosa, até. A parte ruim ficou por conta do meu aspecto físico. Depois de bater a maiô no garfo, seguindo as recomendações de vovó, meu braço está pegando fogo. Não tenho forças pra levantar a minha cerveja. Parece que eu acabei de jogar uma partida de boliche. De 3 horas de duração.

Agora é esperar o pessoal chegar e começar a preparar os x-saladas. Torçam por mim, porque eu posso ter acertado a mão, mas posso ter errado o hamburger, a maoinese ou os dois :-(

Amanhã, a terceira e última parte deste especial: o x-salada e o resultado dessa baderna.

UPDATE: Não costumo fazer updates aqui, mas esse é importante: No domingo, quando almocei na casa de vovó, ela me disse que esquecera de um detalhe importante: na hora que misturar os ovos, sal e o alho, pingue algumas gotas de limão. Isso ajuda a maionese a não desandar. Embora esta não tenha desandado.

Hamburger de fraldinha: Te cuida, Ronald McDonald!

Uma das primeiras histórias bizarras que a internet ajudou a difundir foi aquela maluquice do hamburger de minhoca do McDonalds. Na época, eu trabalhava numa empresa que era a assessoria de imprensa da lanchonete do palhaço Ronald. E eu vi o trabalho que eles tinham em desmentir aquela bobagem mundo afora. Se você não sabe, a assessoria de imprensa é a empresa responsável por pautar a imprensa sobre o que será falado sobre determinada empresa. Ou seja, se aparece em algum lugar que a empresa XYZ é bacana e tá doando a renda do ano inteiro pra comunidade dos anões de Vladivostok, quem contou isso pra imprensa foi a assessoria. E se você ouvir alguém espalhar que o dono da empresa ABC congelou a vó no freezer da empresa, é a assessoria de imprensa que vai ter que desmentir isso aí, sendo mentira ou não. No caso da minhoca do Ronald, era claro que era mentira. Mas admitamos que era engraçado, vai...

E hoje, na hora do almoço, me dirigi a uma de suas lanchonetes pronto pra degustar uma refeição com nome de número. Gosto muito do número 1, mas gosto também do número do McBacon, e era esse em quem eu queria enfiar a dentadura. Eu não lembrava o número dele e chamei de Número do McBacon. Isso é bastante esquisito, pois é uma refeição com nome de número, e se eu não lembro o número, vira refeição com nome de número... de nome. Mas bastante esquisito mesmo é a fatia de bacon grande e redonda que vem no McBacon, que encaixa direitinho no sanduba. Sabemos que não vende bacon assim no mercado, e que no porco, o bacon não tem esse formato. Então me vem à idéia que os caras fazem esse bacon aí no photoshop, o que me leva ao inevitável: "Moça, me vê um número do McBacon sem bacon?". Ridículo, mas é isso que eu faço. Aí ela finge que não achou isso esquisito, dá um gritinho lá pra dentro "Bacon sem bacon!!" e a coisa acontece. Milagrosamente, aparece na minha bandeja um McBacon, sem o tal bacon. 

Em algum momento do almoço, me voltou à mente aquela história da minhoca. Acho que foi na hora que eu dei a primeira mordida e não senti o gosto da carne. Ou talvez na hora que eu dei a última mordida e ainda não tinha sentido o gosto da carne. Não importa, o que vale é que a gente gosta de ir no mc pelo evento que é, e se gostar do lanche, é pelo pão / molho / batata, etc, mas sabe que a carne é meio esquisita. Porque se for pra comer carne, lá não é o lugar não. Desculpa aí, palhaço Ronald, mas essa sua carne é uma fanfarrice.

E tive a idéia de fazer hamburger. Isso, comprar carne, temperar e fazer eu mesmo as minhas pequenas bolachinhas do prazer.  

Atenção: este é um post de receita em andamento. Explico: eu fiz os hamburgeres, mas só vou comer amanhã. Explico de novo: com a textura que eles ficaram, eu acho que seria uma boa idéia congelar antes de fritar, pra não fazer meleca na frigideira. Além disso, queria fazê-los na chapa de ferro lá na churrasqueira, mas hoje tá chovendo. E mais além disso do que isso, eu ainda não decidi se faço a maionese caseira ou meto uma hellmans mesmo. Portanto, preparei os hamburgeres que, neste exato momento, estão no freezer, ficando geladinhos pra ir pra churraca amanhã. 
Resumindo: Eu nunca fiz hamburger, não tenho a menor idéia se isso vai ficar bom, e só saberei amanhã. Preparar esta receita é por sua própria conta e risco. Mas garanto que posto amanhã mesmo o resultado, bom ou ruim. E, olha... eu acho que vai ficar bããão...

Voltando, vamos à receita. Nunca fiz hamburger, mas admito que recorri a Deus Google pra, no mínimo ter idéia de como fazer. E não me olha feio porque você tá aqui fazendo justamente o mesmo :-)

E, diante de Deus, Ele me falou que se usa fraldinha, patinho ou picanha pra fazer hamburger. Cliquei num link patrocinado e Deus se foi. Fiquei meio cabreiro com Ele, porque eu não gosto nem de dar cerveja pra carne, imagina se eu ia deixar MOER uma picanha. De jeito nenhum, isso seria um sacrilégio. Patinho eu não conheço, pois não é carne de churrasco. Mas sei que não tem uma fama das melhores, não. Mas a fraldeta é legal. Barata, gostosa e não vai me matar vê-la entrar formosa e sair uma paçaroca da máquina de moer carne. Assim procedi. 

Saí do trabalho tarde e com o saco na lua, mas ainda reuni forças para empurrar o esqueleto até o supermercado mais próximo. Pedi ao compana do açougue que moesse, duas vezes, uma peça de 1kg de fraldinha. Levei-a bora cá comigo. 

Como meu sogro faz um kibe cru nervosíssimo, imaginei que seria fácil preparar um nervoso eu também: bastava ligar pra ele e perguntar e ae parceiro como é que faz a parada. Sendo assim, separei a carne em duas partes: 0,5kg do kibe cru e 0,5kg pros hamburgeres, o personagem desta saga.

Chegando em casa, acalentei-me. Se eu me sentia moído, bastava olhar pra carne e avaliar quem é que tava na pior. Então, coberto do mais nobre sentimento de piedade pelo boi que acabara de pedir que moessem, decidi que faria uma caminha bem temperada para que a carne passasse a noite. Mas e aí, como fazer esse treco?

Uma amiga havia comentado sobre uma receita com ovos e sopinha de cebola, daquelas de pacote. Dispensei a sopinha, mas achei que o ovo seria útil, pra dar a tal liga. Assim, taquei um ovão lá dentro. 

Se eu dispensei a sopinha, continuei acreditando na presença da cebola no hamburger. Piquei meia cebola. Mas é legal picar a cebola bem pequeninha, com paciência. Assim ela pega um gosto na carne, e frita bem junto do hamburger. Deve ser meio broxante morder uma carne e sentir um tecão de cebola, não? Então, deixa a cebola na tábua e vai picando ela com a faca até virar quase uma pasta.

Tá ficando legal, mas ainda falta tempero. Ah, antes que eu esqueça: dois punhados de sal e seja o que Deus quiser (nesse caso Deus mesmo, e não o Google). Pra temperar, uma espirrada de pimenta do reino preta. Mesmo sem misturar, o cheiro começou a ficar bom.

Foi então que eu abri a geladeira e quebrei um paradigma. Uma verdade: não sou fã de pimenta, não gosto de pimenta. Mas antes que você questione a minha coerência, pimenta do reino não é pimenta, é tempero. É que nem o cachorro-quente, que não é cachorro, é comida. Coisas do português, ora pois. 

Pois voltemos ao ponto do paradigma. Abri a geladeira e encontrei um vidro de uma pimenta que tava bonitinha, brilhando ante a luz fria da geladeira. Abri o pote e senti o cheiro, meio com aquela cara de nojo de quem tá cheirando a bunda do coisa-ruim. Mas o cheiro era coisa boa. O nome? Pimenta baianinha. Olha, desde a carla perez, a Bahia sempre nos mandou saborosas pimentinhas, então pensei que seria uma boa lançar mão desse artifício. Tirei do vidro uma única bolinha, picotei bem picotadinha e joguei no meio da carne, ovo, sal e pimenta do reino. Pra dar um gosto que toda carne temperada merece ter, mandei uma golada sarada de azeite. Pra engrossar, farinha de trigo, uma pequena mãozada, tímida.

Comecei a misturar com uma colher de pau, e logo notei que aquela pasta não ia pegar formato de hamburger de jeito nenhum. Tava muito mole. Pra dar uma liga naquilo? A solução foi uma mãozada nervosa de farinha, umas 4 vezes mais potente do que a última. Isso significa que eu devo ter colocado uma xícara inteira de farinha de trigo.

Funcionou, porque a textura começou a ficar legal, virou um bolo de carne. E com um cheiro animal. Confesso que dei uma pequena garfada e, mesmo cru, o sabor tava demais!

Aí eu percebi que não ia ter aquela boiolice de não querer sujar a mão, porque a colher de pau não tava dando conta do recado. Apertei o botão foda-se e enfiei a mão na tijela, mexendo pra valer. Aí sim, misturei tudo e virou uma massa homogênea, consistente. Hora de fazer as bolachinhas.

Peguei uma mãozada da massa, deitei na tábua. Tal qual fazemos no jardim da infância, enrolei a massinha pela tábua até virar uma bolinha. Uma vez bolinha, bastou apertar com a palma da mão pra fazer o primeiro hamburguinho. Repeti o processo até o fim da carne. 

A receita deu 9 hamburguinhos altos, mas pequenos. Isso porque os pães de hamburger que a gente acha nos mercados por aí são pequenos, e não adianta você ter um hamburger de 8759352352 gramas e não caber no pão. Separei numa bandejinha, cobri com papel filme e foi todo mundo pro freezer. 

Aqui acaba a nossa epopéia, porque eu não experimentei. Apenas congelei e eles estão lá, tremendo na sibéria do meu freezer. Skavurska, Ronald McDonald!!! E até amanhã.

UPDATE: No terceiro post da série sobre o x-salada, eu comentei o resultado final dessa hamburgada. Uma das coisas de que senti falta foi um pouco de salsinha no hamburger. Portanto, se você pensa em preparar essa receita, mete um pouco de salsinha picada no meio que fica animal.

Custo: o kg da fralda custou 12 cruzeiros. mas como usei meio kg, pense em R$6,00. O resto (cebola, pimentas e afins tem custo irrisório).
Tempo de preparo: dá pra tomar umas 4 brejas, mas o tempo não é tão aproveitado, porque você suja a mão e não dá pra segurar a latinha durante grande parte do processo :-(
Rendimento: 9 hamburgeres altos, mas pequenos. Quer que eu desenhe?

Como escolher uma picanha

A picanha é a rainha do churrasco. Embora eu discorde fortemente dessa teoria, tenho que engolir o choro: Em 99,9999% dos churrascos que rolam neste país tropical abençoado por Deus, tem a picanha de alguma vaquinha deitada na grelha. E, como já disse em outras oportunidades, isso tem uma explicação lógica.

Picanha é carne for dummies. Você não precisa manjar absolutamente nada de carne pra fazer uma picanha legal. A picanha é uma carne saborosa demais, macia e além de tudo é resistente às suas cagadas. Você, desastrado leitor, precisa ser muito ruim de cozinha pra errar uma picanha. Não tem segredo: salga moderadamente, taca na grelha e tira quando estiver marrom. Picanha fica legal cortada em bifinhos, assada inteira, na churracona, na churraca elétrica, na panela, no forno, até cozinhada na água do miojo. Nem a ana maria braga, a senhora mais doce da televisão brasileira consegue estragar uma carne assim com as suas receitas de misturas mirabolantes e ingredientes duvidosos.

Talvez seja por isso que eu não fale muito de picanha por aqui. Aliás, sinceramente, eu faço pouca picanha nos meus churrascos. Podem me apedrejar por isso, mas eu acho a costela bovina, também chamada de minga ou ponta de agulha, muito mais gostosa do que a picanha. Uma fraldinha bem feita custa 1/3 do preço de uma picanha e fica tão boa quanto. Ou seja, existem alternativas, mas não é todo mundo que sabe como fazer umas carnes assim, e acabam caindo na picanha. Ah, e isso não significa que eu não goste de picanha, eu adoro!! Só que eu sofro da síndrome da churrascaria: Gosto de fazer várias carnes diferentes no mesmo churrasco, e não ficar repetindo sempre a mesma.

Mas o objetivo deste post é evitar que você compre gato por lebre, que te passem a perna, que você vista o nariz de palhaço. E pode anotar aí: isso já aconteceu com você. Certamente já te venderam um coxão duro com um cheiro de picanha, ou aquela picanha linda que você comprou tava dura que nem pedra. Vamos, então, aos X pontos que você precisa verificar antes de adquirir parte da bunda da vaquinha. Comecemos pelo simpático desenho da vaquinha recortada:


Ainda vou tatuar essa vaquinha no braço, vai anotando

Compana, preste atenção ao número 6. Se um dia o seu avião cair nos andes, na índia, na selva amazônica ou na ilha de lost e você der a sorte de encontrar uma vaquinha lá, é bem aí, no número 6 que você deve enfiar os dentes. Recomendo que seja discreto no caso da Índia, pois eles não entendem muito bem essa questão de morder vaca por lá.

Presta atenção também ao número 8. Ele é o coxão duro que, como  o nome diz, é duro.

Ponto 1: o tamanho da picanha.
Você chega no açougue e encontra 300 embalagens de picanha à vácuo. Todas parecem iguais, umas mais mirradinhas, outras mais gordinhas, e de repente você vislumbra a carla peres da bunda bovina: uma picanha grande, bonita, corada... dá uma olhada no peso dela, e, orgulhoso, lê: UM QUILO E NOVECENTOS GRAMAS. Grande achado, pensa o astuto leitor. Mas não. Essa, provavelmente é a pior picanha da prateleira. Dizem que os melhores perfumes estão nos menores frascos. Mas vamos mudar o rumo dessa prosa, porque se você fica passando perfuminho pra fazer churrasco, eu desconfio de você e recomendo que vá procurar a receita da picanha de sol no site da ana maria braga. A picanha dela é de sol, mas fica marinando no leite um dia todo. No leite, meus queridos... no leite.... ai jiusis.

Uma picanha não deve, de jeito nenhum, passar de 1,3kg. Eu sou tão chato com isso que não compro picanha com mais de 1,1kg. Se precisa de muita carne, compra duas, mas não leva a grandona. A picanha vem "grudada" no coxão duro, e separar uma peça da outra requer, além de um olho vivo, honestidade. E como a picanha custa 5x o preço do coxão duro, já dá pra imaginar o que acontece, né? Você compra uma picanha e leva uma picanha e meio coxão duro. Com o detalhe que você pagou tudo pelo preço de picanha. Ou seja: Não tenha o olho maior do que a barriga, e nesse caso, o olho maior do que a bunda. Compre as pequenas e seja feliz.

Ponto 2: A capa de gordura.
A capa de gordura é o que vai ajudar a sua picanha a ficar gostosa pra valer. Isso porque a carne dela é bem macia, e a gordura fica por cima, derretendo. Parte dela derrete e penetra (ui) na carne, fazendo da picanha o pesadelo das garotas de regime no seu churrasco. A capa deve ser uniforme, com menos de um dedo de espessura (lembre-se, nem dedo de mocinha, nem dedão de ogro), e igual dos dois lados. Como você não pode cortar a picanha no meio dentro do açougue pra ver se tá boa, imagine que uma capa que vai bem do começo à ponta da picanha, e uniforme de um lado a outro da mesma, deve estar legal.

Algumas picanhas tem a capa de gordura meio amarelada. Isso não é, necessariamente, um mau sinal. Apenas significa que o boizinho que ostentava aquele pedaço de bunda quando vivo já era um boi mais velhinho. Sua capa de gordura vai ter uma textura meio mole e amarela. A aparência é meio esquisita, mas não altera muito o sabor da carne. Se você der um azar dos infernos, pegou a picanha do boi de matusalém e aí vai ficar tudo duro mesmo, mas na maioria das vezes, o boi que comemos nem chega a ficar velho.

Ponto 3: A limpeza.
Dizem que roupa suja se lava em casa. No caso da picanha, prefiro deixar essa parte pro açougueiro ou pro frigorífico. Mas peraí, uma picanha tem que ser limpa? Sim, parceiro. Tem que ser limpa. Quando estiver com a piqueta em mãos, veja a parte de trás dela. Se você enxergar ali umas membraninhas, saiba que trata-se de uma picanha suja. Essa membrana do mal vai esquentar, assim como toda a carne. Como a membrana não tem água, ela vai diminuir de tamanho, e vai bagunçar toda a sua carne. E vai ficar dura pra dedéu. Você tem dois caminhos: Ou compra ela assim e limpa, retirando tudo como se fosse uma etiqueta usando uma faca afiada, ou procura uma picanha limpa. Eu prefiro comprar limpa por um motivo simples: quando limpa, vc joga carne fora, e você pagou por essa carne, e não pagou barato. Então os açougues e frigoríficos desse Brasil que se virem e vendam a picanha limpa.

Ponto 4: a maciez.
Embora, no geral, a picanha seja uma carne super macia, você pode dar o azar de pegar uma peça cheia de nervos, ou que endureceu por qualquer motivo. Nesse caso, recomendamos o teste da dedada, uma grande invenção do meu amigo Pão. Funciona assim: você pega a picanha na mão, vira ela com a gordura pra baixo e enfia o dedão na parte da carne. Recomendamos também que o faça discretamente, pois o gerente pode não gostar muito da realização do teste na sua presença. Feito o teste, fica fácil imaginar se a carne tá boa ou não.

Ponto 5: a cor.
Olha, depois que inventaram o photoshop, eu desconfio de tudo o que eu vejo por aí. Taí a Suzana Vieira que não me deixa mentir.



- Sou uma picanha novinha e macia. E sem coxão duro! Pode acreditar.

Mas em alguma coisa a gente tem que acreditar nessa vida. Então tenha em mente que quanto mais vermelha for a carne, mais novo o boi era, ou mais tinta levou pra ficar assim. Se o boi era novo, é certeza de carne macia. se tinha tinta, lamentamos. Mas pode comer assim mesmo, tem tanta tinta na comida da gente hoje em dia que já tá quase virando tempero.

Bom, são essas as dicas pra compra de uma boa picanha. Pequena, macia, limpa e vermelha. Se você conhece algum outro teste, mais alguma dica infalível pra escolha da picanha, comenta aqui!

Bom churrasco. Me convida #prontofalei.

[update] O leitor Raphael Neiva, se São Bernardo do Campo, me deu uma bronca e ele tem razão. Além disso, é dono de açougue e neste blog a gente enche a bola desses caras mesmo. A questão é que neste post estou falando das picanhas que encontramos em supermercados e açougues comuns. No caso de uma carne classe A, tipo exportação, a picanha pode ser muito maior do que 1,2kg. Portanto, se você tiver a sorte de experimentar uma dessas pra comprar, pode ser mais flexível quanto ao tamanho.
Essa foi a minha bronca. E eu retribuo: O Raphael escreveu isso como comentário lá no post do queijo coalho. Queridão, errou por pouco, hein!
Aliás, manda pra gente o endereço do açougue, faço questão de divulgar quem vende carne boa.
Valeu!

[update 2] Mais um leitor conhecedor das picanhas e maravilhas do mundo das mimosas e sua saborosa lataria me procurou para avisar que, respeitosamente, utilizou um pedaço deste parco pergaminho num post para o seu blog. Colocou os créditos e tudo mais. Mas, ao conferir, pude notar que ele escreveu muito bem sobre as grandes peças de picanha, as quais reneguei neste post. Recomendo a todos que o visitem e conheçam mais este lado tão palpitante desta peça de carne que tanto amamos: a picanha. Conheçam o blog do Alexandre Mitre