Receitas dos leitores: Farofa de cebola, por Angela Priscila

Eu já ia começando este post com uma errada. Ia escrevendo assim: "A farofa da Angela Priscila". Até aí tá ok, porque você tem que ter uma mente muuuuuito, mas muuuuuito suja pra achar que eu tou sendo malicioso. E como eu sei que essa tua mente é mesmo um poço de podridão, preferi mudar a sintaxe e me safar dos trocadilhos. Imagina o quanto isso não poderia me complicar no futuro? "A costela do Adão", por exemplo. Essa aí até vai, mas eu poderia cair numa pegadinha tipo "A linguiça do Bernardão", ou "A maminha da Julieta", e aí, fio... até explicar que focinho de porco não é tomada, lá se vai um blogueiro pro olho da rua... Portanto, ficaremos por isso mesmo. O nome da receita, mais o nome do autor. Sem mais delongas, vamos à iguaria porque essa é bem legal.

Angela Priscila nos escreveu diretamente de São José do Rio Preto, e nos iluminou com seu conhecimento no post da Linguiça Cuiabana. Ela não apenas escreveu sua receita, como também apontou um açougue em Rio Preto que vende a tal Cuiabana. E, não contente, ainda deu o endereço do local. Vai lá pra conferir e volta que a gente te espera.

Do alto do seu conhecimento, a garota em questão ajeitou o cabelo, deu uma última conferida na vestimenta e bradou:
Tou de TPM, porra!!
Não, esquece, não é nada disso. É que a minha esposa tá de tpm e o medo de voltar pra casa tá me tirando a concentração. Peço desculpas aos leitores, e peço apenas que rezem por minha alma, pois quando eu chegar em casa eu tou frito :-P

Voltando ao que nos interessa, Angela Priscila nos disse:
Lá vai a receita da farofa:
Ingredientes:
- Óleo;
- Cebola (pelo menos duas);
- Farofa de mandioca pronta para churrasco picante (Eu uso a SIAMAR, mas pode ser qq marca).
Vc corta a cebola em fatias, depois vc corta as rodelas em quatro partes iguais. Numa panela vc coloca o óleo para esquentar. Qdo o óleo estiver no ponto (quente o bastante para que ao jogar a cebola ela já comece a soltar bolhinhas, digo fritar, vc vai mexendo a cebola até que ela pegue uma cor dourada. Então, vc joga a farinha temperada e ainda mexe um pouquinho no fogo baixo. Ela deve ficar meio molhadinha. O gosto é uma delícia!! Experimente e depois me conta tá?
Boa sorte!
Abraços!!
Bom, na semana passada resolvi experimentar o quitute, e abaixo detalho a epopéia.

Começando pela farofa: não tinha em casa dessas farofas prontas, no momento da preparação. Mas havia um pacote de Farinha de Mandioca queimada. E, claro, não estou sugerindo ao nobre leitor que queime a mandioca, pois acredito se tratar de um processo deveras perigoso e um pouco desconfortável. Recomendo que compre a farinha pronta no mercado, deixando para outrém as consequências da sua fabricação. Fato compreendido: você pode usar a farofa pronta, como bem sugeriu a dona da receita, ou usar a farinha de mandioca queimada. No caso desta receita, a segunda opção.

É interessante você preparar todos os ingredientes antes, pois a farinha vai ao fogo e vira farofa como num passe de mágica. Antes que o cid moreira possa dizer que o mr. m é o senhor de todos os sortilégios, a sua farinha terá virado farofa. Mais fácil do que tirar coelho da cartola e mais simples do que a baranga que vira monga, por mais que o padre quevedo insista que mulher macaco não ecxsiste. Portanto, mãos à obra, rapazeada.

Resolvemos, eu e a minha doce esposa (tomara que ela leia isso antes de eu chegar em casa), adicionar alguns badulaques, pois a nossa farinha não tem, literalmente, gosto de nada. O primeiro ingrediente já é velho conhecido, capaz de fazer um rombo na sua coronária e infartar o seu cardiologista. Estamos falando do pequeno pedaço de alegria que responde pelo nome de bacon. Cortei duas fatias de bacon do tamanho de um polenguinho cada uma, e picotei em pedaços menores. Cada tequinho ficou do tamanho de um exército do War (magina que legal jogar war assim? O seu objetivo é eliminar todos os exércitos Bacon). Isto feito, guarda tudo num pires e vamos pra próxima etapa.


- Bacon, eu?

A cebola. Não esqueçamos assim de quem, tantas vezes, nos fez chorar. E, chorando se foi quem um dia só me fez chorar, corta a cebola em rodelas fininhas. Separa os aros da rodela (putz, será que deu pra entender o que isso significa?), de maneira que você vai ter uma cebola em argolas. Use uma cebola inteira, nesta receita, toda cebola do mundo é pouca.

Pode picotar alguns dentes de alho. Uns 3, pelo menos. Aliás, picotar não, fatie cada dente, tirando uns filezinhos de alho. Isso vai fazer o capeta na hora de fritar.

Outra que faz o capeta nessa receita é a azeitona. Separe umas 4 azeitonas, e picote com cuidado pra não se cortar (puta frase de mãe). É mega chato tentar tirar a carne da azeitona do caroço, e você pode fazer como eu fiz: de qualquer jeito. Os pedaços de azeitona ficaram cada um de um tamanho, coisa feia mesmo. Mas fica tranquilo, porque depois que misturar tudo, ninguém mais sabe o que é o que dentro daquela farofa e tá valendo.

Se você gosta de farofa apimentada, pode sapecar a pimenta de sua preferência. Eu sou fã da pimenta biquinha, também conhecida como baianinha. Ela é cheirosa e super leve. E como não sou daqueles que come sorrindo e descome chorando, prefiro pegar leve na pimenta. Mas essa fica a seu critério, picote o quanto quiser da pimenta de sua preferência.

Agora vamos botar fogo nesse negócio todo. Antes, me esqueci de que ainda não falamos de cerveja neste post. Portanto, abra uma breja agora. Quero ouvir o barulhinho, vamos lá.

Ok, com a breja aberta, o bigode molhado e a alma lavada, continuemos com a farofa.

Numa panela, jogue uma golada de azeite, o suficiente pra cobrir o fundo da panela. Angela Priscila sugeriu que colocássemos óleo, mas eu sempre prefiro o azeite. Dá uma golada na cerveja, e reflita sobre a situação política do azerbaijão meridional. Isso deve durar uns 15 segundos, e é esse o tempo que deve deixar o azeite esquentar. Pra testar, joga uma rodela de cebola. Se começar a fazer barulhinho, o azeite tá quente e a mágica pode começar.

Faça a alegria do porco em cubos: jogue o bacon lá dentro e fique admirando aqueles cubinhos de felicidade e colesterol fritando alegremente. Deixe os porquinhos fritarem um pouco, e depois mande as cebolas pra fazer companhia a eles. Você tem que mexer de vez em quando, pra elas fritarem por igual. Aí é só ir mexendo e sentindo o cheiro maravilhoso que vem da panela, até que as cebolas fiquem amarelinhas, e com um aspecto meio molenga. A impressão que dá é que a cebola ficou transparente.

Hora de jogar o alho. Abra uma cratera no meio da cebola e bacon, e jogue os alhos, de maneira que eles fiquem em contato com o fundo da panela. Deixe assim alguns segundos. Isso vai fritar os filezinhos do alho, e isso é bom demais. Sente o cheiro, dá vontade de meter uma colherada na panela. Um pouquinho depois do alho, você pode jogar as azeitonas. Agora tem que misturar o tempo todo, senão a cebola e o alho queimam e aí tá feita a lambança.

Pronto, tá tudo pronto pra entrada da farinha de mandioca queimada. Sendo assim, tá esperando o que? Joga lá dentro umas 2 ou 3 xícaras de farinha de mandioca queimada.

Mexa bem, pra fazer os ingredientes se entenderem. Aproveita enquanto deixa torrar um pouco e dá umas pitadas de sal (se você tá usando farofa pronta, não ponha sal), e jogue a pimenta.

Deixe lá no fogo por algum tempo até que a farofa comece a pegar cor, e tire quando o seu juízo mandar. Vai pelo instinto, você vai saber a hora.

Pronto, agora é só comer. Faça isso como bem entender: pode meter num pão, pode dar colherada, pode fazer o que quiser, porque essa receita é da boa.

Agradecemos profundamente a participação da Angela Priscila, que me fez ver que mulher entende sim de churrasco. Enquanto isso, no site da ana maria braga tem uma receita de farofa gelada pra churrasco com maçã, uva passa e mais um monte de coisas que eu não colocaria nem na comida do cachorro.

Milagre

Olhe bem a imagem abaixo e me responda: qual a melhor legenda pra essa foto?

  1. Nossos distintos políticos trocaram a pizza pelo churrasco;
  2. O congresso tá pegando fogo!!! Fechem as portas, tragam mais carvão!!!
  3. É a fumaça de Lost fazendo o capeta com as vossas excelências;
  4. Nenhuma das anteriores. Provavelmente alguma área qualquer está pegando fogo e eles, claro, não estão nem aí.
Seria cômico se não fosse trágico.

E, claro, isto não tem nada a ver com o assunto deste blog. Mas nós, como brasileiros, não podemos deixar de expressar nosso repúdio pela casa da mãe joana que esses senhores fazem com a administração do nosso país.

Receitas dos leitores

Como já dito em outras histórias, eu comecei a escrever neste blog em janeiro deste ano, despretensiosamente, sem o menor compromisso com o sucesso, na base do enche-a-cara-e-escreve-o-que-vai-na-cabeça. Na verdade, continuo fazendo assim até hoje. Acho uma receita, preparo enquanto seco umas brejas, e escrevo aqui. Ou invento uma receita, preparo e escrevo aqui. Assim caminhamos até hoje.
Um adendo filosófico importante: em culinária, DUVIDO que a gente tenha capacidade de inventar alguma coisa. Pensa comigo: Há quantos anos existe o homem? Um descaralho, certo? Agora pensa comigo: há quantos anos existe o azeite, o orégano, o tomilho, o boi, o porco, a azeitona, o jacaré, o peixe-palhaço, a ararinha do ( * ) cor de rosa, o ornitorrinco, o ronald mcdonald? Você acha mesmo, que nesses anos todos, as pessoas já não abusaram de todas as combinações possíveis de ingredientes? Numa boa, acho que a gente pode até se inspirar e fazer uma receita legal sem copiar de ninguém, mas certamente, em algum momento da história.. isso já foi feito.

Eu aprendo muita coisa interessante neste blog. Assim como o Sr. Miyagi ensinou o Daniel San a pegar mosca com palitinho, os letrados, ilustrados e coloridos leitores desta espelunca também me ensinam muita coisa.

Por exemplo, aprendi que churrasco não é só coisa de homem. Temos, aqui, uma quantidade considerável de comentários floridos pelas doces palavras das meninas. E, nesses comentários, tem dicas e tudo mais. Ou seja: as garotas também encostam a barriga na churraca. Com a diferença que as barriguinhas delas são muito mais interessantes do que as nossas.

Teve leitor que perguntou se eu sou viado enrustido, devido à maneira que escrevo. Aí eu tive que explicar pra ele que neste blog a gente fala sobre churrasco, e não sobre comportamento, sexualidade, e que a orientação sexual das pessoas não é problema nosso, e que puta pergunta de boiola ele tinha me feito. Ele não comentou mais.

Teve uma leitora da Bahia que me agradeceu a receita do espetinho de contra-filé, porque ela vendia espetinhos na praia e iria aprimorar o seu menu com a minha receita. Po, isso foi legal pra caramba, todos os 68 posts que eu já escrevi aqui valem só por coisas assim [/mastercard].

Teve leitor que me adicionou no orkut e eu adicionei o cara também. Às vezes, abro o orkut e nas atualizações dele tem fotos de carnes que me fazem, literalmente, babar no teclado no meio do trabalho. Isso é bem legal. As carnes, não babar.

Houve vários casos de comentários de leitores, em que eu me rachei de rir com o humor dos caras. Na receita da costelinha de porco, o cara disse que fica todo mundo "tocando gaita". Sensacional, é só imaginar o pessoal com a costelinha na boca: tá lá a gaita.

E, além de algumas pérolas, recebi muitas dicas e receitas bacanas. Já fiz bastante churrasco baseado em dicas que a galera deixa nos comentários. E é aí que nasce uma nova série neste blog. Vai se chamar Receitas dos Leitores.

Funciona assim: você comenta, deixa suas dicas, receitas, etc. Eu preparo, e posto o resultado, dando os devidos créditos à sua pessoa, claro.

E começarei, ainda hoje, com uma receita simplesmente fantástica que nasceu de uma dica de uma leitora. Claaaaaro que eu iria dar a preferência pras damas, não?

Risoto de camarão: Quando o cozinheiro quebra a cara

A casa caiu, negada. Fiz merda, pisei no tomate, peidei na farofa e dei bola fora. Tudo na mesma hora. Engoli seco e só não chorei de vergonha. Senão tinha chorado.

Ao complacente leitor, peço encarecidamente que amoleça esse seu truculento coração, e me permita compartilhar o momento de profunda tristeza à qual sucumbi no final de semana último. No domingo, Dia dos Pais. Sente o drama...


- fica tranquilo, dotô... nosso manobrista é dez, pode confiar!

Eu sou casado. Logo, nesse dia, preciso cumprir duas obrigações de filho, uma com o meu pai, e outra com o meu sogro. No mundo ideal, eu passaria o dia com o meu pai, e a patroa com o pai dela. Mas como o mundo ideal é um negócio que só existe no filme do harry potter, a gente sabe que se fizer isso vai chatear papai pela ausência da patroa, e vai chatear o sogrão pela minha ausência. O que, aliás, seria uma sacanagem, já que os dois são pessoas da mais absoluta bacanice.

Diante disso, ficou combinado que almoçaríamos com o sogrão, e jantaríamos com o meu pai. Para o sogrão, restaurante. Para o papai, eu faria a janta.

Durante o almoço, tudo perfeito. Almocinho na beira da represa, solzinho na cabeça, cervejinha na cara e tudo transcorria normalmente. A sogra pediu uma picanha no rechaud, e o destino me colocou na ponta da mesa, para que ficasse com a incumbência de preparar a iguaria. Assim procedi, até que me toca o telefone. Era a Monica, minha irmã:

ela: - e ae fii, belez?
eu: - e ae monication, firme?
ela: - então, o pai tá aqui comigo num churrasco na casa do sogro.
eu: - fudeu.
ela: - cuméquié?
eu: - nadanão.
ela: - e eu vou jantar na sua casa também.
eu: - fechô.

Então, caro leitor, é nesse momento que você descobre como funcionam as coisas e pensa: Assim acontece a merda. Eu teria que fazer uma receita de panela, e não um churrasco. Afinal, não poderia oferecer um churrasco a um pessoal que veio de outro churrasco. Não poderia fazer uma carne de panela, como a rabada, pra um pessoal que tava se empanturrando há pouco tempo atrás. Ou seja, eu teria que pensar numa comida leve, que não fosse carne. Aí que a porca torce o rabo, a pata traseira e um pedaço da orelha esquerda.

Papai não viria sozinho. Papai viria com Dona Ivette, a nonna. Se você não sabe o que significa isso, eu vou te contar: Essa senhora, que me atende pela alcunha de VOVÓ, e por isso torna-se automaticamente mãe do meu pai, é a maior especialidade de toda a humanidade nos assuntos gastronômicos. De todos os tempos, de todos os países, de todas as avós, de toda a galáxia!!!!! Foi a Dona Ivette, com sua culinária Divina, que me ensinou a gostar de comer, e a absoluta destreza dessa senhora para com as panelas e outros instrumentos culinários transcende o conhecimento humano. Isso ficou claro? Ficou? Entendeu o tamanho da bucha que eu tinha nas mãos?

Até aquele momento, estava tudo sob controle. Eu faria um churrasco com boas carnes bem preparadas e tudo ok. Eu sei que faço isso bem, e o mais importante: Dona Ivette não faz churrasco. Portanto, jamais passaria pela cabeça dela a frase "eu faço melhor". Ou seja: a situação era minha, e o universo conspirava a meu favor, como diria a mãe dinah. Mas bateu um vento errado, o universo conspirou contra, e a coisa toda se inverteu.

Voltei pra casa tarde, precisando correr contra o tempo pra fazer alguma receita legal, executando com perfeição e em tempo recorde. Recorrendo à minha fraca memória, optei pelo risoto de camarão, que já foi postado aqui. Comecei os preparativos, e o que posto aqui servirá de lição aos que se interessarem em fazer esta receita.

Comprei 1kg de camarão pequeno e limpo, e, como manda a receita, joguei num pote com caldo de limão. Aí aconteceu o meu primeiro, e maior erro: eu, no desespero de preparar aquele troço logo, não dei atenção à quantidade de limão. Digamos que eu deveria ter colocado o caldo de 2 limões, e eu coloquei uns 6.

Na sequencia, deitei a cebola na tábua pra picotar. Isto findo, algum pensamento leviano da minha mente impura me convenceu de que eu precisava de mais uma cebola. Por algum motivo inexplicável, me deixei levar pela minha própria pegadinha e picotei mais uma cebola.

Na hora do refogado, aquilo já me pareceu demais, mas ainda assim não dei ouvidos à parte sã da minha mente e meti todo mundo na panela.

A receita transcorreu bem até o finalzinho, quando se precisa depositar o queijo parmesão. Que queijo parmesão? O queijo parmesão, oras... Eu havia esquecido o queijo, e não havia mais tempo pra comprar. A família, incluindo a Deusa das panelas, minha vó, estava ansiosa aguardando o risoto do Daniel, cuja fama já havia percorrido seus ouvidos. Maldição, vamos sem o queijo mesmo.

Servi à mesa, a família fez os seus pratos salivando, fizemos um brinde e primeira garfada... detestei. O que eu poderia ter errado ali?

Descobri, e vou te contar, mas não conta pra ninguém: Sabe porque o camarão deve ficar no limão, mesmo sabendo que vamos jogar o caldo fora e só o crustáceo entra na receita? Porque o sabor do limão penetra na carne do camarãozinho, e se você fizer isso com comedimento, vai deixar o seu risoto com um azedinho de fundo que fica uma delícia. Mas o animal que vos escreve exagerou no limão, e o azedinho virou um azedão. Se tivesse açúcar, dava pra fazer uma caipirinha com aquele camarão. E esse azedume todo matou completamente o sabor do camarão, do cogumelo, do tomate, de tudo mundo. Praticamente uma gangue de limões assassinos aniquilando todas as iguarias que eu coloquei naquela panela. A isso some-se uma quantidade desmedida, completamente desnecessária de cebola e temos aí um risoto de limão e cebola, quando deveríamos ter um saboroso risoto de camarão.

Vovó disse que estava bom. Eu não acreditei. Acho que nem ela.

Agora, só me resta aguardar o momento certo, pra fazer uma receita perfeita pra ela, e desfazer essa imagem ruim.

Imagem essa, que só não ficou desacreditada porque vovó experimentou o meu sanduíche de pernil, cuja receita (ainda) não está neste blog, e elevou o pernil à estratosfera da produção gastronômica, com toda a humildade e modéstia que este escriba pode ter. Aguardem que eu ainda posto essa receita, ok?

Vovó... você me perdoa?

A camiseta do churrasqueiro







Olha, eu não curto muito fazer esses posts de pouco texto, sem um sentido explícito, como muitos blogueiros fazem. Aliás, nada contra, mas é que eu GOSTO de escrever as porcarias que escrevo aqui, então prefiro não escrever quando não há conteúdo realmente importante. Mas hoje, visitando o blog do ótimo amigo Vader (vincevader.blogspot.com), encontrei um site que vende camisetas com estampas simplesmente geniais.

Tem estampa de todo tipo, mas essas aí me chamaram especialmente a atenção, pois falam de coisas que a gente gosta: carne e cerveja. E, se o assunto interessa pra todo mundo, porque não postar aqui?

Isto posto, tá postado [travalingua mode = on]. Ah, divirta-se, o endereço do site é esse aqui.

PS: Peço desculpas antecipadamente aos vegans e afins. Não sou contra a sua filosofia, mas a piada é boa. E, como você já deve saber, aqui a gente perde o amigo mas não perde a piada!

Rosbife na churrasqueira

Já notou que, ao longo do tempo, a gente vai ficando com o ouvido mais apurado pras palavras? Pensando inversamente, as crianças, logo, tem o ouvido menos apurado, certo? Essa confusão dos diabos que faz a gente ouvir uma coisa e pensar que é outra chama-se cognata.

Me lembro bem que demorei alguns anos até perceber que o herbert viana não cantava "alagados, flinstons, favela da maré.. bla bla bla". Tá, mas nesse caso, a culpa é dele mesmo, que fica inventando palavras estrangeiras no meio das músicas dos paralamas. Quem não lembra do barulho do "já não existem laços... alguém cortou.. track! track! traaaaack!!!"? Mizifio.. Explica pra mim, alguém cortou o que com essa barulheira toda aí? Um pedaço de velcro? Osso de galinha? Plástico bolha? Herbert viana foi o cara que mais perto chegou da linha tênue que divide a criatividade da tosquice. Muitas vezes flertando animadamente com a tosquice.


- vai, herbert... é só um cortinho... se doer vc gita, ok? TRAAAAACK!!

O meu primeiro cognata se deu logo na infância, num jantar na casa da minha tia. Ela me perguntou: "Danielzinho, você gosta de rosbife?". Eu disse que sim e voltei ao playmobil, imaginando que, na sequencia, me seria servido um prato de "arroz e bife". Pô, criança gosta de arroz e bife. Ainda mais se tiver junto uma batatinha frita. Pois qual não foi a minha decepção ao ver aquele bife esquisito, magrinho que dava pra ver do outro lado, deitado no meu prato, sem o tal arroz e sem nenhuma perspectiva ou probabilidade de pintar ali uma batata frita. Bom menino que eu sempre fui, continuo sendo e serei por toda a eternidade, comi aquela carninha sem reclamar, voltei pra casa, pedi à mãe que fizesse um rosbife, ela fritou um bifão, umas batatas e arroz e assim eu cresci feliz.

Chegando à idade adulta, me deparei novamente com o rosbife, desta vez sabendo do que se tratava. O seu Manuel, da padoca que tem perto de casa, além de servir um churrasquinho com queijo da mais absoluta responsa, também ostenta, em seu balcão, uma iguaria conhecida como Rosbife Caseiro, que não é caseiro, é da padaria mas a gente perdoa porque o seu Manuel vem de um lugar onde fila vira bicha e o computador é cheio de ficheiros. O fato é que desde que mudei pra essa casa, há uns 4 anos, fiquei fã do rosbife do seu manuel.

E então veio a crise, o seu Manuel aumentou o preço do rosbife à proporção que os meus rendimentos mensais diminuíam e decidi que era a hora de fazer o meu próprio rosbife.

O primeiro passo foi consultar a Deus pra saber qual carne poderia se transformar naquela iguaria maravilhosa. Em 0,52 segundos, Deus me deu aproximadamente 155.000 respostas, não sem antes corrigir o meu surrado português: "você quis dizer: qual a melhor carne PARA fazer rosbife, filho", disse Ele. Conformado com o tamanho do Seu conhecimento, abri em abas as 4 primeiras respostas e foi aí que se fez a luz. Deus me disse que eu devia construir uma arca e acomodar um casal de cada tipo de animal, porque ia chover pra caraios, e.... Não, não, volta... Deus me disse que era pra eu usar lagarto ou filé-mignon. Ufa, quase dei com a língua nos dentes :-)

Movimentei a carcaça (a minha, dentro da do carro) em direção ao mercado mais próximo, e chegando à prateleira das carnes, me deparei com o lagarto e o filé-mignon, lado a lado. Após um rápido joqueipô mental, onde venceu o lagarto, peguei a peça e levei pra casa.


- sou um lagartinho bonitinho e simpático. Me leva pra sua casa?

O processo de preparação do rosbife é muito simples, e só é preciso paciência pra comê-lo. Isso porque o rosbife no churrasco é carne pro dia seguinte. Explico:

Você deve pegar o lagarto, colocar num espeto e deixar o tempo todo lá no alto da churraca. O que vai deixar ele gostoso é mesmo a fumaça da churraca, vai por mim.

Como preparativos, você pode apenas passar sal grosso em volta dele. E larga de nojinho porque não é pra jogar um pouquinho de sal e pronto. Tem que meter o mãozão na carne mesmo, dar uns tapinhas, chamar de meu bem e tudo mais. Isso porque o lagarto é uma peça de carne roliça, sem pensamentos maliciosos. E de português aqui nesse post já temos o seu manuel, e prefiro crer que você entendeu que, se a carne é redonda e você jogar sal grosso de um lado, quando virar pra jogar do outro o sal cai, certo? Então, joga o sal e mete a mão pra ajudá-lo a colar na carne.

Se você quiser fazer mais meleca ainda, o que eu duvido que queira, mas deixar essa iguaria ainda mais saborosa, recomendo passar um pouquinho de azeite antes de esfregar o sal. Ou então manteiga. Ajuda a colar o sal na peça, e todos sabemos que azeite e manteiga na carne fica de fazer apresentadora siliconada passar embaixo da mesa. Ah, nunca, jamais passe margarina na carne, entendido? Se não tiver manteiga e nem azeite, não passa nada, compreendido?

Agora é a parte fácil. Posicione a peça no andar superior da churraca e abra uma cerveja. Tome alegremente. Abra outra cerveja e tome alegremente. Assim proceda por algumas horas, provavelmente umas 2 ou 3, virando a cada duas brejas que tomar.

Enquanto assa, o seu lagarto vai sofrer mutações bizarras. Primeiro ele seca, e parece que ganha umas rachaduras. Depois aparecem umas bolinhas brancas, que depois desaparecem. Não tenha medo, a carne não vai sair de lá. Confia na gente que isso faz parte do procedimento.

- que foi, nunca viu não, é?

Passadas essas horinhas, seu instinto vai te dizer que ele ta pronto. Desça pra mais perto do fogo, deixe um pouquinho pra tostar por fora, vire pra tostar por fora e direito, e tire a carne.

Agora vem a parte mais emocionante: Se você enfiar os dentes no rosbife desse jeito, certamente ficará sem dentes. Se tirar pedaços grandes, vai ser dificil comê-lo. Então, caro churrasqueiro, qual a melhor maneira de servir essa carne? Pergunta o fiel leitor. E eu respondo ao ansioso amigo deita-gatos:

Uma faca afiada, hipermetropia e muita emoção é a minha resposta. O rosbife deve ser servido em fatias muito, muito finas. Quase como um salame. Aí ele fica de lascar. Portanto, dê aquele fio especial na faca, prepare-se pra grandes emoções e comece. O mais fino que você puder, quanto mais conseguir, mais saboroso será.

Uma dica legal é deixar o rosbife assando enquanto faz o churrasco com outras carnes. No final, se o pessoal não estiver mais com fome, você guarda ele na geladeira. No dia seguinte, é uma grata surpresa encontrar um belo rosbife pra comer no café da manhã. Além disso, gelado é infinitamente mais fácil cortá-lo e, pasme, rosbife frio é melhor do que rosbife quente. Fora o fato de que você já não está mais bêbado (assim espero) e fatiar a peça sóbrio pode significar um plus a mais na segurança e integridade dos seus dedos.

Custo: Uma peça de 1kg de lagarto limpo custa, em média, R$12,00. Barato bagaray.
Tempo de cozimento: 7 ou 8 latinhas. Sirva bem bêbado e cuidado com a faca.
Rendimento: 1kg de rosbife dá bastante sim. Você pode cortá-lo ao meio (de comprido) e presentear algum convidado ao final do churrasco. Muita gente já saiu de casa levando feliz um saquinho com o rosbifão.

Churrasquinho com queijo

Quando eu era moleque, eu simijava com os Mamonas cantando o Vira. Aliás, sempre achei o humor daqueles caras muito foda. Tem certas sutilezas em robocop gay, por exemplo, que são impagáveis. Prestenção nos backing vocals, na próxima vez que ouvir. Aliás, na próxima vez não, prestenção AGORA:




Então, mas onde a gente quer chegar com essa conversa mole? Ah, então, os caras mandavam muito bem no Vira, que me lembra do seu Manuel da padaria, que me lembra que ontem eu almocei lá (na padoca) e que a patroa pediu um churrasquinho com queijo, que me lembra que eu fiquei morrendo de vontade de comer aquilo, e que tudo isso me lembra que sim, eu me lembro do que eu almocei ontem! E que foi uma coxa-creme e tava terrível, ao contrário do churrasquinho com queijo da patroa, que parecia delicioso. Só não me lembro se eu assumi a minha porção neanderthal e tomei o quitute da mão dela ou se apenas fiquei olhando e babando, mas isso não tem a menor importância. Fato é que aquele churrasquinho com queijo ficou me atormentando o resto da tarde.

Se você não sabe o que é um churrasquinho com queijo, eu ajudo a ventilar essa sua mente. Pegue uma cerveja (o ativador cerebral do homem moderno. ou nem tão moderno assim) e escuta o que eu vou te falar: Churrasquinho com queijo é um lanche. Composto por um pão francês, que os gaúchos (ou cariocas, não lembro bem), virilmente chamam de "cacetinho", recheado com um bifão de contra-filé coberto com queijo derretido. Sacou? Simples assim.

Então, ao adentrar o conforto do lar, depois de um dia de trabalho cascudão, com esse sanduíche me perseguindo o subconsciente, eis que abro a geladeira e encontro uma Itaipava. Não, não era isso (acho que tá na hora de ir pra casa, a mente já tá engasopando), eis que eu abro a geladeira e encontro um belíssimo pedaço de contra-filé. Uma peça mesmo, que eu havia comprado no dia anterior. Tava resolvido o caso do sanduíche que me dominava: faria eu mesmo o meu churrasquinho com queijo. Little Barbecue with Cheese, como dizem os ianques, entre um hamburger e outro.

Tratei de convencer a minha doce esposa a comparecer à padaria, em busca de pães e queijo mussarela. Fui bem-sucedido nessa investida, apesar da má vontade com que ela executou a tarefa. Mas o que importa é que ela saiu tarde e no frio pra comprar pães e eu fiquei no quentinho preparando os bifes (querida, te amo, vc sabe que isso aqui é brincadeira, né?).

E como preparei os bifes pro churrasquinho com queijo? Na verdade, pra fazer churrasquinho você não precisa nem temperar, basta por sal. Mas, como eu cheguei do trabalho depois das 9 da noite e minha alma só se salvaria se eu comesse algo REALMENTE gostoso naquele momento, decidi fazer um agrado no contra-filé.

Cortei 4 fatias de contra-filé, com um pouco menos do que uma salsicha de espessura (wow, acabei de inventar uma medida excelente pra espessura! Todo mundo sabe o quanto tem uma salsicha, não tem como errar). Joguei um pouco de orégano nos bifinhos. Adicionei sal fino e uma pitada de nada de pimenta do reino. Só pra dar o agrado, mandei uma pimenta biquinha picotada lá dentro. Um gole de azeite e tá feita a arte. O cheiro da carne, somado à quantidade de horas decorrentes desde a minha última refeição já seriam o suficiente pra abocanhar aqueles bifes crus mesmo, mas preferi o auto-controle e deitá-los na frigideira.

Ok, isso é um blog de churrasco e esse negócio de frigideira é coisa de fritador de batata, e isso a gente não é, pensa o nobre leitor nesse momento. Mas explico: se você mora em São Paulo e, como eu, está sofrendo com a massa de ar polar que os argentinos mandaram pra gente, creio que consegue entender que usar o quintal (e a churrasqueira, por consequencia) nesses dias pode causar o congelamento de certas partes do corpo que eu prefiro manter quentinhas. Portanto, mandei-os pra frigideira. Mas, se você quer arriscar, recomendo acender a churraca e usar uma chapa de ferro pra fritar o bife.

Na hora de fritar os bifes, é bom lembrar de não colocar óleo, manteiga, azeite, nada na frigideira. Afinal, você já deu uma golada de azeite nos bifes, lembra-se? Além disso, o contra-filé tem bastante gordura, que derrete e lubrifica a frigideira.

Daqui pra frente não tem segredo. Deixa o bifinho ali deitando fazendo barulhinho por um tempinho, vira ele, joga o queijo em cima, e quando derreter, corta o pão, põe tudo no meio, fecha e come.

E, finalmente, o churrasquinho com queijo da patroa parou de me atormentar, e fomos felizes para sempre.

Tempo de preparo: Muito rápido, só 2 brejas. Tome umas 5 antes e sirva bêbado.
Rendimento: Cada bife vale um pão, uai.
Custo: Uns R$5,00 de carne e mais uns R$4,00 de queijo e pão renderam 4 sandubas. Beeem barato.

O peido da vaca e o meio ambiente

Você, churrasqueiro amigo, leitor desta espelunca, te prepara que aqui vem uma notícia de furar a cueca. Se você tá lendo isso aqui de pé, o que eu duvido muito, recomendo que procure a poltrona mais confortável possível e deposite a sua busanfa, porque a notícia que segue é uma verdadeira bomba. Prepare o ringtone do Plantão Globo, imagine a voz do Cid Moreira contando notícias em russo com a entonação do Datena, fazendo as caretas do zeca camargo com a boca da ana maria braga e põe na tela, comandante Hamílton porque essa é, definitivamente, a noticia de que o mundo vai acabar e a gente tá, literalmente, na merda.


Essa conversa não tá me cheirando bem...

Já faz um tempinho que eu venho ouvindo alguns malucos dizendo que a produção de gado bovino vem acabando com a natureza e tal, mas dessa vez a coisa ficou russa de verdade. Muito pior do que saber que tem gente desmatando a amazônia pra criar gado, foi descobrir que um dos grandes vilões da esburacada e sofrida camada de ozônio é... o peido da vaca.

Isso mesmo que você ouviu/leu. A produção de gases oriundos da pecuária é maior do que a produção do setor de transportes nos EUA. Eu não estou louco, os ambientalistas não estão loucos e, pasmem, nem a vaca tá louca! Mas ela tá peidando a torto e a direito. E cada vez que aquele rabo levanta, acontece o terror: um pedaço da camada de ozônio se vai junto com tão peculiar fragrância.



Pra te ajudar a entender: o amarelo é o transporte. Dentro dele, a vaca da cara branca, mulher do boi da cara preta.

Eu nasci nos anos 70, portanto, estudei bastante história e geografia nos anos 80, ou seja: num período cascudo de uma tal guerra fria, que a moçadinha de hoje em dia nem sabe o que é. E, largando a guerra fria e voltando à vaca fria, naquele tempo todo mundo se cagava de medo do Gorbachev tomar uma vodka a mais, ou o Reagan deixar cair a dentadura no botão da bomba atômica e o planeta inteiro ir pelos ares. Mas não, o mundo acalmou, a URSS quebrou e, quando você pensa que tá tudo beleza, lá vem de novo a ameaça, dessa vez materializada no coração do bichinho mais bonitinho, amiguinho e gostosinho da face da Terra: a vaca, razão da existência desse blog. Depois da ana maria braga, claro. Putz, será que o peido da ana maria braga também.... bom, deixa pra lá.

Tá, mas e aí, o que fazer? Os ambientalistas já sugeriram, e certamente vão continuar sugerindo, que se acabe com a pecuária, que é a nobre atividade de plantar vaquinhas num pasto, onde elas ficarão comendo e peidando, aguardando ansiosamente o dia de conhecer as grelhas das nossas churrasqueiras. Olha, a gente preza muito essa vacaiada aí, e não é só porque essas doces criaturas não são, digamos assim, flor que se cheire, nós concordaremos em extinguí-las. Ora, o mico-leão dourado já tá em extinção, o ornitorrinco e ararinha do rabo cor-de-rosa também estão, por que vamos aumentar essa lista, ainda mais com um bichinho tão gostoso?


Rá! Se vinguei!

E ainda digo mais, dou a solução de mão beijada pra vocês. Explico: Quem aqui nunca caprichou na feijoada, nunca exagerou no bacon e nunca pesou a mão naquele brócoli com ovo cozido? Todo mundo sabe que é normal ter os seus dias de lança-torpedo. E como é que fica o seu papel na preservação do planeta nessa hora? Segue abaixo não uma, mas algumas sugestões:

  1. Ração à base de Luftal: Basta os produtores de ração investirem um pouco em pesquisa e colocar o mesmo agradinho que existe no Luftal na ração da Dona Mimosa. Se parava o peido da minha vó lá em Bertioga, esse aí breca qualquer coisa.
  2. Cocô na casa do Pedrinho: Só mandar as vaquinhas todas peidarem no banheiro do Pedrinho. Assista a propaganda, você verá como ele e a mamãe se abraçam e giram no banheiro cheiro de pétalas. O miraculoso produto capaz de transformar merda em flores, certamente saberá como lidar com as flatulências dos nossos ruminantes.
  3. Tarcísio Meira é o cara: Ele inventou, na fazenda dele, um dispositovo capaz de cheirar os peidos das suas vacas. E mais, esse dispositivo transforma o peido em energia elétrica, e alimenta a fazenda toda. Ou seja: Quando ele acende a luz, dona Glória sabe que, naqueles fios, corre um peido de vaca eletrificado. E o pior de tudo: isso é verdade, joga no google.
Tá vendo como é fácil? Só usar um pouco a cabeça tãããã.

E você, caro leitor? Conhece alguma maneira mirabolante, rebolante e acidulante de evitar que as vacas peidantes sejam causadoras do efeito estufa, furacão Katrina, maremotos e evitar que o cocô das vacas nos leve mais cedo ao dia do juízo final?

Especial Churrasqueiras: a churrasqueira pré-moldada

Voltamos com as nossas pesquisas de cunho altamente científico, onde nossos heróis, ávidos por conhecimento, reviram mundos e fundos atrás dos mais diversos tipos de churrasqueiras para você deitar o seu gato. Nos últimos posts da série, falamos sobre a honestíssima churraquinha elétrica, escapamos de um incêndio de proporções catastróficas com uma invenção genial que responde pelo nome de churrasqueira de papel (vê se tinha chance de dar certo, né?), ensinamos a roubar a quantidade e tipo certo de tijolo pra improvisar uma churraca, e agora vamos falar sobre uma das mais geniais invenções que a preguiça humana conseguiu inventar depois do controle remoto, da direção hidráulica e da cerveja em lata. Estamos falando de mais uma campeã de audiência: a churrasqueira pré-moldada.


Oi, eu sou a churrasqueira pré-moldada e preciso de um lar.

A churrasqueira pré-moldada é o Lego do churrasqueiro, um verdadeiro brinquedo de adulto. Isso porque ela vem desmontada, e tudo o que você tem a fazer é montar e usar. Fácil assim. Tá, não é tãããão fácil assim, porque ela pesa pra caramba. Mas a gente tá contando que você é um cara fortão e vai conseguir montar uma dessas sem fazer biquinho. 

Funciona assim: você vai na loja, escolhe os milhares de modelos disponíveis, compra. Os caras levam na tua casa, você monta e tem uma churrasqueira responsa sem cimento, sem tijolos e por um preço honestíssimo. A minha churraca é dessas, então vai por mim que eu sei do que tou falando.

Antes que você instale uma no meio da sala da sua mãe, vamos às vantagens e desvantagens deste modelito:

Vantagens:
  1. É barata. A minha tem um tamanho razoável e custou, há um ano atrás, cerca de 300 reais. Se você comparar com os quase 100 mangos que uma churraca de metal, daquelas bem sem-vergonha que vende no mercado, é uma pechincha.
  2. É grande. Você pode preparar cupim, costela de boi e outras delícias que são impensáveis em churracas menores. Na verdade você só não pode preparar um boi no rolete, de resto vai tudo.
  3. Existem, no mercado, zilhões de modelos dessas churracas. Tem algumas que já vem com o forno de pizza acoplado, enfim. Dá um pulo no leroy merlin mais próximo e divirta-se.
  4. Você ainda pode pintá-la, pode passar uma massa bacana, pode cobrir de tijolinho, de azulejo, colar um pôster da Luma de Oliveira... Dá pra fazer o capeta com uma dessas. E ela fica bem bacana, desde que você respeite as regras do bom-senso visual. 
  5. Ela pode ficar no quintal, na chuva, com o cachorro roendo o pé que demora muito pra estragar. A churraca é feita de concreto, e a menos que você tenha um dinossauro no seu quintal, ela segura bem a bronca.
Como nem tudo é doce nessa vida, ela tem algumas poucas desvantagens, mas tem:
  1. É feia como o cão. Se você não pintá-la, ao menos, o concreto vai escurecer, sujar, manchar. Ou seja, sua churraca vai ficar com cara de muro velho. Digo por experiência própria, a minha tá assim :-P
  2. Pesa muito. Se você faz o tipo He-man, além de ter cabelo chanel, tanga e uma aparência boiolona, você tem o dom de mudar coisas de concreto do lugar. Agora, se você não é o He-man, nunca visitou Greyscow e não tem uma treta com um magrelo chamado Esqueleto, decida muito bem onde vai montar a sua churraca. Não é nada fácil movê-la de lugar. 

Pelos poderes de Greyscow, pelas barbas do profeta e pela hora da morte.

Olha, essa churraca pré-moldada é tão porreta que eu só consegui me lembrar dessas duas desvantagens. Que nem são tããão desvantajosas assim. E, como eu tenho uma dessas em casa, separei aqui algumas dicas pra quem tá afim de aboletar um brinquedo desses no quintal:
  • Alguns modelos têm uma gavetinha embaixo, pra tirar a cinza. Na real, essa gavetinha nem é tão útil assim pra tirar cinza, mas pra tirar água é perfeito. No meu quintal, posicionei a churraca estrategicamente em frente à TV da sala. Assim, posso assistir o verdão na TV assando uma carninha. A desvantagem é que, quando chove, inunda a churraca. Se ela tivesse a gavetinha, a água escorria por ali e rapidinho ela secava. Como a minha é fechada, ficava com aquela poça lá, e pra acender depois era um parto de ouriço. Resolvi fazendo 3 pequenos furos embaixo dela.
  • Recomendo comprar um pacotinho de tijolo refratário. São uns tijolos quadradinhos, que suportam bem o calor. Minha churraca era muito funda, e pra fazer o calor chegar legal até a carne, era um saco de carvão por churrasco. Comprei os tijolos e montei um Lego dentro dela, de maneira que ficasse mais rasa. Economiza um carvão danado, e você ainda pode tirá-los fora pra limpar.
  • E recomendo pintar, ou revestir com alguma coisa. A minha tá feia que dá dó.
Veredito final: Aprovadíssima. Gato, capivara, sapo ou jacaré, qualquer coisa pode ser assada numa churraca dessas. E ainda custa relativamente barato, então não tem o que falar. Ponto pra ela!!

Receitas de panela: Risoto de camarão

Eu nunca gostei muito de arroz. Quebrava o pau com a mãe quando eu era criança por conta disso. Pra mim, arroz sempre foi comida de vitecongue, e o coronel Bradock passou a minha infância dizendo que esses caras não prestavam. E, se o Chuck Norris em pessoa mete bala no vietcongue que come arroz, quem sou eu pra desafiar o cara?


Vô queimá teu arroz, vietcong!

Pensa comigo: Geral te chama pra uma feijoada. Pra que serve o arroz? Pra fazer o reboco com o feijão, mais nada. Você foi pra uma feijoada, e não pra uma arrozada. Geral te chama pro estrognofe, sabe lá Deus de onde veio esse nome. Quem tem gosto, cara, cheiro e nome? O estrogonofe, cazzo. O arroz tá lá só pra fazer reboco. É estrogonofe, e não arrozgonofe. Ninguém nunca vai te chamar "ow, véi... bora lá em casa comê um arrozão?". Se chamar, não vai. É roubada na certa.

Mas alguma coisa me bateu na cabeça hoje que eu inventei de fazer o tal arroz no jantar. Cheguei em casa empurrando o esqueleto porta adentro, deixando a alma no elevador e a coragem na escada de incêndio. A patroa tava na cozinha, e como a fome já fazia meu estômago roer a ponta das costelas, começamos a discutir que ração deitaríamos na pança. Churrasco tava fora de cogitação por conta da chuva, então me veio à mente o tal risoto de camarão. Nunca fiz camarão na panela (só assado na churraca, e ficou bom), então revesti a carapaça de toda a coragem gastronômica e bora pra internet achar uma receita de risoto de camarão. Achei uma meia dúzia e, como sempre, li todas e chutei o que seria bom de uma e o que seria bom de outra.

Aliás, essa é uma técnica maneira pra cozinhar: leia várias receitas diferentes do mesmo prato, você pode pinçar idéias excelentes. O google taí pra isso, parceiro. Sente só:

A receita 1 diz que o contra-filé fica legal ao molho madeira.
A receita 2 diz que o contra-filé fica legal fritinho na manteiga.
A receita 3 diz que o molho madeira é feito de vinho.

Você pode cozinhar o contra-filé com manteiga derretida e inventar um molho de vinho.
A ana maria braga vai inventar um filé de madeira na manteiga de nozes, vai dar o vinho pro cachorro, decorar com a folhinha e assim se faz uma receita de sucesso!

Voltemos aos vietcongues, sorrateiramente incorporados na minha arcada dentária. Eles me diziam pra correr ao supermercado mais próximo comprar todo o arroz que eu pudesse carregar. E eu, que não sou besta nem nada, joguei o famoso Migué na patroa e pedi a ela que preparasse um arrozinho enquanto eu comprava os camarõezinhos no mercado.

Faço aqui um adendo importantíssimo: Se você acha que eu vou gastar meu teclado ensinando a fazer arroz, se enganou. Não se esqueça, eu não sou vietcongue, não sei fazer arroz, nem quero saber e tenho raiva de quem sabe. Portanto, faça como eu: dê um gato na sua mãe, irmã, vizinha ou na sua patroa, peça que façam uma panelinha de arroz pra você. Mais ou menos o que daria uns 3 pratos cheios, se você fosse bocó de comer só arroz.

Voltei com 500 gramas de um camarãozinho honesto e limpinho. Na real, nem ligo muito se ele era um camarão honesto, mas limpinho é fundamental. Como você já deve ter ouvido, o camarão é um puta bicho porco e, dizem, come a merda no fundo do mar. Mas, se ele é porco porque come merda, eu sou porco porque torço pro Palmeiras e nóis tamo tudo no memo trem, então é limpinho que ele vai pra minha panela. Entendeu, compre o camarão mais barato que você encontrar e, limpo, sem cabeça e sem a bosta nas costas que aquilo é nojento.

Pegue os 500g de camarão limpo e jogue num pote. Como em todas as receitas de cozinha, se prepare pra sujar muita louça (e ainda falam do churrasco. Fala sério, mulherada). Esprema junto aos camarões uns 3 limões, e deixe ali todo mundo quietinho. Qualquer um que já comeu um espetinho de camarão na praia sabe o quanto camarão e limão nasceram um pro outro. Como um nasce no mar e outro no limoeiro, cabe a você fazer funcionar o feitiço de áquila e unir os dois pombinhos. Então faça isso, jogue limão no camarão e deixe lá enquanto você prepara o resto.

E preparar o resto inclui um monte de coisas, e você pode começar picando uma cebola. Nem precisa picar tão pequeninho quanto a cebola do hamburger de fraldinha, mas é bom não deixar aqueles tecões de cebola. Moral da história: picota uma cebola média e boa.

Picota também uns 4 dentes de alho e guarda num pires. Picar alho (the best trocadilho EVER) não dá muito trabalho, mas deixa a sua mão um nojo. Se você pretende fazer um carinho numa garota, cuidado, essa receita pode te deixar solteiro.

E, já que você se tornou o Picotão da noite, picote também um tomate grande, também conhecido como too much. Tá, piada infame à parte, picota esse tomatão ae e guarda em outro pote.

Se pensa que a picotagem acabou, errou: dê o picote nuns 6 ou 7 champignons. Nem precisa ser muito pequeno, só não manda o cogumelão todo lá dentro pra não parecer uma fase do Mario Bros.



We are the champions, beibê. Vai por mim.

Agora você tem que fazer um caldinho de ervas. Escolha a erva de sua preferência, enrole e ria. Não, não, nada disso. Pra essa receita eu não usei erva nenhuma. Usei foi um tablete daqueles de caldo de carne, só que era de caldo de ervas. Ah, vai no mercado que você acha. Jogue, numa panela à parte, 3 tabletes do caldo de ervas com uma xícara de água e deixe dissolver. Guarda isso que você vai precisar.

Tenha em mãos uma embalagem de queijo ralado. Como eu acho que a frescura dos ingredientes é o que faz uma comida gostosa, comprei um queijo e joguei um migué no amigo Gil, que ralou quase uma xícara de parmesão. Rala que rola, Gião.

Depois de tanto preparativo, tava na hora de começar a cozinhar esse troço.
Recapitulando:
- Você tem uma panela de arroz te esperando?
- Você tem um pote com uma cebola picada?
- Tem uma xícara de parmesão e um amigo com o dedo ralado?
- Terminou de picar alho?
- Tem um camarão mergulhado no limão, achando que é caipirinha?
- Tem um tomatão picotado num terceiro pote?
- Tem cogumelos destruídos em Mario World?
- Tem uma panela com um caldo de ervas derretido?
Então você tá pronto, arrume uma panela grande. Prometo que é a última peça de louça que vamos sujar. Jogue nessa panela um pouco de azeite, o suficiente pra cobrir de leve o fundo da panela. Acenda o fogo. Em alguns segundos, o azeite esquentou e você pode jogar toda a cebola. A missão agora é mexer a cebola enquanto ela frita. E essa missão nem é difícil porque o cheiro é bom. Quando ela ficar amarelinho e parecendo transparente, tá frita. Hora de jogar o alho. Misture tudo um pouco.

Enquanto frita ali, seja rápido: pegue o pote com o camarão, jogue fora o excesso de limão e manda todo mundo pra panela, junto com o alho e a cebola. Deixa eles ali, e mexe de vez em quando.

Agora fica com aquele climão de que vai rolar uma decepção, mas não se preocupe: o camarão perde muita água, diminui de tamanho e aquilo fica parecendo uma pia de porco. Mas vai na fé que tá tudo certo.

Hora dos tomates. Too much hour, como eles dizem lá. Taque todos na panela, e comece a mexer. Naturalmente, os tomates vão começar a se dissolver, e é nessa hora que a magia acontece.

Ô loco, meu... Mais do que nunca, tanto no pessoal quanto no profissional, é a hora do Brasil inteiro curtir.... O CHAMPIGNON!!! Isso mesmo, ponha fogo no fausto silva mais próximo da sua residência e taque todo o champignon dentro da gororoba. Simples assim.

Hora de aproveitar aquele caldo de ervas que ficou na outra panela e mandar lá pra dentro. Aproveite pra abrir mais uma cerveja. Tome a cerveja e fique um pouco mais feliz.

Agora o seu trabalho é mexer. É como dançar o créu, tem que ter disposição. Mexe até aquele caldo começar a ficar encorpado. E o que é um caldo encorpado? É um caldo que não dá pra tomar de canudinho, simples assim.

Cuidado, encorpado leitor: você está entrando na parte mais perigosa dessa receita. Teletransporte-se até Saigon, certifique-se de que Chuck Norris está dando roundhouse kicks bem longe de você, e taque a panela de arroz dentro do molho. Misture, enquanto veste um chapéu de palha pontudinho e um chinelo de madeira. Yankees go home e continuemos com a receita.

Hora de lembrar dos amigos e jogar todo o parmesão que o trouxa, digo, amigo, ralou, na panela. Misture até o queijo sumir. Ele não some, mas derrete. Você entendeu.

Não deixe assim por muito tempo, o arroz pode queimar, e nunca é bom desagradar os vietcongues. Jogue logo uma lata de creme de leite lá dentro, é ela que vai dar a liga, seja lá o que isso signifique.

Nem precisa ficar bajulando muito não. Dá logo uma colherada lá dentro e veja como tá. Se você usou os 3 cubos de caldo pronto, deve estar bom de sal. Senão, adicione sal com a parcimônia que deus lhe deu e pronto: chama o povo pra comer.

Não se preocupe se o seu risoto ficar parecendo uma pasta, é assim mesmo. O creme de leite dá uma melecada na parada, mas deixa muito legal. Confia que vai.

Eu garanto: a trabalheira monstruosa que essa receita dá vale a pena. Além disso, é trabalhoso mas não é demorado, ao contrário da rabada.

Custo: paguei 14 cruzeiros os 500g de camarão vermelho limpo. A lata de creme de leite deve custar uns 2 mangos e o resto é irrisório. Pratão bom e barato.
Tempo de preparo: Tomei umas 3 brejas. Sirva feliz.
Rendimento: 4 animais comeram isso. Ainda sobrou uma merreca e eu tou achando que vou terminar logo esse post e meter no microondas.

A fralda do meu cunhado

Dizem que cunhado, se fosse bom, não começava com c*. Taí a famosa sabedoria popular aprontando das suas. Dizem também que parente a gente não escolhe. E a sabedoria popular mandou bem de novo. Agora, como relacionar "sabedoria" e "cunhado" numa mesma situação? 

Cunhado é aquele troço tão bizarro, que nem a sabedoria popular consegue explicar. Porque o cunhado não é família, mas um dia acaba virando. Cunhado é parente compulsório. A única chance de não ter cunhado é não ter irmã, e ainda casar com uma mulher que não tem irmãos. Caso contrário, é questão de tempo até aparecer um ser desses na sua vida.

Mas eu não posso me queixar, não. Fui sorteado com os dois únicos cunhados bacanas da face da Terra. Um deles, irmão da minha esposa, papai do céu levou pra morar com ele mais cedo. O outro é o Arthur, e é dele que vamos falar nas próximas linhas. Te cuida, compana, que essa orelha vai arder!!!

Arthur é um cara legal, mas tão legal, que eu costumo dizer que ele é mais legal que a minha irmã. Brincadeira, Monicão!! Chora não que você também é batuta!


Mais legal que eeeeuuu? Duvido!
Aposto que ele não tem uma roupa bacanuda dessa!

Pois neste final de semana teve a festa junina da escola do meu filho menor. É, a paternidade tem dessas: te prepara pra acordar cedo em vááááários sábados da tua vida pra assistir performances artísticas da tua prole. E quer saber? É legal demais!

Convidei a família toda, mas sabia que a Monica tinha que estudar, e provavelmente não iria. Ok, zero problema, sei que as coisas são assim: a gente trabalha até cair o couro, e o final de semana é curto. Se tem que estudar, engole o choro e estuda. 

Mas na festa, qual não foi a minha surpresa ao ver, adentrando os portões da Cirandinha da Tia Ofélia, o meu cunhado Arthur. E o cara é tão batuta que foi... mesmo sem a minha irmã. Ela tava estudando, ele queria falar umas merdas e tomar umas brejas, e achou que seria uma boa fazer isso na festa junina do maternal do meu filho. Gênio! Não vejo lugar mais apropriado!

Assim procedemos. Enquanto meu pequeno estourava biribas no nosso pé, nós compensávamos com vigorosos goles de cerveja. Até que Arthur, o astuto, soltou a pérola: "Tem uma fraldeta na minha geladeira, mas a Monica tá estudando". Não precisei nem responder o "faz na churraca de casa", e o cunhado já tava indo na casa dele buscar a peça. Uma bela peça de fralda, aliás.

Pouco antes do jogo do Brasil começar, chega ele em casa com a fraldinha e uma garrafa de vinho. Antes que eu desse uma golada naquela garrafa, fui advertido: 
- Cara, não bebe isso aí, não. É vinho velho, passou.
- Cunhadão, mas pra que diabos tu traz uma garrafa de vinho véio pra casa?
- Pra fazer uma vinha d'alhos!
- Vinha de quê?
- Vinha d'alhos, uma receita dos caralhos!
Sim, nem Arthur, nem eu somos conhecidos pela nossa educação britânica. Mas ambos somos conhecidos por mandar bem pilotando churracas. Cada um tem as suas receitas, cada um faz as carnes do seu jeito, mas a gente nunca entra nessas babaquices de disputa. Nós formamos uma parceria, e não uma concorrência. E foi o que se sucedeu, e conto aqui a receita do molho de alhos (rime com o que bem entender, ok?) do meu cunhado.

E a receita é tão simples, mas tão simples, que eu vou inovar e escrever inteirinha num só parágrafo, sem vírgula, de trás pra frente e em miguxes. Tá, miguxês não dá. Tadinho do português... de trás pra frente, pior ainda. Mas em um parágrafo dá! Respira fundo e vamo comigo!
Arthur pegou um copinho pequeno, daqueles de tomar cerveja em boteco vagabundo. Jogou o vinho velho até pouco menos da metade do copo. Depois deu uma boa borrifada de mostarda. Como em casa só tem mostarda preta, lá foi ela conversar com o vinho velho. Enquanto isso, eu picotava 4 dentes de alho, e taquei lá dentro. Na sequencia, joguei um punhado de sal grosso, enquanto ele picotava um teco de salsinha e cebolinha. Misturamos tudo, jogamos duas boas goladas de azeite e a meleca dentro do copo ficou parecendo caldinho de feijão, mas o Arthur disse que tava tudo certo, então passamos na fraldinha. Deitamos na grelha, e de vez em quando, um de nós tacava uma colherada de molho na fralda. Quando ela ficou pronta, cortamos e comemos.
Tá vendo como é simples? A fraldinha, que já é uma carne mega saborosa, ficou ainda melhor com isso. Recomendo seriamente.

E é pra isso que serve o cunhado. Pra fazer comida pra mim! Há! Quem mandou pegar a minha irmã? Achou que ia sair de graça?

Preço: Custo Zero, Fome Zero. Foi de graça. Cunhado bão é assim.
Tempo de preparo: Uma breja na cozinha, 3 brejas na churraca. Um gole no vinho velho pode acarretar em algum tempo no banheiro.
Rendimento: Enchemos 4 buchos, a peça era generosa.

E este post é dedicado à memória do Claudinho, o outro cunhado, falecido irmão da minha esposa. Um parceiro muito querido que nos faz muita falta.

Uma linda mulher

Já fazia um tempo que eu vinha me segurando pra não destilar nosso carinho na direção da nossa musa insipadora, a titia ana maria braga, a garota do botox de ouro. Eu tento, mas essa mulher é tão brilhante, tão magnética, tão frenética, tão cibernética... Que quando mais eu fujo dela, mais ela me aparece pela frente.

Acabei de voltar de um cliente, que disse que conhecia a ana maria braga pessoalmente. Meu coração palpitou de alegria, felicidade, medo de ser processado e medo do cliente ler isso aqui e deixar de ser cliente.

Cheguei no escritório e, num momento de morcegada, decidi dar uma passada de olho nos blogs que mais gosto. Eis que me deparo com Ela:



Pra quem não conhece o Dr.Pepper, dispa-se de todos os seus preceitos morais, de toda e qualquer relação com a boa educação, moral e bons costumes e rache o seu bico. Dr.Pepper é o humor politicamente incorreto personificado em forma de quadrinho. 

Porque esse mundo anda muito quadrado e de vez em quando precisa aparecer alguém pra chutar umas bundas. Mesmo que seja a da nossa amada anfitriã.

Vale a visita: www.drpepper.com.br

Receitas de panela: Como preparar uma rabada de mestre

Putz, esse título aí ficou meio sessão-da-tarde. Depois de "Um golpe de mestre", "Jogada de mestre" e outros títulos previsíveis, vem aí: "Uma rabada de mestre: Uma vaquinha muito louca aprontando várias confusões numa panela do barulho!".

Mas como aqui a gente gosta de título mal-feito, vamos mantê-lo assim. Aliás, aproveito o momento pra sugerir que substitua momentaneamente o título deste blog por algo como "Enfiando o Gato na Panela". Afinal, como dissemos no post que abre esta série, está um frio sibérico lá fora e eu não quero congelar meu crânio na churrasqueira que está lá fora. Portanto... Patroa, te prepara que hoje eu vou fazer dessa cozinha um infeeeeernooooo!!!!!

E a primeira coisa que a gente vai fazer é meter o rabo da vaca no fogo. Desculpa aí dona Mimosa, mas hoje nós vamos ver o que é um rabo quente.. Pedimos encarecidamente ao ponderado leitor que feche a playboy da Sheila Carvalho e mantenha a sua atenção dirigida ao rabo que nos interessa no momento: o bovino.

"Esse rabo aí já abanou muita mosca..."

Ao contrário dos nomes das outras carnes, que são quase todos esdrúxulos, o rabo é bem fácil de unir o nome à pessoa. Estamos falando do rabão mesmo, aquele que abana mosca, aquele que a vaquinha levanta antes do cocô, aquele que o peão puxa no rodeio. Aliás, só encontrei essas 3 utilidades pro rabinho da vaca. Além de ir pra panela, claro. Se ela ao menos abanasse o rabo que nem cachorro, mas nem isso. Sendo assim: panela no rabo dela!

Bom, começando os trabalhos.. Dirija-se ao açougue mais próximo, peça 1,5kg de rabo o mais limpo possível. Olha, dá um certo constragimento pedir assim pro camarada do açougue, tipo "Ow, parceiro! Me dá esse rabão bonito aí". Se você já tiver alguma intimidade com ele, pode facilitar as coisas, desde que você não se empolgue. Eu recomendo seriamente que você não o veja cortando o rabo. Isso porque o rabão inteiro se parece MUITO com o rabinho da vaquinha ali, balançando, e vai ser inevitável lembrar daquela levantada de rabo pré-cagada. Pra não perder o apetite, nem veja. 

É importante pedir o rabo limpo, porque é uma peça que tem muita gordura. E, ao contrário da churraca, que derrete a gordura e faz cair no carvão, na panela a gordura fica por lá. E pode deixar a sua comida um sebo só. 

O primeiro passo é dar uma cozida de leve pra tirar o excesso de gordura. Coloque o rabo numa panela grande (procure não pensar besteira, ok?) e cubra com água. Esprema ali um limão, jogue um copo de pinga (isso mesmo, pinga. Ajuda a amaciar a carne) e bote pra ferver. Deixe lá, fervendo, uma meia hora. Você pode aproveitar esse tempo pra tomar umas brejas porque o trabalho a partir de agora é cascudo, e todos nós entendemos o álcool como um facilitador de coisas cascudas. Aquele que nunca pegou uma baranga breaco que atire o primeiro pinóquio.

Ok, enquanto ferve, você pode picotar uma cebola inteira. Não precisa ser tão minucioso e picotar pequeno, porque ela vai virar um refogado e praticamente derreter, mas também não adianta ser animal e cortar a cebola em 4. Ah, entendeu, né? Picote um cebola e pronto. Guarde ela num pote. 

Caro leitor, a partir e agora você vai sujar muuuuita louça. Recomendo manter a sua mãe (ou a patroa, ou seja quem for a dona da louça e da cozinha) bem longe de você, e consequentemente, da cozinha.

Picote, seguindo a mesma recomendação da cebola, uns 4 dentes de alho. Guarde tudo num outro pote. É importante não misturar, compana.

Picote 2 tomates pequenos (ou um grande dããã..) e guarde num terceiro pote. Tá vendo como isso faz um furdúncio na cozinha da patroa?

Legal, você tem 3 potes cheios dos ingredientes da alegria, e uma rabada fervendo na panela. Desligue o fogo e jogue aquela água fora. A rabada deve ter, nesse momento, um aspecto nojento. Se não tiver, tá errado. Mas fica tranquilo que o caminho é esse mesmo. Tem um monte de coisa que a gente come e acha uma delícia, mas em algum momento foi nojento. Deixe a rabada quietinha na panela, já voltamos a ela.

Aliás, não: voltemos agora. Se a rabada for muito gordurosa, essa é uma boa hora pra pegar uma faquinha e rancar, na mão, o excesso de gordura. É um puta trampo chato, mas pode ser a diferença entre uma rabada legal e uma rabada tipo chiclete. Agora sim, guarde esse rabo aí e voltemos à programação normal.

Agora o refogado. Guarda esse nome porque quase tudo o que se faz na cozinha é refogado. Pelo menos quase tudo o que eu sei, o que significa quase nada. 

Numa panela de pressão (sem a tampa, não é pra meter pressão AINDA), coloque um pouco de azeite. Mais ou menos 2 goladas. Recomendo usar a cabeça, e não a boca pra medir 2 goladas. Deixe esquentar por uns instantes e jogue a cebola picada. Ah, companheiro... o cheiro disso é bão dimais. Você deve mexer com uma colher de pau durante uns 5 minutinhos, até a cebola começar a ficar meio transparente. Isso significa que ela tá fritinha, e aí começa a mágica. 

Misture, agora, o alho. Eu costumo empurrar a cebola pros cantos da panela abrindo uma clareira, e tacar o alho lá dentro. Porque, em contato com o fundo da panela, o alho frita rapidinho, e fica com aquele crocante legal. quando ele começar a ficar queimadinho, e fica esperto porque isso acontece bem rápido, mistura tudo. Putz, o cheiro da cebola e do alho fritando juntos é indescritível.

Agora o tomate. Manda ele todo lá no meio e fica mexendo, durante um tempo. O tomate começa a se desmanchar, fazendo daquilo tudo uma pasta. Taca lá dentro uma folha de louro (ah, ana maria braga... que saudades da senhora), inteira mesmo, nem precisa picar. Agora, um lance importante pra rabada: açafrão. Pode ser daqueles saquinhos de tempero que vende no mercado, mesmo. O açafrão é um tempero meio vermelho. Dá uma sapecada lá dentro, que deve dar, mais ou menos, uma tampinha de garrafa de breja. Se não sabe o quanto, compre uma breja, beba, lave a tampinha, seque, encha de açafrão e enfie no rabo (no bom sentido, claro). Pode ser, no mínimo, uma boa desculpa pra enxugar mais uma. Misture tudo, jogue sal com comedimento e voilá: Nesse momento, parabéns, compana: você acabou de fazer um refogado! 

Se você é do tipo que curte dar uma caprichada, recomendo picotar umas folhinhas de manjericão e orégano frescos (ui!). Guarda isso, orégano e manjericão funcionam bem em qualquer coisa que se possa mastigar. De pão com manteiga a cavalo no rolete, vai na fé que sempre ajuda.

Pegue a leiteira da mãe (ou da patroa), encha de água e bote pra ferver. Depois te explico pra quê você vai precisar disso.

Agora, voltemos à vaca fria. Fria mesmo, porque o rabinho ficou guardado e deve ter esfriado. Jogue todo o rabo dentro da panela de pressão com o refogado. Mistura direitinho, dá um certo trabalho, mas eu sei que você consegue. 

Com muita parcimônia, vai tacando aquela água que ferveu. É importante ela estar quente. A vaca faz a maior frescura com esse rabo, e se vc meter água fria, o rabicó da mimosa endurece e aí ferrou com a tua receita.

Isso, jogou a água toda? Misturou? Então continua a misturar até a água ficar cremosa. A essa hora o cheiro começa a ficar bem legal. Essa misturada aí deve levar uns 30 minutos. Aproveite pra tomar mais umas brejas. Só fica atento pra não deixar o nível da água descer demais. Tem que ficar na altura dos rabinhos. Ou seja, nenhum rabinho fora d'água, entendeu?

Quando a água estiver cremosa, e o nível estiver legal, feche a panela de pressão. Conte, a partir de agora, meia hora no relógio. Se você pensa que vai aproveitar essa meia hora pra tomar mais brejas, acertou. Tome mais meia hora de breja.

Mas, se você pensa que vai ficar ali, de perna pro alto tomando breja, errou. Enquanto a panela faz o capeta com a sua rabada, você deve picar meio maço de salsinha e cebolinha. Fica esperto na hora de comprar porque a salsinha se parece muito com o coentro, e são duas coisas completamente diferentes. Digo isso porque eu mesmo já fiz essa cagada algumas vezes.

Passada a meia hora, brejas na cara e salsa picada, hora de abrir a panela. A rabeta deve estar molinha, e você pode até tirar um tequinho pra experimentar. Se ainda estiver meio dura, cheque o nível da água, feche a panela e manda mais 10 minutos. 

Se ela estiver bem macia, pode jogar lá dentro a salsa picada e a cebolinha e se plepalar pla mistular a labada dulante tleze minutos. Com a panela aberta, não é mais pra mandar pra pressão.

Agora é só jogar tudo, com água e o escambau, numa boa travessa e chamar a mãe, a patroa, o pai e os vizinhos pra comer. 

Uma informação importante: a cozinha ficou um inferno. Tome todas as providências para que a dona da cozinha não tenha que ir buscar nada lá até o final do almoço. E não coma demais, pode ser que você precise correr quando virem a bagunça.

Custo da rabada: R$15,00 por 1,5kg. Honesto, vai. Ainda tem a cebola, tomate, alho, tempero e água, mas nem vou colocar isso na conta.
Rendimento: Umas 4 pessoas, se não forem vikings nem ogros.
Tempo de preparo: Umas 3 horas. Sirva bêbado. Bem bêbado.

Receitas de panela: o início de uma série

Comecei este blog em janeiro. Mais precisamente, no dia 2 de janeiro. Naquele momento estava eu, embriagado pela alegria e cerveja dos primeiros dias do ano, devidamente refogado na piscina da casa de um amigo, sentindo os trinta e tantos graus celsius torrarem os meus parcos e desfigurados neurônios, conversando preguiçosamente com os fiéis companas de sempre sobre qual especiaria jogaríamos na churrasqueira nos momentos posteriores e palpitando irresponsavelmente sobre temperos e maneiras de preparar cada carne, quando alguém sugeriu que eu compilasse tudo isso num livro. Rimos, fizemos a carne e fomos cada qual pra sua casa descansar o esqueleto pra jornada de cerveja e churrasco que viria no dia posterior.

Foi quando eu comecei a pensar na história do livro. Na verdade, livro me pareceu demais, mas um blog cairia como uma luva. Liguei o micro e bora pro Blogger.com (nerd é assim: vai pra praia, mas leva o micro). Em alguns minutos, tava criado o "Deitando o gato na grelha". Nem o nome deu trabalho, porque eu costumo mesmo usar essa expressão. Meus amigos tem dezenas de sms nos seus celulares escrito "bora lá queimar um bichano", "vamos deitar um gato hoje?". 

Despretensiosamente, escrevi o primeiro post: "Lugar de boi é deitado na grelha", sem ter a menor idéia de onde isso ia terminar, e sem pensar se eu ia ter repertório pra escrever mais do que um mês de blog.

Aí o blog foi ganhando audiência, os leitores deram dicas fantásticas, eu comecei a experimentar e o bonde andou. Hoje esse blog anda fácil, tenho bastante pauta guardada na manga, a linha editorial tá bem definida e quando falta idéia, a ana maria braga faz alguma merda e alegra os nossos corações. Mas eu não contava com um detalhezinho...

Há cerca de um mês, eu simplesmente pensava na receita, ia no mercado, comprava a carne e deitava na grelha. Depois escrevia aqui e Gol do Brasil. Até que chegou um dia em que eu abri a porta do quintal e fui tomado por uma massa de ar frio que me queimou as sombrancelhas. O inverno tava aí, com um frio de cair o rabo do cachorro. E eu tremi. Não de frio, mas de medo de tentar fazer um churrasco no quintal e terminar como nas propagandas da NET: na Sibéria falando skavurska. E antes que aparecesse um Lada e uma garrafa de vodka na minha garagem, resolvi tomar uma atitude.

Essa vida de churrasqueiro, aos poucos, me apresentou a um grande prazer que eu não conhecia. Antes que você comece a pensar bobagem sobre a minha pessoa, estou falando do prazer de cozinhar. E com isso, além de mandar todas essas carnes na churraca, tenho também me dado bem com as panelas. Já foi o tempo em que eu pensava em comer alguma coisa bacana e tinha que pedir pra vó fazer. Ainda prefiro a comida dela, mas admito que não passo mais vontade. Com a diferença que aqui em casa não tem folhinha pra decorar a comida, não. É panelinha e fogãozinho, mas o sistema continua bruto!

E, a partir de agora, vou postar algumas receitas de carnes e afins.. feitas na panela. Nos próximos dias, inauguraremos com a rabada que eu fiz domingo que tava maaaaaster.

Costelinha de porco ao chimichurri

No início de tudo, Deus tirou uma costela de Adão e fez a Eva. Adão, espertalhão, comeu a maçã da Eva e a merda tava feita: tomaram um rapa do paraíso, o bicho pegou e assim vamos até hoje. E não me pergunte como Adão e Eva, seres humanos, viraram macaco, depois neanderthal e depois gente de novo, porque eu faltei nesse dia e fui mal nessa prova, ok? Mas voltando ao assunto, se Deus tivesse poupado a costela do pelAdão e tivesse usado uma costela de.. de.. sei lá, de porco, a história teria sido bem diferente: Deus tiraria a costela do porco, olharia pra ela... olharia pra ela.... olharia pra ela... assaria e comeria. E a essa hora Adão tava todo feliz lá, no paraíso, jogando bola, tomando cerveja e comendo churrasco. Ele e a serpente. Xiii.....

Deixemos Adão de lado (não no sentido de mudar a posição em que se encontra, no sentido de desencanar dele, ok?), e vamos nos preocupar com que realmente importa neste post, porque isso é uma receita e eu já inventei tanta merda que tou quase perdendo o rumo do post. A parada que interessa é que Deus tirou a costela do porco, assou e comeu. E se Ele fez isso e achou gostoso, a gente também é filhinho dEle e tem o mesmo direito. Como Ele escreve certo por linhas tortas, se esqueceu de contar como é que a costela do porquinho ficou tão divina (olha o trocadilho-lho-lho). E, como de linha torta entendo eu (minha letra é feia que é o cão), transcrevo em arial tamanho 12 as palavras do senhor:

"E, no sétimo dia, deitarás a costela do porco cortada em ripas na bandeja, depositarás o chimichurri sobre ela e descansarás sobre o altar durante sete dias e sete noites*. Então o fogo da churrasqueira queimará todo o alimento, e aquele que experimentar tal oferenda será expluso do paraíso para as trevas sem fim"


* Tá 7 dias e 7 noites tem um puta apelo dramático, mas se vc deixar marinando durante esse tempo todo, será expluso da cozinha pro banheiro e lá sim, permanecerá sentado durante 7 dias e 7 noites. Portanto, deixe a costelinha no molho chimichurri durante mais ou menos uma hora. É o suficiente.

E pode esquecer a conspiração Código DaVinci: molho chimichurri não é uma senha pra abrir artefatos mirabolantes nem nada do tipo: no post anterior, eu e você vimos a diferença entre nossos vizinhos argentinos e o homem de neanderthal. Vimos também que se o homem de neanderthal tivesse sido argentino, a humanidade teria hoje sérios problemas em relação a cortes de cabelo masculinos, mas a subsistência desde a idade da pedra até hoje teria sido mais suave, o neanderthal teria sido um primata mais sorridente e a carne de mamute teria sido muito mais gostosa em função de uma maravilha da culinária portenha: o Molho Chimichurri.

Pois, agora que você sabe FAZER o molho, vamos achar uma maneira de USÁ-LO. A receita, em si, é simples assim. Deixa a costela no chimichurri durante uma hora num recipiente, depois deita o porquinho na grelha, espera ficar pronto e come. Essa costela fica boa de neanderthal nenhum botar defeito.

Uma dica legal: Se você quiser molhar a carne depois de pronta no molhinho, o que fica animal, não ponha sal no molho chimichurri, deixando pra salpicar sobre a costela já no fogo. Faça um pouquinho mais de molho, de maneira que vc consiga guardar um pouco. Assim, quando a costelinha ficar pronta, vc pode molhar os pedacinhos no chimichurri e lavar a alma. Eu tou contando que você não vai fazer a porcaria de molhar a carne assada na bandeja onde a costela ficou descansando, ok? Infelizmente, carne crua não faz bem, principalmente a de porco. E se a costela ficou descansando naquele molho, não se esqueça de que já tem um porco na receita e você não precisa ser como ele: larga mão de nojeira e joga fora esse molho. Ah, você entendeu a moral da história: se quiser molhar a carne, guarde um pouco de molho antes.

Dica 2: Fica mais legal se você deixar assar bem, como tá cheio de azeite ela dificilmente vai ficar seca. E quanto mais bem passada, melhor você sente o sabor do "tche meu molho". Não entendeu a piada? Leia o post anterior!

Coisa de argentino: Molho Chimichurri

Tem gente que diz que o churrasco foi inventado pelos argentinos. Não foi. Tem gente que diz que foram os uruguaios. Também não foram eles. Os paraguaios venderam cópias falsas, mas também não inventaram. E nem os brasileiros e nem nenhum povo que existe aqui hoje. Antes mesmo do conquistador Francisco Pizarro colocar seus pés do lado de lá da américa latina, os Incas e Maias já deitavam suas lhamas na grelha. Os egípcios também já deviam dar suas dentadas numa corcova de camelo mal-passada. Fora os Godos,Visigodos, Hunos, Vikings e outros trogloditas que comiam a carne de qualquer coisa que se movesse. Até de gente. 

Quem inventou o churrasco foi o primeiro Neanderthal que matou o primeiro mamute e tacou o bicho no espeto pra impressionar a primeira garota. E como as garotas da era do gelo tinham muito menos frescuras que as nossas, ele não precisava nem preparar a abobrinha: deitava o mamute na grelha, cantava uma canção do Roberto e CRÉU: lá tava a garota de neanderthal na caverna dele. E assim se perpetuou a espécie até chegar onde chegamos. 

Se você tá pensando que o personagem deste post é o Homem de Neanderthal, está muito enganado. Não confunda, o personagem de hoje é o Argentino. Sim, aqueles que moram ali logo ao lado do paraguay, fãs de Evita, Maradona e Carlos Gardel. 

Responda rápido: qual dos dois homens acima NÃO  é o de neanderthal?

Brasileiro falando de argentino é piada pronta. Fica fácil sacanear, primeiro porque existem mil diferenças entre nós que já foram exploradas até a chatice pelos casseta e planeta da vida. E outra que eles não estão aqui pra se defender mesmo. Mas neste post não vamos sacaneá-los só porque eles acham que entendem mais de futebol do que a gente. Neste post, abraçaremos nossos hermanos, e abrimos mão de toda e qualquer sacanagem que possamos falar a respeito dos seus hábitos, manias e cortes de cabelo (hehehe). 

E, ao contrário do futebol, se tem uma coisa que esses caras entendem, é de churrasco. Parrilla, como eles dizem por lá. O nome não importa, o que vale mesmo é que tanto do lado de cá, quanto do lado de lá da fronteira, deita-se o gato na grelha com uma propriedade vista em poucos lugares do mundo. E, ultimamente, tenho me aventurado na culinária de lá pra saber o que é que essa parrilla tem. Ainda estou me acostumando com o fato de comer churrasco de miúdos, testículos ou linguiça de sangue de boi, mas tem coisa muito boa nas receitas de lá. 

Como, por exemplo, o convidado de hoje: o molho chimichurri. Bora lá no gooogle dar uma olhada qualéquié:

De etimologia controversa, alguns indicam sua origem em imigrantes ingleses que habitavam nas pampas e que acostumavam acompanhar as carnes com molhos a base de curry. Quando solicitavam o molho, o faziam utilizando a expressão inglesa give me the curry (me dá o molho) ou misturando o idioma local che mi curry (tche meu molho). E há quem diga que um comerciante britânico conhecido como Jimmy Curry, inventou o molho, e de seu nome surgiu a palavra.
Parece mais provável, a versão que dá sua origem na palavra basca tximitxurri , que significa mistura no seu idioma original, e definiria bem o que é realmente um chimichurri.

Tche meu molho é a melhor. É a versão portenha do uai, meu moio mineiro, ou do oxente... me dá meu molho? bahiano ou do urra, meu.. meu molho! do paulistanês que só o faustão fala. Gostei, vou usar essa.

Os argentinos usam o Tche Meu Molho pra preparar a carne antes de assá-la, ou pra dar um agrado depois de pronta. No caso desta receita, utilizei o molho pra temperar antes de assar, e há uma diferença entre as duas versões: no caso do tempero pré-churraca, você pode utilizar ingredientes frescos (ui!), e no caso do pós-carvão, pode fazer um molho com ingredientes desidratados e deixar pegando gosto por dias.. Trabalharemos com a primeira opção.

O chimichurri (tche meu molho) é um condimento à base de vinagre, azeite, alho, cebola e salsinha. Na verdade, pesquisando porcamente pela internet você vai encontrar 300 receitas diferentes de chimichurri. Se for no site da ana maria braga, deve achar uma receita de chimichurri de abricó com sabão de coco e uva passa ou qualquer outro ingrediente sem sentido que só ela sabe fazer. Na nossa receita, procurei seguir uma receita argentina, mas acabei, como sempre, botando algumas coisas a mais. Ficou bom demais, então tá valendo. Vamos aos trabalhos.

Arrume um pote pra preparar o molho. Algo que caiba o conteúdo de uma lata de breja e meia funciona bem. Beba as cervejas, encha de água, experimente os potes da patroa e jogue a água fora. Assim que faz.

O primeiro passo é jogar um tanto de vinagre. Mais ou menos meia xícara, pouquinho mais. O vinagre tem que ser de vinho, e não de maçã. Se você não sabe a diferença entre um e outro, o de vinho é vermelho e o de maçã é verde. Embora exista vinho verde e maçã vermelha, mas isso é só pra te confundir.

Vinagre cheira mal, não é? O milagre dessa receita é que você vai tacando os ingredientes, e o molho começa a cheirar cada vez melhor, até você sentir vontade de dar um gole naquilo. É quando você percebe que tá pronto e você acertou a mão. Um passo por vez, já diria o saci. Vamos, então ao próximo.

Pode preparar o espírito pra picotar uma cebola inteira. Descasca a bichinha, corta em 4 e começa a picotar. Um adendo importantíssimo: por mais que possa arder o seu olho, não chore. Prefiro deixar a cebola queimar a minha retina do que chorar pra uma receita argentina. Lembra do "Não chores por mim Argentina"? Então, não faça isso. Engole o choro e mete a faca na cebola. Como sempre digo: picote a cebola com carinho, até ficar bem pequeninha. O cuidado que você tem com os ingredientes sempre se transforma em benefício pra qualidade da sua comida (puta frase de efeito, hein? Vou colocar no meu orkut).

Tacada a cebola lá dentro, agora vamos ao alho. Pegue dois ou três dentes de alho e picote bem pequeno. O alho bom é aquele que vc picota até virar uma pasta. Não sou fã desses alhos prontos que já vem moídos. Dá uma puta vontade de vomitar mexer naquele treco, enquanto o cheirinho do alho sendo picotado é bom. Sendo assim, mande a sua preguiça pro paraguay e picota essa coisa. 

O sal. Taí uma coisa controversa. Vai ter gente que vai me dar bronca por estar colocando sal no chimichiurri. Mas não nos esqueçamos de que este chimichurri vai temperar a carne que ainda vai pro fogo, logo, ele deve ter sal. Coloque um punhado de sal grosso (uma mãozada, sem ignorância) no meio do vinagre, da cebola e do alho. Enquanto você prepara o resto, o sal grosso vai derreter com o liquido e misturar legal. E eu acho o sal grosso mais gostoso que o sal normal, por mais que isso possa parecer maluquice.

Hora das ervas. Prepare o seu personal Bob Marley e mande ver. Se você não esquecer, continue lendo este post porque o chimichurri ainda não acabou. E para com essa risada porque essa é uma receita séria, ok?

A primeira erva que eu coloquei foi o orégano fresco. Isso porque ele tem mais sabor, e já vai misturando com o molho enquanto vc prepara o resto. Picote pequeno apenas 3 ou 4 folhas do fresco. Ah, e ele é fresco no sentido de ter sido retirado do pé há pouco. Não no sentido de gostar de gloria gaynor ou freddie mercury. Se não tiver do fresco, coloca um punhado do orégano de pacote que funciona também.

Manjericão fresco também é legal. Na última vez, pedi à patroa que me aparecesse com umas folhas de majericão, e ela me veio com um tal de manjericão roxo que, pasmem, era roxo mesmo! Bom, picote umas 5 folhas e manda brasa.

Uma única folha de louro picotada só pra dar trabalho. No caso da ana maria braga, recomendamos decapitar o louro mais próximo, pisar 10 vezes na sua cabeça, moer o seu corpo no liquidificador e jogar tudo no lixo. Voltemos às ervas.

A salsinha é a base verde do chimichurri. Portanto, pode jogar um meio maço aí. Lava bonitinho, tira o excesso de talo, deita na tábua e começa a meter a faca. A sensação de destruir a salsinha com a faca é indescritível. Procure moer a salsinha até ficar pequena. Joga tudo no pote.

A cereja do bolo é, como sempre, o azeite (ai, a luma de oliveira...). Jogue na gororoba uma xícara de azeite, ou mais. Em alguns casos, recomenda-se utilizar óleo de girassol, porque o azeite tem um sabor mais forte. Como estamos usando essa receita pra temperar carne que ainda vai ao fogo, pode ficar forte que o calor sauviza isso. 

Só pra dizer que caprichou, você ainda pode dar uma pitada de pimenta do reino, ou picotar uma ou duas bolinhas de pimenta baianinha. Ou colocar a pimenta de sua preferência. Lembrando que o chimichurri é um molho que tem por objetivo ser suave, e se você encher tudo de pimenta vai poder temperar a carne, o miojo ou um paralelepípedo que todo mundo vai ficar com o mesmo gosto: o de pimenta.

Agora vc deve misturar tudo. Note que o cheiro começa a ficar delicioso. Dá mesmo vontade de dar uma golada nesse negócio. Mas não faça isso, ok? Certas coisas tem cheiro bom e gosto forte.

Basta deixar descansar por algum tempo, o quanto a sua ansiedade permitir, e temperar a carne. Acho que uma alcatra em cubinhos no espeto ficaria muito legal. O mesmo do contra-filé. Os argentinos utilizam este molho no bife de ancho, que é um bife alto, macio e bastante saboroso. 

No meu caso, fiz pra temperar uma costelinha de porco que ficou de fazer a ana maria braga passar por baixo da mesa. Mas isso é assunto pra outro post.

Observação: Conheci, ao longo dos 32 anos que tenho, vários argentinos. E posso garantir: todos, sem uma única exceção foram extremamente simpáticos, educados, gente boa mesmo. Por mais que os dois povos adorem se sacanear, fica registrado aqui o meu carinho pelos nossos vizinhos ruins de bola :-)

John Locke e a máquina

Quem já assistiu Lost alguma vez na vida, sabe que tem uma fumaçona preta que quebra geral, sabe que teve a iniciativa Dharma que inventou um monte de fanfarrices e sabe também que o John Locke é o cérebro da turma. Um cara capaz de fazer de tudo pelo bem-estar da rapaziada, praticamente o pai de todos, o fura-bolo e o mata-piolho numa pessoa só. Mas olha o que ele descbriu dessa vez.

Há! Manual de primeiros socorros!

Este post é uma homenagem a um dia tão cheio, mas tão cheio de trabalho, que tudo o que me resta nesse momento é rir pra não chorar :-)